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ssn PAULO DE BARROS CARVALHO Ls Professor Titular de Direito Tributério da PUC/SP e da USP em Direito Tributario 22." edigio 2010 suces iS ans Feat na Ste feet sav ressozonoe2 tots rar Cente) ‘Gr i, 9, Beh man tant eee ‘edttsaeeeartsm eb aster ove NSC Este livro € dedicado a minha mulher, Sonia M. Falcdo de Barros Carvalho. Por outra equagdo grafica, poderiamos expressar assim a consequéncia tributaria mencionada Sujeito ativo 1% do valor]... Sujeito passivo ‘ venal (Fazenda Municipal) | do imével (Proprietario) (Fazenda Municipal) «+ —_Proprietirio) Direito subjetivo Dever juridico Equivale a afirmar que a Fazenda Municipal, em virtude do acontecimento do fato previsto na hipotese, ficou investida, na condigao de sujeito ativo, do direito subjetivo piblico de exi- gir do proprietario, como sujeito passivo, a importéncia corres- pondente a 1% do valor venal do imével Redizemos que as leis nfo trazem normas juridicas organi- camente agregadas, de tal mado que nos sejalicito desenhar, com facilidade, a indigitada regra-matriz de incidéncia, que todo 0 tributo hospeda, como centro catalisador de seu plexo normativo Pelo contrrio, sem arranjo algum, os preceitos se dispersam pelo corpo do estatuto, compelindo o jurista a um penoso trabalho de composigio. Visto por esse prisma, o labor cientifico aparece ‘como um érduo esforgo de procura, isolamento de dados, monta- gem e construgao final do arquétipo da norma juridica Estabelecidas tais colocagées, julgamos oportuno retrihar que 0 resultado dessa tarefa compositiva haverd de ser a obten- eo de um juizo hipotético, e que seus componentes se asso- ciam pelo vinculo da imputagéo deéntica Chega-se, enfim, & norma-padrito de incidéncia, locugio dotada do mesmo alcance e com a mesma forga semantica de norma tributdria em sentido estrito. Todas as demais regras que Componham a disciplina do mesmo tributo, por n&o cuidarem, propriamente, do fendmeno da incidéncia, ¢ também por moti- vo de acentuada superioridade numérica, ficardo sob a rubrica normas tribuiérias em acepedo ampla. 296 Capitulo IX A Regra-Matriz de Incidéncia. Hipotese Tributdaria e Fato Juridico Tributario ‘Sundrio: 1, Delimitagéo do conteido de“fao puro”, “fato contibil” e“fato juridico”. 2. O cariterexclusivamente jurii- 0 do chamado “fato gerador”. 3. A expressto equivoca “ato sgerador”. 4. Hipétese tributdria e fatojuridico tibutirio, 5. A subsung2o do fato & norma e a fenorienologia da incidéncia. 6, Hipétese — sua integridade conceptual — fatos juridicos tributarios simples e complexos. 7. Os critérios da hipotese: ‘material, espacial c temporal. 8. Critica & clasificaglo dos fa- tos geradores em fungio do momento de sua ocorréncia. 9. O fato gerador segtndo as prescrigées do Cédigo Tributério Na~ ional 1. DELIMITACAO DO CONTEUDO DE “FATO PURO”, “FATO CONTABIL” E “ATO JURIDICO” No degrau da hermenéutica juridica, 0 grande desafio de quem pretende desvelar conteiido, sentido e alcance das regras de direito radica na inafastavel dicotomia entre a letra da lei ea natureza do fendmeno juridico subjacente. O desprestigio da chamada interpretagao literal é algo que dispensa meditagées mais profandas, bastando recordar que, prevalecendo como método de interpretagio do direito, seria- 297 mos forgados a admitir que os meramente alfabetizados, quem sabe com 0 auxilio de um dicionario de tecnologia juridica, estariam credenciados a identificar a substincia das mensagens legisladas, explicitando as pro relegando o ensino universitario a um esforgo sem expresso e sentido pratico de existéncia, Talvez por isso, e sem o perceber, Carlos Maximiliano haja suftagado, com suficiente énfase, que todos os méiodos interpretativos sio vilidos, desde que seus resultados coincidam com aqueles colhidos na interpretagzio sistemética. Néo sobeja repetir: para nds, as normas juridicas so as significagdes que a leitura do texto desperta em nosso espirito €, nem sempre, coincidem com os artigos em que o legislador distribui a matéria no campo escrito da lei. Dito de outro modo, na realidade social em que vivemos, experimentamos sensa- ¢es visuais, auditivas, tdcteis, que suscitam nogées. Estas, agrupadas em nosso intelecto, fazem surgir os juizos ou pensa- ‘mentos que, por sua vez, se exprimem verbalmente como pro- posigdes. A proposi¢do aparece como o enunciado de um juizo, da mesma maneira que 0 termo expressa uma ideia ou nogéo. E.a norma juridica ¢, exatamente, 0 juizo hipotético que a per- cepgao do texto provoca no plano de nosso consciente, da mes- ‘ma forma que tantas outras nogdes ndo juridicas poderiam ter sido originadas daquele mesmo conjunto de percepg6es fisicas, Diz-se, portanto, que a nogio ¢ juridica, pois se enquadrou numa determinada hipotese juridica Por analogia aos simbolos linguisticos quaisquer, é valida a construgio segundo a qual o texto escrito esta para a norma juridica tal qual 0 vocdbulo esta para sua significagio. E ado- tando-se a estrutura trilateral, de inspiragao husserliana, falare- mos em suporte fisico, significado e significagao, Transporta- das as ideias para o dominio do juridico: 0 suporte fisico é 0 298 conjunto dos textos do direito posto; significado, a conduta humana compartida, na vida social; ¢ significagdo, 0 vasto re- pertério que o jurista extrai, compondo juizos logicos, a partir do contato sensorial com 0 suporte fisico, e com referéncia a0 quadro dos fatos ¢ das condutas juridicamente relevantes. E exatamente na significagdo e no significado que se da a cons- trugdo hermenéutica do fato juridico e onde centralizaremos todas as nossas atengdes a fim de compor estudo seméntico sobre a expresso “fato juridico”. or outros tomeios, que a inica forma de se entender 0 fenémeno juridico, conclusivameate, € anali- sando-o como uin sistema, visualizado no entrelagamento ver- ymerdveis preceitos que se congregam e se aglutinam para disciplinar o comportamento do ser huma- no, no convivio com seus semelhantes, O texto escrito, na sin- gela expresso de seus simbolos, no pode ser mais do que a porta de entrada para 0 proceso de apreensio da vontade da Iei, jamais confundida com a intengao do legislador. Sem nos darmos conta, adentramos a andlise do sistema normativo sob 0 enfoque semioticista, recortando, como sugere uma analise mais séria, a realidade juridica em seus diferentes campos cognos- citivos: sintatico, semantico ¢ pragmatico, Bem sabido que no se pode priorizar qualquer das dimen- ses semiéticas em detrimento das demais. Todavia, o momen- to seméntico, num exame mais apurado sobre o tema que ora tratamos, chama a atengao pela maneira intensa como qualifica e determina as questdes submetidas ao processo dialogico que prepara a decisio ou conclusio. Dai exclamar Alfredo Augusto Becker, cheio de forga retérica, que o jurista nada mais seria que 0 semantico da linguagem do direito. A ele cabe a érdua tarefa de examinar os textos, quantas vezes obscuros trios, penetrados de erros e imperfeigdes terminologi captar a esséncia dos institutos, surpreendendo, com nitidez, a fungi da regra, no implexo quadro normativo. 299 No processo de cognigdo da linguagem prescritiva de con- dutas, o hermeneuta esbarra em numerosos entraves que a reali- dade juridica mesma the impde. O primeiro obstaculo esta crava- do na propria matriz do direito. A produgio das normas de mais elevada hierarquia no sistema, que so gerais e abstratas, esta confiada aos parlamentos, casas legislativas de natural heterogeneidade, na medida em que se pretendam democraticas e representativas, Com isso, a despeito dos esforgos na elabora- io de uma linguagem técnica, dotada da racionalidade suficien- te para atingir padrdes satisfatorios de eficacia social, a verdade é que a mensagem legislada quase sempre vem penetrada de im- perfeigdes, com problemas de ordem sintética e semntica, tor- nando muitas vezes dificil sua compreensio pelos sujeitos desti- natatios. E neste ponto que a Dogmatica (Ciéncia do Direito em sentido estrito) cumpre papel de extrema relevancia, compondo os enunciados frequentemente dispersos em varios corpos legislativos, ajeitando-os na estrutura logica compativel e apon- tando as corregGes semanticas que a leitura contextual venha a sugerir. Com tais ponderagdes, a comunicago normativa flui mais facilmente do emissor ao receptor, realizando os propésitos da regulagio juridica com mais clareza e determinagio, Num segundo momento, depara-se 0 estudioso com uma realidade juridicamente complexa. Analisando no contexto deuma visio sistemética, onde as unidades nor s se entreligam formando uma estrutura sintatica; onde hi, inequivocamente, um referente semantico consubstanciado pela regio material das condutas, ponto de confluéncia das iniciativas reguladoras do comportamento intersubjetivo; e onde se verificam as inesgota- veis manifestagées dos fatores pragmaticos. Tudo isso, repito, {raz ao estudo do fendmeno juridico complexidades imensas. Na qualidade de exegeta, deve partir da literalidade do texto, e bus- car as significagdes sistémicas, aquelas que retratam os especifi- cos pardmetros instituidos pelo sistema. Do mesmo modo, a con- sisténcia material das regras ha de encontrar fundamento no sis- 300 tema, sob pena de ndo prevalecerem, vindo a ser desconstituidas, Dai a tendéncia para cortar cerce o problema, ofertando solugdes simplistas e descomprometidas, como ocorre, por exemplo, com a canhestra “interpretagao literal” das formulagdes normativas, que leva consigo a doce itusdo de que as regras do direito podem ser isoladas do sistema e, analisadas na sua compostura frasica, desde logo “compreendidas” Adotando tal postura, parece-nos perfeitamente justificada € coerente a adogio da afirmativa suso adotada de que as regras, juridicas s&o as significagdes que: tura do texto desperta em ‘nosso espirito e, nem sempre, coincidem com os dispositivos mediante os quais o legislador distribui a matéria no corpo es- ctito da lei. Na compreensfo da norma, sera necessdrio ao in- ‘térprete fazer incursGes pelo sistema, isto é, recorrer a diversos textos de lei, buscar por entre os diferentes diplomas normativos a integridade existencial da norma. Por fim, nao nos esquegamos de que a camada linguistica do direito esta imersa na complexidade do tecido social, corta- da apenas para efeito de aproximagao cognoscitiva. O real, com a multiplicidade de suas determinagdes, s6 ¢ susceptivel de uma representagao intuitiva, porém aberta para receber inimeros recortes cognoscitivos. Com tais ponderagées, toma-se hialina a afirmativa de que de um mesmo evento poder ojurista cons- ‘ruiro fato juridico; como sambém o contabilist 0 fato contabi € 0 economista, o fato econdmico. Tudo, portanto, sob a deper déncia do corte que se quer promover daquele evento. E quanto ao ambito de compreensio deste fendmeno, retornando 4 linha de raciocinio inicial, citemos que todos os fatos sio construgdes de linguagem, e, como tanto, sio repre- sentag6es metaféricas do proprio evento, Seguem a gramatica- lidade propria do universo linguistico a que pertencem — 0 juridico — quando constituinte do fato juridico, ou 0 contabil, por exemplo, quando construtores do fato contébil. As regras 301 da gramitica cumprem fungio linguistica reguladora de um oma historicamente dado. Prescrevem a forma de combinagao dos vocébulos e das expresses para produzirmos oragio, isto &, construgdo com sentido daquele universo linguisticamente dado. O direito, portanto, é linguagen propria compositiva de uma realidade juridica. Provém dai o nominar-se Gramitica Juridica ao subconjunto das regras que estabelecem como ou- tras regras devem ser postas, modificadas ou extintas, dentro de certo sistema Posto isso, perceberemos que a construgo do fato juridico nada mais ¢ que a constituigao de um fraseado normativo capaz de justapor-se como antecedente normativo de uma norma indi- vidual e concreta, dentro das regras sintaticas ditadas pela gra- matica do direito, assim como de acordo com os limites semanti- cos arquitetados pela hipotese da norma geral e abstrata Hé que ter em mente, nesse caminho, uma importante in- formagiio: as palavras componentes desta frase constitutiva de realidade juridica tém uma denotagdo, que é 0 conjunto dos significados que, posteriormente, representam o signo, Ao mes- mo tempo, essas palavras classificam-se dicotomicamente, na medida em que estabelecem duas categorias: a dos objetos que representam e a dos objetos que nfo representam Tal ocorre com a expressio fato juridico. Tem-se como cer- to, nos dias de hoje, que o conhecimento cientifico do fenémeno social, seja ele qual for, advém da experiéncia, aparecendo sem- pre como uma sintese necessariamente a posteriori, Na consti- io do fato juridico, a anilise relacional entre a linguagem social e a linguagem juridica, redutora da primeira, sobrepde-se ‘esse conhecimento sinzetético, obtendo como resultado um novo signo, individualizado no tempo e no espago do direito e rece- endo qualificagao juridica: eis o fato juridico, E, portanto, uma construgao de sobrelinguagem. Ha duas sinteses: (i) do fenéme- no social ao fenémeno abstrato juridico e (i) do fendmeno abs- trato juridico ao fendémeno concreto juridico. 302 Adotados estes pressupostos, verificaremos que o termo cou expresso que adquirir 0 qualificativo “juridico” 180 somente ser representativo de uma unidade do universo do direito, como também denotaré seu contraponto, que slo todos os outros fa tos linguisticamente possiveis de serem construidos a partir daquele mesmo evento, mas que no se enquadram as regras sintaticas e semanticamente dadas pelo sistema de linguagem do direito. A demarcagio do objeto corte de sua classe ¢, a0 tracar esses ‘¢G0), impedindo a quem se dispde a conhecer o sistema incluir a classe “n-p” dentro do conjunto “p”. Siio categorias que to- mam 0 mesmo universo mas que nao se intercruzam. Ou seja, de um mesmo evento pode-se construir um fato fato contabil; mas um e outro so sobremaneira diferentes, 0 que impede de inscrever 0 ultimo como antecedente da norma individual e concreta, dado que representa unidade carente de significago juridica. O fato capaz de implicar 0 consequente normativo haverd de ser, sempre fato juridico, mesmo que mui- tas vezes haja situagdes em que num e noutro estejam presentes ‘0s mesmos contetidos denotativos, A partir desses dados ¢ que poderemos demarcar o conjunto dos fatos juridicos, separan- do-0 do conjunto dos fatos nao juridicos, onde se demoram os fatos econdmicos, os fatos contabeis, 03 fatos historicos e tos outros quantas sejam as ciéncias que os constroem. O 1 rio utilizado para a separagao desses dois dominios ¢ justamen- te a homogeneidade sintética do universo juridico, Com tais consideragdes, cabe relembrar que todo conhe- cimento do objeto requer cortes ¢ mais recortes cientificos, que cumprem @ fungao de simplificar a complexa realidade existencial delimitando o campo da anilise, Nao nos esqueca- 303 os de que a camada linguistica do direito esta imersa na com- plexidade do tecido social, cortada apenas para feito de apro- ximagio cognoscitiva. O direito positivo ¢ objeto do mundo daciltura e, como tal, torna ardua a tarefa do exegeta emcons- truir a plenitude de seus conteidos de significagdo, obrigan- do-o a reduzir a complexidade empitica, ora isolando, ora se~ lecionando caracteres do dinimico mundo do existencial. objeto passa a ser uma construgdo em linguagem do intérpre- te que reduz as caracteristicas proprias e imanentes daquilo que se toma do universe fisico-social. ‘Bis uma barreira intransponivel a concepgio do “fato puro”, seja ele econdmico, histérico, politico, juridico ou de qualquer outra qualidade que se Ihe pretenda atribuir. Tas fa- tos, como acrescenta Lourival Vilanova, séo elaboragdes conceptuais, subprodutos de técnicas de depuragdo de ideias seletivamente ordenadas'. Cumpre fazer observagao importante € que atina ao mo- mento da propria consolidagio da afirmativa acima exposta Isto porque a doutrina tradicional vem conotando certos fatos juridicos, tal qual o fato elisivo, como construgaio de conteido econdmico, com efeitos juridicos. Assim o entende Amilcar de “Araujo Falco, que o qualfica como ato juridico de contetido ccondmico ou mesmo fato econdmico de relewdncia juridica. Distragdes desse género conduziram o pensamento & ideia de que seja necessirio ao direito tomar emprestado o fato econd; nnico para cumprir com suas fungées prescritivas de conduta. O fato elisivo, em si, abstinha-se da natureza juridica. Bem, pas- semos a examinar os cfitérios que compdem as mencionadas proposigdes afirmativas. 7. Confira; “O fato paro nfo leva, com ele, a suficiente relevancia signi- ‘icativa para ser incluido dentro do tipo. Para ingressar,sofre uma valorao omandada por um dever-ser” (Loutival Vilanova, As esiruturas légicas, cit, p. 104). 304 No desejo de construir um recorte da realidade que cerque © fato juridico elisivo, pensamentos deslizam ao longo do eixo descritivo, impulsionados por uma eloquéncia ordenada e vi- gorosa, bem na medida que a Ciéncia recomenda. Afinal de contas, que fato 6 esse? Como qualifici-lo? Sob qual critério? insistir que as subdivisGes em sistemas respon- dem a cortes metédicos que os objetivos da investigagao anali- tica impSem ao espirito do pesquisador. O critério adotado no corte éo que qualificard o fato construido por ele, quantificando- -o, inclusive, em seu consequente normativo. Se adotarmos um

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