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BIBLIOTECA ALFA-OMEGA DE CIENCIAS SOCIAIS Série 1 — Volume 3 POLITICA Diregao Paulo Sérgio Pinheiro Wniversidade de Campinas - SP) Marla do Carmo C. Campello de Souza Estado e Partidos Politicos no Brasil (1930 a 1964) EDITORA ALFA-OMEGA ‘Sao Paulo 1983 aboligdo da vida parlamentar como arena de caduca politica regionalista; ‘¢ 0 enunciado da supremacia da Seguranca Nacional em perigo dado o texcessivo liberalismo do Congresso em relagéo & ANL, terminavam por convergir num meso ponto: anulagie do Congresso © extingfio dos partidos politicos. Os pontos ideol6gicos apontados, a austncia de organizagées parti- dérias canalizadoras e sustentadoras das crises acoplaram-se na implan- tagdo do Estado Novo: regime burocrético centralizado, sem verdadciros canais de representagio sindical, sem qualquer tipo de partido politico, Situagao recebida sem maiores transtornos, dentro do quadro ideol6gico descrito e congruente com 0 quadro econémico que emergiu apés trinta. Sobre essa estrutura, irdo implantar-se os partidos em 1945 © 0 proceso de’ redemocratizago nacional seré dirigido em grande parte por essa mesma elite politica. Antes, porém, estudaremos os mecanismos da centralizagao efetivada durante os quinze anos do primeiro governe Vargas. 2 | CAPITULO IV OS MECANISMOS DA CENTRALIZACAO 1. Introdusio Vimos no capitulo anterior que, no inicio da década de trinta, 0 péndulo ideolégico se inclinara decisivamente no sentido da centralizagao autoritéria, e que esta concepsio dava lugar a-uma completa deslegiti- ‘magio dos partidos politicos e dos mecanismos eleitorais. Essa ideologia, como veremos, continuou a produzir efeitos apés a queda do Estado Novo, na conjuniura da redemocratizagao, e mesmo na década de cin- qiienta, fornecendo o quadro de referéncia dentro do qual intelectuais, jornalistas e mesmo politicos percebiam ¢ avaliayam o fendmeno par- tidério. parte deste estudo ressalta liconante exercido sobre o sistema partidério tanto pela ideologia quanto, ¢ talvez mais decisivamente, pela centralizacio prévia, vale dizer, pela constituiedo entre 1950 e 1945 de um aparato burocritico- estatal de’ grande peso. Ocupava este, no plano da realidade, 0 espaco corganizacional ¢ decisério do qual a ideologia exclufa os partidos exis- tentes ou que viessem a se constituir. Importa agora esclarecer, ou pelo menos formular como problema, © preciso significido desta proposislo: tratase, entéo, de uma lei geral segundo a qual uma estrutura estatal desenvolvida exclui, em princfpio ede maneira cabal, qualquer hipétese de evolucio partidéria? Ou ainda: tratarseia de affmmar que todo processo concreto de centralizagio estatal — constituigio de aparatos técnico-burocriticos de controle sobre a economia, fortalecimento do.poder militar central, etc. — exclui por definigéo uma paralela constituigo de um sistema de grandes organi zagbes partidérias? Por certo, nio se trata aqui de estabelecer @ verdade {Jou falsidade destas proposigées neste grau de gencralidade. O que se ‘ipretende € sugerir que 0 processo de centralizagio no Brasil nos anos \trinta teve esse efeito; e tentar apreendélo com algum detalhe para que posterlormente as questbes interpretativas possam recolocar-se de mancira apropriada, Cabe assinalar, entretanto, desde o infcio, que a centrali- 83 1 i 1 zacfo de que iremos tratar dista bastante do corte abrupto ansiado ou mesmo desctito pelos ideSlogos. Segundo estes, a Revolugdo de 1930, e de mancira ainda mais decisiva a aboligéo da Constituigéo de 1934, teriam insteurado de uma vez @ centralizasio_politico-administrativ evando de roldio os mecanismos “carcomidos” de Repéblica Velhé ‘A discussio deste ponto seria talver sem importincia se se tratasse sim- plesmente de relativizar — empreendimento nada dificil — a visfo auto ritéria dos ide6logos do Estado Novo ou de seus remanescentes. O estudo da centralizagio — € sobretudo dos mecanismos concretos. scionados nessa diregio — tem para nés o sentido de visuslizar a progressiva “ocupagio® do espago organizacional ¢ decisério por agéncias burocré- tcoestatais. ‘A. quase totalidade dos estudos existentes sobre 0 Estado Novo prescinde de uma anilise mais detida da estrutura de poder que entio se constituis, ¢ dos mecanismos que Ihe davam feigéo marcadamente burocratica. Essa negligéncia se explica, em alguns casos, por se tratar de meras periodizagdes “macrochistOricas”; em outros, pelo desejo dos ‘autores de pér em relevo o papel “progressista” da época de Vargas, especialmente 0 inicio do planejamento econdmico. Hi, por certo, exce- bes, destacando-se entre estas a literatura, ja extensa, sobre a formagio do sindicalismo, que aponte claramente sua burocratizagio; © os estudos mais recentes sobre os mecanismos decisGrios em questées como 0 comércio exterior, a siderurgia e © petrOleo, que permitem ver claramente 8 articulaggo de’ interesses privados com’ a burocracia, -bem como as ‘maichas e contramarchas de todo 0 proceso. Descontadas as excegdes que acabamos de notar, é inegavelmente dominante uma visto do Estado Novo como uma formagio monolitica. Via de regre a literatura cinge-se & mera indicagdo de seu carter centra- Tizante, como se isto fosse suficiente para a compreensio do arcabougo politico-institucional e de seu funcionamento. Nossa intengio neste capitulo € precisamente 0 oposio: mostrar que 0 processo de unificago politico-administrativa, incompleto mesmo a0 final dos sete anos de dita- Gura, deuse de mancira gradual, através da montagem de mecanismos juridico-institucionais e politicos bastante complexos, destinados a viabi- Tae se et ten eg ate Me seein Rime meet ct ovina Ee Bebo ue cre se pan eae Galera Paeeatantiacans Senes fai gai RS acta a i Se eat Se SPM Se i 84 lizar 0 controle do poder central sobre as esferas estratégicas da economia Eotes mecanismos tomaram forma como uma engrenagem de controle distincia sobre as estruturas politicas regionais preexistentes, subordi- nando-as ao mesmo tempo que as absorvia ou circunscrevia seu ambite de atuagao; tudo isso através de ensaios e erros, numa série que vinha id de antes de 1920, e que talvez tenha tido na reforma constitucional de 1926 um de seus marcos mais visiveis. © desmantelamento da velha ordem nfo ultrapastou os limites de uma “modernizagio conservadora": sem qualquer reformulagio radical da estrutura sécio-econémica existente encaixavamse no sistema politica novos grupos e interesses, devidamente cooptados e burocratizados *. Assim, dadas as caracteristicas sociais do movimento de trinta, e dado © quadro intenacioral de crescente polarizacao do entre-guerras, a alme- jada implantaséo de-um Estado forte e centralizado significou, de fato, ‘no © marginalizagéo dos interesses econémicos dominantes do perfodo anterior, mas sim uma redefinigdo dos canais de acesso ¢ influéncia para @ articulagdo de todos os interesses, velhos ou novos, com 0 poder central. Face & atnosfera idcolégica’ predominante e a emergincia de ‘movinientos mobilizantes direita e & esquorda, intensificou-se 0 auto- Hearismo da coalizio no poder, conduzindo a instauragéo do Estado Novo. Como a Primsira Repiblica, o Estado Novo é também um sistema elitista, mas seu modus operandi & inteiramente diverso: enquanto aquela se baseara no principio da autonomia estadual e no mecanismo da politica dos governadores, este procura a unificaglo, intervindo nos estados © implantando extensa rede de Srgéos burocriticos, ao mesmo tempo que suspende.o funcionamento de todas as organizages partidérias, 2.A bibliografia sobre © movimento de 1930 ¢ extensissima. Nas interpre- tagdes mais recentes, vim sendo destacadas as seguintes finhas basicas: o carater clitista da revoluedo, limitada a uma reorganizagao institucional entre diferentes setores das classes dominantes; a acelcrago da cise institucional devido a0 ‘ariter critico das relagdes ccondmicas externas do pals; a multiplicidade de determinacdes imediata, visto que 0 procesto revoludionério se imbricava com 4 crise sucessGria; o movimento teneatista como uma “cunha” no sistema poll tice olighrquice, forgando sua modernisagio, pelo menos 20 a forma, Ge use abertura parcial, Ver especialmente, neste sentido, Boris Fausto, 1990: Histo- rlografia e Hisiéria, Sio Paulo, Tese de Doutoramento, USP. 1969; Maria do ‘Carmo Campello de Souza, “O Prooesso Politico-Partidério na Repablica Velha”, in Carlos Guilherme Mota (coordenador), Brasil em Perspective, Sto Paulo, DIFEL, 1968. Entre as fontes primArias, ver, entre outros: Valladares, op. cit: ‘Nelson’Werneck Sods, Memérlar de um Soldade, Rio de Janeiro, Editora Civi lizxgo Brasileira, 19¢7; Barbosa Lima Sobrinho, A Verdade sobre a Revolugio de Outubro, Sao Paulo, Livraria Teixeira, 1933; Mauricio de Lacerda, Enire Duas Revolurdes, Ric de Janeiro, Livraria Editora Leite Ribeiro, 1927; Virglfo ge Mello Franco, Ouiubro, 1930, Rio de Janeiro, Schmidt, 1931; Joo Neves da Fontoura, Memérias, dois volumes, Porto Alegre, Edltora Globo, 1963; Paulo Nogueira Filho, ideals ¢ Lutas de um Burgués Progresssia, Sto Paulo, Editors Anhembi, 1958; Sertério Castro, A Repibliea que a Revolusdo Destrut, Rio de Janeiro, Distribuidores Freitas Bastor, 1932, 85 | } Vedados os cansis tradicionais de representaglo ¢ influéncia, as’ antigas © novas oligarquias foram absorvidas ou encurraladas num siste- ma que tinha como fulero as interventorias, acopladas a drgos buro- ‘réticos subordinados ao DASP — Departamento Administrative do Servigo Piiblico — sujeitos por sua ver ao Presidente da Reptblica* Nem sempre salientado ou compreendido pelos analistas, o papel do DASP 6 sem diivida decisivo, nfo pelo que de real reforma possa ter realizado nna administracdo pablica, nos processos de selegio ¢ admissio de pessoal, tc., mas pela sua fungdo na montagem da estrutura de poder burocratico: a de um cinto de transmissio entre o Executivo federal e a politica dos estados. ‘Além das interventorias ¢ do DASP, a inventividade institucional centralizante manifestou-se também na criagfo de uma vasta gama de Grgios téenico-econémicos que iremos tratar’sob a rubrica genérica de institutos, autarquias, ¢ grupos técnicos‘ Enquanto as interventorias © 3 Ver Lawrence $. Graham, Civil Service Reforma in Brazil, University of ‘Texas Press, 1968, Ver também Moacyr Briggs, “O Servico Pablico Federal no Deotnio Getslio Vargas" in Revista do Servico Pablico, Tl (Abril, 1941); Gilbert B, Siegel, “Tho Vieisitudes of Governmental Reform in Brazil: A. Study of the DASP", Tese de Doutoramento, Universidade e Pitsburgh, 1964; Benedito Siiva, “0. DASP na. Presidancia’ da Repablica in. Revisia do’ Servigo, Pablico, XXIV Gilhorsetembro 1961); e 0s estudos pioneiros de Karl Lowenstein, Brazil tinder Vargas, N. York, Macmillan, 1984 ¢ de Mario Wagner Vieira da Cunha, 0 Sistema Adminisrativo Brasileiro (2930-1950), Rio, Ministerio da Educagio © Cultura, 1963. a [A bibliografia sobre & questo das interventorias & pequena © ni tizada; descrigocs esparses sobre a politica de alguns estados apés 19: mais. Informagoes sobre eres estadvals no periodo pés-evoluciondsio ¢ a evo Tasso de algunas interventorias podem ser encontrados em: Helio Silva, Rex volucto Tralda, 1966; Os Tenentes no Poder, 1966; A Guerra Paulista, 1967; A Crise do. Tenenismo, 1968; A Constituinte, 1969, todos publieados pela Ealitora Givitizagso Brasisia, Rig de Janeiro ara ume lista completa dos interventores no Brasil de 1930-1937, consulta Alzira Vargas do Amaril Peixoto, Geuilio Vargas, meu Pai, Porto Alegre, Edi tora Globo, 1960; Jota Café Fino, Do Sindeao ‘ao Cifee, 2 vole, Rio de Jancito, José Olympio, 1960; Lourival Coutinho, O General Gées Depde, Rio Janeiro, Livraria Ed, Coelho Branco, 1955; Afonso Henriques, Ascensio ¢ Queda de Gettlio Vargas, 3 vols, Rio de Janeiro, Distribuidora Record, 1966. Para.a Sescrigdo mais detalhada des interventoriay de alguns esiados ver nota 13 deste capitulo, 44 Mério Wagner Vieira da Cunha, ob. cit; Gabriel Cohn, ob. cit; Natha- iniel Leff, ob. eit Robert Dalland, op. eit: John Wirth, ob. cit: Karl Lowen- stein, ob: cit, Octavio anni, Estado e Planejamento’ Econdmico no Brasil (1930-1970). Rio de Janciro, Editora Civilizacao Brasileira, 1971; Almir de An- Grade, Contribuiedo & Histaria Adminisirativa do Brasil, 2 vols., Rio de Janeiro, Jose Olympia, 1950, Ver também Olivetra Vianna, Problemas de Politica Obje- tiva, Sio°Pavlo, Editora Nacional, 1920, especiaimentd a quaria parte; © Pro blomas de Oreanizagio e Problemas de Direcao, Rio de Janeiro, Jose Olympio, 1952, especialmente o capitulo XI, para uma visto de background ideologico das faviargulas, institutos ¢ conselhos tecnicos. 86 © DASP — representado nos estados pelos departamentos estaduais, os “daspinhos” — eram parte bem definida do quadro formal de governo, com jurisdigio geogréfica, os grupos e agéncias aqui mencionados ttm fem comum somente seu carter fundamentalmente funcional: dedicamse 0 extudo de matérias especificas ou a ramoe particulares ds atividade econdini + Finalmente, num terceiro nivel, caberia estudar a expansio da mé- quina de governo propriamente dita, seja pela ctiacéo de novos minis- térios — notadamente 0 do Trabalho, Indistria e Comércio® — s pelo crescimento © remodelagio das Forgas Armadas. © propésito deste capitulo € portanto o de mostrar © papel de ceda tum desses mecanismos no processo da centralizago e da ampliagéo dos poderes do Executivo federal. Trataremos, assim: (a) do novo padréo de relagdes politicas, via interventoriais ¢ DASP, do centro com os estados: (b), do papel das entidades criadas — ou acionadas — como instrumentos de intervencio ¢ controle na economia, notadamente os insttutos © autarquias © os grupos téenicos; (e) do papel do exército*, que, embora jamais reduzido ao papel de mero braco do poder getulista, registrou notavel ampliago durante 0 periodo, além de adquirir decidida ascendéncia sobre 0s processos decisérios relacionados com os sctores ae infra-estrutura, como @ sidcrurgia e 0 petr6leo, Néo trataremos com maior vager a significacdo da estrutura sindical de inspirasio corpora- tivista, pelo qual se enquadrava e burocratizava o acesso dos trabalhadores uurbanos 20 edificio politico, por se achar este aspecto extensamente documentado na literatura pertinente, 2. As interventori A cesfera estratégica do mecanismo politicoinstitucional eriado apés Revolugio de 1930 e purificado pelo Estado Novo era, sem divida, © sistema interventoriasdepartamentos administrativos que interligava as oligarquias estaduais, os ministérios e a Presidéncia da Republica. Posto fem pritica logo apés a tomada do poder em 1930, esse mecanismo con- sistia essencialmente no seguinte: 0 Executivo federal nomeava para a chefia dos governos estaduais individuos que, embora nativos dos estados, 5 Lidia. Besouchet, Hist Janeiro, Servico de Documentaca imérefo, 1956; Waldemar Faleio, O Ministério do Trabalho: Realizacao Integral do Governo Getilio Vargas, Rio de Janeiro, Departamento de Impreata Pro- ‘paganda, 1941 6 Ver Lourival Coutinho, op. eit: Mario Wagner Vieira da Cunha, ob. cit; Trstdo de Alencar Araripe, Tasso Fragoso: Um Pouco de Histéria do Nos- 50 Exército, Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército, 1960: Estevdo Leito de Carvalho, Dever Militar ¢ Poltica Paridérla, Sto Paulo, Cia. Editors Nacional, 1958; Alfred Stepan, The Miliary in Politics, Princeton University Press, 1971 a7 © mesmo identificados em suas perspectivas ideolégicas aos grupos domi- nantes, eram ao mesmo tempo “marginais”, isto é, destituidos de maiores raizes partidérias; individuos com escasse biografia politica ou que, se possufem slguma, a fizeram até certo ponto fora das méquinas partidérias tradicionais nos estados. Adhemar de Barros em Sao Paulo, Benedicto Val- ladares em Minas Gerais, Amaral Peixoto no Estado do Rio de Janeiro, ‘Agamenon Magelhées em Pernambuco, Pedro Ludovico em Golds, os ‘Muller em Mato Grosso, Nereu Ramos eri Santa Catarina, Gées Monteiro em Alagoas, os Maynard Gomes em-Sergipe, so exemplos tipicos desta afirmacdo. As crises estaduais do perfodo deviam-se quase sempre, diga-se de passagem, & imposigo de interventores demasiado desconhecidos da po- litica local, que no puderam ou no quiseram estabelecer com ela um ra- zolivel modus vivendi, Juracy Magalhies dev-se inicialmente mal com a politica baiana, até encontrar na alianca com os Mariani o modo de se misturar, constituindo af o embrigo da futura UDN no estado?. Caso anélogo deuse no Espirito Santo com Punaro Bley, que, uma vez coop. tado, tornow-se © micleo do futuro PSD nssse estado, Em Sio Paulo e no Rio Grande do Sul, estados politica e cultural- mente mais complexos e resistentes & sujelzio ao centro e que além disso possufam fortes milfcais estaduais, 0 gcverno federal viuse obrigado ‘a estabelecer um sistema de rodizio de interventores, provavelmente em vvirtude das tenses que esse mecanismo ocasionava, e também para evitar tum rapido encastelamento de novas méquinas politicas. sistema de interventorias pouco ou nada interferia com os pilares econdmios do poder poiico nos extados, nem era esse seu intuto. No Shstante, enfraquecia es antigas stuapSes, na medida em que o iter Centor, embora ligado 8 elite estadval, no devia a ela sua permanéncia th controle do estado, mas sim 20 benepléito do Executivo federal Removiase, asim, bow parte dos impeclhos A centralizacSo administra five e etabelociase, atrvés do intervenor, uina convivencia entre as 7 Agama detathes sobre o tabalno de arregimentagto patria feta por 1a Ee sete ogcattames em Ho da Sv, A Crt do Tene flame’ pp. lida 119, verdade que possiblgade de Juracy Magalhics frmar. were Peae amber em grande pare falta de predominio de uma olgarguia B, CSindorpor longo tempo. indcado por Jwasr Tavora, ro poss quaistiet tui: na'polticnbuiana, Difeentemente de outros fterventores, uray pro mmouse dor grupos tradicional telanos, de Clemente Marian Goes Cal- thon de Mescioe Neto, « mais tarde teotou fazer a arreimentagio 48 pre ius musipais, © politico J.J" Sexbra, ue havia apoado a revolugse de 1S)'e qu Hina a ooo ae Bea, deve ant tet samen. Essa hipotese fo nfastade por Toaree, com a indicacto de Toracy Magalies Ein deibriéncin diss, detec wnito cate Scab, OiGvio Mangabeira, Migusl Galmen ¢ Pedro Lago. As cleigdes de 1933 deram a vitéria = Juracy, cua Smiguina cledoral vina a ser mais tarde 0 embrifo é& UDN no estado. 88 diversas correntes da politica regional, sem que o governo central entrasse fem conflito aberto com elas ou sequer acenasse com qualquer ameaca a seus interesses econdmicos. Compatibilizava-se assim o minimo neces- sério © méximo possivel de mudanca: configurava-se a ditadura moder nizante no combate 2 descentralizagéo oligérquica da Repdblica Velha, forjando um novo modo de articulacdo entre as forcas politieas, padréo fesse que garantia, ou visava garantir, cetto grau de autonomia 0 poder federal para a efetivagio de medidas econdmicas urgentes e de grande envergadura para o periodo. Numa de. suas proclamagdes apés 0 golpe de 10 de noyembro, apés reafirmar a preméncia de um governo forte € centralizado, Getdlio Vargas deixava clara a intengio de néo ceder a uma imediata sedimentagéo de forgas politicas, rejeitando qualquer de- ‘manda no sentido de uma reinstitucionalizagio: “O governo no se integrard a um novo regime # nfo ser que seja'o.reflexo da nagio organizada, Por tal, ele nio deveri Se tornar prisioneiro de um partido, duma classe ou duma face4o, pois a nlo ser ao povo brasileiro... 6 que ele deve prestar contas” ® As interventorias situavamse, assim, a meio caminho entre a ide tidade ¢ a independéncia face aos grupos dominantes estaduais. O elemento novo, contuda, que Ihe conferecardter de inovacio institucional, € 0 fato de haver sido implantado como wm sistema, em todo 0 pais como um instrumento de controle e uma cunha do poder central em cada esado, Seria contudo erréneo supor que esse processo de cenralizagio tivesse surgido da noite para o dia. Ao contréro, se alguma data identifcdvel puder ser encontrada pera démarcélo, ela provavelmente se excontra na segunda fiarte da década de vinte, antes mesmo da Revolugéo, quando 4 concorréncia entre regiGes produtoras leva algumes delas a situagSes de crise, fazendo avolumar de maneira quase simulténea os pedidos de interferéncia do governa central, Destacamsc neste sentido as mogdes dos estados cafesiros menores — Minas Gerais, Espirito Santo e Rio de Janeiro — solicitando transferéncia para o governo federal do comando da politica cafeeira, até entio exercida pelo Instituto do Café de Sio Paulo. Sugorem moemo a federolizagao do Inatitto, prejudicadon que se sentiam com sua atuagio no convénio de café em 1927. A pecudtia igaicha j@ bem antes fazia reivinicagSes no mesmo sentido, por sentise Prejudicada com 2 competiao de Minas Gerais, observando-se idéntcas feclamagses do agcar nordestino contra Sio Paulo * 8 Getblio Vargas, A Nova Politica do Brasil, Rio de Janciro, Jost Olympio, 1938, vol. I, p. 19 9 As crises da producto cafeeira haviam levado os estados produtores, Sio Paulo, Minas, Rio e Espiito Santo a realizarem um convénio-em 28 de maio de 1927 com o objetivo de regulamentar os transportes e defesa do café durante satra 1927/1928, Entre outras medidas o convénio estabelecia eriérios para 89 As crises estaduais do inicio dos anos vinte — embrigo do tenen- tismo —e as dificuldades financeiras haviam aliés levado o Presidente Bemardes @ promover em 1926 uma reforma constitucional, tentada antes por Epitécio Pessoa, Essa reforma visava sobretudo reforgar 0 poder da unido, e mais especificamente do Poder Executivo federal. Institu‘a, por exemplo, a faculdade dos vetos parciais do Presidente da Repiblica, e proibia a “cauda orgamentéria”, da qual se valiam as bancadas esta: fas quotas de embargue do produto, Neste mesmo ano (02/08/1927), em dis: curso na Camara Federal, 0 deputado Maurlelo Medeiros denunciava a situaeao aflitiva da_praga do Rio, onde, por efeito do convénio interestadual, se esia- belooeu pela primeira vez. uma Testrgdo de entradas; critiava a politica de quolas do Convénio, por aché-Ia prejudicial @ lavoura fluminense: Afirmaya Que, as cotas dependiam da. producio de cada trea, coma o estado do Rio roduzia menos sacas por Area, pedia que a0 invés do. elemento aritmético, a quota fosse estabelecida em termes da produtividade da terra. O fato, dizia 2 parlamentar 6 gue 0 “Estado do Rio no exava acostumado 8 exporiagio No dia 15 de outubro de 1927, o mesmo deputado falov sobre um projeto aprovade pela Camara, pelo qual’o controle regulador do comércio de éalé, entre 0s portos do Brasil, caberia ao governo federal. Dizia o projeto: “Fica ‘autorizado 0 governo a regular 0 comercio do café entre ot portos do Brasil © 08 do exterior, como entre os dos diversos esiados, extabelecendo (...) 38 limiagdet gue julear conveieies 20 interese pblce™ 0 proto. sexbes ‘muitas critieas por se tratar de uma atribuigio privativa do Legislative que era ologada ao Executivo, © por ser uma arma politica com a qual o Presidente da Repablica poderiaestrangulat o coméreio de qualquer produto estadual. Em parecer da Comissio de Justisa e Legislagao (01/12/1927) sobre a ‘questo do controle de embarque de café, defendia Adolfo Gordo a necessidade de se dar a0 Poder Executive certa amplitude de peo. No 4." convénio cafesiro de 14/03/1929, era visivel a divergéncia de opiniso entre 08 presidentes dos Institutos de Minas e de Sto Paulo (O Instituto do Café ide Minas fora efiado em 14/07/1929). Pereira Lima, presidente do primeiro, schava rigidos os principios bésicos da defesa proposta e dirigida pelo Instituto fem Sto Paulo. Queriz-os mais eléstios, de modo que os estados.pudessem ‘umentar as respectivas saidas. Segundo Rolim Teles, presidente do Instituto de ‘Sio Paulo, isso transformaria o estado em comerciante, stuasao que 0 Convénio de todo procurava afastar. © “Jornal do Comézcio™ de 08/10/1929 falava em imposigdo por parte do situacionismo paulista aos delegados dos demais estados. Digavse de'passagem que no proprio estado de Séo Paulo havia oposigéo, so- bretudo no Partido Demoeritico, pelo fato do Instituto ter passado a concentrar a maior paste das ransagdee comercais na capital do Estado,,prejudicando a praga de Santos. Representantes daquele partido manifestavamse contra & po Ite financeira e cambial do presidents Washington Luiz e contra a politica cafecira dirigida pelo Instituto, [Nio eram vozes itoladas que se Tevantavam no Congresto e fora dele contra a obstinagio do governa de Sio Pallo em restringir a exportagio como meio de manter o prego alto por saca de café. ‘Em 31 de dezembro fora crisdo o Tastitute de Defesa do Agicar, face & queda na exportagio, Em 19 de outubro de 1928, © Congresso Federal. auto- zara emprestimos aos estados aguearciros com 9 fim de ser instituide em cada um deles um Banco de Defesa do Acicar, cuja organizagio seria feita por uma comisséo de téenicos nomeados pelo governo da Unito, A justficaiva para a passagem dessa ei era de que “Os Estados do Norte do Brasil, por moti- 90, dusis: introduzindo matérias muitas vezes estravapantes, faciam acrés- cimos clientelfsticos & proposta oryamentaria ®. , porém, apés 1930 que as tens6es existentes na relago centro/ estados vém 3 tona com maior violencia, jé agora colocande tenentes © ‘méquines estaduais em campos opostos. Dizendo tenentes, nfo queremos nos referir somente aos militares, mas também aos civis identificados rupo e que obedeciam ao comando do Clube Trés de Outubro Civiea Nacional, Esta dltima foi uma tentativa de agrupar sob uma mesma diregdo todos os interventores, espécie de superinter- ventorla subordinada a Oswaldo Aranha, entfo Ministro da Justiga, ea um subcomando, por assim dizer, para 0 Norte-Nordeste sob a chetia de Juarez Tavors, por isso chamado de Vice-Rei do Norte. No panorama das interventorias, 6 necessério distinguir entre os estados mais fortes e os mais fracos, Nos primeiros, @ tentativa de Teg i la acces p's de pa So a Senetnd chats 2 mami ew nae cea Shp Ais aaa Sh cme nant am 9 198 anges deep rari hese at ert a Siaeay Hepnitntime aa S heels on ie" Sue ete Bila LES lin ware ol Sao om etn Cg Fie so Sane ES eo econ ta Apnea cee Feo oe ic gy eg eempians Sie pie, Sentra esieae We aan eee Some unr wipes metic om ccmrge Opie SSetip caer ees tence oe ees siudnis me 0 Re Ome Sh snl ots bn‘ ee ae te oa ca we tetas Pe oie Sm Saat ect isan ke ences Spl Smears S eta aS sn er hens oie na anode senna en a Gta ene re ce eee ea eee aos a a il Da Nes © ete A a Ea, ee cs ee ageae te or iS aeae ks ae pes ecg i tl anette i cas fe Klos Coons 09% fe st Faas &> mos't Spt nt a a eae a ed ae a es nee aie pret ae eae Sar aca meee Sean aoa oon Lo ae ee ee Ba an a anna Pte se BS 91 ‘mantélas subordinadas ¢ em linha deu lugar a diversas crises, de 1950 2 1937, como no caso de Minas Gerais, com a indicagéo de- Benedicto Valladares em substituigdo Olegério Maciel; ¢ de Séo Paulo, até a indicasio, em 1933, de Armando de Salles Oliveira, representante das dduas correntes mais fortes, o Partido Republicano Paulista e 0 Partido Democrético. © mesmo quadto prevalecia no Rio Grande do Sul, menos fbertamente, com a dispute entic Flores ue Cuus, Borges de Medetros, Joio Neves da Fontoura, Batista Luzardo e Mauricio Cardoso ™, Nos estados menos desenvolvidos, & exceso do Rio de Janeiro © Bahia, a equaso era mais simples, mero confronto de situagio © opo- sigdo, uma e outra monopolizadas, no mais das vezes, por uma ‘nica familia da cligarquia local. Nestes casos, a indicagio dos primeiros interventores seguiu regra deveras elementar: quem quer que estivesse za op2sigdo contra Washington Luis passaria & situacio, procedimento evocativo das “salvagdes” de Hermes da Fonseca. Mantinha-se af o mecs nismo tradicional de articulagéo politica — o acords direto entre estados, sem irterferéncia federal — dado que o interventor nio se via formal- mente obrigado a consultar 0 governo central, essas interventorias no passavam de pequenes ditaduras, mintsculos regimes de exces dentro do periodo de exceséo. a 11 Nos estados mais desenvolvidos, onde era maior o ndmero de correntes. pottticas, uma Comissio Central dos respectivos partidos republicanos procurava, oneiliar os conflitos. Com a extingSo dos partidos republicans estaduas, apos 190, essas comissBes contrais se esfacelaram e deixaram de exerecr tal fungi integrativa. esse modo, as disputas pelo controle da politica do estado passa- ram a repercutir diretamente no governo federal, sem a mediagio das antigas Comissbes Contras. Tais crises apresentavam maior difieuldade de solugio nos estados maiores que nos menores, Visto que neste titimos o poder era via de ea conolado por una pequena olga, a8 vezes monopolzado por tna AA bibliografia existente sobre as intervestorias em Séo Paulo 6 relativa- mente grande. Ver especialmente: Waldomiro Castilbo Lima, Interventoria Paulist, Sio Paulo, Oficial, 1933; Paulo Nogueira Filho, Ideais e Lutas de um rogressisia: A Guerra Clviea de 1932, 2 vols. Rio, José Olympio, 1965-1866; Aursliano Leite, Péginas de uma Longe Vide, Sio Paulo, Martins, sd Renato Jardim, A Aventura de Outubro e @ Invaséo de Sido Paulo, Rio 4e Janeiro, Civilizagao Brasileira, 1933; Euclides Figueiredo, Contribuigdo. para 4 Historia’ da Revolugio Constitucionalista de Sao Paulo, S80 Paulo, Martins, 1954; Catlos Castitho Cebral, Tempos de Jénio e Outros Tempos, Rio de Ja: neico, Ciilizacio Brasileira, 1962 Sobre o Rio Grande do Sul ver: Arthur Ferreira Filho, Historia Geral do Bio Grand do Su 13011997, Porta Alte, Eos Glob, 195 ‘tal, Flores da Cunha na Opinio dos seus Contempordneos, Porto Alegre, Eiitors Globo, s.d; Joao Neves Fontoura, ob. cit; Joseph Love, Rio Grande do Sul and Brazilian Regionalism, Stanford University Press, 1971 Sobre Minas Gerais: Afonso Arinos de Mello Franco, Um Estadista da Repiblica, Rio, Jost Olympio, 1955, vol. TIT; Benedicto Valladares, Tempos os ¢ Vividos: Memérias, Rio, Civilzagio Brasileira, 1966; Carolina Nabuco, A Vide de Virgilio de Mello Franco, Rio, Yost Olympio, 1962. 92, ‘ | t ft £ . f Ansiosos pela solidificacio de suas respectivas méquinas, as pri- meiras interventorias dos principais estados mostram-se favordveis & imediata reconstitucionalizagéo do pais. & sobretudo 0 que se observa em Séo Paulo, com Leudo Ferreira de Camargo ¢ Pedro de Toledo; em Minas, com Olegério Maciel; © no Rio Grande do Sul, com Flores da Cunha. Dai a tentativa de alianga, na revolugéo de 1952, destes wmés estados. Langada a progagdo pela nova Construinte — 0 decreto para as eleigées € de maio de 1952 — 0s porta-vozes da centralizagao contrestacam imediatamente com uma série de medidas, entre elas a substituigéo da _maioria dos interventores em’ exercicio por elementos diretamente ligados ao governo central, muitos dos quais militares, todos de orientago marcadamente centralista. Assim € que o governo de ‘Alagoas foi entregue a Tasso Tinoco (militar); 0 Amazonas a Antonio Rogério Coimbra (militar da Marinha) o Paré permanece sob 0 controle de Joaquim Magelhics Barata (militar); a Bahia, a Juracy Magalhies (tenente); 0 Cearé, a Roberto Cameiro de Mendonca (revolucionsrio histérico, militar}; 0 Maranhio » Lourival Seroa da Mota (militar); 0 Piauf, a Landry Salles Goncalves (militar, tenente); 0 Rio de Janciro, a Ary Parreiras (revolucionétio/histérico); 0 Rio Grande do Norte, f Hercolino Cascardo (militar, Marinha) ¢ depois a Bertino Dutra (mi litar, Marinha); Séo Paulo, Waldomiro Castlho Lima (militar); Sergipe, a Augusto Maynard Gomes (militar); 0 Distrito Federal, a Pedro Ernesto (enente); Paraiba, a Gratuliano da Silva Brito (civil), identificado com ‘© grupo liderado por, José Américo que fora tenente e figura destacada ras articulagGes do movimento de 1930; Santa Catarina, a Ruy Zubaran (roliter) Para 0 Mato Grosso e Parané, foram indicados interventores ci respectivamente Lebnidas Antero de Matos ¢ Manuel Ribas. O primeiro dirigiu 95 cleigées para a Assembléia, contudo por ter entrado em con- ‘ito com as correntes da politica estadual, integrada também pela de Filinto Muller, foi substituldo pelo Ministro da Justica; apés a nomeagio de um interventor interino foi indicado Newton Cavalcanti (militar) que presidiu as eleigSes para governador. No Parand, Manuel Ribas presidiu as eleigées para a Constituinte, e conseguiu evitar as crises tipieas das interventorias. Muito identificado com a politica federal, foi eleito gover- nador em 1935 ¢ depois permaneceu como interyentor até 1945. Em Goiés, no Espirito Santo e em Pernambuco, permaneceram Pedro Ludovico Teixeira, Punaro Bley (tenente) ¢ Carlos Lima Caval- cante (tenente) elementos identificados com 0 governo federal ¢ satis fatoriamente entrosados com os grupos estaduais, ou deles originérios. 12 Ruy Zubaran nfo dirigin as eleigbes: foi removido do cargo por pressio de Flores da Cunha, que chegou a ameasar 0 rompimento com o govern cexntral 93 ‘Minas Gerais e Rio Grande do Sul nfo so tocados, em parte pela exis tBacia de identificagio com os desejos do governo central, mas sobretudo ‘porque este estaria ainda fraco para uma intervencSo’ mais decidida, caso fosse esse seu intuito™, Face & perspectiva das eleigSes para uma assembléia nacional cons- tituinte, dew-se ainda outra iniciativa importante por parte dos adeptos da centralizagio. Sob a inspiragdo do Clube Trés de Outubro, ¢ tendo Juarez Tévora como portawoz, os interventores do Norte ¢ do Nordeste reuniram-se para aprovar uma mogio favordvel a uma representagio igual dos estados na referida assembléia, Segundo declaragao de Carlos Lima Cavalcante, a-intenggo era “criar 0 bloco do Norte, a fim de jogé-lo contra o Sul na Constituinte” “. Era patente para o governo federal a importancia crucial que teriam as eleigdes previstas para maio de 1933. Em carta a Roberto Carneiro de Mendonga, Getilio referiase 2 crescente movimentagdo eleitoral e arrematava: “Com mais forte azo”, penso que dela no se devem alhear “os que tim acompanhado ¢ fortalecido ss aspiragdes nacionais” **. Sem davida um dos principais senéo 0 principal motivo do rompimento do Partido Democrético paulista com 0 governo federal foi o cariter de embrigo de centralizagic politica de que se revestia o bloco das interventorias do Norte/Nordeste. No Manifesto de Janeiro de 1952, diziam textualmente os democriticos de Sio Paulo: “... 8 mister precaver com sabedoria 0 duplo perigo que corremos de dilatar os males da ditadura de possivelmense vermes vencet na Consituinte as idéias subversivas’ que corronpem os espinitos. Fazse mister ainda considerar a organizagio das iatervento- rias do Norte em forma de bloco contraposto 20, Sule & cam ‘panha constitucfonalista, como um perigo a integridade geogritica do Pais ¢ 20 equilfbrio dos estados no organismo federal” *. 13 Sobre a politica do Ceark, consultar: Raimundo Gitko, Pegaena His- téria do Ceard, Fortaleza, Insituto do Ceara, 1962; Juarez Pemandes, Tavora, ‘Algo de Minha Vida: Cumprindo uma Vela Promessa, Fortaleza, Imprensa ‘Gaiverstinia, 1961, ‘Sobre a. politica baiana: Juracy M, Magalhies, Minha Vida Piilica na Bahia, Rio de Tancito, Jost Olympio, 1957; Clemente Mariani, 0 Governo da Bahia ea Dejesa da Republica Contra as Agitapbes Extremists, Rio, Jornal do Comercio, 1936; J.J. Seabra, Humilhacag e Devastardo na Bahia: Andlise Do~ cumentada da Administragdo do Sr. Juracy Magalhdes, Bahia, Grafica da Bahia, 1933. ? Sobre Pernambuco: Anibal Fernandes, Pemambuco ao Tempo de “Vice- Rei’, Rio, Schmidt, & Astolpho Resende, Defesa do Dr. Carlos de Lima Cavaleante, Rio, Jornal do Coméreio, 1937. ‘Sobre Sergipe: Acrisio Torres Aratjo, Peguena Histéria de Sergipe, Aracajt, SCP. 14 Citado por Afonso Henriques, Ascensio ¢ Queda de Geuilio Varges, Rio, Record, 3 vol, p. 185, vol. 15 Helio Silva, A’ Crise'do Tenentismo, ob. city pp. 122-123 © cédigo eleitoral que iria reger o pleito, decretado em 1952, nio acatava, evidentemente, a proposta “igualitéria” daqueles interventores ‘mas incorporava outra nogdo cara aos tenentés: a representacao classista, ‘que significaria ume: bancada de 40 (quarenta) constituintes — maior que Ale Minas Gerais — naturalmente com o mesmo objetivo. Trata- vase claramente de um meio termo em relago & mogio dos interven- tores do Norte/Nordeste, mas de qualquer modo uma vitéria dos centr listas © do governo, com o fito de contrabalangar 0 peso dos maiores estados, notedamente de Sio Paulo e do Rio Grande do Sul, que na Conjuntura represeniavam a oposi¢ao principal. A moglo norte-nordes- tina criara um clima de teivindicag6es mais extenso, deixando um claro ara propos classi, destinada a atenuar @ hegemenia dos grandes estados Vimos, assim, que a relagio centro-stados, crucial no quadro das mudangas politicas almejadas pelos revolucionarios de trinta e pela ideo- logia de époce, encontrava no interventor seu instrumento-chave. O papel deste era claramente dificil, instrumento que era das tentativas de. con- trole por parte do governo central ¢ dos desejos dos estados em manter suas prerrogativas. Naturalmente, sua agio era mais efieaz nos estados ais fracos, menos estratégicos para os designios do poder central, Nos estados mais fortes, econémica e culturalmente mais representativos, detentores, além do mais, de milicias aprecidveis, jamais a situagio se aproximou sequer de um’ modelo hierérquico, Instrumento do controle federal, o interventor precisava por sua vez ser controlado pelo governo federal. Quem guardaria os guardas? De duas.maneiras procurou 0 {governo central manter esse controle em segunda insténcia. Uma, como 08, foi © processamento de um rodizio em algumas intervento a fim de dificultar o encastelamento politico dos interventores. A segunda foj a criagdo de Grgios paralclos de centralizagSo administrativa, assunto que sbordaremos ne préxima secio. 16 Afonso Henriques, ob. cit, vol. p. 223. Essa manifestagio & sign cativa, poraue o rompimento se dev apde & pubiieagdo do Codigo que fixava fnormas ¢'a data dar cliges para ¢ Constante ph 17 0 catiter politico imediato da representagio classista fica comprovado considerando-e que 0 arquridesiogo Jo corporativimo no. Bras, Olive Vianna, pronunciou-se no caso contra essa formula, sendo seu depoimento Ut lizado ‘pela representagio pauls. como. arma nos debates que se. seguiram Disse Oliveira Vianna, justifieando perante a subcomissio do antoprojeto cone. Siucional seu voto coutasio A repreeentacto clasitta na, Awemblea Nacional SNio € possvel representagdo politica das classes sem a. prévia organizugdo profssional dessas mesmas clasts. Mas, a organizagto profesional das clases B49 ¢ obra que so realize por wna simples dsposisto imperativa. da Carta Constitucional. & obra do tempo, da evolveto econémica, Go trabalho lento das forgas socais © espistuai”” Apud Ranuipho Pinheiro Lima, A. Represen- acto. Profisional no. Bras: Discursos Prontnclados na Astembléta Nacional Consituinte de 1934, Rio, Temon Pongett 8, pp. 1819. 95 ee © Departamento Administrative do Seivigo Piiblico (ASP) Criado em 1938, 0 DASP foi concebido como um departamento administrative geral, com o objetivo de realizar um estudo global do sistema administrativo do pafs a fim de que fossem instituidas mudangas fem relagdo & sua economia ¢ eficiéncia. A preparagdo anual do orga mento e 0 controle de sua execuso passam & responsabilidade do DASP, dentro de linhas -gerais tragadas pelo chefe do Executive, Segundo Lawrence Graham, “Em teoria 0 DASP foi concebido como uma organizasio técnica, 0 que significava que os Orgios ministeriais te sujeitariam 1 cle em relagdo & assuntos téenicos, mantendo-se sujcitos & hie~ arquia usual para os assuntos de administragso geral. Na pritics, contudo, o DASP funcionava de modo diferente. Tendo surgido no contesto de uma ditadura comprometida com a modsrnizacio, sem um partido de massas, o departamento criou meios coiiver hientes fara o controle central do sistema administrative. Como agencia do executive federal, exercia responsabilidade que iam além das preocuparses técnicas.. Na tealidade, 0 DASP tomnowse luma espicie de super-minisério + Os “daspinhos” — departamentos esteduais — funcionavam a0 ‘mesmo tempo come uma espécie de: legislative estadual e como corpo supervisor para o interventor e © Ministério da Justiga: os prefeitos municipais tinham que se submeter nio s6 ao interventor, mas também ao presidente do departamento estadual do servigo pubblico. “Embora © interventor fosse, 0 responsdvel pelo estudo, aprovagio e declaracio de todos os decreids e leis estaduais", observa ainda Graham, esses s6 eram vilidos quando sancionados pelo presidente do “daspinho”. Se este se opusesse a algum ato of decreto exc eutado elo interventor, dois tereos dos votos do departamento fram suficientes para suspender a agdo até que uma decisto fosse tomada ele chefe do execuvo federal. Além diso,'o depart ‘mento aministrativo estadual era o érgio responsivel pelo enct- inkiameato de todos os apelos contra 0 interventor. Exes pelos cram submetidos, através do Ministro da Justiga, ao Presidente da Repiblica. Nio'€ dificil entender porque, sob essa combinaglo de eircumstincias, 0 presidente do “daspinho” era ustalmente mais pPodetoso que o interventor" 1, _Como uma engrenagem, a interventoria, o departamento adminis- trativo © 0 Ministério da Justiga cooperavam na administragio dos estados, sob 0 contyole geral do Presidente da Repiblica. Enquanto 0 interventor agia como coordenador politico, sob instrugbes diretas de Vargas, 0 departamento administrativo, dirigido por burocratas e inte- grado por engenheiros, agronomos, estatisticos, etc. — individuos que se consideravam e eam considerados imunes a pressées clientelisticas — 18 Lawrence Graham, ob cit, pp. 29-30. 19 Idem, pp. 27-28. 96 funcionava como um corpo legislative. Uma entrevista feita por Karl Lowenstein com Gofredo da Silva Telles delineia com clareza a auto- imagem desses novos burocratas ligados a0 DASP. © presidente do “daspinho” paulista, segundo Lowenstein, orgulhavase de, com seis colegas, fazer 0 trabslho da antiga Cémara e Senado do estado © de mais 271 cimaras municipais. Afirmava que 0 novo esquema organi- zacional era “democritico” porque ele conseguia conselhos sobre projetos de Ici e medidas dministrativas de importancia geral de todas as éteas afetadss, sem ser atrapalhado pela “politica” estadual © municipal. Dizia © entrevistado: “projetos provenientes do gabinete do interventor que pparecem motivados por interesses privados ou por grupos de. pressdo indesejéveis so posios de lado, Somente em casos raros 6 invoceda a decisio do Ministro da Justisa” *, : Sem divide, a reslidade nfo deveria coincidir intelramente nem com os organogramas juridico-institucionais nem com 0 quadro subjetivo dos administradores ¢ interventores, Por certo, as relagGes entre ambos variavam de estado para estado. O mesmo Lowenstein afirma, por exemplo, que o presidente do departamento administrative em Sto Paulo exercia maior poder © controle que Adhemar de Barros, entio inter- ventor, enquanto em Minas Gerais dava-se 0 oposto, possivelmente em virtude das raizes mais profundas que ligavam Benedicto Valladares, intervenor de 1933 a 1945, & politica mineira; ou ainda, como quer Lowenstein, por haver em Mines uma tradicio mais forte de indepen- déncia administrativa face ao governo central AA posigo algo anémala dos interventores foi “legalizada” em 1959, & semelhanga do que dispunha o ato de reconstrigdo de 1935 na Ale- ‘manha nazista, por um decreto intitulado “Da administragio dos estados © municfpios”, que passaria entio a ser a Iei orginica a reger as relagbes entre 0 governo nacional ¢ os estados. Esse decreto estabelecia que 0 Interventor e 0 Departamento Administrativo cram os Srgics de governo ddos estados. © interventor seria assessorado pelos chefes dos departa- mentos administrativos para um ndmero limitado de éreas (Interior, Justisa; Educagéo ¢ Trabalho); indicados embora pelos interventores, (08 assessores nfo renunciariam invariavelmente quatdo o interventor no estado deixasse 0 cargo. Em 1937, sob o prisma juridico-insttucional pelo menos, os estados achayamse jé relegados a pouco mais que divisées administrativas subor- seus poderes eram bastante variveis, no cabendo aqui um exame mais det Thado de cada um. Alguns dispunham de poderes normativos ¢ regul ‘Grios bastante amplos; outros eram de natureza consultiva, preparatéria ‘ou investigatéria, sem fungSes normativas. Sua composigiéo é também bastante varidvel. Algumas vezes incorporavam representantes da ativi- dade respectiva, mais funcionérios do ministério ao qual o é:gi0 & subordinado; mas também hé casos, como o Instituto do Sal, que excluiam individuos pessoalmente interessados nos objetivos regulat6rios do Instituto. Dos rgios criados apés a revolugio de 1930, destacamse, entre- tanto, como invento institucional ¢ como via de acesso de novos perso- nnagens — engenheiros, economistas, ete. — os grupos ou conselhos téonicos. E entzo ettec, 0 CTEF —"Consclho Téenico de Economia Finangas — 0 CFCE — Conselho Federal de Comércio Exterior. O CTEF teve seu embriso na Comissio de Estudos Econémicos e Finan- ceiros dos Estados e Municipios, eriada em 1931 com a finalidade de transferir para o plano federal, em caréter de exclusividade, as relagées financeiras externas. Posteriormente, desempenhou importante papel na formulaso das politicas siderirgica e de petréleo. Era integrado, entre ‘outros, por José Carlos de Macedo Soares, Juarez Tévora, Oscar Wei chenk, Joaquim Catrambi, Mério de Andrade Ramos, Waldemar Faleao, Eugénio Gudin, Alceu Azevedo, Luiz Paes Leme e Valentim Bousas. © Consétho Federal de Comércio Exterior (criado em 1934) tinha por objetivo inicil a centralizago da politica de comércio exterior, mas seu mbito de atuago foi amplisdo, tornando o conselho érgfo de com as sonclusies dese congreso, indus de fo, Paulo, manifesatamce pela necessidade de planejamento, mas “A margem do avtoritarismo do Estado", ‘8 qual deveria, segundo cles, eriar condicses para a preservago das atividades rivadas, Ver Anais do Primeiro Congresso Brasileiro de Beonomia, 1 (1943). Em 1945 a disputa Gudin-Simonsen repete-se na Conferéncia das Classes Pro- utoras, realizada em Teresdpolis, e tendo por tema a definigio de uma politica lndustral para o Brasil. Roberto Simonsea, O Planejamento da, Economia Brasileira. (Réplica ao Sr. Eugenio Gudin, na Comissto de Planejamento Eco- nnémico), edigao do autor, io’ Paulo, junbo de-1945. 23 Parece haver dvergtacas entre ds autores sobre a importéncia politica ssa dss eon «smc cn Re brenden cles ua ako dnmente hictanguics, natal que se posigoc ratvasvacansem em fondle ae conjunare ou da sateria em ext, "ebm posse ae ¢oeeato dessa posigoes ssja colorda ela avallaglo ideoloniea implica. Assim, pot txemplo, lanni parece atric 20. Conselho Federal de Comercio Esterior uma fimpordncla como oro de controle e planejamento. nfo. confrmada tn fouum por Daland © Wich’ Lowenstein, por sun ver, detaca a comissfo de’ Defes Ex" ceonomin Nacional como 0 Srzzo mais importante, pelo menos até 2 data de sun pesquisa (942), 100. > assessoramento ao governo em muitas outras quest6es, Foi remodelado em 1957 tomandose, segundo alguns autores, um érgéo central de coorde- ‘hago econémica, embrigo de um Ministério de Planejamento, com par- ticipago de industiais, militares e téenicos do governo. A etiagéo de alguns dos institutes de que tratamos anteriormente foi feita com base em propostas do CECE. O Conselho de Economia Nacional, crigdo pela Constituicio de 1937, teria feigio organizacional bastante seme- Thante a0 proprio CFCE, mas nunca foi instalado. O Conselho Federal do Comércio Exterior persistiu até 1949, quando foi substituido pelo Conselho Nacional de Economia, 5. O papel das forgas armadas ‘Sem as tornar propriamente um instrumento do poder getulista, a expansio e 0 fortalecimento das Forgas Armadas da Unido constitut- ram mais um mecanismo decisivo de centralizagio. Os novos comandos militares no sc aubordinarem nem se identificaram liieiramente cou a mistica ou com os objetivos particulares de Gettlio, fato que teri grande significasao nos alinhamentos politicos do pés-guerra. Mas 0 crescimento do exército, mesmo mantendo essa margem de indepen- déncia face ao governd, implicou na quebra da autonomia das milicias estaduais uma expansio quantitativa e qualitetiva que terminaria numa configuragao de fcrga militar diametralmente oposta a existente na Primeira Repdblica. Além dessa alteragio, que terla conseqiiénci centralizantes mesmo na hipétese de total oposiggo aos detentores civis do poder — o que evidentemente no era 0 caso —, desempenhou porém © exército dois papéis de colaborador direto com o governo de Getilio ‘Vargas. Desempenhou, de um lado, © papel de avalista final de toda 4 cstrutura bascada no binémio interventores-burocracia, vale dizer, de todo © arranjo politico montado para o controle dos estedos. Surgitt como arbitro politico do regime, levando muitos autores a yerem nele © equivalente funcional do “poder moderador” do Império e dos grandes cestados durante a “politica dos governadores”. Por outro lado, © exér- ito, através de seus quadros téenicos, surgi como policy-maker, not damente na formula;do e implementacdo das decisdes ¢ planos relatives ‘80 desenvolvimento industrial,.como no caso da siderurgia e do petréleo. Consumada a RevolucZo de 1930, como observa Mério Wagner Vieira da Cunha, “o exército dividivse nos altos comandos estadusis”, situago que, se perpetuada, “redundaria na manutengdo da politica dos governadores, ja que desde 0 inicio fora uma revoluglo de governadores. © tenentismo € 0 movimento que interfere nessa estrutura” impedindo que cla se exaurisse numa mera troca de oligarquias*, Sua atuagio 24 Mério Wagner Vicia da Cunha, ob. cit, pp. 164165. A exporigio a seguir basciase nesse interessantissimo estudo, divergingo somente quanto. a0 fato de Mario Wagner ver 0 tencntismo como ewencialmente progressista ¢ 101

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