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10 ANALISE DE DISCURSO Rosclind Gill Palnoras-chave: orientagio da aio; organizacao ret6riea; cons- teugiio; Ieitura cética; texto coma flexividade. Anilise de discurso € 0 nome dado 2 uma variedade de diferen- tes emfaques no esturlo de tex:os, desenvolvide a partir de diferentes tradiches teéricas e sliversos tratamentos em diferentes discip!inas Estritamente falando, nao existe uma tinica ‘andlise de discursc”, mas muitos estilos diferentes de anilise, € todos reivindicam o nome, O que estas perspectivas partillkm € uma rejeigio da nogao. vealisia de que a linguagem € simplesmente um meic neutro Ce re- fletir, ou descrever @ mundo, e uma conviccdo da imparténcia cen- tral do discurso na construgo da vida social. Es:e capitulo discatiré um enfoque da anélise de discurso que foi infuente em campos tao diversos como a sociolog:a da cifncia, os estudes da midia, estados de tecnologia, psicologia social e anlise de politicas, O capitulo € dividide em quatro grandes secies. Na primeira, discuto 0 contexte intelectual do desenvolv.mento da anilise de dis. curso, € apresento seus prinefpios centcais. Na segunda, discuto a pritica da anilise de discurso. A terceira segio & um esaudo de case do uso desse enfoque para analisar um pequenc texto Ce um artigc de jornal. Zle dé uma irdicagio co tipe ce material gerado pela lise de discurso e apreser:ta elementos de compreensio aos leitores, para se fezer uma andlise de discarso. Finalmente, este capitulo apresenta ume iagio da andlise de discurse, enfatizando algu- mas de suas vantages e desvant TC. ANAUSE DE DISCURSO Apresentando a aniilise de discurso Conterto intelectual © crescimento extraordinariamente rapido do interesse pela andlise de discurso, nos Giltimes anos, é tanto uma consequéncia, como uma manifestacac de. “virada lingiifstica” que ocorreu nas ar- tes, humanidades ¢ nas cigncias socia's. A “virada lingiifstica” foi precipitada por criticas ao positivisme, pelo prodigioso impacto das idéias estruturalistes e pés-estruturalistas, e pelos ataques pés-mo- lernistas & epistemolog.a (Burman, 1999; Gill, 1995; Parzer, 1992, otter, 199Ga). As origens da andlise de discurso a partir de cxfticas iéncia sociel tradicional significam que ela possui uma base episte- oldgica bas:ante diversa de algumas outras metcdologics. Isso és ze3 chamado de construcionismo social, construtivisme, ou sim- Jlesmente constracionisme. Nzo hé uma definigéc tnica concorde Jesses sermos, mas as earacteristicas-chave destas perspectivas sZo: 1. A postura critica com respeite a0 conhecimento dado, aceito sem discussie € um ceticismo com sespeite 2 visio de ‘que nossas observagées do mundo nos revelam, sem proble- mas, sua natureza auténtica. 2, Oreconhecimento de que as maneir2s como nds normale mente compreencemos 0 mundo sac histérica e aultural- mente especificas e relativas. 3. Aconvicgio de que o conhecimento é socialmente cons- truido, isto é, que nossas maneiras atuais de compreender 0 mund) sie determinadas nao pela natureza do mundo em, si mesmo, mas pelos processos socials 4. O comp:omisso de expiorar as maneiras com os conheci- mentes — a construgio social de pessoas, fendinenes ou p:0- blen:as ~ estdo ligados a agoes’praticas (Burr, 1995} Uma conclusio dessa posigao epistemolégica é que a analise de iscurso nao pade ser usada para tratar os mesmos tipos de questes 19 s enZoques tradicionais. Elz sugere, ao invés, novas questoes, maneiras, de reformmular as antigas (ve: avaixo). 57 variedades de anclise de dis-wurso Os termos “discurso" € “andlise de discurso” sao muito discati 5, Para afirmar que detezminado enfoque € wn discurso analitico, PESQUISA QUALITATIVA COM TEXTO, IMAGEN E SCM. alguém deve necesscriamente dizer algo mais; néo é apenas uma questio de definigzo, mas implica assumir uma posigio deato de ‘um conjurto de argumentos muito ques:ionado ~ mas importamte, Embora existam provavelmente ac menos 57 variedades de anilise de discurso, um mado de conseguir dar conta das diferergas en:re clas é peasar em tradigées teérieas araplas. Discutirei -rés delss. Primeico, ha uma variedade de posigSes conecidas como lingiiis- tica critica, semictica socia’ ou critica, estudos de linguagem (Fowler et ai., 1979; Kress & Hodge, 1979; Hodge & Kress, 1988; Fairclough, 1989). Comparada a muitos tipos de anatise de disaucso, esta tradigio possui uma estreita assodagio com a d'sciplina ca lingiifstica, mas seu ‘compromisso mais claro com a se-niGtica e corn a arise estrutusa- lista (ver Penn, cap.13 neste volume). A idéia semiolégica central de que o sentido de un te-mo provém nfo de alguma estrutura inerente da relagio en:re sign-ficente ¢ significado, mas do sistema de opesi- ‘gGes em que ele esta inserido, coloca um desafic fundamental as dis- cusses sobre “palavra-o3jeo” da linguagem, que era vista como ura processo de :lar neme a algo. Esta questo foi desenvolvida em recen- te crabalko lingisist.co critico, que tem uma preccupacio explicita ‘com a rekigao entre linguagem e politica. A tradigéo esta kem repze- sentada ros estuéos de midha, particular mente na pesquisa sobre im- prensa, ¢ enfatizou ~ entre outras coisas ~ as maneias como formas lingitfsticas espectficas (tais como a anulacao do sujeito, passivizag io 0.1 rominalizagio} podem ter efeitos dramaticos seb-e 2 maneira ‘como um acontecimente ou fendmeno € compreendide. Uma segunde ¢ ampla tradi¢ao & a que foi influenciada pela tec~ ria co ato da fala, ctnometodologiz e aniilise da conversagio (ver Myers, cap. LI nese volume; Garfirkel, 1967; Sacks et al., 1974; Coulthard ¢ Montgomery, 1981; Heritage, 1984; Atkinson ¢ Herita: ge, 1984), Estas perspectivas ccentuam a crientagio funcional. ou a orientagao ¢a ago, que o discurso possui. Em vez ce olhar como as narracdes se relacionaim com 0 mundo, elas se interessaram aaquilo que estas narragées tm como chjetivo conseguir, € derscrutam em detalhe a organizagio da interagic social. O terceiro con‘unto de trabalho, que as vezes se identifica como andlise de d-scurso, é 0 associado com o pés-estruturalsmo. Pis-cs- tmituralisme rempeu com as visbes real-stas da Jinguagem € rejeitou angie do sujeito uaificade coerente, que foi por longo tempc 0 e0~ ragio da filosofia ocidental. Entre os pés-estruturalistas, Michel 10. ANAUISE DE CISCURSO. ‘oucault (1977; 1981) é muito conhecico por caracterizar suas genea gias da disciplina e sexualidade como anilises de ciscurso, Kn, sontraste com a maioria da zndlise de discurso, este trakalhe est in= ressadio nio nos detalhes de textos falaclos e eseritos, mas em elhar istoricamente os discursos. Femas dir anise de discurso G enfoque que sera clabozado aqui se inspira em idéias de cada a dessas trés tradigées delineadas acima, bem como de campo vente da amlise retérica (ver Leach, cap. 12 neste volume; Bil- 1987; 1988: 1991: ver Potter & Wetherell, 1987, para uma diss sso mais completa das diferentes influéncias sobre a zndlise de iscurso). Desenvolvido inicizlmente em trabalhos da spcologia do hecimento cientifico € da psicclogia sccial, ele esta zgora arochi= indo andliscs dentro de um conjunte diverso de campcs, e constitu wm enfoque tecricamente coerente com a anélise de fala ¢ textos, E proveitoso pensar « anilise de discurso como tendo quatro te= principais: uma preocupacao com o discurs9 em si mesmo; uma isio da linguager como construtiva (iadora) e const-uida; \uma n= se nc discurso como uma forms de ago; e uma conviccio na orga izacio retérica Go discurso. Em primeiro lugar, entie, ela toma o prio discars9 como seu tpico. O termo “discurso” é eripregado se seferit a todas as formas de fala ¢ :extos, seja quando ocore turalmente nas ccnversagSes, como quando é apresentado como, terial de entrevistas, ou textes escritos de todo tipo. Os anélisas, discurso estio inceressados nos zextos em si mesmos, em ver de sidlerdiclos como um meio de “chegar a” alguma realidade que é nsadz como ex'stindo por detrés do discurso — seja cla social. psi- toldgica ou material, Esze erfoque separa claramente analistes de discursc de alguns ow:108 cicntistas sociais, cujo interesse na lingua- gem ¢ geralmente linnitade a descobrir “o que realnente aconte- ', ou cua. é realmente a atitude de um individu com respeito & You Z. Ao invés de ver ¢ discurso como um caminho para outta idace. os analisas de discurso estao interessados no conteudo € na organizagio dos -extes, O segunda tema daanilise de diseurso é que a linguagem € cons- trotiva, Potter & Wetherell (1987) mos:ram que a metéfora “corstru- eclea és facetas do enfoque. Primeito, ela chama a atengic para o fata de que o discarso é construido, ou manufaturado, a pi lir de recursos lingiiisticos preexist PESQUISA QUALITATIVA COM TEXTO, IMAGEM E SCM Linguagein ¢ priticas lingitsticas ofererem um depisite de siste- ras de termas, formas de narratives, metifarcs ecitazies, do qual 6 prssizel orgenizay tem relato especifico (Potter et al., 1990). Em segundo lugar, a metifora ilustra © fato de que a “mont gem” de um conjento implica em escol.aa, ou selecao, de um mtime- To diferente de possibilidedes. E possivel descrever até mesmo 9 mais simples cos fenémenos era uma muliplicidade de maneiras. Qualer:e= descrica especifica depender’ da orientzcio do lecucor ou escritor (Potter & Wetherell, 1987; Potzer et cl., 1990) Finalmente, a nogac de construcao enfatiza o fato de que nés I~ damos com o mendc em termos de construgdes, e nde de uma ma- heira mais ou menos “cireta”, ou imediata; er um sentido verda- “deiramente real, diferentes tipos de textos constroem nosso mun- do. 0 uso construtivo da linguagem é um aspecto da vida social aceito sem discussio. A nosio de construgie macca, pois, claramente uma ruptura m os modelos de linguagem tradicionais “realistas", cnde a lin- agem ¢ cmada como sendo um meio transparen:e — um caminho Jativemente diveto para as crengas ot. acentecimentos “reais”, ou reflexao sobre a maneira como as coisas realmente $40. A terceira caracteristica da anilise de discarso que desejo realcar i é sua preocupazio com a “orientagio da acZo", ou “orientagao da \Ga0” do discurso. Istc €, 0s analistas de discurso véera todo discar= ‘como Pratica social. A Lnguagem, entao, nao ¢ vista como um riero fendmeno, mas como u-na prdtica em si mesma. As pessozs em- regam o discurso para fazer co'sas — para acusar, para pedbr descul- Jas, para se apresentar de uma maneira aceitdvel, etc. Realgar isto & Sublinhar 9 fato de que o discurso nao oco-re em um véeuo social. Como atores sociais, nds estamos continuamente nos orientand> pzlo Geritesio interpretation em que nos cncontrames € corstruimos nosso discurso para nos ajustarmas a esse contexto, Isso fica muito claro =m textos velativamente formais, tais como hospitais e tribunais, mas @ igualmente verdadeiro também para todos cs outros contextos fara. tomar um exemple concreto, alguém pode dar uma explicagio diferente do que fez ra noite anterior, dependendo do fato de que quem pergunta ésua mie, seu chefe ou seumelhicr amigo, Nao se tra- ta de que alguém esté sendo deliberadamente fingide em algum des- ses casos (av menos nao necessariamente}, mas simplesmente de que estafamos dizendo o que parece “certo”, ou o que "vem naturalmen- +10. ANAUISE DE DISCURSO te” para aquele contexto interpre‘ative particular. AgGes ou fungées nic devem ser pensadas em termos cognitivos, por exemplo. como relacionadasas intengdes de alguém; mnitas vezes elas podem ser glo- bais ou ideolégicas, e sio melhor pensadzs como priticas culturais, Co que como con‘inadas na cabeca de alguém, Os analistas de discurso argumentam que todo discurso ¢ circunstancial. E importante notar que a nogao de “contexto intersretativo” nao. €fechada ou mecanicisia. Ele € empregade nao sirapiesmente para sereferir aos amplos pardmetros de umta interacio, tais corio onde € quando cla tera Iugar, e a quem a pessoa esti falando cu escrevendo, mas também para atingir caracteristicas mais sutis da interagio, in- cluindo os tipes de agdes que esto sendo vealizadas, eas orientacdes dos participantes. Como um analis:a de discurso, a pessoa est en- volvida simultansamente em analisar o discurse e em analisar 0 coa- texto interpretativo. Até mesmo a descricio sonora aparen:emente mais direta e neu- ta pede estar implicada em um conjunto completo de diferentes ati- vidades, deperdende do con:exto interpretative, Tomeraos a segui: te frase: “Meu carro quebrou”. Isto sca como uma frase dire:amente descritiva sobre um ojeto mecAnico, Seu sentico, contudo, pode m.- dar drariaticamente em. diferentes contextos interpretatives: 1. Quando dito para um amigo na safdda de uma reunide, iss pode ser um pedido implicito para uma cavona, 2. Quande dito a uma pessoa que Ihe vendeu carro Ind apenas alguns dias pode fazer parte de uraa acusacao ou repreensio, 3. Quando dito para um professor para cuja aula voce esti mela hora atrasado, pode se constituir em una desculpa ou explicagio. E assim por diante. Uma maneiza de testar nossa aniilise de dis- uso € cllar para a rianeita como 0s participantes envolvidos res- pordem, e isso pode cferecer pistas anilliticas valiosas, Por exemplo, se o vendedor de carro respande dizenclo: “Bem, ele estava sem pro- blemas quando eu Ihe vendi’, isso indica que a frase foi ouvida como uma acusacao ~ mesmo eve nenhuma acusacio explicita tenka sido ita. Mas 6 contexto interpretativo nic: varia simplesmente com res- peito a com quem alguém fala: pode-se falar com: a mesma pessca—e até mesmo usar as mesmas palavras ~ © gerar muitas interpretacde: tes, Pensemos na maneita comoa pergunza “Voce ira sair hoje \iltiplos signi ita por alguém a PEsCAUISA QUALITATIVA SOM TEXTC, IMAGEN E Smt seu namoradola, © ponte central aqui ¢ cue no existe nada “sim- piles", ou sem inipr0?t@acia, com respeito & linguagem: fale textos sa priticas socinis, ¢ até mesino afirmagdes que parecer extremamente friviaie, stag ieplicadasem varios tipos de atividaces. Um dos objeti- hos da andiise de: discurso é identificar as fungées, ou atividades, da Tale dos textos, € expIcrar comp eles s3o realizados. Isto me leva #0 quarto ponto: @ andlise de discurso tata a fala e ‘ps textos como. onganizades retoricanente (Billig, 1987, 1891). Diferen- temente da analise da conversecio, aanillise dle discurso vé a vida so- ial como sendo caracterizada por contflitos de varios tipos. Como tal, grande parte 4 discurso est implicacka em estabelecer uma ver~ tao de muro diate de ver:Ces corapetitivas, Isto fica clare em al- grins casas politi®0s, por exemple, esto claramentetentande leva fs pessoas ia aderi 4 stat visGes le mundo, e publicitér‘os estao ten- tando nos vende seus produtos, estilos de vicla ¢ sonhos — mas & {ambein verdadé Parst outros discursos. A énfase na naturera retér ca dos textos sivige Tossa atengio para as maneiras camo todo dis- Curso é organizado a firs de se tornar persuasive. ‘A privica da andlise de discurso E-auito mais ficil diseutir 95 temas centrais da analise de d eaisso do ove exolica” como concretamente fazer pars analisar tex- os Seria rruito agradivel se fosse possivel oferecer uma receita, 09 catilo de manuais de cozinha, que os leitores ucessem acompa- nhar, metodicameate, mas isso € impossive.. Em algun lugar entre ai ca “elaboragao do material”, a esséncia de que se: fazer uma arabse de discurso parece eseapart sempre indet-nivel, cla nunca pore Set captada por descrigdes de esquemas de exci cagic, hipéteses € cequemas analiticos. Contudo, exatamente por~ {que a5 habilidades dos analistas ce discurso nao se prestam a des- erigdes de procedimen.cs, nzo ha necessidade de elas serem deh bemadamente w'stificadas e colocadas acima do alcance de todos, com excegio des encendidos. & andlise de diseurso ¢ semelhante a tnuites outras tarefas! os jornalis:as, por exemple, n4o sio muito inados para ientifiear o que faz com que um acontecimento t not‘cia, mas Tepois de um pequeno tempo de experién ‘tle noticia” se torna bem claro. Nac ha, na vere a “transcrigao” senso de “va'o substituto para#P=end 10. ANALISE DE DISCURSO Fazendo perguntas diferentes A anilise de discurso no é um enfogue que pede ser pego sin plesmente da prateleira, como o substitato de uma forma mais tad cioral de anilise— por exemplo, anélise de coatetido ou anilise esti tistica de dadios de questionsirins. A decisao de usar andlise de discur so impie uma mudaca epistemolégica radical. Gomo ja indie, os analistas de discurso nao véem ostextas como veieulos para clescobrir ‘alguina realidade peasada como jazendlo além, ou clebaixo da Lag. gem. Ao invés disso, eles estac interessados no texto em si mesmo, € por isso fazem pergamas diferentes. Diante da transcrigio de w i entre vegetarianos, poresemplo, 0 analista de discursen procuraria descobrir ali por que as pessoas impicadas deixaram de ‘comer carne € peixe, as ao invés disso, estaria interessarlo em anali- ‘sar como a decisio de se tomar vegetariano é legitimada pecs por ta-vores, cu como eles respondem a €-ficas porenciais, eu come eles formar uma a.to-identidade positiva Gill, 19969}. A possive’ lista de erguntas € inzerminsvel; mas, como se pode ver, elas sio bem dife- rentes clas convencionais perguntas socicciensificas. Tronserigas Ano ser que sc esteja analisando um texto de dominio pitblico + exemplo, im artigo de jornal, uma relarério de uma companhi. uo registro de um cebare parlamentar ~ & primeira exigencia é uma transerigio, Uma boa traascrigie deve serum registra t2o deta Jo quanto possivel do discurso a ser analisado, A traascrigac nao de sintetizar a fala, nem deve ser “limpada”, ow corrigida; ela jeve registar a fala literalmente, com todas as caracceristices possi- is da fala, A producio -le uma transerigao consome uma enesmi- Cade de tempo. Mesmo que apenas as cavacteristices de maicr realee a fala sejam anataclas—tais como a Gakzse e hesitagio 6 desenvale imento da trenscriga9 pode demorar até 10 horas para cada hora le material gravado, Os analistas da conve-sagio, e alguns analistas le discarso, afirmam que essas "ransesigoes mito detalhiadas so es- nciais, se nao se qu.ser perder as caracterfsticas centrais da fa Un siscema de trarsciicao que anote a entonagao, a “ala sobreposta, “respiragées, ete. —como 6 delineado por Gail Jeferson ~ pode che- gar a uma proporsao de tempo de 20:1 (ver cap. 11 deste volume). Contudc, coma Jonathan Potcer mostra, a produgae de uma trans- crigio nao deve Ser pensaca como um tempo “perdido”, antes que analise come tal comece: PESQuISA QUALITATIVA COMA TEXTO, MAGEM E SON. Mutias veze, algumas das intuigdes analiticas mais ikuminadoras ‘afarcem durante a trancerigéo, porque & necesséric um engaja- amenio profiundo com 0 materia! bera prodicair wma Boa transeri- $70 \1906b: 136). Por essa razio, é sempre se esta fazendo a ranscrigao. Uma das coisas que imspressionam: mais fortemente a znuites no- yes analisias dedicurso quandy eles oflam para — ou melhor, an de produzir uma transcrigio, € a total confucdo da fala. Aspectos da fala que sio tao familiares a ponto de nds muitas vezes literalmente néo 0s “ouyirmos’, se tcrnam visiveis nas wanscrigSes. Isso implica mailtiples “remendos” na fala, muclangas ao andamento ou tspico, pausas, scbrepasisces, interrupcies e emprego livre de frases tais como “sabe”. Na verdade, fazer andlise de discurso faz com que a pessoa imagine © quanto nés habitualnente “editamos” a fala que nés escucamos, A segunda coisa que chama a atencic é (aparente- mente de maneira contraditéria) como a fala esta em ordem. Repa- rose muciangas no andamento zconzecem quando os lecatozes se orientam: para o contexto interpretativo, scbreposighes e interrup- gbes sao devidas ac modo conversacional; € assim por diante (ser ‘Myers, cap. 1] neste volume). produzir notas analiticas enquante O espirito da leitwa cstica ‘Uma ver feita a transcrisée (ou obtidos os outras dacos), a anali- se pode cortecar. G porto inicial mais titil é a suspensio ca crenga naquilo que é tido como algo dado. Isto €semelhante a regra de pro- cedimento dos antropélogos de “cornar o farailiar estrznko”. Tal pritica implica em mudera mareira coro a linguagem é vista, fim de enfocar a construcao, onganizagio e famgdes do discurso, em vez de olhar pava algo atrés, ou subjacente a che, Como Potter & Wethe~ rell mostraram, otreinamentoacadémico ensina as pessoas ler tex tos buscando sia esséncia, mas isso é precisamente a manzira erreda Ce nos apraximarmos da andlis Selgréin lé um antiga, ou hero, o objetivo usual é produsir vena sinese simples, wnitéria, 2 ignorar a ruanga, as enatyadigces eas Gres de imprecisdo, G analita de discusso, contisda, wit snters sua ne detaihe das bassagens do discurso, embora fragmeniadas ¢ ‘contraditiies,e com o que é reelmente dite cit esto, nao com ale ‘gutra ideia geval que parece ser jretondida (1987: 158). 10. ANALISE DE DISCURSC: Fazer anilise de discurso implica questionar nossos préprios uupostos e as maneiras como nds habitualmente damos sentido: isas. Implica um espfrito de ceticismo, o desenvolvimento de “mentalidade analitica” (Schenkein, 1978) que nao dese parece ilm-ente quando nao se est’ sentado na frente de uma transcrigho, femos perguntar a qualquer passagem cada: “Por que ea estou jo isso dessa maneira?”, “Que caracteristicas do texto produzem. leitura?”, “Como ele esta organizado para se tornar persuasi« ” ¢ assim por diante. Na minhs opinio, a andlise de discurso de= ia trazer consigo um alerta sobre a satide, semelhante aos que s9_ des em comerciais de cigarros, perque fazer uma ansilise de so muda fundamentalmente as maneiras como nés experien= 0s a linguagem e as relag semelhanca dos etnégrafos, os enalistas de discurso tem de har no material estudado. Uma boa maneira de coriecar & lesmente ler ¢ rele> as transcricdes até que nos familiarizemos clas, Este prozesso ¢ uma preliminar necessaric para acodifica- As categorias usadas para a codificazia serZo, obviemente, de- sinadas pelas questées de interesse. As vezes elas irac parecer ve: amente simples: por exemplo, uma parte de minha anilise das istas com locutores de radio implicava o exame das explica- ‘que eles dava:n para a auséncia de mulheres trabalhando no ré- i So inicial para isto implicou examinar as Igar, ou selecionar, todas as ocasides era que os Lo- res se referiam as locutoras. Em outras ocasides, a codifice uma quant:- le de pressupostos ocultos sobre género. PESQUISA QUALITATIVA CCM TEXTO, IMAGEM © SON. Isto vem rezlcar um ponto importante so>re codificagic: que, ‘em suas fases iniciais, ela deve ser feita dz. maneira mais abrangen- te possivel, de ta’ modo que tedas as instfincias limitrofes possam: ser inclufdas, em ver de serem deixadas fora. As pessoas usar vic rigs estratégas para codificar, € cada pesquisador deve desenvol- vera sua, mas essencialmente a codifieagao € uma maneira de or- ganizar as categorias de interesse, Por exemplo, se nés estamos in:eressados em examinar como as pessoas explicam sua decisao de se tornarem vegetariaras, entao uma mancira de comecara co- dificar pede ser separar as transcrig6es em d.ferentes tipes de ex- plicagdes: algunas pessoas podem afirma: que elas pararam de comer carne devido a rezdes de satide, ouiros podem: discutir questdes ligadas a9 bem-estar dos animais, ¢ ainda outras podem ossuir ore ocapagdes éticas sobre o uso dos recursos g-obais de ali- mento € assim pos diante. E importante notar que os individuos podem ser levados por diferentes explicagous, ou combind-las, € que o interesse do anelista de discurso nao ¢ nas atitudes indivi- Guais, mas na construgio cultural do vegetar-anisme, Enaiisando 3 discrse Tendo completado a codificagio inicial— ¢ com as pilhas de foto- cépias ow de folhas de registro em seu lugar ~€ tempa de comecar a andlise como tal. Pode ser tril pensar a amilise como sendo construi- dla em duas fases relacionadas, Primeiramente, ha uma procura por tum padro nes alados. Isto vai se mostrar na forma tanto da varia ili dade (diferengas entre as narrecbes), quarite da consistémcia. Em se~ gundo lagar, hé a preocepagac com. a fangée, com a criagao de h-pe- Teses tentatives sobre as fungées de car acteristicas especiticas do dis- curso, e de testi-las frente aos dados {Potter & Wetherell, 1987). © claro que, colocadas as coisas dessa maneira, isso parece faci esqueridas de boras de frustrasio ¢ aparentes umpasses. Na pric a identificagao de padres e firagdes do discurso € muitas vezes cil cil c leva muizo tempo. Uma es:ratégia analitice atil, sugerida por Widdicombe (1995), € ade consicerar as maneiras como as coisas sia ditzs como senco po- tenciais solugées de problemas. A tarefa do analista € identificar caca problema, ¢ como o que € dice se constitu em unta solugao meu estudo sobre a maneira como 0s locutres de racio exph ‘© pequeno ntimero de mulheres no radio, um dos arcblemas diseus- 10 _ANALISE DE 2ISCURSC considerades corto sexistzs enquantc querende zo mesm 10 apresentar razdes *legitimas” pela auséncia de mulheres. As tra igces, estio cheias de desaprovagées (Hewit: & Stokes, 1975), tais 19 “Eu ado sou sexista mas..”, que precederam a apresentagiio consideragées que poderiam ser facilmente consideradas sexi: ndo com nosso exemple sobre vegetarianismo, podemos es encontrar asses locutores vegetarianos indicande uma varies ide de criticas pctenciais ~ por exemple, sentimenialismo, “corres (0 politica” € inconsisténeia. : Embora sugestées como as de Widdicombe sejam titeis pars pens a.aalise, no fnal das cortas ne bi como eseaper dota doduen nalise de discurso é uma arte habilidosa, que pode ser dificil, e exige pre muito trabalho. Como netaram Wetherell & Potter {1938}, ic € incomum trabalhar com um esquema analitico por varios dias, eras para medi-lo, ou cdescartélo, porque a eviclencic. lingiiistica se ajussa adequadarente. Diferentemente de outros estilos de lise que suprimem a variabilidacle, ou sumalesmente encobrem si IGGes que nao se aclaptam: 4 Ais:6ria que esté sendo contada, a arli- de discurso exige rigor, a fim de produzr um sentido analit.co dos tos a partir de sua confasio fragmentada ¢ cortraditéria Os analistas de discurso, ac mesino tempe em que exarinam & neira como a linguagem &empregada, cevem também estar se. € dito — gos siléncics. Isso, por sua vez, exi ima consciéncia aprimorada das teadéncias € contextcs sociais, po- ticos ¢ culturais aas quais.os textcs se referem. Sem essa compre contextual mais ampla 1uds ndo seremon capes de ver a versio alternativa dat aconteci snentos, ou fencmiewos qe 0 discurso que esiamtos analisardo bre- tender contranars aio corseguiremos perceber a sustoce fce ze sie) de tps parades de x ages wos tess ue estamas esivdando; e nd concegninemes recondeczr 0 signi do sléacia (Gill, 1996b: 147). vena Contudo, dizer que a femmiliasidade co-n 0 con:esto é vital, nao é erir que esse contexte possa ser descrito com neutralidade e sem problemas. Quando um analista de discurso discute 0 contexto, ee esté também produzindo ums: versio. construindo o contexto como um objeto, Em outras palavras, a fala dos aralistas de discurso nao é " stanciada ¢ oriemtada a acdo que qualquer © que os analistas ce discurse fazem é produzir leituras de PESQUSSA QUALITATIVA COM TEXTO. IMAGEM E SOM, textos € contextes que estéo garantidas por uma atengéc cuidadosa 208 detalhes, e que emprestam coezéneia ao discurso em estudo. Extudo de coso: “Maste da Pai” A fim de demonstrar os tipos de intui¢6es produzidas pel an: se de discurso, irei apresentar uma anélise preliminar de wma curta passage, ex:raida de um artigo de um jornal em voga (“Morte do Pai” de Melanie Phillips, Tie Observer. 2 de novembro de 1997}. 0 artigo, que encantrei enquanto escrevia esse capitulc, € de muitos modos, tipico do tipo de "reflexdes", que se encon:ram em jornais, britanicos dominicais. Relacionadc com os debates sobre a atitude do governo Blair com respeite as mies solteiras, 0 artigo denuncia violentamente os arquitetos de uma crise que apereatemente ame ca a sobrevivénsia da pacernidade, dos homens em geral, e do pro= orio futare da “familia vadicional”. A curca passagem que extrai 9ode ser analisada de muitas ma- neitas diferentes. Meu objetivo € exam:nar comoa natureza daame- aca € discursivemente construida e tornada persuasiva, Ao anal) sé-la, como veremos, quero tocar sobre outras questdes, comegado cor a maneira como PLill ps constr6i sua propria identicade, e indo 4 frente para explorar sua caracterizagio do alvo de seu araque. O rexto & 0 que segue: 1. Muitas mulaeres querem trabalhar, eo fazem, Este ndo € ura argue mento 2. para forgar asmulheresa ficarem em case, Nem é esteum argumento 3. para “a domi 4. reconhecer a necessidade de um ecu libris de respomsabili 5. Este desejo de erradicar as difereneas sexuais e de géne=o 5.a fim de ve-criar os homens, surge de um tips de feminismo 7.que chegouate 4 Inglaterra procecente da América, para se torner a 8 9. profissionais do setor piiblico € a maiozia dos grupos que gostam de palavrérios. \cao masculina”, 2ste @ um argumenta para ladles. ‘odoxia entre os pesquisedores da ciéncia socia!, timas da dominagio 10, Este feminisino vé as mulheres aperas coma machista. 11, Ele defende 9 emprego do poder do estado para 10, ANAUSE DE OISCURSC 12. promovera independéncia das mulheres das parcerias . com os hemens, ao menos até que os homens tenham redefiniclo seu papel |. € identidade, de tal modo que elesse tomnem mais parecidos com as mulheres. |. Este supremacismo feminino, em vez de scr feminismo, . fundamentalmente despzeza, desconfia e nao gesta dos home! . O supremacismo feminine colocou a propria idéia de. . paternidade em estado de sitio. Os homens em geral, « 65 pais em particular, slo cada vez mais vistos come |. supérfluos na vida familiar. Nao existem mais papéis 1. centrais que somente os pais podem desempen ‘ar. Na verdade, ele sustenta que . a masculinidade é desnecesséria. ou indesejével. Ele nos diz que cs homens sie importantes como novos pais. Mas ele corta ss0 pela base ao reivindicar que a paternidade selitéria é perfsita- mente |. accitaivel - € em alguns casos preferive! . A paternidade deve se tornar uma maternidade substitute, € 05 pais © mes dlevern se transformar em pais unisex. . Mas a maioria dos omens e das mulheres nao cuer ser pais unisex, . E.a razio disso é porque kA diferengas sexualmente |. fundamentadas enire mies e pais. A maternidede € ura 1. vinculo bioldgico, abas-ecido po> horménics € impulses genét . A paternidade, por outro lado, € até ceric ponto, uma _ construcie social, reas fundade.~ crucialmente ~ em um fato bold ico. rruindo a adentiiacte da eseritora Nas pringiras poucas linkas do trecho, Phillips langa © funda- mento para seu argumente, dizendo a seus leitores ¢ que mao é cle niio éum crgumento para forcar as mulheresa ficar em rasa. Neri é ur argumento parz a‘ dominacao ds home”. Este é um movimen- to retorico comum, que ten por cbjetivo proteger, ou “inocular” um argumente contra critica, e oferecer uma ““leitura preferida”, iach- PESQUISA QUALITATIVA COM TEXTG, IMAGEM E SOM ‘cando a maneira come o argumento deve ser interpresado. Implici- ta messas assergdes est a idé.a de que cla nao & contra os direitos das mulheres, nem €ela contra o feminismo per se. Ela vejeita o extre- raismo daqueles que gostariam de forgar as mulheres a permanecer em casa, ¢ a0 invés disso se apresenta como modezada ¢ racionel — alguén. que meramence apresenta um argumento a favor de “rec rhecimento da necessidade de um equilfbrio de resporsabilidaces”. A nngio de “equilfbrio” dasempeniva aqui uma fungio retérica consideravel. Colocado no centro de uma organ'zacao discursiva que possui poucas (ou nenhum) sentidos negativos, e usado para veader do, desce 2gua engaralada e cerea's para cefé da mania, até religidn ¢ politica, “ecuilftr-0” possui conotzgdes de satide, har- ogdo é ligada a “resporsabi uma palavea com ressonincias particulares em discusses sobre peternidade solitaria, um assunto muito empregade por poli:ices ¢ jornaiistas, quando falam da izxes. ponsab lidade das pessoas, A idéia de uum equ libro de respoasabil cades carrega, pois, un sentido de retickao moral, €, porque ela virtualmente normal, ¢ muito dificil de refutar: qaem poderia eriti- car“um equifbria de respersabilidades”? O caso de Phillipsé refor- gado ainda mais pela sages:2o de que aquilo que cla esta demanslan- do € unicamente um recenhecimente de neoessidad: de um equili- brio, implicando, como é 0 caso, a existéncia de uma necessidade preexistente verdadeira, ou natural (que nds devemos simplesmente nao meis negar). 0s alas de ctaque: feminism & ...9 supremacisina jeininina Como vimes, Phillps € cvidadosa a comstrui seu at co:no sendo um argumerio que ado € diretamente an passagem de abertura do extrato pode ser lida como uma inaneii de repudiar ama identidade aostil A independéncia das mulheres, Nos termos de Widdicombe (993), um dos problemas que ela pro- cura evitar € 0 de ser consicerada como atacando as mulheres Quando els primeiramente elabora o alvo de sta erica, torma-se claro por que esse repiidio é necessarin, pois seualvo € precisamente “um tipo de femi tudo, todo o femiaismo que ela condena, nas ur tipo especttico que “chegot:2 Inglaterra vinde dos 10. ANALISE CE DISCURSO ados Unicos”. Aqui 9 argumento “Estados Unidos" é invocado ra marcar um rece.o antigo dos britanicos contra a insicliosa aInie= nizacao, mas cle se refere também a preocupasbes mais recerites bre a disseminagio da “correcao politica”, e um tipo particular de inismovitima” (linhas 10-22), que € freqitentemenie vistocomo acompanhando. Um Cos poatos basicas defencidos pela andlise de ciscarso & descrigio © a avaliagio no s80 atividades sepa atlas. Na ma discursos, sio produzidas descrigées que contém avaliagies. Us plo claro disso est na linha 15. Aqui, feminismo € reformul como “supremazismo feminine”, uma frase que ji vem “fx ¢ avaliada”, repleta com ressonancias de vacismo ¢ fascismo ozganizacées sombrigs, cujo objetivo € colocar um grupo de acima Ce oucras. Nao é idemtificado nenhura representante dh spremacismo femin'no no artigo, nem sequer € indieada algum: inte de referéacia das idéias supremacisias femininas. Na verdac ate da forea retorica do “supremacisme feminine” & que ele ew Iéias de uma ameaga arrogante, totelizante, enq:ranto protege hillips da critica ao negar qualquer possibilidade de critica odiocia e poder de estaite Uma présica comum de aiacar as idéias dos opositores & chae clas de dogmas, ideologias ou omodoxias, Nesse contexto, conn do, a nccac de ortocoxia possvi cor otacies significa:ivas especilicas, ssugerindc um conjun:o de ideias q.1e nao podem ser questionadas, mas devem ser aczites e a3 quais se deve adeti sem pensar. Mais uma ‘yez, os ternores sabre a d.sscminagan da “carregéo politica’, com scu conhecido policizmento do pensamento e co comportamente, so conjurades, com a naga dle que e:as idéias, longe de serem usm pon. to devista de uma minoria, “se r5- a natureza, esto encurtalados pelo femiaismo. 0 significada po. deroso de ameaca, gezado por essa passagem, mostrou que ele € 0 resultado de uma amp'a variedade de diferentes estratégias e for- matos retaricos, A avaliacio da andllise de discurso: questées ¢ comentarios Nesta segiio final, passarei A avaliagio da andilise de discurso. que sera esirucurada em termos de perguntas irequentemente feitas, © suas respostas. PESQuJISA GUALITATIVA COM TEXTO, UAMGEM E SOW, Ble produz generalizagae enspivien ampla? ~~ Aresposta cu:ta ¢ nao: por exemplo, ela nao procura discutir {questbes tais como por que algumas pessoas escolhena se torner pais solteircs, A andlise de discurso nio procura identificar processos Universais ¢, na verdade, os analistas de discurso critica a nogao de que tais gencralizacdes séo possiveis, argumentando que 6 discurso 6 sempre circuastancial ~construfdo a parsit de recursos interpreta- tivos perticulares, e tende em mira contextos especilicos. E ela vepnesemartoa? Hi ocasides em que 9s analistas de discurso podem querer apre- sentar reivindicagies de representarividade para suzs andlises, Por exemplo, se eu tivesse feivo a necessaria pesquisa empirica, poceria querer afirmar que o argumento de Phillips € represensativo das tipos dle disctrsos que se encontrana na Titeratura dos movimentos atuais dos homens ingleses (que, julganclo pelo material acessivel nos seus websites, parecem defender que as mulheres conseguiram dominio na sociedaile, € esto v.timizando os homens ée diferentes mados). Falando de maneira geral, contudo, 8 analistas de discurso es- Yo menos intezessados no tema ca representatividade do que no ronteiido, organizagio e fungées dos textos, Embora os analistas de discurso nae rejeitem de modo algum a cuantificagie (e na vercade questionem a i¢éia de uma distingao nitidla qualidade-quantidade), um pré-requisito para contar as instancias de uma categoria particu- lar é uma explicagio decalhada de como decidir se alguma coisa é, ow nao, uma instancia do relevante fenimeno. Isto normalnente mostra-se ser mais interessante e complexo do que centativas api- rentemente diretas de quantificagio, Prous ela dads que vio fidedignos e wilidos? Os analistas de discurso tém sido extremamente crit.cos peito dos muitos métodos existentes para assegurar fidediga’ e validade. Na psicologia, por exemplo, muita pesquisa experi- meatal ¢ qualitativa depende da supressio da variabilidade, ow da marginal: zagao das instancias que naa se ajastam & historia send contada pelo pesquisador (ver Potter & Wetherell, 1987). Os proprios analistas de dis 0 empenhados em produz que es- 10. ANAL'SE DE DIScURSO novos e adequaddos testes para assegurar validade ¢ fidedignidade, Jonathan Potter (1995b) afirma que os analistas de discurso podent uso de quatro ponderagées para avaliar a fidedignidade v lidade das analises 1. Andlue de easas desviantes: isto &, 0 exame de casos que parect ir contra @ padrio identificado. Isto pode servir para dese firmar ¢ padvio identificado, ou pode ajadar a acrescen maior sofisticagao & andlise. 2. Gs entendinentos das participanter: como j& assinalei ame! mente, uma das maneiras de confe-ir se nossa anilise se tenta examinar como os participantes responderam. I mais importante, é claro, em registros de imteragao, mas mo no caso de artigos de jornal, cartas ¢ respostas, isso p ofrecer testes titeis. 3. Goeréncia: trabalho analitico do discurso, como a anilise conversacio, est cada vez mais se aproveitando de iniuig! de trabalhos anteriores. Por exeriplo, 0 conhecimento sobre efetivicade de listas triplices, estruturas de cortraste, formu oes de casos extremos € assim por dante, se desenvolveu partir de intuigdes de estudos anteriores. Como afirma Pot (1996b), hd uma convicgao de que cada novo estudo apresenta uma avaliagao sobre a adequacic de estudos anteriores. Estes novos estudes emprestam coeréncia, captande algo sobre 0 discurso que pode ser desenvolvido, enquanto outros provae velmente sao igneraclos. 4, As acliagdes dos leitores: 2 snancira mais importante, talvez, para cor:trolar a validade do analista, éa apresemtagio dos ma- teriais que esto sendo analisados, 205 leito- res fazer sua prépria aval presentar interpretagoes alternativas. Onde os edizcres académicos per mitem, 0s analistas de discurse apresentam. transcrigdes com- pletas aos leitores. Quand isso mio é possivel, passagens ex- tensas serao sempre apresentades, Nesse sentido, a andlise de discurso é mais aberta que quase todas as outras praticas de pesquisa, que invariavelmercte apresentar os dados “pré-teo- rizados” ou, come na pesquisa etnografica, nos pedem para fa zer observacées e interprecagbes baseados na confianga PESQUISA GUAL TATIVA COM TEXTO, INAGEN, E SOM Qs analistas de discurso, como quaisquer cu:ros pesquisaderes, afirmam que “a validade ado é uma mercadoria que pode sex com- prada com téenicas.. Ac contrario, validade é como a integridade, 9 eardter ea qualidade, que ceve ser avaliada em relacio a objetivos © Gircunstancias” (Brinberg & MeGrath,1985: 13). Os pesquisadores esto iniciando a dificil tarefa de const-uir um enfoque para avahda- de, que nao se apéie na ret6rica ou na norma da objetividade pe cacho (ver Henwood, 1999, para umz discussion), sna js Qual é entio o states de ume arilise? Uma anilise de discurso ¢ uma leitura cuidadosa, proxima, que caminha eatre 0 texto € 0 contexte, para exacninar o contetido, or ganizagio e fangdes do discurso. Os analistas de discurso tendem a ser pesscas muito humildes que nio gostam de afirmagces bombas- ticas, c nunca iro argumentar que sua meneira a tinica maneira de Jerum texto, Em wna andlise final, a andlise de discurso é ucna infer- bretacéo, fandamentada em uma argumentasao detalhada e uma atengao cuidadosa a0 material que est4 sendo estudado. E que sizer da veflexividade? Os criticos da anélise de discurso gostam de um esporte que é uma variante da tradicional competitividade acacémica: 0 esporte plica em atzcar 9 analista com um triuafante “Ha! Te peguei’”, ¢ dizendo que se toda linguagem é constrativa, entio a linguagem dos, analistas de discurso também o é € que, consegiientemente, suas analises sao meras constrag6es. Qs analistas de discurso estac bens conscienes disso: va verdade, fomas r6s que o dissemos a nossos, ~iticos! Mas isso nao acaba de modo algum com a questo da aniilise do discursc, [ie fat, cla serve unicamente para realgar o fato inegivel de quea linguager: ¢ construfsla e construtva, Nie hé. nada simples so- bre linguagem! Alguns anelis-as de ciscurso se tornaram pericula mence intezessados nesse pon:o reflexivo, e comecarzm a fizer expe- riéncias com d-ferertes maneiras de escrever, que fogem da autcridade: tradicional. desencamada, ronolégicz des textos académicns tradi- cionais, ¢ si mais divertidos e exploratérios (ver Ashmore, [°89; Woolgar, 1988; Gil, 1995; 1998: Potte=, 1996b; Mye~s et el., 1995). 10 ANALISE DE DISCUS Passos na anilise de discurso 1. Formule suas quest6es iniciais de pesquisa. 2. Escollia os textos a serem analisaclos. 3. ‘Transcreva os textos eri detalhe. Alguns textos, « rial de arquivo, artigcs de jornal, au registros parlam necessitam de transeri¢ao, 4. Faca uma leitura cética ¢ interrogue o texto. come mate-| nio| 5. Codifique, tio inclusivamente quanto possivel. Talver vacé quei- ra revisar suas questdes de pesquisa, A medida que surgirem cri- térios no texto. 6. Analise, a) examinando regularicade ¢ variabilidade nos dados, eb) criando hipdteses tentativas. 7. Teste a fidedignidade ¢ a validade através de: a) anilise de casos desvizntes: b) Compreensio dos particpantes (quando apropria-| da): € ¢b anilise dz coeréne'a. 8. Descreva minuciosamente. Nota: Sou extremasnente grataa Bruna Seu bor seus comentarios viv 50s sobre este cepitulo, Referéncias bi ASHMORE, M. (1689), The Reflexive Thesis: Wrighting Sociolsgyof Sewnti- (fir Knowledge. Chicage, TL: University of Ch.cage Press. ATKINSON, J-M. & HERITAGE, J. {1984). Structures of Sociai Aci Studies in Concersation Analyys, Carbreige: Cambridge University Press. BILLIG, M. (1987) Arguing and Thinking: « Rhetorical Abprocels to Saciel Paycholegs. 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Muitas vezes esies dados so em forma de fala, — excvita: fitas de dudio. transcrigGes, formulrios de levancamen- jes de estudes de caso € anotagdes de campo. Para a joria das me:odologias, o problema 6 reduzir estes dades brutos.a gegorias ¢ formas que @ pesquisacor possa usar ear. uma argumen- “ic; 0s momentos Teais da fala, ow as marcas na pagina, sio deixa- los de laco. Quando os manuais de pesquisa em ciéneias socicis fa- sobre a formulagae Ge perguntas, ow sobre a cendusio de entre- tas, ou sobre o registro de interagdes (ver, por exemple, Roason, 1963), cles esto a0-malmente interessadas com a locelizacao ¢ eli- inagio de possiveis fenies de viescs, ou iniluéncias, ou como tornar acto de pesquisa © mais possivel semelhante ao murdo real. rei argumentar que é, As vezes, apropriade voltar Amoatamina de fa- 5 nos mareriais da pesquisa, ¢ trati-las como falas, alhando para eragbes cspecificas em stias situagdes pacticulares. Discutirei, pri- imeirs, alguns problemas praticos, apresentarci, em seguida, um euric exemplo para mostrar os tipos de caractevisticas que podem se> estudadas em tal andlise; finalmente, levantarei algumas das questées netodolégicas que surgem com tal enfoque Ge pesquis A teragbes de pesquisa sao plane’adas, em sua maiovia, para padronizadas e reduziéas, seguinde o mesmo roteire da ser 1

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