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MONTE DO GALO: UMA ANALISE DAS PRATICAS DEVOCIONAIS CATOLICAS (XIX — XX1) ‘Sylvana Brandao Fabio Mafra Edson Araitjo RESUMO eixo central desta investigagdo € a anilise das priticas devocionais catélicas que ‘ocorrem no Monte do Galo, localizado no municipio de Camaiba dos Dantas, RN microrregido do Seridd, em especiah a devogo Santa Luzia e Sao Bento, Trata-se de ‘uma pesquisa exploratoria, de natureza qualitative, em que o tempo nao € linear; dito de coutra forma, para compreensiio dos mitos, rtos e simbologias devocionais, construiu-se tum didlogo permanente entre 0 presente e 0 passado. Do ponto de vista tebrico, fez-se necessirio convergir varias vertentes de abordagem, isto é, a pritica da heteroglossia, no dizer de Peter Burke, Assim, hé uma conflugncia entre a Historia, a Etnohistéria e a Hist6ria Oral; do que foi registrado, destacam-se, respectivamente, as contribuigdes de Geertz, Steil, Brandao e Prins. Quanto a definigo de espaco, foram fundamentais as contribuigdes de Pierre Bordieu para a compreenstio do que é campo, subcampo ¢ as relagdes estabelecidas entre 0s agentes na administragio do capital religioso e simbslico. Do ponto de vista metodolégico, a pesquisa se constitui como exploratéria, descritiva e estudo de caso. Também foram realizadas entrevistas semi estruturadas. Entre 05 resultados, aponta-Se 0 crescimento das mencionadas devogdes no alvorecer do sécvlo XXI, ¢ uma tensfo ininterrupta entre a hierarquia clerical e grande parte dos devotos, decomente de um processo de disciplinaimento que a Igreja busca impor para uma devogdo de raizes leigas. PALAVRAS CHAVE: Catolicismo; Religiosidade; Devogiio ABSTRACT ‘The central object of this investigation is the analysis of catholic devotional practices, particularly those pertaining to Santa Luzia and Si0 Bento, in Monte do Galo, located in the municipality of Carnaiinba dos Dantas, RN, in the Seridé micto-tegion. The study is characterized as a qualitative preliminary research in which time is not linear; put another way, a permanent dialogue was constructed between past and present in order to understand myths, rituals and devotional symbols. From a theoretical perspective, it was necessary to bring together various approaches, oF heteroglossia, as employed by Petet Burke. As such, this study combines history, ethnohistory and oral. history; contributions by Geertz, Steil, Brande and Prins are relevant to that which was detected in the study. As for the definition of space, Pierre Bordieu’s contributions, particularly the concept of field, were fundamental to comprehend the relations between agents involved in the administration of symbolic and religious capital. From a methodological point of view, the study is characterized as exploratory, descriptive and as a case study. Semi-structured interviews were also conducted. The results indicate a growth in the devotions in the beginning of the 21" century, and a uninterrupted tension between the cleric hierarchy and most of the devotees, owing to a disciplinary process imposed by the Church over devotional practice with non-clerical roots KEY WORDS: Catholicism; Religiosity, Devotion 109 Introduso Frito de um trabalho paralelo, quando da reatizagio de uma campanha arqueolégica ocarrida entre os meses de novembro e dezembro de 2008 na referida regio, 0 objetivo precipuo da pesquise foi a compreensio no apenas da Histéria do Monte do Galo, mas também das priticas devocionais neste santudrio catélico ¢ do ‘processo de disciplinamento desta devogao por parte ds hierarquia catdica A partir da fundag%o dos Institutes Nacionais de Pesquisa Historica ¢ Geogrificas, na segunda metade do século XIX até a tilkima década do século XX, a Historia das Religides, no Brasil, restringia-se & Histéria da Igreja e de suas relagdes institucionais. Grande parte desta produsdo € elaborada por intelectuais catélicos, tanto religiosos, como leigos. Permeada por uma filosofia tomista ¢ metodologicamente definida a partir das mais variadas acepgdes do postivismo, esta historiografia elegeu sempre como tematica principal as relagdes sociais ¢ politicas entre Igreja e Estado. No decorrer da consolidagao da pés-graduagaio brasileira, entre as décadas de 60 © 80d0 ‘culo passade, a Antropologia © a Sociologia construiram espages & compreenstio dos fendmenos religiosos, desta vez iio mais circunscritos ao mundo cristo. Aqui, merece destaque, por exemplo, os trabalhos dos antropélogos Roberto ‘Motta! ¢ Danielle Rocha Pitta? Na década de noventa do século XX, 0 estudo das priticas, crengas e rtos da religiosidade catdlica e de ouras expressies religiosas decorex de um dislogo interdisciplinar construido pela Historia apés o processo de abertura as outras ciéncias sociais. Desta vez, com a forinulagdo de novos paradigmas, reflexdes ¢ pritices metodolégicas; assim, investigagdes sobre devoglo, paulatinamente, passaram a conquistar um proficuo espago de investigagto histdrica’, em especial, também com as Ciencias da Religio, que no podem prescindir do uso dos conceitos € metodologias da Historia, No devir da consolidago dos estudos sobre religizo 0 Brasil, cabe registrar uma emblematica confluéneia entre concepebes marxistas com a leitura piontira de obras sobre retigido dos fundadores dos Annafes, no Brasil dos anos oitenta do século vinte, Dito de outra maneira, ao tempo que © CEHILA‘ consolidava uma vasta produgo de interpretagdes marxistas sobre Histéria do cristianismo vo Brasil, intelectuais vinculedos s universidades absorviam tanto esta produgio (por vezes refutando, por vezes ressignificando) como também absorviam as obras oriundas das diversas geragies dos Annates®, a exemplo de Os Reis Taumanirgos*, de Mare Bloch. Ainda nos anos 80, lo a difusio da Histéria das Mentalidades tamibém elegeu como tema de investigagéo assuntos relacionados a0 Cristianismo, desta Vez, nfo apenas como infTuéncia direta dos Annales, mas de historiadores italianos, como Carlo Ginzburg’. A guisa de exemplo, aqui pode ser inchusa a historiadora Laura de Metlo e Souza’, Ronaldo Vainfas?, Luiz Mott! ¢ Carlos André Macédo Cavaleanti. Este campo intelectual, no dizer de Bourdieu, possui a tenso como argamassa natural, pois faz coexistir geragBes diversas. Assim, na passagem do milénio, a Histtia das Religies no Brasil esti fartamente enriquecida, seja pela variedade de opedes tebricas, variedade de abordagens, multidiseiplinaridade de temas, seja pela imensa quantidade de obras langadas anuslmente no mercado nacional ou ainda pelo surgimento de associagBes e grupos de estude sobre religito religiosidades,"™ Com efeito, no panorama da historiografia atu, nota-se um enorme erescimento de trabalhos, a partir de estudos de casos, dedicados as variadas manifestagbes de religiosidade devocional, especialmente catdlicas!®, Diante da diversidade de fontes ¢ abordagens inerentes 20 nosso objeto de ‘studo, a compreensio de tal fenémeno religioso ¢ de seus protagonistas tomou-se possivel stravés de um estado pautado numa perspectiva interdiseiplinar. Registros documentais — jorsais, por exemple -, iconogréficos ~ fotografias da primeira metade do séeulo XX -, bem como infarmagdes transmitidas pela oralidade, aliadas a0 trabalho de campo efetivado no dia da Festa de Santa Luzia e Sto Bento, consubstancializaram a investigngdo. A contribuigao de trabalhos no Ambito sociolégico, antropolégico € histérico possibilitaram, além de andlises comparativas a outros espagos de devogao, compreender as permanéncias, rupturas, bem como a dimenséo social e cultural das prticas devocionais. Dado 0 curto espaco que nfo nos permite aqui aprofundamentos woricos, cabe registrar de cio a contribuigo do clissico Durkheim, e sua compreensio do fendmeno religioso a partir de sua dimensio social, solidiria © coercitiva; dito de outra maneira, Durkheim considera a religi8o nfo apenas como um sistema de idéias, mas, sobsetudo como um sistema de priticas: Os crentes, isto é, os homens que vivendo a vida religiosa tém a sensagao direta do que a consti [..] sentem que a verdadeiva funcao da religido ndo & nos fazer pensar, enriquecer nosso conhecimento, acrescentar as representacdes que devemos & m cigncia, representacées de outra origem e de outro caréiter, mas nos fazer agir, nos ajudar a viver. Jfiel que comungou com o seu deus ndo é apenas hhomem que vé verdades novas que 0 incrédulo ignora: & um komem que pode mais. Ele sente em si forca maior para suportar as dificuldades da existéncia e para vencé-las. Estd como que elevada dacima das misérias humanas, porque esté elevado cima de sua condigao de homem: acredita-se salvo do mal, aliés, sob qualquer forma que se conceba 0 mal. O primeiro artigo de fé é a crenca da salvagao ola fe" As investigagBes histéricas sobre religifo empreendidas por Max Weber, em especial a compreensio da ética da razio modema, tiveram como objetivo primordial comprecnitet, através das relagdes entre religiéo © politica, a propria esséncia da Modernidade, ressaltando como os sistemas religiosos, om outras religides mundiais, corroboraram posturas de accitagto, rejeigo out reinvengo de estilos de vida. Nesse sentide, Weber dedicou seus estudos sobre economis propriamente dita quando a sompreendia como sobre determinago ao sieesso do capitalismo modemo; o que significa dizer que Weber conseguiu fazer um dense estudo comparativo sobre 0 ethos religioso e evondmico através da Mist6ria. Infelizmente, seu projeto ficou incompleto, 0 seu livro A Etica Protestante eo Espirito do Capltalismo'® é to somente uma pequena particula de uma ambigdo que almejava escrever sobre o Isla, o Catolicismo Medieval ¢ © Cristianismo Primitive, Weber aspirava tecer ilagdes histéricas entre diferentes priticas religiosas ¢ consinuiu tipos ideais que ainda hoje podem der conta da peculiaridade nao apenas restrita a0 mundo dos protestantes tradicionais, mas de toda a tradigda judaico-crista Destarte, estas contribuig@es fundamentam, no plano te6rico, a andlise das Priticas devocionais no Monte do Galo, visto que fornecem consideragdes sicio- antropolégicas acerca do fendmeno religioso € de seu cariter solidério, associativo; bem como do papel desempenhsdo por instituigdes religiosas como a Tgreja, que atu como norteadora da conduta mocil ¢, ndo obstante, das aydes e motivagdes de determinados grupos sociais. Dentre os te6ricos contemporineos da Religido que também nos fornecem referenciais analiticos, temos 0 antropélogo americano Clifford Geertz, produtor de varios esetitos de natureza te ica e etnogrdfics, Ao procurat traduir textualmente as observagdes que realizou em regides como a cidade de Java, na Indonésia, Geertz construit o que chamamos de descrigo densa. Quando dizemos que um homem & religioso, ou se ‘motivado pela reigido, isso é pelo menos parte [..] do que desejamos dizer. Outra pane do que queremos dizer & que ele, quando estimulado de maneira adequada, tem suscetibilidade a certas disposicdes, disposigdes que as vezes englobamos sob rubricas tais como “reverente”, “solene", ou “devoto". [..] As inclinagdes que os simbolos sagrados induzem, em épacas e lugares diferentes, vao desde a exullagdo até a melancolia, da autoconfianga & autopiedade, de uma jocosidade incorrigivel a uma suave apatia ~ para néo falar do poder erégeno de tantos mitos erituais mundiais™. Anda no tocante a etnografia, destacam-se os estudos de Carlos Alberto Steil € Sylvana Brandio, que primaram, respectivamente, pela investigayio da religiosidade do santuirio do Bom Jesus da Lapa, na Bahia”; ¢ do santuério de Sao Francisco das Chagas do Canindé"®, no Ceari, Com efeito, estes trabalhos, ao demonstrarem & tensio estabelecida entre a instituigio eclesiéstica, administradora do culto religioso, © 2 expressdes espontineas de religiosidade dos fitis leigos, consubstanciam esta pesquisa sobre a devogfio a Santa Luzia € So Bento, jé que reflexes dos mencionados autores ¢ observagdes semelhantes fora identficados no santuario seridoense, no decorrer da pesquisa de campo. Para Steil e Branddo concomitantemente ao historiador Riollando Azzi'®, as devogdes catblicas do Brasil quase sempre nascem de formas espontiineas, & 40 tomarem uma dimensio de largo aleance, a Igreja Catélica, necessariamente, tenta disciplinar os devotos para manter 0 controle dos devotos, no dizer de Miche! Focault™. Em nosso trabalho, cabe ainda destacar as reflexdes de Peter Berger sobre 0 processo de secularizagio ¢ de reencantamento da religito na Modernidade. Ou seja, simultaneamente a presenca de vigorosos movimentos de contra-secularizagaie, Berger destaca dois niveis de atuagto da secularizagao, o societal eo da consciéncia individual, nos fizendo perceber a situagao atval do pluralismo religioso modemo e, com acuidade, nos faz compreender que as religides s6 existem enquanto mantém estruturas de plausibilidade que garantam sentido as visées de mundo, ancoradas em certezas subjetivadas. 13 Algumas insttuigdes religiosas perderam poder ¢ inluéncia em muitas sociedades, mas crencas € priticas religiosas antigas ou novas permaneceram na vida das pessoas, as vezes assumindo novas formas instiucionais ¢ as vezes levando a grandes ‘explosdes de fervor religioso, Inversamente, instiuigies religiosamente identificadas poem desempenhar um papel social ou politico mesmo quando muito poucas pessoas confessam ow praticam a, réligido que esas instituigdes representani” Na senda descerrada por Durkheim e Weber, ndo seria possivel deixar de registrar a imensa contribuigao das reflexdes de Pierre Bordieu sobre o papel da religigo no devir histérico que nos foi absolutamerte necessirio a elaboragdo de nossas formulagdes te6ricas. Bordiet, com suas consideragdes acerca de campo ¢ sub campos, habitus € capitais nos proporeiona uma plastcidade harmoriosa sobre © sentido das religides ¢ das religiosidades, posto que rompe com nosdo da histéria como estrutura estivel, Para Bordieu, a religito & um campo auténomo, que coexiste simultancamente com virios sub campos, © seus agentes se relacionam através de discursos & intradiscursos. Na verdade, Bordieu faz uma brilhante reclaboragio da tipologia ‘weberiana, ao tecer ilagdes entre agentes religiosos e agentes leigos como um tinico conjunto de relagées. Aqui, Bordiew considera a religido como mercado de bens simbélicos, onde 08 agentes saverdotais produzem e os leigos consomem. Cabe, por conseguinte, compreender que esta constatagZo nem sempre é verossimil, No Monte do Galo, muitas vezes observamos, em nossas pesquisas de campo, éxatamente o contrario, ‘Ou seja, os leigos orientando os significados e significantes daquilo que Bordieu nomeia ‘como capital simbélico e mercado de bens religiosos”. No que se refere is fontes orais, sistematizadas através de entrevistas semi estruturadas, nos foram basilares as consideragbes teérico-metodolégicas acerca das possibilidades analiticas deste tipo de registro a partir de trabalhos como o de Gwyn Prins, 0 Conjurto Religioso do Monte do Galo localiza-se no municipio potiguar de Carnaiiba dos Dantas, circunserito & microrregido sertaneja do Seridé, que compreende vrios municipios do Rio Grande do Norte e da Paraiba. A regio é considerada como Grea de maiores recursos hidricos e de ters cultivaveis mai fiérteis do que as dreas limitrofes; € bacia leiteira e criadora de gado, todavia hoje sofie ripido processo de 14 desertificagao produzido pelo desmatamento indiscriminado, com os rios cada vez ‘menos caudalosos”. ‘A antiguidade da presenga humana neste espago tem sido registrada através dos divers0s sitios arqueol6gicos localizados na drea, alguns com datagbes que recuam até 9000 antes dos tempos presentes; isso demonstra o quio remota a ocupacdo deste temritério por grupos indigenas pré-hist6ricos. Tais grupos hmumanos habitavam, preferenciatmente, lugares clevados na parte alta das serras, oriettados para 0s cursos Agua; nestes locais so localizadas fogueiras © algumas estruturas funerérias, com pouca densidade de material arqueolégico™. Durante o periodo colonial, mais especificamente no século XVIII, nas margens destes mesmos rios que jé comportavam desde tempos remotos aquelas populardes hhumanas, deu-se © processo de ocupagdo por parte dos colonizadores brancos a partir do vetor expansionista da pecudria, Esta atividade econdmica estava voltada para o abastecimento interno da colénia, dando suporte ao impulso colonizador litoraneo, articulando-se & grande lavoura de exportagio bem como & conquista do interior esse processo surgem povoados e toda uma sociedade sertaneja, 0 que niio ppassou despercebido pelos antigos habitantes nativos. Ao empurrar populagdes e gado para a caatinga sertaneja, edificando fazendas © currais sob os antigos territérios indigenas, 0 conflito entre as sociabilidades era inevitivel, Paulatinamente, diante da resistencia nativa, os sertées tornam-se palco de sangtentos confrontos, onde a esmagadora maioria dos indios & eliminada nos embates com as tropas coloniais ¢ exércitos particulares; a acanhada parcela que sobrevive ao massacre integra-se, submissa, 20 surgimento das povoagies e vilas do sertio™. Os primeiros centros de devogio no interior surgem dentro deste proceso de expansio territorial. Neste contexto, surgem diversos locais de culto © de importantes romarias tradicionais” us O mito do “canto do galo” Portals razbes se perguntavans Com espanto ou com surpresa Porque cantava 0 Galo aval! (Um mistério da natureza? F a etdriacomogou a se espa Fol assim gue de Monte do Galo comegaram 2 ‘hana (Auta Rodrigues de Carvalho, poeisa ‘arnaubense) Formada num misto de imaginério, fé e devogio, a histéria do Monte do Galo esté relacionada também com a propria eolonizaglo do Serid6, intensificada com a instalago de fazendas durante 0 sculo XIX. A tradigdo da“ nda do Cantar”, legada pela oralidade até os dias atuais, nos relata que nas primeiras décadas de 1800, os vaqueiros da Fazenda Baixa Verde, ao campear ¢ cuidar do gado escutavam, nas proximidades de um ermo acidente geogrifico da regio conhecido como Serrote Grande, 0 solitario canto de um galo”. Os vibrantes cAnticos teriam sido ouvidos, também, por tropeiros que transportavam alimentos do Rio Grande do Norte & Paraiba, ¢ que por ali pemoitavam, Este canto foi associado pelo imaginsrio religioso coletivo a uma misteriosa e sagrada “anunciag2o”, ainda em fins do século XIX, e 0 outrora Serrote Grande passa a ser conhiecido como Serrote do Galo”, Do mesmo modo, o fator milagre concorre para a sacralidade deste santudrio. Concontando com Brandio, entendemos por milagre “a soluglo de um impasse qualquer, seja este afetivo, financeiro, de dor fisica. O milagre como solucio pritica, cotidiana™" Dentre os virios milagres difindidos entre os figis e romeiros destaca-se um «aso ocorrido no ano de 1958, onde ums mulher acometida por uma doenca que the paralisou os membros inferiores, foi carregada por seu compankeiro a0 topo do Monte do Gal pbs rezar nos pés da imagem de Nossa Senhora das Vittia, esta recebeu ‘como bengao a cura de sua enfermidade™. Outro testermunhos da intervengdo divina perpetuado até hoje pela oralidade nos relata que uma cabra, apés cair do alto do serrote ~ cerca de 155 metros de altura — nto teve nada de grave” 16 HISTORIA ORAL: PEDRO ALBERTO, O MILAGRE E 0 CRUZEIRO Da Monte ao campo, da yera a eidade Da bem seemana hosana diving [Nesta festa dalma, encarta e bondade ‘Onde opove il fells ee inca, (Hino de Nosea Senhora das Vitérias do Mon! do Galo, Lea de Abel Rodrigues de Carvalho; niles de Feisto Licio Dantas) Findo o século XIX, os camiaubenses tomam 0 canto ¢ os demais fatos ocorridos no Serrote do Galo como relacionados ao divino. Contudo, um dos maiores “milagres” que permeiam 0 imaginério religioso do Seridé ocorreu nos seringais do Acre, no comeyo do século XX, auge do ciclo da borracha, Trata-se da experiéncia de Pedro Alberto Dantas (1878-1960) ¢ sua cura por Nossa Senhora das Vitérias; narrativa obtida através de entrevista’? realizada com a filha do mesmo, Julia Albertina Dantas, de 87 anos: “Todo comega com a viagem™ do meu pai ao Acre. Ele vai pra li trabalhar nos seringais.. foi trabalhar na borracha..era o que dava dinheiro, ¢ le foi pra tentar melhorar de condigio, porque era muito pobre, familia humilde. E ele foi com esse objetivo... que foi desfeito por causa da doenca. Beribéri, né? Doenga terrivel, matou muita gente nessa época. Af ele estava ld, ardendo em febre, trés dias, era uma febre terrivel... dormindo © acordado, no delirio da febre, aparece a ele Nossa Senhora das Vitrias. E ela diz a ele: “Se queres viver, volte a sua tera natal 6 quanto antes; leva contigo uma imagem minha; chegando 16, serés © maior comerciante, e depois 0 menor; serds muito perseguido, e morrerés em estado de coma”, E ele pergunta “Quem é a senhora’ “Ela responde: “Eu sou Nossa Senhora das Vitrias, sua protetora”. Entio ele vai até Belém do Pard, como nossa senhora tinha the recomendado, procurando a imagem da santa... € entra numa loja de santos... que tinham vindo de Lisboa... procurando pela imagem de Nossa Senhora das Vitdrias. Ai 0 rapaz disse: “Nao conhero essa santa. O senhor vendo... eu fiz muito pedido de Lisboa, mas no fiz pedido dessa santa, O senhor vendo a imagem, o senhor conhece?” Ele respondeu: “Perfeitamente”... com a voz grossa, sabe, Eno, ram cantinho, ele encontrot a santa. Apenas uma imagem. O rapaz entio the disse... "E possivel?... ele respondeu que sim. entio 0 mogo Ihe disse: “Fiz varios pedidos a Lisboa e nio fiz dessa santa, ela veio de agrado, ela veio por acaso”. Entio ele veio pra Camaiiba... trazendo a santinta, Quando ele voltou, conheceu 0 primeiro médico de Camatiba, Flavio Maroja, paraibano; entdo ele disse: "Pedro, mas que lugar mais lingo, vamos passear nesse lugar” (0 Serrote do Galo). Entio eles foram até ld... ¢ 0 Doutor Flivio falou: "Mas um lugar bonito 17 desse, ninguém nunea pensou aqui em nada... em transformar isso num lugar de turismo?"E meu pai disse: "Aqui é um lugar sagrado, onde o Galo cantou anunciando 4 meis-noite... aqui é pra ser um local de oragdo". Entio ele se juntou com outros que tinham condigdes, influéncia... colocaram o Cruzeiro que esté li até hoje. Papai era um homem muito bom... muito devoto, muito catélico, Ele rezou trinta € um anos pra Nossa Senhora aqui na igreja, ¢ no dia 31 de maio de 1960 ela veio buscar ele... s seis horas da manha, A Historia Oral documenta uma meméria coletiva ou individual quando aquilo que aconteceu necessariamente é ressignifieado; nada do que vém tona é narrado como de fato aconteceu; emerge como reinlerpretagiio do passado permeado por todo acimulo das experi8acias de vida, O relato de Silla Albertina dew-se numa esfera de forte emogo, ao lembrar-se de seu genitor. O esforgo rememorativo fez-se presente durante toda a entrevista; vale lembrar que a meméria individual no opera de modo automético ¢ ininterrupto, principalmente apés certa idade ¢ no trato de eventos ou pessoas que integram de forma (Go intima a nossa histria, Sendo assim, eventuais informagées orais podem ter sido fragmentadas ou legadas a um estado imémore Isso ndo significa que a histéria oral constitui apenas a reminiscéncia pessoal, uma vangléria dos bons tempos; é sabido que com sua humanidade € freqtientemente sua emogao, a meméria particular pode proporcionar uma atualidade € uma riqueza de detalhes que de outra maneira no podem ser encontradas, mas a forga da histéria oral é a forga de qualquer histéria metodologicamente competente e da inteligéncia com que Lips diferenciados de fontes sto aproveitadas e operadas harmoniosamente™, Fazendo convergir varias vertentes de abordagem, temos 0 encontro entre a histéria remota © mitica do canto de galo, em fins do século KIX, a devogao de Pedro Allberto a Nossa Senhora das Vit6rias, no inicio do século passado, e a instalagio do cruzeiro comemorativo da fundagio de Carnaiba dos Dantas em 25 de outubro de 1928, quando ocorre também a doagio oficial por parte de Pedro Alberto da imagem dz ‘Sania Somados, estes eventos xesultam no erescimento priticas devocionais ¢ na construgto do Conjunto Religioso do Monte do Galo, que st configura, atualmente, em espago das mais diversas representagdes de f& por parte dos romeiros, especialmente das populagdes seridoenses. Ainda sobre a construgdo deste santuério, temos o seguinte registro num jornal da primeira metade do século XX: 118 Tweram os operirios que trabalhar quase sobre 0 abismo que se cava ao pé da cruz Dadas as proporgoes, nao & obra inferior a do Cristo no Corcovado. Enquanto por ti anda a alta engenharia, com maquiniomos modernos, em Camaiiba teve apenas 0 esforco ¢ a pratica de homens (..) chefiados por Pedro Alberto Dantas". Figura 1: A inauguragio do Cruzeiro do Monte do Galo, em 25 de outubro de 1928, Acervo particular de Joao Evangelista. ‘Também 0 poeta sertanejo nos relata a construc deste santuario: Pobre, rico, preto e brane Trabalharam o ano inteiro ‘Uns ajudavam em servigo Outros ajudavam em dinkeiro Ena maior devogao Terminou a construgao Da capelinha e do eruzeiro™* 119 Os festejos dedicados a Nossa Senhora das Vitérias comeraram, efetivamente, em 1929, de 23 a 25 de outubro — sendo 0 tltimo a comemoragdo do dia da santa, mantidos até hoje dessa forma, Em 1930 deu-se a benglo de sua pequena capele, construida no topo do monte, numa ceriménia onde acoreu grande mimero de devotos”. Desde sua inauguragio, © Monte ver sendo sitio de romarias, amialmente no més de outubro, O jomal “O Poti”, em 28 de outubro de 1973 diz o seguinte: O Monte do Galo, hd mais de 50 anos, passou a ser um centro de atracdo religiosa dos mais visitados, no interior potiguar, pelos agricultores e familiares que acreditam no poder de Nossa Senhora das Vitérias, a exemplo do que foi feito por milhares de pessoas residentes em Camaitha dos Dantas, bem ‘como outros municipios daquela regio, gura 2: Missa no Monte do Galo em 1949, onde jf se nota a presenga da Capela de Nossa Senhora das Vitérias. Acervo particular de Joo Evangdista, O niimeto de fitis presente nas cerim6nias religiosas cresceu largamente com 0 passar dos anos; j4 nos anos 70, os festejos foram transferidos para a Capela de Sto José, diante da impossibilidade do espago anterior comportar a grande massa de devotos 120 Na visto de Steil, “a romaria conecta © contetido universal do catolicismo a0 focal ¢ situa o seu significado num espago voncreto que se torna portador de mitos que tecom as narrativas que circulam em torno do Santuério™”, Dentre as principais celebragdes religiosas, além da tradicional Festa de Nossa Senhora das Vitdrias, hi também um momento catélico de grande abrangéncia no so em Camaiiba dos Dantas, mas por toda a regio do Seridé: a Festa de Santa Luzia e de Si Bento, realizada no periodo de 02 a 13 de dezembro, sobre a qual iremos nos deter. A Festa de Santa Luzia e de Sao Bento Numa manha bem serena Oso! comecava a raiar A popudago carmautbense Surpresaestava Com 08 caros a businar ‘Transportandocatslicos do Ser ‘Do municipio de Caico ara promessa pagar. (Avia Rodrigues de Carvalho, poetisa carnabense) J4 na madrugada do dia 13 de dezembro, os romeiros chegam de quase todos os rinedes do Serid6, transportados em dnibus, caminhdes, vezes de pé, caronas, uma rede de transporte amalgamada pelos lagos sagrados, onde se eré solidariedade. A maioria, do que foi registrado em relatérios de campo, so oriundos de cidades como Soldnia ~ PB, Araras ~ PB, Casserengue ~ PB, Dona Inés — PB, Bananeiras ~ PB, Vila Maia ~ PB, entre outras, Por volta das 6h da manha, subir 0 Monte j& se toma tarefa intricads devido & multidao que a ele acore. A ceriménia religiosa que atrai grande fluxo de devotos acarreta também a presenga de grupos de pedintes, que fazem fila a0 sopé do Monte, a suplicar aos romeiros por “trocados em nome de Jesus"; ha, ainda, os ambulantes, que se instalam por toda a cidade de Carnaiba, especialmente em dreas préximas ¢ no prdprio Monte do Galo — a paisagem é tomada, inclusive, por pontos de venda fixos, ¢ por todos os lados véem-se tergos, eststuas e quadros de santos, enfim, todos aqueles objetos do contexto catélico que sto simbolos da religiosidade popular. 121 Figura 4: Fiéis subindo 0 Monte, Fonte: Fabio Mafra/Edson Araijo, Apesat de facilitada pelo caminho em zig-zag construido, a subida é bastante ingreme. Os figs sobem a pé,e nota-se a presenga de andantes de todas as idades; na vverdade, familias inteiras acoder Aquele Yngae por em busca de protecio. No caminho até 0 topo, sto observadas 14 estagdes*” que retratam a Paixio de Cristo; 2 contemplagio de seu softimento deve servir para lembrar aos fisis que sem mario no hé redenglo, além de rememori-los para com a divida que eles possuem para com Deus e seu filho, que se entregou a agonia da cructicagRo para selvar todos os pecadores. Esta reproducio acaba por fazer o homem sertanejo perceber a sua pequenez iante da onipoténcia divina, imputando-he culpa ¢ remorso pelo calvario de Cristo. Figura S: Estagfo Ul: “Jesus cat pela Figura 6: Detalhe da Estaglo XI: “Jesus é primeira vez". Fonte: Fabio Mafra/Edson pregado na cruz”. Fonte: ‘Fabio Aratijo. Mafra/Edson Arajo. ‘estas estaydes, 05 romeiras costumam realizar oragdes ¢ agradecer as béngos alcangadas. Procurando testemunkar sua gratidio ou do pagamento da promessa, muitos deles acendem velas sobre as estruturas, ou depositam ex-votos”, além de pedras, flores mesmo acanhadas quantias em dinheiro, Alguns chegam a escrever na prépria cstagio palavras de agradecimento, misticismo que embora seja desaprovado pelos dirigentes do culto, persiste e se atualiza no espago do Monte do Galo, como um modo de aproximagao com o sagrado, 123 Figura 8: Romeiro sobe 0 Monte de joclhos. Figura 7: Testemunhos depositados pelos féis nas i cstagdes da viasacra. Fonte: Fabio Mafra/Edson Fonte: Fabio Mafra/Edson Arai Araiijo, Alguns romeiros que aproveitaram a Festa de Santa Luzia ¢ Sto Bento para agarem seus votos subiam, de joelhos, até o topo do Monte. Nesse ritual de sacrificio, acabavam por dar a sua experiéneia religioss um ar dramético, mostrando-se muitas ‘vezes imersos na sua subjetividade ¢ na erenga no sagrado. ‘Num ponto da subida, ha uma pequena Capela com a imagem de Nossa Senhora das Vitdrias e, mais adiante, pereebemos também, a presenca de wimmulos; temerosos das pentrias © da condenagdo ao fogo etemo, os que dispdem de maiores recursos financeiros solicitam que seus corps sejam depositados ali, naqucle espago sagrado, acreditando assim estarem protegidos da danago do Juizo Final, Além disso, o local da devogaio faz com que o romeiro se sinta mais proximo do seu Santo ¢ de Deus". ‘Num dos pontos mais altos, volta-se a evocar © calviria, compasto por estétuas que aglomeram ao seu redor grupos de romeiros, que rezam, acendem velas e depositam ex-votos. Hé, também, um monumento dedicado a Pedro Alberto Dantas que neste dia também estava repleto de testemunhos ¢ ex-votos. Figura 10: Monument dedicado a Pedro Alberto Dantas. Fonte: Fabio Mafra/Edson Araiijo. 125 No topo do Monte, « Capela de Nossa Senhora das Vitérias é, indubitavelmente, © espago mais disputado entre os romeiros, E, na altura de 155m, ergue-se o Cruzeiro, construido em cimento armado, medindo 9m, pensado como um marco da fundagdo de Carnaiiba dos Dantas, em homenagem a Caetano Dantas Correia (1710-1797), considerado ainda hoje pela oralidade como 0 “fundador” da cidade“, Contudo, a despeito de seu significado glorioso, 0 Cruzeiro denota a intensidade do simbolo ¢ da religiosidade crista no Seridd, oe Figura 11: Capela de Nossa Senhora das Figura 12: © Cruzeiro do Monte do Galo. Vit6rias. Fonte: Fébio Mafra/Edson Aradjo. Fonte: Fiblo Mafra/Edson Araijo, A ceriménia religiosa culmina com a realizagio de uma Missa num palco armado em frente 4 Capela de Nossa Senhora do PerpStuo Socorro. Apés os rituals linirgicos, ocorre uma procisso com as imagens de Santa Luzia e de Sao Bento pela cidade, finalizando assim os fescios oficiais dedicados a estes santos, Entretanto, as romarias persistem no decorrer de todo ano, principalmente aos domingos quando celebrada a Santa Missa no sopé do Monte do Gale na Capela de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro; uma vez por més, é celebrada a missa na Capela de Nossa Sentara das Vitérias, no cimo do Monte, 126 Procissiio com a imagem de Sio Bento. Fonte: Fabio json Araujo. cons IDERAGOES FINAIS A continuidade de investigasbes neste espago religioso certamente resultard proficuas contribuigées ao campo da Historia das Religides © das Religiosidades. A partir desta investigagdo, apresentamos subsidios histbricos & compreensio das préticas devocionais catélicas que ocorrem no Conjunto Religioso do Monte do Galo. A pesquisa exploratéria foi construida a partir de um didlogo permanente entre pasado presente, partindo de fontes documentais primarias do inicio do século XX ~ jomais, fotografias -, ao trabalho etnogréfico empreendido durante a Festa de Santa Luzia e Sao Bento e as entrevistas realizadas; assim, fez-se convergir virias vertentes de abordagem, como a Historia, a Etnohistéria ¢ a Histéria Oral, o que permitiu compreender como se perpetua a sacralizagio deste santuario por um mimero cada vez maior de devotos, 0 que configura © Monte do Galo em espago de intensas demonstragdes de f@ ¢ de religiosidade. Nao obstante o crescimento das mencionadas devogdes no alvorecer do século XXI, percebemos uma tensGo ininterrupta entre a hierarquia clerical € grande parte dos devotes, decorrente de um processo de disciplinamento que a Tgreja busea impor para uma devogao de raizes leigas. Sylvana Brando Departamento de Histéria, UFPE Fabio Mafra Programna de Pés-Graduagio em Arqueologia, UFPE Edson Araijo Curso de Historia, UFPE, Referéncias Bibliogrticas ANDRADE, Marisela Oliveira de. $00 Anos de Catolicismos & Sineretismos no Brasil. Joo Pessoa: Editora Universitéria/ UFPB, 2002 AZZI, Riolando. A Cristandade Colonial: um projeto autoritario. Sao Paulo. Paulinas, 1987, [As romarias no Brasil, Revista de Cultura Vozes, Ano 73, v. LAX, a4, 1979, BRANDAO, Sylvana, So Francisco das Chagas do Canindé, Ceari, Brasil. In BRANDAO, Sylvana (Org). Histéria das Religides no Brasil, Recife: Ed. Universitéria da UFPE, 2001 Historia das Religibes no Brasil. Recife: Editora Universiéria DUPE, v. FIV. BERGER, Peter L. A dessecularizagio do mundo: uma visio global. Jr: Religi2o Sociedade. V. 1. Rio de Ianeio, Iser,2001 BORDIEU, Pierre. O poder simbélico. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2000, . A economia das trocas simbélieas. Colegio Estudos. Sio Paulo: Perspectiva, 2003. 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Acervo da Biblioteca Piblica de ‘Donatilla Dantas” 130 Fotografias Inaugurago do Cruzeiro Comemorativo em 1928; missa realizada no Monte do Galo em 1949, Orais Encrevistas coleiadas entre os dias 02 e 13 de dezembro; depoimento de Jilia Albertina Dantas. 131 NOTAS MOTTA, Roberto. Bandeira de Alaris A Festa de Sto Joio-Xang® e os Problemas do Sineretisme AfroBrasilelra, Cigacia e Trica, Recife, ¥. 3, n.2 1973; Transe, Possess e Extase nos Cultos ‘Afro-Brasbivos,Cadecios PUC (Sto Paulo), Sto Paul, v.33, . 109-120, 1988 ® ROCHA PITTA. D. P. Mito e imbolos mos Nana de Pernambuco, Caderos de Cidneias Sociais (Peto) Recife. m2, p, 268-267, 1985 ‘A este respite, cabe desacar os quatro volumes da Coletinea organizala por Sylvana Brando Histrla das Religes no Brasil Recife: Editora Universita da UFPE.v LIV. * Comissio de Estos da greja na Amica Latina eno Caribe, "Nip eabe neste curto espago distr a8 permanéncias © rupturs entre a gergdes da Escola dos Annales. A este respeito,aprofundar temitca em DOSSE, Frangois. A historia em migalhas: dos Annales & Nova Via. Sa Paul: Ensaio; Campinas, SP: Edtora da Universidade Estadual de Campinas, 1992: BURKE, Peter. A Escola dos Annales, 1929-1989: A Revoluyao Francese da Histciogratia, Sio Poul: Editora Universidade Estadual Paulista, 1951, entre cuts. BLOCH, Mare Leopold Benjamin. Os rel taumaturgos:O cater sobrenatral do poder rio, Franga ¢ Ilatera. Sto Paulo: Companhia das letras, 1993 ¥ GINZBURG, Carlo. O qualo e os vermes: o cotidiao e as idéias de um moleiro perseguido pela inguisio. Sto Paulo: Companhia das Laas, 1987, SSOUZA, L M.-O dlaboe a tera de Santa Cruz: fitigria sigiosdade popular no Brasil colonial fo Paulo: Compania das Leas, 1986, SVAINFAS, R. Aheresia dos Indios, So Paulo: Compania, 1995, “MOTT, Luiz. O Sexo Proibide: Virgens, Gays e Essravos nas garras da Inquisigo. Campinas, SP Paias, 1989. "CAVALCANTI, Carlos André Macédo. 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