Meditacoes Santo Affonso Maria de Ligorio Tomo I

También podría gustarte

Está en la página 1de 264
MEDITACOES PARA TODOS OS DIAS DO ANNO TOMO 1 MEDITACOES PARA TODOS OS DIAS E FESTAS DO ANNO TIRADAS DAS OBRAS ASCETICAS DE SANTO AFFONSO MARIA DE LIGORIO BISPO E DOUTOR DA SANTA IGREJA PELO P, THIAGO MARIA CRISTINI DA CONGREGAGRO DO SS, REDEMPTOR VERSAO PORTUGUEZA po P.JOAO DE JONG DA HHESMA CONOREOAGEO TOMO PRIMEIRO DESDE 0 PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO ATE A SEMANA SANTA INCLUSIVE FRIBURGO EM BRISGAU (ALLEMANHA) 1921 HERDER & Cia LIVREIROS-EDITORES PONTIFICIOS BERLIM, CARLSRUHE, COLONIA, MUNICH, VIENNA, LONDRES, 8. LUIZ MO. APPROVAGAO. Em virtide dos poderes que me férem communicados pelo Revino, P. Patricio Murra nv. Redemptor, ¢ visto o relatorio favoravel de dous theologos da nossa Congregagto, encarregados de examinar as Mediiagies tiradas des Olvas asceticas che Santo Affonso Maria de Ligorio, Bispo ¢ Deutor da Senta Igreia, para fedes or das ¢ fests do anne, pelo P. Thiogo Maria Cristini, da Congre sft0 do SStie. Redenplor —Versto portuguesa do P. Foto de ong, da mesma Congregagio, permiltimos que sejam imprimidas, servatis de jure servandis, Superior Geral da Congregagio do 5: Kio de Yancire, 2 de Outubro de 1919, Gualter Perriens, C. $8, R,, Visit, ViceProv. Brasil, Imprimatur, Fritmret Brisgoviae, die 27 Vecembris 1920 + Carolus, Archiayips Esto reservados todos os direitos, ‘ypographia de Herder © Cia., Friburgo em Briagau (Alleman). 1 PREFACIO, presentando este livro de meditagées ds pessoas devotas, A julgo desnecessario justificar o trabalho por mim em- prehendido, com a sua traducgo para o idioma portuguez, cousa que aliés fiz por obediencia. A justificagao acha-se no proprio titulo do livro; ¢ ninguem dird que sao de mais os livros de meditagdo escriptos em portuguez. Ao lado dos que existem, ¢ cujos merecimentos nio necessi- tamos encarecer, haverd logar para mais um, visto que, tambem no tocante ds meditagses, a vatiedade deleita A forma variada, sob a qual sio propostas 4 meditacdo as verdades immutaveis da {é, excita novamente a atten- 4o, infiltra’ no espirito um novo raio de luz, commove mais efficazmente a vontade, Melhor justificagdo ainda tem a apparigéo deste livro na segunda parte do titulo: Meditacves...tiradas das obras de Santo Affonso Maria de Ligorio, Nao hesito em applicarthe as seguintes palavras de um preclaro Bispo, na approvacdo dada 4s meditag6es sobre o Sagrado Co- ragio de Jesus, segundo Santo Affonso: Acerca das obras asceticas de Santo Affonso dizia ainda © RP. Maron: «Nao pode uma pessoa Iér as obras deste santo Doutor, sem se sentir levada para Deus, ouso dizer que a leitura assidua destes livros é como que um signal de predestinagao, visto como a alma que nao esté em graca ou nao busca adquiril-a, no se pode com- praver na leitura destas paginas.» O methodo adoptado pelo R. P. Cristini ndo carece Ges; convém sémente observar que no fim de cada meditagao vem indicado o logar das obras de Santo Affonso, d’onde ella foi tirada, Os numeros do volume e da pagina referemse 4 edigdo italiana de G. Marietti Turim, 1867. As meditag6es que nao trazem no fim in- dicago alguma, foram accrescentadas pelo Autor, por se no encontrar nas obras de Santo Affonso meditacZo apro- priada 4 festa ou ao dia, As oragGes que nfo so do Santo, acham-se entre aspas, ¢ as enriquecidas de indul- gencias sio marcadas com uma cruzinba ({). No appendice encontram-se meditagGes para diversas citcumstancias patti- culares ¢ algumas de reserva, de que 0 piedoso leitor poderd fazer uso em logar de uma ou outra que menos condiga com o seu estado de vida ou de alma, Como sou de opinigo que as meditagées de Santo Affonso muito mais fructo hao de produzir, se fér seguido © modo de orar do Santo, direi sobre elle algumas palavras. Vér-se-d entido que a meditagdo ou a oragao mental nio & tdo difficil como geralmente se imagina, que é antes um exercicio utilissimo a todos os fieis, mas indispensavel a quem deseja progredir no amor de Deus, na perfeigao espiritual. Em seguida darei a tabella das vir- tudes que Santo Affonso aconselha sejam praticadas cada mez sob a protecedo especial de um dos Apostolos. © Traductor. INDICE DO TOMO I. Modo de fazer oragao mental, segundo Sato Affonso “Tabella das x11 virtudes serem praticadas em cada mez do anno, sob a protecgio dos santos Apostolos I, DOMINGOS, FESTAS E TEMPOS DO ANNO ECCLESIASTICO. Primeita semana do Advento Domingo, A temeridede do peccador ¢ 0 dia do Juizo Segund eis. O peecado de Adam c 0 amor de Deus pelos ho- ‘Tergafein, © decreto da Encarnaglo do Verbo Quartaeire. O Verbo se faz homem na plenitude dos tempos Quinta-feira, Jesus illumina © mundo e glorifce » Deus Sextaeira, Quaes sejam os que em verdade seguem a Jesus Christo Sabbado, Ineffavel dignidade de Maria Santissima Segunds semana do Advento Domingo. 0 encarcersmento de Jofo ¢ uildade das tribulegSes Segmndsia, Dens ensege © propio Filo & mrt poe no dara vida. ‘Tergafein, Revrto de un homem que scabs do passa 4 outra vida : Quarieirs, Amor gle @ Filho de Deus ace mestrou na Kedem pete : Quintafure, Jesu, Homem de déres desde 0 stio do sue Mie . Sextu‘eira, Na Cruz achase a nosse stlvagto . Sabbado, Marin Sanisima, modelo de paciencia, Teresira semana do Advento Dominge. © testemunho de So Joo Baptista © a modestia christ Segunda-feira. Jesus Menino toma sobre si todos os peccades dos homens ee dl 5 B 3 35 8 30 33 35 38 4 B “S Terge-feira, No inferno soffrese sempre Quartafeira, Jesus, fonte de gragas Quintafeira. Jesus attribulago durante tode « sus vide Novena para a festa do Natal Peimeiro dia—dia xvi de Dezembro. Jesus Menino consente em ser nosso Redemptor Segundo dia— dia xvit de Dezembro, Tristeza do Coragto de Jesus no seio da Virgem Maria Teresi dia — dia xvin de Dezembro, Expectagio do Parto da Vir ‘gem Maria dla x1x de Dezembro, A Paix de Jesus Christo durou todo 0 tempo da sua vide , Quinto din— din xx de Dezembro, Jesus Menino se offerece & justiga divina como nossa victima Sexto dia— dia xx1 de Dezembro, Dér de Jesus Menino pela pre visto da ingratidtlo dos homens Se aaa ea Jet Maria Santissima a Belem , Oitavo dia— aia xxitt de Dezembro, José ¢ Matin peregrinos em Belem sem abrigo Nono dia—dia xxiv de Desembro, A Gruta de Belem to Dia xxv de Dezembro, Natividade de Nosso Senhor Jesus Christo 2 a) 0 , Dia xxv1 de Derembro, Festa de Santo Estevam, Protomertyr Meditagdo para a tarde do mesmo dia: Uma visita & Gruta de Belem Dia xxvrt de Dezembro, Festa de Sto Joto Evangelista Meditagto para a tarde do mesmo dia: Offerecimento do co: ago a Jesus Menino : Dia xxviii de Dezembro, Festa dos Santos Tonocentes Meditagio para a tarde do mesmo dia: Felicidade de quem nesceu depois da Redempgio na Igreja catholica Dia xxix de Dezembro. Alegria trazida ao mundo pelo nasci- mento de Jesus Christo Dia sax de Dezembro, Vida de tribulagées que Jesus Christo co. megou a Ievar desde seu nascimento Para'o ultimo dia do anno, Devemos approveitar o tempo Meditagio para 4 tarde do mesmo dia: Jesus Christo tem feito padecide tudo por mosso amor, “p 50 53 55 38 6 63 66 65 n " 76 m 8 84 86 89 on 4 96 99 104 Mex de Janeiro Dia 1 de Janeiro, A Circumcisfo de Jesus ¢ 0 Sacramento do Daptismo Domingo entre & Circumcinfo e a Epiphana, Fess 40 Santissime Nome de Jesus 5 Dia 1 de Janeiro, Porque Jesus quiz nascer crianga Dia 11 de Janeiro, Jesus envolto em faixes Dia tv de Janeiro, Jesus é alimentado Dia v de Janeiro, O somno de Jesus Menino Dis v1 de Jeatro, Epiphania de Nosso Senbor Jess Christo Dia vir de Janeiro. Jesus chora Dia vist de Janeiro. Da vida humilde © ‘teen que Jesus Tevou desde a meninice. Dia 1x de Janezo. Misericordia de Dens em baixar do cu para nos salvar com a sua morte Dia x de Janeiro, Vida pobre que Jesus comegou « levar desde © seu nascimento , : Sebbado oa oitava da Epiphania, Solicitude maternal de Maria para com Jesus Christo. Primeira semana depois de Epiphania Domingo. Perda de Jesus no templo Segunda-feira. Fim do homem . Tergafeira, Hei de morrer um dia Quartaceira, A eternidade do inferno é terrivel, mas justa Quintedeira, Exemplos que nos da Jesus Menino Sexteeira, Fuga de Jesus para o Egypto Sabbado. Maria Santissima, modelo de f€ Segunda semana depois da Epiphania Domingo, Desejo que Jesus teve de soffter por nés Segundefeira. O amor vence tudo : Tenge feira. Remorsos © desejos de um peceador morbundo Quarta-feirs, Morte feliz dos religiosos Quinta-feira, Estads de Jesus no Egypto Sextaeira, Volta de Jesus do Egypto Sebbado, Santo Affonso, modelo de devogko a Marin Santssima ‘Terceira semana depois de. Epipha Domingo. © Centurito € os homens de meia fe Segunda itis, Ox bens do mundo nfo nos podem fazer felines ‘Tergafeira. Vinda do divino Juiz © exame no Juizo final . 105 108 14 a7 119 134 127 129 131 133 136 138 140 143 146 49 15t 154 156 159 161 164. 167 ayo 173 175 178 Quartafeira, Quanto 6 care a Deus a alms que se the entrega toda Quintacfeira, Jesus na casa de Nazareth Sextafeir, Jesus cresce em idade, em sabedoria, © em graga Sabbado. Du confianga em Maria, Rainha de misericordia Quarta semana depois da Epiphania: Domingo. A berca na tempestade © Igreja cathotica Segunda-feir Inéerteza da hora da morte ‘Terge-feirs. Do fogo do inferno Quartafera, Qual ser 0 gozo dos Bemaventurados no paraiso Quintafeir, Devemos esperar tudo pelos merecimentos de Jesus Christo. : ao Sextafeir. Jesus quiz softer afim de ganhar os nossos coragies Sabbado. Maria Santissima, modelo de esperanca Quinte semana depois da Epiphania Domingo. A parabola do joio x conducta de Deus para com ‘os peccadores ‘i Segunda-eira. Sejamos peregrinos sobre a terra ‘Tergafeira, Loucura dos peceadores © peceador abandonado por Deus Amor que Deus mostrou eos homens no mysterio a Enearnagso Sexta‘eira, A pena mais grave do Menino Jesus Sabbado. Quanto o: religiotos devem confiar no palrocinio de Maria Sexta semana depois da Epipha Domingo. A parabola do fermento e os effeitos da graga sant fiente 2 Segunda-feira, Necessidade da oragio mental ‘Tergeeiry, Paciencia de Deus em esperar que 0 peccador {aga penitencia, : are Quartafeir., Momento da morte - Quintafeirs, Amor de Deus em fazerse homem Sextafeira. Amor de Deus em fazerse erianga Sabbado. Vantagens das Congregacies dle Maria Sentissime Semana da Septuagesima ; Domingo. A parabola dos operarios e a recompense divin Segunde-eira, Para ser santo € preciso desejal.o muito Pa. 18 183 186 188 19 193 196 198 203 205 208 210 a3 26 209 224 237 229 232 234 237 339 sar 24 247 ‘Terga-eira. Commemoragzo da agonia ¢ oragio de Jesus no Horto Quartafeira, O peccador no quer obedecer a Deus Quinta-feira. A santa Missa 4& a Deus uma honra infinite Sexte-feira. Coragtio de Jesus, afficto pelo peceado de escan. dato ‘i . Sabbado, Da gratidio para com es déres de Maria Santissima ‘Semana da Sexagesima: Domingo. A parabola do semeador ¢ a palavra divina Segundaeira. O peceador affige 0 Coragéo de Deus ‘Terga-eira. © peceado renova a Paixio de Jesus Christo Quartafeirs, Do numero dos peccados , Quinta-feirs. © carnaval santifado e as divines beneficencias Sexta-feire. Amor de Jesus em querer sttisfazer por nés Sabbado. Fructos da meditagto das déres de Maria Santissima Semana da Quinguagesima: Domingo, A Paixto de Jesus Christo ¢ o¢ divertimentos do car ‘aval ; Segunda-feira. Da confianga em Jesus Christo ‘Tergaceira, O peccador expulsa Deus do seu coragio Quarta-feira de Cinzas, A lembranga da morte ¢ o jejum quaresmnal Quinta-feira, Amor de Jesus Christo em darse a nés como ali- mento. : 0 6 Sextafeira, Commemoragdo da Corda de espinhos de Nosso Se. hor Jesus Christo . : . Sabbado. Primeira Dér de Maria Santissima — Prophecia de Simexo Primeira semana da Quaresma Domingo. Jesus no deserto e as tentegbes das almas escolhidas Scgundaeire, Bemaventurad © que nfo quer outra cousa senko @ Devs. ‘Terpafeira. Quanto € doce a morte do justo Quarta-feira, Contas que ter de dar a Jesus Christo quem nto segue @ vocagto oo Lo , Quints-feirs, Quanto Jesus deseja unirse comnosco na sante Com. munhge . g Sexts-feira. Commemoragio da Langa © dos Cravos de Nosso Senhor Jesus Christo : Sabbado, Segunda Dér de Maris Santissima — Fugida para o Egypto 5 A Xt 249 252 254. 357 259 262 264 267 269 a1 215 277 279 282 285 288 290 293 295 298 300 303 306 308 an 313 Segunda semana dx Quaresma . Domingo. A teansfiguragio de Jesus Christo e as delicias do paraiso : Segunda-fira, Como devemos prepararnos i Terga-feira. Efvitos que em nés produr » di Quertafeira, Da dignidade de Sto Joré, Espozo dx Virgem Maria oe : p Quintafeira. Jesus presente nos altares para ser accessivel « todos Seateire, Commemoragio do sagrado Sndatio de Nosto.Senhor Jesus Christo Sabbado. Maria Santissima, modelo de amor pars com Deus Tergeira semana da Quaresma: Domingo. 0 demonio modo e as confises sacrileges Outra meditagto para 6 mesmo domingo: Estedo miseravel os que receem no peccado Segundaseira, Da verdadeira sabedoria ‘Tergefsica, A seperagio dos escothidos © dos reprobos no Juizo final : Quarteseira. Da gloria de Sto José, Bsporo da Viger Maria _ aes en Sn aes See santissima Eucharistia Sextafeirn. Commemoragto das. cinco Chagas de Nosso Senhor Jesus Christo Sabbado. Terceira Dér de Maria Santissima — Perda de Jesus no templo Quarta semana da Quaresioa Domingo. A multidio feminte ¢ 1s almas do purgatorio Outen meditagio para o mesmo domingo: Terna compaixto de Jesus Christo para com os peccadores Segundn-cia. Meios pura alcangar 0 amor de Dens © a santidnde ‘Terga-feirn. Da nobreza da alma . Quartafeira. Sentenga dos escolhidos © dos seproboe no Juizo universal Quinwfeira, Unito da alms com Jesus na santa Communhito Sextafeira. Commemorapto do preciosissimo Sangue de Nosso Senbor Jesus Chri : Sabbado, Dér de Maria Santissima em consentir na morte de foccs 316 318 37 337 379 333 334 337 339 342 345 347 349 3s 355 357 360 362 364, 367 369 372 Quinta semans da Quarestoa Domingo da Peixto, Grande fructo que se tirs da meditagto da Paixclo de Jesur Christo . Segundacfeira, Conselho dos Judeus e traigo de Judas ‘Terga-feira. Ul pulos Quarteite. Jesus ora no Horto © sia sangue . Quintadeira, Jesus & preso, ligado © conduzido a Jerusslem Sextafeira, Commemoragio das sele Déres de Maris cei de Jesus Christo com os seus di Sante. Sebbado, Jesus & apresentado aos ponlifices © por elles conden: nado & morte Semana Santa: ” Domingo de Ramos. Jesus fax a sua entrada wiumphal em Jer salem : . Segunde-eira, Jesus € levado a Pilatos © a Herodes, © pospoto 1 Barabbas : Meditaglo para a tarde do mesmo din: Jesus preso & cor Tumna € flageltado ‘Tergafeira, Jesus € coroado de espiniios © apresentado 20 ove : Meditagto para a tarde: Jesus € condemnado © vae a0 Cal. Quartafeira, Quarta Dér de Maria Santissima — Encontro com Jesus, que carrega 2 oruz 5 ; Meditagtio para a tarde: Jesus € crucificado entre dous la- ardes 5 Quinta-feira Santa, O dia do amor . . Meditagio para « tarde: Quinta Dér de Maria Santisrima — Morte de Jesus Sentafeira Santa, Morte de Jesus Lo . Meditagio para a tarde: Sexta Dér de Maria Santissima— Jesus & descide da cruz Sabbado Santo. Setima Dér de Maris Satiesima — Sepultura de Jesus Meditagio pare a tarde: Soledade de Maria Santissime de- pois da sepultura de Jesus 374 377 379 382 385 387 390 392 395 398 400 403 405 408 410 43 ats 8 420 43 xy nepicn pe TOMO t I. DIVERSAS FESTAS DE NOSSO SENHOR, DE MARIA SANTISSIMA, DOS SANTOS APOSTOLOS E DE OUTROS SANTOS. xxx de Novembro, Festa do Apostolo Santo André vE de Dezembro, Festa de Sfo Nicolau, Bispo . ‘vil de Dezembro. Festa da Immaculada Conceigto de Marie cut de Devembro, Festa do Apostalo Sto Thomé xxUX de Janeiro. Festa de So Francisco de Seles ude Fevereiro, Festa da Purifeagto de Maria e da Apresentagio de Jesus xxiv de Fevereiro. Festa do Apostolo Sf0 Mathias yur de Margo, Festa de Santo Thomas de Aquino xv de Margo, Festa de Sto Clemente Maria Hoffbauer xix de Margo, Festa de Sto José, Espoto ds Virgem Maria Xxt de Margo. Festa de Sto Bento, Abbade : xxv de Margo, Feste da Annunciegio de Maria Santissima APPENDICE, 1, MEDITAGORS PARA AS PRIMEIRAS SEXTAS.IBIRAS DO MEZ. ‘Mex de Detembro, © Coragio de Jesus, modelo de fdelidade Mez de Janeiro. A devogio a0 S, Coragto, setta reservada Mex de Pevercizo. Recompense da devogio no 8. Coragtio: « per severanga Mer de Margo, Meio de nos uninmos ao S. Coragfo: « boa intengo IL MEDITAGORS PARA © DIA XXV DE CADA MEZ, SOBRE 0 MYSTERIO DA ENCARNAGAO DO VERBO, Dia xxv de Janeiro, Necessidade da {para contemplar com fructo © mysterio da Encarnagto xxv de Fevereiro, Motivos para esperar em Jesus Christo xxv de Margo: veja-se a Meditagio entre as festas, pag. 454. Ma, DEVOGKO A SKO JOSE, MEDITAGOES PARA AS QUARTAS.FEIRAS DO MEZ DE MARCO. Primein Quarta. de Margo. Ds viagem de Sto José ¢ Maris Santimima a Belem, onde nasceu Jesus Segunén Quartafeira, Fuge para © Keypto Pag. 436 438 43" 434 436 438 aa 443 446 449 450 454 457 459 462 465 467 469 an 475 INDICE Do TOMO 1 a ‘erceira Quartafeira Da volta do Bgypto © da perda de Jesus no templo oe an Quarta © quinta Quarta-teira: vejamse as quartasfiras da segunda © tereeira semana da Quaresmms, pag. 324 © 345, Il DEVOGAO A SANTO AFFONSO, MEDITACOES, NAS © SANTO DOUTOR & PROPOSTO COMO LO DAS VIRTUDES FUNDAMENTAES. ‘Met de Dezembro, Santo Affonso, modelo de paciencia e de amor fous. , 479 ‘Mex de Janeiro, Santo Affonso, modelo de {6 vive. 4 Mex de Fevereiro. Santo Affonso, modelo de firme confianga 484 Mex de Margo, Santo Affonso, modelo de amor a Devs “a7 IV. MEDITAGOES DE RESERVA, de que cade um poderé servise em substiigho & mediagtes ‘que talver convenham menos a0 seu estado ov dispesgto. Primeire Meditagto. Jesus nasce Menino. 490 Segunda MeditsgZo. Da vida occulta de Jesus no Santissimo Sacramento , 493 ‘Tercsira Meditagdo. De Oragto Dominical 495 Quarta Meditagto, Continuagto da explicagio da Oragto Do: minical 498 Quinta Meditagto, Formosusa de Marin Santissina 500 Sexia Meditagto. Do grande mal que fazem os que occulta 05 peceados na confissto 503 Setima Meditagio, Da fugida das occasifes 506 MODO DE FAZER ORACAO MENTAL SEGUNDO SANTO AFFONSO. meditagéo ou orago mental contém tres partes: a preparagio, a meditagdo e a conclusio. I, PREPARAGAO. se” Na Preparagdo fazem-se tres actos: 1° Acto de Fé na presenca de Deus, dizendo: «Meu Deus, eu creio que estais aqui presente ¢ Vos adoro com “todo 0 meu affecto.» 2° Acto de Humildade, por um breve acto de con trigho: (Mare. 12, 30). 1V, ABRIL, Protector: S80 Jo¥o Apostolo e Evangelista Virtude: A Caridade para com o proximo. — Hoc est pracceptum meum: ut diligatis invicem, sicut dilexi vos Maiorem hac dilectionem nemo habet, ut animam suam ponat quis pro amicis suis — «O meu preceito € que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei, Ninguem tem maior amor do que aquelle que dé a propria vida pelos seus amigos» (lo. 15, 12—13). V. MAIO. Protector: Santo Thomé Apostclo. Virtude: A Pobreza. — Beati pauperes spiritu: quoniam ipsorum est regnum coelorum — «Bemaventurados os pobres de espirito, porque delles € 0 reino dos céus» (Matth. 5, 3). VL. JUNHO, Protector: Sé0 Thiago Menor Apostolo, Virtude: A Pureza de corpo e de espirito, — Beati mundo corde, quoniam ipsi Deum videbunt — «Bemaven- turados os limpos de coragio, porque elles verdo a Deus» (Matth. 5, 8). ~ VIL, JULHO. Protector; Séo Philippe Apostolo. Virtude: A Obediencia. — Vos amici mei estis, si fe- ceritis quae ego praecipio vobis — és sois meus amigos, Se fizerdes 0 que eu vos mando» (Io. 15, 14). Vur, GosTo Protector : Sao Bartholomeu Apostolo. purse: A Mansidio e a Humildade de coragao. — ‘scite @ me, quia mitis sum et humilis corde, et in 6 XM VIRTUDES PARA CADA 242 DO ANNO. venietis requiem animabus vestris — «Aprendei de mim que sou manso e humilde de coracéo; e achareis des canso para as vossas almass (Matth. 11, 26). 1X, SETEMBRO. Protector: Sio Mattheus Apostolo e Evangelista. Virtude: A Mortificagio. — Qui odit animam suam in hoc mundo, in vitam aeternam custodit eam — «O que aborrece a sua vida neste mundo, guarda-a para a vida eterna» (fo. 12, 25). X. OUTUBRO. Protector: Sto Simao Apostolo. Virtude: © Recolhimento ¢ 0 Silencio. — Dimissa turba, ascendit (Iesus) in montem solus orare — «Logo que despediu a turba, subiu (Jesus) sé a um monte, a orar» (Math. 14, 23). XI, NOVEMBRO, Protector: Sao Judas Thaddeu Apostolo. Virtude: A Oragio. — Oportet semper orare et nen defcere — elmporta orar sempre e néo cessar de o fazer Luc. 18, 1). XII, DEZEMBRO, Protector: S20 Mathias Apostolo, Virtude: A Abnegacio propria e 0 Amor da cruz. — Si quis oult post me venire, abneget semetipsum, et tolla crucem suam, et sequatur me — «Se alguem quizer vir apés de mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, © sigame» (Matth. 16, 24). 1, DOMINGOS, FESTAS E TEMPOS DO ANNO ECCLESIASTICO. (Desde © primeiro Domingo do Advento x6 & Semana Santa inclusive) PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO. A temeridade do peccador e o dia do Juizo. ‘Videbust Filium hominis venientem in nube cum potestate ma goa et maiestate — eVerfo o Filho do homem gee viré sobre ume fhuvem com grande poder e majesiades (Luc. 21, 27) tual Summario®, Uma consideragto séria nos ensina cue nto hs mente no mundo pessoa mais despreiade de que Jests Christo; pois € injuriado (fo continuamente © com 10 desenfreada literdade, como nko 6 seria 0 mais vil dos homens, Eis porque o Senkor destinou um dis, no ‘qual viré, com grande poder ¢ majestade, a reivindicar a sux honrs. Recorramos agora so throne da divina misericordis, pare que naquelle ia nfo sejamos condemnados pels justign de Devs 1. Considerando bem, nao ha no mundo actualmente quem seja mais desprezado que Jesus Christo. Trata-se com mais consideragéo um aldedo do que o proprio Deus. Receiam que 0 aldedo ao ver-se por demas offendido, se eneolerize e tite vinganga; Deus, porém, é offendido in- cessantemente ¢ de caso pensado, como se nao pudesse vingar-se quando quizesse, Por isso 0 Senhor marcou um dia (chamado com razio, na Escriptura Sagrada, o dia do Senhor, Dies Domini), quando vae dar-se a conhecer tal como é: Cognoscetur Dominus indicia faciens®, Diz + © summario poderd ser lido na vespera precedente * Ps 9, 17 8 PRIEEIRA SEMANA DO ADVEHTO, Sto Bernardo, explicando este texto: O Senhor serd co- nhecido quando vier a fazer justiga, a0 passo que agora, porque quer usar de misericordia, é descoahecido. Entao esse dia ndo mais se chama de misericordia e de perdao, sendo dia de ira, dia de tribulacao ¢ de angustia, dia de calamidade e de miseria', Conforme nos ensina o Evangelho de hoje, esse dia serd precedido de signaes pavorosos, ¢Haverd signaes no sol, na lua ¢ nas estrellas; na terra os povos estariio an- Bustiados sob o rugido surdo e confuso do mar e das ondas; os homens morreréo com medo dos. males que hao de vir sobre o mundo. Por fim, as vittudes dos céus (isto é, na interpretagdo dos Padres, os nove céros dos Anjos) se commoverao, € entfo se verd aoparecer sobre as nuvens o Filho do homem, com grande poder e maje- stade», a reivindicar a gloria que os peccadores nesta terra the quizeram tirar. Diz Santo Thomaz: «Se, no horto de Gethsemani, com as palavras de Jesus Christo: Ego sum, cahiram por terra todos os soldados que o tinham vindo prender, que serd, quando Jesus, sentado para julgar, disser aos condemna- dos: ,Aqui estou, sou eu aquelle a quem tanto haveis des- prezado'...; que seré quando pronunciar contra elles a sentenga eterna: ,Apartae-vos de mim, malditos, para © fogo eterno! — Discedite a me, maledicti, in ignem aeternum I 2s Il. O dia do juizo, assim como serd para os reprobos um dia de pena e de terror, ser4, a0 contrario, para os escolhidos um dia de regozijo ¢ triumpho; porque, entao, 4 vista de todos os homens, as suas beatas almas serao proclamadas rainhas do paraiso e feitas esposas do Cor- deiro immaculado. Oh! que ventura experimentargo os bemaventurados, quando Jesus, voltando-se para a direita, 4 Soph. 1, 15, 9» Math, 25, 41. ponernco. 9 Ihes.disser: «¢Vinde, meus bemditos filhos, vinde possuir 6 reino dos céus que vos foi prepatado: possidete para- tum vobis regrumy 1 Trmio meu, o que serd de ti naquelle dia? Sao Jeronymo, quando passava os dias na Gruta de Belem, em continuas oragées © mortificag6es, tremia sé em pensar no Juizo universal. O veneravel P. Juvenal Ancina, lembrando-se do Juizo ao ouvir cantar a sequencia da Missa de de- functos, Dies irae, dies illa, deixou o mundo ¢ fexse reli- gioso, E tu, 0 que fazes para mereceres no dia do Juizo as bengdos divinas, em companhia dos escolhidos? Com 0 intuito de nos preparar para o santo Natal, a Igreja prop6e hoje o Juizo 4 nossa meditagao, Sabendo que Nosso Senhor, na sua primeira vinda, apparecea num throno de graga e que na segunda appareceré num throno de justiga rigorosissima, quet que procuremos agora re- correr a Jesus afim de experimentarmos os efleitos de sua infinita misericordia. Aproximemo-nos com confianga do throno de graga: Adeamus ergo cum fiducia ad thronum gratiae®. Ab! Jesus meu € meu Redemptor, Vés que um dia haves de ser o meu juiz: perdoae-me antes que chegue esse dia, Agora, sois meu Pae, e como tal recebeis na vossa graca um filho que, artependido, se prostra a vossos pés, Meu Pae, eu Vos amo de todo o meu cotagio no futuro nZo me quero mais afastar de Vés, niéo quero mais ter a temeridade de voltar a offender Vos. ‘Mas j4 que conheceis a minha fraqueza, ajudae-me com a vossa graca. «Eixcitae, Senhor, 0 vosso poder € vinde em’meu avxilio, afim de que, mediante a vossa protecgtio, livrado dos perigos imminentes por causa de meus pec- cados, merega ser salvo por Vés.»® Fazei-o pelo amor de Maria Santissima, (*IE 113.) "Math, 25, 34 "Heb. 4, 16, Or, Dom, curr, 10 DENUPIEA SPMANA nO AnYARTO, SEGUNDA-FEIRA. © peccado de Adam e o amor de Deus para com 0s homens, Bt mune quid mibi est hic, dict Dominus, quoniam ablatus es populus meus gratis? — «B agora, que tenho eu que fazer aqui, diz o Senhor, visto ter sido levado sem nenhuma razio 0 meu overs (Ist. 52, 5.) Sunmario. Pecea Adam, nosso primeiro pac, ¢ em castigo de seu pee ado € expulso do paraiso terrestre com toda n sua descendencia con- demmdo 2 uma vide de miserias e excluido para sempre do cfu, O Se- shor, porém, teve compeixio delle, e como se a sua bestitude dependesse da dos homens, ¢ elle no pudesse ter felir sem estes, resolvew a todo © custo salvalos. 6 incomprehensivel amor de Deus! Ms, como € que ngs Ibe temos correspondido? I. Adam, nosso primeiro pae, pecca; desagradecido por tos beneficios recebidos, revolta‘se contra Deus, trans- gredindo 0 preceito de ndo comer da arvore prohibida, Por esse motivo vese Deus constrangido a expulsal-o agora do paraiso terrestre e a privar no futuro, tanto Adam como todos os descendentes deste revoltoso, do paraiso celeste e eterno, que Ihes bavia preparado para depois desta vida temporal. Eis, pois, todos os homens condemnados a uma vida de trabalhos ¢ miserias, e para sempre excluidos do céu. © demonio tem poder sobre elles, € incalculaveis so os estragos que 0 inferno con- tinuamente faz. Vendo, porém, 0 Senhor os homens reduzidos a tio mise:o estado, compadeceu-se delles, Mas, como nos da @ entender o propheta Isaias, parece que Deus, por assin: dizer, se lamenta e se afflige, dizendo: Et munc quid miki est tic, quoniam ablatus est populus meus gratis? — +E agora, que tenho eu que fazer agui, visto ter sido levado sem nenhuma razto 0 men povo?r Como se quizesse dizer: Que me restou de delicia no paraiso, uma vex que perdi os homens que eram as minhas delicias? Mas, nao; quero a todo 0 custo salval-os; venha, por isso, um redemptor, SHGUNDALYEIRA. ut que em logar do homem satisfaga 4 minha justiga ¢ assim 9 redima da morte eterna, Mas, meu Senhor, tendes no céu tantos seraphins ¢ tantos anjos, € de tal modo Vos afflige o terdes perdido os homens? Que preciso tendes Vés, tanto dos anjos como dos homens, para a perfeigao de vossa beatitude? Sempre tendes sido © sempre sois felicissimo em Vés mesmo: que poderd jamais faltar 4 vossa felicidade que é infinita? —Tudo isso é ver- dade (assim o faz responder o cardeal Hugo), mas, perdido o homem, afigurase-me ter perdido tudo, porquanto as minhas delicias eram estar com os homens; agora perdi ‘os homens, e os infelizes esto condemnados a viver para sempre longe de mim. — O amor immenso de Deus! 6 amor incomprehensivel! 6 amor infinito! II. O meu Senhor, como € possivel que, depois de terdes reparado, com a morte do vosso divino Filho, os damnos causados pelo peccado, tenha eu tornado tantas vezes a renoval-os voluntariamente, com as offensas que Vos tenho feito? Vés me salvastes 4 custa de tamanhos sacrificios, ¢ eu tio repetidas vezes tenho querido perder-me, per- dendo-Vos, a Vés, Bem infinito. Inspirae-me, porém, con fianga 4 vossa palavra, que, s¢ 0 peccador se converter a Vés, no Vos recusareis a abragal-o: Convertiminé ad me et convertar ad vos! — «Convertei-vos a mim e eu ‘me converterei a vis.» Véde, Senhor, que sou um de aquelles rebeldes, um ingrato ¢ traidor que por mais de uma vez Vos voltei as costas ¢ Vos expulsei da minha alma, Peza-me de todo o coragéo- de Vos haver assim offendido ¢ desprezado a vossa graga. Peza-me, ¢ amo- Vos acima de todas as cousas. A porta do meu coragdo J esta aberta para Vés: entrae nelle, mas entrae para nunca mais Vos retirardes. Sei que nunca Vos retirareis, se eu no tornar a expulsar-Vos. His ahi o que me faz xen. 1, 3. 12 PRIMIIRA SEMANA Do ADVENTO. medo, cis ahi tambem a graga que espero pedit-Vos sem- pre; deixae-me morrer antes que venha a commetter para comvosco semelhante nova e maior ingratidao. Jesus, meu caro Redemptor, pelas offensas que Vos tenho feito mereceria no mais poder amar-Vos; mas pelos vossos meritos, peco-Vos 0 dom do vosso santo amor. Por isso fazei com que eu conhesa o grande bem que sois, © amor que me tendes dedicado ¢ quanto tendes feito para me obrigar a Vos amar. Ah! meu Deus e Sal- vador meu, que eu nio viva doravante tfo ingtato 4 vossa tio grande bondade. Nao quero separar-me mais de Vés, meu Jesus, Basta de peccados. E justo que ew empregue os annos de vida que me restam inteiramente em Vos amar e dar-Vos gosto. Jesus meu, Jesus meu, ajudae-me; ajudae um peccador que Vos quer amar. Maria, minha Mae, vés podeis tudo para com Jesus, visto que sois sua Mae. Dizeilhe que me perdée; dizei-lhe que me prenda com os lagos do seu santo amor. Vés sois a minha esperanya; confio em vés. (*1T667.) TERCA-FEIRA. O decreto da Encarnagao do Verbo. Bt audivi vocem dicentis: Quem mittam? Et quis ibit nobis? Et dixi: Eece ego, mitte me.— ¢E owvi a vor de quem dizia Quem enviarei eu? ¢ quem nos iré 1d? Enufo disse en: Aqui > (Isa. 6, 8). Sunmario, Embora o Filho de Deus previse a vida penosa que teria de lever, submettew-se comtudo de boa vontade a0 decreto da Encarnaglo, offereceu-se mesmo a fazerse homem, E iss nfo 66 aim de satisfizer plenamente 4 justign divins, mas tambem para nos mostrar seu amor, ¢ obrigernos « que o amemos sem reserva, Como € que at€ 0 dia de hoje temos respondido a tfo grande benefcio? 1. Afigura-se a Sdo Bernardo! em sua contemplagao sobre a condiggéo do genero humano depois do peccado do pri- * Opuse. 63, ‘TeERGAPRIEA, 13 meiro homem, ver travarem contenda a justica divina € a misericordia, Estou perdida — diz a justiga —se Adam nao f6r punido. ‘A misericordia, a0 contrario, replica: Estou eu perdida, se 0 homem nao for perdoado. Bm vista de tal contenda, o Senhor decide que, para salvar o homem teu de morte, ha de morrer um inno- cente: Moriatuy qui nihil debeat morti. ‘Na terra, porém, nao se achava um que fosse innocente, Portanto — disse o Padre Etérno— jd que entre os homens néio ha quem possa satisfazer 4 minha justigs, quem iré resgatar o thomem? Os anjos, os cherubins, 08 seraphins, todos guardam silencio, ninguem responde; $6 responde 0 Verbo Eterno e diz: Ecce ego, mitte me— «Aqui me tens a mim, envia-me>. Meu Pae — diz o Filho unigenito—a vossa majestade, por set infinita, e offendida homem, néo pode ser plenamente satisfeita por um aajo, que € uma pura crea: tura, E ainda que Vos quizesseis contentar com as satis facg6es de um anjo, considerae que, apezar de tantos be neficios prestados ao homem, apezar de tantas promessas © ameacas, no conseguimos gauhar o seu amor, porque até hoje nao conheceu 0 amor que the tinhamos. Se qui- zermos obrigal-o irresistivelmente a amar-nos, que occasido se nos pode deparar mais propria do que esta? Permitti que, para remir 0 homem, eu, vosso Filho, desga sobre a terra e tome a natureza humana; permitti que, pagando com a minha morte as penas devidas ao homem, satisfaca plenamente 4 vossa justiga divina, ¢ 0 homem fique bem convencido do nosso amor. ‘Mas considera, meu Filho — assim torna 0 Pae — con- sidera que, encarregando-te de pagar pelos homens, terds de levar uma vida toda de trabalhos, ¢ 08 homens te Pagardo com a mais negra ingratidéo. Depois de teres vivido trinta annos como simples auxiliar de um pobre SA 0 TILES PLE EET AE IT A A 14 PRIMEIRA attifice, quando afinal sahires a prégar e a manifestar quem és, haverd, ¢ verdade, uns poucos que te queiram seguir; mas a maior parte dos homens te desprezar4, chamando- te impostor, feiticeiro, louco, samaritano, e finalmente te fardo morrer ignominiosamente, exhausto de tormentos, sobre um lenho infame. Néo importa — responde o Filho—a tudo me sujeito, comtanto que seja salvo 0 homem: Lece ego, mitte me «Aqui me tens a mim, exviamer. E assim foi decretado que o divino Filho se fizesse homem e redemptor dos homens. O amor incomprehensivel de Deus! Mas como temos nés até este momento respon- dido a t&o grande beneficio? Il. © Verbo Eterno, Vés Vos fizestes homem para nos remir e accender em nossos corag6es 0 divino amor; como foi possivel que encontrasseis nos corag6es dos homens tio grande ingratidio? Vés nada poupastes para Vos fazer amado dos homens; chegastes a dar o vosso sangue e a vossa vida; como ¢ que os homens se mos- tram to ingratos para comvosco? Ignoram+-no por ventura? Nao; sabem e creem que por elles viestes do céu para revestir-Vos de carne humana e tomar sobre Vés as nossas miserias; sabem que por amor delles levastes uma vida penosa e abragastes uma morte ignominiosa: como vivem entdo assim esquecidos de Vés? Amam aos parentes, mam aos amigos, amam os proprios animaes ; sémente para com: vosco sto tio frios, tdo ingratos. Mas ai de mim! Accusando aquelles ingratos, accuso-me a mim proprio, que peior do que os outros Vos tenho tratado! Anima-me, porém, a vossa bondade, que me tem tolerado tanto tempo afim de perdoar-me, comtanto que eu queira arrepender-me e amar-Vos. Sim, meu Deus, quero arrepender-me; peza-me de toda a minha alma de Vos ter offendido e quero amar-Vos de todo o meu coragio, Reconhego, 6 men Redemptor, que o men coracio jé no QUARTACPEIRA. 15 merece mais ser por Vés acceito, visto que Vos tem deixado por amor 4s creaturas; mas vejo que, no obstante isso, Vés ainda o quereis, e eu, com todo o poder de minha yontade, Volo dou e consagro, Abrasae-o, pois, todo em vosso santo amor, e fazei com que de hoje em diante no ame senfo a Vés, bondade infinita, digna de infinito amor, Amo-Vos, Jesus meu, amo-Vos, meu summo Bem, amo-Vos, 6 amor unico de minha alma.— © Maria, minha Mae, vés, que sois a mie do bello amor, impetraeme a graca de amar 0 meu Deus; de vés a espero, (*111668.) QUARTAFEIRA. O Verbo se faz homem na plenitude dos tempos. ‘Ubi venit plenitudo temporis, misit Deus Filium suum, factum ex rmuliere, faetum sub lege — «Quando veiu a plenitude do tempo, eo vviou Devs o seu Fitho, feito da mulher, feito sujeito 4 Leis (Gal. 4,4). Summarie. O diving Redemptor demorou a sua vinda quarto mil -afncs, nfo sémente para que forte mais apreciada pelos homens senfo aber pare que melhor se conhecesse a malicia do peccado © » necer- sidade do remedio, Chegada que foi x plenitude dos tempos, envieu Deus lum archnjo & Santissima Virgem e, obtido 0 consentimento desta, © Verbo se fer homem no seio puristimo de Maria, Quanto nfo devemos agradecer ‘40 Senhor o ter.nos feito naseer depois que ee cumpri Uo grande mysterio! I. Considera como Deus depois do peccado de Adam deixau decorrer quatro mil annos antes de enviar 4 terra © seu Fitho para remir 0 mundo. E, entretanto, que trevas desoladoras reinavam sobre a terra! O Deus verdadeiro do era conhecido nem adorado, sendo apenas num canto da terra. Por toda a parte reinava a idolatria, de sorte Que eram adorados como deuses os demonios, os arimaes © as pedras. Admiremos nisso a sabedoria divina, De- ‘Mora a vinda do Redemptor para tornal-a mais acceitavel 0s homens: demora-a para que se conhega melhor a malicia do peccado, a necessidade do remedio e a graca do Salvador, Se Jesus Christo tivesse vindo logo depois 16 PRIMEIRA SEMANA DO ADVENTO, do peceado de Adam, a grandeza do beneficio teria sido pouco apreciada. Agradegamos, pois, 4 bondade de Deus, © ter-nos feito nascer depois de j4 realizada a grande obta da Redempgio. Eis que j4 é chegado o feliz tempo que foi chamado a plenitude do tempo: bi venit plenitude temporis. © Apostolo diz: plemitudo, por causa da abundancia da graga que por meio da Redempgdo 0 Filho de Deus vem trazer aos homens. Eis que jé se envia o'anjo embaixador 4 Virgem Maria na cidade de Nazareth para annunciar a vinda do Verbo que no seio della quer encarnat-se, O anjo a saida, chama-a cheia de graga e bemdita entre as mulheres. A virgemzinha humilde perturba-se com esses louvores por causa da sua profunda humildade. O anjo, porém, anima-a e Ihe diz que achou graga diante de Deus; isso é a graca que estabelece a paz entre Deus e os homens, e repara os estragos occasionados pelo peccado. Em seguida annunciathe o nome de Salvador que de- veria dar ao filho: Vocabis nomen eius Iesum 1 — «Pér-lhe- és 0 nome de Fesusy. Annuncia-lhe que seu filho seria © proprio Filho de Deus, que devia remir o mundo e desta forma reinar sobre os coragdes dos homens, Eis que afinal Maria consente em ser mde de tal Filho: Fiat mihi secundum verbum tuum? — «Faca-se em mim segundo a tua palavray, Eno mesmo momento o Verbo Eterno se fez carne e ficou sendo verdadeiro homem: At Verbum caro factum est’ —«E 0 Verbo se fez carne». IL. O Verbo divino feito homem por mim, se bem que Vos veja tao humilhado e feito crianga pequenina no seio de Maria, tenho e reconhego-Vos por meu Senhor e Rei, mas Rei de,@Mor. Meu caro Salvador, visto que viestes sobre a terra € tomastes a nossa misera came afim de reinar sobre ©8 nossos coragses, ah! vinde estabelecer o 1 Ine. 3t "Lue. 1, 38, To. 1, 14 QUARTA-FRIRA, 7 vosso reino tambem em meu coracio, que em outros tempos esteve sob 0 dominio dos vosscs inimigos, mas agora, assim 0 espero, & vosso. Quero que seja sempre vosso e que de hoje em diante Vés sejais o seu unico senhor: Dominare in medio inimicorum tuorum' — «Reinae no meio dos vossos inimigos>. Os outros reis reinam pela forca das armas, mas Vés vindes reinar com a forca do amor, € por isso, nfo viestes com pompa real, nao vestido de purpura e outo, nfo ornado com sceptro e corda, nem acompanhado de exercitos de soldados. Viestes para nascer numa estrebaria, pobre e abandonado, para ser posto “numa mangedoura sobre um pouco de palha, porque é assim que quereis comegar a reinar em nossos coragdes. © meu ReiMenino! como tenho podido revoltar-me tantas vezes contra Vés € viver tanto tempo como vosso inimigo, privado de vossa graca, ao passo que Vés, para me obrigardes a Vos amar, abdicastes da vossa majestade divina ¢ Vos humilhastes até ser visto, ora como crianga numa lapa, ora como official numa loja, ora como réu sobre uma cruz? Feliz de mim, se tendo sahido, con- forme espero, da escraviddo de Lucifer, me deixe para sempre governar por Vés e pelo vosso amor! O Jesus, meu Rei, Vés que sois tio amavel ¢ tao enamorado de nossas almas, eia, tomae posse da minha; eu Vola dou toda inteira, Acceitae-a afim de que Vos sirva sempre, mas Vos sirva pot amor. A vossa majestade merece ser te- mida, mas a vossa bondade muito mais merece ser amada, Vos, 6 meu Rei, sois ¢ sereis sempre o meu unico amor, © 0 unico temor que ferei, serd o de Vos dar desgosto. Assim espero. Ajudaeme com a vossa graca. — Querida Senhora minha, Maria, vés deveis impetrar-me a graga de fidelidade a este Rei amado da minha alma, (II 327.) © Pe, 109, 2. 5. Amoose, Meditagses, 1 a 18. PRIMRIRA SEMANA DO ADVENTO, QUINTA-FEIRA. Jesus illumina o mundo ¢ glorifica a Deus. Creavit Dominus novum super terram—~ «O Senhor ereou uma cousa nova sobre a terra» (Jer. 31, 22) Sunmario, Antes da vinda do Messias o mundo estava abysmado na ignorarcis, © 0 Deus verdadeiro era apenas conhecido num cantinho da terra, ra Judea, De todas aquellas revaslvzou.nos Jesus Christo, que desde 6 primero instante da sux conceigko dew mais gloria ao Padre Eterno, do aque the tom dado e darto todos 0s Anjos ¢ Santos. Tosiemos animo nés, os pobres peceadores, e offeregamos a DeusPae este Menino ¢ resaril-o-emos de todas a9 offensas que Ihe temos feito I. Antes da vinda do Messias, 0 mundo estava abys- mado na noite tenebrosa da ignorancia e do peccado. No mundo 0 Deus verdadeiro eta conhecido tao sémente num cantinho da terra, a saber, na Judea: Notus ix Judaca Deus— «Deus é conhecido na Fudears. Em todo o resto dv mundo eram adorades como deuses os demonios, os animaes e as pedras. Em toda a parte reinava a noite do peccado, que cega as almas, enche-as de vicios, priva-as da vista do estado miseravel em que se acham, inimigas de Deus € condemnadas ao inferno. Dessas tre- vas veiu Jesus livrar 0 mundo. Livrou-o da idolatria dando- Ihe 0 conhecimento do Deus verdadeito; livrou-o do pec- cado com a luz de sua doutrina e dos seus exemplos divinos: O Filho de Deus veiu ao mundo para destruir as obras do diabo'. propheta Jeremias predisse que Deus havia de crear um novo Menino para ser 0 Redemptor dos homens: Creavit Dominus novim super terram. Esse novo Menino foi Jesus Christo, que faz as delicias do paraiso e & o amor de Deus-Padre, que fala assim: Este ¢0 meu Filho dilecto em que deposito as minhas complacencias*, E este Filho quem se fez homem, Embora crianga nova, 1 Ps 15s Fito, 3,8 © * Math, a7, 5 ut rA-rEERA, 19 deu a Deus mais honra e gloria no primeiro momento de sua creagéo do que lhe teem dado e durante toda a eternidade the poderdo dar todos os Anjos ¢ Santos juntos. Por isso ¢ que no nascimento de Jesus os Anjos can- taram: Gloria in excelsis Deo— «Gloria a Deus nas al- turas>, JesusMenino rendeu a Deus mais gloria do que Ihe arrebataram os peccados de todos os homens. I. Tomemos, pois, animo, nés, pobres peccadores. Offerecamos ao Padre Eterno 0 divino Menino; apresen- temos-Ihe as lagrimas, a obediencia, a humildade, a morte € 0s meritos de Jesus Christo ¢ rasarciremos a Deus toda a injuria que com as nossas offensas lhe tenhamos feito, Ah! meu Deus eterno, eu Vos deshonrei, pospondo tantas vezes a vossa vontade 4 minha, e a vossa santa graca ds minhas satisfacc6es vis e miseraveis. Que espe- tanga de perdao poderia cu ter, se Vés ndo me tives: seis dado Jesus Christo exactamente afim de que fosse a esperanga de nds, peccadores? Ipse est propitiatio pro peccatis nostris!— «Elle ¢ a propiciacao pelos nossos pec cados». Sim, porque Jesus Christo, sacrificando a vida Para satisfaccdo das injurias que nds Vos tinhamos feito, mais gloria Vos deu, do que nés Vos deshonraramos com os nossos peccados. Acceitae-me, pois, 6 meu Pae, pelo amor de Jesus Christo. Peza-me, 6 Bondade infinita, de Vos ter offendido. Nao sou digno de perdao; mas Jesus Christo ¢ digno de ser Por Vés attendido, Estando pregado na cruz por mim, elle Vos pediu um dia: Pater, dimitte—«Pae, perdoae- Jhess; © mesmo agora no céu Vos pede que me acceiteis Por filo: Advocatum habemus lesum Christum, qui etiam inter pellat pro nobis®—«Temos por advogado Jesus Christo, que tambem intercede por nos», Acceitae um filho ingrato que primeiro Vos deixou, mas agora volta com a reso- toa ted a 20 PRIMEIRA SEMANA DO ADVENTO. lugio de Vos amar. Sim, meu Pae, eu Vos amo e quero amar-Vos sempre. Ah! meu Pae, agora que conhego o amor que me tendes tido ¢ a paciencia que por tantos annos haveis usado para commigo, nao quero mais viver sem Vos amar. Dae-me um grande amor que me faga sempre chorar os desgostos que Vos tenho dado, a Vés, meu Pae to bom, e me faga sempre arder de amor para com um Pae tao amante. Meu Pae, eu Vos amo, eu Vos amo, eu Vos amo.— © Maria, Deus é meu Pae e vés sois minha Mae, Vés podeis tudo junto de Deus: ajudae-me; alcangae-me a santa perseveranga e o seu santo amor. (Hl 329.) SEXTA-FEIRA, Quaes sejam os que na verdade seguem a Jesus Christo. - Si quis volt post me venire, sbneget semetipsum, et ‘ollat Se alguem quer vir epés de mim, neguese a si mesmo, tome a sun cruz cada dia, © sige: me> (Lite, 9, 23) " crucem suam quotidie, et sequatur me Summario. Devemo-nos persuadir de que Deus nos conserva no mundo, ppara que supportemos com paciencia as tribulagdes que elle mesmo nos envia para o nosso bem. Resolvamo-nos, pois, a recusar a nés mesmos aquillo que wm amor proprio desordenado nos pede; sbracemos de bon vontade a nossa cruz de cade dia; € nilo nos cencemos de a carregar ap6t de Jesus Christo até so Calvario, isso 6, até & morte, I, Facamos hoje algumas reflexes sobre estas palavras de Jesus Christo. Si guis vult post me venire — «Se alguem quer vir apbs de mim.» Jesus nfo sémente quer que a elle vamos, senZo que vamos em seu seguimento, Jesus vae sempre para diante e no péra emquanto no chegar ao Calvario, onde ird morrer. Portanto, se 0 ama- mos, devemos seguil-o até 4 nossa morte, Por isso faz-se mister que cada um se negue a si mesmo: abneget se- metipsum ; isso 6, recuse a si mesmo 0 que 0 amot pro- prio pede, mas que nao & do agrado de Jesus Christo. SUXTALPEORA. 24 Dizainda: Tollat crucem suam quotidie et sequatur me— «Tome a sua crus cada dia e sigame.» Tollat, tome: de pouco serve carregala forgadamente; todos os pec- cadores a carregam, mas sem merecimento. Para a car- regarmos com merecimento, devemos abracal-a de boa vontade.— Crucem, a crus: sob 0 nome de cruz vem toda a tribulagio, que por Jesus Christo é chamada cruz, afim de nola tornar doce, com pensar que em uma cruz elle morreu por nosso amor. Jesus diz: svam, a sua cruz, Alguns, ao receberem qualquer consolagéo espiritual, se offerecem para sofirer 0 que teem soffrido os martyres: aculeos, unhas de ferro laminas candentes; mas, logo em seguida nao sabem soffrer alguma dér de cabeca, uma falta de attengao da parte de ‘um amigo, o enfado de um parente. Irmo meu, Deus nfo quer de ti que soffras nem cavalletes, uem unbas de ferro, nem laminas candentes; mas quer que soffras com pa- ciencia essa dér, esse desprezo, esse aborrecimento. Tal outro quizera ir a um deserto para sofirer; quizera pra- ticar grandes penitencias; entretanto nao sabe supportar uum seu superior, um seu companheito de officio. Deus, porém, quer que elle carregue a cruz que lhe é dada para carregar, ¢ nZio aquella que elle mesmo escolheu. Ainda diz: quotidie, cada dia. Alguns abragam a cruz no principio, quando ella se apresenta; mas quando dura, dizem: Nao posso mats. Todavia, Deus quet que conti- nues a cartegal-a com paciencia, muito embora fosse pre- ciso carregal-a sem cessar até 4 morte. Eis ahi portanto em cue consiste a salvagio a perfeiggo; consiste em cumprir estas tres palavras: Adneget, recusemos a0 amor proprio 0 que nao the convem. Tollat, abracemos a cruz que Deus nos envid? Seguatur, sigamos as pegadas de Jesus Christo até 4 morte IL. Devemo-nos, pois, persuadir de que Deus nos con- serva no mundo, para que carreguemos as cruzes que nos 22 PRIMUIKA SEMANA DO ADVENTO, envia; € € isto o que faz a nossa vida meritoria, Porque nosso Salvador nos ama, veiu sobre esta terra, néo para gozar, mas para soffrer, afim de que lhe sigamos as pe gadas: Christus passus est pro nobis, vobis relinguens exemplum ut sequamini vestigia eius — «Christo padecen por nbs, deixando-vos exemplo, para que sigais as ssas pisadas'. Contemplemol-o, a Elle que vae adiante com: a sua cruz, afim de tragar-nos 0 caminho pelo qual devemos seguil-o, se nos quizermos salvar. Oh! que grande re- medio, dizer a Jesus Christo em cada afflicgio: Senkor, ‘Vés quereis que eu carregue esta cruz; acceito-a e quero soffrel-a até quando quizerdes, Assim, e muito mais ainda, © merece Jesus Christo, que, para nos livrar do inferno, escolheu uma vida de trabalho e uma morte de dér. Jesus meu, sémente Vés pudestes ensinar-nos estas maximas de salvagéo, de todo contrarias 4s maximas do mundo, e sémente Vés nos podeis dar a forca para car- regarmos a cruz com paciencia. Néo Vos pego que me facais isento dos sofirimentos; peco-Vos sémente que me deis forga para soffrer com paciencia ¢ resignagdo. Padre Eterno, vosso Filho prometteu que nos havieis de dat tudo quanto Vos pedissemos em seu nome: Amen, amen dico vobis, si guid petieritis Patrem in nomine meo, dabit vobis?. Eis, pois, 0 que Vos pedimos: dae-nos a graca de soffrer com paciencia as afflicgbes desta vida: attendei- nos pelo amor de Jesus Christo. — E Vés, 6 meu Jesus, perdoae-me todas as offensas que Vos tenho feito, por nao ter praticado a paciencia nas cruzes que me enviastes, Dae-me 0 vosso amor: que me dard forca para soffrer tudo por Vés. Privaeme de todas as cousas, de todos os bens terrestres, dos parentes, dos amigos, da satide do corpo, de todas as consolagdes; tiraeme ainda a vida, mas no 0 vosso amor. DaeVos a mim, e nada mais ty Pete a, 21. to. 16, 23, SABBADO, 23 Vos pego. Virgem Santissima, obtende-me para com Jesus Christo um amor constante até 4 morte, (*II 267.) SABBADO. Ineffavel dignidade de Maria Santissima. ‘De qua natus est Tesus, qui vocatur Christus — «Da qual nateeu Jesus, que se chamne o Christos (Matth. 1, 16). Sumario, ike grande 4 dignidade de Maria como nile de Jens Cristo, que 46 Deus com a sts stbedorininfntn a pode comprehender, mas (odes sua emoipotencia nfo pode fever outea maior. Fagtmos tm acto de viva {€ seorea desta divine mmatemidede; slegremo-nos com Santiasima Virgem. ¢ avgmentemor a nosta confiangs nella, porquanto de certo modo ngs € devedora da sun sls dignidade, I. Para comprehender a altura a que Maria foi subli- mada, mister se faria comprehender quo sublime é¢ a alteza e grandeza de Deus, Bastard dizer que Deus fea a Santissima Virgem mae do seu Filho para ficar enten- dido que Deus no a pode elevar mais alto do que a elevou, Bem disse Santo Arnaldo Carnotense que Deus, fazendo-se Filho da Virgem, sublimou-a acima de todos os Santos e Anjos. Ainda que, em verdade, ella seja in- finitamente inferior a Deus, ao mesmo tempo esté immensa € incomparavelmente acima de todos os espiritos celestiaes, como fala Santo Ephrem. Por este motivo Ihe diz Santo Anselmo: Serhora, vés nao tendes quem vos seja igual, Porque tudo quanto ha, esta acima ou abaixo de vés; sé Deus vos é superior, € todos os mais vos sao inferiores. Em uma palavra, é tho grande a dignidade da Virgem, que, se bem que Deus s6 com a sua sabedoria infinita a ossa comprehender, todavia, no dizer de Sao Boaventura, com toda a sua omnipotencia nao pode fazer outra maior — Ipsa est gua maiorem facere non potest Deus. — Quem considerar isto, deixard de estranhar porque os santos Evangelistas, que tio diffusamente registram os louvores de um Joao Baptista, de uma Magdalena, tdo escassos se 24 PRIMEIRA SEMANA DO ADVENTO. mostram em descrever as grandezas de Maria. Tendo dito que desta eximia Virgem nasceu Jesus: de gua natus est Jesus, no julgaram necessario accrescentar outra cousa; porque neste seu maior privilegio se acham incluidos os demais. Qualquer titulo que se Ihe dé, nunca chegard a honral-a tanto quanto o de Mae de Deus. Fagamos um acto de viva { na maternidade divina de Maria, alegremo-nos com ella, agradecamos a Deus por ella e protestemos que estamos promptos a dar a nossa vida em defesa desta verdade, como de todas as outras que the dizem respeito. IL. Diz Santo Anselmo que é mais pelos peccadores do que pelos justos que Maria foi sublimada a Mae de Deus; do mesmo modo que Jesus disse de si proprio que veiu para chamar, nao os justos, senfo os peccadores. A di- vina Mae tem, pois, uma certa obrigagiio de soccorrer os miseraveis que se Ihe recommendam, porquanto é a elles que por assim dizer, devedora de sua altissima digni- dade: Totum quod habes, peccatoribus debest, — Con- xtatulemo-nos, portanto, com Maria, sim; mas congratu lemo-nos tambem com nés mesmos e ponhamos nella toda a nossa esperanga. +O Mae de Deus, eis aqui a vossos pés um miseravél peceador, que a Vés recorre e em Vés confia, N&o me- rego que lanceis sobre mim o vosso olhar; mas sei que, vendo vosso Filho morto para a salvagdo dos peccadores, tendes um extremo desejo de ajudal-os. O Mae de mi- sericordia, véde as minhas miserias ¢ tende piedade de mim. Ougo que todos vos chamam refugio dos peccadores, esperanga dos que desesperam: séde tambem o meu re- fagio, a minha esperanca, 0 meu auxilio, Deveis salvar- me com a vossa intercessao. Soccorreime pelo amor de Jesus Christo. Extendei a mio a um pobre cahido que se * Guith, Paris, SEGUNDA SEMANA DO ADVENTO. 25 recommenda a vés, Sei que ¢ a vossa consolagio ajudar am peccador, quando € possivel; ajudae-me, pois, j4 que © podeis fazer. Pelos meus peccados perdi a graca di- vina ea minha alma, Entrege-me em vossas m&os; dizei me que hei de fazer para de novo entrar na graga do meu Senbor; quero fazel-o sem demora, Elle me envia a vés, para que me soccorrais, quer que eu me refugie na vossa misericordia, afim de que eu me salve ndo s6- mente pelos merits de vosso Filho, mas tambem pelas vossas orag6es. A vés recorro; e vés rogae por mim, Mostrae como sabeis valer a quem confia em v6s, Assim espero, assim seja%, (*I 184.) SEGUNDO ‘DOMINGO DO ADVENTO. © encarceramento de Jodo e a utilidade das tribulagdes. Toannes autem cum audsset in vinci opera Christi... —+Como Joto, esuando no carcere, tvese ouvido as obras de Christo». * (Oath. 135 2), Summario. & muito grande viliiade que nos trzem as teibulagles (© Senhor nolas envin pare emt seguide not enriguecer com as melhores rages. Conserve, com efit, que Sto Joo, estando encarcerado, chegs feonhecer as obris de Christo, « reeebe delle 08 mais elevados logics. No tempo das tribulagdes, em vex de nos lnsitnarmos, abracemos a cruz com resignagio e com acyfo de gress. 1, E no tempo das tribulagées que Deus enriquece as almas, suas predilectas, com as gracas mais copiosas. Véde Sao Jodo Baptista, que entre as correntes ¢ as an- gustias do carcere chega a conhecer as obras de Jesus Christo, recebe da bocca de Jesus os elogios mais hon- rosos de homem forte, de penitente austero, de maior dos * Quem recitar esta oragdo om din de Domingo, accrescentando tres Ave Maries, em reparagio ae blasphemias contra a B, Virgem, ganba 300 dias de indulgencia, 26 SEGUNDA SEMANA DO ADYENTO. prophetas, © € apontado e tido como 0 Anjo do Senhor, destinado a preparar-lhe 0 caminho: Praeparabit via ‘am ante te. Bem apteciaveis sdo, portanto, as utilidades que as tribulagdes nos trazem, e 0 Senhor nol-as envia no porque nos quer mal, mas porque nos quer bem. Qui non est tentatus, quid scit?\— «Quem niio foi ten- tado, 0 que sabe?» Quem vive na prosperidade ¢ nunca tem experimentado a adversidade, nada sabe acerca do estado da sua alma e serd molestado com muitas ten- tagdes de soberba, de vangloria, de cubiga de mais ri- quezas, de mais honras, de mais prazeres. Ora, de todas estas tentagdes livram-nos as adversidades, ao mesmo tempo que nos fazem humildes e contentes no estado em que approuve ao Senhor collocar-nos. — A demais, ellas des- vendam-nos 0s olhos que a prosperidade tinha vendado; € se somos peccadores, no sémente reconduzem-nos, como outr'ora 0 filo prodigo, aos pés de nosso Pae celestial, mas ainda nos farko satisfazer pelos peceados commettidos, muito melhor do que o fariam todas as penitencias por nés livremente escolhidas. His a razdo por que Santo Ago- stinho reprehende 0 peccador que se lamenta das tribula- g6es enviadas por Deus e the diz: Meu irmio, quem te déra comprehender que remedio efficaz sao as tribulagses para curat as chagas que te feriram os peccados! Se somos justos, as tribulagdes nos desprendem o cora- go das cousas da terra, visto que nao achamos nella senso amarguras, Affeicbam-nos aos bens do céu, onde se acha a verdadeira felicidade, fazem-nos frequentemente lembra- dos-de Deus e obrigam-nos a recorrer a sua misericordia, ao vermos que 5 elle-nos pode alliviar das nossas mi- serias. — Mas, o que mais é as tribulagées fazem-nos ganhar grandes thcsouros de meritos junto de Deus, furne- cendo-nos occasifio para praticar as virtudes que Ihe sto * Beeli, 34 9. DOMINGo. 27 mais caras, taes como a humildade, a paciencia, a con- formidade com a vontade divina, et Numa palavra: so taes e tantas as vantagens das tri- bulagoes, que Sto Thiago chega a chamar bemaventurado quelle que as sofire com paciencia: Beatus vir gui suffert tentationem TI, Aquelle que vive nesta terra em tribulagées, tem isso um signal certo de que ¢ querido de Deus, € tanto mais querido, quanto mais graves ellas orem. «Porque eras acceito a Deus, foi necessario que a tentacao te pro- vasse», disse 0 anjo a Tobias®, Jesus disse o mesmo mais claramente a Santa Teresa: «Minha filha», disse-lhe, «as almas mais queridas de meu Pae so aquellas que sofirem padecimentos mais graves.» A Sante, pois, animada deste espirito, costumava dizer que nfo quizera trocat os seus soffrimentos por todos os thesouros do mundo. Deste mesmo espirito nés tambem devemos estar ani- mados, se quizermos chegat um dia ao paraiso e ser glori- ficados como Santos.—Bem longe de nos lamentarmos nas tribulag6es, abracemolas dando gragas a Deus; ac- ceitemol-as no sémente conformando-nos com a vontade divina, mas alegrando-nos por Deus nos tratar como tratou a Jesus Christo, 0 Homem de déres, e Matia Santissima, a Rainka dos Martyres. Digamos muitas vezes com Job Si bona suscepimus de manu Dei, mala quare non susci- Piamus?® — Si de boa vontade tenho recebido da mao de Deus os bens, i, é a prosperidade terrestre; porque néo receberei com mais satisfacgao os males, i. é. as tribulagSes que me sio muito mais vantajosas do que a prosperidade? Faga o Senhor de mim e de tudo o que é meu segundo @ sua vontade e seja sempre bemdito o seu santo nome: Sit nomen Domini benedictum ', "ae, a, 12. “0b 1, 21 * tob. 42, 43, Heb 2, 28 SRGUNDA SEMANA DO ADVENTO, Assim quero fazer, 6 meu Deus. Mas Vés, que conhe- ceis 0 meu nada, confortae-me com a vossa santa graca, e «excitae 0 meu coragio a preparar os caminbos para 0 vosso Filho unigenito, afim de que, pela sua vinda, possa servir-vos pura e sinceramente>', Fazeio pelo amor de Jesus Christo, | Doce Coraao de Maria, stde minka sal- vacao?, (II 348) SEGUNDA-FEIRA, Deus entrega o proprio Filho @ morte para nos dar a vida. Deus autem, qui dives est in mitericordia, propternimiam car tatem suam, qua dilexit nos, et cum essemus mortui peccatis, con viviieavit nos Christo — «Deus que 6 rico em misericordia, por causa da extrema caridade, com que nos amou, tambem quando rmortos estavamos pelos peceados, nos convivifcou em Chrstow (Eph, 2 4) Sumario, Belas mosses calpes nés, pobres peccadores, jé estavamos todos mortos e condenaados 0 inferno. Deus, porém, por eause do im rmenso amor que tem 4 nosses slmas, quiz restitirnos & vide, enviando 4 terra o seu Fitho unigenito para morrer por nés. Pois dizeisme: Se Jesus Christo morreu for nosso amor, nfo € mais do que justo, que nés sémente para clle vivimos, que elle seja 0 unico senhor dos nossos coragées? I, Cousidera que 0 peceado ¢ a motte da alma; visto que esse inimigo de Deus nos priva da graca divina, que a vida da alma Assim nés, os pobres peccadores, jé estavamos todos mortos por nossa culpa e todos condem- nados ao inferno. Deus, porém, por causa do immenso amor que tem ds nossas almas, quiz restituir-nos 4 vida. Que fez? Enviou 4 terra o seu Filho unigenito afim de morrer € com a sia morte recuperar-nos a vida. —¥ com taro que 0 Apostolo chama esta obra de amor: mimiam caritatem, excesso de amor. Com effeito, nunca o homem © Or, Dom, occurs, + 300 dias de indulg. cada vex, SEGUNDA-FERUA, 29 pudera nutiir esperanga de receber a vida de um modo tao amoroso, se Deus nfio houvera excogitado esse meio de remilo. Estavam mortos todos os homens, ¢ nfo bavia para elles remedio, Mas 0 Filho de Deus, pelas entranhas de sua misericordia, desceu do céu a restituirnos 4 vida, E éxactamente por isso que o Apostolo chama Jesus Christo vita nostra, nossa vida, Bis que 0 nosso Redemptor, j4 incarnado e feito menino, nos diz: Veni ut vitam habeant, et abundantius habeant!— «Eu vim pata elles terem vida, € para a terem em maior abundancias. Jesus veiu e es: colheu a morte para si, afim de nos dar a vida.— E, pois, justo que vivamos unicamente para um Deus que se dignou de morrer por nés. E justo que o unico senhor de nosso coragio seja Jesus Christo, porquanto deu o seu sangue e a sua vida para o ganhar. O meu Deus, quem ser to ingrato e t4o desgragado que, sabendo pela’ f€ que um Deus morreu para lhe grangear fo amor, se recuse a amal-o e, renunciando 4 amizade divina, queira fazer‘se, por sua livre vontade, escravo do inferno? II. O meu Jesus, se Vés niio tivesseis acceitado e padecido a morte por mim, teria eu ficado morto no meu peccado sem esperanga de me salvar e de poder amar- Vos, Mesmo depois que com a vossa morte me obtivestes a vida, eu muitas vezes tenho tornado a perdela volun- tariamente pelos meus peceados. Morrestes para Vos as- senhoreardes do, meu coragdo, e eu, rebellando-me contra Vés, escravizei-0 a0 demonio. Tenho-Vos desrespeitado ¢ dito que nao Vos queria para meu Senhor. Tudo isso é verdade, mas € tambem verdade que ndo quereis a morte do peccador, mas que se converta viva, ¢ Vés morrestes afim de nos dardes a vida, "To, 10, 10. 30 SEOUNDA SHMANA DU ADVENTO. ‘Amado Redemptor meu, peza-me de Vos ter offendido; perdoaeme pelos merecimentos de vossa Paixfo, Daeme a vossa graga; daeme aquella vida que me adquiristes com a vossa morte, € de hoje em diante reinae como su- premo senhor em meu coragdo. Nao, nfo quero mais que seu senhor seja o demonio, que nao é meu Deus, que nao me ama e nada tem padecido por mim, Em tempos passados foi elle nfo o verdadeiro senhor de minha alma, senfo © injusto possuidor. Vés sé, Jesus meu, sois o meu verdadeiro Senhor, Vés que me haveis creado e remido com 0 vosso sangue; Vés sé me haveis amado e amado tanto. E justo que eu seja unicamente vosso no tempo de vida que me resta, Dizei-me o que quereis que eu faga, pois que eu quero fazel-o, Castigae-me como qui- rerdes: acceito tudo. Poupaeme sémente o castigo de ter de viver sem 0 vosso amor; fazei com que Vos ame, ¢ depois disponde de mim segundo a vossa vontade, — Maria Santissima, meu refugio € minha consolacao, fecommendae- me avosso Filho; a sua morte e a vossa intercessio sio a minha unica esperanga. (II 332.) TERGA-FEIRA }. Retrato de um homem que acaba de passar 4 outra vida. ‘Auferes spititum eorum, et deficient, et in pulverem suum re tentur — «Tirarhes-és 0 espirito, ¢ deixarko de ser, © tomar. sefo no seu pls (Ps, 103, 29). Sunmario, Tmagiemos que sstemor vendo uma pessot que actbs de expirar, Contemplemos nesse cadaver a eabega pendida sobre © peito, © cabello desgrenhado, os olhes encovades, as faces desctrnadas, o rosto cinzento, a lingua © 01 labios cdr de ferro, o corpo fio © pestdo, Quantes pessos, & vista de um parente ou de wm amigo motto, nfo mids. ram de vide ¢ deixaram o mundo! 1 Qs devotos de S. Affonso podem tomar hoje x meditaglo sobre sun gaciencia € amor da crus. V. Appendice 9.1.» “TRRGA-PEIRA, 31 I, Imagina que estés vendo uma pessoa que acaba de exhalar 0 ultimo suspiro, Contempla esse cadaver deitado ainda no leito, a cabeca cahida sobre o peito, o cabello desgrenhado, banhado ainda no suor da morte, os olhos encavados, as faces descarnadas, 0 rosto cinzento, a lingua € 08 labios cét de ferro, © corpo todo fric e pesado. Empallidece ¢ treme quem quer que o ve. Quantas pes- soas, 4 vista de um parente ou amigo defunto ndo mudaram de vida e deixaram 0 mundo!—Mais horror ainda in- spira 0 cadaver, quando comeca a corromperse. Nao se passaram bem vinte e quatro horas que esse mogo mor- reu, € jd o mau cheiro se faz sentir. E preciso abrir as janellas e queimar bastante incenso; ¢ preciso cuidar que em breve seja levado 4 igreja € posto debaixo da terra, para que ndo infeccione a casa toda, Eis ahi em que se tornou esse mogo orgulhoso, esse dissoluto! Ainda ha pouco acolhido e desejado nas socie- dades, ¢ ageta feito objecto de horror e de abominagao para quem o vel Os parentes anceiam por fazel-o levar para fora da casa e pagam aos coveiros para que o levem en- cerrado num caixto, eo entreguem 4 sepultura, Outr'ora gabavam-se 0 espitito, a belleza, o trato fino e bons ditos; mas ouco depois de sua morte perdese a memoria de tudo isso: Peviit memoria corum cum sonitu!— «A me- moria delles pereceu com ruido». Ao ouvirem a noticia de sua morte, uns dizem que era homem honrado, outros que deixou os negocios em bom estado; uns lamentam-se, porque o defunto era-lhes Util; outros regozijam-se, porque a morte delle Ihes traz Proveito, Porfim, dentro em breve, j4 ninguem falard nelle, Desde os primeiros dias os parentes mais chegados do querem ouvir falar delle afim de nao se thes avivar % saudade. Nas visitas de pezames tratase de outros 32 SHOUNDA SEMANA DO ADYENTO. assumptos, e se algeem por ventura fala do defunto, logo os parentes atalham: Por favor, no pronuncieis mais © seu nome, E entretanto, onde é que estard a alma daquelle infeliz? II. Pensae que assim como vés fizestes na morte de vossos amigos, assim os outros fardo para comvosco, Os vivos apparecerio por sua vez na scena, occupando os bens € 05 logares dos mortos, ¢ destes jé nio se faz ou quasi que nao se faz caso ou mengdo, Os parentes affigit- sedio ao principio por alguns dias, mas depressa consolar- seo com a parte da heranga que Jhes couber, de tal sorte que dentro em breve até se regozijario de vossa morte. No mesmo quarto onde exhalastes a alma, e onde fostes julgado por Jesus Christo, se jogird ¢ se riré como, antigamente, E a vossa alma onde estard entio? © Jesus, Redemptor meu, agradego-Vos por ndo me terdes deixado morrer quando estava em desgraga com- vosco. Ha quantos annos nao mereceria estar no inferno! Se eu tivesse morrido em tal dia, tal noite, que seria de mim por toda a eternidade? Senhor, eu Vos agradego ¢ no quero mais resistir as vossas chamadas. Quem sabe se as palavras que acabo de ler, no séo para mim o ‘yosso ultimo convitel Confesso que no merego miseri- cordia: tantas vezes me tendes perdoado e eu, ingrato, tenho tornado a oftender-Vos. Mas j4 que nfo sabeis des prezar um cora¢do que se humilha ¢ se arrepende, eis aqui um traidor que a Vos recorre atrependido. Por pie- dade, nao me afasteis. Verdade € que Vos ultrajei mais que muitos outros, pois que, mais que muitos outros fui favorecido por Vés com luzes e gragas, mas o sangue que derramastes por mim, anima-me e offerece-me 0 perdio, se eu me arrepender. Sim, meu Bem supremo, arrependo-me de toda a minha alma de Vos ter desprezado. Perdoae-me e dae-me a graga de Vos amar para o futuro, Jé demasiada- mente Vos offendi. Nao quero empregar a vida que ainda QuaRTA-FeTRA. 33. me resta, a offender-Vos, quero empregal-a a chorar sempre os desgostos que Vos dei, e a amar-Vos ée todo o meu coragiio. — © Maria, esperanga minha, rogae a Jesus por mim, (U7. QUARTA-FEIRA. Amor que o Filho de Deus nos mostrou na Redempgao. Dilext noe et tadidit semetiprum pro nobis — «Christo nos amou € se entregou a si mesmo por nése (Eph. §, 2). Sumario, & aalvagio 0% x condemnagio de todes os homens nfo augmenta nem diminue de nada a felicidade do Filho de Deus, que € bbemaventurange mesma. Todavia elle tem feito e padecido tanto por n6s, que, s© a sun beatitude fra dependente da nosss, nfo teria podido pi decer e fazer mais, Qufo grande nfo deve, pois, ser nosso amor pert com Jesus Christo © quo grande a nossa confianga de obtermos, pelos seus merecimentos, todas as gragas que desejemos! I. Considera que 0 Verbo Etermo ¢ 0 Deus infinita- mente feliz em si mesmo, de tal sorte que a sua felicidade nao pode ser augmentada, Nem mesmo a salvagdo ou a condemnago de todos os homens podem acrescentar-Jhe ou diminuirlhe alguma cousa. Comtudo, para nos salvar a nés, vermes miseraveis, elle tem feito e padecido tanto, que, se a sua beatitude, no dizer de Santo Thomaz, tivesse sido dependente da do homem, nao podéra fazer nem padecer mais, Com effeito, se Jesus Christo néo pudéra ser feliz sem a nossa redempgdo, como poderia humilhar- se mais do que se humilhou, tomando sobre si todas as nossas enfermidades, as humiliagGes da infancia, as mi- serias da vida humana e uma morte to desapiedada ¢ ignominiosa? Sé um Deus era capaz de amar-nos to ex- Cessivamente a nés miseros peccadores, to indignos de Sermos amados. Diz um piedoso escriptor: «Se Jesus Christo nos tivesse Permittido pedirthe a maior prova de seu amor, quem Jamis se atreveria a pedirthe que se fizesse homem como ono, Meigs. 3 34 SEOUNDA SEMANA DO ADVENTO. nds, que se sujeitasse a todas as nossas miserias; ainda mais, que se fizesse de todos os homens 0 mais pobre, © mais desprezado, o mais maltratado, até morrer por mao de algoz e 4 forga de tormentos num patibulo it fame, amaldigoado e abandonado de todos, mesmo de seu proprio Pae, que desamparou o Filho, para nZo nos abandonar a nds em nossa perdigéo? Mas o que nés nem ousdéramos conceber em pensamentos, o Filho de Deus (0 excogitou ¢ realizou.» — Desde 0 berco 0 divino Menino se offereceu por nds aos trabalhos, aos opprobrios ¢ 4 morte: Dilexit nos, et tradidit semetipsum pro nobis'— «Elle nos amou e se entregou a si mesmo por nds.» Sim, Jesus nos amou, € por amor se nos deu a si mesmo, afim de que, offerecendo-o ao Pae como victima, em ex- piagsio de nossos delictos, possamos, em vista de seus meritos, obter da divina bondade todas as gragas que desejarmos, Esta victima agrada mais ao Pae do que se Ihe fosse offerecida a vida de todos os homens e de todos os anjos. Offerecamos, portanto, sempre a Deus os merecimentos de Jesus Christo, e por elles busquemos ¢ esperemos todo o bem. IL, O meu Jesus, eu seria por demais injusto para com a vossa misericordia e 0 vosso amor, se, depois de me averdes dado tantas provas do affecto que me tendes e do vosso desejo de me salvar, eu desconfiasse de vossa misericordia e¢ de vosso amor. Meu amado Re- demptor, eu sou um pobre peccador, mas Vés asseguraes que viestes para buscar os peccadores. Eu sou um pobre enfermo, mas Vés viestes para curar os enfermos. Eu sou um reprobo por causa de meus peccados, mas Vés viestes para salvar o que estava perdido: Venit enim Filius ho- minis salvare quod perierat®. Que poderei, pois, temer, se quizer emendar-me ¢ ser vosso? 1 Bph. 5, 2 # Math, 18, 11, quinTArEnR, 35 86 devo ter medo de mim mesmo ¢ da minha fraqueza; mas a minha fraqueza © pobreza devem augmentar a minha confianga em Vés, que Vos gloriaes de ser 0 refugio dos pobres € promettestes attender a todos os seus desejos: Desiderium pauperum exaudivit Dominus! — «0 Senhor ouviu os desejos dos pobres.» Bis a graca que Vos peco, 6 meu Jesus, dae-me confianga em vossos merecimentos, fazei com que sempre me recommende a Deus pelos vos- sos meritos. — Padre Eterno, pelo amor de Jesus Christo, livrae-me do. inferno e em primeiro logar do peccado. Pelos meritos desse vosso Filho, dae-me luz para conhecer a vossa vontade; daeme forga contra as tentagtes; dae- me 0 dom de vosso santo amor. Sobretudo supplico-Vos a graca de sempre pedir que me ajudeis pelo amor de Jesus Christo, que prometteu que haveis de conceder tudo quanto se pedir, 4quelles que Vos pedirem em seu nome. Se perseverar em pedir assim, serei salvo; se no o fizer, serei com certeza condemnado.— Maria Santissima, impetrae- me a grandissima graga da oragdo, da perseveranga em recommendarme sempre a Deus e a vés, visto que ob- tendes de Deus tudo quanto quizerdes. (I 333.) QUINTA-FEIRA. Jesus, Homem de déres desde o seio de sua Mae. Virum dolorum, ot seentem infrmiatem — «O homem de déres ¢ experimentado nos irbulhow (Is. 53, 3) Sumario. © primeire Adam gorou durante algum tempo as delicis lo paraiso tereal; ants o segundo Adem, Jesus Christo, nfo teve nem siquer um josiante cm sun vida que nfo foise chelo de affiegies « ago ins, porguanto desde o bergo alligit-o a dolorosa previsho ce todas as venas ¢ ignominiss que deveria padecer, e particularmente » prevsto 4s ingratdto de que os homene usariam para com elle. © efes! nds tembem temos contribuido parar contistar esse amebilsio Corto 1 Ps 9, 97. go 36 SEGUNDA SuMANA DO ADVENTO. 1. O propheta Isaias chama a Jesus Christo 0 homem de déres, FE com razio, porquanto a natureza humana de Jesus foi creada expressamente para padecer, ¢ assim desde 0 bergo comegou a soffter as majores déres, que os homens jamais teem sofitido. Para o primeiro homem, Adam, houve um tempo em que gozava as delicias do paraiso terrestre; mas o segundo Adam, Jesus Christo, nfo teve nem siquer um instante de vida que no fosse cheio ‘de afftiegées € agonias. Desde 0 berco affligivo a dolorosa previsio de todas as penas e ignominias que deveria padecer no correr de sua vida ¢ particularmente na hora de sua morte, quando deveria terminar a vida como que submergido num oceano de déres ¢ de op- probrios, assim como o predisse David: Vent in altitudi- nem maris, et tempestas demersit mes — «Cheguei ao alto mar ea tempestade me submergiur Desde 0 seio de Maria, Jesus Christo acceitou obediente a ordem de sen Pae acerca da sua paixdo ¢ morte, De sorte que ja antes de nascer previu os agoutes ¢ apre- sentou seu corpo para os receber; previu os espinhos e apresentow-Ihes a cabega; previu as bofetadas, e apre- sentowlhes as faces; previu os cravos apresentowlhes as mdos e os pés; previu a cruz e apresentou a sua vida, Dahi é que 0 nosso Redemptor, desde a primeira infancia ea cada instante da sua vida, padeceu um continuo mar- tyrio, e a cada instante offerecia esse martyrio por nés 20 Pae Eterno. Mas, 0 que mais o atormentou, foi a vista dos peccados que 0s homens haviam de commetter, mesmo depois da sua to dolorosa Redempcao, Na luz divina conhecia Jesus perfeitamente a malicia de cada peccado ¢ veiu ao mundo exactamente para tirar os peccados; mas ao ver em seguida o numero tio grande de peccados que ainda 1 Ps, 68, 3. QURVTA.FeIRA 37 iam ser commettidos, a angustia que o Coragao de Jesus sofireu, foi maior do que a que tem sofirido ow ainda sofiterdo todos os homens da terra. TI. Meu doce Redemptor, quando ¢ que comegarei a ser grato para com vossa bondade infinita? quando co megarei a reconhecer 0 amor que me tendes consagrado, fe as penas que tendes soffrido por minha causa? Nos tempos passados, em vez de amor € de gratidao, paguei- Vos com offensas e desprezos. Deverei continuar a viver sempre tao ingrato para comvosco, meu Deus, que nada poupastes para adquirir para Vés o meu amor? Nao, Jesus meu, néo ha de ser assim. Nos dias de vida que ainda me restam, quero ser-Vos grato; ¢ Vés mesmo deveis ajudar-me nisso. Se Vos tenho offendido, as vossas penas, a vossa morte sto a minha esperanga. Promettestes perdoar a quem se arrepende. Arrependo-me de todo 0 meu coragéo de Vos ter desprezado. Cumpri a vossa pro- messa, Amor meu, € perdoae-me, © meu caro Menino, contemplo-Vos nessa mangedoura como que jé pregado na cruz, visto que esta Vos esté presente ¢ Vés a acceitaes por mim, © Menino crucificado — assim quero chamar-Vos —, eu Vos agradego ¢ Vos amo. Deitado sobre essa palha, padecendo por mim e pre- parando-Vos para morrer por meu amor, Vés mandaes ¢ me convidaes a amar-Vos: Diliges Dominum Deum tium\— «Amarés ao Senkor, teu Deus». Ndo desejo outra cousa sengo amar-Vos. Jé que quereis ser amado por mim, dae- me todo esse amor que me pedis. O amor para comvosco & um dom vosso, e 0 dom mais precioso que podeis con- ferir a uma alma. Acceitae, 6 meu Jesus, 0 amor de quem, peccando, tantas vezes Vos tem offendido. Vés baixastes do céu para buscar as ovelhas perdidas: buscae-me, pois, a mim, que eu nio busco senfo a Vés. Vés quereis a "Lue. 10, 27 | 38 SEGUNDA SKMANA. DO ADVENTO. minha alma, e a minha alma ndo quer sendo a Vés. Vés amaes a quem Vos ama, segundo a vossa palavra: Di- ligentes me diligo' — «Eu amo a quem me amar, Eu Vos amo, amaeme tambem Vés; ¢ se me amaes, prendei- ‘me ao vosso amor, mas prendeime de tal maneira, que ‘eu ndo possa mais separar-me de Vés.— Maria, minha Mae, ajudaeme. Seja uma nova gloria para vés, verdes vosso Filho amado de um miseravel peccador, que em outros tempos o tem offendido tanto. (II 334.) SEXTA-FEIRA. Na cruz acha-se a nossa salvacao. Lignam vitae est his, qui apprehenderint eam; et qui tenuerit cam, beatus — «E arvore de vide para aquelles que langarem mo della; © € bemaventurado quem a nfo largar> (Prov. 3, 18) Summario. Se quisermos salvarnes, & mister que nos resolvamos carregar com paciencia a cruz que Deus nos manda, © a morrer nella por amor de Jesus Christo, assim como elle morreu na cruz por nosso amor. E este tambem o meio para acharmos a paz 10s sofirimentes. Quem re use acceitar a cruz, de ordinario mgment ‘quem a abraga e earrega com psciencia, tithe o peso © converte em consolagto the © peso; a0 passo que 1. Na cruz achase a nossa salvagdo, a nossa forga contra as tentag6es, 0 desapego dos prazeres terrestres; na cruz, em summa, achase o verdadeiro amor de Deus. Mister é, pois, que nos resolvamos a carreger com pa- ciencia a cruz que Deus nos envia, ¢ a morrermos nella por amor de Jesus Christo, que morreu na sua por nosso amor. Nao ha outro caminho por onde se entra no céu, sendio o da resignagdo nas tribulag6es até 4 morte. — O meio para acharmos a paz nos proprios padecimentos, é a uniformidade com a vontade divina, Se nao usatmos deste meio, dirijamo-nos aonde quizermos, fagamos quanto 1 Prov. 8, 07, SEXTATEIRA, 30 podermos, no conseguiremos subtrahir-nos ao peso da cruz. ‘Ao coutrario, se @ carregarmos de bos nos levaré ao céu, e nos dard a paz nesta terra. Que € 0 que faz quem rejeita a cruz? Augmentahe © peso. Mas quem a abraga © catrega com paciencia, alliviaa € converte-a em dogura, Deus é profuso com as suas gragas para com todos aquelles que de boa vontade carregam a cruz para Ihe agradarem. O padecimento nao apraz a nossa natureza; mas quando 0 amor divino reina num coragao, fal-o acceitavel. — Ah! se considerassemos bem o estado de felicidade que gozaremos no paraiso, se formos fieis a Deus em soffrermos sem lamentos os trabalhos da vida, de certo nao nos queixariamos de Deus, quando nos envia cruzes. Antes haviamos de lh’as agradecer, ¢ até haviamos de. pedir mais soffrimentos ainda, — Se somos peccadores, devemo-nos consolar nas tribulag6es que vierem, e pensar que Deus nos castiga na vida presente; porque é isso signal certo de que Deus quer livrarnos do castigo eterno. Ai do peccador que goza de prosperidade na terra! Quem tiver de sofirer alguma grave tribulago, lance um olhar no inferno merecido, € toda a pena sethe affigurard leve. TL. Se quizermos ser santos, devemos transformar 0 nosso gosto. Emquanto no chegarmos a achar doce o que é amargoso, e amargoso o que é dbce, nunca nos podere- mos unit perfeitamente com Deus, Toda a nossa seguranga € perfeigtio esté em sofirermos com resignagio todas as contrariedades que nos vierem cada dia, ¢ em soffrermol- as para agrado de Deus, 0 que constitue 0 fim principal © mais nobre que possamos ter em mira em todas as nossas obras, Portanto, offerecamo-nos sempre a Deus, promptos a carregar toda a cruz que nos queira enviar. Conservemo- nos sempre preparados para sofirer por seu amor todo © trabalho, “afim de que, quando nos‘venha algum, este- vontade, a cruz 40 SEGUNDA SENANA DO. ADVENTO. jamos promptos a abragal-o.— Quando se nos affigurar mais duro 0 peso da cruz, recorramos logo 4 oragao, para que Deus nos dé fora para a carregarmos com me- recimento. Avivemos entéo, mais do que nunca, a nossa fé, e lancemos um olhar sobre Jesus crucificado que esta agonizando na cruz por nosso amor. Lancemos tambem ‘um olhar para 0 céu e lembremo-nos do que diz So Paulo, a saber, que toda a tribulagdo terrestre, por mais dura que seja, nfo esté em proporcio com a gloria que Deus nos prepara na vida fatura 4 © meu Jesus, quanto consolo me dé a vossa palavra Convertimini ad me, ¢t convertar ad vos® — «Convertei-vos a mim, e eu me converterci a vésr. Eu Vos deixei por amor ds creaturas e 4s minhas miseras satisfacgSes; mas agora que deixo tudo e me converto a Vés, estou certo de que nao me repellireis, uma vez que Vos quero amar. Recebei-me na vossa graga e fazei-me conhecer o grande bem que sois e 0 amor que me tendes, afim de que nunca mais me aparte de Vés. Jesus meu, perdoae-me os desgostos que Vos tenho dado, fazei que Vos ame sempre e nada mais quero.— © Maria, recommendae-me a vosso Filho; elle vos concede quanto Ihe pedis; em vés confio. (Ol 265.) SABBADO. Maria Santissitia, modelo de paciencia. Patientia vobis necessaria est! ut voluntatem Dei facientes re- portetis promissionem — «A paciencia vos € necesssria, afim de fque fazendo a vontade de Deus aleanceis promessa» (Hebr. 10, 36). \ Summario, Dew-nes Deus # Santissima Virgem como exemplar de todas as virtudes, mas especialmente da peciencia, Semelhante & ros, ela cresceu ‘e viveu sempre entre os espinios des tribulagSes, Se, portanto, quizermos ser filhos desta Mike, forga € cue procuremos imital-s, abragando com re- "Rom. 8,18 Zach 1, 3. SAMRADO. mw signagto as cruzes; © nfo sémente as que nos vierem directemente de Deus, mas tambem as que nos vieres da parte los hemens, tees como sejam as perseguigées e os desprezos I. Sendo esta terra um logar de merecimentos, chama se com razio valle de lagrimas. Todos somos aqui postos para padecer, e fazer, por meio da paciencia, acquisicao de nossas almas para a vida eterna, como jé disse o Senhor In patientia possidebitis animas vestras!— «Na paciencia possuircis as vossas almas>. Deus nos deu a Virgem ‘Maria para exemplar de todas as virtudes, mas especial: mente da paciencia. Pondera entre outras cousas Séo Fran- cisco de Sales, que foi exactamente para este fim que, nas bodas de Cand, Jesus Christo dew 4 Santissima Virgem aquella resposta, com que mostrava estimar pouco as suas supplicas: Quid miki et tibi est, mulier ?—«Que ha entre mim e ti, mulher ?s Foi exactamente pata nos dar o exemplo da paciencia da sua santa Mae. Mas que andamos excogitando? Toda a vida de Maria foi um exercicio continuo de paciencia; porquanto, como © Anjo revelou a Santa Brigida, a Bemaventurada Virgem, semelhante 4 rosa, cresceu e viveu sempre entre os espinhos das tribulagdes, Sé a compaixio das penas do Redemptor foi sufficiente para fazel-a martyr de paciencia, razdo porque disse Sdo Boaventura: Crucifixa Crucifirum com cepit — A Crucifidada concebeu o Crucificador, — E quanto ella soffreu, tanto na viagem ao Egypto e na demora alli como durante todo o tempo que viveu com o Filho na officina de Nazareth, ndo cansemos de aprecial-o digna- mente, Mas deixando o mais de lado, ndo basta por ven tura sé a companhia que Maria fez a Jesus moribundo no Calvario, para fazer conhecer quo constante e sublime foi @ sua paciencia? Stabat iuxta crucem Iesu Mater cius*— «Ao pi da crus de Yesus estava sua Maer. No dizer do Cee on cocoa | B, Alberto Magno, precisamente pelo merecimento desta sua paciencia foi ella feita nossa Mae que compadecendo com seu Filho nos gerou 4 vida da graga: Maria facta ‘est mater nostra, quos genuit Filio compatiendo. II, Se desejamos ser filhos de Maria, ¢ preciso que pro- curemos imital-a na paciencia, supportando em paz tanto as cruzes que nos vierem directamente de Deus, isto é, a pobreza, as desconsolag6es espirituaes, a enfermidade € ‘a morte; como tambem as que nos vierem da parte dos homens, perseguigSes, desprezos, injurias ¢ seducg6es. Sao Gregorio explicando este trecho de Oseas: Saepiam viam tuam spinis' — « Fecharei o teu caminko com espinkos>, diz que assim como a sebe de espinhos guarda a vinha, assim Deus cerca de tribulagGes 0s seus servos, para que se ndo affeigem ao mundo. De modo que, conclue So Cypriano, a paciencia é a virtude qué nos livra do peccado ¢ do inferno, e enriquece-nos com merecimentos na vida presente ¢ com gloria na outra.—E a paciencia que faz ‘os Santos, como diz Sdo Thiago: Patientia autem opus perfectum habet, ut sitis' perfecti et integri in mullo de- Fivientes?, Pot esta razio So Joao viu todos os Santos ‘com palmas (symbolo do martyrio) nas maos§; 0 que significa que todos os adultos que se salvam, devem ser martyres, ou de sangue ou de paciencia, «Alegremo- nos, poisy, exclama So Gregorio: «se soffrermos com paciencia as penas desta vida, podemos set martyres, sem © ferro dos algozes.» Oh, quanto nos aproveitaré no céu cada pena soffrida por amor de Deus! —Se alguma vez ‘ peso da cruz se nos affigurar demasiadamente duro, re- corramos a Maria, que ¢ chamada a medicina dos coracécs angustiados e a consoladora dos afflictos. ‘Ab! Senhora minha suavissima! padecestes innocente com tanta paciencia, e eu, réu do inferno, recusarei pa- On, 6 Ma ty a * Apors 7, 9. ‘TEREMIRA SEMANA DO ADVENTO. 43 decer? Minha Mae, pego-vos hoje esta graca, nao de ficar livre de cruzes, mas de supportal-as com peciencia. Por amor de Jesus vos pego, que sem tardar me alcanceis de Deus esta graga; de vds a espero. (*1 269.) ‘TERCEIRO DOMINGO DO ADVENTO. O testemunho de Sao Joao Baptista e a modestia christa. Ego vox clamantis in deserto: Dirigite viam Domint, sicut dixit Taaias propheta — «Eu sow a vor do que clams 20 deserto: pre- pparae 0 ceminho do Senhor, stim como o disse 0 prophets Isuias» (lo. 1, 23). Sunmarie. A imitaglo de Sto Joo Baptista, procuremos sempre, a0 falar de nés mesmos ou sobre a8 cousas que nos dizem respeito, absixtr jrmos acima dos outros. Quem se abaixa, nunce sahiréprejudieado ; mas, por pouco que alguem se exalte scima do que é, péde eauserse grave damno, Além disso, & sabido de todos que os louvores em boces propria nfo trazem honra, senfo despreso. I. © Evangelho de hoje, como diz Sdo Gregorio, faz resaltar bem claramente a humildade do Baptista. Muito embora estivesse adornado de taes ¢ tantas virtudes, que se pudesse crer ser elle o Messias promettido, nfo s6mente recusou terminantemente esse nome, dizendo: Non sum ego Christus — «Eu no sou o Christor; mas ainda mais, protestou nao ser digno nem siquer de desatar os cordbes das sandalias do Redemptor. Constrangido, pois, a dar informagées acerca de si proprio, cala a nobreza de seus paes, a dignidade sacerdotal, e apenas faz saber o que € indispensavelmente necessario, a saber, 0 seu officio de Precursor de Jesus Christo: Ego vox clamantis in deserto: Dirigite viam Domini — «Eu sou a vos do que clama no deserto: preparae 0 caminko do Senkor.» Deves tu tambem praticar igual modestia, se verdadeira- mente desejas agradar a Deus ¢ assim preparar-te para fazer nascer o divino Menino em teu corardo. Evita de reise i 44 PRRCEIRA SEMANA 00 ADVENTC. dizer qualquer palavra de louvor proprio, tanto acerce da tua conducta, dos teus talentos ¢ exercicios de virtudes; como acerca da tua familia, enaltecendo a nobreza, as riquezas, 0 parentesco. Em uma palavra, no falar do que te respeita ou de ti niesmo, procura sempre, a imitagao do Baptista, abaixar-te e nunca te exaltares acima dos outros, Fala antes 0 mal do que o bem; descobre antes os teus defeitos, do que as acces que talvez tenham appa: rencia de virtudes. Abaixando-te, nunca te prejudicards; mas, como diz Sdo Bernardo, por pouco que te exaltes acima do que és na verdade, podes causar-te grande mal ‘Além disso é bem conhecido 0 adagio commum: Louvor em bocca propria € vituperio. Demais, melhor seré que nas conversagées nao fales absolutamente de ti proprio, nem para bem, nem para mal, considerando-te como pessoa tio vil, que nem siquer mereca ser mencionada. Quantas vezes no succede que contando cousas mesmo para a nossa propria confuséo, se insinue alguma occulta ¢ fina soberba, € que interior- mente desejemos ser elogiados ou ao menos ser tidos por humildes e virtuosos! II, Se por acaso, sem culpa tua, te Iouvarem, procura ento haver-te assim como se houveram os Santos € nos ensinaram, Quer dizer: langa uma vista sobre tantos de- feitos teus;-confunde-te interiormente por nio possuires os meritos que te attribuem. Treme pensando que talvez a estima dos homens nfo seja a maior desgraga que te pode sueceder, porquanto, pela’va complacencia, te pode fazer perder todos os merecimentos que por ventura tinhas ad- quirido perante Deus. Demais, pode infectar-te 0 coragio, fomentando-te 0 orgulho, e assim ser causa de tua queda e eterna condemnagio. Por isso diz Sdo Francisco de Sales, que 0s louvores so um veneno doce © desapercebido, que mais de uma vez teem dado a morte 4 virtude e 4 piedade dos mais santos ¢ piedosos.—Sobretudo, quando SROUNDAPEIRA. 4s perceberes que te clogiam, olha para Jesus Crucificado, que, por teu amor, longe de buscar os louvores, preferiu ser 0 homem mais desprezado, ou antes, 0 mais abjecto entre todos os homens: despectum et novissimum virorum}. © meu Jesus, envergonho-me de comparecer na vossa presenca. Vés, embora innocente, fostes por meu amor cumulado de ignominias, e eu, peccador, tao avido sou de louvores e honras! Ah, meu Deus, como me vejo des- igual a Vés! Isso me faz temer pela minha salvacdo eterna, visto que os predestinados Vos devem ser achados con- formes. Mas nfo quero perder a confianga em vossa mi seticordia; Vés mesmo me deveis mudar. Amo-Vos, Bon- dade infinita; arrependo-me dos desgostos que Vos tenho causado com o meu orgulho, e proponho soffrer por vosso amor qualquer desprezo, qualquer injuria que me for feita, «Vés, 6 Senhor, inclinae os vossos ouvidos 4s nossas sup- plicas ¢ illustrae as trevas do meu espirito com a graca de vossa visita»? Daeme forga para guardar fielmente o meu proposito. Quero sempre dizer-Vos: +O esus, manso ¢ humilde de coragto, fasei o meu coracto semelhante ao vosso, Ajudae-me tambem vés, 6 Maria, a mais hu- milde de todas as creaturas. (*IV 164.) SEGUNDA-FEIRA‘. Jesus Menino toma sobre si todos os peccados dos homens. Tustifcabit ipse iustus servus meus maltos, ot iniquitates eorum ipse portabit — «O meu servo justo justiicart muitos, © tomaré bre si as iniquidades delles» (Is. 53, 11). Sunmario. Jesus Christo quiz no sémente t PP a tomar » apparencia de pec for, sento ainda tomar sobre si todon oF peceados 20 homens e satis fazer por elles, como se fossem os seus proprios. Desde criange viu em er * Indlg, de 300 dis ag Sntele fo ai 6 Ge Deen, podeae tomar pine meg imine ds Natal; © mea sa sera nos tins egies. V. Pap 35 * On, Dom, carr, 46 [TBREEIRA SEMANA 0 ADVENTO. particular todos os peccados de cads wm de nb, ¢ aquella vista erucfoule Pefima muito mais, do que em seguida a cruciixto e « morte eruciaramthe @ corpo. Bis ahi a bella maneira de que reesmpensamos o amor de nosso Aivino Salvador, I. Considera que o Verbo divino, fazendo-se homem, nao sémente quiz tomar a apparencia de peccador, mas ainda tomar sobre si todos os peccados dos- homens ¢ ‘satisfazer por elles, como se fossem os seus proprios: Ini quitates corum ipse portabit—«Tomard sobre si as iniqui- dades delless. Accrescenta Comelio a Lapide: ac si ipse ca perpetrasset — «como se elle mesmo as tivesse com- mettidor. — Consideremos aqui como o Coragao de Jesus Menino, j4 entéio carregado de todos os peccados do mundo, se devia sentir opprimido ¢ angustiado, vendo que a justiga divina exigia.delle plena setisfacgao. Elle conhecia bem a malicia de cada peccado, ‘por quanto na luz da Divindade que sempre 0 acompanhava, conhecia, immensa mente melhor do que todos os homens ¢ todos os anjos, a bondade infinita de seu Pae, e 0 seu infinito direito a ser respeitado e amado. E via diarte de si, como que em longas fileiras, uma multidao innumeravel de peccados, a serem commettidos por aquelles mesmos homens, pelos quaes deveria padecer e morrer. ‘Uma ver o Senbor deixou ver « Santa Catharina de Ge nova a fealdade de um s6 peceado venial. Foi téo grande ‘o espanto e a dér da Santa, que cahiu sem sentidus eu terra. Ora, qual no deve ter sido a afflicgio de Jesus Menino, quando, no mesmo instante em que baixou 4 terra, viu posta diante de si a multidio immensa de todos os delictos humanos, pelos quaes deveria satisfazer! — Entao vyiu em patticular todos os peccados de cada um de nds. Diz 0 Cardeal Hugo, que os algozes 0 fizeram padecer exteriormente, crucificando-o; mas nis interiormente, com- ‘mettendo o peccado — fecerunt eum dolere extrinsecus, cruci figendo; sed nos peccando, intrinsecus, Quer dizer que SEGUNDA-PHIRA. fy cada peccado nosso affligiu mais a alma de Jesus Christo, do que a crucifixto e a morte the affligiam o corpo. Fis ahi a bella maneira de que cada um que tem lem- branga de haver offendido o Salvador com peccados mor: taes, Ihe recompensou 0 divino amor. TI. Meu amado Jesus, jé que Vos tenho offendido, sou indigno de receber gracas; mas pelos merecimentos das déres que padecestes e offerecestes a Deus, ao ver todos os meus peccados, ¢ em satisfazer por elles 4 divina justia, concedeime um raio da luz na qual Vés'entéio Ihes co- nhecestes a malicia, ¢ uma parte da abominagio com que ‘Vés entdo os detestastes. Ser4, pois, verdade, 6 meu amavel Salvador, que eu, desde que nascestes e em cada momento da vossa vida, tenha sido o algoz de vosso Coracio, e algoz mais cruel do que aquelles que Vos crucificaram? E essa dér tel-aei renovado e augmentado todas a vezes que tomei a offender-Vos? — © Senhor, Vés jé morrestes Para me salvar; porém, para minha salvacdo nao basta ‘@ vossa morte, se de minha patte nao deteste, mais do que qualquer outro mal, as offensas que Vos tenho feito, © no me arrependa dellas com sincera dér. Vés mesmo deveis darme essa dér, e Vos a concedeis a quem a pede. Pelos merecimentos de todas as penas que padecestes em terra, eu Vos peco: daeme dér de meus peccados, mas uma dér que seja proporcionada 4 minha maldade. Ajudae- we. & Seat, a fazer 0 acto de contrigao que agora woe eterno, supremo e infinito Bem, eu, verme ravel, tive animo de desrespetar-Vos ¢ de desprezar co Braga, Mais do que todos os outros males, detesto 7 ao injurias que Vos tenho feito; dellas me arrependo eed °° coragdo, ndo tanto por causa do inferno me- Espero ra Por ter offendido a vossa bondade infinita. ae Eee merecimentos de Jesus Christo, obter 0 per- © perdao espero tambem obter a graca de YERCEINA SEMANA DO ADVENTO. 48 Vos amar.— Amo-Vos, 6 Deus, digno de um amor infinito, fe sempre quero dizer-Vos: eu Vos amo, ou Vor ame, 8 ‘Jos emo. Como a vossa querida Santa Catharina os "° nova, ao contemplar-Vos crucificado, tambem catantee inferno estard ainda sce al neaon,patrdo ce mR © © srt cn i ee Pe owe ben preps = le onc evn de Devs, fendemes pl pez: Qos ag taram nesse hofroroso carcere, esto. Aentre 08 que, como né5, medite sole qucimando pare sempre 1. Considera que o inferno nao tem fim; soffremse nelle todas as penas, ¢ todas ellas eternamente, De a que passartio cem annos de soffrimentos, passaréo mil, € 0 era terd_ apenas comesado, Passarso cem mily em serroea, mil milhges de annos © de seculos, ¢ o inferno Tetard sinda no seu principio. — Se um anjo fosse nesia hora duer a um reprobo que Deus o quer livrar do in- ferno, mas quando? quando tiverem pasado tantos milhoes de secutos quantas sdo as gotas de agua, as folhas das arvores, € 08 gros de areia que existem no ‘oceano € na, tarea, wés haverieis de ficar pasmos; mas a veruads & is sequel. reprobo sentria mais alegria com tal noticia do ‘THRGATEIRA 49 que vés se vos dessem a noticia de haverdes sido cleito rei de um grande reino. Sim, porque o reprobo diria com- sigo: E verdade que devem passar tantos seculos, mas chegard o dia em que tetminardo, Porém, os seculos ho de passar, e o inferno estard no seu principio; succeder-se-d tantas vezes igual numero de seculos, quantos sio os gros de areia, as gotas de agua, as folhas das arvores, € ainda o inferno estaré no seu principio. — Cada reprobo de boa vontade proporfa a Deus esta condigac: Senhor, augmentae as minhas penas tanto quanto vos approuver; prolongae-as tanto quanto for da vossa vontade, mas ponde- the um termo qualquer dia ¢ ficarei contente. Mas nJo, esse fim nunca chegard. Se 0 pobre reprobo pudesse ao menos illudir-se ¢ con- solar-se dizendo: Quem sabe? Talvez um dia Deus se apiede de mim e me livre do inferno! Mas nfo, o des- gracado reprobo ter4 incessantemente diante da vista a sentenca de sua condemnagdo eterna, e diré: Todas as penas que agora estou sofirendo, 0 fogo, os lamentos, nunca mais terdo fim? Nuncal E quanto tempo duraréo? Sempre, sempre! © nunca! © sempre! O eternidade! © inferno! Como? Os homens 0 creem, ¢ peccam e con- tinuam a viver no peccado? I. Irmao meu, p6e sentido; lembra-te de que o inferno € tambem para ti, se commetteres o peccado, Ja esté ardendo essa fornalha horrorosa debaixo de teus pés, € 20 momento em que estds lendo isto, quantas almas cahem nella! Lembra-te que, se uma vez cahires alli, nunca mais Poderds sahir.— Se alguma ver mereceste o inferno, dé Bragas a Deus por nio te ter langado nelle, Procura o mais depressa possivel reparar o mal feito, chora os teus pec- cados © emprega os meios mais aptos para a tua salvagio, Confessate quanto antes, 1€ cada dia um pouco em um outro livro espiritual; pratica a devogao a Maria San- tissi F ssima recitando cada dia o Tergo ¢ jejuando cado sab- 8. Aton, Meditagaes. I. 50 ado: resiste ds tentagdes, chamando pact ane Maria: foge das occasiGes ee Gage oe) te che deixares 0 mundo, faze-o, obedece. cas pm ce nada: Malla nimia securitas, wbi perielitatur aeterniies” on (Nenbuma cautela é demasiada, quando se trata de ass in». Quantos eremitas fSram viver ‘afim de fugit do inferno! E ty, res metecido tantas vezes 0 itr fe condemnas. gurar uma eternidade fei fem grutas, nos desertos, fo que fazes depois de te i : ferno? Que fazes? Que fazes? VE que Entregate a Deus e dizedhe: 7 Bivime aqui, 6 Senhor meu: quero fazer tudo quanto axe potirdes,Gragas Vos dou por me terdes supportado até hoje com tanta paciencia; agradego:Vos as Iuzes que 80"? me déstes, fazendo-me ver a minha insensatez, een ae fiz ultrajando-Vos com tdo numerosos: peccados. 4 a * doce Salvador meu, detesto-os € arrependome fe tod minha alma. ‘Amo-Vos sobre todas as cousas. és, a condemmstesaoinferne, afm de que ey cece sans Yes Sim, quero amar-Vos, ¢ quero amar ito. ma ee ‘com 0 meu amor 08 sesgates ae tenho dado, +Doce Coracao de Maria, stde minha s . a 479 QUARTAFEIRA. Jesus, fonte de gracas. Haurietis aquas in gaudio de fontibus Salvatoris — «Tlrareis com gosto agors das fontes do Salvador» (Is 12) 3) de gragas que possuimos Sum mos a gaat fone "Stas ue s qual nos podemos: a fonte de miveriordia, na em Jesus Chtisto, Ele € ums fon Batemos jias; uma fonte de for, que nos a& pl Timpar de nossa: immundicias; i af na fonte de deoopto, que nos faz promptos, nx obedi Tamer, que nos abrazt no fogo do x, ecvamos frequentemente contentamento} ne avin, aftal, wos foie de . nes com confis for divco, Aporoxinens: sar Bie Are nos oie sg *§, Bern 2 Yndulg. de 300 dis, cada ver QUARTAWEIRA. 51 I, Considera as quatro fontes de gragas que possuimos ‘em Jesus Christo, segundo a contemplagio de Sto Ber- nardo, A primeira fonte é de misericordia, na qual nos podemos limpar de todas as immundicias dos nossos pec- cados, O Redemptor feznos manar esta fonte com as suas lagrimas © 0 seu sangue: Dilexit nos et lavit nos a peccatis nostris in sanguine suo'— cLille nos amou e nos lavou de nossos peccados em seu sangues A segunda fonte é de paz e de consolacao em nossas tribu- ages. (Ps. 87, 16). Sumario. Jemnis alguem amou Devs ¢ x propria alma, como Jesus sms seu Fe casts sas, Fr st € ai J vendo die o 3 peccudos em particular e conhecendo tanto & injria por elles feita a0 Pae, como os males que delles deviam provir para as otsas slmas, soffreu durante toda « sua vida, o martyrio mais Toloram, Mrs ie Jens se aflgh stl pons per pecinion quo nfo rum see opi, ¢ ms ge one ue de tembem ns alan, gue I, Considera que todas as penas © ignominias, que Jesus soffren em sua vida e na morte, Ihe eram presentes desde © primeiro instante da sua vida: Dolor meus in conspectu ‘meo semper — cA minha dir estd sempre diante de mim.> Desde 0 berco Jesus comecou a offerecer todas essas pe- nas em satisfacgdo por nossos peccados, principiando desde ento a ser nosso Redemptor. Elle mesmo revelou a um seu servidor, que desde 0 comeco de sua vida até 4 morte soffceu, e soffteu tanto por qualquer um dos nossos pec- cados, que, se houvera tido tantas vidas quantos homens caistem, teria morrido de dér igual numero de vezes, se Desyase Ihe tivesse conservado a vida para soffter ainda er que martyrio padeceu incessantemente 0 Coragio ae Jesus pela vista de todos os peceados dos ho- Briel Ad suamlibet culpam singnlarene habait aspectom, eae aa cease] oon cea Ge Maria, cada peceado em particular erethe presente, & Peceado affigiao immensameate pelo Same Thomas, que a dér eusada a Jesus Christo Gor armbecinento da inoria feta ao ae ¢ dos males creed, Pevcado resultaiam para as almes tio amadss, Sxeedeu a dér de todos os peccadores contritos. — Com Pe 37, 18, *'S, Bernardinus Sen. t. I serm. 56. 54 PRRCEIRA SEMANA DO ADVANTO. effeito, nunca um peccador amon Deus e a sua alma como Jesus ama seu Pae € as nossas almas, Dabi é que o Redemptor soffreu, desde o seio de sua Mae, a agonia, que depois padeceu no horto 4 vista de todas as nossas culpas, que tomédra sobre si afim de satisfazer por ellas. Pauper sum ego, et in laboribus a iuventute mea’ — eK sou pobre, ¢ vivo em trabalhos desde a minha mocidade.» ‘Assim predisse 0 Salvador de si mesmo pela bocca de David, que toda a sua vida seria um padecimento con- tinuo. Donde Séo Joao Chrysostomo conclue que nds no nos. devemos affligir por outra cousa sendo pelo peccado; e que, assim como Jesus passou toda a sua vida em afflicgdo por causa dos nossos peccados, assim nés, que os havemos commettido, devemos estar possuidos de uma continua dér, pela lembranga de termos offendido um Deus que nos amou tanto. Tl. Santa Margarida de Cortona nunca deixou de chorar as suas culpas. Certo dia disselhe o confessor: «Margarida, deixa-te de chorar; 0 Senor jé te perdoou.s — «Como, respondeu a Santa, «como podetei dar-me por satisfeita com as lagrimas derramadas e com a dér daquelles peccados, que afffigiram o meu Jesus Christo durante a sua vida toda?s — Imitemos esta Santa peccadora, e pensando muitas vezes em 08 nossos peccados, digamos frequentemente ao Senhor: © meu Jesus, eis aqui a vossos pés 0 ingrato, 0 per- seguidor, que Vos fez sofirer durante toda a vossa vida. Mas dit-Vos-ei com Isaias: 7 autem eruisti animam meam, ut non periret: proiecisti post terguin tuum omnia peccata mea? — «Tu livraste a minka alma, para que nfo pereca, langaste atras das tas costas todos os meus pecvudos.> Eu Vos offendi e Ves traspassei 0 Coragdo com tantos peccados, mas Vés nfio recusastes tomar sobre Vés todas as minhas culpas. Eu por minha livre vontade tenho con- 1 Pe, 87, 16 9s, 38 17. 7 NOVENA PARA A PESTA DO NATAL. 55 demnado a minha alma a arder no inferno, cada vez que consenti em offender-Vos gravemente, e Vés, como preco de vosso sangue, néo Vos cansastes de livrala e de fazer que nio ficasse perdida, Meu amado Redemptor, gragas Vos dou e quizera morrer de dér a0 pensar que tenho offendido tio gravemente a vossa bondade infinita. © meu amor, perdoae-me e vinde tomar posse de todo © meu coragio, Dissestes que no Vos dedignaes de entrar no coragdo de quem Vos abre a porta, e de lazer-lhe com- panhia: Sé quis aperuerit miki ianuam, intrabo ad illum, coenabo cum illo’, Se em outros tempos Vos repulsei de mim, agora Vos amo e no quero outra cousa senéo a vossa graga. Eis que Vos abro a porta, entrae em meu pobre coragio, mas entrae para nunca mais sahir delle, Meu co- racdo € pobre, mas entrando nelle Vés 0 fareis rico. Serei tico emquanto Vos possuir, 0 supremo Bem. — © Rainha do céu, Mae afflicta desse afilicto Filho, a vs tambem causei déres amargosas, porquanto tivestes to grande parte nos sofitimentos de Jesus. Minha Mae, perdoae-me e al- cancaeme a graca de servir fielmente, agora que, como espero, Jesus de novo entrou em minha alma. (II 337.) NOVENA PARA A FESTA DO NATAL? PRIMEIRO DIA — DIA XVI DE DEZEMERO. Jesus Menino consente em ser nosso Redemptor. Dedi te in lucem gentium, ut sis salus mea usque ad extremum lerrae— «Bu te estabeleci para luz das gentes, afin de levares ‘minha salvagto até 4 uliima extremidade da terra (Is. 49, 6). Stsumario. Moitos christios costumam neste tempo armar um pres somo represeningto do Nascimento de Jess Cheat: mer bem rons f lembram de preparar, Preparar, com actos de amor, o seu coragio afim de que © diving Meni 2 divine Menino nelle possa repouser. Do numero destes tambem née Apoc, 3, 20, . indy en ain do enn 30 is em cad ci dn Novena: ia salou num dia da Otay, para cs qu &fzerem ‘© € cumprirem as 5 ea trem aa obres prescrip, da Conf dh Commarhte 56 NOVENA FARA A FESTA DO NATAL aqeremes ser. Por isto, afim de excitar-nos, desde o primeiro dia da Novena, a pagar com nosso amor o amor de Jesus Christo, eonsideremos fo amor que nos wostrou, incumbindo-se, desde o primeico instante da fa coneeigte, de salisfazer por nés & diving justiga L. Considere como o Padre Eterno disse a Jesus Menino, no instante da sua Encarnagio, estas palavras: «Dedi te i lucem gentium, ut sis salus mea' — Eu te estabeleci para lus das gentes, afim de salval-as. Meu Filho, eu te dei ao mundo pata luz e vida das nag6es, afim de que lhes alcances a sslvagdo, que eu estimo tanto como se fosse a minha proptia, Mister é, pois, que te consumas todo inteiro, para o bem dos homens — Totus illi datus, totus in suos usus impenderis®, Mister € que desde o nascer soffras extrema pobreza, afim de que o homem se faca Tico. Mister é que sejas vendido como um escravo, para impetrares a0 homem a sua liberdade; que, como um es- cravo, sejas agoutado e crucificado, afim de pagares 4 minha justica o que o homem Ihe deve; mister € que dés o teu sangue e a tua vida, afim de livrares 0 homem da morte eterna, Em uma palavra, sabe que no te pertences mais a ti mesmo, senfo aos homens. Assim, meu dilecto Filho, o homem render-sé-4 ao meu amor; seré todo meu, vendo que eu Ihe dei o meu Unigenito, sem reserva guma, ¢ que nada mais me resta para lhe dar.» Sic Deus dilexit mundum, ut Filium suum snigenitum daret® —«Tanto anou Deus o mundo, que the dew seu Uni- genito.» © amor infinito, digno unicamente de um Deus infinito! ‘A semelhante proposta Jesus Menino ndo se entristece; antes, nella se compraz, acceitaa com amor € exulta: Exultavit ut gigas ad currendam viam'— «Dex passos como gigante para correr 0 caminko.» Desde o primeito instante da sua Encarnagdo Jesus se dé todo ao homem, 6. 11a 49,6 9S. Bem, Io 3, 16. PH oa ‘ PRIMEIRO DIA-~ DIA xVI DH DeZENBRO, s7 e abraca com alegria todas as déres e ignominias que na terra teria de soffrer por amor dos homens. Pondera aqui que o Pae celestial, mandando seu Filho para ser nosso Redemptor e medianeiro entre Deus © os homens, se obrigou, por assim dizer, a perdoar-nos e a amar-nos, visto que prometteu receber-nos em sua graca, comtanto que o Filho satisfizesse por nés 4 justica divina, Por outra parte o Verbo divin, tendo acceitado a in- cumbencia do Pae, que nol-o deu enviando-o para nossa redempco, obrigowse tambem a amar-nos, nao em vista de nossos merecimentos, mas para obedecer 4 vontade misericordiosa do Pae. $I Meu amado Jesus, se é verdade, conforme reza a lei, que a doagéo faz adquirir 0 dominio, Vés sois meu, visto que vosso Pae Vos deu a mim; por mim que nascestes, a mim é que fostes dado. Posso dizer, pois, com verdade: Tesus meus et omnia— Meu Fesus e meu tudo! Jé que Vés sois meu, & meu tambem tudo quanto é vosso. Assim m’o garante 0 vosso Apostolo: Quomodo non etiam cum illo omnia nobis donavit?— «Como nao nos deu tambem com elle todas as cousas?s . meu 0 vosso sangue, sio meus os vossos merecimentos, so minhas as vossas gtacas, € meu’ o vosso paraiso. Se sois meu, quem jamais podera separar-me de Vos? assim dizia jubiloso Santo Antdo Abbade. Assim tambem quero dizer para o futuro. Sémente por culpa minha posso perder-Vos e separar-me de Ves Mas, meu Jesus, se antigamente Vos deixei e perdi, agora Pezame de toda 2 minha alma e estou resolvido a antes any a vida e tudo, do que a perder-Vos, 6 Bem infinito unico Amor da minha alma ko dou, Padre Etemo, por me haverdes dado meebo; ¢ porque m’o destes todo « mim, ex, creatura é , me dou todo a Vés. Por amor desse mesmo "Rom. 8, 32, 58 NOVENA PARA A FESTA DO NATAI Filho, acceitaeme ¢ prendeime com lagos de amor a0 meu Redemptor; mas prendei-me de tal maneira que cu tambem possa dizer: Quis me separabit a caritate Christi?’ — «Quem me separaré do amor de Christo?» Que bem terrestre seré ainda capaz de separarme do meu Jesus? E Vos, meu Salvador, se sois todo meu, sabei que eu tambem sou todo vosso. Disponde de mim, e de tudo 0 que é meu, como quizerdes. Serd possivel que eu recuse alguma cousa a um Deus que ndo me recusou seu sangue ¢ sua vida?— Mario, minba Mae, guardaeme debaixo da vossa protecgao. Nao quero mais ser meu, quero set todo do meu Senhor. Cuidae em fazerine fiel; em vés confio, 344.) SEGUNDO DIA — DIA XVII DE DEZEMBRO, Tristeza do Coragao de Jesus no seio da Virgem Maria. Hostiam et oblationem noluist, corpus autem aptasti mihi — eNio quizeste hostia nem oblagd, porém me formaste un corpor (Hlebr. 10, 5). ‘Summario, Tado quaste Jesus Christo padeceu no corer ds sua vida, forthe posto diante dos olhos quando sinds se achava no scio de sux Mie; e Jesus acceitou tudo por notto amor. Porém, naquella acceitagto ne repressdo da repugnancia natural, 6 Deus, que afliegto devia ex: perimentar © seu Coragio! Se Jesus, embora innocent, desde principio 4s vida comegou a sofrer por és, nfo é justo que nés, que somos pec ‘adores, padegamos algums couss por seu smor © em desconto dos nostos ppeccados? I. Considera a grande amargura de que 0 coragio de Jesus Menino devia sentir-se atormentado e opprimido no seio de Maria, quando no primeiro instante da encarnagio ‘© Padre Eterno the mostrou toda a serie de desprezos, de déres © de angustias que no correr da sua vida de- veria soffver, afim de livrar os homens do seu estado de + Rom. 8, 35 SKGUNO DIA — DIL XVIE DE DREAENRO, 59 miseria — His 0 que elle falou pela bocca do propheta Teaias: Mane evigit miki aurem— «Pela manka (0 Se- nhor) tevanta-me 0 ouvido.» Isso €: No primeiro instante da minha encarnagiio, meu Pae me fez conhecer a sua vontade, que eu levasse uma vida de soffrimentos para ser finlmente sacrificado na cruz. Ego autem non contra- dico; corpus meum dedi percutientibus)— «Eu nlio contra: digo; entreguei 0 men corpo aos que me feriam. 6 al mas, acceitei tudo pela vossa salvagdo e desde entéo entreguei o meu corpo para receber os agoutes, os pregos ea morte.» Pondera que tudo o que Jesus Christo soffreu no correr da sua vida e em sua Paixdo, foilhe posto diante dos olhos quando ainda se achava no seio de sua Mae. Jesus acceiten tudo com amor. Mas naquella acceitaglo, © na represséo de sua repugnancia natural, 6 Deus, que an- gustias e que afflicg’o, ndo devia experimentar o Coragio innocente de Jesus! Desde entdo comprehendia bem quanto teria de soffter, primeiro nascendo numa grata fria, pousada de animaes; em seguida, tendo de morat trinta annos des- conhecido na loja de um simples official. Jé entio viu que os homens haviam de tratal-o de ignorante, de escravo, de seductor, de réu de morte, digno da mais infamante ¢ dolorosa morte destinada aos scelerados. Tudo isso o nosso amante Redemptor acceitow-o cada instante, mas cada vez que renovava a acceitagio, tornava a sofirer juntas todas as penas e todas as humiliagdes que depois deveria soffter até 4 morte, E para que? Para salvar-nos da morte eterna, a nds, miseraveis peccadores. U. 6 meu amado Redemptor, quanto Vos custou, desde @ vossa primeira entrada neste mundo, tirar-me da miseria ‘due tinha attrahido sobre mim pelos meus peccados! Para - Me livrardes da escraviddo do demonio, a quem de livre 60 NOVENA PARA A FESTA DD NATAL vontade me tinha vendido, Vos sujeitastes a ser tratado como 0 mais vil de todos os escravos, E eu, sabedor disso, tive animo de amargurar tantas vezes 0 vosso amabilissimo Coragio, que tanto me amou! Mas, jé que Vés, que sois innocente € sois o meu Deus, acceitastes por meu amor uma vida e uma motte to penosas, acceito, por vosso amor, 6 Jesus meu, toda a pena que me vier das vossas mios. Acceito.a ¢ abragoa por vir daquellas mos que um dia fram traspassadas, afim de livrar-me do inferno tantas vezes merecido pelos meus peccados. © meu Re- demptor, 0 amor que mostrastes em offerecer-Vos a soffrer tanto por mim.’ constrange-me demais a acceitar por vosso amor toda a pena, todo o desprezo. O meu Senhor, pelos vossos merecimentos dae-me 0 vosso santo amor; este tornar-me-4 suaves e amaveis todas as déres e todas as ignominias. Amo-Vos’ sobre todas as cousas, amo-Vos de todo o meu coragdo, amo-Vos mais que a mim mesmo, Durante toda a vossa vida me tendes dado provas de- masiadamente grandes do vosso affecto para commigo, Eu, ingrato, j4 tenho vivido tantos annos nesta terra, ¢ quaes sto a provas de amor que Vos mostrei? Fazei, 6 meu Deus, que a0 menos nos annos de vida que me restam, Vos dé alguma prova de meu amor. Nao tenho coragem de comparecer na vossa presenga, quando vierdes a julgar-me, t4o pobre como agora me acho, sem ter feito alguma cousa por vosso amor, Mas, que posso fazer sem a vossa graca? Nada sendo pedir-Vos que me soccorrais, € este mesmo pedido ainda é uma graca da vossa parte, Jesus meu, soccorrei-me pelos merecimentos de vossas pe- nas e do sangue que por mim derramastes. — Maria San. tissima, recommendae-me a vosso Filho, pego-o pelo amor que Ihe tendes. Lembrae-vos que sou uma daquellas ovelhas pelas quaes vosso Filho morreu. (II 345.) PRRCUIRO DIA DIA XVIIE DE DEZEMORO, or ‘TERCEIRO DIA — DIA XVII DE DEZEMBRO. Expectagao do Parto da Virgem Maria. Exspectabimus eum et salvabit nos — «Bsperatemos por elle, e elle nos salvard (Is. 25, 9). Summario. Boi to grande 0 deseo de Maria de ver em breve nascido seu divino Filho, que em comparagio com elle os suspiros mais ardentes dog Patriarchas © dos Prophetss pareciam fics, ‘Todavia Jests nfo quiz mar © seu naseimento; quiz ser semelhante aos outros e ficar occtlto no seio matermo em recolhimento ¢ em preparagto de sua entrada no mundo, Oh! que belle ligfo para ués, se a soubermos aproveter. I. Muito embora a divina Mae reconhecesse perfeita- mente a grande honra que Ihe advinha por trazer um Deus no seu seio, e os grandes thesouros de gragas que ia merecendo, dando abrigo a seu Senhor, todavia foram té0 grandes ¢ tdo vehementes os seus desejos de ver o Sal- vador nascido, que em comparacio delles pareciam {ios os ardentes desejos dos Patriarchas e dos Prophetas, que durante quatro mil annos fizeram violencia ao céu dizendo: Mitte quem missuras es'— «Encia aguelle que deves enviar.» — Esses desejos nasciam na Santissima Virgem de um amor duplo, Em primeiro logar amava com ternissimo affecto © seu divino Filho, e por isso desejava dar 4 luz para vel-o, abragal-o e provarlhe seu amor prestando-the toda sorte de servigos. Demais, 0 coragdo da Virgem estava Possuide de amor ardente para com o proximo. Por esta Tazo, apezar de prever 0 modo inhumano de que os ho- mens haviam de acolher e de tratar Jesus Christo, anhelava Pelo momento de manifestar a0 mundo o seu Salvador, © de enriquecer o universo com aquelle Bem supremo ¢ com as gragas infinitas que elle queria communicar a Rosas almas. a petri Mie, gragas vos sejam dadas por terdes de- tanto darnos o vosso Jesus! Por piedade dae-m'o * Brod. 4, 13 62 NOVENA PARA A PESTA DO NATAL. tambem a mim; fazei que, assim como nasceu corporal mente de vossas purissimas entranhas, assim renasga espi ritualmente pela graga em meu coragdo. Fazei que a minha alma abrasada no amor divino, procure communical-o tambem ao proximo, TI, Mais ardente do que o desejo de Maria Jesus. Achandose ainda no seio de Maria anciava pela hora de seu nascimento, afim de realizar a obra da Re dempsao do genero humano ¢ cumprit a sua missdo con- forme 4 vontade de seu Pae celestial. Parece, por assim dizer, que desde entdo exclamou o que depois de crescido, falando de sua Paixio, disse aos discipulos: Ah! como soffro, emquanto néo vir realizado na cruz o baptismo de sangue com que devo ser baptizado.— Mas, apezar disso, nfo quiz nascer antes do tempo, para assemelhar se ‘a todos os outros mortaes. Conservou-se alli escondido, como que em recolhimento fe preparacdo para a sua fitura entrada no mundo, em- pregando todos aquelles momentos preciosos em orago ¢ contemplacio, — Desta sorte quiz ensinar-nos, que nos preparemos bem para o recebermos, que nos recolhamos freqnentes vezes em nds mesmos em silencio ¢ recolhimento, Tonge dos tumultos mundanos, antes de tratarmos com os homens, e entregarmo-nos aos trabalhos do ministerio. Aproveitemo-nos de tio bellas ligdes que o divino Sal- vador nos d desde antes de nascer. Entretanto unamos ‘os nossos desejos de o vermos em breve nascido, aos dos Patriarchas, de Sao Jos¢, da Santissima Virgen e da Igreja catholica. O Adonai... veni ad redimendum nos in brackio ex- tento'—«O Adonai, Deus, vinde para nos remir pelo poder de vosso brace.» —©O Deus, protector fortissimo e guia fiel de vosso povo, vinde remir 0 genero humano com foi 0 de 1 Antiph. mai, fer QUARTO DIA— DIA XIX DE DRZRURRO, 63 ‘9 vosso supremo poder! Vinde livrar-nos de tantas mise- rias nossas ¢ subjugar com o vosso brago todopoderoso os poderes cas trevas, que demasiado reinaram sobre nés, ¢ arruinaram as almas. «E Vés, o Padre Eterno, que quizes- tes, mediante a embaixada do Anjo, que 0 vosso Verbo tomasse carne no seio da Bemaventurada Virgem Maria, dae que, venerando-a como verdadeira Mie de Deus, possamos, pela sua intercessio, obter 0 vosso auxili. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Christo.» QUARTO DIA — DIA XIX DE DEZEMBRO, A Paixao de Jesus Christo durou todo o tempo t da sua vida. Dolor meus in conspects meo semper — A minha dor esté sempre éiante de mim» (Ps, 37, 18). Summario, Desde ¢ Stare. uso ina om ce ana fs Christa . Havia alli logar para todos, tambem para os mais abjectos, mas nao para Jesus Christo. — Contemplemos quaes devem ter sido os senti. mentos de Sao José ¢ de Maria Santissima, vendo-se des- Prezados ¢ repulsos de cada um. TL A estalagem de Belem foi figura daquelles coragses ‘tngratos que dao acolhida a tantas creaturas miseraveis & nao a Deus. Quantos ha que amam os parentes, os amigos, até os animaes, mas no amam Jesus Christo e Renhum caso fazem de sua graga e de seu amor. Maria Santissima disse a uma alma devota: Foi uma disposieao diving que a mim e a meu Filho nos faltasse agacalho *. da parte dos homens, afim de que as almas captivadas Pelo amor de Jesus se offerecessem a si proprias para o Wig ie 76 MOVENA PARA A FESTL nin WATAL acolherem e 0 convidassem amorosamente a tomar morada em seus coragbes. Sim, meu Jesus, vinde nascer pela vossa graga em meu pobre coragio!’ Eu nfo me animaria a pedir-Vos esta graga, se no sonbesse que Vés mesmo me inspiraes 0 pensamento de Vola rogar. © Senhor, eu sou aquelle que ‘com os meus peccades Vos tenho tantas vezes expulso cruelmente da minha alma, Mas jé que baixastes 4 terra para perdoar aos peccadores artependidos, perdoaeme, porque me peza sobre todas as cousas de Vos ter des prezado, meu Salvador © meu Deus, que sois tio bom € me tendes tZo grande amor. Nestes dias dispensaes gran- des gragas a tantes almas; consolae tambem a minha. ‘A graga que quero, € a de Vos amar para o futuro, de todo o meu cora¢a0; abrasaeme todo em vosso amor. Amo-Vos, meu Deus, feito Menino por meu amor. Ab, ‘do permittais que eu Vos deixe de amar.—O Maria, mi- nha Mie, vés podeis tudo com as vossas supplicas; eis ahi 0 que unicamente vos peco: rogae a Jesus por mim, fe obtendeme a graca de amalo com todas as minhas forcas, afim de desagraval-o assim de tantas offensas, que em ‘outro tempo the tenho feito. O minha Mae amantissime, rogo-vos, exactamente pela vossa maternidade divina, tomac ‘omen coragao e conchegae-o ao vosso; conchegae-o tambern a0 de vosso divino Filho, e fazei que seja todo consumido nas bellas chammas do amor a vés e a Jesus. (*II 726.) NONO DIA — DIA XXIV DE DEZEMBRO. A Gruta de Belem. Reclinavit eum in preesepio; quia non erat eis locus in diver serio — Ele recinou-o em una mangedoura; porque no havin logar para elles on eealagems (Le. 2, 7): Sunmarie, Que te#lo dio os anjos vendo « divios Mfe entrar ox grata de Belem, afin de dar & lus o Filho de Deus? Os hos dor prin fipes nascem em quires adornados de ouro; ¢ 20 Rei do ofa preperase ” por anscer ue etrebaria a, para coro wos pobre panninhos, pare Pima cm powco e palbs © para o colaear uma vil mangedour? Oh, epatidgo dos Homens! Ob, confsfo pura noso orgolho que sempre finbiciona commodidades © honras! J, Continuemos hoje a meditar na historia do nascimento ‘de Jesus Christo. Vendo-se repulsos de toda parte, Sto José ea Bemaventurada Virgem sahem da cidade afim de achar fora della a0 menos algum abrigo, Os pobres viandantes ca- minham na escutidao, errando e espreitando ; afinal depara- sethes ao pé dos moros de Belem uma rocha escavada em forma de gruta, que servie de estabulo para os ani maes. Disse entio Maria: José, meu Esposo, néo precisa: ‘mos ir mais longe; entremos nesta gruta € deixemo-nos fear aqui.— Mas como? responde Sto José; no ves, mi- nha Esposa, que esta gruta é to fria e humida que a agua escorre em toda parte? no ves que nfo é uma morada para homens, senfo uma estribaria para animaes? ‘Como queres passar aqui a noite ¢ dar 4 luz?— Comtudo verdade, tornou Maria, que este estabulo € 0 pago real f onde quer nascer na terra o Filho eterno de Deus. «Ab! que terdo dito os anjos vendo a divina Mae entrar naquella gruta para dar 4 luz: Os filhos dos principes -nascem em quartos adornados de ouro; preparam-selhes = bercos incrustados com pedras preciosas, e mantihas pre- “ciosas; ¢ fazem-lhe cortejo os primeiros senhores do reino. E ao Rei do eéu prepara-se uma gruta fria e sem lume Pouco de palha para Ieito, © oma vil mangedoura para Pei, collocar? Ui aula, whi thromus? Meu Deus, assim per Sunta Sao Bernardo, onde estd a cérte, onde estd o throno Bi teal deste Rei do cfu, porquento néo vejo seno dous E Animaes para Ihe fazerem companbia, e uma mangedoura dle itracionaes, na qual deve ser posto? O Gruta ditosa, que tiveste a ventura de ver 0 Verbo $pAlvino nascido dentro de til © presepio ditoso, que 2B NOVENA FAEA A PESTA DO WATAr. a honra de receber em ti o Senhor de céu! © palha di- tosa, que serviste de leit dquelle cujo throno é susten- tado pelos seraphins! Sim, fostes ditosos, 6 Gruta, 6 pre sepio, 6 palha; mais ditosos, porém, sto os coragGes que tenrae fervorosamente amam esse amabilissimo Senhor, fe que abrasados em amor o recebem na santa Communbilo. Oh, com que alegria e satisfaccHo vae Jesus Christo pousar no corago que 0 ama! I, Um Deus que quer comegar a sua infancia num estabulo, confunde o nosso orgulho, e, segundo a reflexo de So Bernardo, jé prega com exemplo o que mais tarde havia de pregar 4 viva vor: Aprendei de mim que sou manso e jumilde de coragdo. Bis porque ao contem- plarmos © nascimento de Jeaua Christo © a0 ouvirmos falar em gruta, em mangedoura, em palha, em leite, em vagidos, estas palavras deveriam set para nés como que chammas de amor, © como que settas que nos ferissem os coragies € nos fizessem amantes da santa humildade. E verdade, 6 meu Jesus, Vés, to desprezado por nosso amor, cott, 0 vosso exemplo fizestes os desprezos ex cessivamente cafos € amaveis aos que Vos amam, Mas como entéo & possivel que eu, em vex de os abracar, como Vés 0s abragastes, ao receber algum desprezo da parte dos homens, me tenha mostrado tio orgulhoso, ¢ tenha ainds chegado a offender-Vos, 6 Majestade infinita? Peccador e orgulhoso! ‘Ah Senkor, j4 0 comprehendo: eu nfo soube acccitar com paciercia as humiliagdes ¢ as afrontas, porque nfo Vos soube amar, Se Vos tivera amor, termeiam sido doces © amaveis, Mas visto que prometteis o perdio a quem se arrepende, de toda a minha alma arrependo-me de toda a minha vida desordenada, to differente da vossa, Quero emendar-me, e por isso Vos prometto que para o faturo acceitarei com paz todos os desprezos que me vie- em, que 0s sofiterei por vosso amor, 6 Jesus meu, que re NATIVIDADE DR NOSE HeIGHOR, 79 HE por meu amor tendes sido tio desprezado, Comprehendo F Gu as humiliages s40 as minas preciosas por meio das = quaes quesels enriquecer 2g almas com thesovros eternos, jk sou digno de outras humiliagses e de outros deprezos, pés do demonio. Mas os vossos merecimentes soa mi nha esperanca. Quero mudar de vida; nfo queto mais causar-Vos desgosto; para o futuro nfo quero buscar ser’éo a vossa vontade, € por isso Vos dou todo 0 meu | eoragio, Possui-o, ¢ possuio para sempre, afim de que eu seja sempre voss0 € todo vosso, cE Vés, 6 Pae eterno, que cada anno nos alegraes com fa esperanga de nossa Redempedo, concedeime que com ‘confianga possa esperar a vinda do vosso Filho unigenito como Juiz, @ quem agora recebo alegremente como Sal- yador.>' Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Christo e de Matia Santissima, (*HT 727.) DIA XXV DE DEZEMBRO. Natividade de Nosso Senhor Jesus Christo. imple sunt dies wt pareret (Mass); et pepedt lian suum primogenitam — «Completaramse or dias eo que (Mara) devia far luz; ¢ dew & lus o seu iho primogenitor (Lac. 2, 6)- Sunmari, Toagloenos ver s Jus jf aatcdo na grea do Belem, © ‘uvir oF snjos cantar gloria a Devs © pet aos homens de boa vontade Quiesdovem ter sido oF seotinentos que entio se desperarum 0 co "Glo de Mara, no ver © Vero divoo feito seu fibol Qual a devogto © temurn de Sto Joxé 40 aperat cons 0 coreplo 0 santo Menino! ‘Unumos os nowon ifestos com or deses grandes personigens. 1, Quando Maria Santissima entrou na gruta, poz-se logo £m oragio, De subito ve uma refulgente luz, sente no Coragio um gozo celestial, abaixa os olhos, ¢, 6 Deus! Que ve? ve jé diante de si o Menino Jesus, tao bello ¢ Mo amavel, que euleva us coraydes, Mas treue © cura; On fer, cum, 80. DIA XXY BH DETEMBRO. segundo a revelagio feita a Santa Brigida, extendea s mozi bas para dar a entender que desea que Maria o tome nos bragos. Maria, no auge de, santa alegria, chama José. —Vem, 6 José, disse ella, vem e ve, pois ja nasceu 0 Filho de Deus. — Approximasse José, e vendo Jesus nascido, adora-o por entre uma torrente de doces lagrimas. Em seguida, a santa Virgem, movida de compaixto ‘maternal, levanta com respeito o amado Filho, e conforme a jd citda revelagio, faz por aquecel-o com o calor de seu rosto € do seu peito. Tendo-o no collo, adora 0 di- vino Mesino como seu Deus, beijalhe os pés como a seu Rei, e beijathe o rosto como a seu Filho e procure de. pressa cobrilo ¢ envolvel-o nas mantilhas. Mas ai, como ‘so asperos e grosseiros os panninhos! Além disso, sto frios e humidos, e. naquella gruta nfo ha lume para aquental-os. Consideremos aqui os sentimentos que surgiram no ¢o- ragdo de Maria, quando viu © Verbo divino reduzido por amor dos homens a to extrema pobreza. Contemplemos a devogio ¢ a ternura que ella experimentou quando apertava o Filho de Deus, jé feito seu filho, contra o coragdo, Unamos os nossos affectos aos de tdo boa Mae © roguemos a Deus Padre «que 0 novo nascimento do seu Unigenito feito homem, nos livre do antigo eaptiveiro, fem que nos tem o jugo do peccado> 4 IL, Jesus nasceul! Vinde, 6 reis, principes e todos os, homens da terra, vinde adorar 0 vosso Rei, Mas quem € que se apresenta? ... Ah! 0 Filho de Deus veiu ao mundo, € 0 mundo nao 0 quiz conhecer. Porém, se niio veem os homens, veem a0 menos os znjos adorar o seu Senhor, ¢ cantam jubilosos: Gloria in altis- simis Deo, et in terra pax hominibus bonae voluntatis? — *Gloria a Deus nas alturas, ¢ na terra pas aos homens "On fat, * Lites 2, 14 ‘ie boa vontader, Gloria 4 divina Misericordia, que, em ‘vex de castigar os homens rebeldes, fez 0 propric Deus Be tomar 0 castigo sobre si, © assim os salvou, Gloria 4 Fs givina Sabedoria, que acho meio de satisfazer 4 Justiga, ‘go mesmo tempo, de livrar 0 homem da morte merecida be Gloria ao divino Poder, que de um modo tio adwiravel ‘yenceu as forcas do inferno. Gloria finalmente ao divino “amor, que induziu um Deus a fazerse homem e a levar uma vida téo pobre, humilde e penosa,— Meu irmao, tunamos a8 nossas adorag6es 4s dos anjos e digamos com =) a nossa santa Madre Igreja (Lue. 2, 10). ‘Suovmarie, Orgavicamse grandes festejos mum paiz, quando #0 rei rasce seu. fihe primogenito, Quanto mais nié devemos nés festejar 0 fnascimento do Filho unigenito de Deus, que veiu do céu para nos visitar, Talver elguem deseje csrreger o Menino Jesus nos bragos; m a nosse fé © lembremo-nos de que na santa communhfo reoebemos, nfo Somente em nossos bragos, mes tambem dentro Jo nosto peito, © mesmo Jesus, que por nosso amor esteve deitado no presepio de Belem. I. © nascimento de Jesus Christo trouxe alegria geral ao mundo inteiro, E elle o Redemptor desejado durante tantos annos e com tamanho ardor, que por esta razdo foi chamado 0 Desejado das gentes, o Desejado das collinas eternas, -Eis que jé vein, nascido numa gruta estreita Facamos que 0 anjo nos annuncie 0 mesmo gozo que annunciou 20s pastores, e que nos diga: Hece enim evan geliso vobis gaudium magnum, quod erit omni populo: (quia natus est vobis hodie Salvator — «Annuncio-vos um grande gono, que seré para todo o povo; & ¢ que vos nascen © Or, eAnime Chri DIA Xx1K DE DEZEMBEO. 97 joje 0 Salvador. —Que festejos no se organizam num paiz, quando nasce ao rei seu filho primogenito! Muito mais devemos nés festejar o nascimento do Filho de Deus, que yeiu do céu para nos visitar, movido unicamente pelas entranhas da sua misericordia: per viscera misericordiae Dei nostri, in quibus visitavit nos oriens ex alto’. Nés nos achavamos em estado de condemnagio, e eis que Jesus veiu para nos salvar: Propter ngstram salutem descendit de coelis—«Desceu dos céus para a nossa sal- vacho», Kis ahi o Pastor, vindo para salvar da morte as suas ovelhas, dando a vida por amor dellas.— go sum pastor bonus} Bonus pastor animam suam dat pro ovibus suist— «Eu sou 0 bom pastor; 0 bom pastor dé a propria vida pelas suas ovelhas>. Bis ahi 0 Cordeiro de Deus que veiu sactificar-se para nos obter a graca divina e fazer-se nosso libertador, nossa vida, nossa Iuz, € nosso alimento no San- tissimo Sacramento. Diz Santo Agostinho que, entre outras razies, Jesus quiz set posto numa mangedoura, onde os animaes acham 0 pasto, para nos dar a entender que: se fez homem tambem para se tornar nosso alimento. Jesus nasce, por assim dizer, nasce cada dia no San- tistimo Sacramento por meio da consagragio feita pelo sacerdote. O altar é como que o presepio, onde nos ali- mentamos com a sua propria carne. Talvez alguem deseje trazer 0 Menino Jesus nos bragos, assim como o trouxe © velho Simedo. Mas a fé nos ensina que na santa com- ‘munhdo temos, nio smente em nossos bragos, sendo dentro do nosso peito, 0 mesmo Jesus, que esteve no presepio de Belem, Nasceu precisamente afim de se dar a nés: Parvulus natus est nobis, et filius datus est nobis'— «Nasceu- nos uma crianca, e foinos dado um filho». Wl. Erravi sicut ovis quae periit: quaere serous tuum'— “Andei errando como uma ovelha que se desgarrou; busca ise 1 78 Yo 10, ne FR 8, 64 Pa 18, 176. Aon, Menges. I 7 98 DIA Xx1X DE DEZEMDRO, 0 teu servo», Senor, eu sou a ovelha que por ir atrds des minhas satisfacg0es e dos meus caprichos, desgarrei miseravelmente; mas Vés, 6 Pastor e tambem Cordeiro divino, baixastes do céu para me salvar, sacrificando-Vos como victima, sobre a Cruz, em satisfaccdo dos meus pec- cados. Que devo, pois, temer, se resolvo emenéar-me? Nio devo confiar inteiramente em Vés, meu Salvador, que nascestes precisamente afim de me salvar? Hece Deus, Salvator meus, fiducialiter agam, et non timebo'— «Eis aqui esté Deus, meu Salvador, resolutamente obrarei'e nada temereis. Para me inspirar confianca, que penhor mais seguro de misericordia podereis dar-me, depois da vossa propria pessoa? O meu quetido Menino Jesus, quanto me affiige a lembranga de Vos ter offendido, Tenho-Vos feito chorar na grata de Belem. Mas, se Vés me viestes buscar, eis que me prostro aos vossos pés,’e apezar de Vos ver humilhado ¢ anniquilado nessa mangedoura, deitado sobre a palha, reconheco-Vos como meu supremo Senhor e Rei. Ougo que os vossos doces gemidos me convidam a amar-Vos ¢ me pedem o coragdo, Eil-o, 6 meu Jesus, de- posito-o a vossos pés; transformae-o ¢ abrasae-o, Vés que viestes ao mundo afim de abrasar 0s corag6es em vosso santo amor. Ougo que 1d de dentro dessa mangedoara me dizeis: Diliges Dominum Deum tuum ex toto corde tno®— (Is. 49, 15.) infantem suum, ut nom mise- Sumario. Se em geral sto foinivels 1s solicindes de uma mike pare com seus fihos, © que dizer das que 4 Santssime Virgem teve para com Jesus Christo, seu Filho e juntamente seu Creador? Se quizermos imitar 1 divion Me, nde tambem podemos ter 15 mesmas solicitudes part com * Se entre a Epiphania © este sabbado hi 4 ai s este sabbado houver um dia sem meditagto ropria, tome-se a do dia entre 2 ¢ § de Janeiro no qual se celebrou 4 festa do Santissimo Nome de Jesus (vejuse pag. 108). 134 SARBADO NA OMTAVA DA SPIPHANIA nosso Senhor, nfo s6mente na pessoa do proximo que o represente, senfo para com ele mesmo, visto que esté realmente presente no San- ‘isso Sneraments da Eucharistia, Visitemol-o amiudadas vezes © re cebainolo em noses coragées, I. Se em geral sao indiziveis as solicitudes de uma mac qualquer para com seu filho, o que dizer entdo das que Matia teve para com o Menino Jesus, visto que em seu coragdo se uniu o amor natural mais perfeito ao supremo amor sobrenatural? Tanto que viu Jesus nascido na gruta de Belem, abragou-o com ternura maternal, tomou-o nos bragos, cobriv-o de beijos, e, segundo a revelagio feita a Santa Brigida, procurou aquecel-o com o calor do seu rosto e do seu peito, Em seguida, como refere Sio Lucas, en- volvewo em panninkos’. O Deus, que grande estima devia a Santa Virgem conceber da pobreza, da humildade, da obediencia, a0 contemplar o Filho de Déus que extendia as suas maozinhas para se deixar enfaixar! Depois de o ter enfaixado, a divina Mae chega o santo Menino a seu peito virginal para o alimentar com o seu leite. Emquanto assim a alimentava, repetia comsigo, cheia de assombro: O caridade, 6 amor incomprehensivel de um ‘Deus para com os homens! — Que terdo dito os anjos do paraiso vendo o Filho do Padre Eterno feito por nosso amor to debil, que precisa de um pouco de leite para conservar a vida? A pobre Virgem nfio possue pennas nem Ja afim de preparar ume caminha para seu Filho. Por isso ajunta um pouco de palha numa mangedoura, onde o deitou. Apezar da dureza da cama e do tigor do ftio, Jesus ador- mece no meio de tantas incommodidades, porque a neces: dade vence a natureza, Mas nem por isso Maria descansa. Prostra-se diante daquelle rude bergo, contempla o rosto do divino Menino, adora-o, e nfo deixa de fazer continua. Lue, 3, 7. SABBADO NA OITAVA DA. ERIPHANIA. 135 mente actos de amor a seu Filho.—Unamos 0 nosso amor ¢ as nossas adoragdes com o amor e as adoragbes do coragio de Maria, Se nos tempos passados imitéramos 0 cruel Herodes, perseguindo até 4 morte o divino Filho affligindo sua santissima Mie, pegamos humildemente a ambos que nos queitam perdoar. IL. As solicitudes maternaes de Maria nao se limitaram 4 infancia de Jesus; continuaram, ou antes, iam augmen- tando na sua adolescencia ¢ idade viril, Com effeito, quanta afflicgiio, quanta fadiga nfo soffreu a pobre Mae durante a longa demora de Jesus no Egypto, na volta para a Ga- lilea, na perda do Filho no templo, ¢ durante os tres annos do seu apostolado! Considerando essas solicitudes maternaes, sentis 0 vosso coragéo abrasado de amor a Jesus; experimentaes uma santa inveja a Sao José, que foi o companheiro fiel da divina Mae, e dizeis comvosco: Oxalé tivesse a ventura de servir a meu bom Redemptor! Consolaevos; podeis ter a ventura de servir a Jesus, praticando a caridade para com 0 proximo, porquanto Jesus Christo disse: Quamadiu Jecistis uni ex his fratribus meis minimis, miki fecistist — «Tudo que fizestes ao menor dos meus irmaos, foi a mim que o fisestes>.— Ale, disso, a {6 ensina-vos que Jesus Christo mora pessoalmente em nossas igrejas, dentro do Sacrario. Mostrae-vos, pois, solicitos para com o Santis- simo Sacramento, ornatdo os altares, visitando-o amii- dadas vezes, propagando to bella devogao ¢, sobretudo, recebendo-o dentro de vosso peito com digna preparacdo € accdo de gragas. Para este fim, cada vez que re ceberdes a.santa Communhio, e muito mais, se sbis sacerdote, quando subirdes a0 altar para celebrar a santa Missa, imaginae que a divina Mae vos diz 0 que céfto dia 0 Bemaventurado Jodo de Avila disse a uma pessoa * Math. 25, 40, 136 PRIMEIRA SEMANA DEFOIS DA EPIPHANIA pouco devota: Por piedade, tratae melhor a Fesus Christo, porque é Filho de um bom Pae, © Maria, agradego-vos, tanto em meu nome como no de todo © genero humano, toda a solicitude que tivestes para com nosso divino Redemptor Jesus, proporho seguir sempre 0s vossos santos exemplos. Pelo amor do mesmo Jesus Christo, concedei-me a graca de vos ser fiel. PRIMEIRO DOMINGO DEPOIS DA EPIPHANIA, Perda de Jesus no templo. Remansit puer Tests in Terusalem, et non cognoverunt parentes ius — +0 Menino Jesus ficou em Jerusalem, sem que sous pacs se apercedestem» (Le. 2, 43)- Sumario, Quando Jesus chegou 4 idade de dote annce, José e Marin levarem.no comsigo a Jerusalem na solemnidade de Paschos. Por occ sito da volta, porém, Jesus ficou no templo, sem que seus pees te aperce- Dessem, #6 foi achado ao fim de tes dias de busca e de lagrimas, Aprendamos deste mysterio, que devemos deixar tudo, parentes ¢ amigos, «quando ge trata de promover « gloria de Deus I. Escreve Sdo Lucas que Maria e José iam todos os annos a Jerusalem na solemnidade de Paschoa, e levavam comsigo 0 Menino Jesus. Era costume entre os Israelitas, conforme diz o Veneravel Beda, que durante a viagem ao templo (ao menos na volta) os homens andassem separa- dos das mulheres, a0 passo que os meninos acompanhavam 4 vontade o pae ou a mae. O Redemptor, que ento ti nha doze annos, depois da solemnidade ficow tres dias em Jerusalem. A Virgem-Mae pensava que Jesus estava com José e este julgava-o na companbia de Maria,—O santo Menino empregou aquelles tres dias em promover a gloria de seu Eterno Pae com jejuns, vigilias e oragées ¢ em assistir aos sactificios que eram outras tantas figuras do seu proprio sacrificio da Cruz, Para ter algum alimento, diz Sao Bemardo, foilhe mister pedil-o por esmola, para descansar ndo tinha outro leito sendo a terra nua. posaxco. 137 Quando, 4 noite, Maria e José se encontracam na pou- sada, no achavam o seu Jesus, e com summa afflicgdo se puzeram a procural-o entre os parentes e amigos. Vol- tendo depois a Jerusalem, acharam-no finalmente, ao ter- ceiro dia, no templo, disputando entre os doutores, que pasmados admiravam as perguntas e respostas de aquelle menino extraordinario.— Nesta terra ndo ha pena que se possa comparar dquella que uma alma, desejosa de amar a Jesus, experimenta quando teme que por qualquer culpa delle se tenha afastado. Foi esta exactamente a dér de Maria e José naquelles dias, porquanto a sua humildade, diz 0 devoto Lanspergio, Thes crér que se torndram indignos de ter sob sua guarda um tio grande thesouro, F por isso que Maria, encontrando o Filho, afim de lhe exprimir a sua dér, disse: «Filho, porque fizeste assim comnosco? Sabe que teu pae ¢ eu te andavamos buscando cheios de affticgto.» E Jesus respondeu: «Porque ¢ que me buscaveis? Nao sabicis que importa occupar-me das cousas de meu Pae?s Tiremos do presente mysterio dous ensinos. Primeiro, que devemos abandonar tudo, parentes e amigos, quando se trata de promover a gloria de Deus. Segundo, que Deus se deixa achar por quem o busca. Bonus est Dominus animae quacrenti illum’ —«O Senkor é bom para a alma que 0 buscar IL. O Maria, vés choraes por terdes perdido vosso Filho ‘uns poucos dias. Afastou-se elle da vossa vida, mas nao do vosso coragio, Nao vos lembraes que o amor tio puro com que o amaes, o faz estreitamente unido com- vosco? Vés bem sabeis que quem ama a Deus, no pode deixar de ser amado de Deus, que diz: Ego diligentes me diligo®— «Eu amo os que me amam». Porque, pois, temeis? porque choraes? Deixae que eu chore, que tantas "he 3, 25. * Prov. 8 17. 338 FRIMEIRA SEMANA DEEOIS DA ETIPHANIA, veres e por minha culpa tenho perdido meu Deus, ex- pulsando-o da minha alma. ‘Ab! meu Jesus, como pude offender-Vos de olhos abertos, sabendo que pelo peccado Vos ia perder? Mas nao que- reis que 0 cotagdo que Vos busca, desespere, sentio que se regozije: Lactetur cor quaerentium Dominum’, Se em outros tempos Vos abandonei, 6 Amor meu, agora Vos Dusco, € ndo quero senio a Vés. Para’ possuir a yossa graca, renuncio a todos os bens e prazeres da terra, re- nuncio até 4 propria vida. Vés dissestes que amees a quem Vos ama: amo-Vos, e amaemé Vés tambem. Estimo mais a posse de vosso amor, do que 0 dominio sobre 0 mundo inteiro. Jesus meu, ndo quero mais perder-Vos; mas no posso confiar em mim mesmo; confio tao sémente ‘em Vés. Por piedade! uni-me estreitamente comvosco € no permittais que ainda venha a sepiarar-me de Vés.— © Maria, vés me fizestes achar meu Deus, que tinha per- dido ha tempos; obtende-me agora a santa perseveranca. «E Vés, Padre Eterno, que fizestes reluzir sabedoria celestial na humilde puericia de vosso divino Filho, con- cedei-nos qué nés tambem, cheios do espirito de pru- dencia, meregamos, pela sincera humildade, a vossa com- placencia, Fazei'o pelos merecimentos de Jesus Christo.» # SEGUNDA-FEIRA. Fim do homem. ‘Deum time, et mandate cis observa: hoc est enim omnis homo — «Teme Deus, e observa os seus mandamentos; porque isto € 0 tudo do homem» (Eccles. 12, 13)- Sumario, Nko temos nascide, nem devernos viver para gotarmos, para nos fazermos ricot e potentes, tendo unicamente pars ainarinos & Deus © nos slvarinos para sempre, Todavia este grande fim da nossa existencia € 0 mais detenidado pelos homens, que em tudo pensam ex: cepto ne salvagto da alma. Nés ao menos nfo sejtmos ‘Go insenselos, ¢ tps, 104, 3. * On Eccl SEGUNDALYEIRA, 139 consideremos seriamente que tudo que ae faz, se diz ou te pensa conten 4 vontade de Deus, 6 perdido e perdido para sempre. I, Considera, minha alma, que o teu ser é um dom de Deus, que sem merito algum da tua parte te creou 4 sua imagem. No santo Baptismo adoptou-te por filho; amou- te com um amor mais que paternal, e deute a existencia, afim de que o ames e sirvas nesta terra, para depois go- zares com elle no paraiso. Portanto no nasceste, mem deves viver para gozares, para te fazeres rico e poderoso, para comeres, beberes ¢ dormires, como os irracionaes; mas unicamente pata amares o teu Deus e te salvares para sempre. O Senhor deu-te 0 uso das cousas creadas, afim de que te sirvam para attingir o teu grande fim. — Ai de mim, que em tudo tenho pensado excepto no meu fim! © meu Pae celestial, pelo amor de Jesus Christo, fazei que eu comece uma vida nova, toda santa e toda conforme 4 vossa divina vontade. Considera tambem que na hora da morte terds vehementes remorsos, por no te teres applicado ao servico de Deus. Qual seré a tua afflicgao se no fim de teus dias perceberes, que nessa hora ndo te resta de todas as riquezas, digni- dades, glorias e prazeres sendo um punhedo de pd. Pas- mards que por cousas vas e por ninharias perdeste a graca de Deus e a tua alma, sem poderes reparat 0 mal feito. Nao haveré mais tempo para entrares no bom ca- minho. © desespero! © tormento! Verds ent&o quanto vale 0 tempo; mas ser tarde. Quererés compral-o pelo prego do teu sangue, mas ser-ted impossivel. O dia de amargura para quem nfo serviu e amou o seu Deus. Il, Considera quanto é descurado o ultimo fim do ho- mem. Pensase em augmento de riquezas, em banquetes, fem festas, em passatempos. E ninguem se importa com © servigo de Deus, nem com a salvagto da almal O des- tino etemo € tido por uma bagatela, e assim a maior Parte dos Christos vae a caminho do inferno banque- 140 PRIMGIEA SEMANA DEVOIS DA REIPIANIA, teando-se, cantando e dormindo! Oxalé comprehendessem © que quer dizer: inferno! 3 homem, afadigas-te tanto para tua condemnagdo, ¢ nada queres fazer para a tua salvagiio. Estava pata morrer © secretario de um rei de Inglaterra e ao expirar disse: Desgracado de mim! tenho enchido tanto papel para es- crever as cartas do meu senhor, € nao enchi uma unica folha para me lembrar dos meus peccados e fazet uma boa confissio? Philippe III, rei de Hespanha, disse na hora de sua morte: Ah! antes houvera servido a Deus num deserto, do que sido rei! ‘Mas para que servirdo naquella hora os gemidos e as lamentagdes? Servirdo para maior desesperagio. Aprende ao menos 4 custa de outros, a viveres solicito de tua sal vagiio, se no quizeres calrir no mesmo desespero, E lembra- te de que tude o que fizeres, pensarés ou disseres con- trario 4 vontade de Deus, esté perdido para a tua alma. Animo! j4 € tempo de mudares de vida. Ou queres por ventura @ hora da morte para te desilludir? quando esti- veres ds portas da eternidade, como que suspenso sobre © abysmo do inferno, quando ndo houver mais tempo para reparar o erro?—O© meu Deus, perdoae-me. Amo- Vos sobre todas as cousas. Detesto os meus peccados mais do que qualquer outro mal. Maria, minha esperanca, rogae a Jesus por mim. (I 473.) TERGA-FEIRA+ Hei de morrer um dia. Statutum est hominibus semel mori; post hoe autem iudicium — «Ee decretado que or homens morram uma sé ver, ¢ que depois veaha o jeiio» (Hebr, 9, 27), Sunmarie. & vilissimo pare a salvagfo eterna dizermos muites veces comnosco: +Hei de morrer um dias; entetanto escolhermos nos ne 1 Os devotos de Santo Affonso podem tomar hoje a meditagto sobre a fi do Sante, Veluse Appendice n. 1V. TaRgacrasna. 141 gocios da vida o que na hora da morte quizeramos ter feito, Com effeito, ‘meu irmfo: nesta terra um vive mais tempo, outro menos; mas mais cedo ‘ou mais tarde, para cada um chegaré 0 fim, e entto nada nos consolaraé senfo 0 havermos smado Jesus Christo © 0 termos amor € com paciencia as diffculdades da vide presente, decide por seu 1. E utilissimo para a salvagdo eterna dizermos muitas vezes comnosco: Hei de morrer um dia. A Ygreja lem- bra-o todos os annos ans fieis no dia de Cinzas: Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris— «Lembra- te, 6 homem, que és pb ¢ em pé te has de tornar.s Mas no correr do anno a lembranca da morte nos é suggerida frequentissimas vezes, ora pela vista de um cemiterio 4 beira da estrada, ora pelas campas que vemos nas igrejas, ora pelos defunctos que so levados 4 sepultura.—Os ob- Jectos mais preciosos que 0s anachoretas guardavam nas suas grutas eram uma cruz e uma caveira: a cruz para se lembrarem do amor que nos teve Jesus Christo, ¢ a caveira para no se esquecerem do dia da sua morte, Assim € que perseveraram na sua vida de penitencia até a0 termo de seus dias, Morrendo pobres no deserto mor- reram mais contentes do que morrem os monarchas em seus palacios regios. Finis venit, venit finis'\—«O fim vem, vem o fim!» Nesta terra uns vivem mais tempo, outros menos; porém, mais cedo ou mais tarde, para cada um chegard o fim da vida, © nesse fim, que seré a hora da nossa morte, nada nos dard consolo, sendo o termos amado Jesus Christo, © 0 termos padecido com paciencia, por amor delle, as Penalidades desta vidé. Entdo nenhum consolo poderdo darnos, nem as riquezas adquiridas, nem as dignidades Possuidas, nem os prazeres gozados. Todas as grandezas terrestres ndo sémente nao consolardo os moribundos, antes Ihes causardo afflicg6es. Quanto mais as tiverem precurado, tanto mais Ihes augmentaré a afflicgo, Soror Margarida "Be 72, 142 [PRIMEIRA SEMANA DEPOIS DA. EPIPHANTA, de Sant’ Anna, carmelita descalga ¢ filha do imperador Rodolpho It dizia: Para gue servirdo os reinos do mundo na hora da morte? ‘Ah! meu Deus, daeme luz e dae-me forga para em- pregar o tempo de vida que me resta em Vos servit fe amar! Se tivesse de morrer neste instante, no morreria contente, morteria com grande inquietagao. Para que, pois, esperar? Esperarei per ventura até que a morte me sur- prehenda, com grande perigo para a minha eterna sal- vagio? Se nos tempos passados tenho sido tio insensato, nfo o quero ser mais, Dou-me inteiramente a Vés; acceitae- me e soccorrei:me com a vossa graga. IE Nao ha que ver; para cada um chegaré o fim da vida, e com este fim 0 momento que decidiré da nossa eternidade feliz ou infelit: O momentum a quo pendet acternitas! Oxalé, todos pensassem nesse grande momento fe nas contas que entio deverdo dar ao divino Juiz acerca de toda a vida! De certo, nfo se preocupariam tanto com acumulacdo de dinheiro, nem se afadigariam para serem grandes nesta vida, que deve findar; senfio pensariam em tomarse santos, e em ser grandes na vida que nunca mais teré fim. ‘Se portanto temos f € cremos que ha uma morte, um juizo e uma eternidade, procuremos viver tdo sémente ‘para Deus durante o tempo de vida que ainda nos resta. Por isso, vivamos quaes peregtinos nesta terra, Lembrando- nos de que em breve a teremos de deixar. Vivamos sempre com o pensamento fity ua morte, ¢ noo negocios da vida presente, prefiramos sempre 0 que ma hora da morte quizeramos ter feito. As cousas da terra nos deixam fou nés havemos de deixal-as, Escutemos 0 que nos diz Jesus Christo: Thesaurizate vobis thesauros in coelo, ubi neque aerugo neque tinea demolitur'— «Ajuntae para vis 1 Math, 6, 20. (QUARTATEIRA. 143 thesouros no cétt, onde ndo os consome a ferrugem nem a fracas, Desprezemos os thesouros terrenos, que nzo couseguem contentar-nos ¢ em breve perecetiio, e proci- remos ganhar os thesouros celestes, que nos fardo felizes munca poderio acabar. © meu Senhor, ai de mim, que por amor 4s cousas deste mundo Vos tenho tantas vezes virado as costas, a Ves, 6 Bem infinito! Reconhego que fui insensato procu- rando ganhar no mundo grande reputagao e fazer grande fortuna, De hoje em diante ndo quero para mim outra fortuna senéo a de Vos amar e de cumprir em tudo a ‘vossa santa vontade. © meu Jesus, arrancae de meu co- racdo 0 desejo de fazer figura, fazei que eu ame os des- prezos e a vida occulta. Dae-me forga para me negar tudo 0 que nfo Vos agrada. Fazei que acceite com paz as enfermidades, as perseguigGes e todas as cruzes que me enviardes. Por vosso amor quizera morter abandonado de todos, assim como Vés morrestes por meu amor. © Virgem Santa, as vossas oragSes me podem fazer achar a yerdadeira fortuna, que consiste em amar muito 0. vosso divino Filho; por favor, rogae por mim, em vés confio. (Ul 261.) QUARTA-FEIRA. A eternidade do inferno é terrivel, mas justa. Non dabit Deo placstionem sum Nido daré a Deus « sua propiciagto mente» (Ps, 48, 8)- festard em trabalho eter Swmarie, Digam os ineredulos © que quizerem: as penas do infemo duiarto eternamente, E com razto. A offense de una Majestade inficite € devido um castigo infinite, Sendo, porém, a creatura ineapar de sofirer ‘um castigo infinito em infensdo, 6 justo que © seja em duragite, Quantos de aquelles que no quizeram erée nesta terrivel eternidade, experimentem- ra agora em si mesmos| Ai daquelle que eahir no abysmo infernal! I. As penas da vida presente passam; porém, as da outra vida n&o passardo nunca, estario sempre prin- 144 PRIMBIRA SEMANA DEFOIS DA EPITIEA cipiando, Pobre Judas! Passaramse quasi mil ¢ nove: centos annos desde que cahiu no inferno; e 0 inferno esta apenas principiando para elle, Pobre Cain! ha perto de seis mil annos que est4 no inferno, ¢ o seu inferno ainda est4 no principio. Perguntouse certa vez a um de- monio ha quanto tempo j4 estava no inferno; © respon: deu: Desde hontem,— Como? disseram-Ihe; desde hontem? Nao ha mais de cinco mil annos que foste condemnado ‘ao inferno?—Tornou 0 demonio: Oh! se soubesses 0 que quer dizer eternidade, bem comprehenderias que em eqnparagiio della cinco mil annos no sido sendo um instante. + Mas como? dird um incredulo; que justiga € essa? Castigar com uma pena eterna um peccado que dura apenas um momento? E como é, respondo eu, que 0 peccador pode ter a audacia de offender, por um prazer momentaneo, uma Majestade infinita? Até a justiga hu- mana, observa Santo Thomaz, mede a pena, ndo pela duragdo, mas pela qualidade do crime. Non quia homici dium in momento committitur, momentanea poena punitir. ‘A offensa feita 4 Majestade divina merece castigo infinito, diz Séo Bernardino de Sena. Mas, como a creatura, ac- crescenta 0 Doutor Angelico, ndo é capaz da pena infinita em intensidade, & com justica que Deus torna a pena in- finita em duracao. ‘Além disso, esta pena deve ser necessariamente eterna, porque 0 condemnado jd nao pode satisfazer pelo seu peccado. Nesta vida o peccador penitente pode satisfazer, porquanto podem ser-lhe applicados os merecimentos de Jesus Christo; mas desta applicago fica excluido 0 con- demnado, e visto no poder aplacar a Deus, e ser eterno © seu estado de peccado, a pena deve tambem ser eterna: Non dabit Deo placationem suam ...laborabit in aeternum — «Nao dard a Deus a sua propiciacto...estard em tra- balho eternamenter.— Demais: ainda que Deus quizesse (QUARTA:FEIRA. 14g perdoar, o reprobo nao quizera ser perdoado, porque a sua vontade est obstinada e confirmada no odio contra Deus. Por isso o mal do reprobo é incuravel, porque elle recusa a cura: Factus est dolor eius perpetuus, et plaga desperabilis reruit curari', Il. Eis ahi, pois, o estado lastimoso dos pobres con- demnados no inferno: ficarao encerrados eternamente nese carcere de tormentos, sem que haja para elles esperanga alguma de sahir. Depois de passados milhOes e mais miles de seculos, os desgragados perguntaréo aos de- moaios: Custos, quid de nocte?*— «Guarda, que viste de noite? “Jé esth muito adjantada esta noite procellosa? Quindo acabaré? quando acabarto estes clamores, esta infeec&o, estas chammas, estes tormentos? E hao de re- spenderlhes: MVunca, mumca! E quanto tempo durario? Sempre, sempre! E assim a trombeta da justica divina etemamente Ihes fard soar aos ouvidos estas palavras Sempre, sempre! Nunca, munca! © meu amado Redemptor Jesus, se actualmente estivesse condemnado, como mereci, nZo haveria mais esperanga para mim, e estaria obstinado no odio contra Vés, 6 meu Deus, que morrestes para me salvar. Que inferno seria para mim o ter de odiar-Vos, a Vés que tanto me tendes amado, que sois a belleza infinita, digno de amor infinito? Se estivesse, pois, no inferno, achar-me-ia em to miseravel estado, que nem quizera o perdido que me offereceis agora, Agradego-Vos, meu Jesus, a bondade que tivestes para commigo, ¢ j4 que posso ainda esperar o perdio ¢ amar- Vos, quero reconciliar-me comvosco, quero amar-Vos. Offereceis-me 0 perdio, e eu Vol-o pego e espero-o pelos vossos merecimentos, Arrependo-me de todas as offensas que Vos fiz, 6 Bondade infinita, ¢ perdoaeme. Amo-Vos de toda a minha alma. Her, 15, 18. Ys a1 8. Amon, Medhagter. 10 146 PRIMEIRA SEMANA DEPOIS DA EDLPMANIA. Que mal me fizestes, 6 Senhor, para que Vos houvesse de odiar como inimigo na eternidade? Quem foi jamais to meu amigo a ponto de fazer e padecer por mim, o que Vés, 6 meu Jesus, haveis feito e soiftide por meu amor? Nao permittais que me acontega cahir de novo em vosso desagrado e perder 0 vosso amor. Prefiro morrer a cahir nesta extrema desgraga,—O Maria, abrigaeme sob o vosso manto, e nfo permittais que saia debaixo delle para alguma vez me revoltar contra Deus € contra vés. (*I 125.) QUINTA-FEIRA. Exemplos que nos da Jesus Menino. EErunt oculi tui videotes praeceptorem tuum — Os teus olhos festarto vente o teu westres (Is. 30, 20). Semmario. Quaoics Wéllos exemplos nos df Jesus Chsto dorante todo fo tempo da sua infancia! Exemplos de submissfo 4 vontade diving, de obreze, de humildade, de mansidfo, de obediencie; exemplos de morth fieagto, de amor & crus, de recothimento © de oracio; noma palevr, exemplos de todes as mis bellas vrtudes. Esforeeno-nos por imital-o, tauste 0 que custar, © imaginemos que Id de cima, da Gruta de Belem, © Padre Bterno nos die: Se nfo vos fizerdes semelhgntes « este mei fimado Fitho, feito menino por vosso amor, nfo entrareis no reino dos eéxs. I, Tendo o Padre Eterno decretado que 0 Verbo divino se fizesse homem para operar a nossa Redempcio, podia Jesus Christo tomar um corpo glorioso, ou de homem perfeito, como Adam, sem que ficasse sujeito a todas as fraquezas e miserias proprias da infancia. Nao obstante isso, para nosso ensinamento e maior proveito, quiz nascer ctianga como nés, afim de que, vendo-o em tudo nosso semelhante, nos sintamos com mais estimulo de imital-o fazer-nos semelhantes a elle, Oh! que exemplos tZo numerosos de virtudes nos deu © divino Menino durante toda a sua infancia, se quizer- mos aproveital-os! Exemplos de amor para com sen Pae, ¢ de submissao & vontade divina. Vede, como Jesus, ape- qunera-rerA, ray nas nascido e, conforme diz 0 Apostolo, no seu primeiro ingresso no mundo, inclina humildemente a cabeca, adora respeitosamente a Deus Pae e protesta que est4 prompto a fazerlhe em tudo a santissima vontade: Ecce venio, ut Saciam, Deus, voluntatem iuam'— «Bis que venho, para faser, 6 Deus, a tua vontades.—Exemplos de pobresa € de castidade: escolhendo para me uma virgem; para guarda um homem castissimo; para sua corte uns pastores innocentes, Quer que tudo ao redor delle seja indigencia e miseria: Propter vos egemus factus est*— «Para vés lle se fex pobres,—Exemplos de mansidao, de humil- dade e de obediencia, Podia castigar instantaneamente 20 impio Herodes, que o persegue 4 morte, mas demora o castigo, ¢ entretanto substrahe-se 4 sanha do rei por meio de uma foga humilhante para o Egypto, onde vive obe- diente a qualquer aceno de José e de Maria: Ei erat sub- ditus illis'— «B estavalhes sujeitor. Finalmente Jesus nos dé exemplos de mortificacao, de abnegacao proptia, de amor de crus, e sobtetudo. de re- colkimento e de oracio, Passa todos os seus dias nas mais duras privagdes e sanctifica o trabalho pelo silencio e pela oragio. De sorte que desde entdo se Ihe pode applicar © que depois disse o Evangelista: Brat pernoctans in ora- tione’—«Passava as noites em oracao>. Felites de nés, se soubermos imitar os exemplos do santo Menino Jesus! Il, Imaginemos que Deus Pae ld de cima da Gruta de Belem nos diz o que Jesus Christo mesmo disse mais tarde a seus discipulos: isi efficiamini sicut parvulus iste, non intrabitis in regnum coelorum’ — «Se ndo ves fiserdes como este menino, nie entrareis no veino dos clus», Se nao vos fizerdes semelhantes a este meu Filho, feito crianga por vosso amor, nao entrareis no reino dos cus. Hebr. 10, 9. “Lue. 6, 12, +a Cor. 89 "Lae. 2, $1. * Math. 18, 3. A 148 PRIMEIRA SEMANA DEPOIS DA EPIPKANIA. Examinemos, pois, a nossa consciencia, ¢ se infelizmente acharmos que nos tempos passados pouco ou nada temos imitado os exemplos do santo Menino, tomemos uma re- solugdo firme de fazel-o 20 menos para o futuro. «O dulcissimo Jesus, como estou envergonhado de me ver tio differente de Vés! Mas jd que acolheis os maiores peccadores, quando se convertem, fazei que de hoje em nnte ndo seja mais assim, Dag.me, 6 Senhor, assim como fizestes para com todos os peccadores atrependidos, um corago semelhante ao vosso, Dae-me um coracdo humilde, amante da vida occulta e desprezada, ainda no meio das honras terrestres; um coracdo paciente, resignado em to- das as contrariedades, por mais penosas que sejam; um coragho pacifico, que guarde sempre uma inalteravel paz com 0 proximo € comsigs mesmo. 1 1 Oragto de Sto Clemente Maria Hoffbauer, C. $8. R, SEXTALFEIRA. 149 SEXTA-FEIRA. Fuga de Jesus para o Egypto. Surge, et accipe puerum et matrem elus, et fuge in Aegypluan — Levaniate, © toma comtigo © Menino e sua Mie, e foge pars © Egyptor (Matth. 2, 13) Sumario. Considera que Jesus apenas nascido & perseguide de morte por Herodes, sendo assim obrigado a fugir para o Egypte, afim de salvar vide, Quo penose devia ser afuella fuga para a sagrada Familia ¢ ‘especialmente para o Coragio extremamente sensivel do Menino Jesus, Minha alma, associate dquelles tres pobres exilados, compadecete delles, © quando Senhor te provar com tribulagGes, ure os teus padetimentos os daquelles santos personagens. Considera iguilmente que pelos pec- cados que commetteste, renovaste para Jest a pereeguigho de Herodes, I. O Anjo aparece em sonhos a Sao José e the dé a entenier que Herodes vae procurar 0 Menino Jesus, para Ihe tirar a vida, Surge, et accipe puerum et matrem eis, et fuge in Aegyptum—«Levantate, e toma comtigo 0 Menino ¢ sua Mae, ¢ foge para o Fgyptos. Kis como Jesus apenas nascido é perseguido de morte, —Herodes é figura daquelles miseraveis peccadores qué vendo Jesus Christo apenas renascido em sua alma pelo perdio ob- tido, novamente o perseguem 4 morte, tornando a peccar: quaerunt puerum ad perdendum eum. José, tendo recebido a ordem do Anjo, obedece logo, sem demora, e avisa a sua santa Esposa, Ajunta a pouca ferramenta que podia catregar, afim de exercer 0 seu officio no Egypto e deste modo sustentar a sua pobre familia. — Maria, por seu lado, faz uma pequena trouxa dos pan- ninhos, ao uso do divino Menino. Depois entra na pobre morada, ajoelha junto ao bergo de seu tenro Filhinho, beijalhe os pés, e derramando lagrimas de ternura, lhe diz: © meu Filho e meu Deus, acabas de nascer e de vir ao mundo para salvar os homens e jd os homens veem Procurar-te para te matarem!—Toma em seguida o Me- nino nos bragos, e emquanto os santos Esposo$ choram, 150 PRIMIEIRA SEMANA DKPOIS PA SPIPHANIA. sahem da casa, fecham a porta e na mesma noite se poem em caminho para o Egypto. Considera em espirito quaes foram as occupagdes de aquelles santos viajartes durante a jornada, Nao falam senfio sobre seu caro Jesus, sobre a sua paciencia e o seu amor, € desta maneira consolavam-se fas difficuldades € incommodos de to longo caminho. Oh! quio doce € © soffrimento quando se olha para Jesus que sofirel As- sociate, minha alma, diz Sao Boaventura, a esses tres santos € pobres exilados; compadece-te delles na viagem tao penosa, longa e incommoda, que esto fazendo. Roga a Maria que te faga sempre trazer 0 seu Filho divino em teu coragio. Il. Considera ainda 0 que os santos peregrinos tiveram que softer, especialmente nas noites que passaram no de- serto do Egypto, O seu leito foi a terra nua ao ar livre € fri. O Menino chera, e tambem Maria e José choram de compaixiio. © santa fél quem nZo havia de chorar ao ver o Filho de Deus, feito criancinha, que, pobre e desamparado, foge pelo deserto afim de se subtrahir 4 morte? © meu amado Jesus, Vés sois 0 rei do céu; mas agora Vos vejo como crianga errando sobre a terra, Dizei- me, 0 que estaes procurando? Compadeco-me de Vés, vendo-Vos tdo pobre e t4o humilhado; porém, mais com- paixdo sinto vendo-Vos tratado com tamanha ingratidao por aquelles mesmos que viestes salvar. Estaes chorando, mas eu tambem quero chorar por ter sido um daquelles que em tempos passados Vos desprezaram ¢ perseguiram. Hoje estimo mais a vossa graca do que todos os reinos do mundo. Perdoae-me, 6 Jesus meu, todas as minhas in- gratiddes para comvosco, Permitti que assim como na fuga para o Egypto Maria Vos trouxe nos bragos, assim eu possa trazer-Vos sempre em meu coragio durante a minha viagem para a eternidade. sannave, 151 © meu Redemptor amado, muitas vezes Vos tenho ex- pulso da minha alma, mas espero que jé tornastes a tomar posse della, Ah! unime a Vés pelos doces lagos do vosso amor. Nao quero mais repellir-Vos de mim. Tenhe, porém, medo que de novo venha a abandonar-Vos, assim como tenho feito em outros tempos, Meu Senor, mandae-me a ‘morte, antes que venha a usar para comvosco de uma nova e mais horrenda ingratidao. Amo-Vos, 6 Bondade infinita, e sempre quero dizel-o: amo-Vos, amo-Vos, anfo-Vos; re- petindo-o sempre, espero morrer amando-Vos: Deus cordis mei, et pars mea Deus in acternum'— «Deus do mew coracto, ¢ a minka porcdo é Deus para sempre. © meu Jesus, Vés sois infinitamente bom e digno de ser amado; por piedade, fazei-Vos amar. Fazei-Vos amar de tantos peccadores que Vos perseguem; dae-lhes luz € fazei que conhegam o amor que hes tendes dedicado, e o amor que mereceis, j4 que andaes errando pela terra, como criancinha pobre, chorando, tiritando de frio, em busca de almas que Vos queiram amar.— O Maria, 6 Vir gemcinha santa, 6 Mae querida e companheira ¢os sot mentos de Jesus, ajudaeme a trazer e guardar sempre 0 vosso Filho em meu corago, tanto na vida como na morte. (I 379.) SABBADO. Maria Santissima, modelo de Fé. Beata quae credidisi, quoniam perficientur ea, quae dicta sunt Libi t Domino — «Bemaventurada é (u, que creste, porgue se bo de cumprir as cousss que te {Gram dilas du parte do Senhors (Lae. 4 15). ‘Suomare, Maria Santissima teve £6 Wo vive, que excedeu 2 de todos ‘os homens ¢ de todos os anjot, perquanto viu Jesus Christo sujeito 1 todas as miserias homanas, e sempre o reconheceu por sex Deus ver- adeito, Se quizermos ser dignos filhos da divina Mue, imitemola nesta 1 Ps. 7a, 26, 152 PRIMEIRA SEMANA DEPOIS DA. BPIPIANIA, virtude como’ em todas as demais, Exercitemo-nos em fazer continuos tctos de {6 © vivamnos segundo as verdades da rosie f: porque a (é tem as obras & morta. I, Assim como a Bemaventurada Virgem & modelo de amor ¢ de esperanca, assim tambem é modelo de {, pois que, diz Santo Ireneu, aquelle damno que Eva fez com a sua incredulidade, Maria o reparou com a sua fé. Com efieito, Eva, porque quiz dar credito 4 serpeate contra aquillo que Deus tinha dito, trouxe a morte; mas a nossa Rainha, dando crédito 4s palavras do anjo, que ella, ficando Vir- gem, devia fazerse Mae do Senhor, trouxe a0 mundo a salvagio, Exactamente por causa da sua fé é chamada bemaventurada por Santa Isabel: Beata quae credidisti— «Bemaventurada és tu porque crester. Diz o Padre Soarez, que a Santissima Virgem teve mais € que todos os homens, € todos os anjos, Via o seu Filho no presepio de Belem, e cria que elle era o Creador do mundo. Viao fugir de Herodes, e nfo deixava de crer que era o Rei dos reis. Via-o nascer, € 0 ceria eterno, Via-o pobre € nécessitado de alimento, ¢ 0 ctia Senhor do universo; deitado sobre a patha, e o cria omnipotente. Observava que ndo falava, e cria que era a Sabedoria finita, Ouvia-o chorar, e cria que era aalegria do paraiso. Via-o, finalmente, na morte vilipendiado e crucificado, e bem que nos outros vacilasse a fé, Maria estaba firme em crér que elle era Deus. E por esta razio, diz Santo Antonino, que no Officio das Trevas sé se deixa uma vela accesa, e Sido Leo, a este proposito, applica 4 Vir- gem esta passagem: Non extinguetur in nocte lucerna dius!—cA sua alampada nfo se apagaré de noiter, Maria Santissima, pela sua grande fé, mereceu ser feita a Luz de todos os fieis, como é chamada por Sio Me- thodio: Fidelium fax. E Sao Cyrillo de Alexandria a 1 Prov. 31, 18, sADnADO, 153 chama Rainha da verdadeira {¢: Sceptrum orthodoxae fidei. A mesma Igreja attribue 4 Virgem, pelo merecinento ‘de sua {é, a derrota de todas as heresias: Gaude, Maria Virgo, cunctas haereses sola interemisti in universo mundo. II, Exhorta-nos Santo Ildefonso: Jmitamini signaculum fidei Mariae—«lmitae a fé insigne de Mariar, Nias ‘como havemos de imital-a? A fé & ao mesmo tempo dom e virtude. E dom de Deus, emquanto é uma lu, que Deus infunde na alma. E virtude, quanto ao exercicio que della faz a alma, Por isso a f ndo sé nos ha de servir de regra para crér, mas tambem para obrar; porquanto, como diz Sao Gregorio: Cré verdadeiramente aquelle que _ poe em pratica as verdades que a f€ Ihe ensina. E isto ter uma f€ viva, o viver segundo se cré, assim como, no dizer do Apostolo, cada justo deve viver: Justus autem meus ex fide vivit®—«O meu justo vive pela fés. Assim viveu a Santissima Virgem, ¢ assim nés tambem, 4 imi- tago della, devemos viver, com differenga daquelles que nfo vivem segundo aquillo que creem, cuja f€ & morta, como diz Séo Thiago®.— E por isso roguemos 4 divina Mae, que pelo merecimento de sua fé nos alcance uma {& viva: Domina, adauge nobis fidem— «Senhora, aug- mentae-nos a féx, Ao mesmo tempo exercitemo-nos em fazermos frequentes actos de {é, unindo-os aos da Santa Virgem. Roguemos tambem por tantos nossos irmios in- felizes, que vivem féra da Igreja catholica. + « Jesus desejava ser baptizado com © seu proprio sangue, para expiar, ndo os peccados pro: prios, sendo os nossos. O amor infinito! infeliz de quem nio Vos conhece e ndo Vos ama. Foi esse mesmo desejo que na vespera da sua morte Ihe inspirou estas palavras: Desiderio desideravi hoc Pascha manducare vobiscum'— «Tenho desejado anciosamente comer esta Pascha comvoscor. Falando assim demonstrou que em toda a sua vida nfo tivera outro desejo, a nao ser o de ver chegado o tempo da sua paixdo ¢ morte, afim de patentear ao homem o amor immenso que lhe tinha, —E pois, verdade, 6 meu Jesus, almejaes 0 nosso amor com tamanha vehemencia, que para o ganhardes no recusastes a morte! Come poderei negar alguma cousa a um Deus que por meu amor deu o seu sangue ¢ a sua vida? IL, Diz Sao Boaventura que causa pasmo ver um Deus padecer por amor dos homens; mas que mais pasmo causa ver homens que coniemplam um Deus que sofire por amor delles, que se fez crianga e estd tiritando de frio numa gruta, que vive como pobre official numa humilde loja e afinal morre, éomo um réu, sobre a cruz, e todavia ndéo ardem de amor para com um Deus téo amante, ou mesmo chegam a desprezat 0 amor divino por amor dos vis prazeres da terra: Como é possivel que um Deus ame tanto aos homens, e que estes, to gratos alids para com seus semelhantes, sejam to ingratos para com Deus? Abl Jesus meu, eu tambem tenho sido do numero desies ingratos, Dizeime: como podestes acceitar tantos * Lue, 23, 15. 156 SRGUNDA SEMANA DEPOIS DA EPLPHANIA, soffrimentos por meu amor, apezar da previsio das in- jurias que Vos havia de fazer? Mas jf que me tendes supportado e me queteis ver salvo, dae-me uma grande dér dos meus peccados, ura dér proporcionada 4 minha ingratidao. Abomino e detesto sinceramente todos os des- gostos que Vos tenho causado. Se em tempos passados desprezei a vossa graca, agora estimo-a acima de todos 0s reinos da terra, Amo-Vos de toda a minha alma, 6 ‘Deus de infinito amor, ¢ desejo viver unicamente para Vos amar. Abrasae-me mais, e dae-me mais amor. Lembrae- me sempre 0 amor que me tendes dedicado, afim de que © meu cora¢do esteja sempre abrasado em vosso amor, assim como 0 vosso ardia no meu amor.— © Coragio amante de Maria, accendei em meu pobre coragao 0 fogo do santo amor. (I 321.) SEGUNDA-FEIRA. O amor vence Yudo. Fortis ext ut mors dileeto— «0 abor & forle como « morles (Cant. 8, 6). Summario, sso como 2 morte nos’ desprende de todos os bens terrestres, das riquesas, das digoldades, dos parents ¢ amigos e de todos fs prazeres do mundo; assim o amor de Deus, quando reina num 20- ragfo, desprende-o do affecio 4 todos 05 bens ceducos. Quereimos, pos, suber se amamos a Deus, © se somos inteiremente dele? Examinenos se estamos desapegados de todas as cousas terrestres, Vejamos sobretudo te jf estamos desapegados de nés mesmos, pela morte do mal proprio, que quer intrometterse mesmo nts acgGes m antes, T. Assim como a morte nos desprende de todos os bens terrestres, das riquezas, das dignidades, dos parentes e amigos e de todos os prazeres mundanos: assim 0 amor de Deus, quando reina num corag&o, desprende-o do affecto a todos estes bens terrestres. Por isso vemos 0s Santos desfazeremse de tudo quanto 0 mundo thes offerecia, re- nunciarem 4s suas posses, 4s mais altas dignidades, e re- tirarem-se para os desertos ou claustros, para pensarem SEGUNDA-PEIRA 187 sémente em amar 0 seu Deus.—A alma nao pode deixar de amar, ou seu Creador, ou as creaturas. Desfacase uma alma de todo o affecto terrestre, ¢ achal-aeis cheia do amor divino, Queremos saber. se pertencemos inteiramente a Deus? Examinemo-nos, se estamos desapegados de todas as cousas da terra, Queixam-se alguns de que em todas as suas devogbes, oragdes, communhées, visitas 20 Santiscima Sacramento nao acham Deus. Responde-Ihes Senta Teresa: Desprende © coracio das creaturas, € entdo busca Deus e achal-o-ds. Nao achards sempre doguras espirituaes, mas o Senhor te fard gozar aquella paz interior que sobrepuja todas as de- licias sensitivas. Que delicia maior pode experimentar uma alma abrasada no amor divino, do que em dizer Deus meus et omnia—«Meu Deus € meu tudor? Fortis ut ‘mors dilectio—«O amor & forte como a morte». Emquanto virmos um moribundo interessado por alguma cousa terrestre, teremos a prova mais certa de que nfo est4 ainda morto, visto que a morte nos tira tudo. Quem quizer ser todo de Deus, deve deixar tudo: a re- serva feita de qualquer cousa prova que o amor de Deus no € perfeito, mas fraco.— O amor divino, diz o P. Segneri Junior, é um amavel ladrdo que nos tira todas as cousas terrestres, A outro servo de Deus, que tinha distribuido todos os seus bens entre os pobres, perguntou-se 0 que © reduzira a tal estado de pobreza. Tirou da algiberia 0 livto dos Evangelhos e disse: Eis ahi quem me despojou de tudo, Em uma palavra, Jesus Christo quer possuir 0 nosso coragio todo inteiro € ndo sotire competidores. IL. Diz Sao Francisco de Sales que 0 puro amor divino consome tudo quanto no é Deus. Portanto, quando nascey em nosso coragio qualquer affecto a alguma cousa que nao seja Deus nem por Deus, preciso ¢ arrancal-o logo, dizendo: Vae-te, pois para ti nto ha aqui logar. ¥: nisto ue consiste a renuncia completa, que 0 Salvador nos re- 158 SEGUNDA SEMANA DEPOIS DA EPIEHANIA, commenda to instantemente, se quizermos ser delle sem reserva; digo renuncia completa, isso ¢ de qualquer cousa, € especialmente de parentes e amigos. Quantos, para agra- dar aos homens, deixam de fazer-se santos! Mas sobretudo devemos renunciar a nés mesmos, trium- phando do amor proprio. Maldito amor proprio que quer intrometterse em tudo, até mas obras mais santas, des- lumbrando-nos com a propria gloria ou a propria satis facgio. Quantos pregadores e escriptores perdem assim todo o merecimento das suas fadigas! Muitas vezes mesmo em nossas meditag6es ou leituras espirituzes ou mesmo ‘em nossas santas communh6es se mistura alguma intengéo menos pura, quer de sermos vistos, quer de experimen- tarmos as doguras espirituaes. Devemo-nos portanto esforgar por vencer este inimigo que nos faz perder o fructo das nossa’ mais bellas obras, Devemo-nos privar, quanto possivel, daquillo que mais nos agrada: privarnos de tal ou qual divertimento, exa- ctamente porque nos diverte; obsequiar uma pessoa in- grata, exactamente porque nos ¢ ingrata; tomar uma me- dicina amargosa, exactamente porque é amargosa, O amor proprio faz com que nenhuma cousa |se’nos afigure boa em que elle nfo acha a sua satisfacgto, Mas quem quizer ser todo de Deus, quando se trata de cousas do seu agrado, facase violencia e diga: Perca-se tudo, comtanto que se dé gosto a Deus. Pelo mais, nfo ha no mundo pessoa mais contente, do que aquella que despreza todos os beas do mundo. Quem mais se priva de semelhantes bens, mais rico se torna de gragas divinas, E assim que o Senhor sée galar- doar aos que o amam fielmente.—O meu Jesus, Vés co- nheceis a minha fraqueza: promettestes soccorrer a quem confia em Vés. Senhor, amo-Vos, espero em Vés, daeme forga ¢ fazei-me todo vosso. Em vés tambem confio, 6 minha doce Advogada, Maria. (II 268.) TERGAPEIRA, 159 TERGA-FEIRA, Remorsos ¢ desejos de um peccador moribundo, Angustia superveniente, requirent pacem, et non erit— «Ao sobreviruhes de repente a angusti, elles buscarfo a paz, © nfo a havers» (Ezeh, 7, 25) Sumario. Consideremos o estado infeliz de um moribundo que viveu ral, especialmente se era pesson consagrada a Deus. Que remorso the causard 0 pensemento de que, com os meios que o Senhor Ihe propor: cionou, até um pagto se faria santo! Desejard entto um instante daquelle tempo que agora se perde, ou é empregado no peccedo, mas em v&o. Jnmto meu, afim de que no tenhamos tal desgrags, tomemos agora as esolugées que entfo haviamos de tomer. Talvez seja esta a ultima ver que Deus not chama, 1. Como se deixam bem conhecer no momento da morte as verdades da fé, mas para maior tormento do moribundo- que viveu mal, especialmente se era pessoa consagrada a Deus, jd que, para o servir, tinha mais fa- cilidade, mais exemplos, mais inspiragdes. O Deus, que pena serd para essa pessoa pensar e dizer: «Reprehendi os outros e fiz peior do que elles! Deixei o mundo e vivi ligado aos gozos, ds vaidades e ds affeigses do mundo!» Que remorso Ihe causaré o pensamento de que, com as luzes que recebeu de Deus, até um pagio se teria feito santo! Que dér ndo soffrerd, Iembrando-se de ter ridicularizado as praticas de piedade dos outros como fraquezas de espitito, e de ter louvado certas maximas do mundo, de estima ou de amor proprio! Desiderium peccatorum peribit'—«O desejo dos pec- cadores perecerér. Quanto serd desejado na morte 0 tempo que se perde agora! Conta Sao Gregorio, nos seus Dia- logos, que um homem rico, mas de mdus costumes, cha- mado Chrysancio, estando a ponto de morrer, gritava aos demonios que Ihe appareciam visivelmente para se apo- derar de sua alma: «Dae-me tempo, daeme tempo até 1 Ps, att, 40, : 160 SEGUNDA SEMANA DEDOIS DA FPIEHANTA, amanha.» Respondiam os demonios: «( insensato, ¢ nesta hora que pedes tempo? Tiveste tanto tempo e perdeste-o, empregaste-o a peccar, e agora é que pedes tempo? Ji nfo ha mais tempo.» O desgracado continuava a gritar € a pedir soccorro. Proximo delle achava-se um set filho chamado Maximo, que era monge. Dizia-lhe 0 moribundo: «Soccorreme, filho, meu caro Maximo, soccorreme!» No emtanto, com o rosto chammejante, volvia-se de um para outro lado do leito, e nesta agitagdo e gritos de desespero, expirou desgragadamente. © céus! durante a vida, aquelles desgragados com- Prazem-se na sua loucura, mas na morte abrem os olhos € reconhecem quanto féram insensatos; mas isto entao Ihes serve téo sémente para augmentar © seu desespero de remediarem o mal-que fizeram.— Meu irmao, penso que ao leres estas reflexdes, dirés: E verdade; ¢ mesmo assim, Mas se é verdade, muito maior seria a tua loucura € a tua desgraca, se, reconhecendo a verdade na vida, nfo te aproveitasses della a tempo. Esta mesma leitura, que acabas de fazer, ser-te-4 no momento da morte uma espada de dér. IL, Eia pois, jd que te & dado tempo de evitar tio deploravel morte, da-te pressa em aproveital-o: nfo de- mores até que venha o tempo em que nfo poderds re- mediar o mal, Nao demores siquer um mez, nem siquet uma semana. Quem sabe se a luz que Deus te dé agora na sua misericordia, nfo & a ultima grdca e a ultima ex- hortagaé que te faz? FE loucura nao querer pensar na morte, que é certa e da qual depende a eternidade; mas maior Joucura ainda é pensar nella ¢ nfo se preparar, Faze agora as reflexdes e resolug0es que fards entio; agora com fructo, entéo sem fructo; agora com a con:. fianga de te salvar, entéo com grande desconfianga de tua salvagio.— A um fidalgo, que se despedia da cdrte de Carlos V, afim de viver unicamente para Deus, per- QUARTA-PRIRA, 161 guntou o imperador, porque deixava a edrte, «Porque é necessatio», respondeu elle, eque exista um intervallo de penitencia entre uma vida desordenada e a morte.» Nao, meu Jesus, no quero continuar a abusar da vossa misericordia, Agradego-Vos a luz que hoje me daes, e pro- metto-Vos mudar de vida. Quanto me consola o que dis- sestes: Convertimini ad me, et convertar ad vos'— «Con- verteivos a mim, ¢ eu me converterei a véss. Afastei-me de Vés por amor das creaturas e das minhas miseraveis satisfaegoes; agora deixo tudo e converto-me a Vés, Estou certo de que ndo me repulsareis, se eu quizer amar-Vos, Porquanto me dizeis que estais prompto para me acolher em vossos bragos. Convertar ad vos— «me converterei a vés». Recebei-me na vossa gtaca, fazei-me conhecer o grande bem que em Vés possuo, e o amor que tivestes para commigo, aim de que no torne a deixar-Vos, — Perdoae-me, 6 meu amado Jesus, perdoae-me; men Amor, perdoae-me todos os desgostos que Vos tenho causado. Dae-me 0 vosso amor, ¢ fazei de mim 0 que quizerdes, Castigae-me, como entenderdes; privaeme de tudo, mas nio me priveis da vossa graga. Venha o mundo todo a offerecer-me todos os seus bens; protesto que sé Vos quero a Vés e nada mais.— © Maria, recommendae-me a vosso Filho; elle vos concede tudo quanto pedis; em vés confio. (II 33.) QUARTA-FEIRA, Morte feliz dos religiosos?, Beati mortui qui ia Domino moriantur. Amodo iam dicit Spi ritus, ut requiescant a laboribus suis — «Bemaventurados os mortos ue morrem no Senhor. Desde agora diz j& 0 Espirito Santo que Aescansem dos seus trabalhoss (Apoe, 14, 13). Zach. 4, 3 * As pestons seculares podem tomar a meditagto para a terga-feira da winia ow sexta semana depois da Epiphania ou alguma dts i S. AMoase, Medkagées. 1 _ 162 SECUNDA SEMANA DEPOIS DA. RPIPHANTA Snnmaric. Para te confirmares ne tua vocaglo, imagina que eslés a ponto de morrer e proximo a comparecer no tribunal de Jesus Christo. Pensa o que enlio malt desejerds ter feito. Soré talver teres sjudado casa e feito a yontade propria, com as honras de parocho, de conego, de ministro? ou antes, morrer na casa de Deus, assstido de texs bons confrades, depois de ina vida na Religito sob a obediencia © desepegado de todas as cousas da terra? I. Quem serio estes bemaventurados mortos que mor- rem no Senkor, senio os Religiosos que no fim da vida se acham jd mortos no mundo, tendo-se desapegado delle e de todos os seus bens, por meio dos santos votos)— Consider, meu irmio, quanto estards contente, se, se- guindo a tua vocagio, tiveres a ventura de morter na casa de Deus. © demonio te representard que, afastando- te do mundo e perseverando na Religito, depois poderés arrepender-te de teres deixado a tua casa ¢ a tua patria, de teres privado os parentes de algum ‘proveito, que de ti podiam esperar. Mas pergunta a ti mesmo: Na hora da morte estarei arrependido ou contente por ter executado a minha resolugdo? Por isso te peco: Imagina que estés 4 morte e proximo a comparecer perante o tribunal de Jesus Christo. Pensa fo que entdo mais desejards ter feito, reduzido a tal estado. Serd talvez teres contentado os parentes, teres feito bene- ficio 4 casa ou 4 tua terra; morreres cercado dos pa rentes, dos sobrinhos, dos cunhados, depois de uma vida em tua casa com as honras de parocho, de conego, de ministro? Ou nfo ‘serd antes teres vido a morrer na casa de Deus, assistido de teus Bons irmfos de religiéo, que ce achamm a0 fim do volume (vejase Appendice n. V), € 0 mesmo farfo sempre quando encontrarem ume meditagfo impropria «seu estado, Pede- se, porém, a todor ot sacerdotes & todos os jovens, em particular nos Seminarios ou Collegios, lelam sempre as meditagdes relatvas a0 estado religioso, Talvez 0 Senhor queira servirse dellas para chamar una alma ‘a uma vide mais perfeit, e pare fazer della um instrumento da sua maior gloria. (QUARTA-paIRA. 163 que na grande passagem te animario; depois de teres vivido muitos annos na humilhag&o, na mortificagdo e na + privagto dos bens, longe dos parentes, sem vontade pro- pria, debaixo da obediencia, e desapegado de todas as cousas da terra; circumstancias estas todas que tornam doce e amavel a morte? . © Papa Honorio, quando estava para morrer, desejava ter ficado no mosteiro a lavar os pratos e nio ter sido Papa, Na hora da morte Philippe I, rei de Hespanha, desejava ter sido leigo em algum convento, e nio rei Philippe TIT, igualmente rei de Hespanha, dizia na morte: Toméra que tivesse servido a Deus num deserto, em, vez de ser monarcha: porque agora compareceria com mais confianga perante o tribunal de Jesus Christo. I, Quando, pois, 0 demonio te tentar para abando- nares a tua vocagdo, pensa na morte, e imagina que estés proximo do grande momento do qual depende a eternidade, Assim vencerés todas as tentagGes, per- manecerds fiel a Deus, viverds e morrerds contente, © nosso Padre Januario Maria Sarnelli, pouco antes de morrer, falando com Deus, disse: «Senhor, Vés sabeis que tudo quanto tenho feito, tudo quanto tenho pensado, tem sido para gloria vossa: agora suspiro por Vos ir ver face a face, se assim o quizerdes.» Depois accrescentou: «Eia, quero porme em doce agonia.» Em seguida entrou em doce colloquio com Deus, momentos depois expirou placidamente com um sorriso nos labios. O mesmo se dard comtigo, meu irmio, ¢ experimentards com quanta razio Sio Bernardo, falando do estado religioso, ex- clamou: «O vida segura, na qual se espera a morte sem +0 Ven. P, Jenuatio Marie Sarnell, de quem fala aqui Santo Affonso, foi um de seus primeiros companheiros. Morreu em Napoles no dis 30 de juno de 1744, com 42 annos de ‘dade, O procesto de Beatfcngta foi fntrodusido ha tempos, © experamos velo em breve sublimedo & Yonras do altar. 164 SEGUNDA SEMANA DRPOIS DA wotextanta temor, ¢ mesmo. se suspira por ella com alegria, e € aco- Ihida com affecto.» Meu Senhor Jesus Christo, que para me alcangardes uma boa morte, escolhestes para Vés uma morte tio amargosa, j4 que me amastes a ponto de me escolherdes para seguir mais dgperto as vossas pégadas, afim de me verdes assim “mais unido e apertado ao vosso Coracao amantissimo; prendei-me agora, Vol-o pego, todo a Vés com os doces lagos de vosso amor, afim de que nunca mais me aparte de Vés. Meu amado Redemptor, desejo ser-Vos grato e responder a to grande graga; mas, por causa de minha fraqueza, temo ser-Vos infiel. Jesus meu, nio © permittais: deixaeme morrer antes do que abandonar- ‘Vos e esquecer-me do affecto especial que me tendes havido. Amo-Vos, meu amado Salvador; Vés sois e sereis sempre © unico Senhor do meu coragdo e da minha alma. Deixo tudo e escolho-Vos, sé a Vés, por meu unico thesouro, 6 Cordeirinho purissimo de Deus, 6 meu affectuosissimo Amador! Ide-vos embora, 6 creaturas; o meu unico bem & men Deus! Elle € 0 meu unico amor, o meu tudo. Amo-Vos, 6 Jesus meu, e em amar-Vos quero empregar todo o resto da minha vida, quer seja breve, quer longa. Abrago-Vos e aperto:-Vos ao meu coragdo, ¢ abracado comvosco quero morrer. E esta a graca que Vos peco, no quero outra, Fazei com que eu viva sempre abrasado fem vosso amor, e quando chegar o fim de minha vida, fazeime expirar num acto de amor ardénte para com- vosco,— Immaculada Virgem Maria, obtende-me esta gra de vés a espero. AV 414.) QUINTA-FEIRA. Estada de Jesus no Egypto. CConsurgens (Toseph), accept puerum et mstrem eius nocte, et secessit in Acgyptum — «Levantando-se (José) tomow comsigo, sinda de noite, © Menino e sua Me, ¢ retirou-se para o Egyptos (Malth, 2, 14). ouierarinRa. 165 Senmario. Durante a sua estada no Egypto » sagrada Familia se nos imostin modelo perfeitissimo de uma familia christt e de uma communidade religiose, Quito bem ordenadas estavam todas as occupagies dessas santes essees, qufo bem divide © tempo entre o trabalho © # oragfo! Com 9 seu trabalho José ganba plo para sie para os outros; Maia evida principalmente de seu Filho; © Jesus comega a prestar a seus paes os primeiros leves servigos, Lancemos um olhar sobre nds mesmos © ext minenos como temos imitado esses grandes modelos. I. Jesus quiz passar a sua infancia no Egypto, afim de Jevar uma vida mais dura e desprezada, Segundo a opinigo de Santo Anselmo ¢ de outros escriptores, a sagrada Fa- milia morou em Heliopolis. Contemplemos com Sao Boa- ventura a vida que Jesus levou no Egypto, durante os sete annos que, conforme 4 revelagdo feita a Santa Maria Magdalena de Pazzi, alli passou. A casa é muito pobre, porque Sao José sé pode pagar um aluguel muito baixo; pobre € a cama, pobre a alimentag&o, pobre, em uma palavra, & toda a sua vida, porque, com o trabalho de suas mios, s6 conseguem ganhar 0 necessatio de dia em dia, e vivem, num paiz onde so desconhecidos ¢ des prezados, sem parentes nem amigos. A sagrada Familia vive, pois, em grande pobreza, mas como sio bem ordenadas as occupag6es desses tres mora- dores! © santo Menino nao fala com a bocca, mas fala continuamente ¢ eloquentemente com o cotagdo a seu Pae celestial, offerendo-lhe todos os seus padecimentos © todos os instantes de sua vida para nossa salvagao. Maria tampouco fala, mas, vendo o seu caro Filhinho, contempla o amor divino ¢ a graga que Ihe fez escolhendo-a Para sua Mae, José trabalha igualmente em silencio, mas vendo 0 divino Menino agradece-lhe por tel-o escolhido Pare companheiro e guarda de sua vida, Foi naquella casa que Maria deshabituou o menino Jesus de climentar-se sé com o leite e comegou a alimental-o com suas proprias maos. Pde o Filho no collo, toma da tige linha um pouco de pio amollecido em agua e poelh'o na 165 SEGUNDA SEMANA DEPOIS DA ERIPIEANTA. sagrada bocca. Naquella casa faz Maria para seu Filhinho © primeiro vestido, e chegado o tempo de lhe tirar as faixas, comega a vestilo, Naquella mesma casa ainda comega Jesus a dar os primeiros passos e a falar. Co- mega alli a fazer 0 officio de aprendiz, occupando-se com 98 pequenos servicos que pode prestar uma crianga © desmame! 6 vestidinho! 6 primeiros passos! 6 pa- lavras balbuciadas! 6 pequenos servicos de Jesus Menino! vés demasiadamente feris e abrasaes os coragdes daquelles que amam Jesus e vos contemplam! Um Dens a andar vacillando ¢ cahindo! Um Deus a balbuciar! Um Deus feito tdo cebil, que n&o pode occuparse senfo em pe- quenas cousinhas de casa, que ndo pode levantar um pao cujo peso excede as forgas de uma crianca, O santa fé, illumina-nos afim de que amemos um Senhor tio bom, que por nosso amor se sujeitou a tantas miserias, II. Dizem que, quando Jesus entron no Egypto, cahiram Por terra todos os idolos daquelle povo. Roguemos a Deus que nos faga amar Jesus de todo 0 coragdo, por- que, quando o amor de Jesus entra numa alma, caem to- dos os idolos de affectos terrestres, © Menino santo, que viveis nessa terra de barbaros, pobre, desconhecido e desprezado, eu Vos reconheco por meu Deus Salvador, e Vos dou gragas por todas as humilhagdes € déres que sofirestes no Egypto por meu amor, Com essa vossa vida ensinastesme a viver como eregrino nesta terra, fazendo-me comprchender que a minha patria no é este mundo, sendo o paraiso, que Vés viestes adquirir-me com a vossa morte, Ab, Jesus meu! tenho sido bem ingrato para comvosco, porque pouco tenho pensado no que fizestes e padecestes por meu amor. Quando me lembro que Vés, 6 Filho de Deus, tivestes nesta terra uma vida tao atribulada, pobre e desprezada, como € possivel que eu ande 4 procura de prazeres ¢ bens terrestres? SEXTALFRIRA, 167 © meu amado Redemptor, permitti que me associe com- vosco, admittime a viver nesta terra sempre unido a Vés, para que unido a Vés chegue um dia a amat-Vos no céu, gozando de vossa companhia pata sempre. Daeme luz, augmentae a minha f, Que bens e prazeres! Que digni dades e hontas! Tudo € vaidade ¢ loucura, A unica ti queza, o unico bem é possuir-Vos, 6 Bem infinito, Feliz, de quem Vos ama!—Amo-Vos, 6 meu Jesus, ¢ a ninguem quero sendo a Vos, Vos me quereis © eu Vos quero. Se possuisse mil reins, renuncial-os-ia todos para Vos dar gosto: Deus meus et omnia— «Meu Deus ¢ meu tudo!» Se em outros tempos corri atrés das vaidades © prazeres do mundo, agora detesto-os e estou arrependido. Meu Salvador amado, de hoje em diante, Vés sereis 0 meu unico Bem, 0 meu unico Amor, o meu unico Thesouro. Maria Santissima, rogae a Jesus por mim; rogaelhe que me faga rico de seu amor, e nada mais desejo. (II 388.) SEXTA-FEIRA, Volta de Jesus do Egypto. ius, et vent Consurgens (loseph), secepit puerum et matrem eius, in terram Ierael— «José, levantando-se, tomou o Menino ¢ sua Mae, fe veiu para a terra de Israel» (Matth, 2, 21). Summaric, Depois de um exilio de sete annos, a sagrada Familia recebeu inal ordem de voltar para a Palestina. José toma a ferramenta de seu officio, Maria a tours de roups, © s© pdem prestes em caminho com Jesus, ofa carregandoo slternadamente nos bragos, ort conduzindo-0 pela mo, Quanto nfo devem ter soffido os santos visjantes naquells jornadal Unamo.nos com elles na viagem que estamos fazendo para s cterniaade, I. Depois da morte de Herodes ¢ depois de um exilio de sete annos, que na opinido de Santa Magdalena de Pazzi Jesus passou no Egypto, aparece novamente 0 Anjo a Séo José e mandalhe que tome o santo Menino © Mie, ¢ volte para a Palestina, Com grande satisfaccdo 168 SEGUNDA SIMANA DEFOIS DA EnupiAmIA, pela noticia recebida, Sao José vae communical-a a Maria. Antes de partirem os santos Esposos, vio levar as des pedidas aos amigos que tinham grangeado naquella terra. Depois José ajunta de novo a pouca ferramenta do seu officio, Maria faz uma trouxa da roupa que possue, € to- mando o divino Menino pela mao, emprehendem, com Jesus no meio, a viagem da volta. Reflecte Sio Boaventura que esta viagem foi mais pe nosa para Jesus do que a da fuga; porquanto jd estava mais crescido, pelo que Maria e José no podiam carregal-o longo tempo nos bragos; por outro lado o santo Menino pela sua idade nao podia ainda fazer to grande viagem a pé; de sorte que Jesus se via obrigado muitas vezes a parar e a descansar por falta de forgas, Mas, quer ca- minhem, quer descansem, José e Maria teem sempre os olhos € 0s pensamentos fitos no Menido amado, que era todo 0 objecto do seu amor, Ah, com que recolhimento anda por esta vida a alma feliz que tem sempre diante dos olhos 0 amor e os exemplos de Jesus Christo! Na viagem os santos peregrinos quebram de quando em ver o silencio com alguma conversaplio santa; mas com quem € de que € que falam? Nao falam senZo com Jesus € de Jesus. Quem tem Jesus no coragio, néo fala senfio com Jesus, nem de outra cousa sendo de Jesus, II, Pondera ainda Sio Boaventura a pena que soffreu, durant? a viagem, o nosso pequeno Salvador, quando, de noite, nfo tinha mais o collo de Maria para descansar, como na ida, mas sim a terra nua. Para (Matt 24, 30). Summarie, Bis que se abrem os ofus, © os anjor veem assisir 20 jaizo trazendo at insignias da Paisto de Jesus Christo, © especialmente 1 Cruz, Veem depois o8 santos apostolos e todos of seus imitadores; ver & Rainha dos Santos, Maria Santissime, e por fim o eterno Juiz meso, que, sentado num throno de majestade ¢ de luz, procederd ao exame, Reflieiamos aqui: © que seré de nés nesse dia? que descalpas poderemos alleges, se por ventura fGrmos condemnades? I, Considera como a divina Justiga julgar4 todos os povos no vaile de Josaphat, quando, no fim do mundo, resuscitarem 0s corpos para receberem, juntamente com a alma, a recompensa ou o castigo, segundo as suas obras, Eis que jd se abrem os céus, ¢ 05 anjos veem assistir a0 juizo, trazendo as insignias da Paixfo de Jesus Christo, segundo Santo Thomaz. Appatecer4 sobretudo a Cruz: E entao appareceré 0 signal do Filho do homem, e todos TERGATEIRA. 179 os poos da terra se lastimardo em prarto’. Diz Cor- nelio a Lapide: Ao verem a Cruz, como chorarao nesse dia os peccadores, que em vida nfo cuidaram da sua salvaglo eterna, que tanto custou ao Filo de Deus! Assistirdo tambem, na qualidade de assessores, os santos apostolos e todos os seus Imitadores, que juntamente com Jesus Christo julgario as nagGes.. Fadgebunt iusti, iudicabunt nationes*— «Os justos refulgirdo e julgarao as nacvess, Vird assistir igualmente a Rainka dos Santos € dos Anjos, Maria Santissima. Appareceré emfim o eterno Juiz, num throno de ma jestade e de gloria: Bt videbunt Filium hominis venientem in mubibus coeli, cm virtite multa et maiestate — «Elles verto 0 Filho do homem, que vir sobre as muvens do clu com grande poder e majestade» A vista de Jesus regozijaré os eleitos, mas para os reprobos seré maior tormento que o inferno mesmo, diz Sao Jeronymo. Por isse exclamava Santa Theresa: Meu Jesus, infligime qual- quer outro castigo, mas ndo me deixeis ver nesse dia a vossa face indignado contra mim. E Sto Basilio accrescenta: Superat omnem poenam confusio ista: esta vista serd 0 ‘mais horrivel de todos os tormentos. Entio cumpritse-4 a prophecia de Sao Jotio: os condemnados rozario 4s mon- tanhas que caiam sobre elles e os livrem da vista do Juiz iitado. Abscondite nos a facie sedentis super thromun et ab ira Agni IL. Principia o julgamento. Manuzeam-se os processos, isto é poese a descoberto a consciencia de cada um Judicium sedit et libri aperti sunt'— «Assentowse 0 juizo ¢ abriram-se os livross. As primeiras testemunhas cha- madas a depér contra os reprobos, serao os demonios, Que (segundo Santo Agostinho) dirdo: «Deus de justica, mandae que seja nosso aquelle que de nenhum modo "Mau, 24,30. 8 Sap. 37 Apoe. 6,16. Dan, 7,10. 180) TRRERIRA SEMANA Devons pa ReInHEANTA, quiz ser vosso.» Testemunhas serdo em segundo logar as proprias consciencias: dandothes testemunko a propria ccnsciencia. Outras testemunhas, a clamarem vinganga, serio as paredes da casa onde Deus foi offendido pelos peccadores: Lapis de pariete clamabit®, Viré afinal o testemunho do proprio Juiz, que esteve presente a todas as offensas que the foram feitas. Diz Sto Paulo que entio o Senhor manifestaré 0 que se acha escondido nas trevas'; isto &, descobrird entio aos olhos de todos os homens os mais reconditos e vergo- nhosos peccados dos reprobos, que elles em vida occulta- ram aos proprios confessores: Revelabo pudenda tua in fecie tua’. Os peccados dos eleitos, segundo o Mestre das Sentencas e outros theologos, no serio. manifestados, mas ficardo encobertos, conforme estas palavras de David: Bemaventurades aquelles cujas iniguidades sto perdoadas, ¢ cujos peccados sto encobertos®. Pelo contrario, os dos reprobos, diz Sdo Basilio, sero vistos de todo o mundo num relance de olhos, como num quadro. Considera agora, meu irmfo: 0 que serd de ti nesse dia? ... quo grande’serd a tua confusdo se por desgraga te perderes?... que desculpas poderds allegar? Bia pois, faze penitencia, muda de vida, déte inteiramente a Deus, € comeca a amalo devéras. Sim, meu Jesus, j4 Vos offendi bastante; nso quero empregar a vida que ainda me resta, em dar-Vos novos desgostos. Nao é isso o que Vés mereceis, Quero em- pregal-a sémente em amar-Vos e em chorat os meus pec- cados, que agora detesto de todo 0 meu coragao. $0 dulcissimo Fesus, n&o sejais meu Fuiz, sendo meu Salvador®,—E vés, 6 minha Mae Maria, rogae a vosso divino Filho por mim, (*IL 115.) 4 Rom. 2,15. t Habac, 2,31, 1 Cor 4 5 | Nab 3,5, 5 Ps 31, 1 © Indulg. de 50 dias cada ver. QUARTA-FEIRA, 181 QUARTA-FEIRA, Quanto é cara a Deus a alma que se lhe entrega toda. Ego ililecto meo, et ad me converio eios— «Eu cou para o meu amado, ¢ elle para mim se volta» (Cint. 7, 10). Sumario. Mow iemio, euida em expulsar de teu coragfo tudo que ‘fo seja Deus, ou nfo conduza ao seu amor, © consagrat a elle intsze mente © sem reserva, Nfo serd justo por ventura cue seas todo daquelle que se fer todo teu? Além disso lembrete de que Jesus Christo ama nosis uma alma que ioteiramente se The conssgra do que mil almas tibins « iinperfetas. Sto as alas generores e todas de Deus, que estfo desti atdas a preeacher 0 céro dos Seraphins. I, Deus ama todos aquelles que o amam!, Muitos, porém, consagram-se a Deus, mas conservam ainda no corago alguma afieicdo 4s creaturas, a qual os impede de serem inteiramente de Deus. Ora, como é que Deus se quererd dar todo 4 alma que juntamente com elle ama as creaturas? Com razdo usaré Deus de rese-va para com @ alma que se mostra reservada para com elle. Ao con- tratio, Deus se dé todo ds almas que expulsam do cora- Ho tudo que ndo seja Deus ou nfo conduza a0 amor de Deus, e que, consagrando-se a Deus sem reserva, dizem com todas as véras: Deus meus ef omnia—men Deus e men tudo, Em quanto Santa Theresa nutria na alma un affecto des- ordenado, embora nao peccaminoso, a certa pessoa, nao Ihe foi dado ouvir Jesus Christo dizer-lhe, como depois Ihe foi concedido, quando, tendo-se ella desprendido de qualquer affecto terrestre e entregue sem reserva a0 amor divino, 0 Senhor the disse: «J4 que és toda minha, ew Sou todo teu,» Pelo amor que nos tem, o Filho de Deus Se deu todo a nés: Dilesit nos et tradidit semetipsum Pro nobis? — «Christo nos amou # se entregen a si mesmo Prov. 8 17, Bph, 5, 2, t t i 182 TRRCEIRA SEMANA DEPOIS DA EPIPHANIA. por nbs». Se pois, diz Sto Joio Chrysostomo, se deu a ti sem reserva, € de justica que tambem te dés inteiro a Deus e Ihe digas de hoje em diante: Dilectus meus miki et ego illit—«O meu amado é para mim e en sou para elle>. Revelou Santa Theresa a uma sua religiosa, 4 qual ap. pareceu depois da morte, que Deus ama com mais amor uma alma, sua esposa, que se lhe dd toda inteira, do que mil outras tibias ¢ imperfeitas. Com almas generosas ¢ todas de Deus ¢ que se preenche o cdro dos Seraphins. Diz 0 mesmo Senhor que ama tanto uma alma que aspira & perfeigdo, como se amasse sémente a ella: Una est columba mea, perfecta mea, Por isso 0 Bemaventurado Egidio fazia esta exhortagio: Una uni—A unica para o unico. Com o que queria dizer que a unica alma que nés temos, devemos dal-a, toda e nao dividida, 4quelle que sé merece 0 nosso amor, de quem depende todo o nosso bem e que mais do que ninguem nos ama. E o que repetia tambem Sdo Bernardo: Sola esto, ut soli te serves. © alma, dizia, conservate s6, ndo te dividas no affecto 4s creaturas, afim de seres toda sémente daquelle que s6 merece um amor infinito e a quem sdmente deves amar. I. Ditectus mens miki, et ego illi—cO meu amado é para mim, e ex sou para eller, O meu Deus, j4 que Vés Vos déstes todo a mim, eu seria demasiadamente in- grato, se no me désse todo a Vés. Visto que me quereis todo para Vés, eis-me aqui, meu Senhor; eu me dou todo a Vés. Acceitaeme pela vossa misericordia, nfo me des- prezeis. Fazei com que 0 meu coragdo, que algum tempo amou as creaturas, agora se dé todo a amar a vossa bon: dade infinita. «Morra de uma vez este eu», dizia Santa ‘Theresa, If, Nao temamos pela Igreja, mas temamos por nds mesmos, que talvez, fracos como somos e cercados de t&ntos perigos, naufraguemos miseravelmente. Por isso roguemos com a Igreja ao Senhor, «que, pelo seu auxilio, possamos vencer os males que por nossos peccados pa- decemos»®, Roguemos-Ihe sobretudo, pelos merecimentos de Maria Santissima, que nos conserve o precioso dom da f& e repitamos muitas vezes: Domine, salva nos, peri- mus —- «Senhor, salvae-nos; perecemos». +O meu Redemptor, estard por ventura chegado o mo- mento terrivel em que ndo restardo mais do que poucos christéos animados do espirito de {é? 0 momento em que, provocada a vossa indignagtio nos tirareis a vossa protec: gdo?.-Terao emfim as faltas e a vida criminosa de vossos filhos impellido irrevogalmente vossa justica a se vingar? © auctor e consummador de nossa fé, nés Vos conjuramos, na amargura de nosso coragao contrito ¢ humilhado, nto permittais que a bella luz da {@ se extinga em nés. Lembrae-Vos de vossas antiga’ misericordias; langae um olhar de compaixdo sobre a vinha que foi plantada pela vossa dextra, regada com o suor dos apostolos, inundada pelo sangue de milhares de martyres, pelas lagrimas de tantos generosos penitentes, e fertilizada pelas oragées de tantos confessores € virgens innocentes. ? SEGUNDA-FEIRA. Incerteza da hora da morte. Videte, vigilate et orate: nescitis enim quando tempus sit— ‘Bstae de sobreaviso, vigiae © orae; porque nfo sabeis quando sea 0 tempor (Marc. 13, 33) me OFM do So Clemente Masia Hoffbaver, Indalg, de 500 ds, Yer por 8. Attn, 2» Matias, 1 3 194 QUIRTA SEMANA DEROIS DA RPIETTANIA Summario, Yrato tes, 4 esté fixado 0 anno, 0 mer, 0 dia, a hora © 0 momento em que devemes deixar a terra € entrar na eternidede; esse tempo Enos, porém, desconhecide. Jesus Christo nol-o occulta, ‘fim de estarmos sempre preparados pars morrer. Ora, dizeme: s¢ & morte te vies colher neste instante, acharse-in a tna consciencia fem bom estado? Oh, quantos jd morrerain, e morrem cada dia su bitamente I. Meu irmao, ja esta fixado 0 anno, o mez, o dia, a hora co momento, em que tu e eu devemos deixar a terra ¢ entrar na eternidade; esse tempo é-nos, porém, desconhecido. Afim de estarmos sempre preparados, Jesus Christo ora nos avisa que a morte vird como um salteador de noite e ds escondidas: Sicut fur in nocte, ita veniet; ora nos recommenda que estejamos yigilantes, pois no momento em que menos 0 pensarmos, elle proprio vird para nos julgar: Qua hora non putatis, Filius hominis veniet®, Diz Séo Gregorio que Déus, para nosso bem, nos occulta a hora da morte, para que estejamos sempre promptos para morrer.— Visto, pois, que a morte nos pode tirar a vida a todo o tempo e em qualquer logar, se quizermos morrer bem e salvar-nos, é preciso, diz Séo Bernardo, que a todo o tempo e em todo o logar este- jamos esperande pela morte, Cada um sabe que deve morrer; mas o mal estd em muitos verem a morte tao de longe, que quasi a perdem de vista. Os velhos mais decrepitos e as pessoas mais doentias ainda se gabam de ter mais tres ou quatro annos de vida. Mas ev, ao contrario, digo: quantos ndo temos conhecido que em nossos dias morreram repentinamente, uns estando sentados, outros no meio do caminho, outros dormindo em seu leito! E certo que nenhum delles jul- gava morrer to subitamente, ou naquelle dia em que morreu. Digo mais: De todos que neste anno passaram 4 outra vida, morrendo no proprio leito, nenhum imagi- ‘hess. 5,2. * Lue, 12, 40, SRGUNDALREIRA 195 ava que devia terminar os seus dias este anno. Poucas go as mortes que ndo chegam inesperadas! JI. Irmao meu, quando o demonio te tenta para peccar, BE aizendo que amanha poderds confessarte, respondelhe: B=, Quem sabe se o dia de hoje nao ¢ 0 ultimo de minha B ida? Se a hora, 0 momento em que voltasse as costas ~ a Deus, fosse o ultimo para mim, de modo que jé nao me restasse tempo para reparar a falta, que seria de mim “na eternidade? A quantos miseros peccadores nao suc- & cedeu serem surprehendidos pela morte-e precipitados no ‘inferno a arderem eternamente, no mesmo momento em que saboreavam algum manjar envenenado! Infernus domus mea est! — «A minka casa é 0 inferno», Assim é, 6 Senhor: o logar em que me devia achar tivestes tanta paciencia commigo e me esperastes, porque no quereis que eu me perca, sendo que eu me arrependa! Eis, 6 meu Deus, que volto para Vés; a vossos pés me lango e Vos pego perdao. Miserere mei, Deus, secundum E> magiam misericordiam tuam*— «Tende piedade de mim, 6 Deus, segundo a vossa grande misericordiay, Senhor, . Pata me perdoardes, é preciso uma grande e extraordinaria Re: Misericordia, porque Vos offendi com pleno conhecimento, Gage Outros peccadores tambem Vos offenderam, mas néo ti- “nham as luzes que me déstes. Apezar de tudo isto, or- denaesme ainda que me arrependa de meus peccados, ¢ que espere o perdido, Sim, meu amado Redemptor, de todo © coragao me arrependo’ de Vos ter offendido, ¢ *speto © perdao pelos merecimentos da vossa Paixdo. Padre Eterno, perdoae-me pelo amor de Jesus Christo; éscutae as suas supplicas, jd que intercede por mim e se ; fz meu advogado, O perdio, porém, nao me basta, 5 196 QUARTA SEMANA DEROIS DA gUITIANTA Deus digno de infinito amor; quero ainda a graga de Vos amar. Amo-Vos, soberano. Bem, e para sempre Vos offerego © meu corpo, a alma, a vontade, a liberdade, todo o meu ser.— © Maria, grande Mae de Deus, impetrae- me a santa perseveranga. (I 22.) TERCA-FEIRA, Do fogo do inferno. Quis poterit hubitare de vobis cum igne devorante? ... cum ardoribus sempiternis?— «Qual de vés poderg habitar cem 0 fogo devorador? .., com os ardares sempiternos?» (Is. 33, 14) Summario, Na terra a pena do fogo € a maior de todes; mas ha tama- ‘aha differenga entre 0 nosso fogo e 0 do inferno, que o nosso parece apenas um fogo pintado, ou antes, frieza, Como entto, irmfo meu, poderss habitar com esses ardores compiternos, se por desgraga ta te condem- mares? Tu que nflo podes caminhar pelo ardor do sol, nem ‘icar com lum brazeiro num quarto fechedo, nem aturar uma fagulba que se des prende de ume véla? I. A pena que mais atormenta os sentidos do condem- nado, € 0 fogo do inferno, que affecta o tacto. For isso o Senhor faz delle mengao especial no juizo: Discedite a me, maledicti, in ignem acternum\— cApartaevos de mim, malditos, para o fogo eterno. Até na terra a pena do fogo é a maior de todas, mas ha tamanha differenga entre 0 nosso fogo e odo inferno, que 0 nosso, no dizer de Santo Agostinho, parece apenas um fogo pintado. E Sao Vicente Ferrer accrescenta que, comparado, équelle, © nosso fogo € frie, A razdo & que o nosso fogo foi creado para nossa utilidade, ao passo que o do inferno foi creado por Deus expressamente para atormentar, Além de que, como diz Jeremias, aquelle fogo é um fogo vin- gador acceso pela colera de Deus®, Por isso € que Isaias chama o fogo do inferno: espitito de ardor. Si abluerit 5 Maul, a5, 41 Yen 15, 14 TERGA-FEIRA, 197 ‘Dominus sordes...in spirit ardoris' — «0 Senhor lavard ds manchas ... com 0 espirito de ardor», (0 condemnado serd enviado no sé ao fogo, mas para dentro do fogo: Apartae-vos de mim, maldites, para o ‘fogo eterno. De mancira que 0 desgracado ser envolvido pelo fogo como a lenha na fornalha. O reprobo teri um Abysmo de fogo abaixo de si, outro abysmo acima de si, outro por todos us lados. Quando apalpar, quando vir, quando respirar, nfo apalparé, no verd, n&o respirardé | senio fogo. Estara no fogo como o peixe na agua, — Nao 36 este fogo cercaré o condemnado, mas penetrarlhe-a todos os membros para mais o atormentar. Todo o seu corpo seré uma fogueira. As visceras ardero no ventre, © coragéo dentro do peito, 0 cerebro na cabeca, 0 san- gue nas veias, a medulla nos ossos, Em uma palavra, cada reprobo tornar-se-4 uma fornalha ardente: Pones cos ut clibanum ignis?— Vos os poreis como um forno acceson. II, Quantos ha que nfo podem caminhar pelo ardor do sol, nem ficar com um brazeiro num quarto fechado, nem aturar uma fagulha que se desprende de uma véla, e com- tudo nao temem o fogo do inferno, © fogo devorador, como o chama 0 Propheta: Quis poterit habitare de vobis cum igne devorante?— «Qual de vis poderé habitar com ° fogo devorador?» Assim como 0 animal feroz devora © cabritinho, assim 0 fogo do inferno devora o condem- nado: devora-o, mas sem o fazer morrer. Sdo Jeronymo accrescenta que esse fogo trard comsigo todos os tormentos © todas as déres que soffremos na terra; déres de peito, de cabega, de ventre, de nervos ¢ mesmo de frio. Final- Mente assevera Sao Chrysostomo que todos os soffri Mentos deste mundo nao passam de uma sombra das Penas do inferno. 198 © meu Jesus, 0 vosso sangue e a vossa morte sio a minha esperanga. Morrestes para me salvar da morte eterna, Quem 6, Senhor, que recebeu maior parte dos fructos de vossa Paixio do que este miseravel, que tantas vezes mereceu o inferno? Ab! nfo continue a viver ingrato 4s innumeras gracas que me fizestes. Livrastes‘me do fogo do inferno, porque ndo quereis que eu arda nesse fogo vingador, mas sim que seja abrasado no doce fogo do vvosso amor. Ajudae-me a satisfazer 0 vosso’ desejo. Se estivesse n0 inferno, nunca mais poderia amar-Vos, mas, jd que ainda posso amar-Vos, quero fazel-o. Amo-Vos, Bondade infinita, amo-Vos, meu Redemptor, que tanto me tendes amado. {Jesus men Deus, amo-Vos sobre todas as cousas', No futuro espero consagrat-Vos a vida que me resta, Rénuncio a tudo, Sé quero pensar em Vos servir e agradar. Recordae-me sem cessar o in- ferno que mereci e as gragas que me tendes feito. Nao permittais que eu torne a voltar-Vos as costas e a con- demnar-me por minha propria culpa, a esse abysmo de tormentos —O Mae de Deus, rogae por mim, pobre pec- cador, A vossa intercessdo livrou-me do inferno. O minha ‘Mae, livre-me tambem do peccado, que sé me pode con- demnar de novo ao inferno. (II 119.) QUARTA-FEIRA. Qual sera o gozo dos Bemaventurados no Paraiso. Vidernus nune per speculum in aenigmate; tune autem facie fd ficiem —«Vemos agora (s Deus) como por win espelho, em enigma; porém entfo face a face» (1 Cor. 13, 12). Summasis. © bemaventuredo, conhecendo no cfu a amabilidade in finite de Dots, e vendo todas as disposigdes admiraveis para sua salvago, amalo de todo 0 cornglo, regorijarse4 pela felicidade de Deus mais " Todulg. de 59 dias cada ver, 199 QOARTA-PEIRA. do que pele sua propria, © nfo ter outro desejo senfO © de amalo ¢ de set amalo por ele. 1 oisto que consiaicg a aux eterna beatiude, Portanto, 2¢ 16s amarmos a Deus, sem termes tanto &® Viste o nosso interesse como 4 satsfacgfo pela flicidade de Deus, desde * vida pre- sente comegatiamos 2 gozar da beatitude do reino celestial 1, Quando a alma entrar na patria bemaventurada e for © corrido 0 reposteiro que Ihe impedia a vist® 5 coberto e sem véu a belleza infinita do seu Deus, ¢ é nisto que consistird 0 gozo do bemaventurado. Todas as cousas que elle contemplaré em Deus, encheloo de alegtia. Veré a rectidao dos juizos divinos, # harmonia nas suas disposigGes relativas a cada alma, e todas ordenadas para a gloria de Deus ¢ o bem de si mesm™0. Com relagio a si propria, a alma verd o amor immenso que Deus Ihe mostrou em fazer-se homem © &™ sacrificar por amor della a vida na Cruz, Conhecers © excesso de amor encerrado no mysterio da Cruz: ver um Deus feito servo e morto suppliciado num infame patibulo! Conhecerd © amor excessivo encerrado no mysterio a Eucharistia: ver um Deus posto presente sob a especie de pao ¢ feito alimento de suas creaturas! Verd distinctamente, todas as gragas que Deus Ihe dispensou e que até entéo lhe esti- veram occultas. Verd toda a misericordis d¢ que Deus usou para com ella, esperando-a e perdoandolhe todas a8 ingratidées, Vera os muitos convites, # les © 05 auxilios que tio abundantemente Ihe foram Prodigalizados. Verd que as tribulagdes, as doengas, a perda de bens ou de parentes, que chaméra castigos, ntio foram castigos, sendo manifestagées da bondade divina para attrabir a alma 20 seu amor perfeito. Numa palavra, tudo o que ella vir, @ bondade infiaita de seu Deus, ¢ 0 amF infinito que Metece. Donde provém que logo que chegada for ao céu, Do terd mais outro desejo senio o de velo feliz € con- » tente. Comprehendendo 20 mesmo tempo, ue felicidade verd ad Ihe faré conhecer 200 QUARTA SEMANA DEVOIS DA EPIDHAN?A, de Deus € suprema, infinita e eterna, sentird uma satis- facgdo, jd nao digo infinita, visto que a creatura ao é susceptivel de cousas infinitas, mas uma satisfacgo im mensa e plena, que a encherd de gozo, e do mesmo gozo que é proprio a Deus. Assim se verificar4 nella a palavra de Jesus: Intra in gaudium Domini tui’ — «Entra no gos0 de teu Senhors UL O bemaventurado é feliz, no tanto pelo gozo que experimenta em si proprio, como pela felicidade de que Deus goza, porque ama a Deus immensamente mais do que a si mesmo. O amor que tem a Deus, faz com que ache immensamente mais satisfaccdo na bemaventuranga divina do que na sua propria. O amor a faz esquecida de si mesma, € 0 que ella almeja, serd unicamente agradar ao Bem-Amado.—E esta a santa e desejavel embriaguez pela qual os bemaventurados se esqueterio completamente de si, e sé pensardo em louvar e amar o querido objecto de todo o seu amor, isso é, Deus. Jnebriabuntur ab uber- tate domus tuae*— «Embriagar-se-to da abundancia da tua casa». Perfeitamente-felizes desde o primeiro instante da sua entrada no céu, ficam como que perdidos, ou, por assim dizer, submergidos no mar infinito da bondade divina, D'abi é que o bemaventurado perderd todo e qualquer desejo, s6 Ihe restando o de amar a Deus e ser amado por elle. A seguranga de sempte amal-o e de sempre ser amado, seré a beatitude do escolhido, a qual o encheré de alegria e de contentamento eterno, de maneira que nada mais desejaré. Em resumo: o paraiso dos bemaven- turados é gozar do gozo de Deus. Quem, portanto, na vida presente se compraz na beatitude de que Deus goza e gozard cternamente, pode dizer que desde agora entra 0 gozo de Deus e comega a gozar 0 paraiso, + Math, a5, 23. + Ps. a5. 9 QUINTA EIA, 201 Entretanto, 6 men dace Salvador e Amor de minha alma; vejo-me ainda desterrado neste valle de lagrimas, cercado de inimigos que me querem separar de Vés. Meu amado Senhor, niio permittais que Vos perca; fazei com que Vos ame sempre nesta vida e na outra, ¢ depois disponde de mim segundo 0 vosso agrado.— © Rainha do paraiso, se rogardes por mim, certamente estarei toda a eternidade em vossa companhia, 2 louvar-vos no paraiso. (I 299.) QUINTA-FEIRA. Devemos esperar tudo pelos merecimentos de Jesus Christo. Proprio filio suo non pepereit, sed pro nobis oinnibus tradigit itlum— «(Deus) nfo poupou a sex proprio Filho, mas entregor-o por nés todose (Rom. 8, 32) ‘Suammarie, & satistacgto que @ Filho de Deus offerccen a0 Vas Eterno, 6 infinitamente maior do que a divida que com os nossos peceados tinhamos conteabido, Por isto nfo seria justo que perecesse © peceador que se arrepende de seus peccados ¢ offerece a Deus os merccimentos 4 Redemptor. Por outro Indo Jesus Christo Ii no eéu intervede continu hnente por nés, ¢ 0 Pse divino nfo pode negar nada a um Filho ko ‘querido.. Agradegamos, pois, 20 Senbor, ¢ imploremos com confiangt ‘qualquer grace, valendo-nos sempre desses merecimentos infinitos. 1. Considera que, tendo-nos dado o Padre Bterno sett proprio Filho por medianeiro, por advogado junto a si, © por victima em satisfacgio dos nossos peccados, ndo nos é mais licito duvidar que nfo obtenhamos qualquer gtaca que pedirmos, valendo-nos da mediacao de seme Thante Redemptor. Quomodo non etiam cum ille omnia nobis donavit?’ Que é que Deus nos recusaré, diz 0 Apo- stolo, depois que nfo nos negou o proprio Filho? Todas as nossas supplicas.ndo merecem que o Senhor a5 attenda, ou s6mente para ellas olhe, porquanto o que * Rom. 8, 32. 202 QUARTA SEMANA DEPOIS DA. RPDVHANIA, nés merecemos, nao € graga, sendo castigo pelos nossos peccados. Digno, porém, de ser attendido é Jesus Christo que intercede por nés, € offerece a seu Pac todos os soffrimentos da sua vida, 0 sen sangue e a sua morte. O Pae no pode recusar nada a um Filho to querido, que Ihe offerece um prego de valor infinito. Sendo elle innocente, todo o prego que pagou 4 divina justica & applicado ‘Go sémente em satisfacgdo de nossas divi das, ¢ esta satisfacgao excede infinitamente os peccados dos homens. Nao seria de justica que viesse a perder- se um peccador que se artepende dos peccados, ¢ offe- rece a Deus os merecimentos de Jesus Christo, cujas satisfacgoes foram superabundantes. Demos, pois, gracas a Deus e esperemos tudo pelos merecimentos de Jesus Christo. Tl, Meu Deus e meu Pac, no posso mais desconfiar da vossa misericordia; no posso temer que me recuseis © perdao de todas as faltas commettidas contra Vés, ou do me querais dar todas as gracas precisas para minha salvagdo, visto que me déstes vosso Filho, afim de que Vol-o offereca por mim. E exactamente para me perdoar ¢ fazer-me digno de vossas gragas, que me déstes Jesus Christo e me ordenaes que Volo offereca e pelos seus merecimentos espere de Vés a minha salvagio. Sim, meu Deus, quero obedecer-Vos e Vos dou gracas. Offereco- Vos os merecimentos de vosso Filho e por elles espero a graca que remedeie a minha fraqueza e todos os dam- nos que os meus peccados me causaram. Peza-me, 6 Bon- dade infinita, de Vos ter offendido, amo-Vos sobre todas as cousas e de hoje em diante nfo quero amar senfo a Vés. Esta minha promessa, porém, de nada servird, se no me auxiliardes. Pelo amor de Jesus Christo, dae-me a santa perseveranca e 0 vosso amor; dae-me luz © fora pata em todas as consas cumprir a vossa santa vontade. Confiado nos merecimentos de Jesus Christo, espero que SRRTACPEIRA, 203 me attendereis, — Maria, Mae e esperanga minha, rogo- vos tambem, pelo amor de Jestis Christo, que me alcan- ceis estas gracas. Minha Mie, attendei-me, (I 343.) SEXTA-FEIRA, Jesus quiz soffrer afim de ganhar 0s nossos coragoes. Dilexit nos, el Invit nox a peceatis nostis in sanguine suo — «(Jesus) nos smou e nos lavou de nosses peccedes em seu san: gues (Apo. 1, 5). Summario. Os santos tinham bastante ratfo de chorar, considerando 4 ingzatdfo dos homens para com 0 amor excessivo que Jesus Ihes rmostrou. Cousa essombrosal Ver um Deus roffrer tantas penas, derrainar lagrimas mame lapa, viver pobre numa offcing, morzer exangue ma cru, ver, emin, um Deus afficlo ¢ aribulado durante a sue vide toda, para ganhar 0 amor dos homens, © ver depois 0s homens ingratos responderem- The com injurias © offersas! Meu irmifo, se t tambem no passado foste tum desses ingratos, procuia agora reparar o mal feito © amar a Jesus Christo com mais fesvor. I, Considera como Jesus sofireu desde o primeiro in- stante de sua vida e soffreu tudo por nosso amor. Durante toda a sua vida nao teve em mira outra cousa, depois da gloria de Deus, sendo a nossa salvagao. Jesus, sendo Filho de Deus, nao havia mister sofirer para merecer 0 céu, Toda a pena, pobreza, ignominia que Jesus padeceu, foi desti- nada a merecer para nés a salvacdo eterna, Mais; embora pudesse Jesus salvar-nos sem soffrimento, quiz todavia levar uma vida de déres, de pobreza, de desprezos, de privacdo de qualquer allivio, terminal-a com uma morte mais de- solada e amargosa do que jamais algum martyr ou peni- tente soffici, com 0 unico intuito de fazcrnos compre hender a grandeza do amor que nos tinha, e para ganhar © nosso affecto. Viveu trinta e tres annos sempre suspirando que che- gasse afinal a hora do sacrificio de sua vida, que desejava offerecer para nos alcangar a graga divina e a gloria 204 QUARTA SEMANA DEPOIS DA LDIPKANIA, eterna, © vernos sempre comsigo no paraiso. Baptismo habeo baptizari, et quomodo coarctor usquedum perficia- tur i1— (Ps. 72, 28), Sumario, Se da t& nasce 2 esperangs, Maria Santissima, que eve isso dew con: \inuss provas em todo 0 curso de sie vida mortal, porquento vive lume f€ singular, possuiu tembem uma esperanca eximia, Sempre em desapego completo de qualquer ereatura e erm inteiro absndono "Indulg. de 50 dias cada ver, 206 QUARTA SEMANA DEPOIS DA RVIPHANIA & divina Providencia, que delle dispanha & vontede, Se quizermos ser Slhot dignos de 60 excelsa Mie, exforcemo.nos por imitul-a, esperando tudo da bondade divina. E, depois de Deus, ponhamos « nosss con‘ianga cam Maria, que & chamada Mie da sande esperenga I. Da fé nasce a esperanga, porquanto para nenhum outro fim Deus nos fez conhecer pela f a sa bondade as suas promessas, seno para que depois pela esperanca nos-elevemos a0 desejo de o possuir. Sendo, pois, certo que Maria teve a virtude de uma fé excelente, teve igual- mente a virtude de uma excellente esperanca, que a fazia dizer com David: Miki autem adkaerere Deo borum est; ponere in Domino Deo spem meam— «Para mim é bom unir-me a Deus; por no Senkor Deus a minka esperancar. E bem demonstrou a Santissima Virgem quanto era grande esta sua confianga em’Deus, quando presentiu que sen esposo, por ignorar 0 modo de sua prodigiosa gra videz, estava agitado e com idea de a deixar. Parecia entio necessario que ella descobrisse a seu esposo 0 oc- culto mysterio, Mas nfo, ella ndo quiz manifestar a graga recebida; preferiu entregarse 4 divina Providencia, con- fiando, como diz Cornelio a Lapide, que Deus mesmo defenderia a sua innocencia e reputagdo. — Demonstrou além disso a confianga em Deus, quando, proxima ao parto, se viu expulsa em Belem, tambem dos hospicios dos pobres, ¢ reduzida a dar 4 luz em uma gruta. A di- vina Mie fez igualmente conhecer quanto confiava na Providencia de Deus, quando, avisada por Sao José que devia fugir para o Egypto, na mesma noite se péz a cami- nho para tio longa viagem a um paiz estrangeiro e des- conhecido, sem provisdo, sem dinheiro, sem outro acom- panhamento além do Menino Jesus ¢ de seu pobre esposo. ‘Muito mais Maria demonstrou esta sua confianga, quando pediu ao Filho a graga do vinho para os esposos de Cand; porque, depois da resposta de Jesus Christo, pela qual patecia claro que o pedido the seria recusado, ella SAnRae. 207 confiada na divina bondade ordenou 4 gente da case que fizessem o que thes dissesse o Filho, visto que < graga era certa: Quodewmgue dixerit vobis, facite’. De facto, Jesus Christo fez encher os vasos de agua e de pois @ converten em vinho. Il, Maria foi aquella fiel Esposa do divino Espirito, da qual se disse: Quae est ista, quae ascendit de deserto deliciis affluens, innixa super dilectum suum? — «Quem é esta, que sobe do deserto, inundada de delicias, apoiada sobre o seu amado?s Pois que ella, sempre toda desape gada dos affectos do mundo, que reputava um deserto € por isso nada confiando nem nas creaturas nem nos proprios merecimentos, ¢ apoiando-se toda na graca divina se adiantou sempte no amor do seu Deus. Se, pois, quizermos ser dignos filhos de Maria, apren: damos della a confiar como se deve, principalmente no grande negocio da salvagdo eterna. Para esta, posto que seja necessaria tambem a nossa cooperacio, comtudo, sé de Deus devemos esperar a graca para a conseguir, des confiando absolutamente das nossas proprias forgas, ¢ dizendo cada um com 0 Apostolo: Omnia possum in eo qi me confortat®— «Tudo posso naguelle que me forta 4ece>.—Dignas de ponderagdo sto a este respeito as ex hortag6es de So Francisco de Sales: «Em todas as vossas necessidades € emprezas, ponde toda a vossa confianga em Deus, © persuadivos de que o exito serd sempre o Que fr melhor para vés. Quanto mais verdadeira e per- feita fr a nossa confianga em Deus, tanto mais fard brilhar a sua providencia sobre nés, Muitos hé», accres- Centa o santo Doutor, «que aspiram 4 perfei¢io, e poucos Sto os que a ella chegam. Mas sabeis porque? Porque Ho praticam a plena confianga no Senhor e o perfeito abandono 4 sua bondade paterna.» "Io a, 5, Fant, 8,5. Phil 4, 13, 208 QUINTA SBMANA DEFOIS DA EDIPHANIA ‘A imitagao dos santos, ponhamos toda a nossa espe- ranga, depois de Deus, na Bemaventurada Virgem, que no livro do Ecclesiastico € chamada Mae da santa esperanca; € repitamos muitas vezes a saudacdo da Igreja catholic Spes nostra salue!— Esperanca nossa, salve! «Salve Rainha, Mae de misericordia; vida, dogura e es- peranga nossa, silvel A vés bradamos os degradados filhos de Eva. A vés suspiramos gemendo ¢ chorando neste valle ce lagrimas. Eia, pois, Advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nds volvei. E depois deste desterro. nos mostrae a Jesus, bemdito fructo de vosso yentre, © clemente, 6 piedosa, 6 doce Virgem Maria.» (*1 263.) QUINTO DOMINGO DEPOIS DA EPIPHANIA. A parabola do joio e a conducta de Deus para com os peccadores. Colligite primom rizania, et alligate ea in fessiculos ad com. burendum — «Colhe! primeiro o joio, ¢ ataco em feixes para o queimare (Math, 13, 30). ‘Summario, © joio que eresce no meio do bom. trigo, € figura dos pee: ceadores, que pela beaignidade divina vivem juntamente com 0s juslos no feampo da Tgreja catholica, Mas ai diquelles, se continuarem obstinades no peceado e deixarem passtr 0 tempo da misericordia! Chegert 0 dis ds colieita, isso 6 do juizo, © entKo os anjos separario os méus dos ‘bons, para levarem a estes 10 paraiso ¢ langarem fquelles no fogo de inferno, onde serXo atormentados por toda a eternidade. I. «O reino dos céus», diz Jesus Christo no Evangelho deste dia, «é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. Mas, quando dormiam os homens, veiu 0 seu inimigo e sobresemeou 0 joio no meio do trigo, e forse. Tendo, porém, crescido a herva ¢ dade fructo, entdo aparece tambem 0 joio. E chegando-se os servos do pae de familia, disseram-lhe: Senhor, nfo se measte boa semente no teu campo? Donde, pois, Ihe veiu pomno. 209 6 joio? Disse-lhes elle: Um homem inimigo fez isso. E os servos disseram-lhe: Queres que vamos € o apanhe- mos? Elle disse: Nao! ndo seja que apanhando 0 joio arranqueis juntamente com elle o trigo. Deixae crescer um € outro até 4 ceifa, e no tempo direi aos ceifeiros: Apanhae primeiro o joio, € ataeo em molhos para o fogo; mas 0 trigo recolhei-o no meu celleiro.» Nesta parabola vese de um lado a paciencia do Senhor para com os peccadores, ¢ por outro o seu rigor para com os obstinados. Diz Santo Thomaz que todas as creaturas, por natural instincto, quereriam castigar 0 pec- cador ¢ assim vingar as injurias feitas ao Creador. Vis imus et colliginus ea?—«Queres que vamos ¢ 0 apanhe- mos?» Deus, porém, pela sua miseticordia, as impede. E assim faz, nfo sé por amor dos justos, aos quaes nao quer tirar a occasiio para praticarem a virtude, suppor- tando os mus; sendio tambem, e muito mais, pela sua longanimidade para com os proprios peccadores, a quem quer dar tempo para se converterem: Propterea expectat Deus, ut misereatur vestri'— «Por isso ¢ Senhor espera, para ter misericordia de vés>. Mas ai delles se continuarem obstinados em seu pec- cado e deixarem passar o tempo da divisa misericordia. Chegard o dia da colheita, isso é, assim como Jesus mesmo explica, 0 fim do mundo e 0 juizo universal. Entao or- denard aos ceifeiros, a saber, aos anjos, que separem os méus dos justos afim de fazerem estes entrar no eterno B0z0 do paraiso e langarem Aquelles no fogo do inferno, onde serio atormentados por toda a eternidade. IL. Eis ahi, christo, aonde iréo parar aquelles pecca- dores que se obstinam em seus peccados e que adusam do tempo de penitencia, que Deus thes concede, para se tornarem mais soberbos*— ito queimar pata sempre, alma Hs. 30, 18. S. Aton, Mes "ob 24, 23. stee, 1 ra 210 QUINTA SEMANA DEPOIS DA EPIPHANIA. € corpo, no fogo do inferno, sem esperanga de sahirem em tempo algum: E¢ mittent eos in caminum ignist cE lancal-os-to na fornatha de fogor. Com ra2i0; por- quanto no merece mais a misericordia divina aquelle que, enormemente ingrato, se prevalece da mesma misericordia para offender 0 Senhor mais gravemente. O que offende a justiga, diz Afforiso Tostato, pode recorrer 4 miseri- cordia, mas a quem poderd recorrer o que offende a pro- piia misericordia? © meu amabilissimo Jesus! eisme aqui; eu fui um daquelles que continuaram a offender-Vos, porque ereis bom para mim. Esperae, Senhor; nio me abandoneis agora, jé que pela vossa graga espero nunca mais dar. Vos motivo para que me abandoneis. Peza-me, 6 Bondade infinita, ter-Vos offendido,’ e ter abusado tanto de vossa paciencia, Agradeco-Vos por me terdes esperado até agora. De hoje em diante nto Vos quero mais tréhir, como no passado tenho feito, Vés, 6 Senhor, me aturastes tio longo tempo, afim de me vérdes um dia captivo amante da vossa bondade. }Fesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as cousas; e estimo @ vossa graga mais que todos o8 reinos do mundo; antes quero perder mil vezes a vida que perder a vossa affeicao. ‘Vés, porém, 6 Redemptor meu, dae-me a santa perseve- ranga. Pelo sangue que por mim derramastes, Vos rogo: «guardaeme, 6 Senhor, com vosso auxilio continuo, para que, esperando sé na graga celeste, seja sempre munido com a vossa proteccio.»® + Dace Coracto de Maria, séde a minha salvacao. SEGUNDA-FEIRA, Sejamos peregrinos sobre a terra. Dum sus fn corpore, pereg pamur a Domino — «limquanto {stamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor» (2 Cor. §, 6), 4 atatth, 13, 42. * On, Dom. cnr, SHGUNDALEIRA, au Sunomari. Emquanto estivermos sobre estn tert, sejamos como uns peregrinos, que vo errando longe de sua patie, o paraiso onde Deus pos espera para gorermos eternamente de sua belleza diving, Se, Pos, manos a Deus e a nossa alma, devemos suspirer continuamente por tabirmos deste nosso exiio ¢ separarmo-nos do corpo, afim de entrarmos te pose de Deus. Quando not sentirmes opprimides pelos trabalho, Ievantemos es olhes t0 v6: consolemenos com a lembranga do reino da bemaventuranga, 1, Emauanto estivermos na vida presente, sejamos como que uns peregrinos, porque andamos errando por este mundo, longe da nossa patria, o cg; onde o Senhor nos espera afim de gozarmos eternamente de sua visio beat fica. Dum sumus in corpore, peregrinamur a Domino— «Emquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor» Se, pois, amamos a Deus, devemos suspirar continuamente por sahirmos deste exilio, deixando © nosso corpo, afim de entrarmos na posse de Deus. Antes da Redempgio 0 caminho para chegar a Deus estava interdito para nés, miseros filhos de Adam, Mas Jesus Christo obteve-nos com a sua morte o poder de nos fazermos filhos de Deus’, e assim nos abriu a porta, pela qual temos accesso junto a nosso Pae celestial. — Desta sorte, se estamos na graca de Deus, jd ficamos sendo concidaddos dos santos e membros da familia de Deus*. Diz Santo Agostinho: A nossa natureza nos fez nascer cidadaos da terra e vasos de ira; mas a graca do Re- demptor, livrando-nos do peccado, nos fez nascer cidadaos do céu e vasos de misericordia. Nao € para admirar que os mdus queiram ficar sempre neste mundo, porque justamente temem que das penas da vida presente vao passat pata as penas eternas ¢ muito mais terriveis do inferno. Mas quem possue o amor de Deus e tem certeza moral de estar em graga, como pode desejar viver mais tempo neste valle de lagrimas, no meio "0, 4, 42, * Eph. 2, 18, + ph. ay 19. ut 12 QUINTA SEMANA DEPOTS DA RPIPHANIA, de continuas amarguras, angustias da consciencia e peri gos de condemnagao? Como nao suspiratdé, ao contrario, por chegar em breve 4 unig com Deus na eterna bema- venturanga, onde ndo haverdé mais perigo de perdel-o? Ab! as almas abrasadas no amor de Deus, na vida terrestre gemem continuamente e exclamam com o Propheta: Hew miki, guia incolatus meus prolongatus est!}— «Ai de mim, que o men desterro se prolongou!s IL. Apressemo-nos, pois, como nos exhorta’o Apostolo, a entrar nessa patria, onde acharemos perfeita paz ¢ contentamento: Festinemus ingredi in illam requiem, Apressemo-nos (digo) pelo desejo e no paremos no cami- nho, emquanto nao langarmos a ancora no porto bema- venturado, que Deus preparou para os que o amam. Quem corre no estddio, diz Sac Jodo Chrysostomo, nao olha para os espectadores, sendo para o premio que almeja; ¢ nao péra; antes, quanto mais se aproxima da meta, tanto mais corre, Donde Santo'conclue que, 4 medida que ja se foram os annos de nossa vida, tanto mais devemos appressar-nos, por meio de boas obras, para aleangarmos o premio. Para acharmos allivio nas angustias e amarguras que tenhames de soffrer na vida presente, a nossa unica oragao deve ser esta: Adveniat regnum tum’ — «enka a nbs o vosso reinov. Senhor, venha em breve 0 vosso reino, onde, unidos comvosco, contemplando-Vos face a face, ¢ amando-Vos com todas as nossas forgas, no estaremos mais sujeitos ao temor, nem aos perigos de perder-Vos. — E quando nos opprimirem os trabalhos ou desprezos do mundo, consolemo-nos com a lembranga da grande re- compensa que Deus preparou para aquelle que padece por seu amor. Eis aqui, 6 meu Deus, paratum cor meum4— sapare- Uhado eth 0 mex coragdor, Bis que estou disposto a ac- {Ps 19, 5. Mebr 4, 1h. Math. 6, to. | Pk 56, 8 ceitar qualquer cruz que me queirais por a carregar Nesta vida ndo quero delicias ¢ prazeres; nfo os merece quem Vos offendeu e mereceu o inferno, Estou disposto a sofiter todas as enfermidades e contrariedades que me mandeis; disposto estou a abracar toda a sorte de des- prezos da parte dos homens. Se for de vosso agrado, de boa mente acceito que me priveis de todo o allivio cor- poral e espiritual; basta que nio me priveis de Vés mes- mo e da ventura de sempre Vos amar, Nao o metego, mas espero-o pelo sangue que derramastes por mim, Amo- Vos, meu Bem, meu Amor, meu tudo, } Jesus, mew Deus, amo-Vos sobre todas as cousas. Viverei eternamente, e eterna- mente Vos amarei, como espero; 0 meu paraiso serd regozijar-me pela vossa felicidade infinita, de que sois digno pela vossa infinita bondade.— © Maria, minha Mae, aleangae-me tio grande bem pela vossa poderosa inter- cessio, (II 250.) TERGA-FEIRA}, Loucura dos peccadores. pientin enim buiue mundi stulitia est apud Deum — +A se Dedorin deste mundo é loucura diante de Deuse (1 Cor. 3, 19). Sunmario. Quem ert na vida fators, © apezar disto vive no peceado e longe de Deus, merece ser metide num hospicio de doidos. Com efleto, que Toucurs, reauncier a0 paniso ¢ merecer 0 inferno por um Vil interese, por um pouco de fume, pot um prazervergonhoso | O peor, Poréin, € gue o numero de semelhantes Ioucos € infiito, © no mesmo tempo que sf0 sfo Toucos, elles se teem por homens sabios © prudentes, Tnmo meu, serés ta por ventura do numero desses infelizes? I. O Bemaventurado Jotio de Avila quizera dividir 0 mundo em duas pris6es, uma para os que no creem na Vida futura, e outra para os que creem, mas vivem no peccado e longe de Deus. Accrescentava que estes deviam "Os devotos de Santo Affonso poderto hoje tomar a meditagto sotre 4 csperanga firme do Sant Vejuse Append, n, 1V. a4 QUINTA SEMANA DEROIS DA. KPIPWAN. ser mettidos num hospital de doidos. A maior miseria ¢ desgraca destes infelizes é, que se julgam sabios e prudentes © so os mais cegos € loucos que pode haver. E o peior & que o seu numero € infinito: Et stultorum infinitus est snonerus). So loucos, uns pelas honras, outros pelos pra- zetes, outros pelas creaturas abjectas desta terra. Atrevem-se a apodar de doidos os santos que des- prezam os bens do mundo para obter a salvagao eterna € 0 verdadeiro bem, que & Deus. Chamam loucura soffter os desprezos e perdoar as injurias: loucura 0 privar-se dos prazeres dos sentidos, o praticar as mottificag5es; Iou- cura renunciar 4s honras e riquezas; amar a soliddo, a vida humilde e occulta, Mas ndo veem que Deus chama a sabedoria delles loucura: Sapientia enim Iaius mundi stultitia est apud Deum A sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus. ‘ Ab! um dia reconhecerdo evidentemente a sua loucura, Quando, porém? Quando 'jé ndo houver mais tempo, e extdo exclamaréo com desespero: Nos insensati!? Ah! ccmo havemos sido insensatos! Consideravamos loucura a vida dos santos, mas hoje reconhecemos que fomos nés os insensatos. Ecce quomodo computati sunt inter filios Dei —Vede como sio agora admittidos no numero dos felizes filhos de Deus, e teem a sua felicidade entre os santos, félicidade que seré eterna ¢ qlie 0s tornard para sempre bemaventurados; ao passo que nds ficdmos no numero dos escravos do demonio, a arder neste abysmo de tormentos por toda a eternidade, Ergo erravimus— «. Que castigo! Quando o dono'de uma vinha arranca a sche deixa entrar nella a todos os homens e animaes, que signi- fica isto? Significa que a abandona. Pois, ¢ o que faz Deus quando abandona uma alma: titalhe a sebe do temor de Deus, dos remorsos da consciencia e deixaa nas trevas, Entdo entram na alma todos os monstros dos vicios. Eo peccador, entregue a esta escuridio, des- prezaré tudo, graga de Deus, paraiso, exhortagGes, cen- suras, e até escarnecerd da sua propria condemnagio. Jn. ‘pins, cum in profundum venerit peccatorum, contemnet>— <0 impio, depois de haver chegado ao profindo dos pec- cados, despresaré tudo». Numa palavra, Deus deixalo-a nesta vida sem castigo; mas esta condescendencia seré para elle o maior dos cas- tigos: Misereamur impio, et non discet iustitiam*— «Com- padecamo-nos do impio, ¢ elle nto aprenderd a justica>.— ‘Ah! Senher, assim Vos direi com Séo Bemnaréo, ndo quero semelhante misericordia, porque & mais terrivel do que qualquer castigo. Tl. Desgragados dos peccadores que prosperam nesta vidal E signal de que Deus os reserva para os entregar como victimas 4. sua justica na vida eterna, Pergunta o propheta Jeremias: Quare via impiorum prosperatur ?*— «Porque é prosperado 0 caminko dos impios?> B res ponde: Congregas eos quasi gregem ad victimam — «Ajuntas-os como rebanko para o matadouror. Nao ha ti 5,5 PPro 8, 3. Ik 26, 10. ‘Ten 13, 1 218 QUINTA SEMANA DRPOIS DA EIIUHTANTA. maior castigo do que deixar Deus a0 peceador amon- toar peccados sobre peccados. Fora melhor para o des: gragado, que o Senhor o tivesse feito morrer em seguida ao primeiro peccado; porque, morrendo mais tarde, terd tantos infernos a padecer, quantos fram os peccados commettidos, Meu Deus, no miseravel estado em que me acho, re- conhego que mereci ser privado da vossa graga e da vossa luz; mas vendo as luzes que agora me concedeis, e ou- vindo que me chamaes 4 penitencia, estou certo que nao me abandonastes ainda. J4 que no me haveis abandonado, Senhor, multiplicae as vossas misericordias sobre a minha alma, augmentae a luz, e augmentae em mim o desejo de Vos servir ¢ amar. Transformae-me, 6 Deus omnipotente, e de trahidor e rebelde, como tenho sido, fazei de mim um verdadeiro amante da vossa bondade, afim de que chegue um dia ao céu a louvar eternamente as vossas misericordias. Vés quereis perdoar-me e eu nada mais desejo sendo o perdiio e 0 vosso amor. Arrependo-me, 6 Bondade infinita, de Vos ter causado tantos desgostos, Amo-Vos, soberano Bem, porque m’o ordenaes; amo-Vos, porque sois digno de todo o amor, Supplico-Vos, meu Redemptor, pelos meritos do vosso Sangue, que Vos fagais amar por um peccador, que tanto tendes amado e que tantos annos sofirestes com paciencia, Tudo espero da vossa misericordia, Espero amar-Vos sem- pre no futuro, até 4 morte e por toda a eternidade: Misericordias Domini in aeternum cantabo', Etecnamente louvarei a vossa bondade, 6 Jesus meu. Eternamente lou- varei tambem a/vossa misericordia, 6 Maria, que tantas gtagas me haveis alcangado; reconhego que as devo todas 4 vossa intercesséo. Continuae a assistir‘me, 6 Senhora mi- nha, € obtende-me a santa perseveranca. (II 78.) Ps 88, 2, QUINTA-FEIRA. 219 QUINTA-FEIRA. Amor que Deus mostrou eos homens no mysterio da Encarnagao. Apparuit gratia Dei Salvatoris nostri omnibus hominibus — (Math, 13, 35. Siunmario, Nesta parabola do fermento os santos Padres vem wint figura da catidede, isto 6 da grag santfcente, Assim como a levadura penetra toda massa, levantaa © the dé stbor; assim © graga divine lira da alma friura do peccado e, excitando nella santos afecios, trna-a digna da awieade de Deus, Mais; far com que a alma seja amorade do Brpirito Santo, sua filha, soa exposa. Lancemos um olhar sobre nossis ima: esifo ellas omadas de graga santiicante? I, Na parabola do fermento Santo Agostinho, o Bem- aventurado Alberto Magno et outros veem uma figura da caridade, isto é, da graga santificante, Porquanto, como a levadura penetra toda a massa, levanta-a e lhe dé sabor, assim a graga santificante tira da alma, a friura aspera do peccado, e inflammando-a no amor, celeste eleva-a a um estado sobrenatural, torna-a digna da amizade de Deus, — Por isso é que o Espirito Santo chama a graga um thesouro. infinito: Jnfinitus enim thesaurus est hominibus'\—«E um thesouro infinite para os homens». Esse thesouro, porém, accrescenta o santo homem Job, é um thesouro occulto, pois, se os homens conhecessem o velor da graga divina, nao a trocariam por uma fumaga, um punhado de terra, um vil prazer: Nescit homo pretium eius®— «O homem Rao conhece 0 seu precov ° Privados da luz da {é, os pagios julgavam impossivel que uma creatura podesse ser amiga de Deus, E seguindo unicamente a luz natural, tinham razio, pois a amizade, segundo observa Sto Jeronymo, torna os amigos iguaes, Deus, comtudo, em muitos logares nos declarou que, em virtude da sua graga, nos tornamos seus amigos, observando "Sep. 7, 14, + Tob a8, 13. 15% 228 SEXTA SEMANA DEPOIS DA KPMPMARIA a sua lei: Vos amici mei estis, si feceritis quae praccipio vobist— «Vos sois meus amigos, se fiserdes 0 que eu vos mando». «© bondade de Deus», exclama Sao Gregorio, endo Ihe merecemos o nome de servos, ¢ digna-se chamar- nos seus amigos!» Como ‘se julgaria feliz quem fosse honrado com a amizade de seu rei! Mas seria temeridade para um vassallo o pretender travar amizade com o seu principe."No emtanto uma alma pode sem temeridade aspirar 4 amizade do seu Deus, Conta Santo Agostino que, estando dous validos do pago num convento, um delles pozse a lér a vida de Santo Antonio abbade. A medida que ia lendo, o seu coragdo desprendia-se dos affectos mundanos. Voltando-se depois para o companheiro: Amigo, disse-lhe, que é que procuramos? Servindo 0 imperador, poriemos esperar mais do quer ser seus amigos? Chegando a isso, poremos em maior perigo a nossa salvagdo eterna. Além disso, com que. difficuldade chegaremos a ser amigos do imperador! contrario, assim concluiu, desde j4 posso ser amigo -dg Deus, se 0 quizer. IL. Quem esté na graga de Deus, torna-se, pois, amigo de Deus. Mais ainda, torna-se seu filho: Dii estis, et filit Excelsi omnes? — «Sois deuses, e todos filhos do Excelsos. E esta a grande prerogativa que o amor divino nos al- cangou por meio de Jesus Christo. Além disso a alma em estado de graga tornase esposa de Deus: Sponsabo te miki in fide'— «Desposar-me-ei comtigo com fidelidade> Por isso 0 pae do filho prodigo, ao restituir-lhe as boas gra- as, ordenou que Ihe déssem o annel, signal dos esponsaes. Finalmente, como diz Sao Paulo, quem esté na graga de Deus, torna-se templo do Espirito Santo: Templum Dei estis, et Spiritus Dei habitat in vobis'— «Sois o templo de Deus ¢ 0 Espirito de Deus habita em vis». Soror Vo. 35, 14. FPS 81, 6 805 2 20. 1 Cor, 3, 16. SRGUNDACPRIRA. 229 Maria de Oignies viu um dia o demonio sabir do corpo de uma crianca que estavam baptizando, ¢ o Espirito Santo entrar com um cortejo de anjos © meu Deus, eis que minha alma, quando estava em vossa graga, era vossa amiga, vossa filha, vossa esposa € vosso templo. Mas depois perdeu tudo pelo peccado, ¢ tornou-se vossa inimiga e escrava do inferno. Gragas Vos dou por me haverdes ainda dado o tempo para reparar 0 mal que fiz, para reentrar em vossa gtaga e augmentala mais e mais. O Bondade infinita, arrependo-me sobre todos os males de Vos ter offendido, e amo-Vos sobre todas as cousas. Dignae-Vos receber-me de novo em vossa amizade. Por piedade, nao me desprezeis. Bem sei que merecia ser repellido de Vés; mas Jesus Christo merece por mim que me acceiteis de novo, visto estar arrepen- dido, em consideragdo do sacrificio que de si mesmo fez no Calvario,— Adveniat regnum tuum —«Venha 0 vosso reino», Meu Pae (é assim que vosso Filho me ensinou a chamar-Vos), meu Pae, vinde reinar not meu coragao pela vossa graca, fazei com que sé Vos sitva, que viva s6 para Vés e que sé Vos ame. Numa palavra, . Esta adega € a oragdo, na qual a alma se embriaga de tal modo pelo amor divino, que perde quasi inteiramente o gosto das cousas da terra, Nao ve mais sendo o que agrada a seu amado, nio fala senso no amado, nem quer ouvir falar senfo nelle, e toda outra conversago a aborrece e afflige. Na oragio a alma recolhe-se para tratar a sés com Deus, ¢ assim se eleva acima de si mesma. Sedebit soli- tarius et tacebit, quia levavit super se®. Diz 0 propheta sedebit: assentay-se-é, isto €: a alma em seu tepouso, con- templando na oragio quanto Deus é amavel, ¢ quao grande € 0 amor que Ihe tem, comegaré a saborear as cousas de Deus; 0 espirito se Ihe encherd de santos pen- samentos; ella se desprenderd dos affectos terrestres, con- ceberd grande desejo de se fazet santa, ¢ finalmente re- solver dar-se toda a Deus, Onde € que os santos for- maram as resolug6es generosas, que 0s sublimaram a um alto grau de perfeigdo, a nao ser na meditagdo? Por isso Sdo Luiz de Gonzaga dizia que nunca chegaré a alto grau de perfeigdo quem nao chega a fazer muita oragao mental. — Affeigcemo-nos, pois, 4 meditagéo ¢ nao a omit- tamos, seja qual {Sr 0 aborrecimento que nella achemos. Deus remuneraté abundantemente 0 aborrecimento sofftido pelo seu amor. ten 3 * Thren. 3, 28 232 SARA. SRMAYA DRPOIS DA. RPEPHANIA, © meu Deus, perdoze-me a minha preguica, Que the- souros de gracas perdi por ter deixado tantas vezes a orag&o! Para o futuro dae-me forca afim de que seja fiel fa conversa sempre comvosco nesta terra, visto que espero conyersar eternamente comvosco no céu. Nao aspiro aos regalos das vossas consolag6es; ndo as mereco. Bastame que me permittais ficar a vossos pés para Vos recom- mendar a minha pobre alma, que tio pobre se acha por se ter afastado de Vés, O meu Jesus crucificado, na oragio sé a lembranga de vossa Paixio me desprenderd da terra e me unird comvosco.— Santissima Virgem Maria, assistime na minha meditagao. (I 279.) TERCA-FEIRA. Paciencia de Deus em esperar que 0 peccador faga penitencia. Propteres, expectat Dominus, ut misereatur vestri — «Por isso ‘© Senhor espera, para ter misericordia de vés> (Is. 30, 18). Smnarie. A pacenca de que © Senor wan per ext ov poeadores, cependo que fam peaitena, 6 tfo grands, que, no dice de Siato AAgostinho, x0 do foe Deas, pareceria que falta 4 justign. A mise cardia de Deus impede contbusmente as crestras, que por natal. in ftaci guisersm vlngur ts ijn feina so Creador; so, merme tompo dipensatbes toda sore de. gragay,afim de coodusilon & resp teendn. Parece que teinosanente Inco com Deis: nds provorando tr seu cantiges Dew ofererendonos o perdto. Mat consnuaré sempre sim? A pacincia initada anal tornese for! I. A paciencia de que Deus usa para com os peccadores, € tdo grande, que uma alma santa desejava que se con- Struisse uma igreja e se Ihe désse por titulo: Paciencia de Deus. Meu irmio, quando offendias 2 Deus, podia fazer te morrer; mas Deus esperava, conservava-te a vida e acudia-te em todas as necessidades. Fingia nfo vér os teus Peccados, afim de que viesses 4 resipiscencia: Dissimulas SERGA-PEIRA 233 peccata hominum propter poenitentiam'— «Dissimulas os ‘peceados dos homens, para que facam penitenciar Mas como é isto, Senhor, exclama o propheta Habacuc ‘0 vossos olhos so puros, ndo podeis sofirer a vista de um 56 peccado, ¢ tantos vedes ¢ Vos calaes?? Vedes o im- pudico, 0 vingativo, o blasphemador, que dia a dia amon- téam os peccados, © nfo os punis? Porque usaes de ta- manha faciencia? Prapterea expectat Dominus, ut mise- reatur vestri. Deus espera pelo peccador, para que se cortija, afim de assim Ihe poder perdoar € salval-o. Diz Sento Thomaz que todas as cteaturas, 0 fogo, a terra, o ar, a agna, por natural instincto quizeram casti- gar o peccador vingar as injurias feitas ao seu Creador. Deus, porém, pela sua misericordia os impede. — Mas, Senhor, Vés esperaes pelos impios a ver se se convertem, € nao vedes que esses ingratos se servem da vossa misericordia pata mais Vos offenderem? «Vés, 6 Senkor, diz Isaias, © grande Kilho de Deus, Vés Vos fizestes homem para Vos fazer amar pelos homens; mas qual ¢ o amor que ‘0s homens Vos teem? Vés sacrificastes 0 vosso sangue e a vossa vida pela salvagao das nossas almas: porque é que Vos somos to pouco reconhecidos, que, em vez de Vos amar, Vos desprezamos com tamanha ingratidio? — E eu, Senhor, quicé mais do que os outros, Vos offendi assim. A. vossa Paixtio é a minha esperanga, Supplico-Vos pelo SUrASriRA, 230 amor que Vos fez tomar a natureza humana e morrer por mim sobre a cruz, que me perdoeis todas as offensas que Vos fiz. Amo-Vos, 6 Verbo incarnado, amo-Vos, 6 Bon. dade infinita. | Fesus, meu Deus, amoVos sobre todas as cousas. Artependo-me de todos os desgostos que Vos causei, ¢ quizera morrer de dér. O meu Jesus, dae-me o vyosso amor, no permittais que ainda viva ingrato ao af- fecto que me haveis mostrado. Quero amar-Vos sempre. Dae-me a santa perseveranca.— © Maria, Mae de Deus ¢ minha Mae, alcangae-me do vosso Filho a graga de amal-o sempre até 4 morte. (II 356.) SEXTA-FEIRA. Amor de Deus em fazer-se crianga. Parvalus natus est nobis, et filius datus est nobis — eNascet: nos uma erianga, ¢ foi.nos dado um Stho> (Is. 9, 6). Sumario. Querendo © Filho de Deus fazerse homem, podia appa- recer no mundo como homem perfeite, assim como foi creado Adam, Como, porém, as criangas attrahem mais facilmente o amor dos que as ‘vem, Jesus Christo quiz apparecer na terra como crianga, ¢ como a crinuga mais pobre humilde que jamais tenba nascido. Como é entdo possivel, 6 meu Jesus, que sejam Uo poucos os que Vos amam? Do nu- mero destes poucos eu tambem quero ser. Sim, 6 Bondade infinite, amo. Vos de todo'o coragto © sobre todas as cousss. 1. Querendo 0 Filho de Deus fazer-se homem por nosso amor, podia fazer sua entrada no mundo na idade de homem jé perfeito, assim como foi creado Adam, Como, porém, as criangas soem attrahir mais facilmente 0 amor dos que as veem, quiz elle apparecer na terra como crianga, e como a crianga mais pobre e humilde que S jamais tenha nascido, «£ assim gue quiz nascer nosso Deus», escteve Sio Pedro Chrysologo, «porque quiz ser amado.» Jé 0 propheta Isaias predissera que o Filho de Deus devia nascer crianga e darse assim todo inteiro a lus natus est nobis, nds, pelo amor que nos tinha: Pa 240 SEXTA SEMANA DEPOIS DA BPIPHANIA, et filius datus est nobis'— «Nasceu-nos uma crianca, ¢ nos foi dado um filho». Ah, meu Jesus, meu supremo e verdadeiro Deus! quem Vos forgou a deixar o céu e a nascer numa gruta, a nao ser 0 amor que tendes aos homens? Quem Vos obrigou a deixar o seio de vosso Pae e ser deitado numa mange- doura? Quem Vos fez deixar 0 vosso reino acima. das estrellas, para serdes collocado sobre a palha? Quem Vos constrangeu a deixar os coros dos anjos e estar entre dous animaes? Vés abrasaes os seraphins no santo fogo do amor, ¢ estaes tremendo de frio nessa gruta. Vos daes ‘© movimento aos céus € ao sol, e agora, para Vos mover, haveis mister que alguem Vos tome nos bragos. Vés daes alimento aos homens e aos animaes, e estaes precisando de um pouco de leite para sustentar a vossa vida. Vés sois a alegria do céu, € ougo que estaes chorando e gemendo. Dizei-me, quem é que Vos reduziu a tdo extrema miseria? «Quis hoc fécit? Fecit amor», diz Si0 Bernardo, — Fel-o © amor que tendes aos homens, Il. © doce Menino Jesus, dizeime, que viestes fazer sobre a terra? Dizei-me, que vindes aqui buscar? Ah! jé Vos entendo: viestes morrer por mim, para me livrar do inferno, Viestes buscar-me, a ovelha perdida, para que no futuro nunca mais fuja de Vés, e Vos ame. O meu Jésus, meu thesouro, minha vida, meu amor, meu tudo, se nao Vos amo, a quem hei de amar? Onde posso achar um pae, um amigo, um esposo mais amavel que Vés, e que mais do que Vés me queira bem? Amo-Vos, meu Deus, amo-Vos, meu unico Bem.— Lastimo ter vivido tantos annos para o mundo, no sémente sem Vos amar, mas offendendo-Vos e desprezando-Vos. Perdoae-me, 6 meu amado Redemptor, j4 que me arrependo de Vos ter tra- tado assim, e me arrependo de toda a minha alma, Per- E teu nome, mister SABHADO, 24t doae-me e dae-me a graga de néo me separar mais de ‘Vés, ¢ de Vos amar sempre no tempo de vida que ainda me resta, Meu Amor, a Vés me consagro todo; acceitae- me € no me rejeiteis como tinha merecido.— Maria, vés sois a minha advogada; com as vossas supplicas obtendes de vosso Filho tudo 0 que pedirdes: pedilhe que me perdée © me conceda a santa perseveranga até 4 morte. 357.) SABBADO}. Vantagens das Congregagées de Maria Santissima. Ingredere tu et omnis domus tua in arcam — Entra na area tue toda a tua cases (Gen. 7, 1). Summario, As Congregegses Marianas silo como outras tantas arces de Nog, onde os seculares acham a salvagto no naufragio comnum. Nflo sémente por causa da protecgdo especial com que Maria euids dos seus congregados, senflo tambem por causa dos meios de salvage que nellas se encontram. Se quizeres, pois, o mais possivel assegurar « sal- E vagdo do tua alma, deixate alistar em alguma destas Congregagdes. Lembra-te, porém, que para seres congregado, nfo é bastante que dés que guardes tambem as regras L. As Congregagoes, especialmente as de Nossa Senhora, so como tantas arcas de Nog, em que cham refugio os pobres seculares no diluvio das tentag6es e dos peccados que inundam o mundo, Regularmente falando, encontram- se mais peceados num homem que ndo frequenta a Congre- gagdo do que em vinte que a frequentam, Sim, porque nella adquirem os congregados muitas defezas contra o inferno Fe praticam, para conservarse na divina graca, diversos meios, de que féra della os seculares difficilmente usar, Em primeiro logar, um dos meios para salvar-se, pensar nas maximas eternas, como diz o Espirito Santo®; "Nas communidades religiosas podese tomar hoje wma das mediteges de reserva, Vejase Appandice n, V. * Eeelus. 7, 40. 5. Alfouso, Meditaytes, 16 242 SEXTA SEMANA DEPOIS DA EPIFHANIA. muitos se perdem porque nao meditam nellas. Ora, aguelles que vio 4 Congregagdo, frequentemente pensam nellas em tantas meditag6es, leituras e sermOes que alli se fazem: Oves meae vocem meam audiunt'\— «As minkas ovelhas ouvem a minka vor», —Em segundo logar, para salvarse é preciso recommendar-se a Deus: Pedi ¢ re cebereis®, Na Congregag&o os itmaos fazem isto continua mente, e Deus os attende mais, pois que elle mesmo disse que mui voluntariamente concede as suas gracas, quando as orag6es sto feitas em commum8; pela razdo, como diz Santo Ambrosio, que as oragdes, de muito fracas cada uma por si, se tornam fortes quando unidas. — Em terceiro logar, na Congregacao, tanto em virtude das regras como dos exemplos dos ontros irmaos, se fazem muitos exercicios de mortificagdes, de humildade, de caridade para com os irmios enfermos e pobres. O que mais é, nella se frequentam mais facilmente os sacra- mentos, que so meios efficacissimos para a perseveranga na divina graga, como declarou o Concilio de Trento*. — Finalmente, todos sabem quanto aproveita, para salvar-se, © servir a Mae de Deus; que fazem os irmdos sendo servika na Congregaao? Alli quanto a louvam! quantas orag6es Ihe apresentam! Alli se consagram desde o prin: cipio ao servigo della, elegendo-a de modo especial por sua Senhora e Mae. Alistam-se no livro dos filhos de Maria: portanto, assim como elles so servos € filhos distinctos da Virgem, assim esta os trata com distinecdo e protege-os na vida e na morte. De modo que um congregado de Maria pode dizer que com a Congregagdo recebeu todos os bens: Venerunt mihi omnia bona pariter cum illa’. Il, Tinha razio Sao Francisco de Sales quando ex: hortava calorosamente os seculares @ entrarem nas Con- "Yo, 10, 16, Fo, 16, 24. Mah, 18, 19, 4 Se 13,6.20 | FSap 7 rr SABUADO. Ba gregagdes. Que nao fez igualmente Sao Carlos Borromeu para estabelecer ¢ multiplicar as Congregagées Marianas? € nos seus Synodos adverte aos confessores que fagam nellas entrar os seus penitentes,— Imagina, pois, leitor meu, que 0 Senhor te diz o que disse a Noé: Jngre- dere tu et omnis domus tua in arcam— «Entra na arca iw ¢ toda a tua casas, Se quiceres salvar-te, entra tu e toda a tua familia nesta arca salutar da Congregagéo de Maria, Nao te contentes, porém, com a inscripgao de teu nome no registro, © que pouco ou nada adianta. Guarda tam- bem com exactidao as regras ¢ attende sobretudo a duas cousas: Primeira, ao fim da Congregagao, na qual nao deves entrar por outro motivo sendo para servir a Deus © sua santa Mae, salvar a propria alma, Segunda, a ndo perder a Congregacao nos dias marcados, por negocios do mundo, pois que alli deves ir para tratar do negocio mais importante que tens neste mundo, que é a salvagio eterna, Procura tambem conduzir quantos puderes 4 Con- gregagdo, e especialmente procura fazer voltar a ella os irmaos que a tenham deixado. Ob, com que terriveis cas- tigos 0 Senhor tem punido dquelles que abandonaram a Congregagio de Nossa Senhora! Ao contrario, os Con- gregados perseverantes sio por Maria providos de bens temporaes e espirituaes: Omnes domestic’ eius vestiti sunt duplicibus , © Virgera bemdita e immaculada, nossa Rainha e Mie, refugio € consolagio de todos os desgracados, prostrado ante 0 vosso throno com toda a minha familia, vos es colho por minha Soberana, minha Mae, e Advogada junto de Deus, Consagro-me para sempre ao vosso servigo, com todos os que me pertencem; ¢ peco-vos, 6 Mae de Deus, que nos recebais em o numero dos vossos servos, tomando- © Prov. 31, a0 ro 244 SEMANA DA SEPTUAGHESTIA, nos sob a vossa proteccAo, soccorrendo-nos durante a nossa vida, e mais ainda no momento da nossa morte. 6 Mae de misericordia, eu vos constituo Senhora ¢ Governadora de toda a minha casa, dos meus parentes, dos meus interesses e de todos os meus negocios. Nao vos negueis a tomar cuidado delles; de tudo disponde segundo 0 vosso agrado, Abengoae-me, pois, com toda a minha familia, ¢ ndo permittais que algum de nds offenda no futuro a vosso divino Filho, Defendei-nos nas tentag6es, livrae-nos dos perigos, provéde as nossas necessidades, aconselhae-nos nas duvidas, consolae-nos nas afflicgdes e€ enfermidades, e principalmente nas angustias da morte Nao permittais que 0 demonio se glotie jamais de nos ter sob a sua escraviddo, jé que vos somos consagrados, mas fazei com que vamos ao céu para vos agradecer, € todos juntos comvosco louvare amar a nosso Redemptor Jesus em toda a eternidade. Amen. (*I 280.) DOMINGO DA SEPTUAGESIMA. ‘A parabola dos operarios e a recompensa divina. ‘Vooa operarios et redde illit mercedem, incipiens » novissimis uusque ad primos— «Chama os opereriog ¢ pagathes o jornal, = ccomegar dos ultimos até os primeiros» (Matth. 20, 8). Suomario. A vinha do Senhor sto as nosis slmas; © Jesus Christo, que € 0 grande Pac de femilis, nos chama em qualquer hora do dia © Ga mancira mais variada, para at cetltivarmos, Irmffo meu, examinete sobre como até agora respondesle & vor de Deus, Se achares que foste nnegligente, recupera os annos perdides, trabalhando com zelo dabrado, ppensando que Deus mede a recompensa de seus servos, nfo tanto pelo tempo durante 0 qual, mas pelo mado como foi servido, + Onde nfo existe wma Congregagie Mariana com exercicios communs, procurem os fieis a0 menos entrar em alguma Conftarin de Nossa Se: nshora, como sejam as do Carmo, da Immaculada Conceigio, de Nossa Senhora do Perpetuo Soccorro, enriguecidss com muitas indulgencias © Papa Leto XITT recommendou particularmente pilenarias © parciaes 1 Ondem ‘erceira de Sto Francisco, DumisGo, Es I, «O reino dos céus», diz Jesus Christo, «é semelhante aum pae de familia que ao romper da manba sahiu a contractar operarios para a sua vinha. E, feito com elles © ajuste de um dinheiro por dia, mandou-os para a sua vinha. E, sahindo perto da hora terceira, viu que esta- vam outros na praca ociosos, e disselhes: Ide vés tam- bem para a minha vinha, e darvos-ei o que for justo, E elles foram. Sahiu novamente perto da sexta e da nona hora, € fez o mesmo. E quasi 4 undecima hora sahiu ainda e achou outros que lé estavam, e Ihes disse: Porque estais aqui todo o dia ociosos? Elles respon- deram: Porque ninguem nos assalariou. Elle lhes disse: Ide vés tambem para a minha vinha: /e et vos in vi neam meam.> Consideremos a significagéo desta parabola. A vinha do Senhor so as nossas almas. Jesus Christo, o pae de far milia, depois de as ter resgatado da escravido do demonio com 0 prego do seu divino sangue, nolas deu com o fim de as cultivarmos, por meio das boas obras, para poderem um dia ser admittidas na gloria eterna, 4 qual nos convida continuamente.—Vocat nos undique Deus, diz Sdo Gregorio. O Senhor nos chama da maneira mais chama-nos pelas prosperidades e pelas adversi dades; chama-nos por meio dos anjos da guarda e por meio dos seus ministros, ¢ chama-nos ainda hoje pela presente meditagao. Cousa extranha, porém! Deus nada tem poupado e nada poupa para asalvacdo das nossas almas, ¢ os christos, que “creem tudo isso pela {é, vivem como se nao créssem. Mas dem toda a sua attengdo nos negocios da terra, e na alma nem siquer pensam, como se 0 negocio da salvagto da alma néio fosse o mais importante de todos. © infelizes! bem reconhecerao a sua loucura, quando néo houver mais tempo para a remediar, Ferdida a alma uma vez, perdeu- se para sempre. 246 SEMANA DA SEPTUAGESIMA. IL, No fim da tarde, assim continua o Evangelho, «0 se- nhor da vinha disse ao seu mordomo; Chama os opera- rios, e pagalhes o jornal, a comegar dos ultimos até os primeiros.» Assim se fez, sendo preferidos os operarios que vieram em ultimo logar, aos que vieram primeiro e trabalharam mais tempo.—-Com isso o Senhor nos quer dar a entender que na recompensa a dar a seus servos ndio olha para o tempo ou annos, mas to sémente para a diligencia com que o serviram, D'abi é que frequentes vezes os que foram os primeiros no servigo de Deus, ficam sendo os altimos, e que os ultimes ficam sendo os primeiros. Animemo-nos, meu irméo, ¢ se no pasado temos sido negligentes né cultivo da vinha que o Senhor nos confiou, redimamos 0 tempo perdido servindo a Deus com dobrado fervor: Tempus redimentes, exhorta-nos Sdo Paulo, quo- niam dies mali sunt—«Recobrando 0 tempo, porque os dias so méus» ', Tmitemos este Apostolo, que, como ob- serva So Jeronymo, embora fosse o ultimo no apostolado, foi comtudo 0 primeiro em merecimento, porque trabalhou mais do que os outros. © meu Redemptor, nao quero majs perder o tempo, que me concedeis em vossa misericordia, Quero empregal-o a chorar as offensas que Vos fiz, ¢ a servir-Vos com fer- vor dobrado, afim de Vos desaggravar de minhas ingrati- does, Jesus meu, perdoaeme, j4 que estou resolvido a Vos amar de hoje em diante sobre todas as cousas, € a perder antes tudo, mesmo a vida, do que a vossa amizade. Ajudae-me, Senhor, para que esta minha resolugo no tenha a sorte dos meus propositos anteriores, que néo foram sendo perfidas traigdes. Deixaeme antes morrer, do que tornar a offender-Vos e perder 0 vosso amor. E Vés, 6 Eterno Pae, couvi clemente as minhas preces, * Eph, 5, 16. SEGUNDA-PEIRA, 247 afim de que, sendo justamente punido por meus pec- cados, delles me livreis piedoso, pera gloria do vosso nome» 1, Fazei-o pelo amor de Jesus Christo, vosso Filho, e de minha amada Mae Maria, SEGUNDA-FEIRA. Para ser santo preciso desejal-o muito. Besti qui esuriunt et stint iustitem; quoniam ipsisaturabuntur — Aemaventurados os que teem fome ¢ séde de justiga; porque elles serto fartos» (Matt. 5, 6). Sunmario, Quem quer ser sante, deve despreader-se das creaturas, vyencer a8 paixées, vencerse si proprio, ainar ae eruzes e sofrer muito, Ors, 0 santo descjo, a0 passo que nos dé forgs para praticar tudo isso, torns-nos pena mais leve, Pode-se dizer que jé 6 quasi vencedor, quem possue wim grande desejo de vencer. Inno meu, langa um olhar sobre a tur alma, ve se tens grande desejo da perfeigho, e roga a Jems © Maria que o fagam sempre mais exeseer em ti I. Nenhum santo alcangou a perfeigtio sem um grande desejo de chegar 4 santidade. Assim como os passaros precisam de azas parar voar, assim ds almas so necessarios os santos desejos para caminharem 4 perfeicio. Quem quer ser santo, deve desprenderse das creaturas, vencer as paixdes, vencer-se a si proprio, amar as cruzes, ¢ para fazer tudo isso, requer-se grande fora e é mister sofiter muito. Ora, 0 que faz o santo desejo? Responde Sao Lourenco Justiniano: «Subministra forcas e faz julgar a pena mais leve» Razio porque o mesmo Santo accre- scenta que jd ¢ quasi vencedor quem possue grande desejo de vencer: Magna victoriae pars est vincendi desiderium. Quem pretende subir ao cume de um alto monte, nunca chegard alli sem um grande desejo de chegar. Este dar- Ihe-4 coragem e forga para aguentar as fadigas da subida; sem elle ficaré prostrado na encosta desgostoso € desani: mado, * Or, Dom. cute 24s SEMANA DA SEPTUAGESINA, Sto Bernardo affirma que cada um progrediré. na per- feigko 4 proporgtio do desejo que tiver, E Santa Theresa diz que Deus ama as almas generosos que teem grandes desejos. Por isso a Santa dava a todos esta exhortagdo «Os nossos pensamentos devem ser grandes, porque delles viré o nosso bem. Nao convem abaixar os desejos, mas confiar em Deus, que, esforgando-nos, pouco a pouco po- deremos chegar até aonde, com a divina graga, chegaram os santos.» E assim que os santos em breve tempo at- tingiram um alto grau de perfeiggo fizeram grandes cousas para Deus: Consummatus in brevi, explevit tem pora mulia!— «Tendo vivido pouco tempo, encheu a car- reiva de uma larga vidas, Assim Sio Luiz de Gonzaga chegou em poucos annos a tio alto grau de santidade, que Santa Maria Magdalena de Pazzi, vendo-o num extase, no paraiso, disse se Ihe affigurava de certo modo que nao havia_no céu outro santo que gozasse de mais gloria do que So Luiz. Ao mesmo tempo a Santa comprehendeu que Sao Luiz subiu tio alto pelo grande desejo de amar a Deus tanto como o merece, e que o santo joven, vendo que nunca poderia chegar a este ponto,’ soffteu na terra um martyrio de amor. Il. Sao Bernardo, sendo jé religioso, para afervorar-se, costumava perguntar a si mesmo: Bernardo, para que vieste? Bernarde, ad quid venisti? A mesma pergunta te dirijo a ti: Que vieste fazer na casa de Deus? Para que deixaste 0 mundo? Para te fazeres santo?...E agora que fazes? para que perdes o tempo? Dizeme: desejas fazer- te santo? Se ndo o desejas, ¢ certo que nunca o serés, Se nio tens este desejo, pede-o a Jesus Christo, pedeo a Maria. E se o tens, reveste-te de coragem, diz 0 mesmo Sao Bernardo, porque muitos nfo se fazem santos por falta de coragem. Para qup temeremos? de quem devere- * Sap. 4y 13, PERGAPRIRA. 249 mos desconfiar? O mesmo Senhor que nos deu forga para deixarmos 0 mundo, dar-nos-4 tambem forca para abragar- mos uma vida santa. Eis‘me aqui, meu Deus, eis-me aqui prompto para exe- cutar quanto de mim quizerdes. Domine, guid me vis facere?'—-«Senhor, que quereis que eu faca? Dizei-me, Senhor, o que de mim desejaes, que em tudo Vos quero obedecer. Sinto ter perdido tanto tempo em que podia agradar-Vos e nao o fiz. Agradeco-Vos que ainda me daes tempo para fazel-o, Nao o quero mais perder. Quero e de- sejo ser santo; nfo para receber de Vés mais gloria, ou gozar mais: quero ser santo para mais Vos amar e dar- Vos mais gosto nesta vida e na outra. Fazei, Senhor, que eu Vos ame e Vos compraza quanto Vés 0 desejaes. His tudo © que Vos pego, 6 men Deus: quero amar-Vos, quero amar-Vos, e para Vos amar offerego-me a sofiter qualquer desgosto, qualquer enfermidade, qualquer pena. Senhor meu, augmentae sempre em mim este desejo, e daeme a graga de o pér em obra, Por mim mesmo nada posso; mas ajudado por Vés posso tudo. © Eterno Padre, por amor de Jesus Christo, attendei-me. Jesus meu, pelos meritos da vossa Paixdo, soccorrei-me. Maria, minha esperanga, por amor de Jesus, protegei-me. (IV 424.) TERGA-FEIRA. Commemoragao da agonia ¢ oragao de Jesus no Horto. Et factus in agonia prolixius orabat— eB, posto em agonia, orava (Jesus) com maior instancia> (Lue, 22, 43). Summario. Ymaginemos vée a Jesus, que, pela previsto dos tormentos © ignominias que o esperavem, € muito mais da ingratida¥ com que os homens the haviam de pager, cae em agonia no orto ¢ sia sanguc; mas nem assim deixa de roger a seu eterno Pac, E este 0 exemple que * Act 9, 6, 250 SEMANA DA SKPTUAGESIMA, devemos seguir, quando nos achamos em afficgo ¢ desolugio. Unamos entio as nossas penas és de Jesus; mas nfo deixemos de orar e de re. petir com elle: Pae, seja feita a yossa vontede. 1. O nosso amante Redemptor, aproximandose a hora da sua morte, dirigiu-se para o horto de Gethsemani, onde, por si mesmo, deu principio 4 sua amargosissima Paixio, permittindo que o temor, o tedio e a tristeza viessem atormental-o, Coepit pavere et taedere ... contristari et moestus esse, Mas como! nfo era o mesmo Jesus que tanto tinha desejado soffrer e morrer pelos homens? E como teme agora tanto as penas e a morte? porque esta triste e afflicto até ao ponto que a tristeza parece tirarthe a vida?? Ah! bem desejava Jesus morrer por ads; mas, para que n&o pensassemos que por virtude da sua: divin- dade morria sem soffrer, supplicou a seu Pee que o Ji- vrasse. Assim nos quiz fazer conhecer que morria de morte to angustiosa, que grandemente o aterrava. Porém, 0 que propriamente aflligiu o Coragao de Jesus no horto, nio foi tanto a previsdo dos tormentos que teria de soffter, como a previsio de nossos peccados. Jesus ti- nha vindo ao mundo para tirar os peccados. Mas vendo que apezar de sua Paixéo se commetteriam ro mundo tantos crimes, soffreu uma dér to intensa, que antes de morrer o reduziu 4 agonia e o fez suar sangue vivo em tanta abundancia, que chegou a ensopar a terra: Et factus est sudor eius sicut gutiae sanguinis decurrentis in terram! Sim, porque Jesus viu entéo diante de si todos os pec- cados que os homens tinham de commetter depois da sua morte, todos 0s odios, deshonestidades, furtos, blasphe- mias e sacrilegios. — Jesus entdo disse: E assim, 5 homens, que recompensaes o meu amor? Ab, se eu vos visse gratos para commigo, como iria contente morrer por vds. Mas, vér, depois de tantos sofftimentos meus, tantos peccados, + Mare. 14, 33, Matth. 26, 35, * Matth. 26, 38 Luc. 22, 44 ‘VERGA-PRIRA. 251 depois de tanto amor meu, tamanha ingratidao, eis o que me faz suar sangne, IL, No meio de sua penosissima agonia, que faz 0 Se- nhor? Dobra os jocthos, prostrase com 0 rosto no chido, fe roga a seu divino Pac, dizendo: Pater, si possibile est, transeat a me caliz iste; verumtamen won sicut ego volo, sed sicut m—«Pae meu, se & possivel, passe de mim este cali; todavia no seja como eu quero, mas sim como tus, Como se dissesse: Meu Pae, Vés vedes que os tormentos que se me chegam a sofiter so horriveis; sabeis como o horror natural me impelle a fugir delles e que por isso & grande a tristeza que me opprime, Vés sabeis tudo isso. Sendo pois possivel que, sem embargo do decreto de vossa justiga, passe de mim este calix amatgoso, sem que eu o beba, rogo-Vos que me attendais o pedido. Mas, de nenhum modo se faga o que eu quero, sentio o que Vés quereis; porquanto em todas as cousas prefiro a vossa santissima vontade 4 minha. — O orag&o sublime! © perfec- tissima resignagao! Eis ahi o que nés tambem devemos fazer; pois que, como diz S40 Cypriano, Jesus quiz, nao sémente com palavras, sendo tambem com suas obras, ensinar-nos 0 ver- dadeiro modo de orar. Em nossas afflicgdes ¢ desolagoes, unamos a nossa pena com a do Coragao de Jesus no horto e digamos com elle: Meu Pae, se é possivel, passe de mim este calix; fagase, porém, no a minha vontade, sendo a vossa. — Se apezar disso, se prolongar a desolagio, conformemo-nos com a vontade divine, e longe de nos relaxarmos em nossas orages, prolonguemol-as 4 imitagao de Jesus Christo mesmo, que posto em agonia orou com mais instancia: Factus in agonia, prolixius orabat. 5 assim, 6 Senhor, que proponho fazer; Vés, porém, dac-me a graca de Vos ser fiel. «O meu Jesus, Vés que * Math. 26, 30 252 SEMANA DA SEPTUAGESIMA. no horto, com palavras © exemplo nos ensinastes a orar, para vencermos os perigos das tentagbes, concedei-mei propicio, que sempre applicado 4 oragdo, merega tirar ella fructo copioso.»* Fazei-o pelo amor de vossa € mi- nha amada Mae Maria. (#1 733.) QUARTA-FEIRA. © peccador nao quer obedecer a Deus. ‘A saeculo confregisti jugum mem, rupisti vinewla mea, et dlixisti: non serviam — «Quebraste desde 0 principio o meu jugo, rompeste os meus lagos, e disseste: flo servireix (Ier. 2, 20) Summasio Grande Deus! Todas as ereaturas obedecem a Deus, como fa seu supremo Senhor; os céus, a terra, 0 mar, oF elementos obedecem. The de prompto 20 menor signal. Eo homem, mais amado e privilegiado de Deus do que toias essas creaturss, flo quer obedecerihe, © cada ver que peces, dis por suas obras com inaudita temeridade « Deus: Si hor, no Ves quero servir— Confragistiingant meu, dixisti: non serviom, Tmo meu, § isso o que tu tambem fizeste, se jamais tiveste a desgraga de peecar. I, Grande Deus! Todas as creaturas obedecem a Deus como ao seu soberano Senhor; os céus, a terra, o mar, os elementos obedecem-Ihe de prompto ao menor signal, E 0 homem, mais amado e privilegiado de Deus do que todas esses creaturas, no lhe quer obedecer, e cada vez que pecea, diz, por suas obras, com inaudita temeridade a Deus: Senhor, no Vos quero servir. Confregisti ingum meum, dizisti: non serviam—«Quebraste 0 men jugo ¢ disseste: nto servirei. O Senhor Ihe diz: nao te vingues, e o homem responde quero vingar-me;— nio te apposses dos bens alheios: quero apossar-me delles;—abstém-te desse prazer deshonesto nao quero abster-me. O peccador fala a Deus do mesmo modo que Pharaé, quando Moysés Ihe levou da parte de Deus a ordem de restituir o seu povo 4 liberdade. Aquelle (QUARTA-FEERA 253 temerario respondeu: Quem é esse Senhor, para que eu ouga a sua voz? Nao conkeco o Senkor', O peccador diz a mesma cousa: Senhor, no Vos conhego, quero fazer fo que me agrada, Numa palavra, ultraja-o face a face, € yoltalhe as costas, No dizer de Santo Thomaz, é isso .exactamente 0 peccado mortal: o voltar as costas a Deus, ‘o Bem incommntavel. FE disso tambem de que o Senhor se queixa: Tu reliquisti me, dicit Dominus; retrorsum abiisti®, Foste ingrato, assim fala Deus, porque me abandonaste, Sao passo que eu nunca te teria abandonado: retrorsum abiisti, voltaste-me as costas. Deus declarou que odeia o peccado; portanto ndo pode deixar de odiar igualmente a quem o commette. E 0 ho- mem, quando pecca, ousa declarar-se inimigo de Deus F resistelhe na face: Contra Omnipotentem roboratus est— celle se fen forte contra 0 Todo-poderesor, diz Job’. O mesmo santo vario accrescenta que levanta o collo: isto 0 orgulho, e corre para insultar a Deus: armase com ‘uma testa dura, isto com ignorancia, e diz: Quid feci? Que é que fiz? Onde esté o grande mal que fis peccando? Deus é misericordioso; perdéa aos peccadores. Que in- juria! que temeridade! que insensatez! Il. Irmdo meu, se nés tambem no passado quebrémos © jugo suave do Senhor, € recusando-lhe a obediencia tornamo-nos escravos do demonio, pegamos agora, humi- Ihados e contritos, perdio de nossos peccados; esfor- cemo-nos, com 0 nosso atrependimento, ¢ com os nossos obsequios, em reparar um pouco as muitas offensas que, particularmente nestes dias de carnaval, sfo feitas a nosso Pae celestial, Eis aqui a vossos pés, meu Deus, o rebelde, o temerario que tantas vezes teve a audacia de Vos injuriar no rosto € de Vos voltar as costas, mas que agora Vos pede mi- Pe 5,2 25 Rog, 12, 28, § Tob 15, 25 254 SEMANA DA SEPTUAGESIMA. sericordia, Vés dissestes: Clama ad me, et exaudiam te —«+Clama a mim e eu te attenderei», Um inferno ainda € pouco para mim: confesso-o; mas sabeis que tenho mais dor por Vés haver offendido, 6 Bondade infinita, do que se houvesse perdido todos os meus bens e a vida, Ah! meu Senhor; perdoae-me e ndo permittais que Vos torne a offender, Vés por mim esperastes, afim de que bemdiga para sempre a vossa misericordia, e Vos ame. Sim, bem- digo-Vos, amo-Vos e espero pelos merecimentos de Jesus Christo, nunca mais separarme do vosso amor. Foi o vosso amor que me livrou do inferno, esse mesmo amor deve livrar-me do peccado no futuro, Agradego-Vos, meu Senhor, estas luzes ¢ 0 desejo que me inspiraes de sempre Vos amar. Peco-Vos que tomeis plena posse de mim, de minha alma, de meu corpo, das tminhas faculdades, dos meus sentidos, de minha vontade eda minha liberdade: Tuus sum ego, saleum me fac?— «Ex sou vosso; salvae-mer. Vés que sois 0 unico bem, o unico amavel, séde tambem o meu unico amor. Dae-me fervor em Vos amar. J4 Vos offendi muito; portanto nao me posso contentar com amar-Vos simplesmente; quero amar-Vos muito para compensar as injurias que Vos fiz. De Vés espero esta graga porque sois todo-poderoso; espero-a tambem, 6 Maria, das vossas oragdes, que sao todo-poderosas para com Deus. (*II 68.) QUINTA-FEIRA. A santa Missa dé a Deus uma honra infinita. Laudate eum secundum multiqudinem magnitudinis eius — «Low vae (a Deus) segundo 2 multidao da sue grandes» (Ps, 150, 2) Summario, Todas a5 honras que fram tvibutadss a Dens, © the sero ainda tributadas por todas as creatures, sem exceplaar a divina Me, ‘nunea poderfo igualar a honra que The é dado por wna unica Missa, Ver, 33, 3. * Ps 118, 94 QuINTA-ERIRA. 258 pporguanto nesta é sacrfcada a Deus uma victina de valor infinite, que The 44 uma honra infinite. Que hours, pols, para née, que se nos per mite assstirmos cada dia e até mais de uma ver a este divino sacrifio! Ongamos quantes Misses postamos, particularmente neste tempo do car naval, para desaggravar o Senhor dos ulinjes que recebe, 1. Nunca um sacerdote celebraré a santa Missa com a necessaria devogdo, nem nunca o christéo the assistird com o devido respeito, se ndo tiverem de tamanho sactificio a estimagao que merece. «lf certo», diz 0 Concilio de Trento, «que o homem nao faz acco mais sublime e mais santa do que a celebragio da Missa» 1; mais, Deus mesmo néo pode fazer que se commetta no mundo acgao mais sublime do que esta. —A Missa nao é sémente uma recordagdo do sacrificio da Cruz, sendéo 9 mesmo sacti- ficio, porque em ambos o offerente é 0 mesmo, a mesma € a victima, a saber: 0 Verbo incarnado. A. differenga esté unicamente no modo de se offerecer; porquanto o sactificio da Cruz foi feito com derramamento de sangue, © © sactificio da Missa € incruento, No primeiro Jesus Christo morreu verdadeiramente, no segundo morte de morte mystica. Por isso todos os sactificios antigos, apezar da grande gloria que deram a Deus, no fram sengo uma sombra e figura de nosso sacrificio do altar. Todas as honras que jamais teem dado e dardo a Deus os anjos com os seus Jouvores, os homens com as suas boas obras, penitencias © martyrios, ¢ mesmo a divina Mae conta “prética das mais sublimes virtudes, nunca chegaram nem poderdo chegar a glorificar o Senhor tanto como uma sé Missa. A razdo € que todas as honras das creaturas sfio honras finitas, mas a gloria que Deus recebe no sactificio do altar, no qual se lhe offerece uma victima de valor in- finito, € uma gloria igualmente infinita, —Numa palavra, a Missa € uma acgdo pela qual se tributa e Deus a maior * Ses. 22, Deer, de observ, in celebr. Missae 256 SEMANA DA. SEPTUAGHSIMA honra que Ihe pode ser tributada, Pela Missa cumprimos © nosso dever primario, sublime e essencial, o de louvar. mos a Deus segundo a sua grandeza: Laudate eum se- cundum multitudinem magnituilinis eius. II, Se tu, que fazes a presente meditagdo, tens a grande dita de ser padre, emprega toda a diligencia para cele brar este divino sacrificio com a maior pureza ¢ devogie possiveis. Lembra-te de que a maldigao fulminada contra aquelles que exercem as funcg6es sagradas negligente mente, diz exactamente respeito aos sacerdotes que cele- bram a Missa de modo irreverente: Maledictus homo, gui Facit opus Domini fraudulenter\— «Maldito o que faz a obra de Deus com negligenciar. Se ndo és padre, esforga-te por ouvir ao menos cada dia devotamente a Missa, mesmo 4 custa de algum in- commodo; especialmente nestes dias de carnaval, para desaggravar Jesus dos ultrajes que the sao feitos, — Santa Margarida de Cortona desejava ter para amar ¢ louvar a Deus tantos coragSes e tantas linguas, quantas sao as estrellas do céu, as folhas das arvores, as gottas de agua no mat, Mas o Senhor dignowse dizerlhe: «Consola-te; se ouvires devotamente uma unica Missa, tributar-me-ds toda a gloria que possas desejar, e infinitamente mais.» ‘Meu Deus, adoro a vossa majestade e grandeza infinita; comprazo-nje cotn as vossas infinitas perfeigdes e quizera honrar-Vos, tanto ‘quanto mereceis. Que honra Vos posso tributar eu, miseravel peccador digno de mil infernos? + «Eterno Pae, offerego-Vos o sacrificio que 0 vosso d= lecto Filho fez de si mesmo sobre a cruz, agora renova sobre altar, Eu Vol-o offereco em nome de todas as creaturas em unio com as Missas que jé foram celebradas e ainda serio celebradas em todo o mundo, para Ves adorar ¢ louvar como mereceis; para agradecer os vossos "Ter. 48, 10. SEXTAREIRA, 0 237 innumeros beneficios; para aplacar a vossa ira, excitada por tantos peccados nossos; e dar-Vos uma satisfaccdo digna, para Vos supplicar por mim, pelo mundo universo e pelas almas do purgatorio.»1—© Maria, minha Mae, em vés repousou o Deus que se sacrifica sobre os nossos altares, ajudae-me a ouvir sempre (e celebrar) a Missa com a devida devogao. (*III 832.) SEXTA-FEIRA. Coragao de Jesus, afflicto pelo peccado de escandalo. Videte ne contemnatis unum ex his pusillis— «Vede, que nto Aesprezeis um 26 destes pequeninos» (Matth, 18, 10). Summaric, Filho de Devs baixou do cfu & terra por amor das slmas, levon durante trintae tres annos uma vida de privagies, © de trabalhos, ¢ alinal chegou « derramar por ellas o seu preciosissimo sangue. Julgse, or estas razses, quo amargo € o desgosto que os escandalosos eausam 4 Jesus Christo; por the roubsrem © mesmo matarem tantas filhas tfo dllectas. Para nfo amargurarmos mai esse Coragto amabilissimo, guardemo- nos de dar méu exemplo ao nosto proximo, ainda que seja em cousas leves, I, Uma das cousas que mais affligiram 0 Coragao de Jesus, durante a sua vida terrestre, e que haviam de af fligil-o ainda no céu, se alli houvesse tristeza, € 0 peccado de escandalo. Para comprehender isso, devemos considerar quéo cara é a Deus cada alma de nossos piximos, Creou- as elle 4 sua imagem e semelhanca?, ¢ amando-as desde a eternidade, creou-as para que fossem as! no paraiso, onde ha de tornal-as participantes de sta propria felici- dade ¢ darselhes a si mesmo em galardio: Ego ero merces tua magna nimis®— «Eu serei 0 teu galardao infinitamente grande» Depois, 0 que nao tem feito, o que néo tem padecido © Verbo incarnado por amor dessas almas, para remil-as da escravidao do demonio, na qual cahiram pele peccado? Vindulg. de 3 annos uma ver por dia. * Gen.1, 26. * Gen. 15,1. S. Afloat, Meditagses, 1 ” 5 | 258 SEMANA DA SEPTUAGESIIA. Chegou a nada menos do que a dar por ellas o seu sangue e a sua vida. Se, em vez de uma sé morte, seu Pae Ihe tivera exigido mil; se, em vez de ficar tres horas na cruz, tivera de ficar nella até o dia do juizo; se afinal tivera de soffrer para salvagdo de cada um, 0 que pa- deceu pata salvacdo de todos os homens juntos, Jesus Christo nao teria hesitado em fazer tanto. Tao grande € o amor que elle tem ds almas.—Julgae por abi, quéo amargo desgosto causam ao Coragéo de Jesus os escan- dalosos, que Ihe fazem perder tantas almas, roubam-lhe e assassinam tantas filhas t4o diléttas. Diz Sto Bernardo, que a perseguigéo que 0 Senor soffre da parte daquelles perfidos algozes, € mais cruel do que a que sofireu da parte dos que o’ crucificaram. Tendo os filhos de Jacob vendido a José, apresentaram ao pae a tunica deste tingida no sangue de um cabrito, dizendolhe: Vide utrum tunica filii tui siti «Ve se é 0 nao a tunica do teu filhor. Do mesmo modo nos po- demos figurar que, quando uma pessoa pecca, induzida ao peccado por um escandaloso, os demonios apresentam a Deus 0 vestido daquella pessoa, tingida do sangue de Jesus Christo, isto é a graca perdida por aquella alma escandalizada. Se Deus pudesse chorar, choraria entdo mais amargamente do que Jacob, dizendo: Fera pessima devoravit «Uma fera pessima a devorous. TL Afi (0 affligirmos mais 0 Coragdo de Jesus, guardemo-nos especialmente nestes dias, de darmos ao proximo qualquer escandalo ou mdu exemplo, nfo sé- mente em cousas graves, sendo tambem nas leves, Abste- nhamo-nos sobretudo e sempre de toda palavra que possa offender a bella virtude, lembrando-nos que uma palavra indecente, muito embora dita de gracejo, pode ser causa de mil peceados.—Se no passado tivemos a desgraga de Gen, 37, 3% "Gen. 37, 33- SABBADO. 259 dar, de qualquer modo, ao proximo: occasido de peccado, saibamos que o Coragdo alilicto de Jesus exige de nés uma rigorosa satisfacgio, reparando ao menos pelo bom exemplo 0 mal que fizemos, Meu amabilissimo Jesus, eu tambem sou um daquelles desgragados cujo mu exemplo encheu de amargura o vosso divino Coragdo. Ah Senhor! como podestes sofiter tanto por mim, prevendo as injurias que Vos havia de fazer? Mas jd que me supportastes até este momento, quereis a minha salvagio, daeme uma grande dér de meus peccados, uma"dér que iguale 4 minha ingratidao. Senhor, odeio € detesto summamente os desgostos que Vos causei. Se no passado desprezei a vossa graca, agora estimo-a mais do que todos os reinos da terra. Amo-Vos, } Fesus, meu Deus, amoVos sobre todas as cousas, e de todo 0 meu coragdo. Nao quero mais viver sendo para ‘Vos amar e fazer que os outros tambem Vos amem. Vés mesmo abrasae-me cada vez mais em vosso amor, lem- brando-me sempie, quanto fizestes e padecestes por mim, — A mesma graca, pego a vds, 6 Maria! Supplico-vos que m’a alcanceis, pela dér que 0 vosso divino Filho sen- tine que vés mesma sentistes pela previsto dos escan- dalos do mundo. (*II 440.) SABBADO}. Da gratidao para com as Déres. de Maria Santissima, Monora patem (uum: et gemitus matris tuae ne obliviscaris — sHonra a teu pae e nfo te eequeges dos gemidos de tua miler (Eecles. 7, 29) Sunmario. Posto cue a morte de Jesus Christo fosse sufficiente para remir uma infinidade de mundos, quiz todavia a Santissima Virgem, pelo 1 Se entre a Epiphania © a Septuagesima sé houve tres semanas, os evotos de Marin Santissima poderdo tomar hoje 2 meditaglo soyre Maria Santissima modulo da esperanca, pag. 208. ap? 260 SEMANA DA SEPTUAGESIMA. amor que nos tem, cooperar para a nossa salvagio, preferindo soffrer toda especie de déres a vér nosis almes sem redempgto ¢ na antiga perdigfo, ] ausso dever respondermos a tamanho amor da Rainha dos Martyres, ao menos pela compaisilo de suns déres ¢ pela imitagto de seus exemplos I, Sao Boaventura, contemplando a divina Mae ao pé da Cruz para assistir 4 morte de seu Filho, volvese para ella ¢ Ihe diz: Senhora, porque quizestes vés tam- bem sacrificar-vos sobre o Calvario? Nao bastava, por ventura, para nossa redempcao um, Deus crucificado, que quizesseis ser crucificada tambem’ vés sua Mae? Now sufficiebat Filii passio, nisi crucifigeretur et Mater? — Ab! certamente bastava a morte de Jesus para salvar o mundo € ainda infinitos mundos; mas, pelo amor que nos tem, nossa boa Me quiz tambem concorrer para a nossa sal- vacdo, pelos merecimentos de suas déres; que offereceu por nés no Calvario, Por isso diz o Bemaventurado Alberto Magno, que, assim como somos obrigados a Jesus pela Paixo que quiz soffrer por nosso amor, assim tambem somos obrigados a Maria pelo martyrio, que na morte do Filho quiz espontaneamente padecer pela nossa salvagtio,—Accrescento espontaneamente, porque, como revelou o Anjo a Santa Brigida, esta nossa tio piedosa e benigna Mae antes quiz soffter todas as penas do quer’ vér as almas privadas da redempgao ¢ deixadas -ra‘aftiga miseria, ‘A bem dizer, foi este o unico allivio de Maria, no meio de sua grande dér pela paixto do Filho: o vér com a sua morte remido 0 mundo perdido e reconciliados com Deus os homens seus inimigos. Mas, infelizmente, esse unico allivio da Santissima Virgem foilhe amargurado pela previsio que, se a morte de Jesus havia de ser para muitos a causa de resurreigdo e de vida, para muitos outros seria por propria culpa causa de maior rina ¢ de morte eterna: Ecce positus est hic in ruinam et in resur- SABDADO, 261 rectionem multorum in Israel’— «Bis que este esté posto para ruina ¢ para resurreicho de muitos em Israel», Il, Tao grande amor de Maria em unir ao sacrificio da vida do Filho 0 de seu proprio corago, bem merece a nossa gratid#o; ea nossa gratidao consista em meditar- mos € nos compadecermos das suas déres, Mas disto exacta mente queixou-se ella com Santa Brigida: «Minha filha», disse-lhe, «quando considero os christéos que vivem no mundo, para vér se ha quem se compadega de mim e se lembre de minhas déres, acho bem poucos, ao passo que a maior parte delles se esquecem por completo. Por isso quero que tu ao menos dellas te lembres e nellas me- dites muitas vezes, e compadecendo-te de mim, procures, quanto {6r possivel, imitar a minha resignacao em padecel-as: Vide dolorem meum, et imitare quantum potes et dole.» — Meu irmao, imaginemos que a divina Mae nos fala da mesma maneira, particularmente nestes dias do carnaval, em que os peccadores renovam tantas vezes a crucifixdo de Jesus, e por conseguinte tambem as déres de Maria, © minha dolorosa Mae, vds tanto chorastes 0 vosso Filho, morto pela minha salvagio; mas que me aprovei- tardo as vossas lagrimas, se eu me condemno? Pelos mere- cimentos, pois, das vossas déres, aleangae-me uma verda- deira dér dos meus peccados, uma verdadeira emenda de vida, com uma perpetua e tenra compaixio da Paixao de Jesus e das vossas déres, Se Jesus e.vds, sendo to inrfocentes, tanto tendes padecido por mim, alcangae-me que eu, réu do inferno, padeca tambem alguma cousa por vosso amor. Finalmente, 6 minha Mae, pela affliccgZo que experi- mentastes, vendo diante de vossos olhos 0 vosso Filho, entre tantas penas, inclinar a cabega e expitar sobre a Cruz, vos supplico que me aleanceis uma boa morte, ‘Lue. 2, 34 a eee 262 SEMANA DA SEXAGHSIMA. ‘Ah, advogada dos peccadores, nfo deixeis de assistir 4 minha alma afflicta e combatida, na grande passagem que terd de fazer para a eternidade. E porque é facil ter ew ent&o perdido a fala e a voz para invocar 0 vosso nome € © de Jesus, em que ponho todas as minhas esperangas, rogo desde agora a vosso Filho, vosso Esposo e a vés, que me soccorrais naquelle ultimo momento, e digo + Yesus, Maria e Foss, expire a minha alma em paz em vossa compankia'. (#1 229.) DOMINGO DA SEXAGESIMA. A parabola do semeador e a palavra divina. [Exiit qui seminat seminare semen suum— «Sahiu o que temeix a semear a sua sementer (Luc. 8 5). Summario. Ira! meu, o Senhor semeia continvamente em tue alma 2 bos semente de sua palavra, Se nfo produzir o seu fructo, examina, se por ventura haem ti slgum dos impedimentos indicados no Evangelho. Examina sobretudo se ba em ti algum apego 4s riquezas, és dignidades, os prazeres, ou a outra creatura qualquer; pois que sfo estes os espi hos que nfo sémente fazem perder o fructo di palevra de Deus, mas final muilas veres impedem que Deut ainda fale & alma, IL. Refere Sado Lucas que, estando certo dia numerosa multidao de povo reunida ao redor de Jesus, este propoz a parabola do semeador, cuja semente cahiu parte junto a0 caminho, outra sobre pedregulho, outra entre espinhos, outra finalmente em terra boa. Perguntado depois pelos discipulos, o divino Redemptor mesmo deu a segulnte interpretagdo: «A sementes, disse, «é a palavra de Deus. Os que estio 4 borda do caminho, so aquelles que a ouvem, mas depois vem o diabo ¢ tira a palavra do co- ago delles, para que ndo se salvem crendo, Quanto aos que estéo sobre pedra, so os que recebem com gosto a palavra, quando a ouviram; mas elles nao‘ teem raizes, * Indulg. de 100 dias, cada ves, bomxco. 263 porque até certo tempo creem, e no tempo da tentagao voltam atrds, A semente que cahiu entre espinhos, estes slo oc que a ouviram, porém, indo por diante, ficam suf focados pelos cuidados, e pelas riquezas ¢ deleites desta vida, € no dao fructo: Sufocantur, et non referunt fructum.» Observa Sao Gregorio que, sendo 0 Evangelho de hoje interpretaéo por Jesus mesmo, nao precisa de outra ex- plicagdo; mas € digno de nossa mais attenta consideragao. —Considera, pois, aos pés de Jesus Christo, se porventura se ache em ti algum dos tres impedimentos notados na parabola, que te possa privar do fructo da palavra divina: Aliud cecidit secus viam— «Parte cahiu junto ao caminko». Tens porventura o espirito dissipado ¢ qual caminho pu- blico aberto a todos os pensamentos?... Aliud cecidit supra petram —«Outra parte cahiu sobre pedregulho». Estaré por ventura o teu coragdo endurecido como uma pedra em consequencia de algum vicio ou tibieza habi- tual?... Aliud cecidit inter spinas—«Outra parte cahiu entre espinhos». Examina sobretudo se tens apego 4s ri- quezas, ds dignidades e aos prazeres terrestres, que sto como espinhos, que fazem perder o fructo da palavra de Deus, ¢ muitas vezes so causa de Deus nfo falar mais 4s almas, porque ve que suas palavras se perdem, IL Continuando 0 Senhor a interpretar a ultima parte da sua parabola, accrescenta: «A semente que cahiu em boa terra, estes so os que, ouvindo a palavra com co- ragio bom e perfeito, a reteem, e dao fructo pela paciencia.> Nota aqui estas ultimas palavras: Fructum afferunt in patientia— «Elles dao fructo pela paciencias. Ellas signi- ficam que no nos devemos deixar enganar pelo demonio, com a pretensfio de fazer tudo ao mesmo tempo, por- quanto, como avisava Sao Philippe Neri: A obra da santi: ficacfo n&a d abra de um sb dia. Numa palavra, para nZo nos apartar da parabola, quem quizer colher fructos ma- 264 SEMANA DA SEXAORSIMA, duros, deve, como o lavrador, esperar pacientemente o tempo da colheita. 6 meu amabilissimo Jesus, estou envergonhado de com: parecer 4 vossa presenca, vendo que a semente da vossa palavra, semeada tdo frequente e abundantemente em meu coragio, até agora, por minha culpa produziu t&éo pouco fructo, Consolo-me, porém, porque sinto que apezar das minhas negligencias, ainda continuaes a me falar. Loguere, Domine, quia audit servus tuus'— «Fala, Senhor, porque o teu servo escuta». Eisme aqui, 6 Senor, n4o quero mais resistir quando me chamaes; dizei-me o que desejaes; estou prompto a obedecer-Vos: quero deixar tudo para ser todo vosso. E por demais que me obligastes a amar- Vos! Se porém desejaes que Vos seja fiel, transformae © meu coragto, ¢ fazei que de hoje em diante seja uma terra boa, na qual a-vossa divina palavra possa deitar raizes, erescer e dar fructos de vida eterna, Rogo-Vos tambem, 6 meu Deus, «j4 que vedes que de nenhuma sorte confio em minhas obras: rogo-Vos que contra todas as adversidades sejamos munidos com a pro: tecgio do Doutor das gentes.»? } Doce Coracao de Maria, side a minka salvacao. SEGUNDA-FEIRA. © peccador afflige 0 Coragao de Deus. Exacerbavit Dominum peccator; secundum multitudinem irae suae non quaeret— «O peceador irritou a0 Senbor: nfo se im- porta da grandeza de sua indignagior (Ps. 9, 24). Summaric, S80 ba dissabor maior do que vér-se pago com ingratidto por uma pessos amada e beneficads, D'ahi infere quanto deve estar amargurado 0 Coragto sensibilissimo de Jesus, que, nfo obstante os im. ‘mensos © continuos Deneficios concedides aos homens, é to vilmente ultrajado pela maior parte delles, especialmente neste tempo de carnaval. Sr Reg. 3,9 Or. Dom, cur SEOUNDA-FEIRA, 265, Jesus nflo pode morrer; mas, se 0 pudesse, havia de morrer sé de tristeza, Procuremes nés 20 menos desaggraval-o um pouco com os nossos obsequios I. O peccador injuria a Deus, deshonra-o e por isso amargura-o summamente. Nao ha dissabor mais sensivel do que vér-se pago com ingratidio por uma pessoa amada e beneficiada. A quem offende o peccador? Injuria um Deus, que o creou e amou a ponto de dar por amor delle o sangue e a vida, Commettendo um peccado mot- tal, bane esse Deus de seu coracdo. Que magoa nao sentirias, se recebesses injuria grave de uma pessoa a quem tivesses feito bem? E esta a ma- goa que causaste a teu Deus, que quiz morrer para te salvar. Com razio 0 Senhor convida o céu e a terra, para de alguma sorte compartilharem com elle a dér que lhe causa a ingratidéo dos peccadores: Ouvi, céus, e tu, 6 terra, escuta: Criei uns filhos e engrandeci-os; porém, elles me desprezaram.— Jpsi autem spreverunt me}.—Numa pa- lavra, os peccadores, com o peccado, affligem 0 coracao de Deus: Exacerbavit Dominum peccator. Deus nio esta sujeito 4 dér, mas, se a pudesse soffrer, um s6 peccado mortal bastaria para o fazer morrer de tristeza, porque Ihe causaria uma tristeza infinita. Assim, o peccado, no dizer de Sao Bernardo, por sua natureza é o destruidor de Deus: Peccatum, guaniym in se est, Deum perimit. Quando o homem comMette um peccado mortal, dé, por assim dizer, veneno a Deus, faz o que esté em si, t para tirarhe a vida. Segundo a expressio de Sio Paulo, renova de certo modo a crucifixdo e as ignominias de Jesus © calca-o aos pés, pois que despreza tudo 0 que Jesus Christo fez e soffreu para tirar 0 peccado do mundo Qui filium Dei conculcaverit®, Eis porque a vida do Re- demptor foi tao amargurada e penosa: tinha sempre diante dos olhos os nossos peccados. His. a2. * Hebr, 10, 29. 266 SEMANA DA SEXAGESIMA, IL, Se um sé peccado basta para affligir 0 coragio de Deus, considera quanto dever4 ficar amargurado parti- cularmente no tempo de carnaval, quando se commette uum sem-numero de peccados,—Santa Margarida Alaco- que, para consolar um pouco 0 seu divino Esposo, de tantas amarguras, alcangéra de Deus que cada anno no carnaval lhe sobreviessem déres acerbissimas, que soiam durar até a quarta-feira de Cinzas, dia em que parecia re- duzida aos extremos. Dando conta desta graga assigna- lada a seu director, a Santa exprimese assim: «Esses dias so’ para mim um tempo’ de tamanho soffrimento, que nfo posso contemplar sendo a meu Jesus sofiredor, compadecendo-me das alflicg6es de seu sacratissimo Co- ragio.» Meu irmio, se no tens sufficiente’ animo para imitar aquella amantissima esposa de Jesus, ao menos, j4 que agora consideraste a malicia do peccado, afasta-té no fu- turo bem longe delle. E nestes dias de desenfteada liber- tinagem, ndo percas de vista as seguintes bellas palavras de Santo Agostinho: «Os gentios», diz elle (e 0 mesmo fazem os mus christdos), . Pois bem, quem pecca, inutiliza para si este grande fructo da Redempgio, e contrarfa assim todos os designios e intentos amorosos do Redemptor.— Seo peccado ¢ acompanhado de escandalo, contrat tambem pata os outros, fechando, por assim dizer, em -08 f despeito de Christo, para si e para o proximo, as portas do céu € abrindoas do inferno. Mais, o2peccador, como diz Sao Paulo, pisa aos pés 0 ‘lho de Deus, despreza e profana o seu preciosissimo Sangue, chega até ao excesso de renovar a sua crucifixdo lke morte: Rursum crucifigentes sibimet ipsis Filium Dei— «. OQ. meio para adquitires um thesouro immenso je py2etitos € obteres do céu as gragas 8. Afomo, Meiags 8 274 SEMANA DA SEXAGESIMA, mais assignaladas, é seres fiel a Jesus Christo em sua po- breza e fazeres-Ihe companhia este tempo em que é mais abandofiado pelo mundo: Fidem posside cum amico in paupertate illius, ut et in bonis illius lagteris. Oh, como Jesus agradece e retribue as oragdes ¢ os obsequios que nestes dias de carnaval lhe sao offerecidos pelas almas suas predilectas! , Conta-se na vida de Santa Gertrudes que certa vez ella viu num extase o divino Redemptor que ordenava ao Apostolo Sao Joao escrevesse com ‘letras de ouro os actos de virtude feitos por ella no carnaval, afin de a recom- pensar com gragas especialissimas. Foi exactamente neste mesmo tempo, emquanto Santa Catharina de Sena estava orando e chorando os peccados que se commettiam na quinta-feira gorda, que o Senhor a declarou sua esposa, em recompensa (como disse) dos obsequios praticados pela Santa no tempo de tantas offensas. Amabilissimo Jesus, ndo tanto para receber os vossos favores como para fazer cousa agradavel ao vosso divino Coragio, que quero nestes dias unir-me 4s almas que Vos amam, para Vos desaggravar da ingratidio dos homens para comvosco, ingratiddo essa que foi tambem a minha, cada vez que pequei. Em compensacao de cada offensa que recebeis, quero offerecer-Vos todos os actos de vir- tude, todas as boas obras, que fizeram ou ainda faro todos os justos, que fez Maria Siintissima, que fizestes Vés mesmo, quanto estaveis nesta terra. Entendo renovar esta minha inteng3o todas as vezes que nestes dias disser: + Meu Yesus, misericordia'.-O grande Mae de Deus e minha Mae Maria, apresentae vés este humilde acto de desaggtavo a vosso divino Filho, e por amor de seu sacra- tissimo Coragtio obtende para a Igreja sacerdotes zelosos, que convertam grande numero de peccadores. "da. de 300 des cada ve SEXTA-FEIRA, . 275 i SEXTA-FEIRA, i Amor de Jesus em querer satisfazer por nds. é Dilexit_ngg, et tradidit semet ipsum pro nobis oblationem et hontaa Deo€-«Jeue) amounos © ae eatepor a ene és em oblagto © como honin pura Deas Eph ga) 1p i Summario, Nunea se deu, em se daré jamais, no mundo outro facto semelhante a0 que esté consi eae ignado nos Evangelhos. Estando o homem Por aua propria culpa condemnado 4 morte eterna, 0 Filho ds ‘Deon Pediu © obteve de seu divino Pre, que o deixaue tomy a reteset mana © pagar com x propria morte as penas devidas ao homem, Que te parece, imo meu, este amor do Filho do Pas) Todaria, @ exten are dos omens, alver tambon ak ' bem, nfo responders wmanho amor senilo com ingratidio, me 4, 1 A historia refere um facto de uin amor tio prodigioso que serd a admiracdo de todos os seculos, Um rei, senhor de muitos reinos, tisha um filho unico, tio bello, tao f. Santo, to amavel que era as delicias do pae, que o amava F tanto como a si mesmo. Ora, este joven principe tinha to grande affeicfo a um de seus escravos, que tendo aquelle escravo commettido um crime, pelo qual foi con- demnado 4 morte, o principe se offereceu a morrer em seu logar. E 0 pae, zeloso dos direitos da justica, con- sentiu em condemnar 4 morte seu filho bem-amado, afim de que 0 escravo escapasse do supplicio que havia mere- cido, A sentenga foi executada : bulo, 0 escravo. ficou salvo. Este facto, que no teve nunca teré outro semelhante no mundo, estd consignado nos Evangelhos. Alli se Ié que 0 Filho de Deus, o Senhor do universo, vendo o ho- mem condemmado, pelo seu peccado, 4 morte eterna, quiz tomar a natureza humana, e pagar com a sua morte os castigos devidos ao homem: Ob/atus est, quia ipse voluit’ — Lille foi offerecido, porque 0 quit». Eo Pae Eterno © filho morreu no pati- 13° 276 SRMANA DA SEXAGESIMA, deixou-o motrer sobre a cruz para nos salvar a nés, mi- seraveis peceadores: Proprio Filio non pepercit, sed pro nobis omnibus tradidit illum'—«Nao perdoou a seu pro- prio Filho, mas entregowo por nbs todosn, Que te parece, alma devota, este amor do Filho e do Pae? Desta sorte, meu amavel Redemptor, morrendo quizestes sactificar-Vos para me alcangar.o perdao! E que Vos darei eu em reconhecimento? Vés me haveis obrigado demais a amar-Vos, ¢ eu seria demais ingrato, se Vos nao amasse de todo o meu coragdo. Vés me haveis dado a vossa vida divina, e eu, miseravel peccador como sou, Vos dou a minha, Sim, ao menos tudo 0 que me resta de vida, quero empregal-o unicamente em amar-Vos, obe- decer-Vos ¢ agradar-Vos. TI, O que abrasava mais So Paulo de amor para com Jesus, era a lembranga de que elle quizera morrer, nao ‘86 por todos os homens em geral, mas ainda por elle em particular. Dilexit me, et tradidit semetipsum pro me®. —Elle me amou, dizia, e se entregou por mim, Cada um de nés pode dizer outro tanto; porque Sao Joto Chryso- stomo assegura que Deus ama tanto cada um de nés, come ama o mundo inteiro, Assim, cada chiristéo pao est. menos obrigado a Jesus Christo,. por ter padecido por todos, do que se houvera padecido sé para elle. Meu irmdo, se Jesus Christo tivesse morrido sémente para te salvar, deixando os outros na sua perda original, que obrigagdo Ihe nao devias tu? Deves, porém, saber que the é5 ainda mais obrigado por ter morrido por todos, Se elle s6 por ti houvesse morrido, que dér nao seria a twa, pensando que teus proximos, teu pac e mde, teus itmaos e amigos, pereceriam cternamente, e que depois desta vida serieis separados para sempre? Se fosses feito escravo com toda a tua familia, e alguem viesse a res- 1 Rom $32. ? Gal. a, 20. } samavol 277 gatar-te a ti sémente, quanto Ihe nao pedirias que res- gatasse tambem teus paes e irmaos! E quanto lhe nao agradecerias, se-elle 0 fizesse para te agradar! Dize, pois, a Jesus Ah! meu doce Redemptor, Vés fizestes isso por mim, sem eu Volo ter pedido, Nao sémente me resgatastes da morte a prego de vosso sangue, tambem aos meus pa: rentes ¢ amigos, de sorte que me é permittido esperar que, reunidos todos, juntos gozaremos de Vés para sem- pre no paraiso. Senhor, eu Vos agradeco e Vos amo, e espero agradecer-Vos e amar-Vos eternamente nessa bem- aventurada patria.—O Maria, 6 minha Mae das déres, obtende-me a santa peseveranga, Fazei-o pelo amor de Jesus Christo. (I 541.) SABBADO. Fructos da meditagao das déres de Maria Santissima. ‘Siout qui thesaurizat, ita et qui honorat matrem suam— «Como quem ajunta um thesouro, assim se porta 0 que honra sun mies (Ecelus. 3, 5). Sumario. Por causa do jmmenso amor com que Jesus Christo ams sua queride Mae, sfohe muito ogradaveis os que com devogio meditam nas ores de Maria Santissima, e innumeras so es gragas que Ihes commu- nice, Mas infelizmente, ufo poucos sto ot que praticam (fo bella de Yosto! Muitos christtos, em ves de se compsdecerem das déres de Maria, Ih'as renovam com seus peccados ou sua tibiess. Irmo meu, senés tu tambem um destes ingratos? 1. Para comprehender quanto agrada 4 Bemaventurada Virgem que nos lembremos das suas déres, bastaria smente saber que ella, no anno de 1239, appareceu a sete devotos. seus (que depois foram os fundadores da Ordem dos Servos de Maria), com’um habito negro na mao, e ordenou-lhes que, desejando fazer lhe causa agradavel, meditassem com frequencia em suas déres, Por isso queria que em memoria dellas trouxessem d’ahi em diante aquelle habito lugubre. 278 SEMANA DA SHKAGESIIA Jesus Christo mesmo revelou 4 Bemaventurada Veronica de Binasco, que quasi Ihe agrada mais vér compadecida sua Mae que elle mesmo, pois que Ihe disse assim: Filha, sfo-me caras as lagrimas derramadas pela minha Paixto; mas como eu amo com amor immenso a minha Mae, me € mais cara a meditacdo das déres que ella padeceu a minha morte Por isso sto mui grandes as gragas que Jesus prometteu aos devotos das déres de Maria. Refere o Padre Pelbarto ter sido revelado a Santa Isabel, que Sdo Jodo Evangelista, de- pois que a Santissima Virgem foi assumpta ao céu, desejava vela mais uma vez. Foilhe concedida a graga e appareceu- Ihe sua cara Mae e juntamente com ella tambem Jesus Christo. Ouviu depois, que Maria pediu ao Filho alguma graga especial para os devotos das suas déres, e que Jesus The prometteu para elles quatro gracas espetiaes: 1° Que © que invocar a divina Mae pelos merecimentos de suas dbres merecerd fazer, antes da morte, verdadeira penitencia de todos os seus peccados. 2? Que elle defenderd aquelles devotos nas tribulagdes em que se acharem, especialmente “na hora da morte. 3° Que imprimird nelles a memoria de sua Paixdo, e que no céu Ihes dard depois 0 competente premio, 4? Que entregard os taes devotos nas mAos de Maria, afim de que delles disponha 4 sua vontade e lhes obtenha todas as gragas que quizer. Em comprovagao de tudo isto encontram-se nos livros innumeros exemplos. IL. Se é tao agradavel a Maria Santissima que nos lem- bremos das suas déres, e se so to grandes as gragas que Jesus Christo prometteu a quem pratica esta devogao, claro est4 que, juntamente com a devocio 4 Paixdo do Redemptor, devia ser a de todos os christ&os. Mas infeliz~ mente, quantos no ha que, especialmente nestes dias de carnaval, em vez de honrarem a Virgem dolorosa, ainda The augmentam as penas e pela sua tibieza e pelos seus peccados Ihe traspassam 0 coragdo com novas espadas? SEMANA DA QUINQUAGESIIA, 279 # isso que, como conta o Padre Roviglione, a divina Mae quiz ensinar a um joven seu devoto, Tendo este cahido em peccado mortal e ido na manha seguinte visitar uma imagem da Virgem que tinha sete espadas no peito, viu nao sete, mas oito espadas. Ouviu entdo uma voz que the disse que aquelle seu peccado tinha accrescentado a oitava espada no coracdo de Maria, Ah, minha bemdita Mae! no sé uma espada, mas tantas espadas quantos teem sido os meus peccados, ac- erescentei ao vosso coracdo. Ab Senhora! no a vés, que sois innocente, mas a mim, réu de tantos delictos, se de- vem as penas. Mas jd que vds quizestes padecer tanto por mim, ab! pelos vossos merecimentos impetrae-me uma grande dér dos meus peccados, ¢ paciencia para soffrer os trabalhos desta vida, que serdo sempre leves em com- Paracéo com’ os meus demeritos, pois que tantas vezes tenho merecido 0 inferno. Impetraeme tambem, 6 minha Mae, uma devogao constante e terna 4 Paixto de Jesus Christo e ds vossas déres, afim de que, depois de Vos ter acompanhado na terra em vossas penas, merega parti- cipar da vossa gloria no céu. (I 230.) DOMINGO DA QUINQUAGESIMA. A Paixdo de Jesus Christo e os divertimentos do carnaval. Consummabuntur omnis, quee teripta sunt per prophetas de fio hhominis— +Seré cumprido tudo 0 que esté escripto pelos pro- phetas, tocante ao Filho do homem» (Lue. 18, 31). Summario, Nio € sem uma raxfo mystica que a Igreja propse hoje 4 nossa -meditagio Jesus Christo predizendo a sua dolorosa Paixfo. ‘A nossa boa Mie deseja que nds, seus flhos, nos unamos a ella, pars compadecermos do seu divino Esposo, e © consolarmos com os nossos Obsequios, ao passo que os peccadores, nestes dias mais do que em outros tempos, Ihe renovam todos os ultrajes descriptos no Evangelbo. Quer ella tamberm que roguemos pela conversio de tantos inflizes, nossos irmos, Nao temos por ventura bastantes motives para isso? 280 SEMANA DA QUINQUAGESIMA. I, Nao é sem razio mystica que a Igreja propoe hoje 4 nossa meditaggo Jesus Christo predizendo a sua dolorosa Paixto. Deseja a nossa boa Mae que nés, seus Ibos, nos unamos a ella na compaixdo de seu divino Esposo, e 0 consolemos com os nossos obsequios; por- quanto os peccadores, nestes dias mais do que em outros tempos, Ihe renovam os ultrajes descriptos no Evangelho. Tradetur gentibus— Elle vae ser entregue aos gentios». Neestes tristes dias os christdos, e qui¢d entre elles alguns dos mais favorecidos, trahirio, como Judas, o seu di- vino Mestre e 0 entregardo nas maos do demonio. Elles © trahirdo, jé no ds occultas, sendo nas pracas e vias pu- blicas, fazendo ostentagio de sua traiggo! Elles o trahirdo, no por trinta dinheiros, mas por cousas mais vis ainda pela satisfacgio de uma paixdo, por um torpe prazer, por um divertimento momentaneo! Hludetur, flagellabitur et conspuetur— «Elle ser: mote- jado, flagellado e coberto de escarros». Uma das baixezas mais infames que Jesus Christo soffreu em sua Paixto, foi que os soldados the vendaram os olhos e, como se elle aada visse, 0 cobriram de escarros, e Ihe deram bofetadas, dizendo: Prophetisa agora, Christo, quem te bateu? Ab, meu Senbor! quantas vezes esses mesmos ignominiosos rormentos nfo Vos sio de novo infligidos nestes dias de extravagancia diabolica? Pessoas que se cobrem o rosto com uma mascara, como se Deus assim no pudesse re- conhecel-as, nfo teem pejo de vomitar em qualquer parte palavras obscenas, cantigas licenciosas, até blasphemias execraveis contra o santo Nome de Deus!— Et postquam flagellaverint, occident eum — «Depois de 0 terem acou- tado, 0 farao morrers. Sim, pois se, segundo a palavra do Apostolo, cada peccado é uma renovagéo da cruci- Axo do Filho de Deus, ah! nestes dias Jesus seré cruci- ficado centenas e milhares de vezes. ominao. 281 E exactamente isto que Jesus Christo quiz dizer a Santa Gertrudes apparecendo-Ihe num domingo de Quinqua- gesima, todo coberto de sangue, com as carnes rasgadas, na attitude do Ecce Homo, e com dous algozes ao lado, os quaes Ihe apertavam a corda de espinhos ¢ o batiam sem piedade, Ah! meu pobre Senhor! IL. Refere o Evangetho em seguida, que, approximando- se Jesus de Jeriché, um cégo estava sentado 4 beira da estrada e pedia esmolas. Ouvindo passar a multidao, per- guntou o que era. Sabendo que passava Jesus de Nazareth, apezar de a gente o ralhar, afim de que se calasse, nao cessava de gritar: Fesus, Filho de David, tende piedade de mim, Por isso mereceu que, em recompensa da sua fé, 0 Senhor Ihe restituisse a vista: Fides tua te salvum fecit—. Deus vem 4 alma afim de nella permanecer sempre, de sorte que nunca a deixa, a nfo ser que a alma o faga sahir, como diz o Concilio de Trento. — Mas, Senhor, Vés sabeis desde jé que aquelle ingrato Vos expulsaré em qualquer momento: porque nfo partis agora? Quereis esperar que elle mesmo Vos expulse? Deixae-o e parti antes que elle Vos faga softrer essa grande injuria. — Nao, responde Deus, no quero retirar-me, emquanto elle mesmo ngo me repellir V0. 14 25 286 SEMANA DA QUINQUAGESINA. Assim, quando a alma consente no peccado, diz a Deus: Senhor, apartae-Vos de mim. Dixerunt Deo: recede a nobis !. Nao o diz vocalmente, mas de facto, como affirma Sao Gregorio: Dicit: Recede, non verbis, sed moribus. O peccador sabe anticipadamente que Deus ndo pode ficar com o peccado; ve que peccando obriga a Deus a afastar-se. E como se Ihe dissesse: Ji que néo podeis ficar junto com o meu peccado, jé que quereis partir, podeis retirar- Vos. E expulsando Deus de sua alma, deixa entrar im- mediatamente o demonio, que della toma posse. Pela mesma porta por onde sae Deus entra e vem estabelecer-se o seu inimigo: Et intrantes habitant ibi?—«Entrando ha- bitam allir. ‘Ao baptizar-se uma crianga, 0 padre ordena ao demonio: Sae desta alma, espirito immundo, e cede o logar ao Espi- vito Santo. Com effeito, aquella alma recebendo a graca converte-se em templo de Deus, como diz Sio Paulo®, O contratio succede inteiramente, quando o homem con- sente no peccado; entdo diz a Deus que reside em sua alma: Sae de mim, 6 Senhor, ¢ cede o logar ao demonio. E disto exactamente que o Senhor se queixou a Santa Brigida, dizendo que € tratado pelos peccadores” como um rei expulso de seu throno, no qual vae ser substituido por um salteador. II, Nao ha magoa mais sensivel do que o verse pago com ingratidio por pessoas amadas e favorecidas, Con- sideremos portanto, como nio deve ficar magoado.o Co- taco sensibilissimo de Jesus Christo em verse posposto a um vil demonio, e expulso brutalmente de uma alma pela qual derramou o seu preciosissimo Sangue; tanto mais que semelhante baixeza se repete no mundo inteiro, em cada hora, milhares de vezes, especialmente nestes dias Yob an 14, 2 Matth. 12, 45, * 1 Cor. 3, 16, TERGA-PEIRA, 287 de carnaval.— Meu irmao, tu ao menos compadece-te de teu afflicto Senhor; dé-Ihe desaggravo por frequentes actos de amor, ¢ se no passado o tivesses magoado, pede-lhe humildemente perdao. Assim, meu Redemptor, todas as vezes que pequei, ex- pulsei-Vos de minha alma e fiz tudo que Vos deveria tirar a vida, se ainda pudesseis morrer. Eu Vos ougo per- guntarme: Quéd fect tibi, aut tn quo contristavi te? responde mihi—Que mal te fiz, e em que te desagradei, para me causares tantos desgostos?— Perguntaes-me, Senhor, que mal me fizestes? Déstesme o ser, e morrestes por mim: € este o mal que me haveis feito. Que deverei, pois, responder? Confesso que mereco mil infernos; e é Justo que a elles me condemneis. Lembrae-Vos, porém, do amor que Vos fez morrer por mim na cruz; lembrae- Vos do sangue que por mim derramastes, e tende piedade de mim. Mas jd 0 sei, ndo quereis que desespere; ou antes avisaes- me de que Vos conservaes 4 porta do meu coragdo, donde ‘Vos bani, ¢ que nella estaes batendo por meio das vossas inspirag6es, afim de novamente entrar. Gritaesme que eu abra: Aperi miki, soror mea', Sim, meu Jesus, expulso © peccado; arrependo-me de todo o meu coragao, e amo: Vos sobre todas as cousas. Entrae, meu amor, estd aberta a porta; entrae e nunca mais Vos afasteis de mim. Prendei-me com os lagos do vosso amor, e ndo consintais que me torne a separar de Vés. Nao, meu Deus, nao queremos mais separarnos; abrago-Vos, aperto-Vos ao meu coraco; daeme a santa perseveranga: Ve permittas me separari a te— «Nao permittais que me separe deVés» —Maria, minha Mie, soccorrei-me sempre, rogae a Jesus Por mim; alcangae-me a felicidade de nunca mais perder @ sua graca. (II 70.) * Cant. 5, 2. 288 SEMANA DA QUINQUAGESIMA. QUARTA-FEIRA DE CINZAS. ‘A lembranga da morte e o jejum quaresmal. Memento homo, quia pulvis ex et in pulverem reverteris — sLembrate, 6 homem, que & pé een pé te has de tomar (Gen. 3, 19). Summarie, Os insensatos que oifo creem on vida fujpra, estimulamse com 0 pensamento da morte a passarem bem a vide, De maneira bem rente devemos ngs proceder, os que sabemés pela fé que a alma sobrevive 20 corpo, Nés, lembrandonos de que em breve (emor de rmorrer, devemos cuidar da nossa eternidade © por meio de oragto © penitencia aplacar a divioa justiga. H com este intuito que» Tere, Aepois de por as cinzas sobre a cabega, nos ordens o jejum da Quaresma L. Para comprehendermos em toda a sua extensdo o sentido destas palavras, imaginemos ver uma pessoa que acaba de exhalar 0 ultimo suspiro, © Deus, a cada um que ve esse corpo, inspira nojo e horror. Nao passaram bem vinte e quatro horas depois que aquella pessoa morreu, ¢ jd 0 mau cheiro se faz sentir. E preciso abrit as janellas e queimar bastante incenso, afim de que o fedor nfo in- feccione a casa toda, Os parentes com pressa mandam levar © defuncto para féra da casa e entregar 4 terra. Mettido que foi o cadaver na sepultura, vae se tornando amarello e depois preto. Em seguida, aparece em todos os membros uma lanugem branca-e repellente, donde sae um pus infecto que corre pela terra e donde se gera uma multiddo de vermes. Os ratos veem tambem procurar o pasto nesse.cadaver, roendo-o uns por féra, a0 passo que outros entram na bocca e nas entranhas, Despegam-se caem as faces, os labios, os cabellos; escarnam-se os bragos as pernas apodrecidas, e afinal os vermes, depois de con- sumidas todas as cares, consomem-se a si proprios E deste corpo sé resteré um esqueleto fetido, que com © tempo se divide, ficando reduzido a um punhado de pé. Eis ahi o que é 0 homem, considerado como creatura mortal. Eis ahi o estado a que tu tambem, meu irméo, t QUARTA-PEIRA DE cINZAS, 289 serds, talvez em breve, reduzido: um punhado de pb fedo- rento, Nada importa ser alguem mogo ou velho, séo ou enfermo: a todos caberd a mesma sorte, o que a Igreja recorda pondo as cinzas bentas indistinctamente sobre a cabega de todos: Memento homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris—«Lembra-te, 6 homem, que és pb ¢ em po te has-de tornars IL. Os insensatos que no creem na vida futura e teem as verdades eternas por fabulas, estimulam-se, com a lem- branga da morte, a levar vida folgada e a gozarem, Comedamus et bibamus; cras enim moriemur'— «Coma: mos ¢ bebamos, porque amanka morreremos». De maneira bem differente, porém, diz Santo Agostinho, deve proceder © christ, que pela f€ sabe que a alma sobrevive a0 corpo, € que depois da morte deste, terd de dar contas rigorosissimas de tudo quanto tiver feito. —O christao, que se lembra que em breve deveré deixar o mundo, cuidard da sua eternidade e procuraré aplacar a justica divina com penitencias e orag6es. E por isso exactamente que a Igreja, depois de nos ter posto as cinzas sobre a cabega, ordena a seus ministros que notifiquem aos fieis o jejum quaresmal: Canite tuba in Sion: sanctificate ieiu nium*®— «Fazei soar a trombcta em Sido, sanctificae 0 Jejums Conformemo-nos, portanto, com as intengées de nossa boa Mie; © como ella mesma o ordena, sejamos no santo tempo da Quaresma «mais sobrios em palavras, na comida, na bebida, no somno, nos divertimentos» ®; e, 0 que é mais necessario, afastemo-nos mais de toda a culpa por meio de uma vida recolhida e consagrada 4 oraco, por- quanto, no dizer de Sio Leo, «sem proveito se subtrae © alimento ao corpo, se o espitito nfo se afasta mais da iniquidades, "Is, 29, 13, 2 Yoel 2, 15, * Hymn, Quadr. S. Afonso, Meditagges. 1 19 290 SEMANA DA QUINQUAGESIMA, © meu amabilissimo Redemptor, consenti que eu una a minha salutar abstinencia com a que Vés com tanto rigor por mim quizestes observar no deserto. Consent tam- bem que nesta uniéo eu a offerega a vosso Pae divino, como protestagdo de minha obediencia 4 Igreja, em des- conto de meus peccados, pela conversio dos peccadores ¢ em suffragio das almas santas no purgatorio. Tenho intengGo de renovar esta offerta todos os dias da Quaresma. «Vés, porém, 6 Senhor, concedei-me a graga de comegar este solemne jejum com devida piedade ¢ de continual-o com devocdo constante» 4, afim de que, chegada a Pas- coa, depois de ter resurgido comvosco para a vida da graga, seja digno de resuscitar tambem para a vida da gloria, Fazei-o pelo amor de Maria Santissima. (*IL 226.) QUINTA-FEIRA. Amor de Jesus Christo em dar-se a nés como alimento. te faneais Adam trabam ens, in vnclt carats... et det havi ad cum wt veserenr eB at nab! com a cords com Ge so alrrhem oo homens, om pier do caidade tie te pars ella pare que comener (Os. 11,4). Sumario. Quaio se julgta dsingukdo 0 wbtto « quem o pis cips tne gums grr ten Ho? Joos Chri pry 08 santa commun, noo df pare sustento, nfo x6 una parte Gas mes toes seu proprio corpo, a sun ala e seve dvindade. Ser porventrn Cine pretenbtoexagrnda da parte do Senbor, x, em compensate de tte grande dow, nes pede o noua pobre corgto Yodo inteio? Todevia Questor chisttos nfo‘ que Iie reeusam completamente ou Ih qurem dar, mas dividido entre elle © as creaturas? I. Jesus Christo nfo satisfez o seu amor, sacrificando a sua vida por nés num oceano de ignominias ¢ déres, afim de patentear 0 amor que nos tinha, Além disso, € para nos obrigar mais fortemente a amal-v, yuiz, wa ves- QuINTA-PEIRA, Bor pera da sua morte, deixarse todo a nds como nosso ali- mento na santissima Kucharistia.—Deus ¢ todo-poderoso, mas depois de dar-se a uma alma neste Sacramento de amor, néo Ihe pode dar mais. Diz 0 Concilio de Trento que Jesus, dando-se aos homens na santa communhio, derramou (por assim dizer) neste unico dom todas as ri- quezas de seu amor infinito: Divitias sui enga homines amoris velut effudit. Como nao se julgaria honrado, escreve Sto Francisco de Sales, 0 vassalo a quem o principe enviasse algumas iguarias da sua mesa! E que seria se lhe désse para sus- tento alguma cousa da sua propria substancia? Jesus Christo, porém, na santa communhio, nos da para sustento, nfio sé uma parte de sua mesa, nfo sé uma parte da sua carne sacrosanta, mas o seu corpo inteito: Accipite et co- medite: hoc est corpus meum1—«Tomae e comei, isto é @ meu corpo». E com o corpo nos dé tambem a alma ¢ a divindade, Numa palavra, diz Sao Joao Chrysostomo, Jesus Christo dando-se a si proprio no Santissimo Sacra- mento, dé tudo que tem e nao Ihe resta mais nada para dat: Totwm tibi dedit, nihil sibi reliquit, E pois com razdo que este dom € chamado por Santo Thomaz: sacramento e penhor de amor, e por Sado Ber- nardo: amor dos amores: amor amorym, porque Jesus Christo reune ¢ completa neste sacramento todas as ou- tras finezas do seu amor para comnosco, Pelo mesmo motivo Santa Maria Magdalena de Pazzi chamava o dia em que Jesus instituiu este sacramento, 0 dia do amor. © maravilha e prodigio do amor divinol Deus, o Senhor de todas as cousas, se faz todo nosso! UL Pracke, fili mi, cor tuum mihi? — «Meu filho, dé- ‘me teu coracao>. Bis o que Jesus Christo nos diz 14 de dentro do santo Tabernaculo: Meu filho, em compensacao 14 Cor, 11, 24 * Prov. 23, 26. rt 292 SEMANA DA QUINQUAGESIMA. do amor que te mostrei, dando-te o dom inapreciavel do Santissimo Sacramento, dé-me o teu coragdo ¢ amame de hoje em diante com todas as tuas forgas, com toda a tua alma,—Parece-te porventura, meu irméo, que o nosso Salvador é exigente demais, depois de se ter dado a si proprio sem reserva? Todavia, quantos christdos nao ha que recusam por completo seu coragdo a Jesus, ou querem dividil-o entre elle e as creaturas! © meu caro Jesus, que mais podeis executar para nos attrahir a vosso amor? Ah! daenos a conhecer por que excesso de amor Vos reduzistes a estado de alimento, para Vos unir a pobres e vis peccadores como somos? O meu Redemptor, vossa ternura para commigo tem sido tao grande, que nfo recusastes dar-Vos muitas vezes todo a mim na santa communhio; e eu, quantas vezes tive a ingratidio de Vos expulsar da minha alma! Mas nao é possivel que desprezeis um corago contrito ¢ humilbado. Por mim Vos fizestes homem, por mim morrestes, ¢ che- gastes a Vos fazer meu alimento; apés isto, que Vos fica ainda por fazer no intuito de conquistardes meu amor? Ah! ndo poder eu morrer de dér, cada vez que me lem- bro de ter assim desprezado vossa graca! © meu Amor, arrependo-me de todo o meu coragio de Vos ter offen- dido. Amo-Vos, 6 Bondade infinita; amo-Vos, 6 Amor infinito. Nada mais desejo sendo amar-Vos, e nada mais temo sendo viver sem Vos amar. . Meu amado Jesus, nao recuseis vir 4 minha alma, Vinde, porque estou resolvido a morrer antes mil vezes, que repellir-Vos de novo, ¢ quero fazer tudo para Vos agradar, Vinde e abrasae-me todo mo vosso amor. Fazei com que me esquega de todas as cousas, para no mais pensar sendo em Vés, e s6 a Vés buscar, meu unico e soberano Bem.— © Maria, minha Mae, rogae por mim, e, por Vossas oragGes, tornae-me reconhecido para com Jesus Christo, que tanto amor me tem. (II 403.) | ee SRR AS oct SEXTA-FAIRA, 293 SEXTA-FEIRA, Commemoragao da Corda de espinhos de Nosso Senhor Jesus Christo. Et milites plectentes coronam de spinis, imposuerunt capiti ius ~ «E os soldados tecendo de espinhos uma coréa, Th'a pozeram sobre a eabega» (lo. 19, 2). ‘Summar, Os barbaros algozes, nfo contentes com a horrivel carn ficina feita em Jesus com a flagellagio, lhe poem por escarneo uma coréa de espinhos na cabeca € apertam-na de modo que os espinhos penetra. ram até a0 cerebro. Eis como 0 Senhor quiz reparar a maldiglo fulmi- nade contra a terra, isto é contra Adam, em consequencia da qual a ‘atureza humana nfo pode produzir seno abrolhos e espinhos de culpast Eis como Jesus quiz expiar os nossos mus pensamentos I. Os barbaros algozes ainda ndo contentes com a hor- renda carnificina feita no corpo sacrosanto de Jesus Christo com a flagellagdo, instigados pelos demonios ¢ pelos ju- deus, querendo tratalo de rei de comedia, Ihe poem aos hombros um farrapo “de um vestido vermelho, 4 guisa de manto real; uma canna verde na mio 4 guisa de sceptro, ena cabeza um feixe de espinhos entrelacados em forma de coréa. E para que esta corba nio sé Ihe servisse de ludibrio, mas tambem Ihe’ causasse grande dér, foi feita na opiniéo commum dos escriptores, em forma de capa- cete ou chapéu, de sorte que cobria toda a cabega do Senhor, descia até sobre a testa, Além isso, colhese do Evangelho de Sao Mattheus, que os algozes com a mesma canna batiam nos espinhos compridos, afim de entrarem mais dentro na cabega. Com effeito, no dizer de Sdo Pedro Damio, chegaram a pene- trar até ao cerebro: spinae cerebrum perforantes. Se um 86 espinho encravado no pé de um leio o faz resoar toda a floresta com seus dolorosos gemidos, imagina quao acerba deve ter sido a dér de Jesus Christo que teve toda a sa- grada cabega perforada, a parte mais sensivel do corpo humano, ao qual se reunem todos os nervos e sensagées. 204 SEMANA DA QUINQUAGESIMA. Tao atroz tormento nao foi para Jesus de curta dura- tio; bem ao contratio, foi o mais longo da sua Paixdo, porquanto durou até 4 sua morte, Visto que os espinhos ficavam encravados na cabega, todas as vezes que lhe tocavam na corda ou na cabega, sempre se Ihe renovavam as déres. Eo Cordeito manso deixou-se atormentar 4 von- tade dos algozes, sem proferir uma sé palavra, —Era tao grande a abundancia de sangue que corria das feridas, que Ihe cobria 0 rosto, ensopava os cabellos e a barba, e lhe enchia os olhos. Sao Boaventura chega a dizer que no era j4 0 bello rosto de Senhor que se via, mas 0 rosto de um homem esfolado, Eis ahi, exclama o Bema- venturado Dionysio Carthusiano, como quiz ser tratado o Filho de Deus, para obter para nds a coréa de gloria no céu. Il, Maledicta terra in opere tuo... spinas et tribulos germinabit tibi'— cA terra seré maldita na tua obra... ella te produsiré espinkos e abrolhoss. Esta maldigio foi langada por Deus contra Adam e toda a sua des- cendencia; pois que pela serra ndo se entende tao s mente a terra material, sendo tambem a natureza hu- mana, que estando infectada pelo peccado de Adam, nao produz sen4o espinhos de culpas.—Para cura desta i fecgao, diz Tertulliano, foi mister que Jesus Christo offe- recesse a Deus 0 sactificio do seu longo tormento da coroagao de espinhos. Por isso Santo Agostinho no hesita em dizer que os espinhos ndo foram sendo instrumentos innocentes; mas que os espinhos criminosos, que propria- mente atormentaram a cabeca de Jesus Christo, foram os nossos peccados, e em particular, os nossos méus pensa- mentos: Spinae quid nisi peccatores? ¥ isso exactamente ‘© que Jesus Christo mesmo den a entender, quando ap- pareceu certa vez a Santa Theresa, coroado de espinhos. 1 Gen. 3) 17. I | SABDADO. 295 Quando a Santa Ihe testemunhava a sua compaixdo, disse- the o Senhor: «Theresa, nio te compadegas de mim pelas fetidas que me abriram os espinhos dos judeus, mas antes pelas que me causam os peccados dos christéos.» — © minha alma, tu tambem atormentaste entdo a cabeca de teu Redemptor com o teu frequente consen no peccado. Por piedade! abre ao menos agora os olhos, ve e chora amargamente o grande mal que fizeste. Ah, meu Jesus, Vés nfo tinheis merecido ser tratado por mim como Vos tenho tratado. Reconhego a minha ingratidéo; arrependo-me de todo 0 meu coragio. Peco- Vos que nao sémente me perdoeis, mas que me deis tio grande dér, que durante a minha vida toda continue a chorar as injurias que Vos fiz. Sim, Jesus meu, perdoae- me, visto que Vos quero amar sempre e sobre todas as cousas. «E Vés, 6 Eterno Pae, concedei-me que, venerando na terra, em memoria da Paixilo de Jesus Christo, a sua corda de espinhos, mereca ser um dia por elle coroado no céu com uma coroa de gloria e honra.» + Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Christo e de Maria, sua Mae, (I 570.) SABBADO. Primeira dér de Maria Santissima— Prophecia de Simeao. ‘Tuam ipsius animam pertransibit gladius— «Uma espada tras passaré a tua almas (Lue, 2, 35)- Summario. O Senbor usa esta compaixto comnosco, de nko nos deixar ver as crures que nos esperam, afim de que as tenhamos de sofirer uma 0 vez, Marla Saniisima, a0 contrario, depots da prophecla de Sto Simedo, tinha sempre diante dos olhos © padecia continuamente todas as penas que a esperavam na Paixto do Filho, Mas se Jess ¢ Maria inno- entes tanto padeceram por nosso amor, como ousaremes lamentar.nos, ngs que somos peccadores, quando temos de padecer um powco por amor delles? © Or, festi curr, 296 SEMANA DA QUINQUAGESIMA, I, Neste valle de lagrimas, cada homem nasce para chorar, e cada um deve padecer soffrendo aquelles males que diariamente the acontecem, Mas quanto mais triste seria a vida, se cada um soubesse tambem os males fu- turos que o teem de affiigir! O Senhor usa esta com paixdo comnosco, de nic nos deixar ver as cruzes que nos esperam, afim de que, se as temos de padecer, ao menos as padegamos uma sé vez,—Mas Deus nfo usou semelhante compaixao para com Maria, a qual, porque Deus quiz que fosse Rainha das déres ¢ toda semelhante ao Filho, teve sempre de ver diante dos olhos e de padecer continuamente todas as penas que a esperavam; ¢ estas foram as penas da paixdo e morte de seu amado Jesus, Kis que no templo de Jerusalem, Simetio, depois de ter recebido o divino Infante em seus bragos, Ihe prediz que aquelle seu Filho devia ser alvo de todas as contradicooes € perseguig6es dos homens, e que por isso a espada de dér devia traspassar-lhe a alma: Et tuam ipsius animam pertransibit gladius.—David, no meio de todas as suas delicias e grandezas reaes, quando ouviu que o Propheta Nathan Ihe annunciava a morte do filho, nao tinha mais paz: chorava, jejuava, dormia 4 terra nua, Nao é assim que fez Maria, Com summa paz recebeu ella a nova da morte do Filho, e com a mesma paz continuow a sofrel-a; mas ainda assim, que dér no devia sentir 0 seu Coragao! Nem serviu para th'a mitigar 0 conhecimento que jd de antemao tinha do sacrificio a fazer, pois que, como foi revelado a Santa Theresa, a bemdita Mae conheceu entdo em particular e mais distinctamente todas as circumstan- cias dos soffrimentos, tanto exteriores como interiores, que haviam de atormentar o seu Jesus na sua Paixéo, Numa palavra, a mesma Bemaventurada Virgem disse a Santa Mechtildes, que a este aviso de Sao Simeto toda a sua alegria se converteu em tristeza. +f auth % SABBADO. 297 II, A dér de Matia nao achou allivio com o correr do tempo; ao contrario, ia sempre augmentando, 4 medida que Jesus, crescendo em sabedoria, em idade ¢ em graca, junto de Deus ¢ junto dos homens}, se tornava mais amavel aos olhos de sua Mae, e se avisinhava mais o tempo da sua amargosa Paixdo. Eis o que a propria divinia Mae revelou a Santa Brigida: «Cada vez que eu olhava para meu Filho, sentia o meu coragéo opprimido de nova dér, e enchiam-se meus olhos de lagrimas.» Ruperto abbade contempla Maria dizendo ao Filho em- quanto o alimentava: «Fasciculus myrrhae dilectus meus miki; inter ubera mea commorabitur®. Ab, Filho meu, eu te aperto entre meus bragos, porque muito te amo; mas quanto mais te amo, tanto mais para mim te trans- formas em ramalhete de myrrha e de dér, pensando em tuas penas. Tu és a fortaleza dos Santos, e um dia en- trards em agonia; és a belleza do paraiso, e um dia serds desfigurado; és 0 Seohor do mundo, mas um dia serds Preso como um réu; és o Creador do universo, mas um dia te verei livido pelas pancadas; numa palavra, tu és 0 Juiz de todos, a gloria dos céus, o Rei dos reis, mas um dia serds sentenciado, desprezado, coroado de espinhos, tratado como rei de escarneo e pregado num infame pa- tibulo. E eu, que sou tua Mae, eu, que te amo mais que a mim mesma, terei de ver-te morrer de dér, sem te poder dar o menor allivio: Fasciculus myrrhae dilectus meus mihi—O men amado é para mim um ramalhete de myrrha.» Se, pois, Jesus, nosso Rei, ¢ Maria, nossa Mae, bem que innocentes, ndo recusaram por nosso amor padecer durante toda a sua vida uma pena tao atroz, nao é justo que nds nos lamentemos, se padecemos um pouco; nés que por- ventura muitas vezes temos merecido o inferno. (*I 232.) * Lue. 2, 52, * Cant. 4, 12, 298 PRIMEIRA SEMANA DA. QUARESMA, PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA. Jesus no deserto e as tentagdes das almas escolhidas. Jesus ductus est in desertum a spiritu, ut tentaretir a diabolo — Jesus foi levado pelo espirito 20 deserio, para ser tentado pelo diabo» (Matth, 4, 1), Summario. Mew irmo, se © Senhor permitte que sejas tentado, nfo Aesanimes, porquanto vae nisso um signal de que elle te ama e te quer fazer mais semelhante « Jesus Christo, que, como refere © Evangelho de hoje, foi tambem tentado. Esforga-te, porém, a exemplo do proprio Re emptor, por empregar todos os meios para seres vencedor. Especialmente refreis as tuas pequenas paixves desordenadas, mortificandoxs pela peni- tencia, ¢ recorre sempre a Deus pela oragHo continu. I. Os trabalhos que mais afiligem nesta vida as almas amantes de Deus, ndo sao tanto a pobreza, a enfermidade € as perseguicdes, como as tentagdes € as seccuras espiri- tuaes. Quando a alma goza da amorosa presenga de Deus, todas as tribulacdes, em vez de a affligirem, mais a con- solam, fornecendo-lhe a occasido para offerecer a Deus algum penhor de seu amor. Mas vér-se pela tentagtio em perigo de perder a graca divina e temer na seccura que jd @ perdeu, € isso uma’ pena demasiado amarga para quem ama devéras a Deus,—-Observemos, porém, que é esta a sorte commum das almas santas: Quia accepius eras Deo, necesse fuit, ut tentatio probaret te1— «Porque eras acceito de Deus, por isso foi necessario que a ten taao te provasser. Quem foi mais santo do que Jesus Christo? Tedavia elle Joi levado pelo espirito ao deserto para ser tentado pelo diato. Em primeiro logar, foi tentado de gula, porque stendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, teve fome, E chegando-se a elle 0 tentador, disse: Se és 0 Filho de Deus, dize que estas pedras se convertam em pi 1 Tob. 12, 13, F e Domingo. 209 Depois foi tentado de presumpgao, porque o diabo o trans porto 4 cidade santa € 0 poz sobre o pinaculo do templo ¢ Ibe disse: Se é& 0 Filho de Deus, lancate de aqui abaixo, porque estd escripto: Recommendoute aos seus anjos, ¢ elles te levaréo nas palmas das mios, afim de que nem siquer tropeces numa pedra.» Finalmente foi tentado de idolatria; porque o diabo, vendo-se vencido uma outra vez, . Oh! que felicidade morrer entregrando-se e repousando nos bragos de Jesus Christo, que nos amou até 4 morte € quiz soffrer uma morte tio dolorosa, afim de nos obter uma morte doce e cheia de consolagio! —Meu irmao, quaes seriam os teus sentimentos, se tivesses de morrer reste instante? I. O meu amado Jesus, que para me obter uma morte suave, quizestes sofirer uma morte tZo cruel no Calvario, quando € que Vos verei? A primeira vez que Vos terei 1 Hebr. 10, 34. 1 Pe 4 8 ‘Tangaterna, 408 de vér, vér-Vos-ei como meu Juiz no proprio logar em que expire. Que Vos direi entio? Que me direis? Nao quero esperar até entio para pensar nisso; quero pre- medital-o agora. Dir-Vosei Meu caro Redemptor, sois Vés aquelle que morreu por mim? Houve um tempo em que Vos offendi; fui ingrato para comvosco, endo merecia perdéo; mas, ajudado pela vossa graga, entrei em mim mesmo, e no resto da vida chorei os meus peccados, e Vés me haveis perdoado, Perdoae-me agora noyfinente, que estou a vossos pés, ¢ daeme a absolvicgo gral das minhas faltas, Nao merecia mais amar-Vos tendo desprezado o vosso amor; mas pela vossa misericordia me tendes attrahido 0 corago, 0 qual, se Vos ndo amou segundo 0 vosso merito, amou-Vos pelo menos sobre todas as cousas, deixando tudo para Vos agradar. Que me dizeis agora? Verdade é que gozat 0 paraiso e possuir-Vos no vosso reino, & uma felicidade grande demais para mim. Nao tenho, porém, coragem de viver longe de Vés, mormente agora, que me deixastes vér 0 vosso amavel ¢ bello rosto. Peco-Vos, pois, 0 paraiso, no para ter. mais gozo, mas para melhor Vos amar, Mandae-me para o purgatorio todo o tempo que Vos approuver. Manchado, como ainda estou, nao quero entrar nessa patria de pureza ¢ vér-me entre essas almas puras, Mandae-me ao purgatotio, mas nfo me expulseis para sempre da vossa presenga. Bastame que no dia que Vos approuver, me chameis ao paraiso para nelle cantar eterna- mente as vossas misericordias. Por ora, 6 meu amado Juiz, levantae a mao, abengoae-me @ dizeime que sou vosso e que Vés sois ¢ sereis sempre meu. Eu sempre Vos amarei, e Vés sempre tambem me amareis, Agora vou para longe de Vés, vou para 0 fogo; mas vou contente, Porque vou para Vos amar, meu Redemptor, meu Deus, meu tudo. Vou contente, sim; mas sabei que, emquanto estiver longe de Vés, a minha maior pena serd esse 5. Affonso, Meitagsen 20 306 PRIMEIRA SEMANA DA QUARESMA, apartamento, Vou, Senhor, contar os instantes que de- correro até que me chameis, Tende piedade de uma alma que Vos ama com todas as suas forcas e deseja vér- Vos para melhor Vos amar. assim, Jesus meu, que espero entdo falar-Vos. Peco Vos entretanto que me deis a graga de viver de modo que possa dizer-Vos entio 0 que agora pensei. Daeme fa santa perseveranga, dae-me o vosso amor. Fazei-o pelo amor de Maria Santissima. (II 36.) QUARTA-FEIRA'. Contas que tera de dar a Jesus Christo, quem nao segue a vocacio. Auferetur a vobis regnum Dei, et dabitur genti facienti fructus ius — «Servvoré tirado 0 reino de Deus, ¢ seré dado « um povo ‘que faga of fructos delle» (Matth. 21, 43). Summario, Aviveros a nosis {€. A graga que © Senhor nos concedeu chamando-mos a virer em sun casa 6 muito mais excellente do que se ‘nos tiveste ebamade a sermos rei do reino mais extenso da terra, Quanto maior, porém, a graza, tanto mais o Senbor se irritard contra nés, se nfo Ihe tivermos correspondido; tanto mais rigoroso seré © nosso julga- mento no dia das contas, Ai de nds, se nfo obedecermos i chamada Giving, ot se por nossa culpa perdermos a vocagto! I. A graga da vocagéo ao estado religioso nfo é uma graca ordinaria; ella é muito rara e Deus a poucos a concede: Non fecit taliter omni nationi*— «Nao fez assim a@ todas as nagdes». Oh! esta graga de ser chamado 4 vida perfeita e a ser domestico de Deus em sua casa, quanto € superior 4 de ser chamado a ser rei do reino mais extenso do mundo! Pois, que compatagio pode ha- ver entre um reino temporal na terra € 0 reiny eterno do céu? Quanto maior, porém, a graga, tanto mais o Senhor se irritaré contra quem néo Ihe tiver correspondido, ¢ tanto 1 As pessons seculares vojam a observagho da pag. 161. * 25.147, 20. e e a " sock : QUARTA-PEIRA, 307 mais rigoroso seré o seu julgamento no dia das contas. Se um rei chamasse um pastorzinho para sey palacio, afim de o servir entre os nobres de sua cértef quao grande no seria a indignagsa daquelle principe, se 0 subdito re- cusasse o seu favor, para néo deixar o seu pobre redil e 0 seu pequeno rebanho? Deus bem, conhece 0 prego das suas gracas; por isso castiga rigorosamente dquelle que as despreza. Elle é 0 Senhor: quando chama, quer ser obedecido, ¢ obedecido promptamente; pelo que, quando com a sua luz chama uma alma 4 vida perfeita, e esta ndo corresponde, privaa de sua luz e abandona-a no meio das trevas, Oh! quantas almas desgracadas veremos reprovadas no dia do juizo, porque no quizeram obedecer 4 voz de Deus! IL Agradece portanto ao Senhor, terte convidado a seguil-o; mas treme, se no correspondes 4 graca. Cha- mando‘te Deus a servilo mais de perto, é signal que ‘Deus te quer salvo; mas sé te quer salvo pelo caminho que te indica e escolhe, Se queres salvar-te seguindo o cami- + nho que tu mesmo te escolhes, corres grande perigo de © nao obteres. Pois, ficando no seculo ou a elle voltando, quando Deus te quer religioso, nao receberds de Deus aquelles auxilios efficazes que te havia preparado em sua casa, e sem os quaes no te salvards, Oves meae vocem meam audiunt!—«As minhas ovelhas ouvem a minha voz». Quem nao quer obedecer 4 voz de Deus, dé signal de que no € ovelha de Jesus, mas ser4 condemnado com ©s bodes no valle de Josaphat, Senhor, Vés tivestes para commigo este excesso de bondade, de escolher-me de entre tantos outros, para me collocar entre os vossos servos predilectos e fazer-me morar na vossa casa. Conhego quanto esta graca é grande, ¢ quanto eu della era indigno, Eis-me aqui: quero correspon- * 0, 10, 27. 308 PRIMERA SEMANA DA QUARESMA. der a tamanho amor, quero obedecer-Vos. Jé que Vés fostes to generoso para commigo, chamando-me, quando eu nfo Vos procurava, ¢ além disso Vos era tao ingrato, ndo permittais que eu venha a cahir nesta outra ingratidao suprema, de deixar-Vos, a Vés que por meu amor derra- mastes 0 vosso sangue e déstes a vida, para novamente me entregar ao mundo, meu inimigo, que no passado tantas vezes me tem feito perder a vossa graga ¢ a mi- nha eterna salvag&o. Pois que me chamastes, daeme a forca para obedecer. J& prometti obedecer-Vos, e de novo vol-o prometto; mas se Vés nao me concedeis a graca da perseveranca, no Vos posso ser fiel. A Vés pego esta perseveranca, quero-a € espero-a pelos vossos merecimentos, — Dae-me a coragem de vencer as paixdes da carne, com que 0 demonio quer que eu Vos atraigde. Amo-Vos, meu Jesus, e me consagro todo a Vés. Jé sou vosso ¢ vosso quero ser para sempre. — Maria, Mae e esperanga minha, Vés sois a Mie da perseveranca, que s6 com a vossa intercesstio & concedida; vés m'a haveis de alcangar; em vés confio. QV 436.) QUINTA-FEIRA. Quanto Jesus deseja unir-se comnosco na santa Communhao. Desiderio desideravi hoc Pascha manducare vobiscum, antequam patiar — «Tenbo desejado anciosaments comer comvosco esta Pas com, antes que padega» (Lue, 22, 15). Summario. Nenbuuma abelha esvonga com tanta avidez sobre ss flores para Ihes sorverem © mel, como Jesus vae morar nas almas que 0 de- sejem. Bis porque no Evangelho nos convida tantas vezes a que nos ap- proximemos delle na santa Communhio, Faz tantas promessas ¢ tantas ameagas, para manifestar 0 grande desejo que tem de uninse comnosco. Que ingratidgo, pois, se nfo correspondemos a tio grande amor! I, Jesus Christo chama hora sua a noite em que devia comecar a sua paixto. Mas como é que pode chamar QULeTAFEIRA. 309 uma hora téo funesta 2 sua hora? E porque foi a hora por elle talmejada em toda a sua vida, visto que havia determinado que naquella noite havia de nos deixar a santa Communhio, destinada a consummar a sua unido com as almas dilectas, pelas quaes devia em breve dar o san- gue e a vida, Eis aqui o que naquella noite Jesus disse a seus discipulos: Desiderio desideravi hoc pascha mandu- care vobiscum —, disse um dia 0 Senhor a Santa Mechtildis, «que com tanta avidez esvoace sobre as flores para lhes sorver o mel, como eu anceio entrar nas almas que me desejam.» Porque Jesus nos ama, quer ser * Matth, 26, 26. 410.6, 55 Io, 6 54. 310 PRIMBIRA SEMANA DA QUARESIEA, amado de nés, porque nos deseja seus, quer ser dese: jado, como diz Sao Gregorio: Sitit sitiri Deus. Bemaven- turada a alma que se aproxima da mesa da communhio com grande desejo de se unir a Jesus Christo! II Adoravel Jesus meu, no podeis dar-nos maiores provas de amor para nos fazer comprehender quanto nos amaes. Déstes vossa vida por nds; ficastes no Santissimo Sacramento, para que venhamos ahi alimentar-nos de vossa carne, ¢ quéo grande desejo tendes que Vos recebamos! Como podemos ser sabedores de tantas finezas de vosso amor, sem ficarmos abrasados no vosso amor? Longe de mim, affectos terrenos, sahi de meu coragio; vés € que me impedis de arder por Jesus como elle arde por mim. © meu Redemptor, que outros testemunhos de affetto posso ainda esperar, depois dos que me tendes dado? Por meu amor sacrificastes a vossa vida inteira; por meu amor abtacastes uma morte tdo amarga e ignominiosa; por meu amor chegastes, por assim dizer, a aoniquilar- Vos, reduzindo-Vos na Eucharistia a estado de alimento, pata Vos dardes todo a mim. Ah, Senhor! n&o permittais que eu seja ingrato a tdo grande bondade. Gracas Vos dou pelo tempo que me concedeis para chorar minhas ingratidées e Vos amar. Arrependo-me, 6 soberano Bem, de ter tantas vezes desprezado 0 vosso amor. Amo-Vos, 6 Bondade infinita; amo:Vos, 6 Thesouro infinito; amo-Vos, 6 Amor infinito, digno de infinito amor. + ¥esus, meu Deus, amoVos sobre tedas as cousas. Por piedade, ajudae-me, 6 meu Jesus, a banir do meu coragdo todos os affectos que nao so para Vés, para que d’aqui pot diante nao deseje, nao busque e néo ame sendo a Vés, Meu amado Redemptor, fazei com que eu Vos ache sempre e sempre Vos ame. Apoderae-Vos de toda a mi- nha vontade, para que queira sémente o vosso beneplacito. Meu Deus, meu Deus, a quem entdo amarei, se nfo amo a Vés em quem se encontram todos os bens? Sé a Vés SEXTA-FEIRA. rn quero, e nada mais.—© Maria, minha Mae, tomae meu coracdo © enchei-o de perfeito amor a Jesus. (II 406.) SEXTA-FEIRA: Commemoragao da Langa e dos Cravos de Nosso Senhor Jesus Christo. rus miltum lances tus ius aperuit, t continue exivit san- gis et aqua — Um dos soldados sbrivite 0 lado com una langa, © immediatamente sabia sangve © agua> (To, 19, 36). Summario, Sendo 0 coragfo um dos primarios orgtfos da vida, claro estf que tem parte principal nos affectos do homem, tanto nos bons como nos méus. Exactamente para sarar esta raiz viciada dos peocados, aqui Jesus Chrisio que seu CoragSo forse traspassado pela langa, assim como pouco antes, para expiar a culpa de Adam em extender a miko a0 fructo vedado, e para reparar os abusos da liberdade, quiz que as mfos © 0s pés the foesem traspassados pelos cravos. O inventor adimiraves do amor de Deis! E nés nilo amaremos? I, Reflecte um devoto escriptor que na Paixo de Jesus Christo tudo foi excesso assombroso. Hebreos e Gentios, sacerdotes e seculares, todos juntos conspiraram para fazel-o, como o predissera Isaias, 0 homem de doves e de despresos, Causa horror a consideracio do complexo de mdus tratos ¢ injurias que fizeram Jesus soffrer em menos de metade de um dia, desde a captura até 4 morte, Mas quem nfo esperaria que ao menos depois da morte teriam deixado de ultrajal-o? Todavia nao succedenu assim. Refere Sao Jodo, que os Judeus, para deixarem os corpos na cruz durante o sabbado de Pascoa, pediram a Pilatos que mandasse quebrar as pernas aos suppliciados que os fizessem descer da cruz!. Eis que Maria, em- quanto esté chorando a morte do Filho, ve alguns homens, armados de barras de ferro, que se avisinham de Jesus. A tal vista primeiramente tremeu de espanto, depois disse assim, como medita Sao Boaventura: Parae; ah! meu Filho ¥ Io. 19, 31. 312 PRIMEIRA SEMANA DA QUARESMA, jd estd morto! deixae de o injuriar e deixae tambem de ‘me atormentar mais a mim, sua pobre Mae! Mas, em- quanto esté assim falando, ve, 6 Deus! um soldado que vibra com impeto uma langa e com ella abre 0 lado de Jesus: Unus militum lancea latus eius aperuit. ‘A esse golpe tremeu a cruz, 0 Coracdo de Jesus ficou dividido e sahiu sangue e agua, Nao havia mais sangue além daquellas gotas restantes, que o Salvador tambem quiz derramar, para nos fazer entender que no tinha mais, sangue para nos dar. A injuria daquella lancada foi de Jesus, mas a dér foi toda de Maria Santissima. Minha alma, aproxima-te enternecida da cruz, une as tuas penas com as de tua querida Mae e prostra-te assim aos pés do Senhor, afim de que corra subre ti esse san- gue divino. Il. Sendo © coragdo um dos primarios orgéos e como que principio da vida, claro estd que elle tem parte prin- cipal nos affectos do homem, segundo o que esté escripto: Do coragao saem os méus pensamentos, os homicidios, os furtos eas maledicencias', Foi exactamente para sarar esta raiz viciada dos peccados, que Jesus quiz ser ferido em seu sacratissimo Corag%o, assim como pouco antes, para expiar a culpa de Adam em extender a méo para © fructo vedado, e para reparar os abusos da liberdade humana, quiz que Ihe fossem traspassadas as mdos ¢ 05 pés.—Por isso € que a Igreja nao hesita em venerar a Langa © os Cravos que tiveram a ventura de ser tintos com o sangue do Senhor. No Officio em sua honra ex- clama saudando-os: «A perfidia judaica escolhew-vos para instrumentos de perversidade; mas o Deus do céu vos transformou em ministros de graca. Pelo que das chagas que abristes no corpo sacrosanto de Jesus, como de ou- tras tantas fontes, nos brotam as gracas celestes.>? 2 Math. 15, 19. 5 Hymn, Matut SABBADO. 313 Meu irmao, unamos 0s nossos affectos aos de nossa boa Mae, a Igreja. Pecamos ao Senhor perdao do abuso que nds tambem temos feito da liberdade, Roguemosihe que virando contra nés aquelles cravos e aquella lanca, tire vinganga das offensas que lhe fizemos, ferindo-nos o .gcorago, as miios ¢ os pés. Os pus, para que de hoje em diante sejam impotentes em nos expér 4s occasiGes peri- gosas; as mdos, para que deixem de praticar o mal; (0 coracto, para que, livre de todo apego desordenado 4s creaturas, arda sempre de amor divino: Ommisque corde ¢ saucio profanus ardor exeat', Eis o que Vos peco, 6 meu Deus! «A Vés, que na fra- queza da natureza humana quizestes ser traspassado com craves e ferido pela langa, supplica-Vos, concedei-me, que venerando na terra a memoria desses cravos ¢ dessa langa, eu vd depois alegrar-me no céu pelo glorioso trium- pho de vossa victoria.»® Fazei-o por amor do Coragdo afffictissimo de Maria. (*1 248.) SABBADO. Segunda dér de Maria Santissima— Fugida para o Egypto. Accipe puerum et matrem eius, et fuge in Aegyptum — «Toma © Menino ¢ sua Mie, © foge para o Egypto» (Matth. 2, 13). Summario.” A prophecia de So Simefo acerca da Paixtto de Jesus fe das ddres de Maria comegou desde logo # realizarse ne fugida que teve de fazer para o Egypto, afim de subtrahir 0 Filho & perseguigao de Herodes. Pobre Mie! quanto nfo devia ella soffcer tanto na viagem como durante a sva permanencia naquelle paiz entre os infieis! Vendo Sagrada Familia na sua fugida, lembremo-nos que nés tambem somos peregrinos sobre a terra, Para sentirmos menos os sofiimentos do exilio, & imitagfo de Sao José tenbamos comnoseo no coragio a Jesus © Maria. I. Como cerva, que ferida pela frecha, aonde vae leva a sua dér, trazendo sempre comsigo a frecha que a feriu; ' Hyme, Laud, ? Or, festi curr, 314 PRIMEIRA SEMANA DA QUARESMA. assim a divira Mae, depois da prophecia funesta de Sdo Simedo, levava sempre comsigo a sua dér com a memoria continua da paixdo do Filho. Tanto mais, que -aquella prophecia comegou desde logo a realizar-se na fugida que © Menino Jesus teve de fazer para o Egypto, afim de se subtrahir 4 perseguigéo de Herodes: Surge et accipe pue- yum et matrem etus et fuge in Aegyptum — «Levanta-te, toma 0 Menino ¢ sua Mae, ¢ foge para o Ezypto.s Que pena, exclama Sao Joao Chrysostomo, devia causar a0 Coragio de Maria, o ouvir a intimacio daquelle duro exilio com seu Filho! «O Deus», disse entéo Maria suspirando, como contempla o Bemaventurado Alberto Magno, «deve pois fugir dos homens aquelle que veiu a salvar os homens?» Cada um pode considerar quanto padeceu a Santissima Virgem naquella viagem. A estrada, conforme 4 descripgio de Sao Boaventura, era aspera, desconhecida, cheia de bosques, pouco frequentada, e sobretudo muito longa, de modo que a viagem foi ao menos de trinta dias. O tempo era de inverno; por isso tiveram de viajar com neves, chuvas € ventos, por camiohos arruinados cheios de lama, sem terem quem os guiasse ou servisse, Maria tinha entao quinze annos, e era uma donzella delicada, ndo acostu- mada a semelhantes viagens. Que dé fazia ver aquella Virgemzinha.fugir com o Menino nos bragos e acompanhada sémente de Sao José! Pergunta Sdo Boaventura: Quomodo faciebant de victu? ubi nocte quiescebant?— «De que alimentavam-se? onde passavam as noites?» E de que outra cousa podiam alimentar-se, sendo de um pedago de pao duro, trazido por Sto José, ou mendigado? Onde deviam dorrair, especial- mente no extenso deserto pelo qual deviam passar, sendo sobre a terra, ao relento, com perigo de ladroes ou de féras em que abunda o Egypto? Oh! quem tivera encontrado aquellas tres grandes personagens, por quem as haveria SABEADO. 315 ento reputado senéo por tres pobres mendigos ¢ vaga- bundos? II, Opina Santo Anselmo que os santos peregrinos no Egypto habitaram a cidade de Heliopolis. Considerese aqui a grande pobreza em que deviam viver nos sete annos que alli permaneceram, como affirma Santo An- tonino com Santo Thomaz ¢ outros. Eram estrangeiros, desconhecidos, sem rendimentos, sem dinheiro, sem pa- rentes, Como diz So Basilio, chegaram com difficuldade a sustentarse com 0s seus pobres trabalhos, Escreve Lan- dolpho de Saxonia (e isto seja dito para corsolagéo dos pobres), que Maria se achava em tio grande pobreza, que algurras vezes nfo tinha nem sequer um poco de pao, que c Filho the pedia, obrigado pela fome. Ver assim Jesus, Maria e José andarem fugitivos, pere- grinando por este mundo, ensina-nos que tambem deve- mos viver nesta terra como peregrinos, sem que nos ape- guemos acs bens que o mundo offerece, pois que em breve os havemos de deixar e de ir para a eternidade: Non habemus hic manentem civitatem, sed futuram i quirimus'— «Nao temos agui cidade permanente, mas procuramos a futura». Demais, ensina-nos que abracemos ‘as crizes, jé que neste mundo ndo se pode viver sem cruz. — A Bemaventurada Veronica de Binasco, Agostiniana, foi levada em espirito a acompanhar Maria com o Menino Jesus na viagem ao Egypto, finda a qual lhe disse a di- vina Mae: «Filha, acabas de vér com quantas fadigas che- gémos a este paiz; sabe, pois, que ninguem recebe gracas sem padecer.» Quem deseja sentir menos os trabalhos desta vida, deve, 4 imizagao de Sao José, tomar comsigo Jesus ¢ Maria: Ac- cipe puerum et matrem eius— «Toma o Menino ¢ sua Maer. ‘A quem pelo amor traz no coragdo este Filho e esta Mze, * Hebr, 13, 14 316 SEOUNDA SEMANA DA QUARESMA. se Ihe tornam leves, quicd doces ¢ estimaveis, todas as penas, Amemol-os, pois, e consolemos a Maria acolhendo © seu Filho dentro dos nossos coragées, que ainda hoje € continuamente perseguido pelos homens com os seus peccados. (I 235.) SEGUNDO DOMINGO DA QUARESMA. A transfiguragao de Jesus Christo e as delicias do paraiso. ‘ Domine, bonum est nos hie esse — «Senhor, & bom estermos aquis (Matt, 17, 4). Sunmarie. Consideremos hoje a belleza do partiso © raciocineimos assim: Sko Pedro © os seus felises companheitos provartm apenss uma s6 gota da dogura celestial; nfo virum eenfo uin raio da divindade, Todavia fcaram de tal modo arrebatados, que descjavam permanccer ali para sempre, O que seré entto de nés, quando nos saciarmos na fonte das delicias, © virmos a Deus tal quel 6 fice a face? Para chegermos 8 to grande recompenss, devemas antes de mais nada combater e sofer siguma couse na terra, I, No Evangelho de hoje lémos que certo dia Nosso Senhor, querendo dar a seus discipulos um antegozo da belleza do paraiso, (Is. 38, 1). Summario, A experiencia prova que morrem feli:mente of que, no ultimo momento, estfo jf mortos para o mundo, isto 6, desligados dos bens de que nos deve separar a morte. E, pois, preciso que desde jé acceitemos a privagto dos bens, a separagiio dos parentes e de todas a8 cousas da terra, lembrando:nos que, se nfo o fizermos voluntariamente agora, necessariamente teremos de o fazer ma morte, mas com risco da salvagio eterna, Quem aiuda nfo escolhex um estado de vida, tome aquelle que houvera queride eseolher na hora da morte + Mare. 9, 5. * Or, Dom, eur, SEGUNDA-PEIRA, 319 I, Diz Santo Ambrosio que morrem felizmente os que, no tempo da sua morte, esto jé mortos para 0 mundo, isto é, desligados daquelles bens de que forcosamente os deve separar a morte, Mister, pois, se torna que desde j4 acceitemos a privagdo dos bens, a separactio dos parentes e de todas as cousas da terra, Se nao: fizermos isto voluntariamente durante a vida, seremos forgados a fazel-o na morte, mas ent&o com extrema dér e com risco da salvagdo eterna. ‘A este proposito observa Santo Agostinho que, para morrer em paz, 6 vantajosissimo pérmos em ordem du- rante a vida os negocios temporaes, fazendo desde ja a disposicgo dos bens que é preciso deixar, afim de no termos de nos occupar entio seno da nossa unifo com Devs.—Naquella hora convém que sé se fale em Deus € no paraiso. Os ultimos momentos da vida sio demasiada- mente preciosos para serem desperdicados em pensamentos terrestres. E na morte que se acaba a corda dos es- colhidos, porque é entZo que se recolhe a maior somma de merecimentos, acceitando os sofirimentos e a morte com resignagdio e amor. Semelhantes sentimentos, porém, no os poderd ter na morte quem nao os tiver excitado durante a vida. Com este fim, pessoas devo:as teem por habito renovarem todos os mezes a protestago da boa morte com os actos christZos , de fé, esperanga e caridade, com a confissdio e communhio, fy como se j4 estivessem no Jeito de morte, proximas a sa- hirem deste mundo. Oh, como esta pratiea nos ajudard a ' caminharmos bem, a nos desprendermos do mundo e morrer- ‘mos de boa morte! Beatus ille serous, quem, cum venerit dominus eius, inveniet sic facientem'— «Bemaventurado Ef aquelle servo a quem seu senhor, quando vier, encontre @ fazer isto * Math. 24, 46 320 SEGUNDA SEMANA DA QUARESMA, Quem espera a toda a hora a morte; ainda que esta venha subitamente, nfo pode deixar de morrer bem. Ao contrario, 0 que se nao faz na vida, ¢ diffcillimo fazel-o na morte. —A grande serva de Deus, irma Catharina de Santo Alberto, da ordem de Santa Theresa, estando para morrer, * gemia e dizia: Minhas irmas, ndo é o medo da morte que me faz gemer, porque ha vinte e cinco annos que a estou esperando; gemo por vér tantas pessoas illudidas, que vivem no peccado, ¢ esperam, para se reconciliarem com Deus, a hora da morte, em que eu com difficuldade posso pronunciar o nome de Jesus. Il. Examina-te, meu irmao, e ve se tens 0 coragdo ape- gado aalguma cousa terrestre: a alguma pessoa, a algum posto, a alguma casa, a alguma riqueza, a alguma socie- dade, a alguns divertimentos, e lembra-te que nio és eterno, Tudo ters de deixar um dia, € talvez em breve. Porque queres ento ficar agarrado a esses objectos com risco de morreres cheio de inquietagses? Offerece desde jd tudo a Deus, estando disposto a privarte de tudo, quando the agradar. Se nfo tens ainda escolhido o estado de vida, toma o que na hora da morte quizeras ter escolhido © que te deixaré morrer mais contente. Se jd 0 escolheste, faze agora o que entio quizeras ter feito mo teu estado. Fare como se cada dia fosse o ultimo de tua vida e cada acco aultima que praticas: a ultima orago, a ultima confissdo, a ultima communtiao. Imagina, numa palavra, a cada hora que jd estds no leito da morte, ouvindo a intimagao: pro- Jiciscere de hoc mundo — «parte deste mundo», © por isso re- pete muitas vezes a protestagdo para a boa morte, dizendo: © meu Deus, sé poucas horas me restam; nellas Vos quero amar quanto possa na vida presente, para mais Vos amar na outra, Pouco tenho que Vos offerecer; offereco- Vos os meus padecimentos e 0 sactificio da minha vida, em unio com o sacrificio que Jesus Christo Vos offereceu TERGAPRIRA, 321 % por mim na cruz, Senhor, as penas que sofiro so poucas ¢ leves em comparagdo com as que mereci; taes como slo, acceito-as em testemunho do amor que Vos tenho. Resigno-me a todos os castigos que me queirais, infligir nesta vida e na outra, comtanto que Vos possa amar na 1% eternidade. Castigae-me tanto quanto Vos approuver, mas | nfo me priveis do vosso amor. Sei que néo merecia mais amat-Vos, por ter tantas vezes desprezado 0 vosso amor; mas Vés nio podeis repellir uma alma arrependida, Peza- me, 6 meu supremo Bem, de Vos haver offendido, Amo- Vos de todo 0 coragéo e em Vés ponho toda a minha confianga. A vossa morte, 6 Redemptor meu, é a minha £. esperanga. Deposito a minha alma em vossas mos cha- gadas.— Maria, minha querida Mae, soccorreime nesse grande momento, Desde jd vos entrego o meu espirito: f. dizei a vosso Filho que se apiede de mim. A vs me recommendo, livraeme do inferno, TERCA-FEIRA, Effeitos que em nés produz a divina graga. Infinitus thesurus est hominibus; quo qui usi sunt, participes facti sunt amicitiae Dei— «Ella € um thesouro infinito para os homens; do qual os que usaram teem sido feito participantes du amizade de Dews> Summario, Porque havemos de ter inveja dos grandes do mundo? Se estamos na graga de Deus, perticipamos da sua propria natureza; somos, or assim dizer, um com elle e de momento x momento podemos ad: wirir thesouros immensos de merecimentos para a eternidade. A nossa Fi elma & entko tho bella 20s olhos do Senhor, que pde nella a sua com. placencia, Tudo iso Jesus Christo nolo mereceu pela sua Paixdlo; ¢ por aso devemos prestarlhe continuas acgies de gragas. 1. No dizer de Santo Thomaz de Aquino, 0 dom da graca é superior a todos os dons que uma creatura possa * 0 devote leitor que desejar uma protestagfo mais extensa, como F Santo Afonso costumva fazer cade mez, achaln& no Appendice do Yol IT, entre as mediagdes de reser, » S. Affonse, Meditagtor. 1 ar 322 SEGUNDA SEMANA DA. QUARKSMA, receber, porque a graca é a participaggo da propria na- tureza de Deus, J4 antes tinha Sao Pedro dito o mesmo: Ut per haec (promissa) efficiamini divinae consortes na turae— «Para que por ellas (as promessas) vos torneis participantes da naturesa divinas. Tal é a dignidade que Jesus Christo nos mereceu pela sua paixdo: elle nos com- municou 0 mesmo resplandor que recebeu de Deus? Numa palavra, quem est4 na graga de Deus, forma, de certo modo, uma pessoa com Deus: Unus spiritus est® — i um espiriio com eller. B, como disse 0 Redem ptor, na alma que ama a Deus, vem habitar a San- tissima Trindade: Ad eum veniemus, et mansionem apud cum faciemus'— quiz ficar submisso a Séo José, assim faz agora no céu tide o que o Santo The pede.» ‘Meu santo Patriarcha, pela grande reverencia que, como a seu esposo, vos teve Maria, rogo-vos que me recom- mendeis a ella, e me alcanceis a graga de ser 0 seu ver- dadeito fiel servo até 4 morte, E pela submissdo que na terra vos mostrou 0 Verbo incarnado, obtende-me a graga de Ihe obedecer e de amal-o perfeitamente. No céu Jesus se compraz em conceder todas as gracas que vés, pedis em favor daquelles que a vés se recommendam. Eu tambem, miseravel como sou, me recommendo a vés, escolho-vos por meu advogado especial e prometto honrar- vos cada dia com algum obsequio particular. Meu Pae, Sao José, por piedade, alcangaeme aquella graca que vés sabeis ser mais util 4 minha alma, e especialmente a vit- tude da santa pureza. «Sim, glorioso Sao José, pae e protector das virgens, guarda fiel, a quem Deus confiou Jesus, a mesma inno- cencia, ¢ Maria, a virgem das virgens, eu vos peco € con: juro por Jesus ¢ Maria, este duplo deposito a vés tao caro, com vosso efficaz auxilio daeme conservar meu co- rago isento de toda mancha, e que, puro € casto, sirva constantemente a Jesus e Maria em perfeita castidade.» t— E vés, 6 Mae de Deus e minha Mae Maria, pela santa humildade e obediencia com que executastes tudo que vosso santo Esposo José vos pedia, aleangaeme de Deus a graga da santa humildade e da perfeita obediencia a seus preceitos divinos?, Indulg. de 100 dias, 2 Esta meditagto, embora no se ache nas obras compleias de Santo Affonso, € todavia do santo Nouter. QUINTA ERR, 327 QUINTA-FEIRA. Jesus presente uos altares para ser accessivel a todos. Venite ad me omnes, qui lnboras et onerti ests: diego re fciam Vos «Vinde x mim todon on que esis cansados © care gudos, ¢ eu vos allvinreis (Matth, 11, 28). Summario, Nesta terra nfo & permittido « todos os subditos falar 20 principe O mais que os pobres podem esperar, é falar-Ihe por meio de terceira pesson, No é assim com o Rei de céu, que esté no Sentissimo ‘Sacramento, Com este pode falar quem o deseje, © sem seanhamento. Procuremos portanto ir multas vezes a sun audiencia e exporihe todas as nnossas necessidades. Pegamosthe particularmente que desligue o nosso coragfo de todas as cousas terrestres, ¢ 0 encha de seu santo amor, I, Dizia Santa Theresa que nesta terra nao é permittido a todos os subditos falar a seu principe. O mais que os pobres podem esperar € falarlhe por meio de terceira pessoa. Mas para conversar comvosco, 6 Rei do cfu, nto se precisa de terceira pessoa; quem quizer, pode achar- Vos no Santissimo Sacramento, ¢ falar-Vos 4 vontade ¢ sem acanhamento. Por isso a mesma Santa dizia que Jesus Christo velou a sua majestade sob as apparencias do pio, para nos inspirar mais confianga nos tirar todo o temor = de nos approximarmos delle. Ah! parece que Id dos altares Jesus ainda cada dia exclama © diz: Venite ad me omnes, qui laboratis et onerati estis, et ego reficiam vos— Vinde a mim todos os que estais can- sados e carregados, ¢ eu vos alliviarei>. Vinde a mim, vés pobres, vinde enfermos, vinde attribulados, vinde justos ¢ peccadores; em mim achareis 0 remedio para todos os vossos males e afflicgses. O que Jesus Christo deseja, é consolar a quem a elle recorre, Permanece presente sobre os’ altares tanto de dia como de noite para ser accessivel a todos e communicar a todos as suas gragas. Por isso os santos achavam na terra tdo grande satis- facg%io em estar na presenga de Jesus sacramentado, que 328 SEGUNDA SEMANA DA QUARLSDAA, 08 dias ¢ noites se Ihes affiguravam como instantes, A con dessa de Feria, depois de entrada na ordem de Santa Clara, nunca se fartava de ficar no coro a visitar 0 San tissimo Sacramento. Perguntada uma vez o que fazia tanto tempo diante do santo Tabernaculo, respondeu que eram tao grandes as delicias que nisso gozava, que queria ficar alli toda a eternidade, — Sto Jotio Francisco Regis, depois de passar 0 dia no confessionario ou no pulpito, passava as noites na igreja, e achandoa alguma vez fechada, deixavasse ficar 4 porta exposto ao frio e a0 vento, para ao menos de longe fazer companhia a seu amado Senhor. Sao Philippe Neri exclamava 4 vista do Santissimo Sacra- mento: «Eis abi o meu amor! eis ahi toelo o meu amor!» Ab! se Jesus Christo fosse tambem todo o nosso amor, a nés tambem os dias e noites passadas na sua presenca se nos affigurariam como instantes! IL, Em todas as vossas necessidades particulares, como no tomar ou dar conselho, nos perigos, nas afflicctes, enfermidades e tentagées, especialmente nas contra a pu- reza, recorrei sempre a Jesus sacramentada, e nio podendo fazel-o de corpo, fazei-o pelo menos em espirito, Achando- vos diante do santo Tabernaculo, dizei mauitas vezes com Sao Philippe Neri: «Eis ahi o men amor! eis abi todo o meu amor!» Sim, meu amado Redemptor, sé a Vés quero amar} quero que sejais o unico amor de minha alma. Sintome morter de dér 4 lembranga de ter outr'ora amado as creaturas € minhas satisfacgdes proprias mais que a Vés, € de ter virado as costas a Vés, 6 Bem infinito, Vés porém, para ndo me vérdes perecer, me Supportastes com tants paciencia, e em vez de me punirdes, me feristes 0 coraco com tantas settas de amor, de sorte que nfo pude mais resistir 4s vossas finezas e me dei todo a Vés. Vejo que me quereis inteiramente para Vés, Mas j4 que o que reis, fazei-o; porquanto a Vés pertence fazer que assim seja. SeXTA-TEIRA, 329 Livraeme de todo o apego 4 terra e a mim mesmo, ¢ fazei com que eu procure agradar sémente a Vés, nto pense sendo em Vés, nfo fale sendo de Vés, ¢ nao de- seje sendo arder de amor para comvosco, viver € morrer por Vés. © amor de meu Jesus, vem e apoderate de todo © meu coragéo e expelle delle todo o amor que ndo é para Deus, Amo-Vos, 6 Jesus sacramentado, amo-Vos, minha vida, meu thesouro, meu amor, meu tudo. — © Maria, minha esperanga, rogae por mim ¢ daeme ser todo de Jesus. (II 402.) SEXTA-FEIRA. Commemoragao do sagrado Sudario de Nosso Senhor Jesus Christo. Et depositum (corpus) involvit sindone — «Tendo descido (© corpo), amortalhou-c num lengol» (Luc, 23, 53). Summare, are que esivessomes sempre lebrados dese amor, que Jevoe Chrno deat a sun tagnde,eligie extanprda nosso ari, No fallum, 04 vida de Jets fetos glorises je imager nor pot dears Sendo, porém, cbr rabre de Painko + mals ap roprinda. pare. representer © amor, denon de. pate todos ob demas fron da sn nny © que repreenarperate. 06a 0 Hon dare, tim de que not fose tanto mals amael, qunio mals devigua, Ane toto, poly de todo o corto sofas de bon mente sigue coue ew eeu em 1. «Duas cousas», escreve Cicero, «fazem conhecer um amigo: fazerthe bem e sofiter por elle; ¢ esta ultima cousa é a maior prova de um verdadeiro amor.» Deus jé tinha feito brilhar o seu amor para com os homens, em grande numero de beneficios; mas, diz Sdo Pedro Chryso- logo, julgou muito pouco para seu amor, sémente fazer- Ikes bem, se ndo achasse outro modo de Ihe mostrar i quanto o amava, soffrendo e morrendo por elle, como fez * tomando a natureza humana. Por isso escreve o Apostolo | S40 Paulo, que a morte de Jesus Christo pela salvagao 330 SEGUNDA SEMANA DA QUARESWA dos homens demonstrou até onde chegava o amor de Deus para comnosco, as suis miseraveis creaturas: Appa- ruit benignitas et humanitas Salvatoris nostri Dei\— «Apparecen a benignidade e 0 amor de Deus, nosso Sal- vador>. Afim de que sempre nos lembrassemos deste seu ex- cesso de amor, depois de consummada a Redempgao do genero humano, quiz deixar-nos a sua imagem estampada no Sudario em que o envolveram depois da morte. Nao faltavam, de certo, na vida de Jesus mil feitos gloriosos, cuja representago nos podia deixar, taes como sejam a adoragio dos Magos, a transfiguragio no Thabor, a r surreigéo de Lazaro, a multiplicagio dos paes e mai outros, Mas, no dizer de Sdo Bernardo, porque (Lue. Summarie, Mew irmto, j& que resolveste dare todo a Deus, ¢ j& 0 executeste, nfo creias que as tentagdes tenham terminado, Antes, mais do que nuncs, preparate para travar combate com o demonio, que, como dia Jesus Christo, buscando repouso e nfo 0 achando, redobra os esforgos parar tornar a entrar na slma donde foi expulso, Desgragado de quem torna a cabir depois de se ter levantado! In enfraquecendo ca mais; Deus retard a sua mf com aa grages; © assim o fin de tal homem ser pelor do que 0 principio I. Meu irmfo, j4 que resolveste dar-te todo a Deus, e assim 0 executaste, ndo acredites que se tenham acabado as tentagdes. Escuta o que te diz Jesus Christo no Evan- gelho de hoje: «Quando o espirito immundo sahiu do homem, anda por logares desertos, buscando repouso; € no a achando, diz: Voltarei para a casa donde sahi ) E quando chega, achaa varrida e adornada. Vae entio, € toma coms'go outros sete espiritos peiores do que elle, ¢, entrando na casa, fazem nella habitagdo. E o ultimo estado daquelle homem vird a ser peior do que o pri- meiro.» Com isto 0 Senhor nos quer dizer que, quanto mais uma alma procura unir-se a Deus ¢ servil-o, tanto mais contra © Or, Dom. eure. S. Afonso, Metitagdes, 1 a 338 THRCEIRA SEMANA DA QUARESMA. elle se enfurece o inimigo, e procura entrar na alma donde foi desterrado. Se 0 consegue, nao entra mais sésinho, mas traz companheiros comsigo, para melhor se aquartelar, e assim a segunda ruina da misera alma serd peior co que a primeira. Diz Santo Thomaz que todo o peccado, ainda que te- nha sido perdoado, deixa sempre a ferida causada pela culpa, Se portanto se junta outra ferida 4 antiga, fica a alma t4o enfraquecida, que para se levantar precisaré de uma graga especial, Por outra parte, Deus n4o concederd facilmente semelhante graca a um ingrato, que, depois de ser chamado com to grande amor, e admittido 4 sua amizade, depois de assentar-se 4 Mesa eucharistica para se alimentar com 0 Corpo sagrado de Jesus, esquecendo-se de todas estas misericordias divinas, se revolta contra elle e Ihe prefere o demonio. Ah! o Senhor fica em extremo sensibilisado com tamanha ingratidao, e por isso: Fiunt no- vissima hominis illius peiora prioribus— «O ultimo estado daquelle homem virk a ser peior do que o primeiror Ul, Ai daquelle que, sendo amigo de Deus ¢ tendo rece- bido muitas gragas, torna a cahir e se declarar seu inimigo e escravo do demoniol—Irmao meu, afim de que te nfo sueceda tamanha desgraca, esforgate de toda a maneira por ficares constante na justiga e no temor, e prepara a tua alma para a tentagto!, Examina novamente a tua consciencia; estuda todas as tuas paixGes, especialmente aque no passado tenha sido a tua paixdo dominante Quando sentires que as inclinagSes més tornam a brotar em tua alma, procura abatel-as depressa pelos meios que © teu confessor te fdicar, antes que ganhem forga; no caso contrario serao os teus mais formidaveis inimigos. A arma principal, porém, de que te deves servir, € a ora- go, porque o espirito immundo ¢ um campeao armado, 1 Beelus, 2, 1 SROUNDAPRIRA. 339 mais robusto do que tu, e que além de uma longa ex- periencia tem a intelligencia e a forca de anjo, Numa palavra, lembra-te que quem na tentagdo ora e se recom- menda a Deus, certamente serd vencedor; e quem nao ora, seré vencido e se condemnard. Jesus, meu Redemptor, pelos merecimentos de vosso sangue espero que jé me haveis perdoado as offensas que Vos fiz, ¢ que irci agradecer-Vos eternamente no paraiso. \Vejo que no passado cahi e recahi miseravelmente, porque me descuidei de recorrer a Vés, Agora pego-Vos a santa perseveranga e proponho pedil-a sempre, especialmente quando me vir tentado, Mas de que me valeré esta minha resolugao, se Vés no me derdes a forga para cumptil-a? Rogo-Vos pelos merecimentos de vossa paixéio, me con- cedais a graga de recorrer a Vés em todas as minhas necessidades. — «Dignae-Vos, 6 Deus todo-poderoso, at- tender 4s minhas humildes supplicas, e estender em mi- nha defeza o brago da vossa majestade.»1 Fazei-o pelo amor de vossa e minha querida Mae Maria. (*II 431.) SEGUNDA-FEIRA, Da verdadeira sabedoria. Et dedit illi scientiont ssnetorum — +E dew-the a s santos» (Sap. 10, 10). encis dos Summaris. Oh, que bella sciencia, a de saber amar a Deus ¢ salvar ‘alma, I esta a sciencia mais necessaria de todas, porquanto, se soubesse- Jp 0s Ludo © nfo nos soubessemos salvar, nada nos aproveitaria e seritmos ternainente infelizes; ao passo que seremes elemamente bemaventurados, se soubermos amar a Deus, ainda que no mais fossemos completamente gnorantes. Quantos sabins esto no inferno! quantos, que aqui Sram ‘gnorantes, gozam no paraiso! Que aproveitou équelles a sua sabedorie?. Que prejuizo causou a estes a sua ignorancia? I. Comprehendamos bem que os verdadeiros sabios sao aquelles que sabem adquirir a graga de Deus ¢ o paraiso. 340 TERCEIRA SEMANA DA QUARISMA, Que bella sciencia a de amar a Deus e salvar a alma! © livto onde se ensina a salvar a alma, é de todos o mais necessatio. Se soubessemos tudo e ndo nos soubesse- mos salvar, nada nos aproveitaria e seriamos para sempre desgracados. Ao contrario, seremos eternamente felizes se soubermos amar a Deus, ainda que no mais fossemos com- pletamente ignorantes, Beatus qui te novit, etsi alia nescit — «Bemaventurado o que Vos conhece, 6 Deus, embora ignore todas as outras cousas!> exclamava Santo Agostinho, Certo dia Frei Gil disse a Sao Boaventura: —Feliz de ti, Padre Boaventura, que sabes tantas cousas, ¢ eu pobre ignorante nada sei; tu podes ser muito mais santo do que eu. —Escuta —respondewlhe o Santo, —se uma velhinha ignorante souber amar a Deus mais do que eu, ella seré mais santa do que eu. Surgunt indocti, et rapiunt coelum— Os ignorantes le vantam-se ¢ conquistam o céus, disse Santo Agostinho. Quantos rusticos que nfo sabem Iér, mas sabem amar a Deus, se salvam, e quantos sabios segundo o mundo se condemnam! Aquelles, e nfo estes, sao 0s verdadeiros sa- bios. Que grandes sabios foram um Sdo Pascal, um Sio Feliz, capuchinho, um So Joio de Deus, apezar de igno- rarem as sciencias humanas! Que grandes sabios fram tantos outros, que, deixando 0 mundo, se fram encerrat nos claustros, ou viver nos desertos! Que grandes sabios tantos martyres, tantas virgens, que renunciaram a illustres, alliangas, indo morrer por amor de Jesus Christo! —Numa palavra, os que renunciam aos bens terrestres para se consagrarem a Deus, sio chamados homens desengancdos. Pottanto, os que abandonam a Deus pelos bens do mundo, devem ser chamados homens enganados. Irmo meu, em qual das duas phalanges te queres achar? Para que fagas boa escolha, aconselha-te Sao Jotio Chryso- stomo que visites os cemiterios, que so as mais ex SRGUNDA-PEIRA. 344 cellentes escolas para aprender a vaidade dos bens terres- tres e a sciencia dos santos, Proficiscamur ad sepulchra — Vamos aos tumuloss. Dize-me: sabes alli distinguir quem foi rei, nobre ou litterato? Eu por mim—accrescenta 0 Santo ~- no vejo sendo uum mont&o de ossos, de vermes e de podridao, Il. Irm&o meu, se queres ser sabio, nao basta conhe- ceres a importancia de teu fim: é preciso tambem em- pregares os meios para o alcangares. Todos se quereriam salvar e ser santos; mas como n&o procuram os meios, n&io se santificam e perdemse, E preciso evitar as occa sides, frequentar os sacramentos, fazer oragdo, e mais do que tudo, gravar no corago as maximas do Evangelho, como sejam: Quid prodest homini, si universum mundum lucretur 2 — «Que aproveita ao homem ganhar 0 mundo inteiro? E preciso perder tudo, até a vida, para salvar a alma®. Para seguir Jesus Christo, deve-se recusar a0 amor proprio a satisfaccio que deseja®. A nossa salvacio consiste em fazer a vontade de Deus‘, Sao estas as ma- ximas e outras semelhantes, que devem frequentes vezes ser objecto da nossa meditagao, se nés tambem quizermos ser verdadeiros sabios e salvar-nos, © Pae das misericordias, langae um olhar sobre a minha miseria ¢ tende piedade de mim, Illuminae-me e fazeime conhecer 0 meu desvairamento pasado, para o deplorar, ea vossa infinita bondade, para a amar. O meu Jesus: Ne tradas bestiis animas confitentes tibis— «Nao entre- gueis ds féras as almas que Vos louvam>, Derramastes ‘© vosso sangue para me salvar; ndo permittais que me torne ainda escravo do demonio, como jé 0 fui_no pasado. Arrependo-me de Vos ter deixado, o supremo Bem. Amal- digdo todos os instantes em que, por minha propria von- + Math, 16, 26. To. 12, 25. Malth. 16, 24, 4 Ps, 29,6 Bs. 75, 394 342 TBRCEIRA SEMANA DA QUARESMA, tade, consenti no peccado, e uno-me estreitamente 4 vossa santa vontade, que sé deseja a minha felicidade. © Padre Eterno, pelos merecimentos de Jesus Christo, daeme a forca para executar tudo o que é do vosso agrado. Deixae-me antes morrer do que oppér-me 4 vossa santa vontade, Ajudae-me com a vossa graga a depositar unicamente em Vés todo 0 meu amor, ea desligar-me de todos os affectos, que nao se referem a Vés. Amo-Vos, 6 Deus de minha alma, amo-Vos sobre todas as cousas, € de Vés espero todos os bens, o perdi, .a perseveranga em vosso amor e 0 paraiso para Vos amar eternamente. —O Maria, pedi estas gragas para mim. Vosso Filho ndo vos recusa nada, Esperanca minha, em vés confio. (*II 93.) TERGAFEIRA. A separacao dos escolhidos e dos reprobos no Juizo final. Exibunt angeli, st seporsbant malos de medio instru — sSthirto oe enjor © eepararto os méut do meio dos justor» (Math 13, 49). Sunmerie, Quando todos os homeas esiverem reunidos uo valle de Joraptat, virdo os anjos sepurar os reprobos dos escolhios, Estes fcario { ireta o aquelles sooo para sua confusto impellidoe para a coquerda Ob, que triste separagtot Meu iemilo, de que lado nos acharemos nesse din? 1 aireta. com os escolhides, ou & eaquerda com os condemnados? Se quizermos esar& deta, deicemos o caminho que condus 4 exquerds. I. Assim que 0s homens tiverem resuscitado, serlhes-d intimado que se dirjjam todos ao valle de Josaphat, para serem julgados. Quando todos estiverem alli reunidos, vito 0s anjos © separaro os reprobos dos escohidos: Exibunt angeli, et separabunt malos de medio tustorum. Os justos ficario 4 direita, © 0s condemnados sero im: pellidos para a esquerda.—Que magoa ndo sentiria quem fosse banido da sociedade ou da Igreja! Mas que dér muito maior ndo sentir4, quando se vir expulso da com- TERGA-PEIRA, 343 panhia dos Santos! Unus assumetur, et alter relinguetur? —«Um seré tomado, ¢ outro seré desprezador. Diz Sao Chrysostomo que, se os reprobos néo tivessem outra pena a sofirer, esta confuséo jé seria para elles um sup- plicio infernal. Actualmente no mundo sv julgados felizes us principes e 08 ricos; e so desprezados os santos que vivem na pobreza e humildade, O christdos fieis, vés que amaes a Deus, ndo vos affijais porque neste mundo viveis des- prezados e em tribulagdes: Tristitia vestra vertetur in gaudium®— «A vossa tristesa se ha de converter em ale- ria. Entio se diré que vés sois os verdadeiros felizes, e tereis a honra de ser proclamados os cortezios da cérte de Jesus Christo. Que brilhante figura ndo far entéo um So Pedro de Alcantara, que foi vilipendiado como apostatal um Sao Jodo de Deus, que foi tratado como insensato! um Sao Pedro Celestino, que morreu numa prisio depois de ter abdicado o papado! Que honra receberdo entiio tantos martyres, cruciados aqui pelos algozes! Tumc laus erit unicuique a Deo'—«Entto cada um terd de Deus 0 low vor». Que horrivel figura, pelo contrario, néo faré um Herodes, um Filatos, um Nero, ¢ tantos outros grandes da terra, agora condemnados!—O partidarios do mundo, espero-vos no valle de Josaphat. Ahi mudareis sem du- vida de sentimentos; ahi deplorareis a vossa loucura. In- felizes! por uma curta apparigo no theatro deste mundo, tendes de fazer depois o papel de condemnados na tra- gedia do juizo final. IL, Os escolhidos sero collocados 4 direita, ou antes, segundo 0 que diz o Apostolo, para sua maior gloria, serdio elevados aos ares sobre as nuvens, para irem com 0s anjos 20 encontro de Jesus Christo, que deve vir * Mauh. 24, 40. * Jo, 16, 20. Fi Con 4) 5 344 TERCEIRA SEMANA DA QUARUSMA, do céu: Rapiemur cum illis in nubibus, obviam Christo in atra'—«Seremos arrebatados com elles nas nuvens a0 encontro de Christo. E 0s condemnados, como um rebanho de cabritos destinados a0 matadouro, sero im- pellidos para a esquerda, esperando pelo Juiz, que viré pro- nunciar publicamente a condemnagdo de todos os seus inimigos.—Meu irmao, de que lado nos acharemos nés nesse dia? 4 direita com os escolhidos, on 4 esquerda com os reprobos? © meu amado Redemptor, 6 Cordeiro de Deus, que viestes ao mundo, ndo para castigar, mas para perdoar os peccados: ah! perdose-me sem demora, antes que chegue © dia em que deveis ser meu Juiz. Se eu entdo viesse a perderme, 4 vossa vista, 6 doce Cordeiro, que me tendes aturado com tanta peciencia, a vossa vista seria o inferno do meu inferno, Ah! perdoaeme, repito, sem demora, Com 0 socotro da vosia mao misericordiosa, fazei-me sahir do precipicio, onde me fizeram cahir os meus peccados. Arrependo-me, 6 soberano Bem, de Vos ter offendido tantas vezes, Amo-Vos, 6 meu Juiz, que tanto me haveis amado. Supplico-Vos pelos meritos da vossa morte, que me deis uma graga tao efficaz, que me torne de peccador em santo. Promettestes attender a quem Vos roga: Clama ad me et exaudiam te°—«Clama por mim e eu te attenderei» Nao Vos pego bens terrenos; pego-Vos a vossa graga, 0 vosso amor e nada mais. Attendei-me, 6 meu Jesus, pelo amor que me dedicastes morrendo por mim na cruz. Meu amado Juiz, sou um clpado, mas um culpado que Vos ama mais que a si proprio. Tende piedade de mim|!—-Maria, minha Mae, vinde depressa em meu auxilio, agora que me podeis ainda soccorrer. Nao me abandonastes quando vivia esquecendo-me de vés e de Deus. Soccorrei-me, jé tr Thess. 4,17, ter. 33, 3. vant os 345 que estou resolvido a servir-vos sempre ¢ a nunea mais offender a meu Senhor, © Maria, vés sois a minha es- peranca. (I 114.) QUARTA-FEIRA. Da gloria de Sao José, Esposo da Virgem Maria. Qui custos est Domini sui, glorificebitur — 0 que é 0 guarda 4o seu Senhor, seré glorificado» (Prov. 27, 18). Sunmarie, Devemos ter por certo que a vida de Sto José, sob a vista ena companhia de Jesus e Maria, foi uma oragfo continua, cheia de {é, de confianga, de amor, de resignag&o © de offerecimento, Visto que » re- compensa é proporcionada aos merecimentos da vida, considera quo [grande seré ro paraiso a gloria do santo Patriarcha. Com razfo se ad- mitte que elle, depois da Bemsventurada Virgem, leva vantagem a todos Santos. Por isso, quando So José quer obter alguma graga para seus deyctos, nfo tanto pede, como de certo modo manda a Jesus © Maria, os demai I. A gloria que Deus confere no céu a seus Santos, é proporcionada 4 santidade de vida que elles levaram em terra. Para termos uma idea da santidade de Sao José, basta que consideremos unicamente 0 que diz o Evan- gelho: Joseph autem vir eius, cum esset iustus'— «Fost seu esposo, como era homem justos. A expressio komem Justo significa um homem que possue todas as virtudes; porquanto zquelle a quem falta uma dellas, ndéo pode ser chamado justo. Ora, se 0 Espirito Santo chamou a Sao José justo, na occasiio em que foi escolhido para Esposo de Maria, avalia, que thesouros de amor divino e de todas as vir- tudes 0 nosso Santo ndo devia auferir dos colloquios e da continua convivencia com a sua santa Esposa, que Ihe dava exemplos perfeitos de todas as virtudes. Se uma sé palavra de Maria foi bastante efficaz para santificar ao Baptista e pata encher Santa Isabel do Espirito Santo, "Mau. 1, 19. i 346 ‘TERCEIRA SEMANA DA. QUARESNA. aque alturas nfo pensamos que deve ter chegado a bella alma de José pela convivencia familiar com Maria, da qual gozou pelo espago de tantos anos? ‘Além disso, que augmento de virtudes ¢ de meritos no deve ter adquirido Sao José convivendo continuamente por tantos annos com a propria santidade, Jesus Christo, servindo-o, alimentando-o ¢ assistindolhe nesta terra? Se Deus promette recompensar Aquelle que por seu amor dé um simples copo de agua a um pobre, con- sidera quo alta gloria ter4 dado a José, que o salvou das mios de Herodes, the fornecen vestidos ¢ alimentos, 0 trouxe tantas vezes nos bragos e catregou com tamanho affecto.—Devemos ter por certo que a vida de Sao José, sob a vista e na companhia de Jesus e Maria, foi uma orago continua, cheia de actos de fé, de confianga, de amor, de resignago e de offerecimento. Se, pois, a re- compensa € proporcionada aos merecimentos ajuntados na vida, considera quéo grande serd a gloria de Sao José no paraiso! . I. Santo Agostino compara os demais Santos com estrellas, mas Sao José com o sol, O Padre Soares diz que é muito acceitavel a opiniio que depois de Maria Sdo José leva vantagem a todos os demais Santos em merecimento e em gloria, Donde o Ven. Bernardino de Bustis conclue que Sao José, de certo modo, dé ordens « Jesus ¢ Maria quando quer impetrar algum favor para os seus devotos. Meu santo Patriarcha, agora que gozais no céu sobre um throno elevado junto do vosso amadissimo Jesus, que vos foi submettido na terra, tende compaixio de mim, que vivo no meio de tantos inimigos, méus espiritos e mas paixes, que me ddo combates continuos para me fazerem perder a graca de Deus. Ab! pela felicidade que tivestes, de gozar na terra, sem interrupcao, da companhia de Jesus ¢ Maria, alcangae-me a graga de passar o resto de minha eunvarniga, —* 347 vida sempre unido a Deus e de morrer depois no amor de Jesus © Maria, para que um dia possa ir gozar, com- vosco, da sua companhia, no. reino dos bemaventurados. E Vés, 6 meu amado Jesus, meu amantissimo Redem- ptor, quando poderei ir gozar-Vos e amar-Vos no paraiso face a face, seguro de ndo Vos poder mais perder? Em- quanto viver, estarei exposto a tal perigo, Ah, meu Se- nhor e meu unico Bem, pelos merecimentos de Sao José, que Vés amaes e¢ honraes tanto no céu; pelos mereci- mentos de vossa querida Mae; e mais ainda, pelos mereci- mentos de, vosta vida e morte, pelas quaes merecestes para mim todo o bem e toda a esperanga: no permittais que em tempo algum eu me separe nesta tetra de vosso amor, afim de que possa ir para a patria do amor, a possuit-Vos e amar-Vos com todas as minhas forcas e nunca mais em toda a eternidade afastar‘me da vossa presenga e do vosso amor. (II 432.) QUINTA-FEIRA. Grandeza da dadiva que Jesus Christo nos fez na santissima Eucharistia. Jn omnibus divites facti estis in illo ~ «Em todas ss cousas fostes enriquesidos nelle» (1 Cor. 1, §). Summario. % to grande a dadiva que Jesus Christo nos fez na san- tissima Eucharista, que, apesar de sex poderosissimo, supientissimo @ 1 quissimo, nfo pode, nem sade, nem tm pare dar-nos outra mais excelente Como & pois, possivel que ot homens, tfo sensiveis « qualquer delice deca, fiquem insensiveis « to grande dom © paguem o seu bemfeitor com ingratidfo.... Se n6s tambem fmes no passado tho ingratos, pege mos de todo 0 coregto que Jesus nos perdbe I. Santo Agostinho, considerando a grandeza do dom que Jesus Christo nos offerece na santissima Eucharistia, ficou tao enlevado, que escreveu esta celebre sentenga, que com tal dadiva Jesus esgotou, por assim dizer, os seus -attributos infinitos. —Deus, assim diz 0 santo Doutor, € poderosissimo, e se quizesse, poderia, a um s6 signal seu, # 348 ‘TEACEIUA SEMANA DA QUARESMA. crear mil mundos cada qual mais bonito. Comtudo, apezar de ser todo-poderoso, nfo nos pode offerecer outro dom mais precioso do que este: Cum eset ommipotens, plus dave non potuit.—Deus & sapientissimo, ¢ a sua sabedoria, como diz 0 Real Propheta, no tem limites’. Mas com toda asua sabedoria, no sabe achar um dom mais excellente do que a santissima Eucharistia: Cum esset sapientissimus, plus dare nescivit,— Devs afinal € riquissimo, ¢ os seus thesouros so inesgotaveis. Todavia, com toda a sua ri- queza ndo tem joia mais preciosa ou mais estimavel do que esta para nos presentear: Cum esset ditissimus, plus dare nescivit,—F. a razio € obvia: Na santissima Eucha- ristia Jesus Christo nos dé no sémente a sua humanidade, sendo tambem a sua divindade. Para nos offerecer, pois, outro dom mais excellente do que este, mister seria que nos désse um Deus maior do que elle mesmo; 0 que é impossivel. Tinha razo Isaias em exclamar: Notas facite adinven- tiones eius?— «Publicae, 6 homens, as invengdes amorosas de nosso bom Deus». Se 0 Redemptor nos nao tivesse feito espontaneamente este donativo,. quem é que lh'o ousaria pedir? quem é que se atrevéra a dizerJhe: Senhor, se quereis fazer-nos conhecer o vosso amor, escondei-Vos sob as especies de piio e vinho e consenti que Vos tomemos como nosso alimento? Mas o que nunca poderiam ima- ginar os homens, concebeu-o e cumpriu-o o grande amor de Jesus Christo. © prodigio de amor! Tl, Santa Maria Magdalena de Pazzi costumava dizer que depois da communhao a alma pode repetir a palavra de Jesus: Consummatum est— «Esté consummado>. Visto que o meu Deus se me deu a si mesmo nesta communhdo, elle fez um ultimo esforgo de seu amor para commigo, ¢ no tem mais nada para me dar.—Mas como é, pois, pos- sivel que os homens, de ordinario téo sensiveis a qual- Be. 145s 5. Mis, 12, 4 SEXFARAIRA, 349 quer cortezia que se Ihes faz, ficam tao insensiveis ao dom inapreciavel do Santissimo Sacramento e pagam a Jesus Christo com a mais negra ingratidao?—Ah! meu irméo, se no passado tu tambem foste um daquelles ingratos, pede sinceramente perdao e resolve-te a sacrificar de hoje em diante tudo por Jesus Christo, assim como elle se sacrificou todo por ti neste ineffavel mysterio. © meu Jesus, 0 que € que Vos levou a dar-Vos inteira- mente para nosso sustento? E depois deste dom, que mais Vos resta para nos obrigar a amar-Vos? Illuminae-nos, Senhor, fazeinos conhecer qual foi esse excesso de amor que Vos levou a transformar-Vos em alimento para Vos unirdes a nés, pobres peccadores, Mas se Vos daes inteiramente a nés, justo é que inteiramente nos démos a Vés.—O meu Redemptor, como ¢ que pude offender- Vos, aVés que me haveis amado tanto, e que nfo pou- destes faze mais para ganhar o meu amor? Por mim Vos fizestes homem, por mim morrestes e Vos fizestes meu alimento, Dize-me, que Vos restava fazer ainda? Amo-Vos, Bondade infinita; amo-Vos, Amor infinito; | Fesus, mex Deus, amoVos sobre todas as cousas. Se- nhor, entrae frequentes vezes na minha alma, inflammae- me inteiramente no vosso santo amor, e fazei com que tudo esquesa para sé pensar em Vés e ndo amar sendo a Vés.—Maria Santissima, rogae por mim. Com a vossa intercessio, tornae-me digno de receber muitas vezes o vosso Filho sacramentado. (*II 159.) SEXTA-FEIRA. Commemoragdo das cinco Chagas de Nosso Senhor Jesus Christo. Hauretis ‘squas in gandio de fontibus Salvstoris — «Tirareis com alegrin aguas das fontes do Salvador» (Is. 12, 3). Summario, Ss Chagas de Jesus sio aquellas bemditas fostes predltas por Teaias, das quaos podemos tirar todas as gragas, se as pedimor com 350 TTEMCRIRA SEMANA DA. QUARRSMA. {6 Sto fontes de mitericordia, fontes de esteronga, @ sobretudo fontes de amor; porguanto a sis aguas, so passo que purifcam a alma das rmanchas da culpa, abresam-na_no santo amor. Avisinhemo-nos muitas vezes daquelles fontes do Salvador, para apagar a nossa s#de das gragas. I. As Chagas de Jesus Christo sto aquellas bemditas fontes preditas por Isaias, das quaes podemos tirar todas as gragas, se as pedimos com {€: Haurietis aguas in gaudio de fontibus Salvatoris—«Tirareis com alegria aguas das fortes do Salvador». Sao em primeiro logar fontes de misericordia. Jesus Christo quiz que Ihe fossem traspassados as mfos, 0s pés eo lado sacrosanto, afim de aplacar por nés a di- vina justiga, e a0 mesmo tempo abrit-nos um asylo seguro, no qual nos pudessemos subtrahir ds settas da ira de Deus, Por isso, o Senhor mesmo nos anima, dizendo no Can- tico dos canticos: Vere, pomba minha, nas aberturas da pedra'; isto 6 na interpretagéo de Sdo Pedro Damiso: vem dentro destas minhas chagas, onde acharés todo o bem para tua alma.— Mais expressivas ainda séo as pa- lavras de que se serve na prophecia de Isaias: Lece in manibus meis descripst te®—«Kis ahi que te gravei em minhas maos», Como se dissesse: Minha pobre ovelha, tem animo; Zo ves quanto me custaste? Eu te gravei em minhas méos, nestas chagas que recebi por teu amor, Ellas me solicitam sempre a ajudarte e defenderte de teus inimigos; tem, pois, amor e confianga em mim ‘As Chagas de Jesus sio tambem fontes de esperanca; porquanto, como escreve Sido Paulo, o Senhor quiz. morrer consumido pelas déres, afim de merecer 0 paraiso para todos os peccadores arrependidos e resolvidos a emendar-se: Et consummatus, factus est omnibus obtemperantibus causa salutis*—«E pela sua consummacho foi feito autor da salvacto para todos os que lhe obedecem».— Durante uma enfermidade, Séo Bernardo se viu certa vez transportado "Cant. ay 44. FIs, 49, 16. 8 Hebr. 5, 9. SEXTAPEIRA. 351 perante o tribunal de Deus, onde o demonio 0 accusava de seus peccados ¢ lhe dizia que nao merecia 0 céu Respondeu-lhe entdo o Santo: +E verdade que eu nZo me rego 0 paraiso; mas Jesus tem dous direitos para este reino: um por ser Filho verdadeiro de Deus, outro por tel-o me. recido com a sua morte. Contentando-se com o primeiro, cedeu-me o segundo, em virtude do qual peco e espero a gloria celeste», E isto, meu irmao, 0 que nés tambem podemos dizer: As Chagas de Jesus Christo sio os nossos merecimentos, a nossa esperanga: Vulnera tha merita mea. Il. As Chagas de Jesus Christo sao, em terceiro logar, fontes de amor; porque as aguas que alli brotam, puri- ficam as almas € a0 mesmo tempo abrasam-nas daquelle santo fogo que o Senhor veiu accender sobre a terra nos coragGes dos homens, Pelo que Sio Boaventura ex- clama: «© Chagas que ferls os coragées mais duros e abrasaes as almas mais frias de amor divino.» Sao Paulo protestou solemnemente de si: Non enim iudicavi scire me aliquid inter vos, nisi Iesum Christum, et hue crucifixum'— «Nao entendi saber entre vés cousa alguma sento a Fesus Christo, e este crucificado. Nao ignorava, de certo, 0 Apostolo que Jesus Christo nascera numa gruta, que passdra trinta annos de sua vida numa officina, que resuscitéra e subira ao céu. Nao obstante isso diz que n&o queria saber sentio de Jesus crucificado, Porque este mysterio o excitava mais a amal-o, visto que as sagradas Chagas Ihe diziam o amor immenso que Jesus nos teve.—Recorramos, pois, frequentes vezes por meio de uma meditagdo attenta, a estas fontes divinas do Sal- vador: Omnes sitientes venite ad aquas?—<¢Todos vés os que tendes séde, vinde ds agnass Eterno Pae, langae vossas olhos sobre as Chagas de vosso divino Filho: estas Chagas Vos pedem todas as Vr Cor, 2, 2 "Is. 55,1. : ERCEIRA SEMANA DA QUARRSMA, 352 misericordias para mim; perdoae-me, pois, as Vos fiz; apoderae-Vos de meu coragdo todo, para que nfo ame, busque nem deseje cousa alguma fora de Vés. © Chagas de meu Redemptor, formosas fornalbas de amor, recebeime e inflammae-me, no com o fogo do inferno que merego, mas com a santa chamma de amor a este Deus que quiz morrer por mim, 4 forga de tormentos. — cE Vés, Eterno Pae, que pela paixio de vosso Filho unigenito e pelo sangue que elle derramou por suas cinco chagas, renovastes a natureza humana, perdida pelo pec que, venerando na terra estas offensas que cado: concedei-me propicio chagas divinas, eu merega conseguir no céu o fructo do sangue preciosissimo de Jesus.»1—Faze-o pelo amor do proprio Jesus Christo ¢ de Maria Santissima, (*1 588.) SABBADO. ‘Terceira Dor de Maria Santissima — Perda de Jesus no templo. Ecce pater tuus et ego dotentes quaerebamus te— «Bis que teu pace a ie andavamos buscando cheios de afficgtor (Luc. 2, 48). . Summario, A dbs de Maria pela perda de Jesus foi sem éuvida anna des mais acerbas; porgue ella ento sofria longe de Jesus, ¢ a humildade faristhe erér que © Filho se tinka apartado della por causa de alguma negligencia sua, Sirva.nos esta dér de conforto nas desolagGes espirituaes; cal ‘a Deus, se jamais para nossa desgrags Viermos a perdelo por nossa culpa, Lembremonos, porém, de que quem ‘nfo o deve buscar entre os prezeres e delicias, mas assim como Maria 0 procurot fe ensine-nos @ modo de buscarmos auizer achar a Jesus, no pranto, entre as crures mortificagses, I. Quem nascer cego, pouco sente a pena de ser pri vado de vér a luz do dia; mas quem noutro tempo teve muita pena sente em se vér della a vista e gozou a luz, cegas privado. E assim egualmente as almas infelizes que, pelo lodo desta terra, pouco teem conhecido 2 Deus, pouce Or, festi curr. SABADO, aes sentem a pena de o nfo acharem. Ao contrario, quem, illuminado pela luz celeste, foi feito digno de achar no amor a doce presenga do supremo Bem, 6 Deus! que tristeza sente em vér-se della privado, ‘Vejamos portanto o muito que a Maria, acostumada a gozar continuamente a dulcissima presenga de seu Jesus, devia ser dolorosa a terceira espada que a feriu, quando, havendo-o perdido em Jerusalem, por tres dias se viu delle separado.— Alguns escriptores opinam que esta dér no foi sémente uma das maiores que teve Maria na sua vida, mas que foi em verdade a maior e mais acerba. E com razio, porque entao ella nfo soffria em companhia de Jesus, como nas outras déres; e porque a sua humil- dade Ihe fazia crér que Jesus se tinha afastado della por alguma negligencia no seu servigo, Por esta razfio aquelles tres dias Ihe féram excessivamente longos e se Ihe affigu- raram seculos, cheios de amargura e de lagrimas, Num quem diligit anima mea vidistis \— «Vistes por- ventura dquelle a quem ama a minka almar> ¥ assin que a divina Mae, como a Esposa dos Cantares, andava perguntando por toda a parte. E depois, cansada pela fadiga, mas sem o ter achado, oh, com quanto maior ter- nura ndo terd dito o que disse Ruben de seu irmao: Puer non comparet, et ego quo ibo?®—«O menino n&o aparece, =e eu para onde irei?» O meu Jesus nfo aparece, e eu no sei que mais possa fazer para o achar; mas aonde irei sem o meu thesouro? Ah, meu filho dilecto! cara Inz de mens olhos: faze-me saber onde est4s, afim de que eu ndo ande mais errando e buscando-te em vio, Numa Palavra, affirma Origenes que pelo amor que esta santa i Mae tinha a seu Filho, padeceu mais nesta perda de Jesus, que qualquer outro martyr no tormento que o privou da vida, "Cant. 3, 3. ? Gen. 37, 30. 8. Aone, MitagBes. 1, 23 q 354 'TERCEIRA SEMANA DA QUARESMA. IL. Esta dér de Maria, em primeiro logar, deve servir de conforto dquellas almas que esto desoladas € nao gozam a doce presenga de seu Senhor, gozada em outros tempos. Chorem, sim, mas chorem com paz, como chorou Maria a ausencia de seu Filho. Nao temam por isso de terem perdido a divina graca, animando-se com que disse Deus mesmo a Santa Theresa: «Ninguem se perde sem 0 conhecer; ¢ nivguem fica enganado sem querer ser enganado.»—Se 0 Senhor se ausenta dos olhos da alma que 0 ama, nem por isso se ausenta do coragio. Esconde-se muitas vezes para ser por ella buscado com mais desejo ¢ amor. Mas quem quer achar a Jesus, é preciso que o busque, nfio entre as deiicias e os prazeres do mundo, mas entre as cruzes e mortificag6es, como 0 buscou Maria: Dolentes quacrebamus te— «Nés te andava- mos buscando cheios de affliccaor. ‘Além disso, neste. mundo nfo devemos buscar outro bem sendo Jesus. Job nao foi, por certo, infeliz quando perdeu tudo o que possuia neste mundo, até descer a um monturo. Porque tinha comsigo Deus, tambem entdo era feliz, Verdadeiramente infelizes e miseraveis sto aquellas almas que perderam a Deus. Se, pois, Maria chorou a ausencia do Filho, quanto mais deveriam chorar os pecca- dores que perderam a divina graca, e aos quaes Deus diz: Vos non populus weeus, et ego non ero vester’— «Vos nito sois meu povo, e eu n&o serei mais vossor. ‘Mas a maior desgraga para aquellas pobres almas, diz Santo Agostinho, ¢ que, se perdem um boi, ndo deixam de procuralo; se perdem uma ovelha, néo poupam dili- gencia para achal-a; se perdem um jumento, ndo teem mais Tepouso; mas se perdem o summo Bem, que é Deus, comem, bebem e ficam quietos.—Ah, Maria, minha Mae amabi- lissima, se por minha desgraga eu tambem perdi a Jesus 10s. 10 QUARTA SEMANA DA QUARESMA. 385 pelos meus peccados, rogo-vos, pelos meritos das vossas déres, fazei que eu depressa o v4 buscar € 0 ache, para ‘nunca mais tornar a perdel-o em toda a eternidade. (*1 238.) QUARTO DOMINGO DA QUARESMA, A multidado faminta e as almas do purgatorio. Unde ememus panes ut manducent hi?— «Onde compraremos piles para que estes comam?s (Lo. 6, 5,) Sumario. tenra compaistio que moveu o Senhor « multiplicar os pbtes para dar de comer & multidto que © seguia, deve movernos a s0. correr as almas do purgatorie, que so muito mais numerosas © muito rafs fomintas de seu alimento espiritual, que 6 Deus. O meio principal de que devemos usar para thes levar soccrro, 6 a santissima Eucharista, Bm suffagio dessas almas, visitemos frequentemente a Jesus sucramentado; sproximemonos da mesa da communhto, e, se 080 podemos mandar elebrar missts, ougamas ao menos todas a8 que as nossas occupapies, nos permittam ouvir I. Refere o Eyangelho que, estando Jesus assentado sobre um moite, levantou os olhos, e viu ao redor de si uma multiddo de quasi cinco mil pessoas, que o seguiam, Porque viam os milagres que fazia sobre os enfermos. Em seguida, sabendo que um mogo tinha cinco pies de ce- vada ¢ dous peixes, tomou-os em suas méos, e, tendo dado gragas, os mandou distribuir 4 multiddo. Nao sémente houve o bastante para todos se fartarem, mas com os pedagos que sobejaram, os apostolos encheram doze cestos. Eis ahi o grande milagre que Jesus Christo fez por com- paixiio de tantos pobres corporalmente. Ora, € justo, ou para dizer melhor, & necessario que tenhamos compaixdo das almas de outra multidaio muito mais numerosa e incomparavelmente mais faminta do seu alimento espiritual: devemos compadecer-nos das almas bemditas do purgatorio,—Pobres almas! Séo muitas as penas que padecem naquelle carcere de tormentos; porém, acima de tudo afflige-as a privagio da dulcissima presenga de Deus, cuja belleza infinita jf conhecem. Nao ha na 23° 356 QUARTA SEMANA DA QUARESMA. linguagem humana palavras appropriadas para exprimir qual seja esta pena; mas ainda que possuissemos as palavras adequadas, faltar-nosia a capacidade de comprehendelas, preoccupados como estamos com as cousas terrestres. Mas a pena que a privacéo de Deus traz comsigo, & bem comprehendida pelas pobres almas que a padecem. Por isso levantam a sua voz lamentosa e pedem-nos que Ihes saciemos a fome inconcebivel de contemplarem quanto antes 0 objecto de seu amor: Miseremini mei, saltem vos, amici mei, quia manus Domini tetigit me\— «Com padecei-vos de mim, ao menos vis, gue sois meus amigos, ‘porque a mito do Senhor me feriu». IL O milagre da multiplicagdo dos pies, assim como se conclue do Evangelho, foi feito para provar a presenca verdadeira de Jesus na Eucharistia; e mesmo, segundo observam os Doutores, foi uma figura da Mesa eucharistica. Eis, pois, 0 meio efficacissimo de que, 4 imitagdo do Re- demptor, devemos lancar mio para saciatmos a fome das almas bemditas do purgatorio,— Visitemos muitas vezes © divino Sacramento, communguemos com frequencia; sobretudo mandemos celebrar em allivio das almas o sacri: ficio incruento da missa, ou a0 menos ougamos para suffcagal-as todas as missas que pudermos, «Cada missa que se celebra>, diz So Jeronymo, «faz sahir varias almas do purgatorio.» E Sao Gregorio accrescenta: «Quem as- siste devotamente 4 missa, allivia as almas dos fieis de- fantos e contribue para Ihes serem perdoados completa- mente os peccados.> elo que uma pessoa muito devota ds almas do purgatorio, cada vez que ouvia tocar a entrada para uma missa, affi- gurava-se vér as almas no meio das chammas e ouvir os seus gritos lastimosos ¢ angustiados.

También podría gustarte