Está en la página 1de 3
TaN woRRTs Asmeninas venerianas andam sempre muito bem vestidss, ‘mas normalmente séo adoriveis,e quanto mais desmazelados forem os garotos de ra, mas familiares parecerio 20 vsitante inglés, pois quanto mais se desce na escala social para longe dos srandes palicios e em diecso aos apartamentos, por aspecto tém as criangas, e parecem mais & vontade, menos abatidas, emai rurbulentas, até que por fim, no meio da casas mise- 12s dos barros pobres, vamos encontrar meninos © meninas de olhos tio azis, de cabelo to claro, tio atrevides, amisto sas. desalinhadas que se imagina estar em Inglaterra, no nosso jaedim, tentando sem resultado que o Henry lve as mos an- tes do chi ou afastando o Mark da sua colecgao de minhocas. Por vezes penso que os venezianos gostam anda mais dos seus animais de estimasio, Em Veneza, nunca vi um animal mal tratado, Jéna época dos romanos, os habitanes do Veneto cram tio carinhosos com os seus animais que sentiam repul- sa pelos circos sangrentos daquela épocae preferiam corridas de carts. So poucas as criangas mortais que aparecem nos quads dos mestres venezianos, mas quase todos os pintores representaram aves outros animais, ds periquitos de Duar Damas Voecianss, de Carpaccio, 2 grande € belo retriever aque se encontra em primeiro plano na Cea om Casa de Levi, de Veronese, Pela arte venezian, passea-se um sem-ntimero de ciezinhos, uma coleegio de lees, camelos, drapes, pa- wes, cavalose réptcis raros. Certa vez fu ver uma exposigao ‘em que eapresentavam ceca de so retratos, todos do mesmo artista todos de uma execusio meticulosa, todos carisimos todos do mesmo gato. ‘Veneza¢ uma suprema cidade de gatos, comparivel na mi- nha experiéncia apenas a Londres ea Alepo. E uma metrépole de gatos. No passado, as autoridades sanitris realizavam ca- ~86— «as esporidicas para erradicar os gatos vadios que rebuscavam 6 lixo: mas os venezianos gostam tanto dos seus gatos, mesmo dos mais tinhosos e sarnentos, que estas campankas acabavam sempre num vergonhoso falhanco, ¢ os animais, bufando e ar- ranhando quem neles pegava, eram escondidos nos patios das ‘rascras ou em caixas, até 0s homens dos servigos de higiene pblica se irem embora. Assim, a populacio de gatos aumenta de ano para ano. Alguns levam uma vida estranhamente pro- tegida ¢ raramente podem sair 3 rus, aparecendo de vez em «quando como se fossem freiras, em varandas exiguas ¢ inaces- siveis. Muitos mais sio apenas meio domesticados e vivem da caridade em canosde esgoto velhos a que cidadios compadeci- dos tiraram as grades, debaixo dos assentos de gondolas fora de servigo ou nos recessos emaranhados de jardins abandonados. “Todas as manhis se véem gatos a devorar os indigestosrabos € tripas de peixe, ¢ pasta, embrulhados em jornal que os habitan- tes lhes pem no chdo: ¢ em quase todas as tardes de Inverno, hhé uma senhora idosa que vai alimentar os gatos dos Jardins Reais, perto de S. Marcos, enquanto um homem de amplo so- bretudo manipula fluxo de um bebedouro préximo de modoa lancar um jacto de égua para um declive entre as pedras do pas- seio, formando assim um lavatério ou banheira para os gatos. (Os gatos so animais estranhos ¢ por vezes excéntricos. Embora estejam constantemente a comer ¢ muitas vezes ar repiem os bigodes com fastio ao cheirar uma sagalhada de es- pparguete pousada numa soleia,éraro serem gordos: 0s tinicos gatos gordos de Veneza (sem pensar no Nata, altura em que ;passum por um inchaco sazonal) so os que cagam ratos nas igrejas. Nunca sio tratados com severidade, ¢ muitas vezes so bastante mimados, mas costumam ser muito timidos. Quase nunca trepam a érvores. Nao respondem ao chamamento de a sbichano, bichanos, mas quem for até junto da estitua de Giu- liano Oberdan, ao fundo dos Jardins Pablicos, e fizer um baru- tho semethante a «chuirque, chuirques, ouve um restolhar de ‘caudas por entre os arbustos, como de peixes a cairem numa rede, ©€ certo que de li sai uma pequena multidio de gatos para o saudar. Numa trattoria junto do Rio del Ponte Lungo, ‘no Canal da Giudecca, havia um gatinho branco com um olho amarelo ¢ outro azul: isto talvez lembre aos otologistas, fiquei ‘ew a saber por uma carta & revista médica The Lancet, da ma-

También podría gustarte