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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos estar
preparados para dar a razáo da nossa
esperanga a todo aquele que no-la pedir
(1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos conta


da nossa esperanca e da nossa fé hoje é
mais premente do que outrora, visto que
somos bombardeados por numerosas
correntes filosóficas e religiosas contrarias á
fé católica. Somos assim incitados a procurar
consolidar nossa crenca católica mediante
um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


■ - Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
'] controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca no
Brasil e no mundo. Queira Deus abencoar
este trabalho assim como a equipe de
Veritatis Splendor que se encarrega do
respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaca depositada
em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral
assim demonstrados.
Ano xl Novembro 1999 450

"Vem para o Pai..."

As Apariipóes de Fátima: Contestadas...

Copérnico e Galileu lanzados na fogueira?

O "mau espirito" do Senhor

Neurolingüística: que é?

E aqueles que dizem "NAO" a Deus?

O "NAO" aos anticoncepcionais admite excegáo?

Homossexual adota crianza


PERGUNTE E RESPONDEREMOS NOVEMBRO1999
Publica9áo Mensal N°450

Diretor Responsável SUMARIO


Estéváo Bettencourt OSB "Vem para o Pai..." 481
Autor e Redator de toda a materia Sensacionalismo:
publicada neste periódico As Aparicóes de
Fátima: contestadas 482
Diretor-Administrador:
Mal-entendidos:
D. Hildebrando P. Marlins OSB
Copérnlco e Galileu lancados
na fogueira? 495
Administracáo e Distribuicáo:
Edicóes "Lumen Christi" Sondando a Biblia:
O "mau espirito" do Senhor 506
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5o andar - sala 501
Tel.: (021) 291-7122 Urna nova ciencia:
Fax (021) 263-5679 Neurolingüfstica: que é? 510
Um católico pergunta:
Endereco para Correspondencia: E aqueles que dizem "NAO" a Deus? .. 519
Ed. "Lumen Christi"
Quemsabe?
Caixa Postal 2666 O "NAO" aos anticoncepcional admite
CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ excecáo? 523

Visite o MOSTEIRO DE SAO BENTO Homossexual adoia enanca 526

e "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
na INTERNET: http://www.osb.org.br
e-mail: LUMEN.CHRISTI @ PEMAIL.NET

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

NO PRÓXIMO NÚMERO:

«Deus. A Evidencia» (Patrick Glynn). - «Deus. Urna Biografía» (Jack Miles). -


«Neopentecostais» (Ricardo Mariano). - Os Apócrifos (Evangelho de Nicodemos: A Des-
cida de Jesús aos Infernos). - Os Mártires de Cunhaú e Uruacú (RN).

(PARA RENOVACAO OU NOVA ASSINATURA: R$ 35,00).


(NÚMERO AVULSO R$ 3,50).

O pagamento poderá ser á sua escolha:

1. Enviar em Carta, cheque nominal ao MOSTEIRO DE SAO BENTO/RJ.

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Obs.: Correspondencia para: Edicóes "Lumen Christi"


Caixa Postal 2666
20001-970 Rio de Janeiro - RJ j
"VEM PARA O PAL."

O mes de novembro se abre com duas celebrares muito significativas


para o cristáo: a Solenidade de Todos os Santos e a Comemoracáo de Todos os
Fiéis Defuntos. Ambas voltam a atencáo do cristáo para o termo final da sua
caminhada na Térra, lembrando-lhe que ele é um viandante em demanda dos
valores definitivos ou um peregrino do Absoluto. É salutar pensar nisto, embora
muitas pessoas fujam de tal recordacáo, julgando-a de mau agouro.

Parece, porém, que urna cortina de compromissos ¡mediatos dificulta pen


sar no além; geralmente temos compromissos urgentes para hoje mesmo, para
amanhá, para a semana que vem... de modo que as realidades definitivas ficam
muito encubertas; pode-se ter a impressáo de que o além é pálido em compara-
cáo com tantas obrigacóes que absorvem de ¡mediato o cristáo; ele pensará
entáo no Definitivo quando já estiver livre de compromissos ou no fim da vida
(que ninguém sabe quando será, e que muitos tendem a postergar para "daqui a
muitos decenios"). A propensáo a pensar assim é sorrateira, quase inconsciente
e, por isto mesmo, altamente nociva. A única certeza que todo ser humano tem
desde que nasce, é a de que há de morrer para este mundo em data muito
incerta. Faz-se, portante, necessário superar essa tendencia e tomar conscién-
cia do caráter relativo e passageiro de tudo o que pode absorver o cristáo. Existe,
sim, urna outra vida, muito mais plena do que a do viandante na Térra.

E como ter certeza disto? Como nao crer que tudo acaba no vazio ou no
zero?

- Em resposta diremos: basta observar como a natureza é cheia de


binomios ou de demandas que tém sua resposta adequada. Sim; se existe olho
(todo feito para captar a luz), existe a luz; se existe o ouvido (todo feito para captar
o som), existe o som; se existe o pulmáo para respirar, existe o ar que ele respi
ra... Estas aspiracóes, o ser humano as tem em comum com os viventes irracio-
nais; elas nao sao frustradas. E que dizerdas aspiracóes típicas da pessoa hu
mana? - Fomos feitos para desejar ardentemente a Verdade, o Amor, a Vida, a
Felicidade, a Justica... Ora nenhum destes valores se encontra adequadamente
na vida presente: a verdade é ameacada pelo erro, o amor pela traicáo, a vida
pela morte... Porconseguinte, deve existirá resposta cabal para os nossos anseios
no além. Caso nao a houvesse, o ser humano seria a mais absurda de todas as
criaturas, pois estaría condenado á frustracáo mais profunda. Eis por que neste
mes de novembro o cristáo reafirma a sua certeza de que ele foi criado para o
Infinito, a ser conquistado com a graca de Cristo mediante a dedicacáo ao Reino
de Deus no seu dia-a-dia.

Ao emergí r ácima dos afazeres temporais, recolhido em oragáo, o cristáo


ouve as palavras que S. Inácio de Antioquia (t 107) ouvia, quando levado para a
morte do martirio: "Urna agua viva fala dentro de mim e diz: 'VEM PARA O PAH'
[Aos Romanos 7,2). Essa agua viva é símbolo do Espirito Santo (cf. Jo 7,37-39),
que move o coragáo do crismo e o estimula a perseverar como caminheiro intré
pido em meio ás seducóes da estrada.
E.B.

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XL - Ns 450 - Novembro de 1999

Sensacionalismo:

AS APARIQÓES DE FÁTIMA: CONTESTADAS...

Em síntese: Urna noticia vinda de Portugal e difundida pela televi-


sao no Brasil proclamou a nao autenticidade das apangues de Fátima.
Tratar-se-ia de ficgáo forjada pela Igreja Católica para se imporao Gover-
no Portugués da época; terio favorecido a ditadura salazarista e
infantilizado o povo portugués. - O presente artigo responde a tais alega-
góes, mostrando que elas vém tarde demais, poisjá decorreram mais de
oitenta e dois anos das aparigóes (1917). Os tres videntes foram amea-
gados de gravespunigóes por estarem "mentindo e sonhando", mas nem
por isto se retrataram ou contradisseram; nada foi neles encontrado que
provasse doenga mental ou desonestidade. Por conseguinte, nao faltou
senso crítico a opiniao pública na ocasiao mesma dos fenómenos; se
nada conseguiu apurar em desabono, é difícil crer que oitenta e dois
anos depois a crítica seja mais feliz em suas alegagóes.

A TV Globo transmitiu aos 11/7/99, pelo programa "Fantástico", a


sensacional noticia de que um padre portugués escreveu um livro afir
mando a nao autenticidade das aparicóes de Fátimá: te rao sido forjadas
pela Igreja Católica para dissipar o clima de perseguicáo aos católicos
em Portugal na segunda década do século XX; as tres enancas teráo
sido instruidas para narrar o que nao aconteceu, fazendo-se porta-vozes
da mentira. Assim terá conseguido impor-se o Governo de Oliveira Salazar
e Portugal terá sido infantilizado sob o dominio da Igreja.

A acusacáo é, sem dúvida, pesada... Todavia nao apresenta prova


alguma; consta de afirmacóes gratuitas, de modo que carecem de valor
científico. Além do qué, vém tarde demais, ou seja, oitenta e dois anos
após as ocorréncias em Fátima (1917). Na própria época das aparigóes
a opiniáo pública, tanto na Igreja como no foro civil, levantou-se, contes-

482
AS APARICÓES DE FÁTIMA: CONTESTADAS...

tando severamente as tres criancas videntes e ameacando-as de peno


sos castigos por ser "mentirosos e sonhadores embusteiros"; todavía,
por mais que se insurgisse o senso crítico naquela ocasiáo, nada foi de
tectado que demonstrasse haver doenca mental ou desonestidade e
fraudulencia por parte dos videntes e dos seus mentores; ao contrario, os
videntes se mantiveram intrépidos em suas afirmacoes, contrariando os
próprios genitores e o pároco local. Por conseguinte, se nada foi apurado
em desabono das aparicóes quando ao vivo ocorreram, nao é de crer
que oitenta e dois anos mais tarde, sem base alguma, numa alegacáo
preconceituosa, a crítica consiga merecer crédito; ela apresenta, a gran
de distancia, urna tentativa de reconstituir os fatos que nao somente é
gratuita, mas se evidencia tendenciosa.

É de notar, alias, que o jornal A FOLHA UNIVERSAL, da Igreja


Universal do Reino de Deus, em sua edicáo de 2/5/99, pág. 1-B apresen
ta longo artigo em que propóe a mesma interpretacao politizante dos
acontecimentos de Fátima. Disserta, porém, sem citar pravas ou funda
mento para suas afirmacoes. Ora o que é gratuitamente afirmado, tam-
bém pode ser gratuitamente negado. Mais urna vez se dirá: a ¡nterpreta-
cáo racionalista já vem tarde, pois ocorre 82 anos após os fatos. O que
importa por em relevo é a convergencia da noticia da TV-Globo, que
atribuí a ¡nterpretacáo a um padre suspenso de ordens, e a posicáo da
FOLHA UNIVERSAL.

Ñas páginas seguintes, seráo descritos sumariamente os fatos de


1917; ao que se seguirá a narracáo de como os videntes foram maltrata
dos e perseguidos no decorrer dos meses das aparicóes.

1. A Seqüéncia dos Fatos

De maio a outubro de 1917 a Virgem María apareceu seis vezes a


tres pastorezinhos, chamados respectivamente Lucia, Jacinta e Francisco.

Lucia era a filha mais jovem de um casal de cinco herdeíros. Nas-


ceu aos 22/03/1907 em Aljustrel (Fátima). Fez a primeira Comunháo com
seis anos e meio. Tornou-se pastora aos nove anos, aínda analfabeta. Só
freqüentou a escola depois das aparicóes. Aos 19/06/1921 foi para o
educandário das Irmas Dorotéias em Vilar (Porto). Tornou-se Religiosa,
professando como Irma conversa aos 13/11/1938. Aos 13/05/1948 en-
trou no Carmelo de Coimbra, onde tomou o nome de Irma María Lucia do
Coracáo Imaculado, e onde aínda vive. Consta que Lucia foi agraciada
com novas aparicóes de María SS. aos vinte e trinta anos de idade.

Jacinta nasceu aos 10/03/1910 em Aljustrel. Ela e Francisco eram


primos de Lucia. Fez a Primeira Comunháo após as aparicóes, em maio
de 1918. Morreu aos 20/02/1920 com dez anos de idade, vítima da gripe
espanhola. Lucia, em seus cadernos, atribui-lhe os dons da profecia, da

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"PBRGUNTE E RESPONDEREMOS" 450/1999

ciencia infusa e diversas visitas de Nossa Senhora durante a sua última


enfermidade.

Francisco nasceu aos 11/06/1908. Nunca freqüentou a escola. Nao


foi admitido á primeira Comunháo com sua irmá em maio de 1918. Só
comungou das máos de um sacerdote sob forma de Viático ou pouco
antes de morrer. Faleceu também de gripe espanhola aos 4/04/1919.

Os despojos de Francisco e Jacinta repousam na basílica da Cova


da fría (local das aparicóes). Em dezembro de 1950 foi aberto o processo
canónico para a sua Beatificacáo. O que diz respeito á vida íntima e pe
nitente das duas criancas, nos é manifestado quase exclusivamente pe
los cadernos de Lucia. Em junho de 1999 o processo chegou ao termo
final, devendo a cerimónia de Beatificacáo ocorrer no ano 2000. Obser-
vam os promotores da Causa que esta vem ilustrar as palavras de Jesús:
"Se nao vos converterdes e nao vos tornardes como as criancas, de modo
nenhum entrareis no Reino dos Céus" (Mt 18, 3).

A historia das aparicóes comeca em 1915, quando Lucia (com oito


anos de idade) e tres outras meninas, na encosta do Cabeco, avistaram
urna figura branca, que identificaram com um anjo.

Em 1916 Lucia, Jacinta e Francisco viram por vezes um anjo que


se identificou como "o Anjo da Paz" e "o Anjo de Portugal". Tinha a apa-
réncia de um jovem, que exortou as criancas a rezar pelos pecadores;
por ocasiáo da terceira visita, trazia na máo um cálice, dentro do qual
caiam gotas de sangue provenientes de urna hostia.

Aos 13 de maio de 1917, na Cova da íria, a dois quilómetros de


distancia de Aljustrel e ao meio-dia, os tres pastorezinhos tiveram a pri
meira aparicáo de Nossa Senhora, que Ihes pediu voitassem aos treze
dias de cada um dos meses subseqüentes. Estes encontros ocorreram
como programados, exceto em agosto, quando as tres criancas estavam
presas no dia previsto, o que deslocou a aparicáo para 19/08 em Valinhos.

Por ocasiáo da terceira aparicáo, em julho, Lucia recebeu a comu-


nicacáo de um grande segredo composto de tres partes. Como se com-
preende, tal segredo nao foi revelado senáo mais tarde "por pura obedi
encia e com permissáo do céu" (como disse Lucia).

A última aparicáo, aos 13/10/1917, foi acompanhada do "milagre


do sol": cerca de 70.000 pessoas disseram ter visto o sol girar sobre si
mesmo, projetando em todas as direcóes feixes de luz cujas cores varia-
vam; a seguir, o disco solar precipitou-se aparentemente em direcáo da
multidáo, irradiando calor cada vez mais intenso; por fim, voltou á sua
posicáo normal. O fenómeno terá durado cerca de dez minutos.

Examinemos agora

484
AS APARigÓES DE FÁTIMA: CONTESTADAS...

2. A atitude da Igreja

Diante dos acontecimentos da Cova da íria, as autoridades eclesi


ásticas foram, a principio, muito cautelosas. A diocese de Leiria, á qual
pertence a Cova da íria, estava sem Bispo em 1917. O novo titular da
sede, D. José da Silva, tomou posse em 5 de agosto de 1920; o prelado
mandou abrir um inquérito sobre os acontecimentos em 1922, ou seja,
cinco anos depois das ocorréncias; urna comissáo de sete peritos dedi-
cou-se a examinar os tatos e, finalmente, aos 14/04/1929 apresentou
seu relatório ao Bispo diocesano; este, tendo levado ao Papa a noticia
das conclusóes obtidas, declarou aos 13 de outubro de 1930, perante
cem mil fiéis, que eram dignas de crédito as aparicóes da Cova da íria.
Aproximando-se o vigésimo quinto aniversario das aparicóes, o Sr.
Bispo de Leiria deu ordem á vidente para que pusesse por escrito tudo
quanto ela pudesse revelar. Lucia entio, "tendo obtido licenca do céu e
agindo por pura obediencia", redigiu quatro relatos de Memorias (data
das de 1936,1937, agosto e dezembro de 1941), com letra clara e fluen-
te, demonstrando estar alheia a qualquer pretensáo literaria.

É no terceiro Memorial, datado de 30 de agosto de 1941, que a


Religiosa se refere ao segredo, dedicando-lhe cerca de quinze páginas,
ñas quais diz brevemente o seguinte:

A mensagem consta de tres partes, duas das quais seriam ¡media


tamente reveladas, devendo ficar a terceira ainda oculta. Com efeito, o
Cardeal Ildefonso Schuster, arcebispo de Miláo, em sua Carta Pastoral
da Quaresma de 1942, deu publicidade ás duas primeiras seccóes. A
terceira ficou em envelope lacrado, sobre o qual se lia: "Nao abrir antes
de 1960"; interrogada sobre o motivo desta restricáo, Lucia respondía
invariavelmente: "A SS. Virgem o quer assim".

A primeira parte compreendia urna visáo do inferno: Lucia, Fran


cisco e Jacinta perceberam como que um grande mar de fogo e nele
mergulhados os demonios e as almas. Estas assemelhavam-se a brasas
transparentes e negras ou bronzeadas com forma humana, as quais eram
arremessadas para todos os lados como fagulhas num enorme incendio.
Os demonios distinguiam-se por ter a forma asquerosa de animáis es
pantosos e desconhecidos, assemelhando-se a carvóes em brasa. - Está
claro que nao se deve dar valor estrito a estas expressóes: o demonio
nao tem a forma de animal espantoso, pois nao possui corpo, nem as
almas dos reprobos se apresentam com forma humana. Trata-se de meras
¡magens literarias, único artificio apto para incutir ás chancas urna nocáo
aproximada dos horrores espirituais ou da dilaceracáo interior que é o
inferno.

Na segunda parte do segredo, Nossa Senhora se referia á Rússia:

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 450/1999

"A guerra (de 1914-1918) vai acabar; mas, se nao deixarem de


ofender a Deus, no reinado de Pió XI comegará outra pior.

Quando virdes urna noite iluminada por urna luz desconhecida, sabei
que é o grande sinal que Deus vos dá, de que vai a punir o mundo de
seus crimes por meio da guerra, de fome e de perseguigáo a Igreja e ao
Santo Padre.

Para impedir, vireiapedira consagragáo da Rússia a meu Imaculado


Coragáo e a Comunháo reparadora dos primeiros sábados.

Se atenderem a meus pedidos, a Rússia converter-se-á e teráo


paz; se nao, espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e
perseguigoes a Igreja. Os bons seráo martirizados; o Santo Padre terá
muito que sofrer; varias nagóes seráo iniquiladas...

Por fim, o meu Imaculado Coragáo triunfará!"

Nesta mensagem chama-nos a atengáo, entre outras coisas, a pre-


dicáo de nova guerra mundial (1939-1945), predicao feita sob o governo
do Papa Bento XV (1914-1922), a qual se refere ao pontificado de Pió XI
(1922-1939), e nao de Pió XII.

Aos 31 de outubro de 1942, ou seja, pouco depois de publicada a


mensagem de Fátima, o S. Padre Pió XII, fazendo eco aos dizeres da
mesma, consagrou o mundo ao Coragáo Imaculado de María. Note-se
que nao consagrou apenas a Rússia, mas o mundo inteiro... - o que se
deve ao desejo de nao provocar duras reacóes da parte do Governo so
viético; os Padres Moresco e Fonseca, como se julga, teráo contribuido
para que Pió XII proferisse um ato de consagragáo do mundo inteiro,
com discreta mencáo da Rússia soviética.

Aos 7 de julho de 1952, Pió XII quis consagrar o povo russo ao


Coragáo Imaculado de María. Aos 21 de novembro de 1964, Paulo VI
renovou a consagragáo do mundo ao Coragáo Imaculado de María... Aos
13 de outubro de 1956, em nome do Papa Pío XII, o Cardeal Eugenio
Tisserant benzeu em Fátima o Centro Internacional do "Exército Azul",
sociedade que se encarregava de levar a devogáo mariana ao mundo
inteiro. Estes e outros fatos mostram que a Igreja, embora nao se tenha
pronunciado solenemente sobre a autenticidade da mensagem de Fáti
ma, nao deixou de levar em consideragáo os fatos ai ocorridos em 1917.

A terceira parte do segredo, devendo ficar lacrada até 1960, nao foi
revelada naquele ano... Isto deu ocasiáo a que numerosas conjeturas
fossem propostas pela imprensa para interpretar o "segredo"; as previ-
sóes derivadas deste eram escabrosas e trágicas, baseadas na fantasía
e no gosto do sensacional.

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AS APARICÓES DE FÁTIMA: CONTESTADAS...

Na verdade, os meios de comunicacáo social ignoram o conteúdo


desse terceiro segredo, mas exploram-no abusivamente. A Igreja nao
fala disso, porque nao tem importancia decisiva; o que ela pede, é Ora-
9áo e Penitencia, em consonancia com as mensagens de Lourdes e Fátima.
Vejamos como foram maltratados os tres videntes de Fátima, em
vez de ser instigados pelos adultos a desempenhar urna farsa ou um
teatro ficcionista.

3. A perseguicáo as criancas

3.1. Após a primeira aparicáo

A descricáo que se segué, é tirada do livro Fátima: Graca. Segre-


dos. Misterios, de Antera de Figueiredo (Lisboa 1936, 6a edicáo).

Depois da primeira aparigáo, na morada de seus país, após ceia e


rezas, o quieto Francisco deitou-se; porém a irmá, a Jacinta, comegou a
rabear pela casa, agitadita.

- Sao horas, vai para a cama, Jacinta. Que andas tu a sarilhar?,


dizia, da sua cama, a sra. Olimpia.

Mas a pequeña, sempre inquieta, nao Ihe apetecendo nada dormir,


sentía que Ihe era impossfvel guardar por mais tempo aquela Imensidade
que Ihe enchia o peito pequenino: precisava desabafar! Entáo, nao tendo
máo em si, correu a abragar-se na máe e despejou-lhe na alma a sua
alegría bela e sagrada:

- Minha máe, vi hoje Nossa Senhora na Cova da fría!


- Credo! Que estás a dizer, exclamou, sentándose na cama, aque
la máe atónita.

- É verdade.
- Mas tu nao és santa nenhuma para veres Nossa Senhora, repli-
cou a sra. Olimpia, repreensiva.
- Vi, sim; e o Francisco e a Lucia viram também, insistiu a pequeña,
segura de si.

- Estás tola, rapariga.

E a sra. Olimpia levantou a voz e carregou o sobrecelho (semblan


te severo). E como a filha persistisse, franziu ainda mais os olhos e sen-
tenciou arrenegada:
- Se voltas a dizer isso, apanhas, ouviste?
Jacinta baixou os olhos e o tom de voz, mas murmurou ainda:

- Mas se eu vi, máe!

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 450/1999

Pronto estalaram na cara da pequeña as primeiras "lamparicas"


(sopapos) da serie délas, que havia de ser longa!

Opai, o "pensador" sr. Maño, meio a dormir, disse de lá:

-A moga está a sonharbem. Deixa-a sonhar...

No dia seguinte, esta máe, sobressaltada, contou o caso estranho


á máe de Lucia, as vizinhas e a todas as pessoas que topava; e logo a
novidade, cochichada de ouvido a ouvido, correu de boca em boca, e se
espalhou por todo aquele povo serrano, simples e temente a Deus.

Um alevante!

Dias depois, no pequeño eido (quintal) da casa terrea do Antonio


dos Santos e da sra. María Rosa, ali em Aljustrel, á sombra de urnas
figueiras que vergavam os espalmados ramos verdes até o chao, a Lucia
e a máe tosquiavam, caladas, as suas ovelhas brancas e castanhas.

Havia calor. Maio, em mais de meio, dobrava para o fim. Num dado
momento, a sisuda sra. María Rosa, até entáo num contido silencio, com
voz calma, disse muito naturalmente para a filha:

- Oh Lucia, ouvidizerque tinhas visto Nossa Senhora na Cova da fría!


- Quem foi que Iho disse?, respondeu a filha.

- Foi a máe da Jacinta a quem a filha o contara. É verdade?


Lucia rectificou:

- Eu nunca disse que era Nossa Senhora, mas urna mulherzinha


bonita. E até pedí a Jacinta e ao Francisco que nada dissessem. Nao
tiveram máo na lingual

- Urna mulherzinha?

- Sim, máe.

- Entáo, dize lá, que foi que te disse essa mulherzinha?

- Disse-me que queria que nos lá fóssemos seis meses a fio, nos
dias 13, chegados, e no fim me diria quem era e o que quería de nos.

- Como é que voces comegaram a falar com ela?

Lucia, serena, disse como fora tudo aquilo (aqueta luz, aqueta luz!)
e relatou, com verdade e simplicidade, o seu primeiro e curto diálogo com
a Virgem Santfssima. Quando concluiu, a máe disse:

- Mas nao vais lá para o mes que vem.

488
AS APARIQÓES DE FÁTIMA: CONTESTADAS...

- Vamos, isso vamos, afirmou Lucia com seguranga.


- Mas ele é día de Santo Antonio.

- Embora!

Calaram-se. Por fim, a sra. María Rosa saiu do seu azedo silencio
com esta reflexáo agressiva:

- Voces andam mas é a mentir.

- Nao andemos, nao, ripostou, firme, Lucia.

Latiu um cao. Vinha gente. Máe e filha calaram-se e continuaram a


tosquiar as suas ovelhas mansas.

No capim verde, a la branca e castanha, cortada a eitinho, era um


velo pegado - como se fosse a ovelha estendida no chao.

Seguiu-se um largo falatório pela aldeia. Cochichavam,


conclavavam. Ninguém acreditava.

- Podia lá ser!, e atiravam para o ar voz e gestos de desprezo.


Outros, rispidos, censuravam:

- A familia é que é a culpada.

- Claro!

- Metesse os filhos na ordem; chegassem-lhes a roupa ao pelo.


Alguém, aínda mais bruto, na voz e no gesto, sentenciava:

- Fosse minha filha, curtía-a de pontapés!

Egesticulava com aspernas, como se desse biqueiradas em bola.


Varios rematavam arrenegados e escandalizados:

- Intrujonas!

A máe Olimpia, volta e meia, "lamparícava" na Jacinta e no Fran


cisco; e a sra. María Rosa ralhava com a filha, zunia-lhe na cara bofeta
das, ou chegava-lhe com o cabo da vassoura!

Pelos cantos, Lucia chorava e, em silencio, limpava os olhos ao


avental de ríscado.

O pai, Antonio Santos (o "Abóbora"), esse, afastado da controver


sia, nao acreditava nem deixava de acreditar; e para o aranzel das vozes
levantadas, tinha este comentario-resumo:

489
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 450/1999

- Mulherio!

O sr. Mario, porém, pai da Jacinta e do Francisco, -grossos olhos


de cisma, pupilas crentes no carao tostado pelas solheiras das sachas e
das malhas, vincada pele curtida pela má vida dos invernos serranos -
homem cordato, bom e rudo, de índole disposta a coisas sobrenaturais,
que o calavam e por dentro o esmagavam, saindo da mudez meditabunda,
rematava as suas consideragóes nesta forma espessa e algo apocalíptica:
- Se fóramos a distinguir, iríamos muito longe... Deus tem muita
iluminagáo!... É um peso enorme!... Devemos estar todos estifeitos com o
que se passa. Ninguém pode crer por si próprío: preciso é que Deus dé o
íntimo. É necessário termos boa fé para termos bom fim.
Benzia-se com as suas volumosas e surradas máos de cavador, e,
num canto, da lareira sombría, recolhia-se todo em si. Aquilo trazia-o acá-
brunhado e macambúzio, assim a modos de estranháo!

3.2. Após a segunda apari?áo

O que se segué, é extraído do livro Roma, Moscou, Fátima de


Otto Bohr (Ed. Loyola 1985), pp. 38s:

Os tres videntes ganharam entre os espectadores novos amigos.


As provagóes, porém, continuavam, ou melhor, recrudesceram. Lucia,
especialmente, sofreu tremendamente com as reprimendas e maus-tra-
tos em casa. A todo custo deveria revogar suas "mentiras e trapagas".
Enfim, o próprio pároco se sentiu na obrigagáo de verificar melhor o que
estava se passando. Muita gente do lugar e de fora pedia o seu parecer.
Certa feita, a sra. Santos recebeu o pedido para se apresentarjun
to com a filha na casa paroquial. A máe e a irmñ ameagaram e apavora-
ram Lucia sobre o que a esperava na casa do vigário. Este, todavía, acó-
Iheu-a bondosamente e com calma Ihe perguntou sobre o que acontece
rá. Reparou de ¡mediato que Lucia nao dizia tudo quanto sabia. Seujul-
gamento foi: "Nao me parece que seja coisa do céu. Quando Deus se
comunica as almas, em geral manda-lhes se abrir ao confessor ou a um
pároco. Esta menina, no entanto, se fecha em seu silencio. Podería ser
talvez obra do demonio. Veremos adiante: o futuro trará á luz a verdade".
"Só Deus sabe que sofrimento me trouxe esta observagáo - escre-
ve Lucia. Comecei a temer que essas visóes viessem do demonio, que
me quisesse fazer perder-me. Tinha eu ouvido que o demonio traz guerra
e discordia consigo. E realmente, desde o dia da prímeira aparigáo, nao
Vivemos mais nem alegría verdadeira, nem paz em nossa casa".
Francisco e Jacinta procuraram tirar-lhe esta dúvida, mas isso nao
durou muito tempo. Um pavoroso pesadelo, em que Lucia se viu ñas

490
AS APARIgÓES DE FÁTIMA: CONTESTADAS... 11

garras de Satanás, fé-lá gritar de pavor, despertando-a; isso mostra o


que entáo se passava no íntimo da pobre menina.

Nesta angustia de ser vftima de uma mistificagáo, resolveu Lucia


nao mais irá Cova da fría. "Eu estava decidida mesmo, e á tarde de 12 de
julho comuniquei o meu propósito a Jacinta e a Francisco: 'Se a Senhora
perguntarpor mim, digam-lhe que nao vim porque eu tenho medo de que
ela seja um demonio'.

No dia seguinte, ao aproximarse a hora em que eu lá devia estar,


senti-me de repente levada poruma torga sobre-humana, a que nao pude
resistir. E fui".

Uma multidáo muito grande de toda a redondeza achava-se reuni


da na Cova da fría. De4a5 milpessoas. Novamente refulgiu o relámpago.
A visáo vinha do Oriente em meto á luz deslumbrante. A pedido de Luda, os
presentes se ajoelharam. Lucia, oprimida por suas dúvidas, nada falou.

Jacinta insistía: "Lucia, tale! Fale, Lucia! Nao está vendo que ela ai
está para conversar com vocé?!" - Só entáo Lucia voltou a perguntar:
"Que querde mim, senhora?" A dama pediu que voltassem no dia 13 do
mes próximo. Insistiu mais uma vez em que rezassem cada dia o tergo na
intengáo de que a guerra acabasse logo. E insistiu em que só ela Ihes
podia trazera necessáría ajuda.

Tentaram insistentemente com Lucia que ela perguntasse pelo nome


da dama, e que pedisse um milagre para que todos se convencessem da
autenticidade da visáo. A senhora respondeu: "Venham aqui cada mes.
Em outubro eu Ihes direi quem sou e o que desejo. Sim, farei um grande
prodigio para que todos creiam".

Repentinamente, mudou-se a expressáo do rosto das criangas.

Olharam para baixo, para o chao. E fícaram como a tremer. Os


circunstantes ouviram quando Lucia exclamou: "Oh!", cheia de dor, refle-
tindo-se profundo pesar em sua face. A seguir, ergueram os olhos á altu
ra da azinheira sobre a qual pousava a senhora. Ai Lucia tornou a per
guntar: "Vossa mercé nao quermais nada de mim?"
"Nao. Porhoje nada mais quero".

Nao apenas os pastorezinhos se ergueram, a multidáo se aproximou,


cercando-os. Queríam saber por que motivo fícaram com o aspecto triste.
"É um segredo" - respondeu Lucia.
3.3. Após a terceira apar^áo

Extraído da obra FÁTIMA, de Severino Rossi e Avelino de Oliveira


(Fát¡ma1978), pp. 26-31.

491
12 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 450/1999

Também os jomáis comegaram a manifestar interesse pelas apari-


góes de Fátima, acusando até as autoridades de serem incapazes de
acabar com a "farsa" da Cova da íria.
Sentindo-se diretamente atingido, o presidente da Camarade Vila
Nova de Ourémpensou em recorrerá um estratagema. Na manhá do dia
13 de Agosto, fingindo querer assistir as aparigóes, convidou os tres
pastorínhos para o seu carro. Mas, em vez de se dirigir para a Cova da
íria, encaminhou-se para a sede do Conselho. Aquí, os pastorínhos, em
grupo e separadamente, foram submetidos a apenados interrogatorios e
ameagados de torturas e de morte horrível ("seráo langados numa caldei-
ra de azeite a ferver"), para que revelassem a verdade e desdissessem
todas as "historias"por eles inventadas. Os pequeños continuaram deci
didos a nao falar e, no dia 15 de Agosto, foram reconduzidos ás suas
casas.

No dia 19 de Agosto, tristes por terem faltado ao encontró com a


Senhora, os pastorínhos apascentavam o rebanho nos Valinhos e, de
repente, notaram os sinais que costumavam preceder as aparigóes: um
súbito refrescar da temperatura, um desmatar do sol e o característico
relámpago. Nossa Senhora apareceu pousada numa carrasqueira. Re-
novou a promessa de fazer um milagre em Outubro, para que todos pu-
dessem acreditar ñas aparigóes. Falou também de urna cápela a cons
truirse na Cova da íria. E ao terminar: "Rezai, rezai muito e fazei sacrifi
cios pelos sacerdotes, pois vao muitas almas para o inferno por nao ha-
ver quem se sacrifique e pega por elas".

A visáo afastou-se para o céu. As palavras da Virgem despertaram


nos pequeños urna verdadeira sede de mortificagáo e de sofrimento.
Renunciavam á merenda e a beber agua, sobretudo nos dias mais quen-
tes do veráo. Chegaram até a atar urna corda á cinta, debaixo da roupa,
para sofrerem mais. O Francisco e a Jacinta continuaram a usá-la, mes-
mo durante a doenga que os vitimou.

3.4. Quinta apar¡9§o (13/9/1917)

Se, por um lado, eram muitos os que lutavam para acabar com a
"farsa" da Cova da íria, por outro lado, o número dos que acreditayam
ñas aparigóes ia aumentando extraordinariamente. Eassim, no dia 13
de Setembro, cerca de 25.000 pessoas estavam presentes na Cova
da íria.
"Que é que Vossemecé me quer?", perguntou como sempre, a Lu
cia.

"Continuem a rezar o tergo todos os dias, para alcangarem o fim da


guerra... Em Outubro farei o milagre, para que todos acreditem".

492
AS APARIQÓES DE FÁTIMA: CONTESTADAS... 13

Desde o día 13 de Setembro ao dia 13 de Outubro, a vida dos


pastorinhos foi muito agitada. Os políticos e os inimigos da religiáo já
saboreavam o final daquilo que eles consideravam urna "farsa". Além dis-
so, em Aljustrel, a maioria das pessoas mostrava-se incrédula e hostil.
Sacerdotes e familiares procuravam convencer os videntes a desmenti-
rem tudo. Outros recorriam ás ameacas.

No dia 12 de Outubro de manhá cedo, a máe da Lucia acordou a


filha com estas palavras: "Ó Lucia, é melhor irmo-nos confessar. Dizem
que havemos de morrer amanhá, na Cova da fría... Se a Senhora nao faz
o milagre, o povo mata-nos. É melhor que nos confessemos, a fim de
estarmos preparados para a morte".

"Se a máe quer confessar-se - respondeu a Lucia - eu vou tam-


bém; mas nao por esse motivo... Nao tenho medo. Estou certíssima de
que a Senhora há-de fazer amanhá tudo o que prometeu".

Um sacerdote, depois de ter falado com os pastorinhos, aconse-


Ihava, muito preocupado: "O melhor é mandar já telegrafar para toda a
parte e dizer que é tudo mentira".

3.5. Sexta Aparigáo (13/10/1917)

Naquele dia, cerca de 70 mil pessoas estavam presentes na Cova


da fría: devotos, curiosos, descrentes, ateus, e também jomalistas que
tinham vindo únicamente para trogar, para rir "de táo ingenuas crengas".

Todos molhados até aos ossos, devido á chuva que caiu até ao
momento da aparígáo. A máe da Lucia, com as lágrimas a correrem-lhe
pelas faces, acompanhava a filha e dizia: "Se a minha filha vai morrer, eu
quero morrer ao seu lado!".

Cerca do meio-dia, a Lucia gritou: "Calem-se! Calem-se! Já lá vem


Nossa Senhora!"

A vidente tornou-se estranha a tudo o que a rodeava.

"Que é que vossemercé me quer?", perguntou pela última vez.

"Sou a Senhora do Rosario. Quero dizer-te que fagam aquí urna


cápela em Minha honra. Continuem a rezar o tergo todos os dias. A guer
ra vai acabar..."

A Lucia apresentou a Nossa Senhora os pedidos de muitas pesso


as. Alguns seriam atendidos, outros nao: "É preciso que se emendem,
disse a Senhora, que pegam perdáo dos seus pecados... Nao ofendam
mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido".
E, ao despedirse dos seus tres amiguinhos, a Virgem abríu as máos,
fé-las refletir no sol. E, enquanto se elevava, o reflexo da sua própría luz

493
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 450/1999

continuava a projetar-se no sol. A visáo era mais brilhante que o sol! Ao


lado do sol, sucederam-se outras visóes: Sao José com o Menino Jesús
e Nossa Senhora; Jesús e Nossa Senhora das Dores; Jesús que aben-
goa o mundo; Nossa Senhora do Carmo. A Lucia, sem despregar o seu
olhar da radiosa aparigáo, gritou para o povo: "Olhem para o sol!". E a
multidáo viu entáo o que foi depois chamado "o milagre do sol". O teste-
munho é de Avelino de Almeida, enviado especial do jornal "O século".
"O astro lembra urna placa de prata fosca e é possível fitar-lhe o disco
sem o mínimo esforgo. Nao queima, nao cega. Dirse-ia estarse reali
zando um eclipse. Mas eis que um alarido colossal se levanta, e aos
espectadores que se encontram mais perto se ouve gritar: "Milagre, mila
gre! Maravilha, maravilha!" Aos olhos deslumhrados daquele povo, cuja
atitude nos transporta aos tempos bíblicos e que, pálido de assombro,
com a cabega descoberta, encara o azul, o sol trémulo, o sol teve nunca
vistos movimentos bruscos fora de todas as leis cósmicas: o sol bailou,
segundo a típica expressáo dos camponeses..."

Todos tinham os olhos fixos no céu, conta o pal da Jacinta, quan-


do o sol parou e depois comegou a dangar. Parou, para recomegar a
dangar, até que pareceu destacarse do céu e cair sobre nos como urna
enorme roda de fogo. Foi um momento terrível..."

Muitos gritavam: "Ai Jesús! Ai que morremos todos!".

Outros invocavam: "Nossa Senhora, ajudai-nos".

Houve quem confessasse os pecados em voz alta.

Finalmente, o sol parou no seu lugar. Depois do fenómeno solar,


deuse um fato igualmente inexplicável. Toda aquela gente, que a chuva
tinha repassado, encontravase súbitamente enxufa.

As aparigóes de Fátima tinham chegado ao seu termo.

Estes pormenores históricos evidenciam bem quáo longe estáo os


acontecimentos de Fátima de ser encenacáo teatral encomendada pelos
adultos ás tres crian?as videntes.

Ver a propósito ainda a obra "Novos documentos de Fátima". Ed.


Loyola, Sao Paulo 1984, organizada por Pe. Antonio María Martins S.J.

Em PR 449, p. 475 foi publicada a declaragáo do Sr. Arcebispo-


Patríarca de Lisboa que esclarece os fatos atinentes ao Pe. Mario de
Oliveira, autor da denuncia contra as aparigóes de Fátima.

494
Mal-entendidos:

COPÉRNICO E GALILEU LANZADOS


NA FOGUEIRA?

Em síntese: Propagase aínda a noticia de que Copérnico e Galileu


foram pela Inquisigáo langados na fogueira por causa de sua teoría
heliocéntrica. Tal afirmagao é falsa: as obras de Copérnico pouca reper-
cussáo tiveram em sua época (primeira metade do século XVI); urna de-
las - "Sobre a Revolugáo dos Cornos Celestes" - foi mesmo dedicada ao
Papa Paulo III, que aceitou a dedicatoria sem Ihe fazer objegdes. Quanto
a Galileu, sabe-se que foi condenado pelo Santo Oficio, pois nos séculos
XVI/XVII acreditavam todos os crístáos que a Biblia ensina o geocentrismo;
Galileu morreu aos 8/01/1642, asslstido por um sacerdote, como bom
católico em paz com a Igreja.

Continua a ser difundida, até mesmo em manuais de formacáo ca


tólica, a noticia segundo a qual Nicolau Copérnico e Galileu Galilei foram
condenados á fogueira pela Inquisicáo. Eis o que se lé no manual de
catequese crismal "Decidí ser cristao - Crisma 2", publicado pela diocese
de Caxias do Sul (RS):

"É verdade que houve muitas injustigas e que os tribunais da


inquisigáo chegaram até a ameagare condenará fogueira dentistas como
Copérnico e Galileu Galilei, porque tinham idéias que hoje qualquer crí-
anga sabe: que a térra é redonda e gira em torno do sol" (pp. 72s).

Ora tal noticia é falsa. Para comprovar a falsidade, váo, a seguir,


relatados os fatos históricos em perspectiva serena e objetiva.

1. Nicolau Copérnico (1473-1543)

Apresentaremos 1) a pessoa e a obra de Nicolau Copérnico e 2) as


dificuldades que na época se opunham á aceitacáo do heliocentrismo.

1.1. Nicolau Copérnico: pessoa e obra

Nicolau nasceu aos 14/02/1473 em Torun (Polonia) e faleceu em


Frauenburg (Polonia) aos 24/05/1543 de morte natural, em santa paz
com a Igreja.

Estudou Astronomia e Matemática na Universidade de Cracovia e,


por tres anos, Direito Canónico em Bolonha (Italia). Em 1500 lecionou

495
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 450/1999

Astronomía na Universidade Sapientia de Roma. Voltou para a Polonia


em 1505 e foi nomeado cónego da catedral de Frauenburg, onde conti-
nuou seus estudos. Com efeito; Copérnico, usando de poucos e modes
tos instrumentos, fabricou urna lente, que ele colocou sobre urna torre
perto da catedral. Pós-se a observar a precessao dos equinócios1 - pes
quisa a que fora iniciado por famoso mestre da época, o astrónomo
Domenico María Novarra, de Ferrara. Suas conclusóes foram muito úteis
para a reforma do calendario ocorrida em 1582 por efeito dos estudos do
matemático Clávius, da Companhia de Jesús. Em 1530 Copérnico co-
mecou a escrever a sua famosa obra De revolutionibus orbium
caelestium libri sex (Seis Livros sobre a Revolucáo dos Corpos Celes
tes); tiveram noticia dessa iniciativa o Cardeal Nicolau Schónberg em
1536, o qual aprovou o empreendimento, como também o astrónomo
Joáo Joaquim Retico em 1539, o qual publicou um compendio do pensa-
mento de Copérnico. Terminada a obra, foi enviada á tipografía de
Nürenberg (Alemanha), que só deu a lume o impresso em 1543, pouco
antes do falecimento de Copérnico. Este dedicou tal obra ao Papa Paulo
III, cultor da ciencia astronómica, que aceitou tranquilamente a dedicato
ria, sem Ihe opor objecáo. O escrito de Copérnico era prefaciado pelo
teólogo luterano Andrea Osiander, que dava a entender que as teorías de
Copérnico eram meras hipóteses, pois tanto os luteranos como os cató
licos, de modo geral, julgavam que a Biblia ensina o geocentrismo.

Segundo Copérnico, o Sol ocupa o centro do sistema planetario;


em torno dele giram os planetas em órbitas circulares, na seguinte or-
dem: Mercurio, Venus, Térra, Marte, Júpiter e Saturno. Tal concepcáo
encontrou exigua acolhida na época, de tal modo estava arraigada a te
oría geocéntrica, que nao somente a Biblia (Js 10, 12s; Ecl 1, 5), mas
também a observacáo astronómica dos séculos anteriores pareciam en-
sinar. Por conseguinte Nicolau Copérnico nao foi incomodado por causa
de suas idéias e morreu em paz com a Igreja no ano de 1543.

Vejamos as principáis dificuldades que o heliocentrismo encontra-


va nos séculos XVI/XVII.

1.2. Dificuldades contra o heliocentrismo

a - Sistema geocéntrico

É o sistema mais antigo, cuja origem é incerta. Na antiguidade apre-

1 Equinócio é a época do ano (ocorrente de seis em seis meses) em que o Sol, no


seu aparente movimento sobre a eclíptica, corta o quadro celeste; nessa ocasiáo (21
de margo e 23 de setembro) o día e a noite tém a mesma duragáo. - Acontece,
porém, que o movimento do equinócio vai sofrendo um lento recuo de 50", 26 por
ano: isto se chama "a precessao dos equinócios", em conseqüéncia da qual o mo
mento do equinócio vai sendo lentamente antecipado.

496
COPÉRNICO E GALILEU LANQADOS NA FOGUEIRA? 17

sentaram-no, entre outros, Hiparco (190 a 120 a.C). No século II de nos-


sa era, o grego Claudio Ptolomeu fez melhoramentos na hipótese de
Hiparco, mostrando, por suas observacoes, que as órbitas dos planetas
nao podem ser circulares, como queriam Hiparco e Aristóteles, entre outros
(o círculo era símbolo da perfeicáo). A Térra, imóvel, ocupa o centro do
universo. Em torno déla giram, na seguinte ordem: Lúa, Mercurio, Venus,
Sol, Marte, Júpiter e Saturno.

Esta concepcáo perdurou nao só na Antiguidade, mas também por


toda a Idade Media, em parte pela adesáo de Aristóteles ao geocentrismo,
em parte pelas objecdes postas ao heliocentrismo, como veremos mais
adiante.

b - Sistema heliocéntrico

Aristarco de Samos (século III a.C.) foi o primeiro a adotar e ensi-


nar o sistema heliocéntrico. De acordó com Aristarco, o Sol está imóvel
no centro do universo, e á sua volta os planetas descrevem órbitas circu
lares; as estrelas fixas encontram-se em urna esfera cristalina. Avaliou
que as distancias entre as estrelas eram extraordinariamente superiores
á distancia entre Sol e Térra.

Nao havia provas convincentes de que a realidade estivesse de


acordó com esta teoría, mas ela justificava plenamente a regularidade do
movimento dos planetas. Por outro lado, havia argumentos de peso con
tra ela, baseados nos conhecimentos e no "bom senso" da época, prove
nientes da observacáo de fenómenos naturais. O argumento de maior
importancia era o seguinte:

Se a Térra gira em torno do Sol, é necessário que também gire em


torno de si, para produzir o dia e a noite. Se ela gira em torno de si, deve
haver um movimento relativo terra-ar e, portanto, para quem está parado
na superficie da Térra, um vento com a mesma velocidade. Se estou
andando a cávalo, pensavam, quanto mais rápido andar o cávalo, mais
veloz o vento que sentirei, devido ao movimento relativo cavalo-ar. Se
estou parado, nao sobre o cávalo, mas sim na superficie da Térra, e ela
está "correndo" em sua rotáceo, deverei sentir um vento correspondente.
E qual a velocidade deste vento? Os gregos já tinham feito o cálculo.
Mais precisamente, Eratóstenes, medindo a diferenca de latitude entre
Siena (atualmente, Assuan) e Alexandria, e medindo a distancia entre
estas duas cidades, determinou a circunferencia da Térra, no Equador.
Foi concluido que, se a Térra girasse sobre si mesma, a velocidade no
Equador seria de cerca de 400 m/s (1.440 km/h). E esta seria a velocida
de do vento causado pela rotacáo da Térra, velocidade essa suficiente
para destruir florestas, veículos, construcoes, etc. (na realidade, a veloci
dade é ainda maior: 1.670 km/h). Este vento nao existe. Logo: a Térra

497
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 450/1999

nao pode ter o movimento de rotacáo requerido pelo sistema heliocéntrico


para formar dias e noites.

Outro argumento contra o sistema heliocéntrico é o que expore-


mos a seguir:

Se urna pedra for atirada verticalmente para cima, enquanto ela


sobe e desee, a Térra se desloca e a pedra chocar-se-á com o terreno em
um ponto afastado do ponto de largamente Se, após seu lancamento, a
pedra levar dez segundos para chocar-se com o terreno, no Equador ela
estaría a quatro quilómetros a oeste de seu ponto de lancamento! Ora
isto nao acontece.

Por estas e outras dificuldades, a teoría heliocéntrica foi abando


nada, voltando a ser apresentada muitos séculos depois por Nicolau
Copérnico.

c - A interpretacáo da Biblia

Nos séculos XVI/XVII, a interpretacáo da Biblia era feita de modo


rígido e, em geral, atendo-se exageradamente ao sentido literal do texto.
Como causa principal desse modo de proceder, está o protestantismo,
que, desde o manifestó de Lutero, em 1517, vinha promulgando a livre
interpretacáo da Biblia. Para evitar os males que estavam sendo causa
dos á fé crista por este modo de proceder, a Igreja passou a se fixar mais
no sentido literal das palavras, enquanto nao houvesse motivos fortes
que desaconselhassem tal proceder.

Naquela época, com o exiguo desenvolvimento das ciencias natu-


rais, as Escrituras eram usadas também para explicacóes científicas. Sem
o conhecimento dos géneros literarios dos antigos orientáis e do sentido
correto de certas palavras, os teólogos interpretavam a Biblia literalmen
te, o que, alias, é um principio da hermenéutica: Nao é lícito abandonar o
sentido literal de um texto, sem que naja evidentes indicios de que é
metafórico; ora estes indicios ocorrem, por exemplo, no caso de existi-
rem argumentos de peso a favor de urna hipótese científica.

Além do qué, a interpretacáo literal de certos trechos da Biblia (que


apontavam para o geocentrismo) estava de acordó com o bom senso
geral da época, que via o movimento do Sol e da Lúa, bem como com os
filósofos aristotélicos e com a quase totalidade dos astrónomos. Antes
de Galileu, Aristarco e Copérnico já haviam lancado a hipótese do
heliocentrismo, mas sem qualquer argumento convincente. E sem que
alguém tivesse refutado o forte argumento contrario á rotacáo da Térra:
"e o vento, o vento de 1.440 km/h oriundo da rotacao da Térra?".

Passamos agora ao estudo de

498
COPÉRNICO E GALILEU LANZADOS NA FOGUEIRA? 19

2. Galileu Galilei: os Processos1

2.1. O primeiro Processo (1616)

Galileu soube de um aparelho inventado por um holandés que per


mitía ver objetos afastados com nitidez (telescopio). A partir dessas infor
males construiu um telescopio com melhores características e com ele
fez muitas descobertas, tais como:

- as manchas do Sol (que nao é, pois, o corpo perfeito descrito por


Aristóteles);

- as cráteras da Lúa (que, portanto, nao é a esfera lisa, perfeita,


admitida por Aristóteles);

- a Via Láctea é constituida por um grande número de estrelas;

- Júpiter possui Lúas (Galileu descobriu quatro), o que demonstra-


va que a Térra nao era o centro de tudo;

- Venus tem fases como a Lúa; pelo que, muito provavelmente,


deveria girar em torno do Sol.

Estas descobertas foram publicadas em 1610 e trouxeram urna


grande popularidade a Galileu. Entre os que o cumprimentaram e admi-
ravam seu trabalho, estavam o astrónomo Kepler e o matemático jesuíta
Clavius (já citado á p. 496 deste artigo).

Por outro lado, os aristotélicos reagiram violentamente, inclusive


duvidando da competencia de Galileu como pesquisador: manchas sola
res e relevo da Lúa dever-se-iam a sujeira ñas lentes do telescopio; ou-
tras descobertas nao passariam de ilusóes de ótica.

Em 1611 Galileu esteve em Roma e foi muito homenageado por


dentistas e nobres. Foi recebido como membro da Academia dei Lincei.
Os jesuítas (muitos dos quais eram professores e astrónomos) dedica-
ram-lhe urna festa académica no Colegio Romano, com a presenca de
condes, duques, muitos prelados e alguns Cardeais. O próprio Papa Paulo
V concedeu-lhe audiencia.

Os problemas comecaram com a publicacáo do livro "Contro il moto


della térra" (Contra o movimento da Térra), do teólogo Ludovico delle
Colombe, neste mesmo ano (1611). Ludovico elogiava Galileu, mas cita-

1 Reproduziremos, a seguir, as páginas 118-124 de PR 382/1994, da autoría do Prof.


Dr. Joaquim Blessmann, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mestre e
Doutor em Ciencias pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Membro da Aca
demia Nacional de Engenha.ia do Brasil, Membro correspondente da congénere
Academia da Argentina.

499
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 450/1999

va trechos da Biblia e argumentos dos Santos Padres para demonstrar a


tese geocéntrica. Eis algumas das citacóes: Salmo 104, 5: "Fundaste a
térra em bases sólidas, que sao eternamente inabaláveis"; Eclesiastes 1,
4-5: "Urna geracáo passa, outra vem; mas a Térra sempre subsiste. O sol
se levanta, o sol se póe; apressa-se a voltar ao seu lugar".

O problema é que Galileu, em vez de responder com argumentos


físicos, usou argumentos bíblicos, citando outro trecho que parece de
fender a tese contraria: Salmo 96,9: "Diante d'Ele estremece a térra inteira".

E assim a disputa, que deveria ser de caráter científico, passou


para a exegese e a teologia. Os debates se multiplicaram. O beneditino
Castelli, professor na Universidade de Pisa, defendía a opiniáo de Galileu.
Este escreveu diversas cartas, dirigidas, entre outros, ao próprio Castelli,
a Clavius e ao Cardeal Belarmino, defendendo-se. Da carta a Castelli
transcrevemos um trecho, notável pela posicáo correta assumida por
Galileu, no que diz respeito a interpretacáo da Biblia:

"A Escritura nao se engaña, mas sim os seus intérpretes e


comentadores, de varias maneiras, entre as quais urna gravíssima e
freqüentíssima, quando querem fixar-se sempre no puro sentido literal,
pois assim apareceráo nao só diversas contradigóes, mas também gra
ves erros e heresias; seria necessário dar a Deus pés e máos, e olhos, e
também coisas corpóreas e humanas, como cólera, arrependimento, odio,
esquecimento do passado e ignorancia do futuro. Donde, assim como na
Escritura se encontram muitas proposicóes falsas quanto ao sentido nu
das palavras, mas assim postas para se acomodarem ao numeroso vul
go, assim ... é necessário que os sabios comentadores apresentem o
verdadeiro sentido".

O dominicano Lorini enviou á Sagrada Congregacáo do índex (In-


quisicáo Romana) urna copia dessa carta, que tinha sido difundida por
meio de copias. A carta foi examinada, qualificada favoravelmente e o
caso encerrado.

Entretanto, Galileu insistía em debater no terreno exegético-


escriturístico, abandonando as razóes científicas do sistema astronómi
co que defendía. Quería forcar urna decisáo urgente da Sagrada Congre
gacáo para que certas passagens da Escritura fossem interpretadas de
modo diferente do usual havia séculos.

Foi advertido para que deixasse o lado teológico da questáo e usas-


se apenas argumentos das ciencias naturais para justificar o sistema
heliocéntrico.

Foscarini (Carmelita, Provincial da Calabria) publica em 1615 obra


em que defende a opiniáo de Copérnico.

500
COPERNICO E GALILEU LANgADOS NA FOGUEIRA? 21^

O Cardeal Belarmino recomenda prudencia a Galileu e a Foscarini:


que nao apresentassem o sistema heliocéntrico como verdade definitiva
(o que nao existe na ciencia; nesta, nada é definitivo) e que nao forcas-
sem reinterpretacoes da Sagrada Escritura, enquanto nao houvesse pro-
vas demonstrativas do novo sistema. Eis trechos de sua carta:

"Urna coisa é sustentar o movimento da Térra e a estabilidade do


Sol como hipótese, e isso está muito bem dito e nao tem perigo algum...,
e é tudo quanto deveria bastar ao matemático".

E mais adiante, na mesma carta:

"Quando fosse verdadeiramente demonstrado que o Sol está no


centro do mundo e a Térra no terceiro céu, e que o Sol nao circunda a
Térra, mas sim a Térra circunda o Sol, entáo seria necessário com muitas
consideragóes explicar as Escrituras, e, antes de afirmar ser falso o que
dizem, admitir, pelo contrario, que sao coisas que nao podemos enten
der. Por mim, nao acreditarei que seja possível tal demonstragáo, até que
me seja apresentada".

O fato é que Galileu nao dispunha de alguma prova concreta ou


convincente. A prova em que insistía, do fluxo e refluxo das mares, esta-
va errada. As mares sao causadas pela forca gravitacional da Lúa e do
Sol. Ademáis, se fossem causadas pela rotacáo da Térra, deveria haver
só urna maré por dia, e nao duas.

Acenou, como prova, para os ventos alisios, mas nao pode


quantificar o fenómeno. E ai estava certo, pois o desvio para o Oeste dos
ventos que sopram para o Equador em ambos os hemisferios é causado
pela rotacáo da Térra.

Em conclusáo: nao tinha provas científicas. Como vimos, tentou


provar suas idéias por meio da Biblia. Somente muito mais tarde, em
1851, é que Foucault conseguiu provar o movimento de rotacáo da Térra,
com um péndulo dependurado do teto do Panteón de París, que oscila
em um plano fixo enquanto a Térra gira.

Entrementes, o padre dominicano Caccini fazia varios ataques aos


matemáticos e aos adeptos de Galileu. O primeiro destes ataques acon-
teceu por ocasiáo de um sermáo sobre o milagre de Josué (em que o Sol
teria parado); ver Js 10,7-15. Caccini foi chamado a Roma para explicar
os ataques a Galileu. Caccini aproveita a ocasiáo para, junto com outros,
pressionar o Santo Oficio para que Galileu fosse condenado.

Galileu continua, com seu estilo polémico, a discutir. Diz a Enciclo


pedia Mirador Internacional (verbete Galileu) que Galileu era "de um es
tilo de grande veracidade, freqüentemente irónico e mordaz, pois era um

501
1

22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 450/1999

temperamento polémico". Eis exemplos de seu estilo de argumentar, nada


científico: recorria aos vocábulos "idiotas, bufos, hipócritas, impostores,
ignorantes, estúpidos, animáis".

Em 24/01/1616, em sessáo do Santo Offcio, os consultores apre-


sentam seu parecer sobre a controversia. Qualificam duas proposicóes:

1 ° - Sol fixo. É considerada falsa e absurda do ponto de vista fi


losófico e formalmente herética, por estar em contradicáo com varias
passagens da Sagrada Escritura, de acordó com o sentido literal e a in-
terpretacáo corrente dos Padres da Igreja.

2° - Rotacáo da Térra e translacao em torno do Sol. Falsa e absur


da, do ponto de vista filosófico, e errónea na fé.

No dia seguinte, há uma reuniáo dos Cardeais, sob a presidencia


do Papa Paulo V, para avaliar o parecer dos consultores e pronunciar
uma decisáo. Foram tomadas duas medidas:

1 ° - O Cardeal Belarmino é encarregado de, em audiencia particu


lar, convencer Galileu de abandonar a teoría copernicana. Gaiileu nega
se a tal. Recebe, entáo, de Belarmino, diante de um comissário da Inqui-
sicáo e de outras pessoas, o preceito formal de nao sustentar, ensinar ou
defender tal teoría. Galileu promete obediencia. Nao houve processo for
mal, nem sentenca, abjuracáo ou penitencia.

2° - Por decreto da Sagrada Congregacáo do índex, foram proibi-


dos os livros de Copérnico, de Foscarini e, de forma geral, dos que de-
fendiam o sistema heliocéntrico. Nenhuma referencia nem á obra nem
ao nome de Galileu.

Observa-se que a obra de Copérnico, já com 80 anos, até entáo


tinha sido deixada pela Igreja Católica á livre discussáo, e havia eclesiás
ticos que a defendiam. E nela baseou-se a reforma do calendario em
1582, já referida.

O que provocou, depois de tanto tempo, sua proibicáo, foi a atitude


de Galileu, querendo impor como certa, verdadeira, uma teoría para a
qual nao tinha provas objetivas. Pelo contrario, insistía em uma prova
falsa, a das mares. E jamáis ele ou outro contemporáneo conseguiu ex
plicar o paradoxo do vento de 1.440 km/h, na linha do Equador, que "de-
vena" existir em virtude da rotacáo da Térra. Galileu, lancando máo de
razoes exegéticas e insistindo em uma reinterpretacáo da Biblia, acabou
toreando uma decisáo imatura e lamentável da Sagrada Congregacáo
do índex.

É de destacar que, em 11/03/1616, Paulo V recebeu Galileu em


audiencia particular. Considera-o um verdadeiro filho da Igreja e reco-

502
COPÉRNICO E GALILEU LANQADOS NA FOGUEIRA? 23

nhece a retidlo das intencóes de Galileu, dizendo-lhe que nada temesse


de seus caluniadores.

2.2. O Segundo Processo (1633)

Em novembro de 1618 apareceram tres cometas na Europa. Foi o


estopim para recomecarem as discussóes, com Galileu violento no talar
como antes.

Entre 1624 e 1630 Galileu escreve um novo livro: "Diálogo sobre


os dois Sistemas Máximos do Mundo, o Ptolomaico e o Copernicano".
Galileu comunicara ao Papa Urbano VIII que pretendía escrever esse
livro. O Papa o apoiara, aconselhando-o, porém, a nao entrar em confuto
com o Santo Oficio e a tratar o sistema de Copérnico como hipótese.
Urna recomendacáo perfeitamente correta para os dias atuais, pois ago
ra é ponto pacífico que em ciencia nada é definitivo.

Em maio de 1630 Galileu vai a Roma para obter o necessário


"Imprimatur". O encarregado de examinar seu livro, Pe. Riccardi, era amigo
pessoal de Galileu. Concluiu que eram necessárias algumas correcóes:

1 ° - Mudar o título, que era "Diálogo sobre as mares", porque des-


tacava muito o único argumento (e errado) de Galileu para provar o siste
ma copernicano.

2o - Alterar algumas passagens.

3» _ Alterar o prefacio, de modo a nao apresentar o sistema


heliocéntrico como verdade segura, mas sim como hipótese.
Diante disso, Galileu resolveu imprimir o livro em Florenca. Riccardi
concordou, desde que Galileu Ihe trouxesse o primeiro exemplar da obra,
com as devidas correcóes, para receber o "Imprimatur". Galileu argu
menta com a peste, que dificultava a comunicacao entre as duas cida-
des. Mais urna vez, cede Riccardi, concordando com o exame da obra
em Florenca, bastando enviar a Roma o título e o Prefacio.
Em Florenca, Galileu consegue que o revisor seja outro amigo seu,
Stefani, que foi induzido a pensar que a obra já tinha sido aprovada em
Roma. Stefani concedeu a autorizacáo. O título e o prefacio foram envia
dos a Roma para aprovacáo e o livro foi publicado em 1631.

Quando Riccardi recebeu um exemplar da obra completa, viu com


surpresa que, antes da aprovacáo florentina, figurava a sua. E sem ne-
nhuma correcáo no corpo do livro: o sistema copernicano era apresenta-
do em toda a obra, exceto no Prefacio, como verdade ¡ncontroversa.

Urbano VIII, pressionado pelos inimigos de Galileu, e consideran


do a desobediencia formal á prolbicáo de 1616, passou o assunto á In-
quisicáo.

503
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 450/1999

A comissáo encarregada de examinar a obra grupou a censura em


oito pontos, esclarecendo ñas conclusoes que todos eles podiam ser
corrigidos (as mares como falsa prova, apresentar o sistema copernicano
apenas como hipótese, etc.)- Mas, acrescentava, a desobediencia era
um agravante bastante serio (o grifo é nosso, pois as conclusoes da
comissáo mostram que o problema era, básicamente, disciplinar).

Galileu, chamado a Roma para julgamento, depois de varios adia-


mentos (doenca, velhice, peste, inundacóes, foram os motivos alegados),
lá chega em 12/02/1633. Hospedou-se ¡nicialmente no palacio do Em-
baixador de Florenca; depois passou a residir no edificio da Inquisicáo,
em aposentos do Fiscal da Inquisicáo, "cómodos e abertos" (nada de
aprisionamento em masmorras, "a pao e agua", como diz uma das len-
das).

Foi submetido a quatro interrogatorios:

- No primeiro negou que houvesse defendido o sistema heliocéntrico


em seu livro.

- No segundo declarou que, relendo o livro, reparara que em al-


guns trechos o leitor podía realmente pensar que ele defendía tal siste
ma.

- No terceiro desculpou-se por desobedecer á proibicáo de 1616,


afirmando que a advertencia tinha sido verbal e que nao se recordava de
uma ordem para ele em particular.

- No quarto e último interrogatorio (em 21/06/1633), quando Ihe


perguntaram solenemente se defendía o sistema copernicano, respon-
deu negativamente.

No día seguinte, em Decreto do Santo Oficio, é publicada a senten-


9a, na qual consta:"... é absolvido da suspeicáo de heresia, desde que
abjure, maldiga e deteste ditos erros e heresias...". Galileu ouviu de pé e
com a cabeca descoberta a leitura de sua condenacáo (tres anos de
prisáo; recitacáo semanal dos sete salmos penitenciáis, por tres anos).
Depois, de joelhos e com uma máo sobre os Evangeihos, assinou um ato
de abjuracáo, no qual declarava que era "justamente suspeito de here
sia".

Nesta ocasiáo, Galileu teria exclamado, batendo com o pé no chao:


"E puré si muove" (e todavía se move). Lenda inverossímil, dadas as
circunstancias (estava de joelhos). É uma fantasía que apareceu pela
primeira vez em 1757 (mais de um século depois), em obra de Baretti.

Além das penas pessoais, também foi proibido o livro de Galileu.

No día seguinte, a sentenca é comutada peló Papa. Galileu vai

504
COPÉRNICO E GALILEU LANQADOS NA FOGUEIRA? 25

viver no palacio do Embaixador de Florenca e depois passa para a casa


do Arcebispo Piccolomini, seu discípulo e admirador, em urna especie de
prisáo domiciliar. Foi-lhe permitido voltar a Floren?,a em 10/12/1633, cin
co meses e oito dias depois da condenacáo.

Como se vé, nada de condenacáo por heresia, torturas, fogueira,


etc. É verdade que durante o processo, em virtude de suas evasivas, foi
ameagado de tortura, de acordó com os trámites processuais. Por outra,
a tortura nunca era infligida a pessoas idosas ou enfermas. Galileu esta
ría isento por ambas as condigoes.

Embora reconhecamos que o segundo processo teve, como


grávame, a vaidade e a insinceridade de Galileu, devemos todavía la
mentar profundamente a primeira condenacáo de 1616 como inquietante
erro judicial, e como abuso de poder diretamente catastrófico em suas
conseqüéncias (proibigáo das obras de Copérnico).

Em 1637 fica cegó. Em 1638 publica o livro "Diálogo das duas no


vas ciencias", que sao a Resistencia dos Materiais e a Mecánica Racio
nal, básicas para varios ramos da engenharia.

Morre em 08/01/1642, assistido por um sacerdote, como bom cató


lico.

Seria para desejar que os críticos contemporáneos conhecessem


melhor os temas que eles criticam, a fim de nao cometerem injusticas em
nome da justica.

Á guisa de complemento, convém notar que, aos 31/10/1992, o


Santo Padre Joáo Paulo II reconheceu o erro dos teólogos do século
XVII. A condenacáo de Galileu por parte do Santo Oficio nao afeta a
infalibilidade do magisterio da Igreja, pois esta só se exerce em materia
de fé e de Moral; o assunto abordado no debate entre Galileu e os teólo
gos era de ciencias naturais,... ciencias que, segundo a mentalidade do
século XVII, deveriam aprender da S. Escritura a concepgáo geocéntrica.
Disse entáo o Papa:

"A partir do século das Luzes até os nossos dias, o caso Galileu
constituiu urna especie de mito, no qual a imagem que se tinha formado
dos eventos estava bem longe da realidade... Urna trágica incompreensáo
recíproca foi interpretada como o reflexo da oposigáo entre ciencia e fé.
Os esclarecimentos fornecidos pelos recentes estudos históricos permi-
tem-nos afirmar que este doloroso mal-entendido já pertence ao passa-
do".

A propósito ver PR 371/1993, pp. 160-170.

505
Sondando a Biblia:

O "MAU ESPIRITO" DO SENHOR

Em síntese: Em 1Sm 16, 14 está dito que o rei Saúl recebeu "um
mau espirito do Senhor". Tratase de uma locugáo semita, que significa
mau ánimo, má atitude, permitida pelo Senhor. Na verdade Deus nao tem
mau espirito nem manda maus espfritos; permite, porém, que as criatu
ras assumam atitudes nem sempre condizentes com a Lei de Deus.

As páginas subseqüentes aborda rao o significado de "mau espirito


do Senhor" e expressóes congéneres.

1.0 "espirito mau" do rei Saúl (1Sm 16,14)

O rei Saúl, depois de se ter tornado indigno de sua missao, foi


rejeitado por Deus. Em conseqüéncia, via-se freqüentemente acometido
por acessos de neurastenia, que o levavam até ao desvairo; por duas
vezes, enfurecido, tentou matar Davi, traspassando-o com uma lanca con
tra o muro (cf. 1Sm 19, 10s; cf. 23, 24-28). Ora a Escritura explica isso
tudo, dizendo que o "espirito do Senhor se retirou de Saúl, e um mau
espirito, vindo do Senhor, dele se apossou" (1Sm 16,14; o "mau espirito
do Senhor" é mencionado outrossim em 1Sm 18,10; 19, 9).

Como se há de entender uma tal "possessáo"?

Ñas expressóes ácima, o vocábulo "espirito" deve ser interpretado


á luz de outros trechos do Antigo Testamento, que falam do "espirito de
inveja que se apodera de um marido" (cf. Nm 5, 14.30), do "espirito de
prostituicáo" ou apostasia religiosa (Os 4,12; 5,4), do "espirito de impu
reza" (Zc 13, 2), do "espirito de sabedoria" (Ex 28, 3), do "espirito de
torpor" (Is 29, 10), etc. "Espirito", em todas essas passagens, designa
claramente, conforme o contexto, uma atitude de ánimo, disposicóes in
teriores de um individuo, em que predomina ora a inveja, ora a infidelida-
de, ora a luxúria, ora a sabedoria, ora outro atributo (nao se trata ai de
algum anjo ou demonio). Ilustrados por tais textos, os dizeres de 1Sm
significam, pois, que Saúl perdeu suas habituáis disposicóes de piedade
e deferencia para com Javé ("o espirito do Senhor dele se retirou");1 dei-
xou-se conseqüentemente mover por disposicóes más, uma atitude hos-

1 Já que Saúl se afastara do Senhor, o Senhor se afastou dele, dir-se-ia interpretan


do fielmente a mente do hagiógrafo expressa em 1Sm 15, 23.

506
O "MAU ESPÍRITO" DO SENHOR _27

til ao Senhor ("um espirito mau"); esta atitude mesma é mencionada como
proveniente do Senhor, porque foi Deus quem permitiu, sim, que Saúl
fosse infiel e ressentisse as conseqüénclas, fisiológicas e psicológicas,
do seu erro.

2. O "espirito mau" dos Siquemitas (Jz 9,23s)

Semelhante é a exegese do trecho de Jz 9, 23s: "Deus enviou um


espirito mau entre Ablmeleque e os habitantes de Siquém", espirito que
provocou rebeliáo dos siquemitas contra seu chefe. Isto nao quer dizer
senáo que o Senhor deixou que se origlnassem discordias graves entre
homens que se havlam previamente associado para cometer hediondo
morticinio (ou seja, o assassinato de setenta consanguíneos de
Abimeleque). A alianca fundada sobre planos pecaminosos nao pode
ser duradoura; cedo ou tarde, o egoísmo nao refreado dos contraentes
tende a rompé-la! É o que se dá sem especial intervencáo de Deus, foi o
que se deu no caso ácima.

3. Deus endurece o coracáo dos homens?

Análogos aos textos antecedentes sao aqueles onde o hagiógrafo


diz que Deus endurece o coracáo dos homens, seja do Faraó1, seja do
povo eleito2.
Tais passagens significam apenas que Deus é o Autor de feitos
destinados a promover o bem dos pecadores; todavía os homens, em
vez de se renderem ao significado providencial de tais obras e se salva-
rem, á vista das mesmas, obstinam-se ainda mais conscientemente no
mal, fechando-se nos seus propósitos perversos; destarte a acáo divina,
em si benévola, torna-se ocasiáo para que a criatura tome grave atitude
pecaminosa. Para os judeus, que em tudo viam a atividade de Deus, isto
equivalía a urna acáo direta do Senhor sobre o coracáo humano, visando
á obstinacáo dos pecadores.

Na historia do Faraó em particular, o próprio hagiógrafo interpreta


a sua expressáo literaria, afirmando em Ex 8,11.28 que o monarca mes-

' Cf. Ex 4. 21; 7, 3; 9. 12, 10, 1.27; 11. 10; 14, 4.8.17.
2 O Senhor mandou ao profeta Isaías:
"Vai e dize a esse povo:
Ouvi, e nao compreendais;
Vede, e nao entendáis.
Toma pesado o coracáo desse povo
E duros os seus ouvidos...
De tal modo que nao se converta e nao seja curado". (Is 6, 9)
Eis ainda alguns paralelos: Dt 2, 30; Js 11, 20; 1Sm2, 25;2Sm 12, 11; 16. 11; 17.
14;1Rs12, 15; 22, 19-23.

507
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 450/1999

mo "endureceu o seu coracáo", resistindo aos sinais divinos1, ou que


"continuou a pecar e tornou pesado o seu coracao" (9, 35); assim proce-
dendo, Faraó reconhecia estar faltando contra Deus (cf. Ex 9,27; 10,16).

Quanto á missáo de pregar confiada ao profeta Isaías, torna-se


evidente que nao visava obcecar o povo no pecado (como poderia suge
rir Is 6, 9s), se se consideram passagens como Is 1, 16-20, em que o
profeta exorta os judeus á conversao, e Is 1, 25-27, onde prediz que a
acáo de Deus purificará Israel. As admoestacoes de Isaías, porém, seri-
am ocasiáo para que muitos, obstinados no mal, fechassem aínda mais
conscientemente os olhos á verdade. Paralelamente, na plenitude dos
tempos, Jesús, embora soubesse que seus ensinamentos e milagres
acarretariam a queda momentánea de Israel, nao quis deixar de aprego-
ar a "Boa Nova"; sem tolher a liberdade do homem, o Senhor sabe sem-
pre envolver os desmandos deste dentro de um plano sumamente har-
monioso.

Por fim, já próximo da era crista, o autor do Eclesiástico dava com


toda a clareza a norma básica para a exegese dos textos ácima, afirman
do categóricamente:

"Deus a ninguém manda seja impío,

A ninguém concede a iicenga de pecar". (15, 20)

4. O espirito mau da corte celeste (1 Rs 22, 6-23)

Na linha dos episodios que vimos analisando, ainda se poderia


citar o de 1 Rs 22, 6-23: é em termos particularmente vivos e insistentes
que apresenta o "mau espirito do Senhor".

O hagiógrafo conduz o leitor á corte do reí Acab de Israel (874-853


a.C), o qual desejava fazer urna expedicáo bélica contra o rei da Siria;
antes, porém, de partir para a guerra, resolveu consultar os profetas que
0 assistiam. Ora havia naquela época nao poucos falsos portadores da
Palavra de Deus, que faziam carreira na corte real. Interrogados, predis-
seram ao rei pleno sucesso na campanha. Eis, porém, que em dado
momento um auténtico profeta, Miquéias, surge na assembléia dos se-
dutores e destemidamente anuncia o absoluto malogro da batalha... Con-
tudo, vendo que Acab nao Ihe dava crédito, tentou persuadir o rei por
meio de novo expediente, ou seja, um antropomorfismo impressionante:
disse-lhe, pois, ter visto os céus abertos e o Senhor sentado num trono,
em meio aos anjos seus conselheiros; deliberavam sobre a maneira mais

1 Os magos do Egito com razio perceberam nos prodigios realizados o dedo da


Divindade e o intimaram explícitamente a Faraó (cf. Ex 8, 15).

508
O "MAU ESPÍRITO" DO SENHOR 29

eficaz de iludir Acab, induzindo-o á infeliz incursao contra o reí da Siria;


apresentou-se entáo a Javé um dos assistentes celestes, o qual se ofe-
receu para tornar mentirosos e engañadores todos os profetas da corte
de Acab. A proposta tendo sido aceita pelo Senhor, realizara o emissario
a sua missáo... Na base desta narrativa, que era mero artificio oratorio,
podia Miquéias repetir ainda com mais vivacidade a sua advertencia: as
palavras dos profetas encorajando Acab á guerra nao eram senáo o efei-
to de urna acao sedutora muito consciente e maliciosa; eram a trama de
homens mal intencionados; nao hesitasse o rei em abrir os olhos para o
perigo que o ameacava na expedicao planejada!

Neste trecho bíblico, portante, a visao da corte celeste e do anjo


sedutor que Deus envia á térra, nao corresponde, segundo a mente mes-
ma de Miquéias, a um fato que se tenha realizado no mundo superno; ela
nao passa de mero recurso de linguagem destinado a calar no ánimo do
rei Acab mais fundo que urna simples admoestacáo.

Os judeus, principalmente após o exilio (séc. VI a.C), tinham, sim,


a nocao de um anjo mau sedutor a quem Javé, conforme um plano sabio,
concede licenca para desencadear males na térra1. Dado que, já no séc.
IX a.C, Miquéias e seus interlocutores tenham tido conhecimento de tal
espirito tentador, ainda nos é forcoso dizer que o acesso desse anjo
maligno junto a Deus e a aceitacáo dos seus servicos por parte do Se
nhor sao meros artificios usados pelo profeta para avivar a sua exorta-
cáo. A realidade correspondente a tais artificios nao é senáo a seguinte:
Javé resolverá permitir (sem deliberar com os anjos) que Acab fosse se-
duzido pelos mentirosos profetas da corte e, em conseqüéncia, sofresse
grave derrota, pois assim o Senhor Ihe faria expiar o morticinio anterior
mente cometido contra Nabot (cf. 1Rs 21,1-29).

(Continuagao da pág. 526)

do diante de Deus. Todos devem dar, porque é dando que se recebe. A


Biblia diz que as pessoas devem fazer ofertas a Deus. Deus prometeu
abengoar financeiramente aquele que desse para Ele. Quem quer rece-
ber muito, deve dar muito. Quem quer receber pouco, deve dar pouco.
Quem nao quer receber nada, nao dá nada".

Este trecho é dos mais significativos do estilo de angariagáo de


dinheiro na Igreja Universal do Reino de Deus. O livro de Ricardo Mariano
merece ser lido por quem deseja conhecer meihor a mentalidade do
neopentecostalismo protestante, pois é revelador de muitos pormenores
que geralmente sao desconhecidos.

1 Cf. Jó 1-2, onde aparece Sata como anjo da corte do Senhor e adversario de Jó.

509
Urna nova ciencia:

NEUROLINGÜÍSTICA: QUE É?

Em sfntese: A Neurolingüfstica parte do principio de que o com-


portamento humano é dependente do pensar e das emogóes da pessoa.
Em conseqüéncia ensina a programar pensamentos e sentimentos de tal
modo que redundem em comportamento desejado pelo individuo. - Tal
teoría nao deixa de ter seu fundo de verdade; todavía há escolas de
Neurolingüística que adotam urna concepgáo antropológica pantefsta ou
alheia ao pensamento cristao. Daí a ambigüidade das propostas
neurolingüísticas.

A Neurolingüística é, como dizem os seus ara utos, uma ciencia e


urna arte. Teve origem nos Estados Unidos na década de 1970 e vem-se
propagando com certo aparato que impressiona o público, embora os
livros de Neurolingüística nao sejam de fácil leitura.

A seguir, proporemos uma síntese do que seja a nova ciencia e Ihe


taremos alguns comentarios. A nossa exposicáo utilizará o vocabulario e
a linguagem dos mestres mesmos da PNL
>

1. A Programacáo Neurolingüística (PNL)

Como dizem os arautos da nova ciencia, a expressáo "Programa


cáo Neurolingüística" é um tanto obscura, mas compreende tres concei-
tos simples.

O vocábulo "Neuro" professa a idéia fundamental de que todos os


nossos comportamentos tém origem nos processos neurológicos da vi-
sáo, da audicáo, do olfato, do paladar, do tato e das sensacóes em geral.
Percebemos o mundo através dos cinco (ou seis) sentidos externos que
temos, e fazemos, em conseqüéncia, o nosso mapa do mundo. "Com-
preendemos" as informacóes assim recebidas e depois agimos. Somos
psicossomáticos; o corpo e o psiquismo formam uma unidade ¡nquebran-
tável, que é o ser humano.

O termo "Lingüística" indica que usamos a linguagem para orde


nar nossos pensamentos e comportamentos e para nos comunicarmos
com os outros.

O substantivo "Programacáo" significa que devemos organizar


nossas idéias e atividades a fim de obter os resultados desejados. Pre-

510
NEUROLINGÚfSTICA: QUE É?

cisamente a PNL trata da maneira como elaboramos o que captamos


através dos sentidos para chegarmos aos objetivos almejados. - A Pro
gramado também examina a forma como descrevemos nossos pensa-
mentos e como agimos, intencionalmente ou nao, para produzir resulta
dos.

Sintetizando, pode-se dizer com Richard Bandler, um dos fundado


res da PNL, que "a PNL é o estudo da estrutura da experiencia subjetiva
do ser humano e do que pode ser feito com ela".
Tal definicáo é baseada no pressuposto de que todo comportamento
humano tem urna estrutura e esta pode ser descoberta, modelada e trans
formada (reprogramada).

Eis outra definicáo, também proposta pelos arautos da PNL:

"PNL é o estudo de como representamos a realidade em nossas


mentes e de como podemos perceber, descobrir e alterar esta represen-
tagáo para atingirmos resultados desejados" (Getúlio Barnasque).
Assim, afirmam os cultores da PNL, "a PNL é urna ferramenta edu
cacional, nao urna forma de terapia. Nos ensinamos as pessoas coisas
sobre a maneira como seus cerebros funcionam e como elas usam tais
informacóes para mudar seu comportamento" (Richard Bandler).

Pergunta-se agora:

2. Como funciona a Programacao de Neurolingüística?

A Neurolingüística divide o ser humano em tres eus: o eu superior,


o medio e o inferior, que sao conceituados do seguinte modo:

a) Eu inferior: é o responsável pelos processos automáticos do


corpo físico, pelas emocoes animáis (raiva, medo, etc.) e por certos pro
cessos mentáis mecánicos e condicionados.

b) Eu medio: é responsável básicamente pelas tomadas de deci-


sáo conscientes. É analítico e especulativo; mas costuma ser influencia
do (muitas vezes, sem o perceber) pelo eu inferior.
c) Eu superior: É urna consciéncia tetradimensional, com
abrangéncia espaco-temporal muito mais ampia do que a do eu medio.
Sua influencia sobre o eu medio costuma ser muito mais rara do que a
correspondente influencia do eu inferior. Os principáis indicios de sua
influencia sobre o eu medio sao: plenitude, desprendimento e sentimen-
to de invulnerabilidade.

Na base de tal concepcáo do ser humano, a Neurolingüística as


sim faz a sua programacáo:

511
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 4SQ/1999

1) O eu medio deve amortecer as atividades do eu inferior, obten-


do, com isto, nao só uma melhor ligacáo com o eu superior, mas também
melhores condicóes de influenciar o eu inferior. E como realiza esse
amortecimento?

- parausando o diálogo interno;

- relaxando a musculatura voluntaria;

- acalmando as emocóes.

A paralisacáo do diálogo interno faz parte da autodefesa psíquica.


Associada á respiracáo profunda, facilita a obtencao da etapa seguinte,
ou seja, o relaxamento da musculatura. Assim é atingido sem dificuldade
o termo final, que consiste em acalmar as emocoes.

Através da melhor ligacáo com o eu superior, o eu medio pode


receber informacoes intuitivas e/ou influenciar o eu superior a pedir ajuda
a outros eus superiores; estes últimos tentaráo enviar a ajuda necessária
através de seus respectivos eus medios.

Uma vez amortecidas as atividades do eu inferior, o programador for


mula, mentalmente, uma ou mais oracóes que expressam o seu objetivo. Ao
fazé-lo, deve levar em conta certas regras muito importantes, a saber:

a) nunca use negacóes explícitas ou implícitas. Exemplo de nega-


cáo explícita: "O meu filho nao vai ficar doente". Exemplo de negacáo
implícita: "O sol será incapaz de queimar a minha pele". O primeiro exem
plo poderia ser reformulado do seguinte modo: "O meu filho continua e
continuará sendo saudável".

Por que nao se devem usar negacóes? - Porque, se vocé usar


negacóes, estará atraindo para si aquilo que deseja evitar.

b) Seja o mais minucioso e preciso possível. Por qué? - Porque, se


nao for preciso, poderá obter algo que nao corresponda ao seu anseio.
Veja-se o caso da jovem que programou: "O meu noivo vai voltar sao e
salvo da Guerra do Golfo e vai casar-se". Resultado: o noivo voltou sao e
salvo, mas casou-se com outra mulher. A formulacáo correta teria sido:
"O meu noivo vai voltar sao e salvo da Guerra do Golfo e vai casar-se
comigo, dentro de um ano após a sua volta".

c) Use tempos verbais presentes (de preferencia, o gerundio) ou futu


ros com limitacáo de data, conforme o caso. Por conseguinte, diga: "A minha
saúde está melhorando" ou "A minha esposa obterá um emprego cujo sala
rio será superior a mil reais até o final do mes de dezembro de 1999".

Deve-se observar que, para algumas pessoas altamente ques-


tionadoras e analíticas, o uso do presente simples (eu sou, eu tenho)

512
NEUROLINGÚÍSTICA: QUE É? 33

pode gerar confuto com o eu medio, pois se fixará na incompatibilidade


entre o presente real e o presente programado. Para tais pessoas, é mais
seguro o uso do futuro com limitacao de data. - E por que a limitagáo de
data é necessária? Pela razáo seguinte: Se Marcelo, com 21 anos de
idade, faz programagáo para ganhar dez mil reais, usando tempo futuro
sem limitagáo de data, poderá acontecer que, aos 92 anos de idade,
receba urna heranga no valor de dez mil reais,... heranga que ele nao
poderá utilizar por estar moribundo no hospital.
d) Faca suas programagóes diariamente, de preferencia sempre
no mesmo horario. Evite fazer programagóes durante os processos di
gestivos. Seja persistente e paciente.
2) Seguem-se agora dois exemplo de PNL bem sucedida:

Exemplo 1 (baseado em tatos reais):


O Sr. W ficou sabendo que a Sra. Y sofría de enxaquecas havia
muitos anos; resolveu entáo fazer programagáo neurolingüística diaria
mente (em setembro de 1996) para que a Sra. Y achasse a solucáo do
seu problema até o final do mes de setembro de 1996. Depois de uns dez
dias de programacáo, o Sr. W concebeu a idéia de presentear a Sra. Y com
o livro 'Yoga para Nervosos" de Hermógenes. Após ler o livro, a Sra. Y pas-
sou a fazer diariamente exercícios de Hatha Yoga, que resolveram o proble
ma de tensáo muscular na nuca - o que levou á cura das enxaquecas.

No caso descrito, o eu superior do programador (Sr. W) Ihe deu a


idéia de comprar o livro que continha a solucáo do problema da Sra. Y. O
eu medio do Sr. W nunca se tinha interessado por Hatha Yoga nem sabia
que tal livro resolvería o problema.
Tal é um exemplo verídico de uso altruista da programagáo, mas o
programador (Sr. W) poderia ter usado a mesma programagáo em bene
ficio próprio, se ele sofresse de enxaqueca. Nesse caso, seu eu superior
Ihe teria dado a sugestáo (que geralmente nao é verbal) de comprar o
mesmo livro para uso próprio ou teria feito chegar as suas máos o livro
presenteado por outro eu medio (o qual, por sua vez, teria seguido as
sugestoes do respectivo eu superior).
Exemplo 2 (potencialmente real):
Um fumante inveterado fuma dois magos de cigarro por dia. Atra-
vés de programagóes neurolingüísticas sucessivas, ele reduz seu consu
mo a urna taxa de cinco cigarros por semana, até que, ao cabo de ses-
senta dias, ele abandona o cigarro definitivamente através da reeduca-
gáo do seu eu inferior.
Eis em breves sentengas os principáis tragos da Programagáo
Neurolingüística. Resta a questáo:

513
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 450/1999

3. Que Aplicares tem a PNL?

"Neurolingüística é a soma dos sistemas internos de comuni-


cagáo que permitem ao sujeito iniciar seu processo de interagao
com o mundo e alterá-lo na medida em que interpreta dentro de si
os resultados que obtém" (Dr. Marco Ceda Natali)

A Programacáo Neurolingüística, em sigla PNL, é urna ferramenta


muito útil para localizar e organizar recursos dentro das pessoas.

Alcunhada por um de seus criadores como "Manual de Instrugdes


para o uso da mente", a PNL oferece urna vasta gama de aplicacóes.

Apenas algumas dessas possibilidades seráo citadas aquí:

• Como acrescentar recursos e intensificar resultados.


• Como aumentar o rapport nos processos de comunicacáo.
• Como conhecer e alcancar os cinco estados essenciais.
• Como contactar o "lado enanca" e conseguir acordos entre as
partes.

• Como descobrir causas de incongruencia.

• Como descobrir e compreender suas motivacoes básicas.


• Como descobrir modelos de mudanca.

• Como eliciar estados de excelencia.

• Como entender os mecanismos do mapa e dos filtros.


• Como implantar e modificar áncoras.

• Como modelar e adotar pontos de vista e excelencias.


• Como proceder a urna cura rápida de fobia.
• Como proceder á Mudanca de Historia Pessoal.

• Como proceder a Ressignificacóes de palavras, de significado e


de contexto.

• Como programar objetivos.

• Como se comunicar com os aliados internos descobrindo objeti


vos positivos.

• Como trabalhar as crencas e o sistema de crencas.


• Como trabalhar com crencas confutantes.

• Como usar a Associacio, Dissociacáo e Tela Mental.

514
NEUROLINGÚÍSTICA: QUE É? 35

• Como usar a estrutura decisoria T.O.T.S.

• Como usar a hipnose ericksoniana para mudar recursos e com-


portamentos.

• Como usar a Linha do Tempo.

• Como usar a modelagem para adquirir novos recursos internos.

• Como usar a técnica do reimprinting da linha temporal parental


como recurso de reeducacáo emocional.

• Como usar as submodalidades para descobrir estados de recurso.

• Como usar metáforas.

• Como usar métodos de visualizacáo e verificacáo ecológica.

• Como usar o Círculo de Excelencia para conquistar novos recursos.

• Como usar o metamodelo da linguagem de Fritz Perls.

• Como utilizar os Níveis Neurológicos para tomadas de decisáo e


implante de modificac.oes.

• Como utilizar os sistemas representacionais.

Poe-se agora a questáo:

4. Que dizer?

Nao é fácil compreender o linguajar da Neurolingüística. Todavía


pode-se dizer que tenciona propor beneficios aos seus clientes mediante
dois fatores: a sugestao ou o condicionamento que o individuo faz a si
mesmo, e... outra forca nao claramente definida.

A sugestao funciona realmente e com grande eficacia, como se


verá abaixo. Quanto á outra forca, alguns mestres da PNL parecem
identificá-la com o eu superior, que seria divino - o que redunda em
panteísmo e nao resiste ao crivo da razáo. Tal outra forca pode ser enten
dida também como um fator parapsicológico: percepcáo extra-sensorial,
hiperestesia, pantomnésia...; tais fatores sao reconhecidos pela ciencia
e podem, de fato, produzir efeitos inesperados. - Resta, pois, pedir aos
arautos da PNL que expliquem claramente quais os fatores que, além da
sugestao, produzem beneficios aos usuarios dessa arte.
Examinemos mais precisamente o que é a sugestao e como atua.

4.1. Sugestao: que é?


A palavra sugestao vem de sub-gerere e significa: "levar, trans
portar alguma coisa para baixo ou sob..."; vem a ser urna insinuacáo ou
515
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 450/1999

também uma subordinacáo. Em psicología a sugestáo ocorre quando se


leva ao subconsciente de alguém uma idéia, que irá abrindo caminho no
consciente desse sujeito e poderá tornar-se uma persuasáo ou conviccáo.

Para compreender bem o funcionamento da sugestáo, devemos


lembrar que o organismo humano tem a capacidade de se adaptar ao
meio ambiente e a seus dados variáveis. Há estímulos externos que pro-
vocam respostas inconscientes e automáticas do organismo, chamadas
reftexos: assim a temperatura elevada suscita a secrecáo de suor, a tem
peratura em baixa provoca arrepios, a proximidade de comida apetitosa
provoca secrecáo de saliva...

Os reflexos podem ser incondicionados e condicionados.


Incondicionados, quando suscitados espontáneamente pela própria
natureza (a secrecáo de saliva, de suor...). Há quem os identifique com
os instintos. Condicionados sao os reflexos que respondem a um estí
mulo neutro ou Indiferente, como é, por exemplo, o toque de uma campa-
inha; este pode suscitar as mais diversas reacoes da parte de alguém
(campainha para despertar, para a refeicáo, para comecar ou acabar o
trabalho...). Se um operador consegue fazer de um estímulo neutro o
excitante de tal ou tal determinada reacáo, diz-se que esse estímulo pro
voca um reflexo condicionado. Tal é o caso, por exemplo, de um cachorro
que, na hora de comer, recebe um pedaco de carne e, por isto, ensaliva
naturalmente a boca; se, antes de se Ihe oferecer a carne, se toca uma
campainha, o animal secreta saliva já ao toque da campainha; esse re
flexo condicionado se torna habitual a ponto que, mesmo que nao se dé
carne ao cachorro, ele ensaliva a boca ao ouvir a campainha.

Todo excitante externo que desencadele respostas biológicas, é


chamado sinal: assim o som, a luz, o tato, a palavra. Principalmente para
o ser humano a palavra é um sinal muito eficaz; ela pode desencadear
atividades biológicas diversas. Quando isto acontece, a palavra é chamada
"sugestáo"; a resposta á sugestáo nao é sempre consciente e racional.
A sugestáo que vem de fora, é chamada hétero-sugestáo. Acon
tece, porém, que a sugestáo pode vir do próprio sujeito ou da imaginacáo
e da memoria do individuo: tal é a auto-sugestáo. Exemplo: se ouco
uma campainha que realmente toca aos meus ouvidos, recebo uma
hétero-sugestáo. Se, porém, sonho com o toque dessa campainha ou a
imagino em delirio, sofro uma auto-sugestáo.
Consideremos agora

4.2. O Poder da Sugestáo

1. A sugestáo pode ser recebida ou concebida por alguém, que


passa a guardá-la no seu subconsciente, sem fazer caso da mesma. Nao

516
NEUROLINGÚÍSTICA: QUE É? 37

obstante, a sugestáo pode, mesmo assim, exercer enorme influencia so


bre o comportamento do sujeito respectivo. Este, sem o saber, estará
agindo sob a forca de urna sugestáo que ele talvez tenha explicitamente
rejeitado em primeira instancia. Imaginemos, por exemplo, um amigo que
diga a seu amigo: "Como vocé está magro e pálido!". Este, ouvindo tal
juízo, protestará e afirmará o contrario. Mas, aos poucos, poderá ir-se
sentindo indisposto e crer que está padecendo de algum mal serio, prin
cipalmente se em seu íntimo estiver predisposto a tanto. Importa notar
que a idéia sugerida murtas vezes vai tomando vulto, e até lugar primacial,
na mente de alguém, apesar da resistencia que essa pessoa Ihe queira
opor. De modo especial, o ser humano repele a idéia de ser vítima de
alguma sugestáo ou de nao ser mais ele mesmo no seu modo de pensar
ou agir; ora, apesar dessa repulsa espontánea, o poder da sugestáo é
¡menso. Sao verídicas as palavras de Claude Bernard, principalmente
quando se tem em vista o inconsciente: "O homem pode muito mais do
que ele julga poder".
2. Principalmente em questoes de saúde e doenca a forca da su
gestáo é reconhecida. Tem grande aplicacáo em todos os tipos de
curandeirismo.

Com efeito. Sabemos quáo benéfico sobre um processo de recu-


peracáo da saúde é o otimismo do paciente; urna boa noticia comunicada
a este pode logo desencadear melhoras fisiológicas.
Também sao conhecidos os casos em que remedios "milagrosos"
produziram efeitos altamente positivos em pacientes gravemente enfer
mos; tais remedios "milagrosos", urna vez analisados, nao revelaram
nenhuma propriedade particular. Diz-se mesmo em tom irónico: "E preci
so apressar-se em tomar remedios novos, enquanto eles curam". Sao
chamados placebo (= agradarei).
O Dr. Mathieu chegou a realizar urna experiencia assaz cruel em
seu Sanatorio de tuberculosos. Anunciou aos enfermos que acabava de
ser descoberto o antídoto da tuberculose, que haveria de os curar ¡medi
atamente. Depois de ter preparado os ánimos dos doentes durante um
período de tempo razoável, o médico injetou-lhes, em dias consecutivos,
um pouco de agua salgada, que ele chamava pelo nome mágico de
antifimose. Entáo os pacientes obtiveram resultados maravilhosos: a
tosse e os escarros diminuíram consideravelmente, os doentes comeca-
ram a sentir apetite devorador, que os fez subir de peso numa media de
tres quilos em poucos dias. Infelizmente, porém, um dos enfermos per-
cebeu que se tratava de um logro e que o médico nada tinha de especial
para curá-los. Logo as melhoras cessaram e todos os síntomas da mo
lestia reapareceram em condicóes mais graves, porque os pacientes es-
tavam desanimados.

517
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 450/1999

Podemos fazer mencáo também dos cataplasmas1, que outrora


eram aplicados com freqüéncia, obtendo, como se dizia, bons resulta
dos. Os observadores julgam que, em grande parte, esses efeitos positi
vos se deviam ao fato de que cada cataplasma exigía meia-hora de pre-
paracáo; durante essa meia-hora o doente tinha a oportunidade de ansi
ar pelo tratamento e de se compenetrar da eficacia do mesmo.

Com outras palavras ainda: está demonstrado que, mediante su-


gestoes, somos capazes de produzir efeitos que consciente e voluntaria
mente nao produziríamos. Sirvam de exemplos a modificacáo da pres-
sao arterial, alteracóes na pulsacáo, na sudoracáo, no nivel de acucar no
sangue, no metabolismo, em sistemas glandulares endocrinos, no siste
ma cardiovascular, na secrecáo gástrica... Isto explica que a sugestáo
possa curar doencas ditas "funcionáis" ou dependentes de bloqueio ner
voso ou emocional: asma, doencas da pele (eczemas), cegueiras funcio
náis e daltonismo, náuseas e vómitos...

3. Nao é necessário que o paciente seja altamente sugestionável


para que a sugestáo verbal possa produzir efeitos reais e objetivos no
organismo. É claro que, ñas pessoas mais sensíveis á sugestáo, os efei
tos sao mais rápidos e perceptíveis do que nos pacientes mais indiferentes.

4. As sugestóes sao eficientes também em estado de vigilia ou em


pacientes acordados. É erro bastante comum pensar que a sugestáo
verbal só provoca resposta fisiológica quando o paciente está em sonó
provocado ou hipnótico. É certo, porém, que um leve estado de soñolen
cia de pessoa em atitude passiva favorece o desencadeamento das rea-
cóes inconscientes e fisiológicas. Este estado pode afetar todas as pes
soas normáis.

5. A sugestáo indireta pode ser mais eficaz do que a sugestáo ver


bal direta.

A sugestáo verbal direta utiliza a própria palavra e sua eficacia para


exercer urna acáo de comando.

A sugestáo indireta recorre nao a urna palavra imperativa, mas a


um objeto ou urna acáo, aos quais se atribuí implícita ou explícitamente
um efeito maraviihoso. Assim, para obter que alguém adormeca, em vez
de se Ihe dar a ordem de tentar dormir, ofereca-se-lhe um pó branco
neutro (pode ser farinha de trigo), dizendo-lhe que é sonífero. Geralmen-
te verifica-se o efeito almejado, ao passo que a palavra só, por mais
meiga que seja, pode nao conseguir o mesmo resultado.

1 Cataplasma é "urna placa medicamentosa que se aplica, entre dois panos, a urna
parte do corpo dorída ou inflamada'' (Dicionário de Aurelio).

518
NEUROLINGÚÍSTICA: QUE É? 39

Sao sugestóes indiretas os passes, as aguas "fluídicas", as ervas


para cha e para banho distribuidas pelos espiritas e curandeiros; estes
podem estar de boa-fé acreditando no valor medicinal de tais recursos;
na verdade, nao fazem senáo oferecer estímulos-sinais, que condicionam
os seus clientes e os levam ao desbloqueio psicológico de que necessi-
tam.

Pode-se, pois, estabelecer como principio: "A sugestáo é tanto mais


eficiente quanto mais indireta ou dissimulada"; quando indiretamente
sugestionado, o paciente pensa menos em se defender do imperativo
vindo de fora.

Deus. A Evidencia. A Reconciliacáo entre a Fé e a Razio no


Mundo Atual, por Patrick Glynn. Tradugáo do inglés por Pedro Marcelo
Sá de Oliveira e Giorgio Oronato Capelli. - Ed. Madras, Rúa Paulo Gon-
galves, 88, 02403-020 Sao Paulo (SP), 1999, 140x210mm, 190 pp.

O autor é Diretor Associado e Académico Residente da George


Washington University Instituto for Communitarían Policy Studies em
Washington, D. C Viveu muitos anos como ateu agnóstico e, por fim,
através do próprio estudo, descobríu que Deus existe. O que o levou a fé,
foi a evolugáo mesma da ciencia contemporánea, que, conforme o autor,
apresenta as seguintes novidades: 1) os físicos descobrem urna ordem
inexplicável no cosmos; 2) os médicos relatam os poderes de cura liga
dos á oragáo; 3) os registros de experiencias feitas porpessoas no limiar
da morte mostram aos psicólogos que a fé religiosa estimula a saúde
mental; 4) os sociólogos reconhecem as conseqüénclas deletérias de
urna sociedade desprovida de valores esplrituais. Este atual panorama
da ciencia revela surpreendente transformagáo que vai ocorrendo no
pensamento dos intelectuais ocidentais, os quais durante dois séculos
tém sido agnósticos, talvez por seguirem o pressuposto de que ciencia e
fé sao incompatíveis entre si. Na ante-sala do secuto XXI, a ciencia ren-
de-se ao reconhecimento de que o universo, longe de ser um caos, é um
mecanismo criteriosamente sintonizado, onde tudo - cada molécula e
cada lei física -parece ter sidoprojetado desde o inicio em diregáo a um
único fim: o surto da vida. Daíprever o autor que o ateísmo bem poderá
deixar de ser a insignia do saber científico eafé já nao será tida como
sinónimo de ignorancia. O livro nao chega a ser urna profissáo de fé cató
lica (embora o autor tenha estudado em instituigóes católicas), mas afir
ma claramente a fé em Deus. É próvido de ampia bibliografía (de língua
inglesa) e de valioso índice Alfabético-Remissivo, que facilita a consulta.
- Só se pode saudar com simpatía tal obra, principalmente por provir de
um ateu convencido pela evidencia mesma de seus estudos científicos.

519
Um católico pergunta:

E AQUELES QUE DIZEM NAO A DEUS?

Em síntese: Deus querque todos os homens se salvem; cf. 1Tm 2,


4. Todavía Ele nao forga ninguém a amá-Lo e preferi-Lo aos bens cría-
dos. Por conseguinte, Deus a ninguém condena; é a criatura que conde
na a si mesma. Caso morra consciente e voluntariamente avessa a Deus
(coisa que só Deus pode saber), terá para sempre a sorte que escolheu
para si, pois a morte coloca o ser humano em estado definitivo, no qual
nao é possfvel qualquer mudanga. - De resto, faz-se necessárío reco-
nhecer que nenhuma criatura está apta a julgar Deus; Este, por defini-
gáo, é a Suma Perfeigáo e a Santidade Absoluta; quando Ele a limitada
razio humana parece injusto, parece tal nao porque seja menos justo do
que o homem (um Deus injusto nao pode existir), mas porque o seu de
signio salvífico ultrapassa o entendimento humano.

A Redacáo de PR recebeu o seguirte e-mail:


"Sou católico, mas tenho urna dúvida que muito me persegue e
incomoda: é a questáo da condenagáo eterna... Como um Deus táo mi
sericordioso pode deixarque seus filhos fiquem para sempre no inferno?
Para mim, o inferno é o lugar dos demonios e nao dos filhos de Deus.
Nao creio que no inferno esteja algum ser humano. Creio na existencia
do inferno, mas nao como lugar dos homens de pecado e condenados".
RESPONDENDO...

Procederemos por partes:

1) Sao Paulo afirma que Deus quer que todos os homens se sal
vem e cheguem ao conhecimento da verdade; cf. 1Tm 2,4. Esta verdade
deve pairar sempre ante os olhos de quem estuda tal temática.
2) Ocorre, porém, que Deus nao forca ninguém a se salvar ou a
amar a Deus sobre todas as coisas. Ele respeita a livre opcao do homem,
quando este prefere a criatura ao Criador ou os bens finitos ao Bem Infinito.
3) Por conseguinte, Deus nao condena a criatura, mas é a criatura
que condena a si mesma, optando por permanecer longe de Deus. -
Esta é outra verdade de importancia capital, que dissipa a idéia de um
Deus Carrasco ou Juiz frió e insensível.

4) Está claro que as opcoes erróneas da criatura humana nem sem


pre sao plenamente responsáveis. Há pessoas angustiadas, obcecadas
que nao agem com total conhecimento de causa ou com plena liberdade.

520
E AQUELES QUE DIZEM NAO A DEUS? _41_

Deus - e só Deus - conhece o íntimo de cada um(a); compreende a fraque-


za de seus filhos. Vé que, muitas vezes, mesmo quando erram, estáo procu
rando o bem, mas nao sabem onde o encontrar. Conhecedor do fundo do
coracáo humano, Ele nao procede como um hornern, mas atende aos anseios
mal formulados daqueles que, sem culpa própria, Lhe dizem Nao.
5) Quem morre consciente e voluntariamente afastado de Deus,
fica para sempre longe de Deus nao num lugar dimensional, mas num
estado de alma (o inferno nao é um tanque de enxofre fumegante com
diabinhos e tridentes). A morte estabiliza a criatura na sua última opcáo,
de tal modo que, após a morte, nao há como trocar de atitudes. A consci-
éncia desta verdade incute ao homem o valor da vida presente e de cada
um de seus instantes; é no tempo que se configura a vida definitiva de
cada ser humano.

A morte coloca o homem num estado definitivo e imutável. O ho


mem fica sendo para sempre amigo ou inimigo de Deus, conforme as
disposicoes que tenha ao deixar este mundo; somente enquanto peregri
na na térra, pode merecer ou desmerecer o Sumo Bem.
Esta verdade se encontra no Evangelho: Jesús admoesta os discí
pulos a que vigiem, pois a atitude que tiverem assumido nesta vida em
relacáo a Deus, definirá a sua sorte definitiva. É o que incutem as pará
bolas das dez virgens (Mt 25, 1-13), dos dez talentos (Mt 25, 14-30), do
ricaco e de Lázaro (Le 16,18-31), o quadro do juízo final em Mt 25,31-46...
A mesma idéia ressoa na pregacáo dos Apostólos; ver Gl 6, 10;
1 Cor 15,24; 2Cor 5,10; 6,2; Hb 3,13. A tradicáo crista a repetiu sempre,
e o Concilio do Vaticano I (1870), suspenso antes de concluido, estava
para promulgá-la em suas definieses teológicas, nos seguintes termos:
"Depois da morte, que é o remate da nossa caminhada, todos tere-
mos logo de nos apresentar perante o tribunal de Cristo, a fim de que
cada qual receba a retribuigáo do que tiver feito de bem ou de mal quan
do estava no corpo (2Cor 5, 10); depois desta vida mortal, nao há mais
possibilidade de penitencia e justificagáo" (Mansi-Petit, Conc. f. Lili, 175).
Até a morte, mas somente até a morte, a natureza humana se acha
completa (alma e corpo) e dotada das faculdades que concorrem para a
sua evolucáo (sentidos, inteligencia e vontade). Ora é lógico que a deci-
sáo do homem relativa ao fim supremo seja tomada pelo homem em sua
natureza completa. O homem nao é espirito só, mas espirito destinado a
vivificar um corpo e desenvolver-se mediante o corpo.
Verdade é que, depois da ressurreicáo, o corpo estará de novo
unido á alma. Por que entáo nao poderá haver mudanca de opcóes após
a ressurreicáo? - Respondemos dizendo que a re-uniáo de corpo e alma
após a morte é algo a que a natureza humana nao tem, por si mesma,

521
42 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 450/1999

direito; é dom gratuito de Deüs. O corpo entáo nao servirá de instrumento


mediante o qual a alma mude as suas inclinacoes; ao contrario, as condi-
cóes do corpo se adaptaráo ás disposicoes, boas ou más, da alma, em
vez de as influenciar; os justdsleráo um corpo glorioso, ao passo que os
reprobos terao um corpo tido como "tenebroso".
A ¡rrevogabilidade de um destino é algo que nos, peregrinos na
térra, difícilmente concebemos; tudo o que conhecemos neste mundo, se
nos apresenta como transitorio; nao temos a experiencia do definitivo ou
da morte.

6) O homem é, muitas vezes, tentado a criticar Deus, como se Este


fosse menos perfeito do que a criatura e tivesse que aprender com ela a
administrar a historia deste mundo. Popularmente falando, isto equivale
a dlzer que, "se Deus nao procede como eu pensó, Deus está errado e
eu estou certo". Ora tal atitude é falsa nao somente aos olhos da fé, mas
também aos da razáo. Com efeito; Deus, por definicáo, é Santo e Perfei
to; está infinitamente ácima da capacidade intelectual e moral da criatu
ra. Em conseqüéncia, um Deus injusto ou imperfeito simplesmente nao é
Deus; quem o admite, está negando o conceito e a existencia de Deus; é
mais lógico nao crer em Deus do que crer num Deus falho e criticável. Se
a criatura nao compreende os designios de Deus, isto nao se deve a
deficiencias do Senhor, mas ás limitacóes do intelecto humano.
Vem muito a propósito a parábola de Mt 20,1-15: um patráo con
trata cinco turmas de operarios em diversas horas do dia e, no fim da
jornada, manda pagar a todos o mesmo salario, embora tenham presta
do desiguais cotas de servico. Um dos mais cansados dos trabalhadores
se insurge entáo e argüi o patráo de injustica, pois iguala entre si os que
nao trabalharam o mesmo número de horas. O patráo Ihe responde com
serenidade, observando que nao Ihe faz ¡njustica, pois pagou quanto foi
estipulado em contrato, ou seja, um dinheiro, a justa remuneracáo. Se
ele dá aos demais trabalhadores algo que nao Ihes é devido em estrita jus-
tica, mas depende da benevolencia gratuita do patráo, ele tira do seu bolso
e nao lesa ninguém. Fica entáo a pergunta: "Precisamente porque eu sou
bondoso além de toda expectativa, dando de graca, tu te irritas? É a minha
magnanimidade surpreendentemente bela e nobre que te faz protestar?"
A mesma resposta do Senhor da parábola pode ser dada pelo Se
nhor Deus á criatura que o critica, julgando que Deus nao é justo e deve-
ria proceder como a criatura procedería. Se Ele "escandaliza", "escanda
liza" porque é bom além dos trámites habituáis vigentes entre os homens.
Entáo nao há por que O criticar, mas, sim, existem motivos para abaixar
a cabeca e adorar a Suma Sabedoria do Senhor, que vé muito mais lon-
ge do que a mesquinha intuicáo do ser humano. É esta a resposta que a
fé católica formula para as dúvidas propostas pelo amigo internauta.

522
Quem sabe?

O NAO AOS ANTICONCEPCIONAIS


ADMITE EXCEQÁO?

Em síntese: Há quem alegue que, quando o casal nao pode seguir


os métodos naturais de contengáo da natalidade, é lícito o recurso aos
anticoncepcionais. - A propósito observe-se que os anticoncepcionais
truncam a natureza e, por isto, violam a lei natural, que é a lei de Deus.
Por isto em caso nenhum se tornam lícitos. Dos métodos naturais o mais
seguro é o de Billings (98,5 %), que, em vez de sacrificar um só dos
cónjuges, une o casal, exigindo a colaboragáo das duas partes para que
mantenham o propósito de continencia nos dias fecundos do organismo
feminino.
* * *

Vía internet, a Redacao de PR recebeu a seguirte mensagem, á


qual responderá ñas páginas subseqüentes:
"Em conversa com amigos católicos pela internet, deparei-me com
a afirmagáo abaixo:

"Se houver algum problema que impega o casal de usar os méto


dos naturais, a Igreja permite o recurso aos métodos artificiáis. Para isso,
converse com um padre de sua confianga'.
Isto quer dizer que, quando a mulher tem ciclo menstrual por de-
mais irregular ou existam outros problemas que nao permitam ao casal
fazer um planejamento familiar responsável mediante os métodos natu
rais a Igreja permite o uso dos anticoncepcionais? Caso afirmativo, quem
na 'igreja tem autoridade para dar a permissáo? Qualquer padre? So-
mente um Bispo? Ou os padres designados para estudar os casos? .
RESPONDENDO...

Eis o que se deve dizer a respeito:


Comecemos pela pergunta: por que é que os meios artificiáis para
conter a natalidade nao sao lícitos e chegam a ter contra-indicacoes
médicas?
A iliceidade nao se deve a um decreto da Igreja, mas sim á própria
lei natural que é a lei do Criador. Na verdade, existe urna lei natural
anterior á iei dos homens (eclesiásticos ou civis). Observe-se o organis-
523
44 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 450/1999

mo humano: está sujeito a certas normas para poder viver sadiamente:


assim á leí da alimentacáo, e da alimentacáo bem ponderada (nao é
lícito comer qualquer coisa atraente);... á lei da respiracáo (nao é possí-
vel respirar gas carbónico sem incorrer em graves conseqüéncias);... á
lei do repouso (nao há como trabalhar sem descansar adequadamen-
te);... e também as leis da genitalidade: o aparelho genital humano é
unitivo (promove a uniao do marido e da muiher) e é fecundo em certos
dias do mes; a natureza torna a muiher fecunda. Em conseqüéncia, os
anticoncepcionais ferem a natureza - o que contraria á lei do Criador. Eis
por que a Igreja, fiel ao Senhor Deus, rejeita os anticoncepcionais; estes
descaracterizam a sexualidade, proporcionando o gozo de um prazer com
detrimento do funcionamento normal da natureza.

É claro, porém, que, quando a natureza é, por si mesma, estéril


nao há pecado em procurar a cópula sexual. Isto se faz sem recursos
artificiáis ou sem anticoncepcionais.

De resto, a própria medicina e o bom senso reconhecem que a


pílula anticoncepcional é nociva ao organismo. Na verdade, é um prepa
rado farmacéutico colocado num organismo que funciona bem, para que
nao funcione bem. Isto só pode fazer mal.

Por conseguinte, vé-se que a Igreja (Bispo ou padre) nao pode


autorizar o uso de anticoncepcionais em caso algum. Nao é facultado á
Igreja dizer que é permitido aquilo que a lei de Deus nao permite. Se o
fizesse, estaría traindo o Senhor Jesús.

A dificuldade que muitos experimentam para aceitar tal posicao,


está no preconceito de que o uso da genitalidade é um imperativo
inexorável, ao qual nao se pode escapar sem incorrer em doenca. Ora
este preconceito freudiano é falso. A genitalidade é uma das expressóes
da pessoa humana, mas nao é a única nem a mais exigente; ela tem que
ser inserida no quadro geral da personalidade, que tende a um ideal.
Pode alguém professar o celibato ou a vida una e indivisa e sentir-se
altamente realizado sem exercer a genitalidade. Faz-se necessário, por-
tanto, vencer o preconceito de que o sexo é imperioso e deve ser pratica-
do em qualquer hipótese.

Alguém perguntará: mas a continencia periódica, sem algum anti


concepcional, nao é algo de arriscado? Fala-se de "filhos da tabelinha". -
Na verdade, a tabela de Ogino-Knaus está superada; atualmente reco-
menda-se o método de Billings ou do muco cervical, que tem a garantía
de 98,5 % de éxito.

Vale a pena transcrever aqui uma página do Dr. Joáo Evangelista


dos Santos Alves, que expóe os aspectos positivos dos métodos naturais:
524
O NAO AOS ANTICONCEPCIONAIS ADMITE EXCEgÁO? 45

«O método natural nao é anticoncepcional porque nao utiliza ne-


nhum tipo de contraceptivo, pois respeita as fontes da vida e o processo
biológico da reprodugáo humana, opta pela realizagao do ato sexual so-
mente no período infértil, com abstengáo no período fértil;
- Respeita a mulher e o homem em sua mutua fertilidade, integri-
dade e dignidade;
- Promove o diálogo conjugal, favorecendo o conhecimento mutuo
dos cónjuges e urna atitude conjunta e responsável diante da sexualidade;
- Possibilita um controle generoso do número de filhos pelo conhe
cimento dos períodos férteis e inférteis; a identificagáo do período fértil
favorece a concepgáo, quando for esse o desejo do casal;
- Valoriza o amor conjugal, reforgando a uniáo de almas e o enten-
dimento mutuo, a fim de possibilitar a periódica abstengáo sexual;
- Enobrece a sexualidade humana, assumindo-a, ambos, como
fonte de amor mutuo e nao de egoísmo, e respeitando sua natureza e
finalidade intrínsecas...
A Medicina, como qualquer outra ciencia, tem que ser orientada
pela Filosofía, que a subordina a valores éticos. Nao está a Medicina
obrigada a realizar tudo o que a tecnología possibilita fazer; pelo contra
rio, existem limites éticos que resguardam valores fundamentáis, umver-
sais e perenes.

E aquí está a grande diferenga entre a Ciencia Médica e as outras


ciencias naturais: a dignidade de sua materia de trabalho, que na Medici
na é o próprio ser humano e ñas outras ciencias naturais sao os seres
irracionais e os seres inanimados.
O ser humano constituí a finalidade de todas as ciencias, mas para
a Ciencia Médica, além de ser o fim, o ser humano constituí também o
meio, a sua materia de trabalho.
Assim ao contrario dos médicos, os demais dentistas, trabalhando
para o bem da humanidade, podem e devem - resguardada a preserva-
cao da natureza - fazer quase tudo que a tecnología moderna possibilita
que fagam, pois o material que manipulam é destituido de táo grande
dignidade, encontrándose a servigo do homem: os átomos, as molécu
las, os minerais, vegetáis, animáis, etc.
Já os médicos, éticamente, nao podem e nao devem fazer tudo o
que a tecnología possibilita que fagam, pois sua materia de trabalho é o
seu semelhante, é o próprio ser humano a quem devem servir e respeitar.
O abandono desta filosofía implica em regressáo e desvalorizagáo
da própria ciencia e em desrespeito á dignidade da natureza humana.
525
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 450/1999

Nao é possfvel promover a vida humana desvalorizándose a própria


natureza da vida que se quer promover» (Direitos Humanos, Sexuali-
dade e Integrídade na Transmissáo da Vida, em A Vida dos Direitos
Humanos, coletánea organizada por Jaques de Camargo Penteado e
Ricardo Henry Marques Dip. Porto Alegre 1999, pp. 248-250).

Neopentecostais. Sociologia do novo Pentecostalismo no Bra


sil, por Ricardo Mañano. - Ed. Loyola, Sao Paulo, 160x230mm, 246 pp.
Este livro tem em seu cerne a tese de mestrado apresentada em
1995 á USP (Departamento de Sociologia) pelo autor da obra, que se diz
explícitamente ateu (o que Ihe confere objetividade e isencáo de partido
quando fala das diversas correntes religiosas do Brasil). Ricardo Mariano
realizou ampios estudos na área de quatro comunidades neopentecostais:
a Igreja da Nova Vida, a Universal do Reino de Deus, a Comunidade
Renascerem Cristo e a Comunidade Sara Nossa Térra. Recolheu assim
denso material (deciaragoes, entrevistas e estatísticas), que configura
minuciosamente o movimento neopentecostal protestante. Sao particu
larmente interessantes os capítulos em que o autor trata da Guerra con
tra o Diabo, da Teología da Prosperídade e da Liberalizagáo dos Tradici-
onais Usos e Costumes de Santidade Pentecostal. R. Mariano póe em
evidencia o pessimismo que afeta essas denominagóes, as quais divi-
dem o mundo em dois partidos: o de Deus e o do Diabo; as desgragas
sao geralmente atribuidas á agáo do Maligno, que é preciso expulsar
mediante exorcismos. Todavía sem sacrificio (dízimo, que pode chegara
30%, e oferta cujo montante há de ser o mais elevado possível) nao se
pode esperar recebera graga da libertagáo. O autor do livro transcreve
deciaragoes de pastores neopentecostais, que afirmam a premente ne-
cessidade de oferta de dinheiro (que é o sangue da Igreja, conforme Edir
Macedo). Eis o que se lé as pp. 167s:

"Campanha do Cheque da Abundancia. Depois dos cánticos, ora-


góes e exorcismos, o pastor pede as contribuigóes. Diante do silencio,
desánimo e constrangimento dos fiéis, pontifica: 'Se Deus abengoassé
sem que ninguém tivesse que fazer algo em troca, estariam todos con
tentes, é ou nao é? Mas existe urna lei, é a lei do dar e receben A lei do
dízimo e da oferta é de Deus, nao de homens, pastores, bispos, o Papa.
O plantar e o colher, o daré o receber é lei de Deus para os homens. Sem
o dar nunca haverá o receber. Se vocé quiserganhar dinheiro, tem que
trabalhar. Nada é de máo beijada. Pra receber, precisa dar. O que Deus
pede? O dízimo e mais urna oferta. Quando vocé dá, pode exigir em tro
ca. Quem nao dá, desobedece á lei de Deus. A desobediencia é o peca-

continua na pág. 509)

526
HOMOSSEXUAL ADOTA CRIANQA

Eis a noticia publicada pelo JORNAL DO BRASIL, edicáo de 7/7/


99, p. 22:
«JUIZ DÁ A GAY DIREITO DE ADOTAR UMA CRIANQA

Urna decisáo inédita dajustiga carioca deu o direito a um professor,


homossexual assumido, de adotar urna crianga de 9 anos. Ontem, o Tri
bunal de Justiga do Rio de Janeiro confirmou a sentenga do juiz Siró
Darían, da 1B Vara da Infancia e da Juventude, que em agosto do ano
passado autorizou a adogáo. A decisáo do desembargador Jorge de
Miranda Magalháes contrariou parecer do Ministerio Público, que recor-
reu da sentenga inicial alegando que o convivio com homossexuais po-
deria prejudicara formagáo da personalidade e do caráterda crianga. 'O
que interessa é que a pessoa seja idónea e que a crianga esteja bem em
sua companhia. O resto é preconceito', disse Siró Darían.
O professorlói submetido a todos os requisitos e foi considerado
apto para a adogáo. Segundo ojuiz, ao se inscrever, o professor fez ques-
táo de informar sua opgáo sexual. 'Ele nao é urna pessoa atetada. Se ele
nao se declarasse como tal, ninguém saberia de sua opgáo homossexual
e o Ministerio Público nao teña entrado com o recurso. Isso demonstra
honestidade, caráter. Ele quis enfrentar o preconceito. Quantos pais bio
lógicos existem que sao homossexuais. Ealguém quer tirar os filhos de
les por isso?', argumentou Siró Darían.
A decisáo do Tribunal de Justiga cria jurisprudencia sobre o assun-
to Antes dessa adogáo já efetivada, o juiz Siró Darían já havia provocado
polémica ao deferir pedido de cadastramento de outro homossexual na
fila de espera por bebés, no Juizado. 'Esse outro cidadáo quer urna meni
na de até dois anos e nao terá problemas para adotá-la quando chegar a
hora', afirmouojuiz».
Que dizer a propósito?
O juiz Siró Darían alega que, para exercer as funcóes de pai adoti-
vo, basta que "o professor homossexual seja pessoa idónea e a crianca
esteja bem em sua companhia. O resto é preconceito".
Faz-se mister observar que o pai nao deve ser apenas modelo de
idoneidade moral ou de honestidade; também nao basta que proporcio
ne á crianca tudo de que ela precisa no plano material. Na verdade, todo
pai é exemplo ou modelo para seus filhos, especialmente para os meni
nos- a pessoa do pai e seu tipo de vivencia falam eloqüentemente a en
anca e tendem a se tornar prototipo para a mesma. Tal relacionamento
(rapport) é espontáneo e talvez inconsciente, mas muito eficaz.
527
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 450/1999

Ora nao é desejável que se multiplique o número de gays em nos-


sa sociedade. Por ¡sto é condenável todo procedimento que contribua
para formar um gay. Este fácilmente se torna infeliz, porque se dá conta
de que é diferente dos demais individuos do sexo masculino. A socieda
de o evita, fechando-lhe as portas em mais de um lugar.
É de lembrar que a palavra homossexualismo tem como sinóni
mo o vocábulo sodomía, que vem de Sodoma, a cidade punida drástica
mente por causa da prática homossexual de seus habitantes (dizemos:
prática, pois a mera tendencia homossexual nao traduzida em atitudes e
atos nao é pecaminosa) Cf. Gn 19, 1-29.

O fato de um pai biológico ser homossexual é algo de consumado;


nao deve ser separado de seus filhos. Outra coisa é permitir a adocáo de
crianca por um homossexual, quando há tantos casáis bem constituidos
que podem assumir tal enanca. Ademáis o pai biológico homossexual
nao é modelo táo unívoco e significativo quanto o cidadáo homossexual
assumido publicamente.

É para desejar que a decisáo do desembargador Jorge de Miranda


Magalhaes nao crie jurisprudencia - o que só será possível se a opiniáo
pública se manifestar contraria em tom claro e expressivo. É muito fre-
qüente ver pessoas que discordam de algo, mas apenas o lamentam
sem fazer o que seja para remover o que elas condenam.
Estéváo Bettencourt O.S.B.

Feridas de Jesús, por José Humberto Cardoso Resende. - Ed


Própria 1999, 160x230mm, 105 pp.

O autor é Chefe do Servigo de Cirurgia Plástica do Hospital dos


Servidores do Estado do Rio de Janeiro e pesquisador do Santo Sudario
e temas afins. Após publicar bela obra sobre a sagrada mortalha, edita
um livro sobre as chagas de Jesús tais como podem ser reconstituidas
através do estudo do S. Sudario; analisa, pois, o flagelo de Jesús, as
feridas da cabega, do dorso, dosjoelhos, dasmáos, dospés, do tórax, do
lado... Julga poder detectar indicios da ressurreigáo de Jesús gravados
no santo tengo!. A contestagáo segundo a qual o Sudario é urna pega
medieval, devida ao teste do Carbono 14, já foi superada, pois há eviden
cia de que o teste do C14 nao foi realizado segundo as exigencias de um
exame científico (cf. PR 378/1993, pp. 482-487); além do qué sao tantas
asprovas de autenticidade detectadas pela NASA e outros Institutos que
é difícil nao aceitar a provável genuinidade do S. Sudario. Parabéns ao
Dr. José Humberto! O livro é ilustrado por fotografías muito significativas
que o valorizam aos olhos do leitor.

Enderego do autor: Rúa Rodolfo Dantas 16 ap. 1001, Copacabana


22020-040 Rio de Janeiro (RJ).

528
Dom Martinho Michlcr, O.S.B.
(Ravensburg 1901 - Rio de Janeiro 1988)

Abade durante vinte e um anos do Mosteiro de Sao Bento do Rio de


Janeiro (1948 -1969), foi urna figura impar no cenário eclesiástico brasileiro,
neste século. Sua influencia sobre a juventude católica ñas décadas de 30 e
40 levou dezenas de jovens a consagrarem-se a Deus na vida religiosa. Seus
ensinamentos no campo litúrgico anteciparam profeticamente o Vaticano II,
do qual foi padre conciliar, e deram incremento ao Movimento Litúrgico no
Brasil. Nao é sem razáo que foi chamado de 'apostólo do movimento
litúrgico" e Alceu Amoroso Lima o cognominou de "o Romano Quardhúdo
Brasil'.
A vida de Dom Martinho, escrita por seu filho espiritual Dom Clemente
Isnard OSB, bispo emérito de Nova Friburgo, será de grande interesse nao só
para os que estudam a Historia da Igreja em nossa Térra, mas também para os
que desejam conhecer urna vida consumida pela fidelidade e amor á Igreja e
ao monaquismo beneditino.
Queira Deus que ás centelhas de fé espalhadas por Dom Martinho em
vida, se juntem agora muitas outras suscitadas nos leitores deste livro, ao
reconhecerem, na perseveranca e fé do homem de Deus, a acáo do Espirito
Santo na alma do servo fiel.
Livro publicado pelas Edicóes Lumen Christi. Com lotos. 180pp. R$ 20,00.
Pedidos pelo Reembolso Postal. Veja informacóes na 2a capa.
Acaba de sair um novo livro de:

Dom Bento da Silva Santos, O.S.B.

A imortalidade da alma no "Fédon" de Piatáo.


Coeréncia e legitimidade do argumento final (102a - 107b).
Porto Alegre, EDIPUCRS, 1999, 126 p. (Colecao "Filosofía", n° 89).

Sumario geral do tivro:


CAPITULO I - Origens da concepgáo de alma e de suas qualificagoes an
tes de Piatáo.

CAPÍTULO II - A alma e sua imortalidade no "Fédon" de Piatáo


CAPÍTULO III - O argumento final de Sócrates (102a - 107b)
CAPÍTULO IV - A mensagem ética do "Fédon": o significado da existencia
humana e o sentido da vida e da morte.

Prego: R$ 15,00.

Pedidos:
Ed. "Lumen Christi"
Mosteiro de Sao Bento
Caixa Postal: 2666
CEP: 20001-970
Centro - RJ

RENOVÉ QUANTO ANTES SUA ASSINATURA DE PR.


RENOVAQÁOOU NOVA ASSINATURA (ANO DE 2000): R$35 00
NÚMERO AVULSO R$ g'5O'

PERGUNTE E RESPONDEREMOS ANO: 1998


Encadernado em percalina, 590 págs., com índice incluido.
(Número limitado de exemplares) R$ 50,00

INTERNET: e-mail: lumen christi @ pemail.net


www.osb.org.br

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