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P rojeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos estar
preparados para dar a razáo da nossa
esperanga a todo aquele que no-la pedir
{1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos conta


da nossa esperanga e da nossa fé hoje é
•■■ mais premente do que outrora, visto que
somos bombardeados por numerosas
- correntes filosóficas e religiosas contrarias á
fé católica. Somos assim incitados a procurar
consolidar nossa crenca católica mediante
um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questoes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista crístáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega no
Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar
este trabalho assim como a equipe de
Veritatis Splendor que se encarrega do
respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaca depositada


em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral
assim demonstrados.
Ano xxxvni Agosto 1997
Igreja Doméstica

Conciliarismo: Que é?

Os Cristáos e a Data da Páscoa

"Aborto Legal? Isso nao existe!"

Esterilidade Involuntaria

Preservativos ñas Escolas

Quem sao os Ciganos?

Um Cigano Beatificado: Ceferino Jiménez Malla

"Quando Deus andou pelo mundo, a Sao Pedro


disse assim..."

A "Folha Universal"

Santos casados
PERGUNTE E RESPONDEREMOS AGOSTO 1997
Publicagáo Mensa I N°423

SUMARIO
Diretor Responsável
Estéváo Bettencourt OSB
Igreja Doméstica 337
Autor e Redator de toda a materia Choque de Correntes:
publicada neste periódico Conciliarismo: Que é? 338
Divergencia insustentável:
Diretor-Administrador: Os Cristáos e a Data da Páscoa 346
D. Hildebrando P. Martins OSB
Grande Batalha do Momento:
"Aborto Legal? Isso nao existe!" 350
Administrado e Distribuicáo:
Edigóes "Lumen Christi" Palavra de Médico:
Esterilidade Involuntaria 358
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5° andar - sala 501
Tel.: (021) 291-7122 Um Alarme Francés:
Preservativos ñas Escolas 362
Fax (02i) 263-5679
Controvertidos:
Enderezo para Correspondencia: Quem sao os Ciganos? 366
Ed. "Lumen Christi" O primeiro da historia:
CaixaPostal 2666 Um Cigano Beatificado: Ceferino Jiménez
CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ Malla 373
Urna Parábola:
Visite o MOSTEIRO DE SAO BENTO e "PER "Quando Deus andou pelo mundo, a Sao
GUNTE E RESPONDEREMOS" na INTERNET: Pedro disse assim..." 376

http://www.osb.org.br. Nao pode ser crista:


A "Folha Universal" 381
Vocé sabia?
ImpressSo e Encadernafffo Santos casados 383

-marques Saraiva" COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA


GRÁFICOS E EDITORES Ltda. NO PRÓXIMO NUMERO:
Tais.: (021) 273-9498 /273-9447

«Descasados com Fé». - Pío XII e os Judeus. - Frei Damiáo: Mito ou Santo? - De «Reí
do Aborto» a Defensor da Vida. - Batismo em favor dos Mortos? - Doacáo Compulso
ria? - Pentecostalismo protestante: origem e expansáo. - Dos depoimentos de um Con-
fessor da Fé.

(PARA RENOVACÁO OU NOVA ASSINATURA: R$ 25,00).


{NÚMERO AVULSO R$ 2,50).

O pagamento poderá ser á sua escolha:

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Obs.: Correspondencia para: Edicoes "Lumen Christi"


Caixa Postal 2666 \
20001-970 Rio de Janeiro - RJ >
A IGREJA DOMÉSTICA
O mes de agosto é de intensa preparacao para a vinda do Papa ao Rio
de Janeiro, onde terá lugar o II Encontró Mundial de S. Santidade com as
Familias nos dias 3,4 e 5 de outubro pf.
A familia constituí urna "igreja doméstica" (Constituicáo Lumen Gentium
n° 11). As duas nocoes, á primeira vista, nao se combinam bem, pois igreja
significa algo de sagrado e santo, hierático e contido, ao passo que a domus
(= casa) implica algo de profano, leigo e descontraído. Na verdade, porém, os
dois termos, para o crístáo, se complementam mutuamente: o que há de sa
grado na igreja se prolonga no "estar-á-vontade" da casa, pois nada há de
profano ou meramente leigo na vida do cristáo; em tudo ele serve a Deus. Foi
para isto, alias, que o Filho de Deus se fez homem; viveu, cresceu e labutou
em casa de familia, serviu obediente a María e José; como diz o Concilio do
Vaticano II, "trabalhou com máos humanas, pensou com inteligencia humana,
agiu com vontade humana, amou com coracáo humano" (Constituicáo Gau-
dium et Spes n° 22), e assim "manifestou plenamente o homem ao próprio
homem e Ihe descobriu a sua altíssima vocacáo" (ibd.). Nada há alheio ao
religioso, para o crístáo, que nao conhece dois foros (o secular e o sagrado), já
que ele pode dizer com Sao Paulo: "Vivo eu, nao eu; é Cristo que vive em
mim" (Gl 2,20) ou "Completo em minha carne o que falta á Paixáo de Cristo
em favor do seu Corpo, que é a Igreja" (Cl 1,24). Tal é a dignidade da vida coti
diana e comezinha do cristáo. Assim entendida, ela é remida (passtvamente)
e corredentora com Cristo (ativamente); nela a dor e a morte de Jesús se
exercem para que também a vida de Jesús nela se manifesté (2Cor 4,10-12).
Com outras palavras: a familia é o reduto onde a grande obra da Re-
dencáo iniciada por Cristo no Calvario se concretiza diariamente através dos
séculos. O esposo e a esposa vém a ser, um para o outro, canal de graca,
quer rezem juntos, quer sofram ou se alegrem juntos, quer pensem nos fiihos
e nos seus questionamentos, quer se preocupem com o orcamento da casa...
O sacramento do matrimonio é sacramento permanente, como permanente é
a Eucaristía; enquanto dura a materia do sacramento, dura o sacramento.
Através da vida matrimonial fielmente vivida, se realiza a santificacáo dos
cónjuges e dos fiihos: "Os cónjuges cristáos vém a ser, um para o outro, para
os fiihos e os demais familiares, cooperadores da graca e testemunhas da fé"
(Apostolicam Actuositatem n° 11). É no lar, nos joelhos da máe, nos bracos
do pai, que comeca a ser anunciado o Evangelho as novas geracoes, pois a
Igreja missionária existe em cada lar cristáo.
O II Encontró do Papa com as Familias nao será simplesmente urna
'testa", mas há de ser urna reflexáo sobre a realidade da familia, com o que ela
tem de belo e nobre na vivencia do dia-a-dia, nem sempre fácil e "festiva". Os
depoimentos de casáis provenientes de diversas partes do mundo iiustraráo a
temática.
Queira o Senhor abencoar táo importante evento!
E. B.

337
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XXXVIII - N° 423 -Agosto de 1997

Choque de correntes:

CONCILIARISMO: QUE É?

Em síntese: A teoría conciliarista ensina que o Concilio ecuménico


ou geral (universal) está ácima da jurisdigáo do Papa, de modo que um
Concilio ecuménico poderia julgar e depor qualquer Papa. Tal doutrína
se propagou na Idade Media, a ponto de tersido proclamada pelo Conci
lio de Constanca em margo-abril de 1415. - Observe-se, porém, que o
Concilio de Constanca comegou em virtude de urna convocagáo ilegítima
e, por isto, nao tinha a autorídade de Concilio ecuménico quando tentou
definir o conciliarismo. Somente em julho de 1415 tal Concilio obteve
legitimidade, pois entáo foi convocado pelo Papa legitimo (Gregorio XII),
que, após a convocagáo, renunciou a cátedra papal, deixando-a vacan
te. Isto possibilitou aos conciliares eleger o novo Papa legítimo, Martinho
V, em 1417, o qual logo condenou as teses conciliaristas, pois ferem as
Escrituras: estas registram a promessa feita por Cristo, á sua Igreja, de
Ihe assistir até o fim dos séculos, contanto que guarde a sucessáo apos
tólica (cf. Mt 28,18-20) e seja fiel ao primado confiado a Pedro e seus
sucessores (cf. Mt 16,17-19; Le 22,31s; Jo 21,15-17).

Em nossos dias vem á tona a temática relativa á constituicáo da


Igreja. Pergunta-se: tem estrutura monárquica? Deveria ser urna demo
cracia?... democracia parlamentar?... democracia presidencial?... Assim
conceitos da sociología e da política modernas se introduzem no tratado
da Igreja. Faz-se oportuno, em conseqüéncia, propor a discussáo dessa
temática como se deu na Idade Media; os resultados dos debates de
entáo conservam valor definitivo.

1. A Fundamentagáo Bíblica

Jesús lancou as linhas estruturais e definitivas da sua Igreja.

Chamou os doze Apostólos. O número doze é importante, porque


mostra a continuidade com o antigo Israel, que era o povo das doze tri-

338
CONCILIARISMO: QUE É?

bos. Segundo os judeus, a vinda do Messias provocaría a reuniáo das


doze tribos dispersas no exilio. A escolha dos doze significa que chegara
o tempo de constituir um Israel renovado. A importancia do número doze
se depreende ainda do fato de que os Apostólos o quiseram restaurar
após a desercao de Judas (cf. At 1,15s).

Dentre esses doze, Jesús escolheu Pedro para exercer funcóes


especiáis, conferindo-lhe o primado no pastoreio da Igreja. Assim

- em Mt 16,17-19 Jesús faz de Kepha (Pedro) a Kepha (pedra)


fundamental de sua Igreja e confere-lhe as chaves do Reino assim como
o poder de ligar e desligar, ou seja, de proibir e permitir ou declarar ver-
dade ou lícito (desligar), declarar erróneo ou ilícito (ligar);

- em Le 22,31 s Jesús diz ter rezado por Pedro em especial e atri-


bui-lhe a missáo de confirmar os irmáos na fé;

- em Jo 21,15-17 Jesús entrega o primado a Pedro, fazendo-o


Pastor supremo de suas ovelhas.

É de notar que em Mt 18,18 Jesús quis outorgar aos doze Apostó


los (os onze mais Pedro) o poder de ligar e desligar, isto é, de proibir e
permitir, ensinar a verdade e profligar o erro. Sao as faculdades mesmas
outorgadas a Pedro - o que quer dizer que Pedro, por sua autoridade
pessoal pode exercer aquilo que o conjunto dos Apostólos (Pedro e os
onze) podem exercer colegialmente.

Na verdade, nao é a figura humana de Pedro que merece para o


Apostólo a honrosa funcáo de primaz. O próprio Evangelho o dá a enten
der, pois, logo após a confissáo de fé de Pedro (devida a urna revelacáo
do Pai) e a resposta de Jesús em Mt 16,17-19, Pedro manifesta sua fra-
gilidade, recusando a sorte do Messias padecente e ressuscitado que
Jesús apresenta em Mt 17,22s e Me 8,31-33; o Senhor o censura por nao
ter o senso das coisas de Deus (Me 8,33). Isto bem mostra que Pedro é
feito primaz e exerce as suas funcóes por especial dom de Deus e nao
por causa de seus predicados humanos. O mesmo se daría com os su-
cessores de Pedro: escolhidos por livre designio de Deus, seriam os pas
tores supremos da Igreja por exclusivo efeito de um carisma outorgado
gratuitamente á criatura e apto a fazer desta o instrumento do plano
salvífico de Deus, ultrapassando os limites da fragilidade humana.

É de notar ainda que nos Evangelhos Pedro aparece com certo


relevo:

- é o porta-voz dos Apostólos: Me 8,29-32; 10,28; Mt 18,21; Le


12,41; Jo 6,67;

339
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 423/1997

- no catálogo dos Apostólos é sempre citado em primeiro lugar: Me


3,16-19; Mt10,2-4;Lc6,12-16;At1,13;

- nao raro se lé "Pedro e os seus": Le 9,32; Me 14,37; 16,7.

Ulteriores consideracoes a respeito podem ser encontradas no Cur


so de Eclesiologia da Escola "Mater Ecclesiae". Os dados bíblicos aquí
citados sao suficientes para evidenciar que a estrutura da Igreja nao é a
de urna sociedade meramente humana; nao é nem monárquica nem de
mocrática, mas vem a ser um sacramento ou urna estrutura divino-huma-
na, em que o humano é patente, sem dúvida, mas está a servico da acáo
redentora de Cristo, que vive e atua na sua Igreja. Sem impedir que o
livre arbitrio das criaturas se exerca em toda a gama de suas exprés-
sdes, o Senhor Jesús governa a Igreja, garantindo-lhe incolumidade até
o fim dos tempos; cf. Mt 28,18-20; Mt 16,18s.

Eis o que se pode depreender de um exame objetivo e sereno dos


textos do Novo Testamento.

2. O Desenrolar da Historia até 1415

A consciéncia do primado de Pedro foi-se manifestando á medida


que era necessário dirimir dúvidas de fé ou de disciplina desde os primei-
ros séculos.

No século VI ela se exprimiu enfáticamente na palavra do Papa


Gelásio I. Este, entre 493 e 495, declarou que a Sé de Pedro (romana)
tinha o direito de julgamento sobre todas as outras sedes episcopais, ao
passo que ela mesma nao está sujeita a algum julgamento humano. Em
501 o Synodus Palmaris de Roma reafirmou este principio: "Prima se
des a nemine iudicatur. - A sé primacial nao pode ser julgada por instan
cia alguma".

Todavía no século XII, ou seja, em 1140 aproximadamente, o cha


mado "Decreto de Graciano" (Dist. XI, c. 6) propós urna norma diferente,
segundo a qual o Papa poderia ser julgado pela Igreja caso caísse em
heresia. A origem desse Decreto (colecáo de cánones) nao é clara; pos-
sivel mente deve-se a um certomagister Gratianus, monge camaldulense.
Levantava a hipótese de que o Papa pudesse cair em heresia; ora isto é
excluido pela garantía de assisténcia que Jesús prometeu a Pedro, fa-
zendo-o mesmo "aquele que devia confirmar seus irmios na fé" (cf. Le
22,31 s).

Como quer que seja, o principio do Decreto de Graciano se propa-


gou por toda a Idade Media, sugerindo que houvesse casos nos quais o
Papa poderia ser sujeito a julgamento de instancias eclesiásticas. Os
séculos XIV e XV foram difíceis para a Igreja, em parte por causa de

340
CONCILIARISMO: QUE É?

conflitos com os reís da época, que tendiam a certa absolutizacáo de


seus poderes; tenham-se em vista especialmente Filipe IV o Belo da Fran
ca (1285-1314) e Luís IV da Baviera (1314-47). Em conseqüéncia, a au-
toridade papal se enfraqueceu, e tomou maior vulto a sentenca dissemi
nada pelo Decreto de Graciano.

Varios escritos foram publicados em prol de tal tese, destacándo


se o Defensor Pacls, de Marsílio de Padua, datado de 1324. Este autor
destoava do pensamento filosófico do século XIII; professava um
aristotelismo de colorido naturalista e um nominalismo infiltrado de ceti-
cismo averroísta. Em materia teológica, dizia que Jesús Cristo nao insti-
tuiu chefia visívei para a sua Igreja; todos os ministros desta gozariam
das mesmas faculdades. O Papado seria críacáo do Imperador, que teria
o poder de corrigir e depor os Papas. O órgáo supremo de governo da Igreja
seria o Concilio geral ou ecuménico, convocado pelo Imperador e integrado
nao só pelos Bispos, mas também por presbíteros e leigos. As decisoes
do Concilio ecuménico teriam valor ¡mediatamente após as sentencas da
S. Escritura; entrariam em vigencia por decretos da autoridade imperial.
O Concilio ecuménico, apoiado pelo Imperador, poderia depor o Papa.

Em 1327 o Papa Joáo XXII declarou heréticas cinco proposicoes


extraídas do Defensor Pacis; também a Universidade de París conde-
nou varias sentencas de tal obra. Isto deteve a ressonáncia das idéias de
Marsílio de Pádua; todavía elas foram restauradas poucos decenios de-
pois, principalmente pelos escritos de Guilherme de Occam (1285-1349),
Pedro d'Aílly (1350-1420) e Joáo Gerson (1363-1429)...

Em 1378 a situacáo se agravou, pois se iniciou o Grande Cisma do


Ocidente: por ingerencia da Franca e de poderes estranhos, passou a
haver um Papa legítimo em Roma e um antipapa em Avinháo (Franca);
os cristáos, mal informados sobre o motivo do cisma, se dividiram entre
as duas obediencias. Já que a situacáo parecía insolúvel, um grupo de
Cardeaís reunidos em Pisa (Italia) no ano de 1409 elegeram um novo
antipapa, ou seja, Alexandre V, que devia merecer a obediencia de todos
os cristáos; este novo "pastor" faleceu em 1410 e teve como sucessor o
antipapa Joáo XXIII. Como os ánimos continuassem muito confusos, maís
ainda se foi implantando a teoría conciliarísta, que colocava o Concilio
ácima do Papa: juigavam aiguns teólogos que assim poderia um Concilio
depor o Papa legítimo, os dois antipapas e eieger um novo titular para a
cátedra de Pedro.

Sob a inspiracáo desta teoría, o Imperador alemáo Sigismundo,


dotado de grande zelo pela causa da Igreja, obteve a convocacáo de um
Concilio, que pretendía ser ecuménico ou universal: realizar-se-ia em
Constanca, territorio alemáo, a partir de 5/11/1414; a convocacáo se de-

341
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 423/1997

via ao antipapa Joáo XXI11, que redigiu a respectiva Bula aos 30/10/1413.
Tal assembléia foi, na verdade, um dos maiores certames da Cristanda-
de, ao qual compareceram 29 Cardeais, tres Patriarcas, 33 Arcebispos,
mais de 300 Bispos e Prelados; fizeram-se presentes outrossim grande
número de presbíteros e leigos, muitos príncipes alemáes e o próprio
Imperador Sigismundo. Em suas sessóes quarta e quinta (26 de marco e
6 de abril, respectivamente, de 1415), os conciliares reafirmaram a tese
conciliarista nos seguintes termos:

"Este Sínodo declara tersido legítimamente convocado no Espirito


Santo e constituí um Concilio ecuménico (universal) representativo da
Igreja Católica; recebe ¡mediatamente de Cristo o seu poder. Todos, qual-
quer que seja o seu estado ou dignidade, até mesmo o Papa, Ihe devem
obedecer no que se refere a fé, a extirpagáo do cisma e á reforma da
Igreja (cabega visível e membros)".

"Quem nao obedecer aos decretos deste Santo Sínodo ou de qual-


quer outro Concilio geral e persistir em sua contumacia..., mesmo que
seja de dignidade papal, será devidamente castigado, aplicando-se-lhe,
se necessário, outras medidas jurídicas".

Estes artigos surpreenderam nao poucos dos que estavam pre


sentes ao Concilio, mas foram promulgados pela maioria dos que partici-
param das duas referidas sessoes (nao pela maioria de todos os concili
ares).

Pergunta-se agora:

3. Que valor tém os artigos conciliaristas de Constanca?

As declaracóes conciliaristas de Constanca tém caráter dogmático?


Sao artigos de fé?

A resposta é negativa pelos seguintes motivos:

1) Trata-se de afirmacóes feitas por um Concilio que na respectiva


data nao era legítimo ou nao fora legítimamente convocado. Com efeito;
o antipapa Joáo XXIII, instigado pelo Imperador Sigismundo, é que cha-
mou os conciliares para Constanca.

2) De modo especial, as sessóes quarta e quinta do Concilio foram


tumultuadas. A quinta (6/4/1415) foi, de certo modo, acéfala; a maioria
dos Cardeais negou-se a participar da mesma. Mas, a fim de evitar um
escándalo, oito deles fizeram ato de presenca, embora desaprovassem
as teses conciliaristas. O Bispo Zabarella, designado para expor em pú
blico as declaracóes conciliaristas, recusou-se a fazé-lo; foi entáo substi
tuido pelo Bispo de Posen.

342
CONCILIARISMO: QUE É?

3) Nao podem ser ditas ecuménicas (ou gerais, universais) as ses-


sóes que promulgaram o conciliarismo, porque a elas faltaram os Bispos
que aderiam á obediencia de Gregorio XII, o Papa legítimo; a assembléia
era integrada quase exclusivamente pelos adeptos do antipapa Joáo XXIII,
que havia convocado o Concilio e julgava que dele sairia reconhecidó
como o Papa legítimo.

4) As votacoes das duas sessóes do Concilio em foco eram reali


zadas por nacdes ou por grupos nacionais, que, além dos Bispos, com-
preendiam simples clérigos, doutores e leigos. Ora o governo da Igreja e
o poder decisorio foram por Cristo entregues aos Bispos, o que ¡nvalida-
va as votacóes pró-conciliarismo.

5) Apesar das declaracoes conciliaristas, persistiam ñas assem-


bléias conciliares Prelados que discordavam das mesmas e que nem por
isto foram excluidos pelo Concilio.

6) O Papa Martinho V, recém-eleito em 1417, logo condenou o


Conciliarismo, afirmando:

"Nulli fas est a Supremo ludice, videlicet Apostólica Sede seu Ro


mano Pontífice Jesu Christi Vicario in terris, appellare aut illius iudicium in
causis fidei... declinare" (Mansi, Concilla XXVIII200).

Ou seja: "A ninguém é lícito apelar do Juiz Supremo, isto é, da Sé


Apostólica ou do Pontífice Romano, Vigárío de Jesús Cristo na térra, nem
é lícito afastar-se dojuízo do mesmo em assuntos de fé".
Objeta-se, porém, que o Papa Martinho V, no fim do Concilio, re-
solveu sanar in radice {ou a partir das raízes ou totalmente) o Concilio
de Constanca, atribuindo-lhe legitimidade plena. - A propósito note-se:
No fim do Concilio de Constanca, houve hesitacáo dos conciliares
a respeito dos escritos de certo frade chamado Joáo Falkenberg O. P.:
diziam alguns que estes escritos haviam sido condenados por todas as
nacoes representadas no Concilio, ao passo que outros negavam a con-
denacáo geral. O Papa Martinho V entáo interveio, afirmando que apro-
vava tudo quanto o Concilio havia determinado conciliariter em materia
de fé, nao, porém, o que tivessem decidido de outro modo. Ora os anti-
gos conciliaristas nao foram definidos conciliariter, isto é, pelo Concilio
como Concilio ou por urna assembléia que representasse realmente os
padres conciliares; vimos que as sessoes quarta e quinta foram deserta
das explícitamente por considerável número de conciliares em protesto
ao que nelas se pretendía declarar.

7) O mesmo Martinho V, durante o Concilio de Constanca, conde


nou indiretamente o Conciliarismo ao pedir que os hussitas respondes-
sem á seguinte pergunta: "An credat quod papa canonice electus... sit
343
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 423/1997

successor Petri, habensque supremam auctoritatem in Ecclesia" (Mansi,


ib., XXVII 1212).
Ou seja: "Cré (o hussita) que o Papa legítimamente eleito é o su-
cessor de Pedro, detentor da suprema autoridade na Igreja?".
8) Alega-se aínda que o Concilio de Basiléia, convocado em 14311,
renovou as teses conciliaristas. Isto é fato; mas por isto mesmo o Conci
lio entrou em litigio com o Papa Eugenio IV; muito pressionado pelos
conciliares, nao aprovou o conciliarismo e, após muito sofrer, resolveu
dissolver o Concilio em 1438. Os descontentes abriram um cisma, que
foi de cura duracáo.
Assim se deve concluir que o Conciliarismo nunca foi doutrina ofi
cial da Igreja; antes, mereceu explícita condenacáo nao só de Martinho V
e dos que permaneceram fiéis á doutrina tradicional, mas também do
Papa Eugenio IV e das instancias da Igreja subseqüentes: foi mais uma
vez explícitamente condenado pelo Concilio do Vaticano I em 1870, o
qual definiu o primado do Sumo Pontífice.

4. Como terminou o Cisma de 1378-1417?

A situacáo de crise gerada pelo cisma do Ocidente desde 1378


parecía insolúvel pelos meios convencionais; daí o apelo para o
conciliarismo. Dissipou-se, porém, por especial ¡ntervencáo da Providen
cia Divina, que bem mostra como o Senhor é quem governa a Igreja. Eis
a sucessáo dos acontecimentos:

O antipapa Joáo XXIII, que convocara o Concilio ejulgava ser final


mente reconhecido como Pastor universal, compareceu em Constanca.
Em breve, porém, verificou que os ánimos nao Ihe eram unánimemente
favoráveis; corriam vozes que desabonavam o seu comportamento am
bicioso. Retirou-se entáo de Constanca, alegando insalubridade do ar e
falta de liberdade. Na sétima sessáo do Concilio (2/5/1415) foi intimado a
comparecer em Constanca para responder a um processo. Visto que nao
atendeu á ¡ntimacio, foi deposto pelos conciliares. Após muitas vicissitu-
des e viagens, foi ter com o novo Papa Martinho V, que o reabilitou na
dignidade cardinalícia. Poucos meses depois, em dezembro de 1419,
faleceu em Florenca.

O Papa legítimo, Gregorio XII, nonagenario, compreendeu que, para


o bem da Igreja, devia renunciar. Resolveu entáo mandar a Constanca
um emissário chamado Carlos Malatesta para entender-se com os conci
liares. Deu plena legitimidade ao Concilio de Constanca, convocando-o
mais uma vez, por meio do Cardeal Joáo Dominici na sessáo de 4 de
julho de 1415; desta data em diante é que o Concilio de Constanca pode
e deve ser tido como auténtico Concilio ecuménico; Carlos Malatesta,

344
CONCILIARISMO: QUE É?

em seguida, leu a fórmula de renuncia do Papa, que pouco depois mor-


reu aos 18/10/1417, antes da eleicáo do novo Papa Martinho V.

Quanto ao antipapa Bento XIII, que se retirara para a Espanha, foi


deposto pelos conciliares aos 26/7/1417, após resistir a qualquer exorta-
cáo á renuncia espontánea.

Estava assim aberto o caminho para a eleicáo do novo e legítimo


Pontífice - o que ocorreu aos 11/11/1417, recaindo a escolha sobre o
Cardeal Odo Colonna, Papa Martinho V. Este, como dito, condenou o
conciliarismo pouco depois de eleito. Na verdade, tal teoría fere os princi
pios formulados pelas Escrituras Sagradas e reduz a Igreja ao nivel de
urna sociedade meramente humana, onde as decisoes sao tomadas por
plebiscito ou pelo voto da maioria. A fé ensina que Cristo cumpre a pro-
messa por Ele feita á sua Igreja: Ele Ihe assiste infalivelmente até o fim
dos séculos, contanto que ela guarde a sucessáo apostólica (cf. Mt 28,18-
20) e seja fiel ao primado outorgado ao Apostólo Pedro (cf. Mt 16,17-19;
Le 22,31 s; Jo 21,15-15).

Palavra aos Noivos em varias circunstancias, pelo Pe. Nadir José


Brun. Ed. Ave-María, Rúa Martim Francisco 656, Sao Paulo (SP) 01226-
000, 160 x 225mm, 206 pp.

O Pe. Nadir José Brun é o pároco da Comunidade Paroquial de Nos-


sa Senhora do Brasil no Jardim América em Sao Paulo (SP). Possui longa
e fecunda experiencia pastoral, além de denso tesouro de conhecimentos
adquiridos em tres Cursos Universitarios. Publica no livro em foco cinqüen-
ta alocucóes proferidas em ritos de casamento ou de bodas de prata, de
ouro ou de diamante, inspirándose em contextos diversos, segundo a fei-
gáo dos respectivos interessados. Percorrendo o Sumario da obra, verifica
se que há alocugóes para pessoas simples, para pessoas letradas, para
poetas e artistas, para filósofos, para casamentos mistos, para estudantes,
para gente do comercio, da industria e da agricultura... É um repertorio
muito variegado, que espelha a realidade de urna grande comunidade paro
quial, repertorio que o autor póe á disposigáo do público para que se edifique,
ou melhor, para que encontré um modelo que ajude o sacerdote, o diácono
ou o agente de Pastoral a compor seu discuro aos noivos e aos esposos
jubilares. É importante que em táo solenes ocasióes da vida de duas pes
soas, o representante da Igreja tenha palavras significativas, que fujam a
rotina e falem diretamente aos interessados, levando em conta seu contex
to cultural próprio.

Congratulamo-nos com o Pe. Nadir e fazemos votos para que sua


obra seja realmente útil a muitos leitores. Alias, o mesmo autor já publicou
dois repertorios de minidiscursos para os ritos de exequias e as Missas
pelos defuntos (Editora Loyola e Editora Santuario respectivamente).

345
Divergencia insustentável:

OS CRISTÁOS E A DATA DE PÁSCOA

Em síntese: A maior festa dos cristaos, que é a de Páscoa, vem


atualmente celebrada em duas datas diferentes, teto tem suscitado vivo
desejo, de todas as partes interessadas, de sanar a divergencia. Para
tanto, reuniu-se grande assembléia de cristaos em Alep (Siria) de 5 a 10
de margo p.p., dispostos a por termo á diferenga. O ano 2001 é considera
do ano ideal para se fixar urna data comum, pois naquele ano a data de
Páscoa, calculada segundo os dois procedimentos em vigor, será a mes-
ma para todos: 15 de abril. Os participantes do Encontró enviaram a todas
as comunidades eclesiais do mundo urna tabela propondo a unificagáo da
data de Páscoa e indicando a possível data da grande festa para os vinte
e cinco primeiros anos do sáculo XXI, caso a idéia seja aceita.
* * *

A maior festa crista, que é a Páscoa, vem atualmente celebrada em


duas datas diferentes. Em 1997, por exemplo, os católicos e a maioria dos
protestantes a celebraram no dia 30 de margo, ao passo que os ortodoxos
orientáis e alguns protestantes a celebraram quase um mes mais tarde, ou
seja, a 27 de abril. Esta diferenca decorre de um desacordó no tocante á
reforma do calendario efetuada pelo Papa Gregorio XIII no século XVI.

Vejamos, pois, os antecedentes do problema e o atual modo de o


colocar.

1. Calendario: queé?

Calendario provém do termo latino Calendae e da raiz grega kal, a


qual significa chamar (donde kalein, chamar, em grego; calare, em la-
tim). Em latim, o uso da palavra era restrito á linguagem sacral, servindo
para designar a convocacáo do povo para o Campidoglio, feita por um
dos sacerdotes quando a Lúa entrava em sua fase crescente, convoca-
cao que visava a comunicar ao público os dias das nonas (isto é, do quar-
to crescente) e dos idos (da Lúa cheia). Calendae conseqüentemente
passou a significar o primeiro dia do mes (dia da convocacáo); por exten-
sio, o mesmo termo designava mais tarde o mes inteiro.

Calendarium vinha a ser, entre os romanos, o registro no qual os


banqueiros anotavam os juros no primeiro dia de cada mes. Por fim,
calendarium tomou o significado atual, designando o sistema de medir o
tempo, sistema nítidamente relacionado com os fenómenos astronómi
cos. Principalmente a religiáo (em suas diversas fases e modalidades) se
interessou pelo calendario, pois todos os povos tiveram sempre consci-
éncia de que o tempo é algo de sagrado, que convém observar fielmente.

346
OS CR1STÁOS E A DATA DE PÁSCOA

Vejamos agora em que consiste

2. O Calendario Gregoriano

O Calendario Gregoriano supóe o calendario chamado «juliano».


Este, por sua vez, foi ocasionado por certo impasse ocorrente na conta-
gem do tempo em Roma.

Nos primeiros tempos de Roma os meses eram de 29 ou 30 dias,


contando-se a partir de Numa Pompílio (715-672 a.C.) doze meses num
ano. Mais tarde Roma adotou o ano civil de 365 dias, com seus meses de
28, 30 e 31 dias, ficando apenas urna diferenca de aproximadamente 6
horas entre o ano civil e o ano trópico.

Sob Julio César, a diferenca acumulada entre um e outro destes já


era de 85 dias. O Imperador resolveu entáo remediar a situacáo, decre
tando que o ano de 46 a.C. (708 de Roma) teria 85 dias a mais (donde se
originou o chamado annus confusionis, ano de confusáo). A seguir, con
forme o parecer do astrónomo alexandrino Sosígeno, resolveu que de
entáo por diante se atribuiriam ao ano civil 365 dias e 6 horas (quando na
verdade o ano trópico consta de 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 se
gundos); pelo que, de quatro em quatro anos se acrescentaria ao ano um
dia complementar chamado dia bissextíl. Este nome se deve ao fato de
que a insercáo se fazia entre 23 e 24 de fevereiro; ora, o dia 24 de feverei-
ro sendo o Sextus calendas martii, o dia intercalado ou suplementar pas-
sou a ser bissextus calendas martii, e o ano correspondente tomou o
nome de ano bissextil.

O Calendario juliano assim concebido era sistema assaz esmera


do. Contudo a diferenca de menos de 12 minutos que nele distanciava o
ano civil do ano trópico, havia de provocar a diferenca de um dia em 128
anos. No tempo de César, após a reforma, o equinóxio da primavera caía
no dia 24 de marco; 128 anos mais tarde, caía no dia 23 de margo; 256
anos depois, no dia 22 do mesmo; por ocasiáo do concilio de Nicéia (325)
estipulou-se o dia 21 de margo. Em fins do séc. XVI o equinóxio da prima
vera já cairia perto do dia 11 de margo; caso o processo continuasse, as
estacoes do ano viriam a se deslocar por completo dos seus meses habi
tuáis. Sendo assim, bispos e sabios medievais, conscientes de tais fa
inas, pediam reforma do calendario vigente.

Em 1232, o monge escocés Joáo de Holywood, em sua obra De


anni ratione, sugería mudanca do sistema de intercalacáo do dia bissextil.
Rogério Bacon (f 1294), no seu Opus maius ad Clementem IV, propu-
nha ao Pontífice urna reforma do calendario. O Papa Clemente VI em
1345 encarregou dois matemáticos franceses de a estudar. Os Concilios
de Constanca (1414) e Basileia (1436) também trataram do assunto. Sixto
IV (t 1484) chamou a Roma, a fim de estudar a reforma, o famoso astró
nomo Regiomontano (Joáo Müllerde Kónigsberg), o qual, porém, morreu

347
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 423/1997

antes de terminar o seu projeto. O Papa Leao X, no Concilio V do Latráo


(1513-1517), deu novo impulso á reforma do calendario. Por fim, o Conci
lio de Trento pediu-a expressamente ao Papa.

Gregorio XIII (1572-85), assim solicitado, abriu um concurso entre


os astrónomos, valendo-se da colaboracáo dos mais famosos matemáti
cos da época (os irmáos Aloísio e Antonio Lílio, o dominicano Inácio Danti,
o jesuíta alemáo Cristóváo Clau e o espanhol Pedro Chaón); após delibe
rar tongamente sobre as fórmulas apresentadas, o Pontífice houve por
bem dar preferencia á de Aloísio e Antonio Lílio; mandou entáo em 1577
copias do projeto a todos os príncipes e Estados católicos. Apoiado por
estes, publicou finalmente cinco anos mais tarde, aos 24 de fevereiro de
1582 (bula ínter gravíssimas), o novo calendario (ou calendario «novo
estilo», em oposicáo ao calendario «velho estilo»).

A primeira norma da reforma, visando a extinguir a diferenca entre


ano civil e ano trópico, mandava que a quinta-feira 4 de outubro de 1582
fosse ¡mediatamente seguida da sexta-feira 15 de outubro do mesmo ano
(tal medida nao provocaría hiato entre os dias da semana); assim doravante
o dia 21 de marco coincidiría, como supunha o concilio de Nicéla I (325),
com o equinóxio da primavera.

Era preciso, porém, evitar a repeticáo do desajuste... Já que este


provinha do fato de que o ano civil era desde Julio César (e continuava
sendo) considerado 1/128 de dia (11 minutos e 12 segundos) mais longo
do que o ano trópico (isto é, mais ou menos tres dias em 400 anos),
Gregorio XIII (dispós nao fossem considerados bissextos os anos do sé-
culo nao divisíveis por 400 (assim em todo período de 400 anos, tres dias
eram supressos). Por conseguinte, seriam bissextos os anos de 1600,
2000,2400, nao porém, os de 1700,1800,1900,2100. Este corretivo (cha
mado equacáo solar) tornar-se-ia plenamente eficaz pelo prazo de mais de
3000 anos: de 3320 em 3320 anos, porém, será preciso suprimir um dia.

A reforma gregoriana aos poucos foi sendo adotada pelos povos


cultos. Na Espanha, em Portugal e em parte da Italia a supressáo de dez
dias fez-se na mesma data que em Roma. Na Franca ela se realizou
pouco depois: o dia seguinte ao domingo 9 de dezembro de 1582 foi con
tado como segunda-feira 20 do mesmo. A Polonia adotou a mudanca em
1586; a Hungría, em 1587. Nos Estados protestantes, porém, a resisten
cia fez-se sentir: a Alemanha só aceitou o calendario «novo estilo» em
1700; a Inglaterra, em 1752.

Quanto aos cristáos cismáticos orientáis, ainda seguem o calenda


rio juliano, ao menos na Liturgia. É de crer, porém, que nao tardarao a
reconhecer as vantagens do calendario corrigido. Antes de empreender a
sua reforma, Gregorio XIII, alias, consultou o Patriarca de Constantinopla
sobre o assunto; mas, longe de obter resultado, seu sistema foi explicita-

348
OS CRISTÁOS E A DATA DE PÁSCOA 13

mente condenado por um sínodo oriental em 1593. Contudo em 1923 o


patriarcado de Constantinopla, as circunscricóes eclesiásticas de Atenas,
Chipre, da Polonia (cismática) e da Roménia adotaram o calendario
gregoriano para designar ao menos as suas testas fixas (o dia seguinte a
30 de setembro foi dito 14 de outubro de 1923). Em 1948 o sínodo «pan-
ortodoxo» de Moscou resolveu deixar liberdade de escolha, no caso, a
todas as comunidades cristas da órbita soviética. De resto, tém-se regis
trado nos últimos tempos adesóes notáveis: a Turquía adotou o calenda
rio gregoriano em 1924; o Japáo já o introduzira em 1873; a China, em
1912; a Bulgaria, em 1916. Muculmanos e israelitas ainda nao o reconhe-
cem no plano religioso.

3. E a Data da Páscoa?

Para por termo a hesitacóes existentes nos primeiros sáculos, o


Concilio geral de Nicéia em 325 determinou que a Páscoa seria celebra
da no domingo seguinte á primeira Lúa cheia após o equinóxio da prima
vera do hemisferio Norte (21 de marco). Com o passar dos séculos, po-
rém, a contagem do equinóxio da primavera foi-se defasando, como dito
atrás. Daí a reforma promulgada pelo Papa Gregorio XIII em 1582, refor
ma que nao foi aceita pelos cristáos ortodoxos orientáis e outros povos.
Todavía, já que tal divergencia hoje em dia se manifesta como algo de
totalmente despropositado, as comunidades cristas de diversas partes do
mundo procuram saná-la.

Em conseqüéncia, reuniu-se em Alep (Siria), de 5 a 10 de marco de


1997, urna assembléia de representes da Comunháo Anglicana, da Igreja
Ortodoxa Armenia, do Patriarcado de Constantinopla, das Igrejas Evan
gélicas do Oriente Medio, do Patriarcado Grego-ortodoxo de Antioquia e
de todo o Oriente, da Federacáo Luterana Mundial, do Conselho das Igre
jas do Oriente Medio, das Igrejas dos Velhos-Católicos da Uniáo de Utrecht,
do Patriarcado de Moscou, do Conselho Pontificio para a Uniáo dos Cris
táos, dos Adventistas do Sétimo Dia e do Conselho Ecuménico das Igre
jas. Elaboraram urna proposta que permitiría fixar urna data comum para
a festa da Páscoa, apoiando-se sobre as determinacóes de Nicéia e os
dados astronómicos mais precisos da atualidade. O ano 2001 é conside
rado como ano ideal para se fixar urna data única, pois naquele ano a
Páscoa, calculada segundo os dois procedimentos em vigor, caira no
mesmo dia, a saber: 15 de abril. A proposta dessa assembléia foi enviada
a todas as comunidades eclesiásticas do mundo inteiro juntamente com
urna tabela a indicar as possíveis datacoes de Páscoa para os vinte e
cinco primeiros anos do século XXI, caso a idéia seja aceita.
É para desejar que a proposta logre pleno éxito, pois assim estaría
removido mais um ponto de discordia entre os cristáos, resultante de de
sacordó do passado, que atualmente nao tem significado algum, mas, ao
contrario, empalidece o testemunho cristáo no mundo de hoje.

349
Grande Batalha do Momento:

«ABORTO LEGAL? ISSO NAO EXISTE!»

O Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz, Responsável pelo Comité Pró


vida da diocese de Anápolis (GO), enviou aPRo presente artigo, que
vem muito a propósito e pelo qual a Redagáo desta revista Ihe é muito
grata.
* * *

0 demonio, "homicida desde o principio", é também o "pai da men


tira" (Jo 8,44). No seu intuito de matar, ele mente.
No intuito de legalizar o aborto, os abortistas dizem que o aborto já.
é legal no Brasil em dois casos: o de estupro e o de risco de vida para a
gestante.

Ora, isto é falso! No Brasil, o aborto é sempre crime. Nao existe o


chamado "aborto legal".

Que diz a lei?

Os abortistas se apoiam no artigo 128 do Código Penal, que assim


se exprime:

Nao se pune o aborto praticado por médico:

1 - se nao há outro meio de salvar a vida da gestante

H-sea gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de con-


sentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

A redacáo é clara. Nao está escrito "nao constituí crime" mas táo-
somente "nao se pune". O médico que pratica aborto nesses dois casos,
comete crime, embora esteja isento de punicáo.

O mesmo acontece com o furto quando praticado em prejuízo do


ascendente, descendente ou cónjuge. O artigo 181 do Código Penal diz
que nestes casos "o criminoso fica isento de pena". Mas ninguém de bom
senso chamaría "furto legal" aquele que é praticado pelo filho contra o pai,
simplesmente porque tal furto nao se pune. Nem ousaria dizer que é um
"direito" dos filhos furtar dos país. E muito menos chegaria ao cúmulo de
dizer que tal "direito" deveria ser exercido com o financiamento do Esta
do, sugerindo que as escolas públicas ensinassem ás enancas a maneira
mais segura de surrupiar coisas dos pais.

350
«ABORTO LEGAL? ISSO NAO EXISTE!» 15

Que dizem os abortistas?

Os abortistas afirmam candidamente que nos dois casos nao puni


dos pelo Código Penal o aborto já é "permitido". Chamam-no de "aborto
legal" ou "aborto previsto em leí". Chegam a dizer que matar a chanca
nestes casos é um "direito" do cidadáo, assegurado desde 1940, quando
o Código Penal foi promulgado. Dizem ainda que este "direito" está no
papel, mas precisa de ser efetivamente exercido. E chegam ao cúmulo de
dizer que tal infanticidio (que para eles é um direito) deveria ser praticado
por homicidas profissionais, pagos pelo Estado. Os carrascos seriam as-
sim remunerados pelo imposto dos cidadáos.

Que dizem os juristas?

"Convém lembrar, logo de ¡mediato, que o art. 128, CP, e seus incisos,
nao compdem hipóteses de descriminalizagao do aborto. Naquele artigo,
nao está afirmado que "nao constituí críme" o aborto praticado por mé
dico ñas situagoes dos incisos I e II. O que lá está dito é que "nao se
pune" o aborto ñas circunstancias daqueles incisos. Portanto, em nossa
legislagáo penal, o aborto é e continua crime, mesmo se praticado por
médico para salvar a vida da gestante e em caso de estupro, a pedido da
gestante ou de seu responsável legal. Apenas - o que a legislagáo
infraconstitucional pode e deve fazer, porque a Constituigáo, como irradi-
agáo de grandes normas gerais, nao é código nem pode explicitar tudo -
nao será punido penalmente, por razóes de política criminal" (MARCO
ANTONIO SILVA LEMOS, Juiz de Direito no Distrito Federal, O alcance da
PEC 25/A/95, publicado no Córrelo Braziliense, 18/12/1995, Caderno Di
reito e Justiga, página 6; os grifos sao do original).

"Felizmente para o nosso Código Penal, o aborto é sempre ilegal. O


seu artigo 128 nao descrimina os abortos sentimental e necessário, mas,
táo-só, por motivo de política criminal, deixa de puni-los.

Basta, para que se chegue a essa conclusáo, que se compare a


redagáo por ele dada ao artigo 23, onde se faz referencia as justificativas,
'nao há crime quando...', com a do artigo 128, 'Nao se pune'" (JOSÉ GE-
RALDO BARRETO FONSECA, Desembargador do Tribunal de Justiga do
Estado de Sao Paulo, carta, 12/2/1997).

"Matar alguém é crime. A interrupgao da gravidez com a destruigáo


do produto da concepgáo é crime de aborto. A lei penal nao contempla a
figura do aborto legal, mas torna impunível o fato típico e antijurídico em
determinadas circunstancias. A impunibilidade, vale a pena enfatizar, nao
desnatura o delito. Este é um fato típico e antijurídico. A cuipabiiidade é o
elemento que liga a conduta prevista na lei e contra o direito á punibilidade.
Portanto, o aborto é ilegal" (JAQUES DE CAMARGO PENTEADO. Procu
rador de Justiga do Estado de Sao Paulo, carta, 5/2/1997).

351
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 423/1997

"Quando o legislador penal, no artigo 128 do Código Penal, pres-


creve que 'nao se pune o aborto praticado por médico (I) se nao há outro
meio de salvar a vida da gestante, e (II) se a gravidez resulta de estu
pro...', nao se está 'descriminalizando' tais abortos nem tornando lícitas
condutas antes ilícitas ('legalizando') nem exciuindo a antijuridicidade dos
abortos provocados" (VICENTE DE ABREU AMADEI, Juiz de Direito da 18
Vara Criminal de Osasco - SP, llusao do necrodireito fetal e aborto na
rede hospitalar pública, Osasco, fev 1997, p.2).

"Quanto ao aborto, a leí diz 'nao se pune'. Suprime a pena. Fica o


crime"(WALTER MORAES, Desembargador do Tribunal de Justica de Sao
Paulo, O problema da autorízagao judicial para o aborto, Revista de Juris
prudencia do Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, margo/abril
1986, p. 21).

"Por isso, é absurdo, é patente falta de cultura jurídica - eu diría


mesmo, falta de bom senso - falar em aborto legal ñas hipóteses em que
o aborto direto nao se pune" (RICARDO HENRY MARQUES DIP, Juiz do
Tribunal da Alfada Criminal de Sao Paulo, carta, 6/1/1997; o grifo é do
original).

Que já está acontecendo?

Baseados na falacia de confundir um crime nao punível com um


direito, os grupos pró-morte já conseguiram aprovar leis em varios muni
cipios para "regulamentar" a prática do aborto "previsto em leí".

O primeiro municipio a criar um matadouro infantil com o dinheiro


público foi Sao Paulo, em 1989, por obra e (des)graga da entáo prefeita
Luiza Erundina. O lugar escolhido foi o Hospital de Jabaquara. A partir
daquele ano, urna parte do suor dos paulistanos tem sido transformada
em sangue inocente. Em media sao assassinadas urna a duas criancas
por mes.

A idéia foi imitada por outros municipios, como Rio de Janeiro, Cam
piñas, Recife e Brasilia.

Que está para acontecer?

O desejo dos abortistas é aprovar urna lei que promova a nivel na


cional o massacre que já vem sendo efetuado nos municipios ácima cita
dos. É o que prevé o projeto de lei 20/91 (PL 20/91) dos deputados Eduar
do Jorge (PT/SP) e Sandra Starling (PT/MG). A falacia é sempre a mes-
ma. Eduardo Jorge diz que nao é objetivo de seu projeto legalizar o abor
to, mas sim fazer com que os casos de aborto já "permitidos" (sic) pelo
Código Penal sejam realizados com um mínimo de higiene e seguranca,
em todos os postos da rede hospitalar pública.

352
«ABORTO LEGAL? ISSO NAO EXISTE!» 17

O PL 20/91 já foi aprovado na Comissáo de Seguridade Social e


Familia e está para ser votado na Comissáo de Constituicáo, Justica e
Redacáo. Os grupos feministas, remunerados pelos organismos interna-
cionais de controle de natalidade, estao exercendo fortíssima pressáo
junto aos parlamentares para que o projeto seja aprovado. No dia 27 de
fevereiro de 1997 o CFEMEA (Centro Feminista de Estudos e Assesso-
ria), o CNDM (Conselho Nacional dos Direitos da Muiher) e a RedeSaúde
(Rede Nacional de Saúde e Direitos Reprodutivos) promoveram no Espa-
50 Cultural da Cámara dos Deputados um seminario denominado "A com-
prída historia da leí nao cumprída". O objetivo era convencer os parlamen
tares da necessidade de se aprovar o PL 20/91 para que fosse exercido
em todo o país o "direito" de abortar "nos casos previstos (sic) no Código
Penal" desde 1940. No fim do seminario, a presidente da mesa Guacira
César de Oliveira, membro do CFEMEA, prestou seus agradecimentos
ao "patráo":

"Nos queremos agradecer ao Fundo das Nagóes Unidas para a


Populagáo', que patrocinou este seminario".

Risco de Vida?...

Já em 1965 o médico-legal J. B. de Oliveira e Costa Júnior dizia em


sua aula inaugural intitulada "Por que ainda o aborto terapéutico?" dirigida
a alunos de Direito da USP: "Melhor se chamaría esse feticídio de aborto
desnecessário ou aborto antiterapéutico". Isso porque, assegurava ele, a
medicina (já naquela época!) dispunha de meios para salvar a vida da
gestante sem recorrer ao aborto. Referindo-se ao inciso I do artigo 128
(que isenta de pena o médico que pratica o aborto quando nao há outro
meio de salvar a vida da máe), Costa Júnior foi taxativo: "O que realmen
te, o dispositivo enseja é favorecer e ocultar o verdadeiro aborto crimino
so" (Revista da Faculdade de Direito, USP, Sao Paulo, 1965, volume IX,
p. 314 e 316).

A "necessidade" do aborto para salvar a vida da máe é, portanto, na


palavra de varios médicos, urna hipótese que nao existe. Se existisse, tal

1 FNUAP, organismo da ONU que injeta muitos dólares para o controle demográfico no
Terceiro Mundo. Quando foi elaborada a Constituigáo de 1988, o FNUAP investiu
112.755 dólares para "monitorar e onde necessário dar assisténcia no desenvolvi-
mento do tema planejamento familiar no texto da Constituigáo brasileira" (Inventory of
Population Projects in Developing Countries Around the World. FNUAP, 1989/1991,
Fl. 76). O resultado foi a inclusáo do parágrafo 7e do artigo 226 da Constituigáo Fede
ral, que serviu de base para que o deputado Eduardo Jorge langasse um projeto de leí
autorizando a esterilizagáo (PL 209/91).
O CFEMEA recebe ainda o apoto financeiro do Fundo das Nagóes Unidas para a
Muiher (UNIFEM), da Fundagáo Ford e da Fundagáo Me Arthur. Fonte: ficha editorial
(p. 2) de qualquer edigáo do boletim do CFEMEA.

353
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 423/1997

aborto continuaría sendo imoral, uma vez que "nunca é lícito, nem sequer
por razóes gravíssimas, fazer o mal [por exemplo, matar a crianca], para
que daí provenha o bem [a saúde da máe]" (S.S. Paulo VI, Encíclica
Humanae Vitae, n914).

Estupro?...

O estupro nunca justifica o aborto. Trata-se de uma circunstancia


acidental que nao muda a moralidade do ato. Do mesmo modo, nao se
pode matar uma crianca nascida de um adulterio ou de uma prostituicáo.

"Nenhuma circunstancia, nenhum fim, nenhuma lei no mundo po-


derá jamáis tornai*1 lícito um ato que é intrínsecamente ilícito, porque
contrario á Lei de Deus inscrita no coracáo de cada homem, reconhecí-
vel pela razáo, e proclamada pela Igreja" (S.S. Joáo Paulo II, Encíclica
Evangelium Vitae, n9 62)

Alias, que culpa tem a crianca para merecer a morte? Quem deve
ser punido é o estuprador! Transferir a pena para a crianca inocente é
uma ¡njustica monstruosa. Mais monstruosa que o próprio estupro!

No Brasil nao há pena de morte para o estuprador. Será justo punir


com a morte a crianca?

O estuprador pelo menos poupou a vida da mulher (senáo ela nao


teria ficado grávida). É justo que tacamos com a crianca o que nem o
estuprador fez com a mulher (matá-la)?

É demais pedir á mulher que pelo menos deixe a crianca nascer e


depois a doe para um casal ou uma instituigáo de caridade? Será que a
solucao é matar?

Alguém mataría uma crianca de tres anos concebida em um estu


pro? Se nao podemos matá-la após o nascimento, por que entao será
lícito matá-la no útero materno?

Se legalizarmos o aborto em caso de estupro, deveremos lógica


mente autorizar o assassinato de todos os adultos nascidos de um estupro.

A repugnancia contra o crime nunca pode converter-se em repug


nancia contra um inocente concebido neste crime. A vida é sempre um
dom de Deus, aínda que gerada em circunstancias pecaminosas.

O aborto ajudaria a mulher?

É totalmente falso dizer que o aborto traria algum beneficio para a


mulher. Uma pesquisa realizada pela Dra. Mary Simón, psicóloga da Clí
nica Ginecológica de Würzburg, Alemanha, demonstra que há serios
traumatismos psicológicos ñas mulheres que fazem aborto. Sentimentos

354
«ABORTO LEGAL? ISSO NAO EXISTE!» 19

de remorso e culpa ocorrem em 60% das mulheres. OscilacÓes de ánimo


e depressóes, em 30 a 40 %. Choro ¡motivado, medo e pesadelos, em 35
%. No total das mulheres entrevistadas, 45 % voltariam atrás se pudes-
sem, pois consideraram sua anterior decisáo de abortar prejudicial e equi
vocada. Sao palavras da Dra. Mary Simón: "O aborto nao somente aniqui
la urna vida humana ainda nao nascida, mas também arruina a psique da
mulher".1

A propensáo ao suicidio também aumenta após o aborto. Urna equipe


de pesquisadores do Centro Nacional Finlandés de Pesquisa para a Saúde
e Bem-Estar, coordenados pela médica Mika Gissler, verificou que a taxa de
suicidio entre mulheres depois de um aborto é tres vezes maior do que o
total geral e seis vezes maior do que entre as que deram á luz. O estudo foi
publicado no British Medical Journal ( Fonte: Jornal do Brasil, 6/12/96).

O remorso que invade as mulheres que abortaram, é de tamanha


grandeza que nos Estados Unidos elas já se reuniram num grupo chama
do Raquel, com a finalidade específica de lutar contra o aborto.

Dois testemunhos

Há quem diga que pelo menos no caso da gravidez resultante de


estupro o aborto ajudaria a mulher. Tal afirmacáo é falsa. Para contradi-
zer-lhe, podemos citar o testemunho de duas vítimas de estupro que
engravidaram e deram á luz, ambas moradoras da cidade de Anápolis,
Goiás.

1) A primeira délas é Maria Luciene de Oliveira Nunes, 30 anos,


que foi violentada em juiho de 1995 e deu á luz urna linda menina, Bruna
de Oliveira Nunes. Máe e filha foram a Brasilia na caravana pró-vida de
16 de outubro de 1996 promovida pela Comissáo de Pastoral Familiar do
Regional Centro-Oeste. Diante da multidáo reunida na Esplanada dos
Ministerios, Luciene foi entrevistada e pronunciou em alto e bom som as
seguintes palavras:

- O que vocé teria sentido se tivesse feito aborto?

Luciene: "Estaría morrendo de remorsos"

- A mulher estuprada tem o direito de abortar?

Luciene: "Nao tem esse direito. A enanca nao tem culpa"

- A enanca nascida de um estupro merece ser menos amada pela


máe?

1 A pesquisa da Dra. Mary Simón foi publicada na revista Deutsche Tagepost (4 - VI


- 92). Foi citada em um artigo do Dr. L. Clemente de S. Pereira Rolim, especialista em
Clínica Médica pela AMB, publicado na revista Pergunte e Responderemos, ns413,
outubro 1996, p. 447-450.

355
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 423/1997

Luciene: "Nao. Merece ser mais amada" (sid).

- Urna lei que autorizasse o aborto em caso de estupro ajudaria a


muiher?

Luciene: "Nao ajudaria".

- Há pessoas que dizem que o estupro é urna violencia táo grande


que, se a muiher nao abortar, vai-se lembrar para sempre do que sofreu a
cada vez que olhar para a enanca. O que vocé diz disso?

Luciene: "No inicio, quando vocé percebe que está grávida, fica
com muita raiva. Mas, depois que a enanca nasce, vocé nem se lembra
mais do que aconteceu".

Quanto ao amor de Luciene por sua filha, é inútil descrever por


palavras. Seria preciso ver como ela a estreita em seus bracos.

2) O segundo testemunho é de Maria Aparecida, 48 anos, violen


tada em marco de 1975. Ela mesma se prontificou para contar sua histo
ria, pois é intransigentemente contraria ao aborto. O estupro que resultou
em gravidez teve para ela conseqüéncias gravíssimas: a perda do noivo
(que nao aceitou a crianca), a incompreensáo dos parentes, surras diari
as de sua máe (que nao acreditava que a gravidez resuitasse de um
estupro), e um parto por cesariana. Seu filho Renato está agora cursan
do a Faculdade.

- O que a senhora sentiu quando o filho nasceu?

Maria Aparecida: "Eu nao vi, porque fiquei na UTI. Mas quando eu
voltei e vi o meu fiiho... Nossa! Eu me sentí a pessoa mais feliz do mundo!
Nao me lembrei de problema nenhum!"

- A senhora se arrepende de nao ter abortado?

Maria Aparecida: "Nunca!"

- Se a senhora tivesse abortado, o que estaría sentindo hoje?


Maria Aparecida: "Muito mal. Consciéncia pesada. Remorsos".

- A senhora acha que qualquer muiher estuprada sentiría remor


sos?

Maria Aparecida: "Sim. Pelo resto da vida! Eu tenho certeza. Pois


eu tenho remorso só de ter pensado em abortar".

- Quando a senhora olha para o seu filho, pensa no estupro?

Maria Aparecida: "Nao. O prego por ter um filho de estupro é


altissimo. Mas o prego da consciéncia pesada é muito maior. Eu tenho
356
«ABORTO LEGAL? ISSQ NAO EXISTE!» 21

certeza de que quem aborta vive sempre com um martelinho na mente


batendo, para que nunca esquega que é criminosa".

- Criminosa, mesmo em caso de estupro?

María Aparecida: "Mesmo em caso de estupro. De qualquer maneira".


- A mulher que sofre estupro nao tem o direito de abortar?
María Aparecida: "Nao".

- Por que nao?

María Aparecida: "Porque a crianga que está no ventre déla nao


tem culpa de nada".

- O que a senhora senté quando olha para o seu filho?


María Aparecida: "Eu sinto amor demais! E nao suportaría agora
pensar que ele nao existiría, quando visse urna pessoa da idade dele.
Valeu a pena e está valendo. Olha! Se vocé sofre demais para conseguir
urna coisa, é muito mais amor. Porque esse filho é o que mais deu dilema".

[María Aparecida foi entrevistada em sua casa no dia 16/02/97]

Existe urna Verdade, por Wellington Sugai. Editora Inconfidencia,


Setor Industrial Bernardo Sayáo, Quadra 3, Conjunto "A", Lotes 15/17,
Park Way (DF), 150 x 210mm, 113 pp.

O autor é um engenheiro convertido a fé católica, hoje catequista e


ministro extraordinario da Comunháo Eucarística. Este livro aprésenla as
grandes verdades da fé a quem se aproxima do Catolicismo: a Revela-
gáo, a Criagáo, a Fé, a Salvagáo, a Ressurreigáo, a Igreja, a Graga... Éo
fruto da experiencia pessoal e do estudo do autor. A obra é prefaciada por
D. Geraldo do Espirito Santo Ávila, Arcebispo Militar do Brasil, que escre-
ve: "Urna das coisas que muito me preocupam hoje, é encontrar um livro
que eu possa colocar ñas máos daqueles que estáo a caminho da Fé.
Encontró muitas pessoas que ou estáo afastadas da Féporrazóes varias
ou nunca se aproximaram de Jesús e da Igreja; tém urna vaga nogáo de
Deus e poucas informagóes da Revelagao. Por isto foi com muito gosto
que li seu livro. O seu reencontró com Deus e toda a sua caminhada na
Igreja, o seu Curso de Teología, váo fazer de seu livro um manual útil a
toda pessoa que aínda nao encontrou o verdadeiro sentido da vida, por
que nao encontrou Jesús Cristo".

A recomendagáo de D. Ávila é assaz eloqüentepara dará crerque


se trata de obra valiosa como prímeira iniciagáo ás grandes verdades da
fé católica. Possa encontrar a ampia aceitagáo que merece!

357
Palavra de Médico:

ESTERILIDADE INVOLUNTARIA
Dr. Joáo Evangelista dos Santos Alves

Em síntese: Nao constituí dever do casal estéril procurar tratamen-


to para a esterilidade, mas isto é um nobre direito que Ihe assiste. Todavía
só é legítimo quando subordinado aos valores humanos, ou seja, quando
os meios utilizados para o diagnóstico e o tratamento nao rebaixam a
dignídade da natureza humana, como acontece, por exemplo, na realiza-
gao de certos exames e procedimentos que desnaturam o uso da
genitalidade. A grande diferenga entre a Medicina e as demais ciencias
naturais é que na Medicina o próprio ser humano vem a ser a materia de
trabalho, ao passo que ñas outras ciencias sao os seres irracionais o
objeto de estudo.

Publicamos, a seguir, o último de cinco artigos do Dr. Joáo Evan


gelista dos Santos Alves sobre a reproducáo humana. Desde abril 1997 a
nossa revista vem apresentando mensalmente um número dessa valiosa
serie, que merece renovada gratidáo ao ilustre autor.

Esterilidade Involuntaria

Os casáis que apresentam esterilidade involuntaria, devem proce


der orientados pelos mesmos principios e valores que norteiam os casáis
férteis, salvaguardando assim a dignidade da sexualidade humana. O ato
sexual deve ser sempre realizado em sua integridade para estar sempre,
de per si, aberto á vida, aínda que esta seja inatingível, dadas as desfavo-
ráveis circunstancias orgánicas que, involuntariamente, envolvem os ca
sáis esteréis. Mesmo porque a esterilidade pode nao ser absoluta e, inespe
radamente, ocorrer urna gravidez, como algumas vezes tem acontecido.

Nao constituí dever do casal estéril buscar tratamento para a esteri


lidade, porém é um nobre direito que Ihe assiste. Todavía só é um direito
legítimo quando subordinado aos valores humanos, isto é, os meios utili
zados para o diagnóstico e o tratamento nao devem rebaixar a dignidade
da natureza humana, como acontece, por exemplo, na realízacáo de cer
tos exames e procedimentos que desnaturam o uso da genitalidade.

A Medicina, como qualquer outra ciencia, tem que ser orientada


pela Filosofía, que a subordina a valores éticos. Nao está a Medicina obri-

358
ESTERILIDADE INVOLUNTARIA 23

gada a realizar tudo o que a tecnología possibilita fazer; pelo contrario,


existem limites éticos que resguardam valores fundamentáis, universais
e perenes.

E aqui está a grande diferenca entre a Ciencia Médica e as outras


ciencias naturais: a dignidade de sua materia de trabalho, que na Medici
na é o próprio ser humano e ñas outras ciencias naturais sao os seres
irracionais e os seres inanimados.

O ser humano constituí a finalidade de todas as ciencias, mas para


a Ciencia Médica, além de ser o fim, o ser humano constituí também o
meio, a sua materia de trabalho.

Assim, ao contrario dos médicos, os demais cientistas, trabalhando


para o bem da humanidade, podem e devem - resguardada a preserva-
cao da natureza - fazer quase tudo que a tecnología moderna possíbilíta
que facam, pois o material que manipulam é destituido de tao grande
dignidade, encontrando-se a servico do homem: os átomos, as molécu
las, os minerais, os vegetáis, os animáis, etc.

Já os médicos, éticamente, nao podem e nao devem fazer tudo o


que a tecnología possibilita que facam, pois sua materia de trabalho é o
seu semelhante, é o próprio ser humano, a quem devem servir e respeitar.

O abandono desta filosofía implica em regressáo e desvalorizado


da própria ciencia e em desrespeito á dignidade da natureza humana.
Nao é possível, repetimos mais urna vez, promover a vida humana desva-
lorizando-se a própria natureza da vida que se quer promover. Poder-se-
ia alcancar rápido progresso médico, com melhor conhecimento do orga
nismo humano e das leis que o regem na cura das mais graves doencas,
se, por absurdo, a tecnología moderna fosse aplicada, com fim experi
mental, em seres humanos que vivem alienados nos hospicios ou ñas
prisóes de alta periculosidade ou agonizam anónimos em hospitais públi
cos. Mas nao se pode admitir tal prática, porque seria um atentado á dig
nidade humana, á natureza humana, atingindo toda a humanidade e, por-
tanto, cada ser humano pessoalmente. Com efeito; quando se fala em
humanidade, subentende-se, obrígatoriamente, a pessoa particular e, vice
versa, quando se fala na pessoa humana, subentende-se a humanidade
genéricamente, a natureza humana. Por isto mesmo experiencias como tais,
atribuidas aos nazistas, foram consideradas crimes de lesa-humanidade.

Acontece que semelhante manipulacáo tecnológica tem sido prati-


cada impunemente, nos dias atuais, com embrioes e fetos humanos, muitos
deles, inclusive, "fabricados" para essa finalidade, ou para serem usados
em experiencias ditas científicas, fatos estes sobejamente divulgados pela
mídia, como ocorréncias normáis.

359
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 423/1997

A mesma sociedade que hoje difunde todas as aberracóes sexuais,


banalizando e deformando a sexualidade humana, tornando-a, pela téc
nica, artificialmente infecunda e promiscua, paradoxalmente busca, tam-
bém pela técnica, a procriacáo desvinculada do sexo, através do método
da fecundacáo in vitro. Querem, na procura do sexo totalmente desvin
culado da gravidez, encontrar a gravidez desvinculada do sexo e, quicá, a
vida humana sem paternidade e sem matemidade. Primeiro, o filho sem
pai e, depois, o filho sem máe: filhos de pais ignorados ou ocultos, filhos
do laboratorio e da comunidade, com sua ascendencia previamente ma
nipulada.

Que especie de valores norteia essa sociedade? O hedonismo? O


egoísmo? O consumismo?

Os filhos deixam de ser dom para se transformarem em subprodutos


descartáveis do ato sexual ou se tornarem objetos de consumo, que sao
"fabricados" em provetas, selecionados e escolhidos os mais aptos. Os
que "nao prestam", sao desprezados, e os melhores sao congelados, mas,
posteriormente, os que sobram sao destruidos ou "lancados pelos esgo-
tos", no dizer de um renomado adepto do método.

É obvio que os seres humanos gerados indignamente, como no


estupro e no incesto, e também os concebidos na proveta, revestem-se
da mesma dignidade e merecem o mesmo respeito devido a todos os
outros que foram gerados normalmente. E devem ter seus direitos natu-
rais resguardados desde a concepgáo. Mas nem por isso deve-se legiti
mar o estupro, o incesto ou a fecundacáo in vitro.

Sabemos que os grandes acontecimentos humanos, bons ou maus,


nao ocorrem súbitamente. Comecam, geralmente, em pequeñas propor-
cóes e váo aos poucos se avolumando e tomando corpo, de tal modo que
só os espíritos mais sensíveis e mais argutos sao capazes de pressentir
as graves conseqüéncias futuras. Estas, quanto á anticoncepcáo, aborto
e fecundacáo in vitro, foram oportunamente previstas no passado por
pessoas sensatas, e estáo ocorrendo em nossos dias.

A fecundaciáo in vitro passa, necessariamente, pela aceitacáo do


aborto. Sua pré-história tem origem, aparentemente contraditória, na difu-
sáo da mentalidade anticoncepcional, a qual gerou e impulsionou o movi-
mento abortista no mundo inteiro, cuja conseqüéncia foi a desvalorizacáo
da vida humana, convertendo-a, nos primeiros dias de sua existencia, em
objeto de experimentacáo científica.

Só assim criou-se "ambiente moral" permissivo á realizacáo das


primeiras experiencias de fecundacáo in vitro e manipulacáo de embrides
humanos (como já se fazia licitamente em animáis) com finalidade pura
mente científica, visando a aprofundar, com essa prática anti-ética, os

360
ESTERILIDADE INVOLUNTARIA 25

conhecimentos relacionados á fecundacáo natural e ao desenvolví mentó


da vida humana em seu estágio embrionario.

dentistas que perderam o sentido ético de suas acoes, prosse-


guem realizando essas experiencias biológicas para ver até onde seu
poder manipulador é capaz de promover o desenvolvimento, fora do útero
materno, de um ser humano por eles gerado em laboratorio.

O embriio humano assim "produzido" fica exposto a milhares de


possibilidades de "uso", inclusive á de ser implantado em útero de macaca
ou de cadela ou de porca, como, alias, já foi noticiada a sua realizacáo.

Mesmo a fecundacáo in vitro voltada para o tratamento da esterili-


dade - além de constituir indevida manipulacáo da origem da vida - pres-
supóe a aceitacao do aborto. Depois de selecionados, os embrióes consi
derados imperfeitos sao destruidos, e também o sao os mais aptos já
implantados no útero (abortos), quando a "reducáo natural" esperada nao
ocorre e o número de embrióes em crescimento supera o programado ou
o compatível com gestacáo nao complicada.

Nao pretendemos deter-nos neste tema; apenas denunciamos a


forma desordenada e anti-ética com que tem sido utilizada a excelente e
poderosa tecnología moderna no manuseio da vida humana nascente,
como se fosse animal de experimentacao, inclusive promovendo a fecun
dacáo experimental entre células reprodutoras humanas e células
reprodutoras animáis {!...).

Testemunha Ocular de Jesús. Novas provas em Manuscrito


sobre a Origem dos Evangelhos. Por Carsten Peter Thiede e Matthew
d'Ancona. Tradugáo de Laura Rumschinsky. Colecao "Bereshit". - Ed.
Imago, Rúa Santos Rodrigues 201-A, Rio de Janeiro (RJ), 160x230mm,
278 pp.

O livro relata as impressionantes pesquisas do Prof. Carsten Peter


Thiede, de Paderborn, que em 1994 identificou tres fragmentos papiráceos
de Mateus 26, datados de meados do século I. Para chegar a tal datagáo,
o pesquisador se valeu da paleografía: a escrita dos tres fragmentos é
semelhante á de outros manuscritos gregos da primeira metade do século
I; caiu em desuso pouco depois do fim do governo de Pondo Pilatos em
36. A conclusáo do Prof. Thiede, caso seja verídica, vem confirmar a do
Prof. Pe. O'Callaghan S. J., que fez semelhante descoberta em relagáo a
Marcos 6 (descoberta também relatada no livro em foco): dir-se-á que os
Evangelhos fazem eco á pregacáo de Jesús, pois foram redigidos a breve
intervalo da Ascensáo do Senhor (ao menos redigidos em parte). - O livro
em questáo é muito elucidativo do trabalho de pesquisa relativa á origem
dos Evangelhos.

361
Um Alarme Francés:

PRESERVATIVOS ÑAS ESCOLAS

Em síntese: O Sr. Arcebispo de Avignon (Franca) escreveu um ar


tigo sobre distribuicáo de preservativos ñas escolas da Franga, realizada
por ordem do Ministerio da Educagáo daquele país. Julga que a decisao
do Ministerio dá a entender que a vida sexual, para adolescentes, é algo
de lícito e normal. Isto equivale a depreciar a juventude, como se ela só se
pudesse satisfazer com os prazeres da carne ou mesmo com a libertina-
gem hedonista. Significa "achatar" a juventude, tida como incapaz de com-
preender e desfrutar outros valores. Na verdade, se há jovens quase ob
cecados pelo sexo, isto ocorre muitas vezes porque nunca os adultos Ihes
mostraram um ideal de vida superior, antes os estimularam a procura do
prazer, que nao raro se toma irracional ou obsessivo. A juventude sabe tam-
bém estimar nobres ideáis, aos quais se dedica com entusiasmo quando
adequadamente esclarecida. - De resto, notase que, por parte das autori
dades educacionais, há receto de falar de moralidade, como se fosse algo
defasado; daías tristes conseqüéncias de que é vítima nossa sociedade.

O Sr. Arcebispo de Avignon (Franca), Mons. Raymond Bouchex,


publicou no seu Boletim Diocesano, com data de 8/3/97, sabias pondera-
cóes referentes á distribuido de preservativos aos adolescentes e jovens
das escolas da Franca.

O artigo merece atencáo, pois diz verdades que se aplicam tam-


bém ao Brasil e sua atual conjuntura. Eis o respectivo texto:

DISTRIBUIDORES DE PRESERVATIVOS ÑAS ESCOLAS

O Sr. Ministro de Estado da Educagáo declarou recentemente que,


a partir do próximo comeco do ano letivo, serao instalados mecanismos
distribuidores de preservativos em todas as escolas do nosso país. Esta
decisao foi tomada qual meio de prevengáo contra a AIDS.

A AIDS provoca um medo todo especial. Este medo decorre do fato


de que a AIDS por enquanto ainda deixa frustradas as pesquisas médi
cas. Provém também do fato de que está, em parte, ligado ao sexo e ao
dom da vida. Mais ainda: deriva-se do fato de que destrói a confianca
naquilo que normalmente é a expressáo da confianca: a relacáo amoro-

362
PRESERVATIVOS ÑAS ESCOLAS 27

sa. Cada parceiro pode chegar a duvidar do outro. Ora o que concerne ao
sexo, ao dom da vida e á confianca entre o homem e a mulher atinge o ser
humano em suas raízes e tem algo a ver com o sagrado.

A prevencáo contra a AIDS é de necessidade imperiosa. Compre-


ende-se que as autoridades a considerem como uma de suas tarefas
prioritarias. Precisamente por causa da gravidade dos riscos no plano da
saúde e no plano do próprio sentido da existencia humana, é surpreen-
dente que um Ministro de Estado da Educacáo só ofereca aos alunos e
alunas preservativos, postos á sua disposicáo publicamente em estabele-
cimentos destinados á educacáo e á formacáo de futuros homens e futu
ras mulheres.

Diante de tal decisáo do Ministerio, tem-se a impressáo de que é


tranquilo e evidente, uma vez por todas, que os jovens (para só falar dos
jovens) tém e devem ter relacóes sexuais tanto quanto queiram e com
quem eles queiram. Há nisto uma modalidade de desprezo para com os
jovens, que sao tidos como incapazes de ouvir outro tipo de mensagem;
há nisto uma estranha falta de confianca para com eles da parte dos adul
tos e, muitas vezes, da parte dos próprios genitores. A decisáo do Minis
terio pode mesmo parecer um estímulo ás relacóes sexuais entre jovens.

É compreensível que as autoridades coloquem os preservativos


entre os meios de prevencáo da AIDS. O que nao se compreende, é que
só proponham isso. É dever das autoridades dizer também que a preven
cáo contra a AIDS passa primeiramente pelo respeito do sexo, a recusa
de banalizacáo das relacóes sexuais, a educacáo das consciéncias e da
responsabilidade moral. Em vez de dar a entender que a única solucáo é
a instalacáo de distribuidores de preservativos, toca ao Ministro da Edu
cacáo propor, estimular, organizar nos estabelecimentos escolares a edu
cacáo do senso humano - e ñas escolas católicas... a do senso cristáo -
da sexualidade, do auténtico amor entre rapazes e mogas, do compro-
misso matrimonial e da fidelidade.

Temos, porém, a impressáo de que nossos homens políticos, quais-


quer que sejam, tém medo de parecer estimular, por pouco que seja, uma
educacáo moral e de assim parecer limitar a liberdade de dizer tudo, mos
trar tudo, fazer tudo... Após tanto afirmar que nada deve ser proibido,
como pode alguém queixar-se dos danos causados pela liberdade des
controlada nos setores do sexo, da violencia e da droga?

A educacáo moral nao é contraria á liberdade. Alias, esta nao con


siste na possibilidade de fazer tudo o que a pessoa queira, chegando a
causar daño aos outros. A educagáo moral vem a ser a capacidade, pró-
pria dos seres humanos, de dar á sua vida particular e social uma orienta-

363
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 423/1997

cao digna da pessoa humana. Ela nao se opóe á laicidade, pois esta
sempre atribuiu a si a missao, ñas escolas públicas, por exemplo, de for-
necer uma educacáo pessoal e cívica de elevada qualidade.

A educacáo moral é parte integrante da tarefa dos homens políti


cos, que se devem preocupar com valores sem os quais a vida na soci-
edade se torna impossível. Nao se diga que tal educacáo é inspirada por
uma opcáo religiosa, que a política nao pode impon Ela depende, antes, da
responsabilidade do homem e da mulher, aos quais foi confiado o dever de
humanizar tudo o que diz respeito ao seu ser, inclusive a sua sexualidade.

REFLETINDO...

O texto de Mons. Raymond Bouchex sugere algumas ponderacoes:

1) A decisáo de implantar distribuidores de preservativos ñas esco


las dá a entender que a vida sexual, para adolescentes, é algo de lícito e
normal. Isto equivale a depreciar a juventude, como se ela só se pudesse
satisfazer com os prazeres da carne ou mesmo com a libertinagem
hedonista. Significa "achatar" a juventude, tida como incapaz de compre-
ender e desfrutar outros valores. Na verdade, se há jovens quase obceca
dos pelo sexo, isto ocorre muitas vezes porque nunca os adultos Ihes
mostraram um ideal de vida superior, antes os estimuiaram á procura do
prazer, que nao raro se torna irracional ou obsessivo. A juventude sabe
também perceber e estimar nobres ideáis, aos quais ela se dedica entusias
mada quando esclarecida e encorajada. A imprensa nos dá noticia disto.

2) É compreensível que o Ministerio julgue que "o preservativo é o


meio oportuno para evitar a AIDS". Ao dizer isto, Mons. Bouchex fala a
linguagem dos seus interlocutores políticos, que se enganam, pois a me
dicina ensina que os preservativos nao garantem "sexo seguro": sao po
rosos e, em porcentagem nao desprezível, falhos; ver PR 409/1996, pp.
267-274. - Logo após usar a linguagem da sociedade profana, Mons.
Bouchex delicadamente a corrige, afirmando que a prevencao contra a
AIDS se faz pelo respeito ao sexo, pela educacáo das consciéncias e o
despertar das responsabilidades. Ai está realmente a solucáo para o pro
blema da AIDS, solucáo que nao pode ser preterida em favor de conces-
sóes "simpáticas", mas deletérias e traicoeiras.

3) Em suma, o Sr. Arcebispo apela para a educacáo moral. Lembra


a propósito que a sociedade de nossos dias nao quer ouvir falar de Moral;
esta é uma palavra banida porque orienta a liberdade e ensina que nem
tudo o que alguém pode fazer é conveniente e proficuo. Mais agradável é
dar a entender que cada qual pode fazer o que quer. Mons Bouchex ob
serva que esta atitude tem sido nociva a sociedade, pois abre o caminho
para abusos sexuais, violencia e drogas. Ao Ministerio da Educacáo, por-

364
PRESERVATIVOS ÑAS ESCOLAS 29

tanto, compete em primeira instancia, proporcionar educacáo moral, es


cala de valores, ideáis de comportamento condizentes com a dignidade
humana.

4) A educacáo moral nao é necessariamente ligada a algum Credo


religioso..., Credo que um Estado leigo nao pode professar nem impor.
Na verdade, a educacáo moral depende da própria natureza humana,
que propoe ditames éticos válidos para todos os seres humanos: "nao
matar, nao roubar, nao adulterar, nao se deixar escravizar por paixóes
que desfigurem a dignidade racional do homem". Nao é preciso ter reli-
giáo para reconhecer que existe uma Ética humana, com suas virtudes
humanas, que a própria Filosofía apregoa inspirada únicamente pela ra-
záo. Esta ensina que tudo no homem, inclusive a sexualidade, há de re-
fletir a nobreza de um ser que difere dos animáis irracionais movidos por
seus instintos cegos.

A VIDA GANHA UMA VITORIA NA COLOMBIA


(por Internet)

Bogotá, 14 jun (SN) - Depois de varios meses de duro trabalho, a


Igreja Católica e os grupos pela vida da Colombia conseguirán) que o
Senado rejeitasse definitivamente um projeto de lei que permitia legalizar
o aborto no país. Durante sessáo pública, transmitida ao vivo pela tevé
durante cinco horas, na sétima comissáo do Senado, foi rejeitado o proje
to de lei da senadora Piedad Córdoba. A senadora apresentou no ano
passado o projeto, que foi rejeitado no primeiro debate. Na segunda ten
tativa conseguiu o apoio do Partido Liberal, no governo, e de entidades
feministas e abortistas colombianas. Os grupos abortistas realizaram uma
serie de debates, seminarios, mesas redondas, com o apoio da mídia,
para criar uma opiniáo pública favorável ao aborto, coisa que nunca acon-
teceu. Por seu lado, a Conferencia Episcopal Colombiana, presidida por
dom Alberto Giraldo Jaramillo, arcebispo de Medellin, manteve contatos
pessoais com os congressistas, aos quais explicou a gravidade da situa-
cáo, enquanto as associacóes como o Conselho Nacional de Leigos, Lei-
gos pela Colombia e outros, nao tiveram medo de comparecer nos deba
tes para defender a vida. Finalmente os senadores Carlos Corsi e Pedro
Jiménez denunciaram "o colonialismo demográfico promovido pelo
'Population Council' e a 'International Planned Parenthood Foundation',
cuja principal arma de controle de natalidade é o aborto". Em seguida,
varios congressitas ratificaram sua posicáo pela vida, derrubando os ar
gumentos evasivos e pró-aborto de organismos oficiáis e dos representan
tes da Organizacáo Pan-americana de Saúde, que ¡ntervieram no debate.

Fonte: noticias@listas.unibosco.br

365
Controvertidos:

QUEM SAO OS CIGANOS?

Em síntese: Os ciganos sao um povo singular, dotado de costumes


próprios; muitos levam vida nómade, entregándose ao comercio, a músi
ca eá danca, como também a adivinhacáo da sorte. Tém origem possivel-
mente na india; espalharam-se pela Europa, a África do Norte, a América
e a Australia. Em geral, nao gozam de boa fama, o que Ihes tem valido
perseguigóes. Em nossos dias há quem procure reabilitar os ciganos; em
certas regióes existe um capeláo católico, que deles se ocupa. Costumam
seguir a religiáo prevalente na regiáo em que se encontram. A figura do
bom cigano veio á tona recentemente, pois aos 4/5/97 foi beatificado o
cigano Ceferino Jiménez Malla, do qual tratará o artigo seguinte.
* * *

Os ciganos constituem um povo nómade ou seminómade, espalha-


do pela Europa Central, a península ibérica, a Asia Ocidental, o Norte da
África, a América e a Australia, conservando sempre os mesmos caracte
rísticos de raca e de género de vida.

Dois sao os nomes principáis que designam essa estirpe:

a) ciganos, forma portuguesa do original «Atzigan» ou «Atsigan»,


que na Turquía e na Grecia deu «Tshingian»; na Bulgaria, e na Roménia,
«Tsigan»; na Hungría, «Czigany»; na Alemanha, «Zigeuner»; na Italia
«Zingari»; na Inglaterra, «Tinker» ou «Tinkler».
*

O apelativo «cigano» parece derivar-se, em última análise, de


«jigani», denominacáo de urna tribo da india, pertencente á raca dravidiana,
raca que resulta da fusáo dos negritos (primitivos habitantes da penínsu
la hindú) com osturanianos, povo de raca amarela, proveniente dos mon
tes Urais.

Os estudiosos modernos sao levados a crer que os ciganos provém


realmente dos jiganis da india, pois acentuada é a afinidade de traeos
raciais e de dialeto, vigente entre os dois povos.

b) egipcios, nome devido a urna crenca divulgada pelos próprios


ciganos quando entraram em cena na Europa medieval; segundo essa
crenga, os ciganos seriam oriundos do Egito, ou melhor, de urna regiáo
chamada «Pequeño Egito» (= Palestina). Tal nome tomou as formas

366
QUEM SAO OS CIGANOS?

«Gypsy» na Inglaterra; «Gitano» (de Egiptiano) na Espanha; «Gyphtos»


no grego moderno. A mesma tese explica denominacóes similares dadas
aos ciganos: «Pharaoh nepek» (povo de Faraó) na Hungría; «Faraón»,
na Roménia.

Outros nomes atribuidos ao mesmo povo seriam: «boémios» ou


«bohémiens», na Franca; «Heydens» (= pagaos) na Alemanha. Os pró-
prios ciganos se designavam durante algum tempo como "Romanos" a
fim de se recomendar aos olhos dos demais povos.

Ñas linhas que se seguem, examinaremos rápidamente quem sao


os ciganos (origem, historia, género de vida, de trabalho...) e quais os
seus aspectos religiosos mais característicos.

1. Origem e Esboco Histórico

Desde que os ciganos apareceram na Europa Ocidental, muitas


hipóteses foram propostas para explicar a sua origem: seriam descen
dentes dos construtores das pirámides, dos etíopes, dos persas, dos tár
taros... Seriam uma das tribos perdidas de Israel, uma mésela de judeus
e árabes, os últimos representantes dos metalurgos da idade do bronze,
sobreviventes da Atlántida; seriam, talvez, a posteridade de Caím ou a de
Cam, filho de Noé ou mesmo de Adáo e de uma muiher anterior a Eva (o
que justificaría a isencáo da lei do trabalho em favor dos ciganos).

Postas de lado essas hipóteses fabulosas, no fim do século XVIII


os estudiosos observaram grande semelhanca entre a língua dos ciganos
da Europa e o sánscrito e outras línguas vivas da india. Daí afirmarem a
origem indiana dos ciganos, sentenca esta que foi confirmada por ulterio
res estudos de lingüistas, antropólogos e historiadores.

Na verdade, presume-se que sejam descendentes da tribo indiana


dos jiganis. Apresentam estatura pequeña e tez de pele que pode variar
desde a coloracáo escura do cigano da Arabia até o matiz claro do habi
tante da Polonia. Em geral, tém um físico bem proporcionado e assaz
ágil. Sao amigos de ornamentos vistosos e dos trajes de cores carrega-
das, de preferencia vermelhos e verdes; as mulheres costumam usar len
cos, colares e moedas de ouro em torno do pescoco, ficando-lhes os pés
geralmente descalcos.

Nao se tém anteriormente ao inicio do séc. XIV vestigios seguros


da estada dos ciganos na Europa. Parecem ter passado do Egito para as
térras balcánicas, espalhando-se pela Hungría, a Boémia e a Rússia. A
sua entrada nos territorios da Europa Ocidental (Alemanha, Franca, Suí-
ca, Italia) nao se deve ter dado antes do principio do séc. XV. Até hoje
conservam os seus caracteres raciais e lingüísticos bem definidos, pois

367
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 423/1997

só se casam entre si, sendo os matrimonios mistos ou exogámicos consi


derados por eles como ilegítimos; em geral, tendem a se ¡solar dos de-
mais povos - o que em'parte se deve ao seu tipo de vida nómade. Falam
a língua nomani ou nomanes, de fundo indiano, mesclada com locucóes
dos povos em meio dos quais habitam. Nao tém tradicáo escrita ou litera
tura, mas o idioma é conservado muito vivo por ser secreto; está diversifi
cado em dialetos.

Nenhuma nacáo conta os ciganos entre os seus concidadáos. É o


que torna difícil avaliar o número de ciganos hoje existentes no mundo; cal-
cula-se, porém, que atingem a cota de cinco a dez milhóes. Nao prestam
servico militar nem tratam de registrar os seus casamentos em cartório civil.
Cada tribo ou bando nómade tem seu chefe e sua forma de governo autóno
mo. Dada a sua fama de gente fraudulenta e engañadora, os ciganos, do
séc. XVI até o inicio do séc. XX, foram objeto da repressáo de certos gover-
nos europeus, que Ihes infligiram penas diversas: a escravidáo na Roménia
e na Hungría (séc. XVIII/XIX), o exilio e a própria condenacáo á morte.

2. Atividades dos Ciganos

Segundo ge raímente se diz, os ciganos vivem da mendicáncia e do


furto - o que nao é correto. Existe, sem dúvida, a mendicáncia, direta ou
dissimulada, praticada principalmente pelas mulheres e as changas. To
davía os ciganos exercem também certo trabalho profissional e artesanal,
variável de acordó com a regiáo em que se encontram, e geralmente com-
patível com a vida nómade.

1) Adivinhar a sorte ou a quiromancia (interpretacáo das linhas da


máo, também dita "leitura da buena dicha") é ocupagáo das mulheres.
Seguram a máo do cliente e a consideram, mas observam também o
semblante do interlocutor. Praticam outrossim a adivinhacáo pelas cartas
e pelo taró, á semelhanca dos náo-ciganos. Vendem amuletos e bentinhos,
recorrendo a ritos estranhos para atrair o favor ou a ira dos "espíritos
superiores" - ritos chamados Xochano baro (a Grande Farsa).

Praticam igualmente o curanderismo, utilizando o poder terapéutico


de certas ervas. Esta arte os torna muito estimados ñas regióes rurais,
onde os ciganos podem fazer as vezes de veterinarios.

2) A música cigana também é muito apreciada desde o século X no


Irá. Na Europa Ocidental e na Central, ela se impós em festas aristocráti
cas como também ñas dos camponeses. Serve-se da voz humana e de
instrumentos; as letras lembram por vezes o hebraico, o árabe e o andaluso.

3) As dancarinas ciganas espanholas tém fama mundial. Na Fran


ca apresentavam-se na corte de Henrique IV (1589 - 1610) como tam-

368
QUEM SAO OS CIGANOS? 33

bém nos castelos dos nobres. Os ciganos estáo presentes nos teatros de
marionetes, nos circos, e os homens ñas touradas da Espanha. No Méxi
co os ciganos tém seus cinemas ambulantes.

4) Na Europa Central, os ciganos se dedicam principalmente ao


trato de cávalos; compram-nos, vendem-nos, trocam-nos e sabem cuidar
deles. O mesmo se dá em relacáo a asnos e mulos.

5) Praticam a manufatura de metal e madeira: fabricam e conser-


tam utensilios domésticos de cobre ou bronze (donde o nome de
"caldeireiros" ou "chaudronniers", que por vezes Ihes é dado) ou de ma
deira (bancos, mesas).

6) Para vender seus produtos, os ciganos nao montam lojas, mas


váo ao encalco dos clientes de porta em porta. Compram e revendem
diversos tipos de mercadoria. Este comercio ambulante é chamado chine.
Também participam das feiras locáis.

7) Na Espanha dos séculos XVIII e XIX os ciganos ofereciam hos-


pedagem em albergues próprios. Podiam também embarcar em naves
pesqueiras para praticar a pescaría, as mulheres se encarregavam de
vender o peixe. Nao sao amigos da agricultura, pois esta obriga á vida
sedentaria, mas aceitam tarefas ocasionáis de colheita.

8) Diz-se que o cigano tem o prazer de empunhar armas. Ñas guer


ras dos séculos passados, como, por exemplo, na guerra dos Trinta Anos
(1619 -1648) havia batalhóes inteiros de ciganos acompanhando as tro
pas regulares.

3. Costumes Ciganos

Os ciganos espalhados pelo mundo carecem de chefe comum.


Ce ríos grupos tém o seu Conselho de Andaos e o tribunal dos Kris.

Os homens geralmente se vestem como os cidadáos da regiáo em


que vivem. As mulheres gostam de cores vivas, joias, brincos e argolas,
colares, e freqüentemente saias longas.

Comem o que o respectivo país oferece. Muito estimam a carne,


com excecáo da de cávalo, que é proibida; preferem o porco e as aves.

Estáo acostumados a morar em tendas, quando fazem urna pausa


em suas andancas. Os que abracam a vida sedentaria, ornamentam seus
abrigos como se fossem tendas.

O núcleo familiar é muito forte. O pai detém a autoridade. Prole


numerosa é sinal de béncáo divina. O casamento nao costuma ser con
traído nem na igreja nem no cartório, mas é festejado com grandes sole-

369
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 423/1997

nidades e despesas. Também os funerais sao solenes e dispendiosos,


atraindo muitos parentes e amigos, que nao raro vém de longe. Os ritos
tradicionais visam a apaziguar a alma do defunto e ajudá-lo em suas ca-
minhadas no além-túmulo; os supostos fantasmas suscitam grande medo.

4. Ciganos e Religiio em geral

Os ciganos nao tém Religiáo própria, característica da rafa, como a


tém os judeus; mas adaptam-se as idéias religiosas do país em que se
acham, fundindo-as com crencas supersticiosas comuns a muitos povos,
Assim, na Turquía e na Arabia professam o islamismo; na Grecia e na
Roménia, a "ortodoxia" crista nacional; na Hungría, em Portugal e na Es-
panha, o catolicismo. Em verdade, porém, nao cumprem muito exata-
mente os deveres religiosos do Cristianismo; principalmente no tocante á
vida sexual, sao indulgentes. Além disto, parecem inclinados a crer no
fatalismo dos destinos humanos.

Vivendo no cenário cristáo da Idade Media, compreende-se que os


ciganos tenham estado envolvidos em mais de uma manifestacao da fé
crista.

Os historiadores observam, por exemplo, que nao era raro passa-


rem eles por peregrinos cristáos, gozando, a este título, dos favores e
privilegios que os prelados e os príncipes concediam as caravanas de
peregrinos; gozavam mesmo da tutela e dos beneficios que os Papas
costumavam dispensar aos cristáos que demandavam os grandes santu
arios. Parece, porém, que os ciganos nem sempre se mantiveram á altura
de tal benevolencia, pois déla abusaram para cometer maleficios; assim,
por exemplo, se exprime o cronista Aventinus na primeira metade do séc.
XVI: «A fraude e o roubo sao proibidos aos outros povos...; estes, porém,
(os ciganos) se atribuem a licenca de os praticar».

A má fama que, apesar do caráter de peregrinos cristáos, pesava


sobre os ciganos, encontrou expressáo em uma altercacáo graciosa, bem
característica da mentalidade popular. Com efelto, dizia-se na Idade Me
dia que os cravos com os quais foi crucificado o Senhor Jesús, haviam
sido forjados por ciganos e que, em conseqüéncia, tal povo fora amaldi-
coado. Diante desta falsa acusacáo os ciganos da Alsácia e da Lituánia
se defendiam inteligentemente...; chamavam a atencáo para o costume
introduzido nos séc. XII/XIII na iconografia crista, costume de representar
o Senhor crucificado com tres cravos e nao, como na primitiva Igreja se
representava, com quatro cravos... Aproveitando-se da estranheza que
esse novo hábito provocava no povo cristáo, os ciganos pretendiam
justificá-lo contando que uma mulher cigana, desejosa de impedir a cruel-
dade contra Jesús, tentara roubar dos judeus os quatro cravos com os
370
QUEM SAO OS CIGANOS? 35

quais se dispunham a crucificá-Lo; tendo conseguido subtrair ao menos


um cravo, os carrascos haviam sido obrigados a crucificar com tres pre-
gos em vez de quatro: um em cada máo, e um nos dois pés sobrepostos.
Assim, segundo a intencáo dos apologistas ciganos, a figura do Divino
Crucificado, longe de constituir desdouro para a fama dos boémios, deve
na, antes, torná-los mais caros aos cristáos!... Esta altercacao pode ser
ilustrada pelo fato de que a primeira representado do Crucificado com
tres cravos data do séc. XII; está forjada em cobre e é de origem bizantina...
Ora, se os ciganos bizantinos possuíam o monopolio da metalurgia nessa
época, poder-se-ia supor que tal inovacáo na representacáo do crucifixo
se deva aos ciganos, os quais destalle visavam afastar de si a calúnia de
terem concorrido, pela sua industria no séc. I, para atormentar o Senhor
Jesús.

Outro encontró, digno de nota, dos ciganos com o Cristianismo é a


peregrinacao, que esse povo ainda em nossos dias costuma empreender
ao santuario dito «das Tres Marías» (Les Saintes Maries de la Mer) na ilha
de Camargue perto de Marselha no mar Mediterráneo. Conforme antiga
narrativa, esse santuario assinala o lugar onde desembarcaram María,
máe de S. Hago o Menor, María de Salomé, máe de S. Joáo Evangelista
e S. Tiago o Maior, e María Madalena, acompanhadas de José de Ari-
matéia, de Lázaro e de Sara, companheira egipcia das tres Marías: teriam
sido expulsos da Palestina pelos perseguidores da fé; embarcando entao
numa navezinha destituida dos devidos recursos, a pequeña caravana,
por evidente tutela da Providencia Divina, teria chegado incólume a
Camargue, e daí haveria iniciado a evangelizacáo da Gália. Em comemo-
racáo do episodio (cuja autenticidade nao interessa discutir aqui), os cris
táos ergueram na mencionada ilha urna grandiosa igreja, onde estáo guar
dadas as reliquias de Santa Sara, que os ciganos cristáos veneram como
sua padroeira. Ora, sendo a festa das «Tres Marías» celebrada anual
mente a 25 de maio, os ciganos de varias partes do mundo (Franca, Ale-
manha, Austria, Italia, Espanha e até do Marrocos) costumam afluir ao
santuario, podendo o número de peregrinos chegar a um total de 5.000;
os mais antigos vestigios (ofertas votivas) desse piedoso costume che-
gam a ser anteriores ao ano de 1450! A igreja do santuario fica, por oca-
sigo de tais peregrinajes, inteiramente ocupada pelos ciganos, os quais
dáo á localidade toda um aspecto festivo, meio-religioso, meio-profano;
suas manifestacoes de piedade nem sempre condizem com a genuína
mentalidade católica.

Ainda no tocante ás relacóes dos ciganos com o Cristianismo, póde


se notar o seguinte: na Franca em 1961 havia cerca de vinte sacerdotes
(capeláes) consagrados á cura pastoral entre os boémios, sob a direcáo
geral do padre Feluny, capeláo-mor (outros capeláes existiam na Alema-

371
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 423/1997

nha, na Espanha, no Marrocos). Justamente durante os festejos de 1961


em Camargue um desses sacerdotes franceses declarou á imprensa:

«As mulheres ciganas... nao sao moralmente transviadas. Inega-


velmente, os ciganos praticam unioes de amorlivre; muitos desse casos,
porém, se devem simpiesmente ao fato de que nao conseguem obter os
documentos que o governo requerpara o matrimonio civil. Tais circuns
tancias, porém, nao impedem que os ciganos estejam bem convictos das
obrigagóes decorrentes do matrimonio. Entre eles o varáo que tenha es-
colhido urna muiher, sabe permanecer-lhe fiel, sendo o adulterio passível
de penas severfssimas... Nos últimos tempos, tendo-se a Igreja mais aín
da aproximado deles, designando capeláes para Ihes assistir, muitas situ-
agóes de familias irregulares foram legalizadas; numerosos batizados tém
sido efetuados; eu mesmo já tive a ocasiño de assistir á primeira Comu-
nhao de seis ciganazinhas».

O repórter Emilio Marini, que transmite a declaracáo ácima, acres-


centa quase á guisa de comentario:

«Nao há dúvida, quem se aproxima daqueles carros (dos ciganos)


e conversa com os respectivos moradores, toma consciéncia de que o
juízo muito freqüentemente proferido sobre eles é de todo injusto; trata
se, na verdade, de gente honesta, trabalhadora, de gente que fica á mar-
gem da sociedade, principalmente porque a sociedade nao a sabe aco-
Iher com a devida estima. Tratase de gente que está apegada ao seu
carro como o camponés está apegado a sua térra, e que, embora parega
nao ter patria, é enormemente afeigoada á sua familia, á sua tríbo, ao seu
carro, á sua liberdade» (extraído da revista Orizzonti nB28, de 9 dejulho
de 1961).

Este modo de ver, compreensivo e benévolo, parece assaz oportu


no na hora presente para acautelar contra generalizacoes pouco equitati
vas.

Alias, os ciganos, muito atacados, sempre tiveram seus defenso


res, principalmente por causa do seu talento musical e artístico. No sécu-
lo XX foram formadas sociedades destinadas a torná-los mais conheci-
dos e por em evidencia o que eles tém de positivo; assim na Inglaterra a
Gypsy Love Society e na Franja Erudes Tsiganes. Os preconceitos ten-
dem a se dissipar, urna certa assisténcia vem sendo dada aos ciganos,
para que, como minoria, se possam adaptar á grande sociedade, mere-
cendo o respeito desta e prestando sua colaboracáo á mesma.

Um espécime dessa adaptacio é o caso de Ceferino Jiménez Malla,


de que trata o artigo seguinte.

372
O Primeiro da Historia:

UM CIGANO BEATIFICADO: CEFERINO JIMÉNEZ


MALLA

Em síntese: Os óiganos sao um povo singular, que tem sido vítima


de repressao, pois nao possui boa fama. Todavía aos 4 de maio de 1997
0 Santo Padre Joáo Paulo II beatificou o cigano Ceferíno Jiménez Malla,
nascido na Espanha e martirizado por causa de sua fé católica em 1936
por obra dos anarquistas espanhóis. Era homem de grande carídade e
piedade, que no cárcere nao cessava de rezar e de defender seus com-
panheiros de prisáo injustigados.
* * *

Aos 4/5/97 o Papa Joáo Paulo II proclamou Bem-aventurado o ci


gano Ceferino Jiménez Malla, o primeiro da historia no catálogo daqueles
que estáo em via de canonizacáo (ou de ser declarados Santos). Morreu
mártir dos comunistas na noite de 9 de agosto de 1936 durante a guerra
civil espanhola.

Embora nao naja muitos dados biográficos desse herói, podem-se


citar alguns episodios de sua vida, narrados principalmente por um sobri-
nho-neto do mesmo, Alvaro Giménez, o Bartolo, e sua esposa Adela. Estes
sao ufanos de ter tal párente entre os seus; é Adela quem atesta:

'Todos os Kalós (ciganos) de Barbastro e de outras partes do mun


do ouviram os andaos contara respeito da bondade, da inteligencia e da
capacidade de apaziguar conflitos que caracterizavam o Pelé"1.

Procuremos recolher o que se sabe sobre Ceferino, certos de que o


que há de decisivo em sua vida, é o heroísmo de sua morte, causada
precisamente por fidelidade ao Senhor Jesús no martirio.

O Bem-aventurado Ceferino

Ceferino nasceu em 1861 em Barbastro, Provincia de Aragáo (Es


panha), em meio a urna populacáo sedentaria de ciganos, que contava
dezenas de familias.

Como crianca e adolescente, teve encontros com Cucaracha, um


bandido da Provincia de Aragáo; sabe-se que algumas vezes o pequeño

1 Pelé é o apelido com que se conhecia o cigano Ceferíno Jiménez Malla.

373
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 423/1997

cigano compartilhou a refeicao com o bandido quando o menino fazia


suas extenuantes viagens pela regiáo, vendendo cestas e artigos de vime.

Com vinte anos de idade, tornou-se arrimo da sua própria familia,


pois o pai a abandonou, partindo com outra mulher e deixando aos cuida
dos de Ceferino esposa, duas filhas e um filho. Pouco antes, Ceferino
casara-se, á moda cigana, com Teresa Jiménez Castro, de familia cigana
também ela. A fim de poder ganhar o pao para si e os seus, Ceferino pós-
se a praticar o comercio de mulos e cávalos. O casamento, a principio
frágil, foi-se consolidando, de modo que após trinta anos de vida conju
gal, Ceferino e Teresa foram-se casar na Igreja Católica; nao tiveram fi-
Ihos, mas adotaram Pepita, sobrinha de Teresa. A descendencia de Pepi
ta e a de Felipe constituí o que se chama "a gente de Pelé", ciganos se
dentarios.

Por muitos anos Ceferino morou em modesta casa do bairro mais


antigo de Barbastro. Foi bem sucedido em seu comercio de mulos e cáva
los, embora jamáis quisesse participar das habituáis trapacas do género,
pelo que tinha fama de ser pouco esperto.

A honestidade de Ceferino é ilustrada por um episodio significativo:


certa vez, quando Ceferino estava relativamente bem no plano financeiro,
foi vender em pequeña cidade da Catalunha urna leva de animáis. Um
comerciante, seu colega, julgou entáo reconhecer entre esses animáis
alguns mulos que Ihe haviam sido roubados; acusou Ceferino de ser o
ladráo e o mandou prender pela Polícia. Ceferino passou alguns dias no
cárcere, enquanto se averiguavam os fatos; ora foi reconhecido como
inocente, porque pode exibir o recibo relativo á compra que fizera de tais
animáis; o juiz entáo declarou-o inocente e acrescentou urna observacao
"profética": "Pelé nao é um ladráo nem um fraudulento; é Sao Ceferino
Giménez Malla, o patrono dos ciganos".

Daquele dia em diante, Ceferino, que já era religioso, tornou-se aín


da mais devoto. Varias vezes foi visto a percorrer de joelhos com urna
tocha em cada mao a distancia de 500m que ia de sua casa á catedral de
Barbastro. Inscreveu-se em algumas Confrarias e tornou-se Terceiro
Franciscano. Costumava reunir meninos, aos quais ele, analfabeto, ensi-
nava o Catecismo. Tinha grande amor á natureza, de modo que, em dada
ocasiáo, ao ver que as enancas conculcavam e destruíam formigueiros,
ele as repreendeu, dizendo: "Que fazem voces? Também as formigas sao
criaturas de Deus!".

Durante o invernó muitas familias passavam tome nos arredores de


Barbastro. Entáo Pelé colocava sobre o seu cávalo (Calderas) víveres e
mantimentos varios, e transitava em meio á regiáo dos pobres, como se
casualmente ali estivesse precisamente na hora do almoco. Perguntava

374
UM CIGANO BEATIFICADO: CEFERINO JIMÉNEZ MALLA 39

entao numa casa: "Como anda la holla? (Como vai a panela?)", e aceita-
va o convite para entrar; comiam todos juntos, servindo-se daquilo que
ele levava sobre o cávalo, e, ao sair, alegava uma desculpa qualquer para
deixar na casa o grande volume dos restantes mantimentos. Em outras
ocasióes, sem que a esposa o soubesse, dava aos pobres o pouco di-
nheiro que ele trazia no bolso.

O desfecho de sua vida terrestre ocorreu em 1936. No mes de ju-


Iho, em Barbastro, como em muitas outras cidades da Espanha, foi orga
nizada a "Defesa Popular" contra o golpe de Estado do General Francisco
Franco. Entre os milicianos havia muitos anarquistas e anticlericais. Che-
gou a Barbastro um batalháo anarquista da Catalunha; certo dia prende-
ram um jovem sacerdote. O cígano Pelé entáo gritou: "Ajudai-me, Virgem
Santa! Tantos homens contra um só e... inocente". Isto bastou para que
os milicianos prendessem também a ele. Na prisáo haviam terminado
seus días muitos sacerdotes, Religiosos e o próprio Bispo Mons. Florentino
Asensio Barroso (beatificado igualmente a 4/5/97 junto com Ceferino).

Já que nao renunciava a rezar nem deixava o Rosario de lado,


Ceferino foi condenado á morte como todos os outros Religiosos do cár-
cere, sendo fuzilado na noite de 9 de agosto de 1936.

A diocese de Barbastro foi a que mais mártires teve durante a guer


ra civil espanhola; morreram 114 párocos sobre 140; 51 missionários
claretianos, 18 monges beneditinos e 8 escolapios.

Pergunta-se agora: por que as autoridades eclesiásticas espera-


ram de 1936 até os tempos recentes para introduzir o processo de Beati
ficacáo de Ceferino Jiménez Malla? - O atual Bispo de Barbastro, Mons.
Ambrosio Echecarria Arroita responde: "Antes do mais, porque até pou-
cos anos atrás as feridas da guerra civil ainda nao estavam cicatrizadas e
nao queríamos dar ocasiáo a reavivar velhos rancores", E acrescentou
que nao havia quem assumisse as despesas indispensáveis a um pro
cesso de Beatificacáo: este exige coleta de testemunhos, documentos e
outros dados, viagens, audiencias... Foram tres italianos que se interes-
saram pela causa: o Pe. Mario Riboldi, de Miláo, que há quarenta anos se
dedica aos ciganos, o Pe. Luigi Paraboni, barnabita, e o leigo Sergio
Giampoli, de Lucca. Quando tomaram conhecimento do caso de Ceferino,
foram á Espanha e colheram informacóes, ouvindo dezenas de testemu-
nhas. O Pe. Riboldi chegou a escrever um livro sobre Ceferino intitulado
"Un vero Beato Kaló (Um auténtico Bem-aventurado cigano)".

Os ciganos muito se regozijaram com a Beatificacáo de um compa-


nheiro seu e compareceram numerosos em Roma, pois tal gesto da Igre-
ja significa o reconhecimento da santidade de quem quer que seja, sem
preconceito racial ou social.

375
Urna Parábola:

"QUANDO DEUS ANDOU NO MUNDO,


A SAO PEDRO DISSE ASSIM..."

Em síntese: Para o 99 Encontró das Comunidades Eclesiais de


Base em Sao Luís do Maranháo (julho de 1997), foi redigida urna "parábo
la" destinada a ilustraras boas relagóes entre católicos e os adeptos das
religióes afro-brasileiras. Infelizmente o texto, que vai abaixo apresenta-
do, é blasfemo, pois faz de Jesús em seguidor da Umbanda, guiado por
um bom orixá, pulando e dangando alegre num terreiro, comendo pipoca,
batata assada e cocada. Isto é insustentável aos olhos da fé católica, que
vé em Jesús Deus Filho feito homem, o Senhor dos Senhores. O autor da
"parábola" tinha em vista a aproximagáo de católicos e umbandistas, coi-
sa que a Igreja também deseja e que ela procura realizar através do diá
logo religioso; este consiste num coloquio respeitoso entre dois Credos,
sem que aiguma das partes dialogantes encubra as proposigóes de sua
fé, condigáo esta que a "parábola" nao observa.
» * *

As CEBs tiveram origem no Rio Grande do Norte ou, mais precisa


mente, em Sao Paulo do Potengi. Na década de 60, Mons. Expedito de
Medeiros, Vigário da localidade, verificava ter urna grei demasiado gran
de e esparsa para poder a sos servir-lhe adequadamente. Nao podía con
tar com o reforco de colegas no ministerio, cujo número era exiguo. Daí
nasceu o plano de constituir dentro da sua paróquia núcleos ou comuni
dades de leigos, que, sob a coordenacao de um animador especialmente
formado, cultivassem a sua vida crista através de oracáo, culto dominical,
leitura da Biblia, reflexáo, apoio mutuo e solidariedade...

Essas comunidades, que constariam cada qual de quinze pessoas


aproximadamente, seriam visitadas periódicamente pelo Vigário ou pelo
Bispo, que celebraría para elas a Eucaristía e administraría os outros sa
cramentos.

Hoje existem milhares (100.000?) de CEBs no Brasil, espalhadas


principalmente ñas zonas rurais e ñas periferias das grandes cidades,
contando com a assessoria de Bispos e sacerdotes delegados.

Inegavelmente a inspiracáo originaria das CEBs é sadia. Acontece,


porém, que tém sido penetradas por ideologías, que as tém politizado
tendenciosamente, desviando-as de sua inspiracáo inicial.

376
"QUANDO DEUS ANDOU NO MUNDO, A SAO PEDRO DISSE ASSIM..." 41

Para o 99 Encontró das Comunidades Eclesiais de Base em Sao


Luís do Maranháo Gulho de 1997), foi redigida urna serie de textos, que
visam a desenvolver temas de Igreja (Igreja Popular, Catolicismo de Mas-
sa, Pentecostalismo...). Entre outros, acha-se urna "parábola" da autoría
de Frei Carlos Mesters, que pretende ilustrar as boas relacóes entre as
CEBs e as religioes afro-brasileiras; muito chamou a atencáo pelos seus
dizeres, que váo, a seguir, reproduzidos:

UMA PARÁBOLA
QUANDO DEUS ANDOU NO MUNDO, A SAO PEDRO DISSE ASSIM:
Frei Carlos Mesters

Certa vez Jesús reuniu os discípulos e as discípulas e disse:

"Quando voces forem anunciar o REINO, nao devem levar dinheiro


nem comida, mas devem confiar no povo. Chegando num lugar, se voces
forem acolhidos e o povo partilhar comida e casa com voces, e se voces
participarem da vida deles trabalhando, tratando dos doentes e do pesso-
al marginalizado, sem voz e sem vez, entáo podem dizer ao povo com
toda certeza: 'Gente, olha aqui! O REINO chegou! Está chegando1". E
eles foram. Jesús também foi. Andou, andou. Já era quase noite. Estava
comecando a anoitecer quando chegou num terreiro. O pessoal que en-
trava, saudava e dizia: "Boa noite, Jesús! Entre e sinta-se em casa. Parti
cipe com a gente". Jesús entrou. Viu o pessoal reunido. A maioria era
pobre. Alguns, nao muitos, da classe media. Todo mundo dancando ale
gre. Havia muitas criancas no meio. Viu como todos se abracavam entre
si. Viu como os brancos eram acolhidos pelos negros - como irmáos.
Jesús ele também foi sendo acolhido e abracado. Estranhou, pois conhe-
ciam o nome dele. Eles o chamavam de Jesús, como se fosse amigo e
irmáo de longa data. Gostou de ser acolhido assim.

Viu também como a Máe-de-Santo recebia o abraco de todos. Viu


como invocavam os orixás e como alguns vinham distribuindo passes
para ajudar os aflitos, os doentes e os necessitados. Jesús também en
trou na fila e foi até a Máe-de-Santo. Quando chegou a vez dele, abracou-
a e ela disse: "A paz esteja com vocé, Jesús'. Jesús respondeu: 'Com a
senhora também1. E acrescentou: 'Posso fazer urna pergunta?' E ela dis
se: 'Pois nao Jesús!' E ele disse: 'Como é que a senhora me conhece?
Como é que eles sabem meu nome?1 E ela disse: 'Mas, Jesús, todo mun
do conhece vocé. Vocé é muito amigo da gente. Sinta-se em casa, aqui
no meio de nos!1

Jesús olhou para ela e disse: "Muito obrigado!" e continuou: "Máe,


estou gostando, pois o Reino de Deus está aqui no meio de voces"! Ela
olhou para ele e disse: "Muito obrigada, Jesús! Mas isto a gente já sabia.
377
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 423/1997

Ou melhor, já adivinhava. Obrigada por confirmar pra gente. Vocé deve


ter um orixá muito bom. Vamos dancar, para que ele venha nos ajudar!" E
Jesús entrou na danca. Dentro dele o coracáo pulava de alegría; sentía
urna felícidade ¡mensa e dizia baixinho: "Pai, eu te agradeco porque es-
condeste estas coisas aos sabios e entendidos, e as revelaste ao povo
humilde aqui do terreiro. Sim, Pai, assim foi do teu agrado". Dancou um
tempáo. No fim, comeu pipoca, cocada e batata assada, com óleo de
dendé, que o pessoal partilhava com ele. E, dentro dele o coracáo repetía
sem cessar: "Sim, o REINO DE DEUS chegou! Pai, eu te agradeco! As
sim foi do teu agrado!".

QUE DIZER?

Proporemos quatro observacóes á margem da "parábola":

1) Blasfemia

O texto é evidentemente blasfemo. Com efeito, apresenta Jesús


como um devoto de terreiro de religíáo afro-brasileira: entra na fila dos
que váo abracar a Máe-de-Santo, como se fosse a sacerdotisa que distri
buí béncáos. Ele a trata como "a senhora" e "Máe" ("Máe, estou gostan-
do..."); ela trata Jesús por vocé; diz a Jesús que Ele deve ter um bom
orixá. Jesús, convidado a dancar em honra do orixá, pula de alegría, sen-
te ¡mensa felícídade. Danga "um tempáo', come pipoca, cocada, batata
assada com óleo de dendé. E exclama: "O Reino de Deus já chegou!".

Quem lé tais textos, tem a impressáo de que Jesús é menos


categorizado do que a Máe-de-Santo e seus oríxás, o que é insustentável
á fé católica, visto que esta reconhece em Jesús Deus feito homem, o Rei
dos Reís e o Senhor dos Senhores, nao subordinado a criatura alguma.
Nao se pode conceber que tal texto tenha sido proposto á meditacáo de
fiéis católicos, á guisa de aprofundamento da fé. O senso cristáo repudia
tais enfoques.

2) Diálogo Religioso

A intencáo do autor da "parábola" foi aproximar católicos e religio


sos afro-brasileiros. A Igreja de fato deseja isto, mas através do que se
chama "o diálogo religioso". Este ocasiona o encontró de pessoas de Cre
dos diferentes, desejosas de manter um coloquio que dissipe mal-enten
didos e favoreca a aproximacáo religiosa. Condicáo para o éxito de tais
encontros é a franqueza segundo a qual cada interlocutor professa a sua
fé sem a diminuir ou esvaziar; somente em tal clima pode haver auténtica
aproximagáo, que, em última análise, é obra do Espirito Santo, e nao da
prudencia humana. O católico nao deve mascarar a sua fé, nem insinuar
que os outros Credos sao superiores ao seu, pois na verdade nao o sao.

378
"QUANDO DEUS ANDOU NO MUNDO, A SAO PEDRO DISSE ASSIM..." 43

De modo especial, as religioes afro-brasileiras, com seu mundo de enti


dades superiores, ofendem a lógica ou a sá razáo, pois nao pode haver
semideuses.

Com outras palavras: ao católico nao é lícito querer conquistar a


simpatía dos irmáos de outros Credos atenuando as verdades essenciais
da sua fé. O Espirito de Deus nao pode fecundar tais encontros em que
se utilizam criterios meramente humanos para cativar os interlocutores.

3) Secularismo

Merece especial atencáo a exclamacáo freqüente: "O Reino de Deus


já chegou!". - Pergunta-se: porque diz a parábola que o Reino de Deus já
chegou? Ela o diz porque há partilha de comida e casa, porque homens e
mulheres compartilham o trabalho, porque tratam dos doentes e margina-
lizados... Nesse Reino de Deus, porém, nao se fala uma só vez de Deus;
só se trata do homem ( de comida, casa, trabalho e saúde...)- Ora isto
ainda nao é o Reino de Deus. Um ateu, que sinta filantropía, pode interes-
sar-se por seus semelhantes necessitados sem que pense em Deus. Nao
há dúvida de que é importante zelar pelo bem-estar material dos que so-
frem, mas isto nao é suficiente para se dizer que o Reino de Deus já está
acontecendo. O Reino de Deus é, antes do mais, culto a Deus (adoracáo,
louvor, acáo de gracas...); é a celebracáo do sacrificio redentor de Cristo.
Em funcáo deste núcleo central, o cidadáo do Reino de Deus se volta
para os interesses temporais, e se volta... religiosamente ou com o afinco
que nenhuma motívacáo secular Ihe poderia comunicar.

Nenhum ser humano, nem o mais pobre no plano material, foi feito
para se contentar apenas com a comida, casa, trabalho e saúde; o animal
irracional, sim, se acalma quando se Ihe dá a racáo e o abrigo; ele entáo
dorme; ao contrario, a pessoa humana tem aspiracóes mais elevadas, as
quais aludía S. Agostinho ao dizer: "Senhor, Tu nos fizeste para Ti, e in
quieto é o nosso coracáo enquanto nao repousa em Ti" (Confissóes 11).

Assim se evita todo tipo de secularismo ou laicismo, que alias é


enfatizado pouco depois da "parábola" onde se lé:

«LEITOR(A) 2: Toda vez que encontramos uma comunidade de fé


que reúna pobres e discriminados, que lutam porjustiga e por melhores
condigdes de vida, mesmo que o faga de maneira muito diferente de nos e
celebre isso de modo diferente também, encontramos parceiros na ca-
minhada para a construgáo do Reino".

Este texto sugere o relativismo religioso. O que importaría, seria


construir uma sociedade igualitaria; pouco peso teria a questáo da crenga
religiosa dos respectivos construtores: católicos, protestantes, espiritas,

379
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 423/1997

umbandistas... todos seriam equiparados entre si pelo fato de construi-


rem o "reino do homem" independentemente desse aspecto que seria a
fé religiosa. Alias, é esta a tese que Clodovis Boff defende no seu livro
"Teología e Prática. Teología do Político e suas Mediacdes", Ed. Vo-
zes, Petrópolis 1978.

4) O Pensamento da Igreja

O genuino pensamento da Igreja tem sido formulado pelo Santo


Padre Joáo Paulo II em varios escritos seus, dos quais destacamos os
seguintes trechos:

«Hoye, o apelo a conversáo, que os missionários dirigem aos náo-


cristáos, é posto em discussáo ou fácilmente deixado no silencio. Vé-se
nele um ato de proselitismo; diz-se que basta ajudar os homens a torna-
rem-se mais homens ou mais fiéis á própría reiigiáo, que basta construir
comunidades capazes de trabalharem pela justiga, pela liberdade, pela
paz e pela solidariedade. Esquecem, porém, que toda pessoa tem o direi-
to de ouvir a Boa Nova de Deus que se revela e se dá em Cristo, para
realizar, em plenitude, sua própría vocagáo. A grandeza deste evento res-
soa ñas palavras de Jesús á samaritana: 'Se tu conhecesses o dom de
Deus', e no desejo inconsciente, mas intenso, da mulher: 'Senhor, dá-me
dessa agua, para que eu nao tenha mais sede' (Jo 4,10.15)» Ene.
Redemptoris Missio ng 46).

«No mundo moderno, há tendencia para reduzir o homem única


mente á dimensáo horizontal. Mas o que acontece ao homem que nao se
abre ao Absoluto? A resposta está na experiencia de cada homem, mas
está também inscrita na historia da humanidade, com o sangue derrama
do em nome de ideologías e regimes políticos que quiseram construir urna
humanidade nova, sem Deus» (ibd. ns8).

Nao há, pois, como duvidar de que a parábola em foco contraria a


Doutrina da Igreja.

QUEM É A SANTA MÁE IGREJA?


Caro(a) leitor(a) procure aprofundar sua nocáo e vivencia de
Igreja, servindo-se do 14° Curso da Escola "Mater Ecclesiae" por
Correspondencia. Recorra também aos vinte opúsculos dessa Es
cola referentes á fé, a Jesús Cristo e á Igreja. TeleFax: (021) 242-4552
ou Caixa Postal 1362 - 20001-970 Rio (RJ).

380
Nao pode ser crista

A "FOLHA UNIVERSAL"

A "FOLHA UNIVERSAL", jornal da Igreja Universal do Reino de


Deus, tem-se destacado pelo seu tom agressivo, que nao rejeita o recur
so á mentira para denegrir a Igreja Católica. Os fiéis pedem resposta e
réplica a tais invectivas, injustas como sao. Eis que o Pe. José Femandes
de Oliveira SCJ (Pe. Zezinho) escreveu a respeito um artigo na revista "Ir
ao Povo", marco 1977. p. 27, artigo que merece ampia divulgacáo e que
vai abaixo reproduzido:

O JORNAL DA UNIVERSAL

Está virando guerra declarada e odio, muito odio, o que os articulis


tas da Folha Universal andam fazendo com a Igreja Católica. Revolta até
as pessoas mais serenas. Se já nao eram, tornaram-se mestres em ferir e
agredir. Os fiéis vém mostrar as materias, número após número. Até evan
gélicos, envergonhados com esse tipo de jornal, pedem desculpas pelo
que um jornal, que se diz evangélico, diz contra nos. E nao perdem ne-
nhuma oportunidade.

Urna coisa é caluniar, outra é difamar. Mesmo que seja verdade


algum fato noticiado, um cristáo nao tem o direito de divulgá-lo aos ou-
tros, muito menos a milhares de pessoas, seja qual for o pretexto. Pior
ainda quando é para denegrir urna Igreja e exaltar a outra. Os fins nao
justificam os meios. Nao, para um cristáo de verdade. Difamacáo também
é pecado grave. A Folha Universal tem difamado muitos católicos na an
sia de mostrar que sua igreja é mais fiel. A tática já é conhecida. Eles sao
bons e nos somos maus, o que é deles é bom e prova que Jesús está com
eles. O que é nosso é podre e prova que Jesús nao está conosco. Eles
estáo em crescimento e abencoados porque sao bonzinhos, honestos,
convertidos e fiéis, e nos estamos em decadencia, porque traímos a Pala-
vra de Deus e nos entregamos á idolatría. E, quando nos defendemos,
eles atacam com a maior dureza. É guerra de destruicáo. Decidiram que
nos destruiráo e fazem de tudo para isso. É só ler o que dizem sobre nos.
Fizeram isso, mais urna vez, no jornal do dia 29 de dezembro de
1996. "Escándalos sexuais comprovam a decadencia da Igreja Católica".
Diráo que nao foi calúnia. Mas foi difamacáo, que é também um pecado
grave contra o próximo que pecou. Como interessa a eles destruir sua

381
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 423/1997

rival, sabem exatamente onde e como noticiar os pecados dos católicos.


Madre Teresa de Calcuta e outros milhares de pessoas santas que se
dedicam aos pobres, leprosos, doentes, em milhares de creches, orfana
tos, asilos e obras sociais do mundo nao merecem urna noticia sequer.
Mas as deles enchem páginas. Os convertidos deles sao maravilhosos.
Para eles, nos nao prestamos.

Nao tém obrigacao de fazer propaganda do catolicismo. Afinal, nao


sao católicos. Mas é extremamente desonesto noticiar só os erros e, além
disso, distorcer estatísticas. Querem crescer, e nao importam os meios. A
Folha Universal nao se comporta de maneira ética, nem crista.

É guerra declarada e odio deslavado. Se fosse um número, até que


passava, mas é tática freqüente do jornal: materias nao assinadas, agres-
sáo direta e intencional. Tem gente ali precisando de Deus. Nao é possí-
vel que pessoas que escrevem desse jeito amem a Deus e ao próximo.
Foge a tudo o que se conhece por fé crista. Milhares de pastores evangé
licos, líderes espiritas e pregadores de religiáo teriam vergonha de assi-
nar aquelas linhas. É odio. Nao tem nada a ver com os Evangelhos.
Acho difícil crer que urna igreja como essa seja abencoada por Deus.
Os números impressionam, mas nao provam que Deus está com eles. O
comunismo também fez milhóes de adeptos em poucos anos e era ateu.
Hitler conseguiu milhares de seguidores e era quem era. A Cientologia
tem quatro vezes mais adeptos que a igreja universal e nasceu quase na
mesma época. Com essa carga de odio que demonstram contra outras
igrejas, nao é Jesús que eles anunciam. Porque é odio da pior especie o
que eles semeiam naquelas linhas.

Os fiéis chegam aqui magoados e feridos, perguntando quando é


que nossa Igreja vai reagir contra eles. Nao vai. Nao conheco nenhuma
revista, nenhum programa de radio, nenhum jornal católico capaz de se-
mear contra outra Igreja o odio que eles semeiam. Duvido de que algum
jornal católico estampe os pecados deles. A Igreja já fez polémica no
passado, mas nao faz parte da Igreja Católica de hoje esse tipo de aleivo-
sia. Seus métodos nao sao os de Jesús. Pelos frutos os conhecereis,
disse Jesús {Mt 7,16). A Folha Universal é um fruto cheio de odio dessa
igreja, onde há pessoas de coráceo muito bonito. Pena que o jornal que
as representa, esteja ñas máos de gente táo sectaria e cruel. Francamen
te, assim nao dá.

382
Vocé sabia?

SANTOS CASADOS

Alguém, percorrendo o catálogo dos Santos, colheu a impressáo


de que nele só existem padres e freirás e que a santidade nao é possível
senáo nos conventos ou ñas fileiras clericais. Enganar-se-ia quem assim
pensasse.

Antes do mais, convém citar o Catecismo da Igreja Católica, que


em seu ng 2360, diz o seguinte:

"No casamento a intimidade corporal dos esposos se torna um sinal


e um penhor da comunháo espiritual. Entre os batizados os vínculos do
matrimonio sao santificados pelo sacramento".

Donde se vé que o matrimonio abencoado por Deus é um estado


de vida que santifica os cónjuges. Deus concede aos esposos a graga
necessária para que, atendendo aos afazeres e compromissos respecti
vos, mais e mais se unam ao Senhor e cheguem á perfeicáo crista.

A própria historia atesta que houve Santos e Santas, de grande


vulto, também entre as pessoas casadas. Um exame atento do catálogo
dos Santos dissipa a impressáo contraria. Eis alguns nomes dentre os
varios que poderiam ser citados:

Maridos Santos: Gregorio de Nissa (t 394), Paulino de Ñola


(t 431), Estéváo, rei da Hungría (t 1038), Omobono de Cremona (t 1197),
Luís IX, rei da Franca (t 1272), Nicolau de Flüe, patrono da Suíca
(t 1487), Tomás Moro, Ministro do rei Henrique VIII da Inglaterra (t 1535),
Isto sem contar os Apostólos, dos quais alguns devem ter sido casados,
como foi Sao Pedro, cuja sogra é mencionada no Evangelho (cf. Me 1,
29s).

Viúvos Santos: Raimundo Zanfogni (t 1200), Henrique de Bolzano


(t 1315), o Bem-aventurado Bartolo Longo (t 1926).

Esposas Santas: Perpetua de Cartago (t 202), Margarida da Es


cocia (t 1093), Gentil Giusti (t 1530), Anna Maria Taigi (t 1837).

Viúvas Santas: Mónica, mié de S. Agostinho (t 387), Elisabete,


rainha da Hungría (t 1231), Edviges da Silesia (t 1234), Ángela de Foiigno
(t 1309), Elisabete, rainha de Portugal (t 1336), Brígida da Suécia
383
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 423/1997

(t 1373), Francisca Romana (t 1440), Rita de Cascia (t 1456), Catarina


Fieschi Adorno (t 1510), Joana Francisca Frémyot de Chantal (t 1641),
Luisa de Marillac (t 1660), Elisabete Bayley Seton (t 1821).

Casáis Santos: Henrique Imperador da Alemanha (t 1024) e


Cunegundes, Isidoro (t 1130) e Maria Toribia, Lucchese (século XIII) e
Buonadonna, os genitores de Teresa de Lisieux (aínda nao canonizados).

O Concilio do Vaticano II, ainda uma vez, há poucos decenios (1965),


lembrava a vocacáo de todos os cristáos á santidade, removendo a im-
pressao de que somente em alguns estados de vida se pode chegar á
perfeicáo crista:

"É evidente que todos os fiéis cristáos, de qualquer estado ou or-


dem, sao chamados á plenitude da vida crista e á perfeicáo da caridade"
(Lumen Gentium ne 40).

Todos os fiéis cristáos, ñas condigóes, tarefas ou circunstancias de


sua vida, e através disso tudo, dia a dia mais se santificaráo, se com fé
tudo aceitaren) da máo do Pai celeste e cooperarem com a vontade divi
na, manifestando a todos, no próprio servigo temporal, a caridade com
que Deus amou o mundo" (ib. n341).

'Todos os fiéis cristáos sao convidados e obrigados a procurar a


santidade e a perfeigáo do próprio estado" (ib. g 42).

Estéváo Bettencourt O.S.B.

UMA SINGULAR TRADUCÁO DA BÍBLIA

O sabio judeu André Chouraqui está traduzindo para o francés os


livros do Antigo e do Novo Testamento a partir dos origináis hebraicos e
gregos respectivamente. Procura dar a perceber ao público o sabor das
línguas primitivas, evitando "arredondar" ou adaptar o texto a elegancia
da língua vernácula. Daí resulta uma versáo um tanto rude, mas muito
significativa, versáo que o tradutor acompanha com notas explicativas. A
Editora ¡mago (Rúa Santos Rodrigues 201-A, Rio de Janeiro - RJ) está
publicando tais obras em tradugáo do francés de Chouraqui para o portu
gués. O Pentateuco }á está publicado em portugués como também os
Evangeihos de Mateus, Marcos e Lucas. André Chouraqui escreve uma
Introdugáo a cada um desses livros, o que mais valor ainda confere á sua
obra.

384
Visite o MOSTEIRO DE SAO BENTO e
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" na
Internet: http://www.osb.org.br.

ALGUNS LIVROS DAS PUBLICAgÓES DE DOM ESTÉVAO, DISPONIVEIS EM


NOSSALIVRARIA:

- CRENCAS RELIGIÓES & SEITAS: QUEM SAO? Um livro indispensável para a


familia católica. (Coletánea de artigos publicados na revista "O Mensageiro de Santo
Antonio") 2a- edicáo. 165 págs. 1997 R* 7,00.
- CATÓLICOS PERGUNTAM. Coletánea de artigos publicados na secáo de cartas
da revista "O Mensageiro de Santo Antonio". 1997.165 págs R$ 6,00.
- PARA ENTENDER O ANTIGO TESTAMENTÓLO livro apresenta subsidios muito
importantes para todas as pessoas interessadas em entender o AT e aprofundar
seus conhecimentos sobre questoes muitas vezes controvertidas que ali se encon-
tram. Traz também um guia prático para a leitura da Biblia). 4* edicáo, revista e
atualizada. 286 págs. 1994 R$ 12'00-
- PÁGINAS DIFÍCEIS DO EVANGELHO. (O livro oferece-nos um subsidio seguro
para esclarecer as dúvidas mais freqüentes que se levantam ao leitor de boa von-
tade trazendo-nos criterios claros e levando-nos a compreender que todas as pa-
lavra's de Cristo sao de aplicacáo perene e universal), 2a edicao. 1993,
_ , RS h.oU»
47 pags

- COLETÁNEA - Tomo I - Obra organizada por Dom Emanuel de Almeida, OSB e


Dom Matias de Medeiros, OSB. Publicacáo da Escola Teológica da Congregado
Beneditina no Brasil. Esta obra foi feita em homenagem a Dom Estevao. Alem do
esboco bio-bibliográllco de Dom Estéváo, encontram-se artigos de amigos e admirado
res de Dom Estéváo. Sao professores da Escola Teológica, do Pontificio Ateneu de
Santo Anselmo em Roma, que ministraram varios cursos nesta e outros que o estimam.
Sumario- Histórica, Bíblica, Histórico-Dogmática, Dogmática, Canónica, Litúrgica,
Pedagógica, Literaria e Noticias Biográficas. 1990. 315 pags R5 13,20.
- DIÁLOGO ECUMÉNICO, TEMAS CONTROVERTIDOS. Seu autor, D. Estéváo
Bettencourt considera os principáis pontos da clássica controversia, entre católi
cos e protestantes, procurando mostrar que a discussáo no plano teológico perdeu
muito de sua razáo de ser, pois, nao raro, versa mais sobre palavras do que sobre
conceitos ou proposicóes. 3a edicáo. 1989. 380 págs RS 16,80.

Pedidos pelo Reembolso Postal ou pagamento conforme 2a capa.

RENOVÉ QUANTO ANTES SUA ASSINATURA DE PR.

RENOVACÁO OU NOVA ASSINATURA 1997:


NÚMERO AVULSO

PR DE 1996:
Encadernado em percalina, 590 págs. com índice.
(Número limitado de exemplares) R$ 45,00.
OS CISTERCIENSES
Documentos Primitivos

Texto latino e traducáo brasileira

Os monges cistercienses - ramo da familia


beneditina que em 1998 estará celebrando seu IX
centenario de fundacáo - tem uma historia muito
¡nteressante e uma rica espiritualidade, que pe-
netrou profundamente na Igreja. Importante fenó
meno religioso, social e cultural, vem sendo muito
valorizado e estudado, inclusive nos meios uni
versitarios. Sao Bernardo encheu todo o seu tem-
po. Nos nossos dias um autor como Thomas
Merton tem uma merecida fama. Ano passado o
martirio de um grupo de trapistas franceses na
Argelia, comoveu o mundo. /
O presente volume contém uma colecáo de do
cumentos, todos eles remontando ao século XII
que sao os primeiros testemunhos da historia, da vida e da espiritualidade cistercienses'
Em edicao bilingüe (latim-portugués), coloca á disposícáo do leitor brasileiro textos de
ongens e finalidades diversas, que convergem todavía em um ponto essencial- constitu-
em uma fonte auténtica para o conhecímento dos valores fundamentáis desta importan
te Ordem religiosa. .
Este nosso final de século tem sido marcado por uma sede de misticismo e
espiritualidade, muitas vezes desorientada e até desesperada, que é, sem dúvida umá
reacao ao pragmatismo e á violencia da nossa cultura de massa, que mais e'mais
despersonalizam e embrutecem o ser humano. Os primeiros monges cistercienses ex-
penmentaram esta mesma sede e souberam encontrar uma resposta para ela bebendo
de uma fonte que conserva, aínda hoje, todo o seu vigor: a espiritualidade monástica
beneditina. Por isso mesmo, os textos apresentados neste volume, enquanto nos infor-
mam sobre sua ardente busca espiritual e os meios que escolheram para vivé-la quar-
dam toda sua atualídade e podem certamente iluminar os que, também em nosso tem-
po, sentem-se movidos por igual procura.
OS CISTERCIENSES- Documentos Primitivos, foi publicado originalmente na Fran
ca (Cíteaux Commentarii Cistercienses), tendo uma introducáo e bibliografía do Irmáo
Francois de Place, da Abadía de Notre Dame de Sept-Fons. Sua edicáo no Brasil foi
urna iniciativa do Mosteiro Trapista de Nossa Senhora da Assuncáo de Hardenhausen-
Itatinga, em Sao Paulo, tendo o apoio dos beneditinos do Rio de Janeiro. A traducáo é do
joma ista Irmeu Guímaráes, por muitos anos correspondente no Brasil do jornal francés
Le Monde . Padre Luis Alberto Rúas Santos, O. Cist., foi o responsável pela revisáo da
ODT3.

O livro sai pela Musa Editora, de Sao Paulo, em coedicáo com a "Lumen Christi" do
Rio de Janeiro (254 páginas) R$2s'oo

Para pedidos: EDIpÓES "LUMEN CHRISTI"


Atendemos pelo Reembolso Postal ou pagamento conforme 2? capa.

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