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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanca a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar. este trabalho assim como a
equipe de Veñtatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.
Pe. Estevao Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Estevao Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.
A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
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SUMARIO
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"Náotemasr
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Ul "Quem dizeis que éu sou?" (Mt 16,15)

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O Fundamentalismo
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As teorías de Sigmund Freud
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Oficinas de Oraca*o: Que Sa*o?


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ANO XXXI JULH 01990 333
'tg RESPONDE R E MOS JULHO- 1990
Publicácáo mensal N?338

SUMARIO
Esteváo Bettencourt OSB
"Na*o temas!" 289
Autor e Redator de toda a materia
publicada neste periódico
Pergunta Jesús:
"Quem d'zeis que Eu sou?" (Mt 16,15). 290
Oiretor- Administrador:
O. Hildebrando P. Martins OSB
A invasáo das seitas e.. .
O Fundamentalismo 303
Adminimaeao e distribuicao:
Edicdes Lumen Christi
Sim ou Nao a
Dom Gerardo, 40 - 5? andar, S/501
As teorías de Sigmund Freud? 310
Tel.: (021) 291-7122
Caixa Postal 2666
Alerta!
20001 - Rio de Janeiro RJ
Brasil, recordista mundial de abortos. .. 320
tmprossáo e EncadornafAo
Na Igreja de hoje:
Oficinas de Oracáb: Que Sao? 331

Livro em Estante 335


"MARQUES-SARAIVA"
GRÁFICOS E EDITORES S.A.
Tels.: (02II273-9498 -273-9447

NO PRÓXIMO NÚMERO:

339 - AGOSTO - 1990

Os Silencios de Deus. — Envelhecer: Fracasso? ... Sabedoria? — Pedro Jorge


Frassati. — "Urna Igreja de Batizados: para superar a oposicao Clérigos —
Leigos", por R. Parent. - Ainda o Carmelo de Auschwitz.

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

ASSINATURA ANUAL (12 números): Cr$ 400,00 - Número avulso: Cr$ 40,00

. Pagamento lá escolhal .
1. VALE POSTAL á agencia central dos Correios do Rio de Janeiro em nome de Edicdes
"Lumen Christi" Caixa Postal 2666 20001 Rio de Janeiro - RJ.

2. CHEQUE NOMINAL CRUZADO, a favor de Edicóes "Lumen Christi" (endereco ácima).

3. ORDEM DE PAGAMENTO, no Banco do Brasil, conta N? 31.304-1 em nome do Mos-


teiro de Sao Bento. pagável na agencia Praca Mauá/RJ N? 0435-9. (Nao enviar através
de DOC ou depósito instantáneo - A identificacáo é difícil).
"Nao Temas!"
Ñas Escrituras Sagradas recorre freqüentemente a exortacao "Nao te
mí1';!", geralmente baseada na justificativa "Tu és meu!" ou "Estareí conti
go:"

Urna das passagens mais significativas é a de Is 43,1 s:

"Diz o Senhor, aquele que te criou...: Nao ternas, chamei-te pelo teu
nome: tu és meu. Quando passares pelas aguas, estarei contigo; quando pas
sares ños, eles nSó te submergiráo. Quando andares pelo fogo, ná"o tequeí-
marás, a chama nao te atingirá. Eu sou o Senhor, o teu Deus, ... o teu
Salvador".

Na verdade, temer é urna das atitudes mais espontáneas ao ser huma


no. Daf a exortaclo bíblica.

E por que haveria a criatura de temer?

— Por causa das adversidades da vida; o futuro é incerto; pode trazer


deceppoes, baques, doenpas... e trará certamente a morte. — Numa palavra:
o plano de Deus, santo e sabio como é, ultrapassa a limitada compreensao
do homem, que, por isto, se senté inseguro e temeroso. Temeroso, nao por
que o Senhor careca de Providencia, mas porque a tem em grau maior do
que o homem. Precisamente em vista de tais coisas, o Senhor insiste em di-
zer á sua criatura: "Nao temas... Estarei contigo tanto através das aguas co
mo através do fogo".
"Estarei contigo ..." Nao se poderia conceber urna expressao mais
simples e, aparentemente, mais pobre. Sim; ela é intencionalmente pobre,
porque tenciona dizer o Indizfvel: "Estar com o Senhor" é a fórmula bCblica
que significa a vida eterna com toda a sua riqueza de felicidade e alegria.
Com efeito; Jesús prometeu ao bom ladrao: "Hoje estarás corrugo no paraí
so" (Le 23, 43) e Sao Paulo escreveu: "Désejo dissolver-me para estar com
Cristo" (Fl 1, 23; ver ITs 5,10; Rm 14, 8; Cl 3,3). Por conseguinte, quando
o Senhor está com alguém, dá-se um inicio de vida eterna, comeca o antego
zo da plenitude da vida. Ondas do mar ... e fogo (no sentido próprio e no
sentido metafórico) nao devem atemorizar o cristáo.
Só há um mal verdadeiro, que nao permite ao Senhor dizer: "Estou
contigo". É o pecado,... principalmente o pecado consciente e voluntario,
pois por este a criatura exclui o Criador {nao é o Criador que se exclui).
Consciente disto, o cristao nao se abate ñas horas dif icéis. As dores do
fiel sao dores de um parto fecundó; elas desembocamna VIDA;cf. Jo 16,21.
Ora é necessário que o cristao renové constantemente em seu íntimo a
consciéncia desta mensagem de sua fé. Na verdade, os tempos sao ingratos,'
mas a inclemencia nao é senfo o verso de urna medalha, cuja frente é o "es
tar com Cristo" ou o principio da vida definitiva. E.B.

289
"PEROUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XXXI - N? 338 - Julho de 1990

.Pergunta Jesús:

"Quem Dizeis Que eu Sou?"


(Mt 16,15)

Em sfntese: O presente artigo analisa os Evangelhos, nos quais se va¡


revelando aos poucos a figura de Jesús Cristo: era a de um Judeu, em muí-
tos pontos identificado com a sua gente, mas portador de urna mensagem
singular, que Ble coiroborava com os seus sinais, com a sua firmeza de
caráter, seus predicados moráis e seu profundo espirito religioso. Os Apos
tólos, ao segui-lo, foram paulatinamente percebendo o misterio desse ho
mem, reconhecendo-o finalmente como o Filho do Deus vivo (cf. Mt 16,
16) ou como o próprio Deus feito homem para elevar os homens ao con-
sórcio da vida divina. — Após o desaparecímentó de Jesús, proclamaran)
esta Boa-Nova, assodando* indissoluvelmente é noticia da ressurreicao de
Jesús. Este anuncio, por mais rebarbativo e incrfvel que parecesse, foiatra-
vessando os tempos a as perseguicSes. Tais fatos levam os homens retos a re-
fletir e a pesquisar de mais perto o estranho fenómeno "Jesús Cristo e o
Cristianismo"...

A figura de Jesús, no tempo mesmo dos Apostólos, suscitava interro-


gacoes: alguns o aceitavam, outros nao (cf. Jo 9, 29-34; 10, 39-42; 11, 45-
54). Daf a pergunta do Senhor: "Quem. dizem os homens que eu sou?... Quem
dizeis que eu sou?" (Mt 16, 13-15). Ora é oportuno, mesmo aos crinaos de
hoje, recolocar tais perguntas, abstraindo de sua fé; procurem ponderar os
pros e os contras referentes a Jesús. Disto s6 poderao resultar beneficios pa
ra a profissao crista dos que já créem, e luzes para os que nao créem. - É o
que vamos fazer, considerando Jesús como mero homem, que viveu outrora
e deixou marcas na historia. Que tem a sua vida de significativo e caracterís
tico? A resposta será valiosa.

290
"QUEM DIZEIS QUE EU SOU?"

1. Quem é esse Jesús?

Há dois mil anos quase, um homem formulou a pergunta a seus ami


gos: "Quem dizeis que eu sou?" (Mt 16,15). Através dos sáculos a pergunta
tornou a ser repetidamente colocada. Era entao simplesmente um carpintei-
ro que falava a um grupo de pescadores e a um cobrador de ¡mpostos. Ves
tí a-se pobremente, e os que o acompanhavam, eram pessoas sem grande cul
tura. Nao tinham títulos nem prestigio. Exprimíam-se em aramaico e nunca
tinham sai'do do seu país natal. Aquele homem era tido como débil e manso
pelos violentos; mas os tutores da ordem estabelecida o julgavam violento;
os poderosos escarnecían! sua loucura. Oedicava a Deus toda a sua vida, mas
os sacerdotes o viam como um blasfemo e violador do sábado. Muitoso se-
guiam quando pregava pelas estradas, mas a maioria se interessava mais pelos
"feitos maravilhosos ou pelo pao que ele repartía" (cf. Jo 6,26). Na verda-
de, todos o abandonaram quando se levantou a tormenta contra ele.ficando-
Ihe fiéis apenas sua mae e um discípulo.

Na noite daquela sexta-feira, quando se fechou o túmulo sobre o seu


cadáver, ninguém daria um centavo por sua memoria; ninguém pensava que
seu nome ainda seria recordado fora do coracao daquela mulher — sua mae
— que se afundava ñas trevas da noite e da solidáo.

E, apesar de tudo, vinte sáculos depois, a historia se faz em funcao da-


quele homem; os cronistas — mesmo os que se Ihe opoem — afirmam que tal
ou tal acontecimento se deu tantos anos antes ou depois dele. Urna terca
parte da humanidade, interrogada sobre suas crencas, usa o nome desse
homem para se identificar. Quase dois mil anos após a sua morte, continuam
a ser publicados anualmente milhares de livros sobre á sua vida e a sua dou-
trina. A historia desse homem inspirou ao menos a metade das obras de arte
que o mundo conhece desde a sua vinda. Todos os anos dezenas de milhares
de homens e muiheres deixam a famflia para segui-lo.como fizeram osseus
primeiros amigos.

Quem é esse homem por quem tantos entregaram a vida ou se entrega-


ram ás mais heroicas facanhas? Há quase dois mil anos, o seu nome está nos
labios de milhoes de agonizantes como fonte de esperanca. Quem é esse per-
sonagem que suscita entrega total ou odio radical até dentro da mesma fami
lia {cf. Mt 10,34-37)? Será ele bálsamo que cura ou espada que fere ou mor
fina que aliena?

A resposta a estas perguntas se ¡mpoe a todo homem que pense. Com


efeito; se esse homem é o que dizem seus discípulos, a existencia de cada
individuo toma rumo e sentido novos;se, porém, ele foi um impostor, gera-
coes e geracoes até hoje sacrificaram em vao o melhor da sua vida.

291
4 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 338/1990

O mesmo nao se dá com outros personagens da historia. Que César


(t 44 a.c.) ten ha atravessado o Rubicao ou nao o tenha atravessado, pode
ser verdade ou mentira, sem que algo mude no curso da vida de alguém. Que
Carlos V (f 1558) tenha sido Imperador da Alemanha ou da Rússia, isso na
da tem que ver com a auto-rea lizacáo dos homens. Que Napoleao I (t 1821)
tenha morrido, após derrota, na ilha de Elba ou tenha terminado seus dias
como Imperador, isto nao move nenhum ser humano a deixar sua casa e suas
comodidades para se tornar missionário na África ou na Oceania.

O homem, porém, do qual se trata aqui, exige respostas cabais ou ra


dicáis. Ele diz que quem nele eré salva a sua vida, e quem o despreza despre-
za a sua própria vida (cf. Mt 10,38; 16,24; Jo 12,25; Le 9,48). Por conse-
guinte, os caminhos dos homens mudam de acordó com a resposta que déem
ás perguntas atrás formuladas.

2. Num recanto do Imperio...

Quando nos vo I tamos para a época e o mundo de tal homem, a surpre-


sa que experimentamos, é a de verificar que os poderosos de entao mal ti ve-
ram consciéncia da sua existencia..1

Roma fizera de muitos povos urna grande familia, num Imperio po


deroso e bem administrado. Após décadas de terrível violencia, Augusto
conseguirá relativa paz, da qual falavam os poetas; a situacao económica pa
recía próspera; a cidade de Roma resplandecía de mármores. Mas através da
máscara de um Imperio feliz grassava seria crise do mundo pagáo; havia a po
lítica de "compadres"; a corrupcao moral se associava ao ceticismo filosófi
co e religioso, de modo que ninguém acreditava em valores mais nobres.

Ora num rindió do Imperio estava situado o povo judeu, desprezado


pelos romanos. Cicero (t 43 a.C.) ria-se do Oeus dos israelitas, dizendo que
"devia ser um deus muito pequeño, pois Ihes dera urna térra tao pequeña
como patria". Tácito (t 120 d.C.) considerava osjudeus "seres repulsivos e
¡mbecis". Apolónio de Tiana (t 96 d.C.) os tinha como "os menos dotados
de todos os bárbaros {= estrangeiros), razao pela qual nao colaboraram com
nenhuma invencáo para o progresso da civilizacao"..

Esse pequeño país, que de fato nao oferecera nenhuma invencao mate
rial ao mundo, ia contribuir com a maior novidade para a historia do género

1 NSó há dúvida, citarme documentos de PKnio o Jovem (112). Tácito


(116) e Suetónio (120), escritores romanos que referem a existencia de Cris
to e de seus discípulos. Ver a propósito Curso da Inidacao Teológica por
Correspondencia, Af¿<ft//o 3. Caixa postal 1362,20001 Rio (fíj).

292
"QUEM DIZEIS QUE EU SOU?"

humano: ia apresen tar a mais pura nocao de Oeus e o mais be lo programa re


ligioso; ia constituir-se em fronteira pela qual a humamdade se limitaria com
a eternidade.

A Palestina nao era um país de luxo: seu tamanho era tao pequeño
que S. Jerónimo nao ousava dizer sua extensao para nao dar ocasiao de zom-
baria aos pagaos; tinha clima quente e, em parte, desértico. No setor político
ainda menos motivos de entusiasmo apresentava: era a Palestina ocupada por
um invasor que controlava até os centavos dos respectivos habitantes. A ten-
sao era grande: ñas montanhas havia guerrilheiros, que de vez em quando
atacavam os ocupantes; em suas andancas o jovem Jesús terá tido ocasiao de
encontrar cruzes das quais pendiam os revoltosos condenados. Em tais cir
cunstancias, o povo judeu estava dividido: havia os puritanos ou nacionalis
tas, avessos aos romanos (fariseus), os grupos radicalmente violentos (osze-
lotas), os colaboracionistas (herodianos e saduceus) e os que esperavam a so-
lucao do problema por uma próxima intervencao de Deus (essénios). Fora
dos Partidos, havia "o povo da térra", ovelhas sem pastor (cf. Mt 9,36).

3. Á espera de Deus

Essa populacao dividida nao deixava de ter, ao menos, uma nota co-
mum: os judeussabiam ser um povo diferente dosdemais, porquechamados
por Deus para desempenhar importante tarefa. Eram depositarios de uma
Alianca, segundo a qual Deus nao abandonarla seu povo, mas o faria berco
de um Salvador, que daria a Israel a hegemonía sobre os demais povos.

Tratava-se, pois, de um povo sustentado pela esperanca. Através dos


séculos, profetas haviam surgido que anunciavam a vinda do Salvador. Os
tempos em que Jesús viveu, foram um período em que fervilhava a expecta
tiva de Israel: os homens tentavam entrever a prometida figura do Messias
que se aproximasse; por isto precipitavam-se atrás de um chefe que se disses-
se Iluminado pelo Espirito: seria ele o Messias? Mais de uma vez foram enga
ñados (cf. At 5, 36s); os propalados chefes eram políticos embusteiros. Mas
Israel nao perdía as esperancas. Continuava procurando.

4. Um Profeta á margem do JordSb

Naquela época apareceu á margem do Jordao um homem misterioso,


ascético, chamado Joao, que impressionava peto seu teor de vida e pela seve-
ridade de sua pregacao. Tinha abandonado a vida cómoda para estabelecer-
se no deserto, onde praticava a mais rigorosa pobreza. Isto nao surpreendia
os judeus, pois muito perto de Joao se encontravam os essénios, monges que
levavam vida semelhante. A novidade que esse homem apresentava, era o
anuncio de que o Messias estava ás portas;, ele mesmo nao era o Salvador,

293
6 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 338/1990

pois o Salvador era muito maior do que Joáo, a tal ponto que Joao nao seria
digno de desatar a correia da sandalia do Messias (cf. Jo 1,27). Era, pois,
necessário que todo o povo se preparasse, e preparasse os caminhos, para po
der receber o Esperado.

Joáo praticava um rito singular: os fiéis entravam no rio Jordáo em si-


nal de arrependimento, e a agua era derramada sobre suas cabecas como se
os purificasse dos pecados.

Um dia, entre os candidatos ao Batismo, apareceu um homem que, á


primeira vista, nada tinha que chamasse especialmente a atencao. Na idade
de trinta anos, seu rosto era nobre, a estatura robusta, o olhar enérgico, es-
pe Iho de grande forca de vontade. Vestíase, porém, como todos; falava a
língua de todos, e desceu ás aguas como todos. Ao vé-lo, Joao perguntou:
"Sou eu que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim para que eu te bati-
ze?" (Mt 3, 14). E pouco depois acrescentou: "Eis o Cordeiro de Deus que
tira o pecado do mundo" {Jo 1,29.36).

Era realmente o Anunciado, o Esperado, o Salvador? Um primeiro


grupo de homens comecou a segui-lo. Teve assim inicio a aventura que pro
vocaría a vérteme da historia.

5. O impossfvel retrato

Como era fisicamente o homem que Joao ba ti zara e identificara? O


mundo estaría interessado em possuir urna estatua dele, como possui as de
Alexandre Magno, Sócrates, Platao; Aristóteles... Ele teria sido retratado
pelos pintores ou escultores da época se tivesse nascido em Roma ou na Gre
cia. Mas, para os judeus, as ¡magens eram algo pouco usual e mal visto. Por
isto, do homem mais apresentado na arte sacra de todos os tempos nao te
mos urna só ¡magem que goze de autenticidade.

Os próprios evangelistas nao se preocuparam com os traeos físicos de


Jesús: nao nos dizem se era alto ou baixo, louro ou moreno, de estatura for
te ou débil. Muito se sabe a respeito do seu modo de pensar e sentir; ne-
nhum trapo, porém, do seu semblante... Apenas se pode dizer, segundo Sao
Paulo, que se comportou exatamente como um homem em tudo, exceto no
pecado (cf. Fl 2, 7; Hb 2, 17; 4,15). A descricao da face de Jesús atribuida
a Flávio Léntulo, procónsul romano, é medieval e espuria ou destituida de
credibilidade.

O Sudario de Turim, cuja autenticidade continua muito provável, reve


la um Jesús majestoso em sua simplicidade de condenado á f lagelacao, á«o-
roacao de espinhos e á morte de Cruz. Alias, era necessário que fosse robus-

294
"QUEM DIZEIS QUE EU SOU?"

to para poder palmilhar as estradas da Palestina de Norte a Sul e de Sul a


Norte e para passar noites em oracao ou abrigado em grutas ao redor de
Jerusalém.'

6. Estupendo equilibrio

O corpo sadio daquele homem era vivificado por urna alma também
sadia, resultando daí uma personalidade notavelmente equilibrada. Quem
examina as páginas da historia, verifica que quase todos os grandes homens
tiveram algo de anormal, de louco ou de visionario. Ora nada disto aparece
em Jesús. Vive sofrendo a constante oposicao dos fariseus, mas nao perde a
calma interior. É membro de um povo passional, mas combina essa índole
com ¡mpressionante serenidade que desconcerta seus ¡nimigos; assim, por
exemplo, quando estes o quiseram colher em armadilha: Jo 7, 53-8, 11 (os
fariseus Ihe apresentaram uma mulher adúltera, que eles queriam apedre-
jar...); Mt 22, 15-22 ("é lícito pagar o tributo a César ou nao?"); Mt 22, 23-
33 (os saduceus perguntam de quem será esposa no dia da ressurreicao a
mulher que teve sete maridos sucessivos na vida presente); Le 10, 25-37
(um legista quis embaracar Jesús perguntando-lhe qual seria o maior manda-
mentó da Lei de Moisés...).

O escritor racionalista e crítico Adolf von Harnack assim se refere á fi


gura de Jesús Cristo:

"A nota dominante da vida de Jesús ó a de um recolhimentó silencio


so, sempre igual a si mesmo, sempre tendendo ao mesmo objetivo. Incumbi
do da mais elevada missffo, tem sempre olhos e ouvidos abertos para todas as
impressoes da historia que o cerca. Que prova de paz profunda e de absolu
ta seguranca! Viagense albergues para viandantes,féstas de nupcias, ritos de
enterro, os palacios dos vivos e os sepulcros dos mortos, o semeador, o cerfa-
dor, o vinhateiro, os trabalhadores desocupados ñas pracas, o pastor á procu
ra das ovelhas, o marcador em busca de parolas, a mulher no lar a lancar fer
mento na farinha para o pa*o, a que perdeu a sua dracma, a viúva que se quei-
xa no tribunal parante o juiz im'quo, o alimento corporal e as relacoes entre
Mestra e discípulos, a pompa dos reís e a ambicio dos poderosos, a inocen
cia das enancas, a diligencia maior ou menor dos servidores..., todas essas
imagens davam vida aos seus discursos a os tornavam acessíveis a todos os
ouvintes... AMm disto, as suas palavras revelavam, em meio á maior tensáb,
paz interior e alegría espiritual tais-como nenhum profeta as experimentara.
Ele que náb tinha uma padra sobre ajqual reclinasse a cabeca, nao falava co
mo um homem que houvesse rompido com tudo, como um heroi de aséese,
como um profeta extático, mas como um individuo que conheca a paz e o
repouso interior e pode dá-lo aos outros. Sua voz possui as notas mis pode
rosas; coloca os homens frente a uma opeáb decisiva, sam deixar escapatoria

295
8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 338/1990

e, nSo obstante, ele apresenta as coisas mais temi'veis como se fossem as mais
elementares e délas fab como se fossem o que há de mais natural; as mais
terríveis verdades, ele as colocava dentro de linguagem semelhante á da m§e
que fala ao seu filho".

Na verdade, impressiona a firmeza que Jesús tem em si mesmo; baseia-


se em sua extraordinaria lucidez de jufzo e em sua inquebrantável forca de
vohtade. Jesús é realmente um homem que sabe o que quer, e está disposto
a realizá-lo sem oscilacoes. Em sua vida pode ter havido — no horto das Oli-
veirás — um momento de temor, mas nao de dúvida ou de incerteza. Sua vi
da foi urna flecha dirigida á sua meta, um Sim taxativo á sua missao. É al-
guém capaz de arrancar um olho seu se este olho o escandaliza (cf. Mt 5,
29s), alguém que nao aceita quem poe a máo no arado e olha para tras (cf.
Le 9, 62). Já aos doze anos sentia-se envolvido pelas exigencias de sua mis-
sao quando disse a María e José: "Nao sabfeis que eu devo ocupar-me das
coisas de meu Pai?" (Le 2, 49). É oportuno pensar que o desfecho da prega-
pao de Cristo era a morte atroz na Cruz conhecida e pressentida, para se ter
nocao mais nítida das dimensóes da intrepidez da sua vontade.

Todos os seus anos de vida pública, Jesús os viveu entre os homens,


cercado de discípulos, mas sempre só, porque nao compreendido por eles. A
sua figura era atraente e, ao mesmo tempo, misteriosa — o que criava certa
distancia em relacao aos demais homens e Ihes impunha urna especie de res-
peitoso temor.

Quem examina em profundidade a pessoa de Jesús, verifica que em


seu coracáo tudo tinha seu tempo, sua oportunidade e sua medida; era vio
lento, quando necessário, e suave; temível aos inimigos, mas amigo das en
ancas; cheio de ternura para com os pecadores, mas nunca sentimental; dado
a opcoes radicáis, mas também realista e conhecedor da fraqueza humana.
Parecia viver simultáneamente no tempo e na¿etern¡dade, de modo que se
encontrava plenamente á vontade na oracao, mas tinha os pés firmes na tér
ra; voltado para o transcendental, misterioso, mas nunca sonhador exaltado;
impressionante por seus gestos, mas nunca teatral; diferente dos que o cerca-
vam, mas nunca um exibicionista; amante da vida, mas disposto a entregá-la
para ná*o desdizer suas idéias; nao suportava os hipócritas, mas era compre-
ensivo para com todos os que pecavam por fraqueza humana.

7. Homem aberto

O equilibrio psicológico de Jesús nao era o de um estoico. Os filósofos


de sua época proclamavam a apatía em relacao a todos os possfveis afetos;
tentavam dominar a si mesmos a ponto de nunca se emocionar. Tais homens
tendiam á soberba e ao egoísmo. Ora Jesús era precisamente o contrario.

296
"QUEM DIZEIS QUE EU SOU?" 9

Os homens se dividem em egoístas e generosos, homens que tém o seu


centro em si mesmos, fechados sobre si, e homens que o tém fora de si, aber-
tos para outros valores. Nesse contexto, Jesús era totalmente aberto,...
aberto para os demais homens e aberto para Deus.

A abertura para Deus é o que melhor define sua vida e sua figura; é a
forca motriz de toda a sua atividade. Ninguém jamáis experimentou urna re-
lacao com Deus tao viva, tao pessoal quanto Jesús; a oracao que ele realizava
por vezes a noite inteira (cf. Le 6,12) era a expressao consciente do contato
incessante com Aquele que o tinha enviado.

Alias, o título de Enviado com que Jesús se ¡den tífica va (cf. Jo 5, 36s;
6, 44-46. 57; 7, 16.28; 8, 16...) significava bem a sua origem transcendental
e a identificapao do seu pensar e querer com o Pai Celeste; isto aparece tanto
no episodio do menino de doze anos atrás mencionado (cf. Le 2, 41-50)
quanto no final de sua vida, quando exclamou que "tudo estava consuma
do" (Jo 19, 30) ou que tudo de que fora incumbido se havia executado. To
do o segmento de vida intermediaria foi o cumprimento da vontade do Pai
(cf. Jo 6, 38). Perante esta desaparecían! os demais imperativos ou atrativos:
as cadeias do dinheiro, as honras da sociedade, os aplausos dos homens,
a fama dos milagres... O Pai Ihe havia assinalado "a sua hora" e Jesús ia ao
encontró desta como urna flecha dirigida ao seu alvo; cf. Jo 2, 4; 7, 30; 8,
20; 12, 23.27; 13, 1; 17, 1.

Realmente em toda a historia da humanidade nao se conheceu trajetó-


ria tao decidida, tao constantemente voltada para o alto. Um Jeremías, um
Paulo, um Agostinho, um Buda, um Maomé apresentaram desníveis, sacudi-
delas violentas, mudancas e derrotas interiores. Sonriente a vida de'Jesús se
desenvolveu sem um deslize psicológico e sem um desvio moral. Tanto na
sua infancia quanto na sua vida pública e na morte brilhou incontestada no
horizonte a luz da vontade de Deus.

8. O Homem para os Outros

Se Jesús teve tanto zelo pelas coisas de seu Pai, ainda teve tempo e ¡n-
teresse para ocupar-se com as necessidades e miserias dos homens que o cer-
cavam?

A pergunta é importante, pois hoje em dia as pessoas devotas — espe


cialmente os cristaos — sao acusados de tanto olhar para o céu que acaba m
por esquecer os que sofrem ao seu lado na térra. O homem moderno repudia
a alienacao ou a religiao que desvie o individuo do cumprimento de suas ta-
refas na térra.

297
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 338/1990

Pode-se dizer que Jesús entrou decididamente dentro da massa e da


miseria humana. Se foi aberto para Deus Pai, foi aberto também para os ho-
mens, seus irmaos, e isto nao á guisa de apéndice, mas em cumprimento de
parte essencial de suas tarefas.

Com efeito, o dínamo da vida de Jesús era o amor, amor total e sem
excecóes. Um amor de realismo pleno, que nao é nem o entusiasmo ingenuo
de quem diviniza o humano, nem o fanatismo de quem o maldiz. Cf. Mt 12,
15-21; Me 6,34.

Muitosoutros sabios e filósofos discorreram sobre a condicáo humana.


Alguns a quiseram revolucionar, mas ninguém entrou tao a fundo na fragili-
dade do homem como Jesús; ninguém assumiu tao radicalmente a dor do
homem, o seu cansaco, as próprias conseqüéncias do pecado, que Jesús fez
suas.

Em Jesús há surpreendente mistura de servico a um elevado ideal e de


atengao a minucias. É freqüente entre os genios mergulhar de tal modo na
sua tarefa que chegam a ignorar aqueles que os cercam. Olham tao alto que
pisam as formigas do caminho. Jesús nao foi assim. Pensava tanto em con
verter o mundo, mudando o seu destino, quanto em acariciar criancas, em
chorar por seus amigos ou em dar alimento aos que o seguiam para escutar
sua palavra; cf. Le 9,11-17. Nunca um chefe de tao elevada categoría se ocu-
pou com coisas tao comezinhas. Nunca alguém tao voltado para o espiritual
deu tanta atencá"o aos problemas materiais Ele esteve realmente com os
homens.

... E com todos os homens. Especialmente com os mais necessitados:


dedicou-se muito especialmente aos sofredores, aos pecadores, a mulhres da
vida, aos cobradores de ¡mpostos (cf. Mt 21, 3-15). Chefe que veio para ser
vir e nao para ser servido (cf. Mt 20, 24-28} e que se ajoelhou, como escra-
vo, para lavar os pés de seus discípulos (cf. Jo 13,1-5).

O amor de Jesús aos homens nao foi um vago amor á humanidade; foi
amor a cada qual das pessoas que o cercavam. Para muitos grandes líderes, o
amor vem a ser um vago humanitarismo. Declaram amor a humanidade in-
teira, mas sao insuportáveis para aqueles que vivem a seu lado. Sao mais
preocupados com o rebanho humano do que com as ovelhas que o com-
poem; julgam mesmo natural que as ovelhas sofram para servir á coletividade
num hipotético futuro mundo melhor. Jesús é o Bom Pastor que conhece
cada urna de suas ovelhas (cf. Jo 10,1-18) e estaría disposto a deixar noven
ta e nove ovelhas felizes para recuperar a desgarrada; cf. Le 15,4-7.

298
"QUEMDIZEISQUEEUSOU?" 11

9. Amar por amar

Outra característica que diferencia o amor de Jesús do que se costuma


geralmente ver na sociedade, é o seu absoluto desinteresse de qualquer van-
tagem pessoal. Jesús nao é um político que serve ao povo para acabar servin-
do-se dele. Foge das honrarías, pede aos disci'pulos que nao se gloriem de
seus feitos (cf. Le 10, 20). Sabe, alias, que dos homens nao receberá outra
resposta senao ingratidáo, abandono e morte. Todavía isto nao o impede de
se dar generosamente. Amar era para Jesús tao natural quanto queimar o é
para a chama. Era o irmao universal, que nao podia nao amar.

. Por isto alguns escritores modernos definiram Jesús como "o homem
para os outros", o homem que nao guardou para si nenhuma gota de seu
sangue, que renunciou á própria vida para dar vida aos outros, o homem
"expropriado para a utilidade pública".

10. A Pergunta Decisiva

Assim chega o momento da pergunta decisiva: Esse homem extraordi


nario é simpiesmente um homem ou quem examina a sua vida em profundi-
dade se vé obrigado a concluir com o centuriáo que o viu morrer: "Real
mente esse homem era Fílho de Deus!" (cf. Me 15,39)?. No comeco destas
ref lexoes afírmava-se que a resposta á pergunta: "Quem é Jesús?" é tao deci
siva que quem nao encontrou a resposta é desafiado, pela historia, a procúra
la, pois o Sim ou o Nao ditos a Jesús defínem os caminhos dos homens.

Com efeito. Se Jesús nao é mais do que um homem maravilhoso ou


um genio excepcional, um líder espiritual, bastará que os simpatizantes o
admirem, acatem e aprendam seus ensinamentos. Mas, se é Deus na carne
humana, tudo muda; altera-se o conceito de existencia humana, e surge urna
nova visáo de Deus; já nao será possi'vel furtar-se a tomar partido por ele
ou... contra ele.

Na verdade, diante de Jesús as posícoes dos pensadores variam. Os ra


cionalistas do sáculo XIX teceram urna auténtica teia de aranha em seus ar
gumentos sutis para se convencer de que o Evangelho é explicável por fato-
res naturais sem contar com a loucura de que Deus se naja feito homem em
Jesús de Nazaré.

Por isto, nos escritos de alguns cacionalistas encontram-se calorosos


elogios a Jesus-homem: foi o ser humano que aprofundou como nenhum
outro o conceito de Divindade, o mais importante dos profetas, o mais ele
vado reformador moral que a historia tenha conhecido. Conseqüentemente
concluía Renán: "Quaisquer que sejam os fenómenos a se registrar no futu-

299
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 338/1990

ro, ninguém sobrepujará Jesús. O culto de Jesús rejuvenescerá constante


mente; a sua historia continuará a suscitar lágrimas sem conta; o seu maní-
rio enternecerá os coracoes mais nobres e todos os sáculos proclamaráo que
entre os filhos dos homens ninguém nasceu que se Ihe possa comparar".

Tantos elogios parecem acumular-se precisamente para que os autores


se furtem ao salto definitivo. Elogiam a humanidade de Jesús para nao ter
que reconhecer algo que reviraría a vida de quem elogiasse a realidade de
Deus feito homem. Interessante é que quem em nossos dias relé as obras dos
racionalistas do sáculo passado, tem a impressao de que sao mais imaginati
vas do que parecem ser os próprios Evangelhos. Para negar o sobrenatural
em Jesús, véem-se obligados a tantos exerci'cios de retórica que os seus
dizeres perdem credibilidade.

Para outros racionalistas, a historia de Jesús seria a de uní hábil chefe


de bandoleiros revolucionarios ou a de algum prestidigitador fascinante, a de
um parapsicólogo arrebatador de massas ou a de um doente mental obceca
do por um sonho mirabolante ou a de um megalomanfaco que conseguíu
seduzir uns tantos seguidores, também estes alucinados ou doentes mentáis...

Acontece, porém, que esse doente obsessivo ou hábil prestidigitador


foi o maior homem, o de maior repercussao na historia universal, e as deze-
nas de doentes mentáis que o seguiram desencadearam o mais nobre e diná
mico movimento religioso, cultural e humanitario registrado em todos os
sáculos. Os milagros de Jesús, para os racionalistas, nao foram milagres, mas
milagrosamente Jesús, líder iludido e ilusor, tomou-se aceito e acreditado
no mundo inteiro. Jesús, levado por sua "idéia fixa" de ser Filho de Deus,
teria, na verdade, movido os homens para os mais nobres ideáis éticos nunca
antes e depois apregoados.

Nao seria o caso de reformular a resposta racionalista á pergunta:


"Quem é Jesús Cristo?". Ese fosse realmente o Filho de Deusou Deus feito
homem?...

11. Responde Jesús

A via mais simples para responder a tal pergunta será a de ouvir o pro-
prío Jesús a respeito. Que dizia Ele de si mesmo? Como se definiu por suas
palavras e por sua conduta de vida?

No comeco de sua missao pública Jesús evitou exprimir com toda a


clareza a sua Divindade, pois esta atitude teria parecido blasfema aos judeus,
povo estritamente monoteísta. Todavía no decorrer da sua vida, principal
mente em suas últimas etapas, Jesús revelou gradualmente este traco de sua

300
"QUEM DIZEIS'QUE EU SOU?" 13

personalidade ou a sua radical unidade com Deus. Progressívamente apresen-


tou-se como maior do que todos os profetas, como senhor do sábado (cf.
Me 2, 27) e mais nobre do que o Templo de Deus em Jerusalém (cf. Mt 12,
6), como alguém que podía demonstrar com milagres seu poder infinito so
bre á própria morte (cf. Jo 11, 41-43; Mt 9, 2-8; Le 5,17-26). Jesús centra-
lizou em sua pessoa a sua própria mensagem (cf. Mt 16,24s) e pediu radical
adesao á sua pessoa, adesao tal que só a Deus se presta (cf. Mt 10, 37-39).
Do compromisso dos homens frente a Jesús presente em cada irmao sofre-
dor depende a sorte definitiva de cada um; Jesús é o criterio de julgamento
(cf. Mt 25, 31-46). Quem nao cresse nele, seria julgado; quem cresse nele,
salvaría a sua alma (cf. Jo 3, 18s). Com outras palavras ainda: Jesús tinha
consciéncia de ser muito mais do que um homem, muito mais do que um
super-homem. Procedía como só procedería quem soubesse ser um só com
Deus (cf. o perdao dos pecados corroborado por um milagre em Me 2,1-12).
É impossível exaltá-lo como homem sem reconhecer a sua Div¡ndade;se era
mero homem, deve-se dizer que era um louco, um orgulhoso, um megaloma-
níaco. Toda a vida e a mensagem de Jesús perdem o seu sentido ou se con
verte m em arrogancia despropositada se se nega a sua Divindade ou a sua
consciéncia de ser um só com Deus.

Precisamente tal consciéncía de ser "o Unigénito do Pai" (cf. Jo 3,16)


foi causa das serias altercares que Jesús teve com os doutores do judaismo
ñas últimas semanas de sua vida. Exclamou entao: "Meu Pai é eu somos um
só" (Jo 10, 30); "Saf do Pai e vim ao mundo; de novo deixo o mundo e vol-
to para o Pai" (Jo 8,42; 16, 28); "Nao estou só, mas o Pai que me enviou,
está comigo" (Jo 8, 16); "Se me conhecésseis, conhecerfeis também meu
Pai" (Jo 14, 7); "Quem me vé, vé o Pai... Nao crés que o Pai está em mim e
eu estou no Paí?" (Jo 14, 9s); "Ninguém vaí ao Pai senao por mim" (Jo 14,
6), porque "tudo o que o Pai tem, é meu" (Jo 16,15).

Foi isto que Jesús pensou e proclamou. Porque o dízia, havia de mor-
rer. Ora nenhum individuo sadio morre por um sonrio.

Está claro que, se procurássemos no Evangelho fórmulas tao nítidas


como as que se encontram ñas definicoes de Concilios e nos tratados teoló
gicos, nao as achariamos; Jesús nao disse em linguagem filosófica que há
urna só natureza divina em tres Pessoas e que Ele é a segunda Pessoa da SS.
Trindade, consubstancial ao Pai; nao disse que, além da natureza divina, ele
possuia a natureza humana assumida no seío de urna Virgem Mae... Todavía
também é claro que a quem procura saber o que Jesús pensava a respeito de
si mesmo, se impoe com muíta evidencia a conclusao de que Jesús sabia ser
o Filho de Deus em sentido absolutamente único, pessoal e literal. - Con-
seqüentemente um dilema se ¡mpóe: ou Ele era realmente o que dizia, ou
era louco... Mas crer que um louco tenha conseguido impressionar de tal

301
14 .. "PERGUNTE.E RESPONDEREMOS" 338/1990

modo seus. discípulos e reyoli¡p¡onar a historia e a face da torra é simplório;


é fuga dV:evidencia; é postulado deí,gmmilagre maior do que o milagre de
Deus feita horj/em. Mais^playsívéle,racional é crer no misterio da Encarna-
cao, que Jesús"áfirrri|x.a.".'. ."»..■. ■ •

Eis as ref lexñes a que leva urna le i tura atenta dos Evangethos e a consi-
deracao dos fatos históricos ocurridos entre a vinda de Cristo e nossos dias.

12. Palavra final

Em suma, pode-se dizer que "o fenómeno Jesús Cristo" é o maior fe


nómeno da historia. Isto se torna mais evidente ainda quando se pensa que
a mensagem de Jesús Cristo sempre foi proclamada pelos seus discípulos
associada á da sua ressurreicao. Com efeito, diz Sao Paulo: "Se Cristo nao
ressuscitou, vazia é a nossa pregacao, vazia é a vossa fé... Se Cristo nao res-
suscitou, ilusoria é a vossa fé" (ICor 15, 13.17). Ora a ressurreicao era propo-
sicao dificílima para todos os pagaos que a ouviam. Diz Tertuliano (¡ 220
aproximadamente) que mesmo os pagaos mais divergentes entre si se harmo-
nizavam para contestar a nocao de ressurreicao de um morto. Nao obstante,
a mensagem de Jesús Cristo atravessou e superou essa oposicao. Atravessou
e superou duras perseguicóes até 313 (Edito de Milao, Paz concedida por
Constantino aos cristáos), de tal modo que, quando Juliano o Apóstata ten-
tou restaurar o paganismo em 361-363,teve que reconhecer finalmente:
"Venceste, Galileu!"

(continuafaodap.319)

É de lamentar que no plano antropológico as teorías de Freud tenham


penetrado táo longe, dando a mu ¡tos individuos a impressao de que devem
ceder aos seus impulsos sexuais (cegos ou nao) a fim de nao incorrerem em
neuroses. Esta concepcao sufoca na pessoa humana toda aspiracao a superar
seus instintos desordenados e, por vezes, aviltantes; torna-a escrava de seus
impulsos. Daf se seguem o erotismo, a onda de paixoes e de crimes que in-
festam a sociedade contemporánea. Faz-se mister restaurar no homem a
consciéncia de que por sua própria constituicao corporal e espiritual ele
pode emergir ácima da materia e de seus instintos, a fim de viver segundo pa
rámetros livremente escolhidos pelo sujeito conforme urna escala de valores
na qual a verdade, a bondade altruista, o amor nobre, a justica sejam os re
verenciáis que harmonizam os instintos cegos.

302
A invasSo das se ¡tas e...

O Fundamentalismo

Etn símese: O Fundamentalismo éa atitude de quem se fecha em algu-


mas proposicoes tídas como fundamentáis da sua fé...; fechase por medo de
que qualquer mudanca venha destruir o respectivo patrimonio religioso. Tal
modo de pensar é presente em todas as correntes religiosas e em todos os
tempos, mas tomou notas multo típicas entre os protestantes, especialmente
nos Estados Unidos. Allgerou movímentos diversos, como os reavivamentos
periódicos, o milenarismo, a controversia a respeito de criaríonismo e evolu
cionismo... Os fundamentallstas, por principio, sio alheios á política, pois
consideran} este mundo como presa de Satanás, que somente Jesús Cristo
debelará mediante alguma intervencSo retumbante.

O Fundamentalismo protestante (paralelo, de certo modo, ao integris-


mo dos católicos) revela falta de seguranca doutrínária; o érente nao sabe
distinguir entre o essencial e o acidental em materia de fé, entre dogma eüis-
ciplina, de modo que, para nao perder o essencial (como ele o julgaj, se
agarra tenazmente também ao acidental. - Tal fenómeno evidencia, mais
urna vez, a capital imponencia de sólida formacáo doutrínária para aqueles
que professam a fé católica.

O Fundamentalismo, na linguagem crista, é a atitude de quem deseja


guardar, de maneira incondicional, certas proposicoes da Biblia tidas como
"fundamentáis", em oposicao a urna leitura das Escrituras de índole dinámi
ca e atualizada por estudos recentes. O Fundamentalismo teve origem e se
desenvolve dentro do Protestantismo. Tem, de certo modo, no Catolicismo
o seu paralelo, que é o chamado "integrismo" ou "tradicionalismo", do qual
a corrente de O. Marcel Lefébvre é espécimen significativo.

Procuraremos analisar a origem e as notas características do Funda


mentalismo protestante, que tem sua repercussao no Catolicismo e em mui-
tas denominacoes evangélicas do Brasil.

303
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 338/1990

1. Fundamentalismo: origem e expressoes

A atitude fundamentalista é bem compreensível dentro do Protestan


tismo. Visto que este só reqonhecé a Biblia como fonte da doutrina de fé,
existe entre os protestantes especial tendencia a preservar esse livro sagrado
de qualquer corruptela. Ora, a partir do sáculo passado, os estudos de lin
güística, arqueología, historia... projetaram nova luz sobre o texto bíblico, que
foi escrito originariamente em hebraico, em aramaico e em grego no contex
to de civiüzacoes antigás. Em cpnseqüéncia, o Credo nao mudou, mas os es
tudiosos perceberam que na Biblia se encontram expressoes de linguagem e
cultura antigás, que nao podem nem devem ser tomadas ao pé da letra; a Pa-
lavra de Deus é urna Palavra "encarnada" dentro dos moldes do expressionis-
mo e da civilizacao dos homens orientáis de outrora; conseqüentemente, pa
ra entendé-la, é necessário considerar essa roupagem e traduzi-la em catego
rías do pensamentó moderno (é o que se dá, por exemplo, com as concep
tees de cosmología, origem do homem, da mulher... encontradas em Génesis
1-3).

Oiante dos novos modos de entender a Biblia (modos que, repitamos,


nao afetam nem alteram o Credo ou as verdades da té), muitos protestantes
se fecharam, receosos de que, com isso, se esvaziasse ou desvirtuasse a pro-
pria mensagem da fé.

Foi nos Estados Unidos que o Fundamentalismo se organizou concre


tamente. A partir de 1876, foram proferidas varias conferencias "proféticas"
em cidades norte-americanas. Os ouvintes, assim alertados, houveram por
bem publicar em 1895 um documento-manifestó portador de "Cinco Pontos
Fundamentáis": 1) Total inspiracao e inerrancia da S. Escritura; 2) Divinda-
de de Jesús Cristo e seu nascimento de María Virgem; 3) O sacrificio expia
torio de Jesús; 4) a ressurreicao corporal do Senhor; 5) a próxima segunda
vinda de Jesús ao mundo.

Em 1909 foi publicada urna serie de doze volumes intitulados "The


Fundamentáis", e difundidos entre os ministros protestantes num total de
tres milhoes de exemplares.

O movimento assim oriundo era, a principio, desligado de qualquer


denominacao protestante (batista, presbiteriana, metodista...). Com o te ro
po, foi conquistando adeptos entusiastas dentro das diversas comunidades
protestantes. Estes .adeptos acabaram por se separar dos seus grupos de ori
gem, dando lugar a novas e novas "igrejas" de índole fortemente conserva
dora ou mesmo fanática, dotadas de Seminarios, Editoras, radio e televisao.
Os pentecostasis, as Testemunhas de Jeová, a Igreja Universal do Reino de

304
O FUNDAMENTALÍSIMO 17

Deus (fundacao brasileira)... sao espécimens dessas comunidades fundamen


talistas, que podemassumir até características sectarias (agressivas).

Oos Estados Unidos, o Fundamentalismo se propagou para outras par


tes do mundo. As teses simples, alheias aos estudos históricos e lingüísticos,
dos fundamentalistas favoreceram a difusao do movimento principalmente
entre as pessoas menos cultas. Assim pode acontecer que os grupos funda
mentalistas — pouco intelectualistas e muito dados as emocoes — se expan-
dam com certa amplidao, enquanto os grupos protestantes mais antigos se
estabilizam ou recuam numéricamente.

- Dado que os fundamentalistas, por sua mentalidade estreita e polémi


ca, mais e mais se afastam dos reformadores do sáculo XVI, que foram inti
tulados "protestantes", tomam o nome de "evangelistas" ou "evangélicos".
Verdade é que os termos "protestantes" e "evangélicos" sao equivalentes
entre si; por isto os protestantes se dizem evangélicos, mas os fundamenta-
listas nao querem ser tidos como protestantes.

0 Fundamentalismo é o espelho de urna certa ¡nseguranea doutrinária,


inseguranca que nao distingue o que é essencial e o que é secundario em ma
teria de fé, e que nao percebe a linha divisoria entre artigos de fé e opinioes
teológicas. Os fundamentalistas tém medo das novidades, julgando-as de an-
temao perversoes e, conseqüentemente, procuram agarrar-se em grandes e
¡ndiscutíveis "certezas". Tais sao as proposicoes fundamentáis inabaláveis,
que eles defendem tenazmente. Apegam-se á letra do que Ihesé transmitido
pela Biblia, pois assim nao correm o risco das mudancas; esta é urna posicao
tranquila, que dispensa o crente de encarar questionamentos suscitados pela
vida moderna (questionamentos que nao abalam a fé, mas obrigam a esten
der os horizontes da mesma).

Detenhamo-nos agora sobre alguns aspectos do Fundamentalismo nor


te-americano, que, como dito, tem sua repercussáo no Brasil.

2. Nos Estados Unidos: o quadro fundamentalista

Os Estados Unidos sao um país que nao conheceu guerras de religiao,


mas fot inicialmente povoado por cristáos perseguidos por causa de sua fé.
Com efeito; a Reforma religiosa na Inglaterra, proclamada em 1534, guar-
dou muitos elementos do Catolicismo: o episcopado, a liturgia solene, o mo
naquisino... Ora nem todos os cidadaoc ingleses aceitaram esse tipo de Cris
tianismo chamado "Anglicanismo"; julgaranvno ainda muito "papista" ou
"romanista"; queriam ir mais longe, adotando principio? da reforma calvi
nista. Visto que o Anglicanismo era a religiao oficial do reino, quem nao o
aceitasse era perseguido e devia emigrar. Foi isto que motivou o grande f lu-

305
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 338/1990

xo de cidadaos ingleses para os Estados Unidos nos sáculos XVI e XVII: tor-
nou-se famoso, entre outros, o caso de 102 puritanos que embarcaram no
Mayflower'em 1920 com destino á "Nova Inglaterra", onde iam estabelecer
o primeiro núcleo puritano protestante; impedidos pelo mau tempo de che-
gar ao Estado de Virginia, desembarcaran! em Massachusetts (cidade de
Playmouth, em nossos dias). Esses protestantes deixavam um país tido como
' intolerante e opressor, em demanda da térra da liberdade, como se es-
tivessem vivendo um novo Éxodo; o entusiasmo dessa primeira leva
marcaría profundamente o Cristianismo norte-americano, imprimindo-lhe os
traeos do conservadurismo; com efeito, os emigrantes deixavam seu país de
origem precisamente por nao se conformarem com as condicoes religiosas lá
vigentes ou para conservar íntegros os seus principios religiosos. O Funda-
mentalismo norte-americano tem ai o seu berco.

Podem-se distinguir tres correntes dentro do Protestantismo assim


oriundo nos Estados Unidos:

1) a tendencia revivalista (de reviva I = reavivamento). Isto se compre-


ende pelo fato de que o fervor religioso inicial sofre naturalmente asconse-
qüéncias do cansaco e do abatimento, perdendo sua tempera. Tal declfnio
provoca o surto de despertares sucessivos, que procuram reafervorar os fiéis
desfalecentes. Vao-se originando assim, em épocas sucessivas, comunidades
que se dizem born again (renascidas), despertadas da letargía da tibieza. Ge-
ral mente cada grupo se congrega em torno de um pregador capaz de suscitar
entusiasmo e provocar conversoes. Principalmente em fins do século XVIII e
no século XIX se verificaram tais surtos: tenham-se em vista os Mórmons, as
subdivisoes dos Batistas, dos Presbiterianos, os Pentecostais e suas múltiplas
ramificacoes...

2) Registra-se também a tendencia milenarista, que, baseando-se pre


tensamente em Ap 20,1-10, apregoa como próxima a segunda vinda de Cris
to á térra, para reinar durante mil anos de paz e bonanca. Tais sao, por
exemplo, os Adventistas de William Miller (1782-1849), as Testemunhas de
Jeová de Charles-Taze Russel (1852-1916) e, muito especialmente, a Assem-
bléia dos Irmaos ou o Darbyismo de John Nelson Darby (1800-1882); estes
dao tal relevo á segunda vinda de Cristo e á consumacüo dos tempos que se
descuidam da historia presente e se fazem alheios á vida política e social.

Cada fundador de tais reavivamentos pertencia originariamente a urna


denominacao, que Ihe parecía esmorecida ou desvirtuada; assim William Mil
ler era batista; Charles-Taze Russel era presbiteriano; Darby, anglicano...

3) Há ainda urna corrente fundamentalista inspirada pela teología de

306
O FUNDAMENTALÍSIMO 19

Princeton, que se caracteriza, mais do que as outras, pela interpretacao li


teral do texto sagrado, em bposicao ao estudo de géneros literarios e exprés-
sionismos arcaicos existentes na Biblia. Entra assim em confuto nao só com
as pesquisas arqueológicas e lingüísticas, mas também com as ciencias natu-
rais do nosso tempo. O litigio se afirmou na disputa entre "criacao e evolu-
cao"; segundo parece a tal corrente, a Biblia professa a criacao direta do
mundo, dos animáis e do homem (criacionismo), de modo que admitir a
evolucao é trair o texto sagrado. A contenda comecou candente em 1910: a
criacao de tudo terá sido rematada em seis dias, o homem terá sido feito a
partir do barro e a mulher a partir de urna coste la de Adáo. A disputa pene-
trou amplamente em diversas comunidades potestantes, principalmente en
tre os presbiterianos e os batistas. Passou do Norte dos Estados Unidos para
o Sul do país após 1920: ora precisamente nesta época o mundo ainda se
ressentia das conseqüéncias da guerra internacional de 1914-18; os Estados
Unidos haviam perdido muitos homens em combate contra os alemaes...
Embora Charles Darwin, o pai da teoria evolucionista, fosse um inglés, os
fundamentalistas consideravam as teses evolucionistas como algo de germá
nico; associavam-nas, em seu odio, a outros produtos de origem germánica,
entre os quais o marxismo, a pretensa licenciosidade de costumes e outras
teorías e modas.

Em conseqüéncia, os fundamentalistas desencadearam violenta campa-


iha para obter que as leis civis proibissem o ensinb do evolucionismo ñas
escolas. O movimento estendeu-se a trinta Estados, mas nao foi bem sucedi
do em todos. Como quer que seja, a oposicao fundamentalista conseguiu
frear a difusao do evolucionismo ñas escolas norte-americanas. Somente em
1968 foram declaradas inconstitucionais as leis antievolucionistas vigentes
em alguns Estados do Sul.

Á guerra fría entre criacionistas e evolucionistas suscitou o famoso epi


sodio dito "o processo do macaco". Este teve lugar em Dayton no ano de
1925; alguns cidadaos reagiram contra a campanha antievolucionista, levan
do aos tribunais um professor de ciencias naturais acusado de ensinar o evo
lucionismo. A imprensa deu grande cobertura ao caso tanto nos Estados Uni
dos como na Europa. O processo acabou redundando em favor da sentenca
evolucionista, embora o advogado dos criacionistas fosse o Dr. William J.
Bryan, éx-Secretário de Estado do Presidente Wilson. Desta maneira sofre-
ram duro golpe os fundamentalistas.

Apesar das tentativas de unir cada vez mais entre si os grupos criacio
nistas, estes deram origem a urna corrente mais branda, dita "semicriacionis-
ta". Os criacionistas mais ferrenhos se fecharam, apelando para um proces
so iniciado em 1891 para que o evolucionismo fosse declarado ilegal ou plei-

307
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 338/1990

teando ao menos que criacionismo e evolucionismo fossem ensinados ñas


escolas em pé de igualdade.

As derrotas sofridas pelos fundamentalistas criacionistas desmoraliza


ra m um tanto esta córreme. Isto deu origem a um reavivamento no seio da
mesma, que tomou as características de pregacao emotiva, popular, difundi
da por televangelistas ou pela televisao.

3. O Fundamentalismo e a Política

De modo geral, os fundamentalistas se dizem estranhos á política, pois


para eles o mundo é intrínsecamente mau e vas sao as esperancas de reforma;
somente Jesús Cristo, retornando á térra, restabelecerá a ordem no planeta.
Todavia nao faltam expressoes polfticas dos fundamentalistas. como se pode
perceber do seguinte elenco:

Em 1896 um grupo milenarista pediu que se instituisse urna colonia de


judeus na Palestina, porque, segundo o milenarismo, o retomo de Israel á
sua patria devia anteceder a segunda vinda de Cristo e o fim do mundo.

Após a segunda guerra mundial (1939-45), urna faccao fundamentalis-


ta abracou o anticomunismo de maneira tenaz, seguindo Cari Maclntyre,
que em 1948 chegou a fundar um anti-Conselho ecuménico das Igrejas.'

Na década de 1960 os fundamentalistas suscitaram o movimento dito


"Maioria Moral". Tencionava ficar estritamente no plano da Ética, inspirán
dose no seguinte principio: os Estados Unidos, sendo urna nacaoeleita.de-
vem constituir urna fonte de salvacáo para todos os homens. Este axioma
moveu os fundamentalistas a influir na sociedade norte-americana para que
assumisse o seu papel "profético", testemunhando um comportamento mo
ral puro e nítido. Existe mesmo nos Estados Unidos urna pequeña "Igreja
Universal de Deus", próxima do Fundament, cujo programa consiste em
afirmar que os povos anglo-saxdnicos sao os melhores de todos os homens!

A intencáb moralizante desses grupos levou-os a assumir também posi-


coes políticas (o que, alias, era inevitável): assim na década de 1960 os fun
damentalistas desaprovaram para seus adeptos a luta contra o racismo como

1 Chamase "Conselho Mundial ou Ecuménico das Igrejas" a assembléia que


reúne comunidades edesiais protestantes e ortodoxas (nao o Catolicismo)
para tratar de assuntos de interesse comum. — Foi fundado no ¡nido do sé-
culo XX e tem sede em Genebra (Suíca) atualmente. O Fundamentalismo o
fe/77 como liberal, desvirtuado ou mesmo infiltrado pelo comunismo.

308
O FUNDAMENfALISMO 21

sendo esta luta um ato político. Manifestaram-se contra os leis civis abortis
tas—o que implicava luta política.

Em 1988 o televangelista Pat Robertson foi rival de George Bush na


disputa das primarias republicanas. O próprio Partido Republicano assumiu
postulados moráis do Fundamentalismo, quando, por exemplo, o Presiden
te Reagan se empenhou para que se fizesse oracao ñas escolas.

A influencia política dos fundamentalistas foi grandemente debilitada


por escándalos rumorosos que envolveram alguns televangelistas.

O -Fundamentalismo norte-americano é obrigado a conviver com a


bandeira da überdade, sob a qual nasceu a nacáo norte-americana; por isto
nos Estados Unidos nao há guerras religiosas, embora existam faccoes muito
fechadas. 0 mesmo nao se deu na Europa, onde o brado em prol da liberda-
de partiu da Revolucao Francesa de 1789 ("Liberdade, Igualdade e Frater-
nidade");esse brado era acompanhado pelo racionalismo, o anticristianismo e
o ateísmo da Revolucao. Por isto os integristas franceses, como D. Lefébvre
e seus seguidores, sao contrarios á liberdade plena, especialmente no setor
religioso. Ao contrario, nos Estados Unidos a liberdade religiosa nao sofre
contestacao, nem mesmo da parte dos fundamentalistas.

O Fundamentalismo, que acabamos de analisar brevemente, nao é fe


nómeno singular. Parece mesmo presente em diversas correntes religiosas da
humanidade: os judeus, os maometanos, os hinduístas tém seus fundamen
talistas ou tradicionalistas fechados. Tal atitude, como dito, afeta muitas pes-
soas quando Ihes falta discernimento ou orientacao religiosa... Donde se vé,
mais urna vez, a importancia capital que tem (para um fiel católico especial
mente) urna sadia e lúcida formacao doutrinária.
* * *

Fazenda da Estrela, por Irene Tavares de Sá. — Bd. Agir, Rio. de Janei
ro 1988. 226 pp.

Jé em 1985 a famosa escritora Irene Tavares deSápublicou o roman


ce "Verdes os Astros", que mereceu o Premio Coelho Neto da Academia
Brasileira de Letras. O seu último romance "Fazenda da Estrela" continua,
de certo modo, a trama do anterior, analisando a vocacao religiosa em pers
pectiva cristS. O seu arquetipo distante parece ser "Os Noivos" de Manzoni,
ao qual, de resto, há urna discreta alusSo no cap. XVII. Como diz-Rachel de
Queiroz no Prefacio da obra, "Fazenda da Estrela" é "um livro parase ler,
guardar e amar" Por sua vez, comenta H. de Lima Vaz: "A obra de Irene Ta
vares de Sá recoloca com brilho entre nos o problema do romance católico.
Um livro como o de Irene Tavares de Sá mostra que a cultura crista"existe"
(Revista "Sfntese", n? 43, maio-agosto 1988).

309
Sim ou NSo a

As Teorías de Sigmund Freud?

Em síntese: Sigmund Freud é arauto de urna teoría materialista, que


reduz todas as expressóes da pessoa humana á libido ou ao impulso sexual.
A própría religiao e a Moral sao explicadas em funcao do eros ou da sexua-
lidade. Tal concepcSo é preconcebida e errónea, pois na verdade o ser hu
mano é vivificado por urna alma espiritual, que tem expressóes transcender-
tais dirigidas para a verdade, a justica, a bondade, o amor altruista... Além
do qué, verificare que o impulso mais fundamental do ser humano é o da
autoconservacSo e a sua necessidade mais imperiosa éade conhecer o senti
do da vida. Estas duas características da pessoa sao mais profundas e típi
cas do que o impulso sexual.

Sigmund Freud (i 1939), médico de Viena (Austria), é o pai da Psica-


nálise. Teve o grande mérito de mostrar que mu i tas atitudes da pessoa tém
sua causa última em traumas, complexos ou impressoes colhidas na infancia;
daf propor Freud a análise da psyché e do psiquismo para se detectarem
essas causas..Todavía a técnica analítica de Freud é acompanhada por urna
filosofía materialista, que nega os valores transcendental e se tornou, em
grande parte, responsável pela onda de erotismo e pela superexcitacáo sexual
da sociedade contemporánea e dos seus ¡mpressos, espetáculos, escolas... É
precisamente isto que tentaremos evidenciar propondo, a seguir, as grandes
linhas do pensamento de Freud, que penetrou na educacao, na medicina, na
arte, na Moral, etc.

1. Como Freud concebe o homem?

1.1. O inconsciente (Es), o Consciente (Ego) e o Censor (Superego)

Segundo Freud, existem no ser humano dois instintos Fundamentáis:


o da morte (Thánatos) ou autodestruicao e o sexual (Eros). O primeiro é ne
gativo; por isto nao pode ser fundamento da construcao de urna personalida-

310
AS TEORÍAS DE SIGMUNDFREUD 23

de. O segundo, também chamado libido, vem a ser 3 raiz de todas as expres-
soes da pessoa. Sao palavras de Freud:

"(Definimos) a sexualidade como urna fundió somática mais vasta que


tende, antes do mais, ao prazer e só secundariamente está a sen/ico da repro-
ducao... Incluimos entre os impulsos sexuais todos os impulsos meramente
afetivos ou amigos, mediante os quais realizamos o que se chama amor na
linguagem corrente" ÍMia Vita e Opera. Roma 1948, p. 70).

Sendo assim, para Freud, todas as manifestacoes da pessoa, por diver


sas queparecam.vém a ser expressoes do impulso sexual. Donde o nome de
pan-sexualismo dado ao sistema. Quando alguém contempla a veeméncia de
urna tempestade ou a ¡mensidade do mar, pode julgar que isso nada tem a
ver com o instinto sexual; todavia engana-se, diria Freud; na verdade, trata
se de instintos sexuais travestidos, camuflados ou "sublimados". Quem gosta
do estudo, do esporte, da política ou da arte, poderia também pensar estar
versando em áreas diversas da sexual; Freud diria que aínda está sendo movi
do pelo único instinto básico sexual "travestido". Os Santos que se
retiraram para o deserto em oracáb e penitencia, renunciando aos sentidos
para levar mais intensa vida espiritual, nao se ¡ludam, exclamaría Freud; o
seu amor a Deus nao é senáo atracao sexual camuflada.

Esta teoria freudiana tem por fundamento a seguinte concepcao antro


pológica: A psique (alma) humana é semelhante a dois compartimentos con
tiguos: um ampio e luminoso, chamado consciénda ou Ego (eu), o outro
subterráneo e escuro; denominado o inconsciente (Es ou Id). Estes dois
compartimentos se comunicam entre si mediante urna porta, guardada por
um severo vigia, chamado Censura (Superego).

0 compartimento inferior é escuro e habitado por um exército de im


pulsos ambiguos e lascivos, que nao querem f ¡car presos, mas desejam ver a
luz. Tentam passar pela porta guardada pelo censor. Este, porém, desde que
vé a face "debochada" de um desses impulsos, o recalca para as trevas. De
vez em quando, porém, um desses impulsos se disfarca e burla a vigilancia do
censor: cíente de que os homens admiram a justica, reveste-se da toga de
um juiz e, engañando o guarda (que imagina tratar-se de um venerável magis
trado), consegue atravessar a porta e manifestar-se: é a libido dissimulada em
arauto da justipa. Outro desses impulsos se reveste de artista, de cientista, de
sacerdote, e assim fantasiado passa para o compartimento superior ou o
consciente; este vai-se povoando de- seres "nobres e elevados", que na
verdade nao sao mais do que o impulso sexual.

Mas como é que Freud sabe que, debaixo das aparéncias de persona-
gens dignos e respeitáveis, se esconde o "demonio" da libido ou do sexo? —

311
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 338/1990

Porque, diz Freud, ele os desmascarou ouvindo as confidencias de alguns psi


cópatas e sexomanTacos, confidencias que ele exagerou, estendendo-as a to
dos os homens - doentes e sadios, adultos e enancas. Sim, até as enancas!
Para Freud, estas nao sao isentas de atrativos sexuais, mas praticam em seu
coracao-o incesto e o parricidio. Freud ilustra esta afirmacao contando o
mito de Édipo, que ele julga reproduzir-se em cada enanca sob forma do
complexo de Édipo.

1.2. O complexo de Édipo

Eis o mito paradigmático de Édipo:

O rei Laio, de Tebas, teve um filho, Édipo, da rainha Jocasta. Um orá


culo predisse que o filho um dia mataría seu pai. Entao este deu ordem para
que o filho fosse abandonado na crista de urna montanha. Todavía o servi
dor, encarregado de executar o preceito, teve pena do menino e confiou-o
a um amigo seu, da cidade de Corinto.

Nesta o menino foi adotado pelo rei e a rainha. Todavía outro oráculo
anunciou que o menino haveria de contrair incesto com sua míe e matar seu
pai (parricidio). Cíente disto, Édipo, que julgava serem os reís de Corinto os
seus verdadeiros genitores, fugiu da cidade horrorizado. Aconteceu, porém,
que na estrada de fuga se encontrou com um homem altivo e prepotente,
com o qual entrou em briga. Édipo acabou por mata-lo. Era o seu próprio
!

Chegando em Tebas, o jovem conseguiu libertar a cidade acabrunhada


por urna esfinge maléfica. Em conseqüéncia, foi proclamado rei, e tomou
por consorte a mulher do rei Laio, que ele amava. Só mais tarde veio a saber
que o homem assassinado por ele na estrada era seu verdadeiro pai e que a
rainha de Tebas era sua mae. Édipo, desesperado com estas noticias, cegou-
se a si mesmo.

Ora, diz Freud, o duplo crime de Édipo, por mais horroroso que seja,
é praticado por todas as enancas inconscientemente (como Édipo o praticou
inconscientemente). Com efeito, afirma Freud: a enanca, já antes de nascer,
é libido ou procura de prazer sexual. Nos seus primeiros tempos após nascer,
procura satisfazer-se de todos os modos. Quando, porém, o menino comeca
a reconhecer as pessoas, os seus interesses se voltam para a sua mae. Mas o
amor sexual é ciumento e nao admite rivais; ora a mae é também termo do
amor do pai; por isto o menino passa a odiar o pai e deseja matá-lo. Essa du
pla tragedia de Édipo é consumada nao de maneíra física e vísfvel, mas no
coracao de todo menino. Por conseguinte, os meninos nao sao inocentes,
mas incestuosos e assassinos em seu coracao.

312
AS TEORÍAS DE SIGMUNDFREUD 25

Para as meninas, Freud propóe o mesmo jogo de atrativos, dessa vez


voltados para o incesto com o pai e o matricídio. Para tanto, serve-se de um
mito paralelo, dito de Electra.

1.3. Orjgem das doencas psíquicas

Para conter os ímpetos de assassínio e incesto latentes dentro da crian-


ca, Freud admite o que ele chama o Superego ou a censura. Esta faz que a
cobica sexual se dirija nao para o pai ou a mae do individuo, mas, sim, para
pessoa de outro sexo existente fora do lar. Caso, porém, o sujeito nao en
contré sua plena realizacáo sexual e carnal, torna-se psicópata ou neurótico.
Sao palavras do doutor vienense:

"Considero as neu roses em geral como perturbares das funcSes se-


xuais" flViia Vita o Opera, p. 2).

Responsável por essas perturbacoes é a educacao e, de modo geral, a


censura exercida pela sociedade sobre o individuo. A pessoa que conseguisse
satisfazer a todos os seus impulsos sexuais, ignoraria as neuroses. Freud ilus
tra esta sua posicáo citando o caso de urna jovem de quatorze anos chamada
Dora: certo dia é levada para um lugar solitario, onde a querem forcar a pra-
ticar a cópula; a jovem se solta das maos do homem sedutor e-foge horrori
zada. Comenta Freud: "Eis um caso típico de comportamento totalmente
histérico. Todo individuo no qual um estímulo á excitacao sexual provoca
tao intensos e veementes sentimentos de repulsa, eu o tenho, sem hesitacao,
na conta de histérico".

1.4. Arte, Religiáo e Moral

As descobertas de Freud vao mais além; penetran) nos setores da arte,


da Religiáo e da Moral.

a) No tocante aos poetas, escreve o mestre vienense: "As mmhas pes


quisas me forneceram a prova absoluta de que nao existe diferenca entre o
neurópata e o poeta" (Ludwig, La fine d'un mito. Sansón i, p. 59). A
tragedia é a expressao da culpa do filho em relacao ao pai. A comedia é a re-
mocao da culpa do filho.

Toda a arte gótica é expressao sexual. Em suma, escreve Freud: "A


estética mergulha as suas raízes no erotismo contido ou inibido" (Lud
wig, obra citada, pp. 188s).

b) No concernente á Religiáo e á Moral, o pai da psicanálise assim con


cebe a sua origem:

313
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 338/1990

Freud, movido pela doutrina de Darwin, admitía que, no decorrer da


evolucao dos animáis, existiu primitivamente urna horda de gorilas domina
da por um Macaco Velho. Este monopolizava todas as fémeas do grupo e,
por isto, perseguía e expulsava os fílhos, visando assim a mantero monopo
lio das mulheres.

Todavía em dada fase da evolucao, os filhosse transformaran em ho-


mens; reuniram-se entao num ato de rebeliao contra o Velho Gorila;
mataram este seu pai e o comeram num festim canibalesco. — Eis, porém,
que, desaparecido o Velho, instaurou-se a anarquia no grupo; cada qual que
ría comandar, assumindo a melhor fatia; desta maneira ocla tevea sua sub
sistencia ameacada pela desordem interna. Antes da morte do Pai Gorila,
todos eram dominados, mas o cía era forte; o pai era um tirano, mas tirano
capaz! Ao considerarem tal situacao, os jovens comecaram a se arrepender
de ter assassinado o Velho e sentiram a necessidade de venerar a sua memo
ria; para tanto fizeram de um animal o sfmbolo e o substituto do Pai desapa
recido, mas divinizado. Este animal é chamado Tótem. - Af estaría a origem
de toda religiao; a sua primeira expressáo seria o totemismo, ou seja, a vene-
racao de um animal (ou de urna planta) símbolo de um ancestral; do qual os
seus cultores descendem. Além disto, os homens do cía resolveram nao espo
sar as mulheres do seu grupo ou condenaram o casamento endogámico, esti
pulando um tabú1 em torno deste.

Tótem e tabú seriam, portanto, as formas originarias e primitivas da


Religiao e da Moral.

Referindo-se á religiao judaica e á crista, Freud completa o seu pensa-


mento: afirma que o sentimento de culpa pelo assassmio do primeiro Pai
(Gorila) aflorouaospoucos na consciéncia do povo hebreu. Sao Paulo se fez
herdeiro desse sentimento de culpa; terá formulado para os seus ouvintese
leitores a teoria do pecado original, mediante o qual a morte entrou no mun
do (cf. Rm 5, 12-17); esta seria a versao paulina do mito que concebia o pe
cado inicial como sendo o assassfnio do primeiro pai (Gorila).

Concluí Freud que "a religiao é urna neurose generalizada entre os ho


mens, semelhante á das enancas; tem origem no complexo de Édipo, ou seja,
no relacionamento do individuo humano com seu pai" (cf. Tótem e Tabú).

1 A palavra tabú vem do polinesio tabú = sagrado, Invulnerável. atravós do


inglés taboo. É a proibicio, feita aos profanos ñas sociedades primitivas, de
se relatíonaram com pessoas, objetos ou lugares determinados, sob pena de
sofrenm castigo dos deuses por estarem violando algo de sagrado e intocávei.

314
AS TEORÍAS DESIGMUNDFREUD 27

Eis, em grandes linhas, o pensamento de Sígmund Freud referente ao


psiquismo humano e ás suas éxpressoes. — Pergunta-se agora:

2. Que dizer?

Em todo erro há sempre um núcleo de verdade, afirmam os filósofos.


É também o que se dá na teoría de Freud. Por isto sejam indicados em pri-
meiro lugar os pontos positivos de tal sistema de pensamento.

2.1. O poderoso inconsciente

É preciso -reconhecer a existencia do inconsciente. Nao foi Freud


quem o descobriu, pois já antes de Freud fora reconhecido por pesquisado-
res diversos. Freud explorou, sim, as suas riquezas. Já em 1884, por exem-
plo, observava Ribot, psicólogo francés:

"O consciente representa apenas urna tenuíssima parte do nosso psi


quismo, pois ele é sempre sustentado e, porassim dizer, movido pelo incons
ciente... O que chega até o estado consciente, é pouca coisa em comparacSo
com aquilo que fica sepultado, embora amante, no inconsciente... A unida-
de do Eu, do ponto de vista psicológico, é a coesSo temporaria de aiguns es
tados conscientes e claros que emergem de urna multidao de estados fisiológi
cos inconscientes... os quais trabalham simultáneamente e mais do que os
estados conscientes" (Ribot, Le malattie delta personalitá, 1884).

Alias, Freud teve como um de seus mestres o Professor austríaco Josef


Breuer (1842-1925), que foi o verdadeiro precursor da psicanálise. Breuer se
viu, certa vez, diante de urna menina que, em pleno verao e sentindo murta
sede, nao conseguía beber coisa alguma: trazia o copo até os labios, mas logo
a seguir o repelía, como se tivesse medo de agua. Havia seis semanas que se
achava em tais condipoes quando foi submetida á hipnose; assim inconscien
te falou de sua ama, que Ihe era antipática: contou, com sinais de viva repug
nancia, que um dia entrou no quarto dessa senhora e viu ali o horrendo cao-
zinho da ama a lamber um copo. Para nao parecer mal educada, calou-se...
Após contar isto ao médico, a jovem manifestou grande irritacao e, logo de-
pois, pediu agua para beber. Tomou grande quantidade de líquido sem a mí*
nima dificuldade. A seguir, despertou da hipnose, tendo ainda o copo encos
tado aos labios. — Desta maneira desapareceu a hidrofobia da jovem.

Vé-se, pois, que' um comportamanto anormal (a recusa de beber, ape-


sar de grande sede) era perfeitamente explicável por um trauma guardado no
inconsciente e atuante sem que a jovem o soubesse. Bastou trazer á tona esse
trauma motivador da desgreaca, para que a paciente se libertasse de sua car
ga emotiva e pudesse beber.

315
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 338/1990

Por conseguinte, foi comprovado que muitas atitudes a normáis ou de


ficientes do ser humano tém suas rai'zes no respectivo inconsciente; todavia
nao foi Freud quem descobriu isto. Pode também acontecer que, em alguns
casos, os impulsos sexuais, como quaisquer outros impulsos, mal orientados,
sejam causa de perturbares psíquicas. Vista a importancia da tendencia se
xual, é admissível que ela seja, mais freqüentmente do que outras, responsá-
vel por disturbios psíquicos.

É também verdade que urna educacao deficiente e a aquisicao de hábi


tos desregrados na infancia podem fazer-se sentir por todo o resto da vida de
alguém.

Estas verdades, formuladas por Freud em suas obras, sao acompanha


das de pontos vulneráveis, que passamos a enunciar.

2.2. Os ítens negativos

2.2.1. O complexo de Édipo

A hipótese do complexo de Édipo, como algo de universal e constante


em todos os seres humanos, é arbitraria e fantasiosa. O amor da enanca por
sua mae é amor límpido e sereno que nada tem a ver com o atrativo sexual.
Paralelamente o amor pelo pai é geralmente acompanhado de admiracao e
confianca, de tal modo que nao pode ser confundido com inveja, ciúme e,
menos ainda, com um inconsciente desejo de matar o pai.

É, pois, ¡ncorreto dizer que as enancas, desde os primeiros dias de sua


existencia, sao impelidas pelo instinto sexual ou pela libido. Admita-se que
sao movidas pelo prazer, sim, mas nada prava que sejam dirigidas pela ten
dencia ou pelo prazer sexual. As chancas man¡festam ansias de alimentar-se,
de dormir, de brincar, de aprender novidades, de satisfazer a curiosidade...
ansias que seria arbitrario identificar com o apetite sexual.

Nem mesmo nos adultos o impulso sexual tem o vigor e a pujanca que
Freud Ihe atribuí. É instinto forte, sem dúvida, porque naturalmente encar-
regado da conservadlo da especie, mas nao é o único nem o mais poderoso.
Viktor Frankl, outro psicólogo judeu, contradizia a Freud, afirmando com
razao que a necessidade mais fundamental e pujante que o homem experi
menta, é a de conhecer o sentido da vida ou os porqués do existir, do traba-
Ihar, do sofrer, do pacientar e do morrer; quem tem resposta para estas
questSes, é capaz de aturar tudo, até mesmo as privacoes sexuais, como
acontecía nos campos de concentracáo; mas quem nao sabe qual o sentido
de sua vida e de sua luta, capitula fragorosamente e deixa-se invadir pela
morte. Ver PR 281/1985, pp. 329-340; 310/1988, pp. 132-138.

316
AS TEORÍAS DE SJGMUNDFREUD 29

Mesmo permanecendo no ámbito da vida sensitiva, observam-se no ser


humano outros impulsos positivos além do sexual, mais fortes do que este;
tal é, por exemplo, o instinto de conservacao do individuo. Isto foi compro-
vado mediante a seguinte experiencia:

Profiramos diante de alguém paiavras diversas, avulsas ou desconexas


entre si... Tem-se a impressao de que a pessoa nao é atetada por tais sinais
lingüísticos. Na verdade, porém, essas paiavras produzem reacoes, ainda que
debéis, no individuo que as capta. Isto tem sido averiguado atravás de repeti
dos testes realizados em grande número de individuos; destes testes resulta
que as paiavras provocadoras do instinto de conservacao tém mais influencia
no estado afetivo do que as que excitam os impulsos sexuais. Por conseguí n-
te, as° tendencias que visam á conservacao do individuo sao mais fortes do
que as que visam á conservacao da especie. Nem se poderia conceber que
nao fosse assim, pois, segundo a natureza, é preciso primeramente existir
para depois atuar ou agir; ora a reproducao é urna funcao ou operacao do
organismo.

De resto, além da tendencia á autoconservacao, há no ser humano


tendencias intelectivas ouespirituais:todo homem tem sede de verdade, de
bondade, de amor, de justica...; senté o fascinio do ideal, o entusiasmo por
coisas nobres e dignas. Isto nada tem que ver com o instinto sexual, ainda
que sublimado. Com efeito; a tendencia sexual é cega, predeliberada", ao pas-
so que o amor á verdade, á justica, á bondade... é consciente e intelectivo. —
Verdade é que muitas vezes o homem nao ama apenas com os sentimentos
nem apenas com a inteligencia e a vontade, mas, sim, com todo o seu ser;
por isto o amor intelectivo, quando é forte, faz sentir os seus efeitos tam-
bém no plano afetivo e sensitivo; e, viceversa, a atracao sexual, quando é or
denada e razoável, inclui o amor intelectivo. Por conseguinte, o amor, no
ser humano, é algo de complexo: sentimentos e aspiracoes espirituais se pe-
netram mutuamente. Mas nao se pode dizer que os sentimentos se tornam
anseios espirituais, como no caso da "sublimacao" freudiana. A sublimacao
assim entendida seria a destruicáo da realidade espiritual do ser humano ou
reduziria a esptritualidade á corporeidade ou á materialidade.

2.2.2. Moral e Religiáo

O mito do Velho Gorila mediante o qual Freud quer explicar a origem


da Religiao, é produto de fantasia fecunda destituida de todo fundamento.

Antes do mais, notemos que, segundo as pesquisas etnológicas mais fi


dedignas, nao se pode sustentar que a humanidade primitiva vivia como urna
horda de gorilas ou de animáis selvagens; nem nos vestigios da pré-hist6ria
nem ñas populacoes primitivas ainda hoje existentes, há provas disto.

317
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 338/1990

Além do mais, sabe-se com certeza que o totemismo nao é a forma ori
ginaria da Religiao. A escola Anthropos de Vierta averigüou, em viagens de
meticulosa exploracao, que os povos primitivos eram monoteístas.1 O tote
mismo apareceu mais tarde, assim como os tabus religiosos. Com efeito, á
medida que o homem foi desenvolverlo a sua civilizacao, sentiu mais a sua
dependencia em relacao ao sol, á chuva, á térra, ao fogo...; este sentimento
de dependencia suscitou o culto a tais elementos e a ruptura do monoteísmo
inicial em favor do politeísmo; assim a religiáo, pura e simples como era, foi-
se diversificando nao só no politeísmo e na idolatria, mas também na magia,
no fetichismo, no totemismo, etc.

Estas conclusoes das pesquisas de etnología e historia das religioes


solapam o fundamento da tese de Freud sobre a origem da religiao e da
Moral. Tal teoria nao é senáo urna construcao altamente fantasistae subjetiva.

2.2.3. A psique humana

A antropologia de Freud quase nao deixa espaco para as tendencias


mais elevadas e nobres do psiquismo humano. As expressoes da pessoa, para
o mestre vienense, sao manifestacoes de cobipa sensual, i n ver sao e perverslo
— o que desfigura injusta e erróneamente a personalidade humana.2 Nao há
dúvida de que na alma humana se encontram tendencias desregradas e bai-
xas, mas também é certo que, independentemente de qualquer censura,
emergem do fundo do psiquismo humano expressoes de bondade e amor al
truista. Quem nao experimenta dentro de si a admiracao por atitudes mag
nánimas e o desejo de cultivá-las?

' A propósito ver Willhelm Schmidt, Der Ursprung der Gottesidee, 6" vots.;
Paúl Schebesta, Das Problem des Urmonotheismus. Kritik einer Kritik. An
thropos B. 49, 1954; ídem, Ursprung der Religión, Monis Verlag, Berlín
49, 1954-1961.

2 Alias, Freud se gloriava de haver despojado o homem de suas mais recóndi


tas ilusoes. Com efeito; Galileu Ihe teria tirado a presuncSo de habitar o cen
tro do universo (propds o heliocentrismo em lugar do geocentrismo); Dar-
win teria dissipado a idéia de que o homem é mais do que um macaco aper-
feicoado; Freud terá mostrado ao homem que ele nao é senao instintos co-
bicosos, egoístas e pervertidos.
Apesar do que haja de verdade, ñas tres teorías apontadas, nenhuma
desfez o cerne da grandeza do homem, que é a sua alma espiritual, dotada de
inteligencia e vontade;é por sua espiritualidade que o homem vem a ser ima-
gem e semelhanca de Deus.

318
AS TEORÍAS DE SIGIÍIUND FREUD 31

A pessoa humana pode, contradizendo os impulsos sexuais, levar uma


vida casta em celibato ou virgindade, numa profunda expressao'de amor a
Oeus; quem opta pela vida celibatária, nao deixa de amar, mas ama — e
muito — o Sumo Bem e, através deste, todas as criaturas com amor puroe
altruista. A vida una ou indivisa nao transtorna o psiquismo humano, mas
ao contrario, harmoniza-o, permitindo-lhe viver segundo a auténtica escala
de valores; ácima de tudo, o Primeiro Amor, para o qual convergem todos
os demais impulsos da pessoa.

A tentativa de reduzir o amor a Deus e a renuncia á vida sexual ao pro-


prio instinto sexual camuflado ou sublimado, vem a ser grave sofisma, que
ignora desastrosamente a realidade mais profunda do ser humano. Infeliz
mente Freud nao reconheceu a existencia de uma alma espiritual transcen
dente em relacao á materia; daf a imagem falsa que do ser humano ele apre-
senta.'

Esta falsa concepcao decorre do fato de que o médico vienense esten-


deu a todos os homens o que ele pode observar em individuos psíquicamen
te tarados.

A alma (psique) humana espiritual preenche as funcoes da vida vegeta


tiva, da vida sensitiva e da vida intelectiva. Na medida em que é sensitiva, a
alma humana é rica de tendencias, emocoes e paixoes, entre as quais a ten
dencia sexual, que se afirma especialmente na puberdade e na juventude. En-
quanto intelectiva, a alma humana também tem suas tendencias e seus dese-
jos, mas de outra ordem: dirigem-se á verdade, á bondade, á justica, ao amor,
á beleza..., tais como a inteligencia humana é capaz de as compreender.

0 amor auténticamente humano, antes de unir dois corpos entre si,


une duas pessoas; ele nasce da fusao dos sentímentos sensitivos e intelectivos
do ser humano.

0 homem tem em comum com os animáis ¡rracionáis a vida sensitiva.


Mas ele se eleva ácima destes pela sua realidade espiritual, que é intelectiva
e que o torna imagem e semelhanca de Deus.
(continua nap. 302)

1 A sabedoria cristi distingue no ser humano dois componentes: o corpo


material, que é vivificado por uma alma espiritual. Esta exerce todas as fun-
cdes vitáis (vegetativas, sensitivas e intelectivas) da pessoa. A alma humana,
sendo espiritual, nio é produzida pela materia, mas é, vez por vez. criada por
Deus; sendo espiritual, ela nio perece quando o corpo se desgasta, mas é por
si mesma ¡mortal. Isto confere á alma humana uma certa transcendencia em
relacio ao corpo.

319
Alerta!

Brasil, Recordista Mundial


de Abortos

Em síntese: Á margem de urna noticia da imprensa segundo a qual o


Brasil é pafs recordista em materia de abortos, vio expostos alguns comenta
rios sobre a prática do aborto. Esta, longe de ser urna forma de autoaftrma-
cao da muiher, é nao raro armadilha que ilude a muiher e a deixa profunda
mente traumatizada: "É mais fácil arrancar urna crianca do útero materno
do que tiré-la do pensamento da sua mié" (Dr. Willke). Além disto, a práti
ca do aborto reduz a crianca é condicao de coisa indesejada e destructi'vel...
Sio também apresentadas estatfsticas sobre os meios de limitar a prole, evi
denciándose que o recurso mais eficaz e mais sadio éodo respeito á nature-
za, com repudio dos meios artificiáis (pílula, diafragma, DIU...), que sao to
dos menos seguros do que o Método Billings.

O aborto está freqüentemente na pauta dos jomáis, pois é praticado


em grande escala no mundo ¡nteiro, juntamente com experiencias de Enge-
nharia Genética cada vez mais ousadas.

Um grito de alerta foi lampado pelo Jornal do Brasil em sua edicao de


12/04/90,1? caderno, p. 7:

Número de abortos supera o de nascimentos no Brasil

BRASILIA - Estatfsticas da Organizado Mundial da Saúde (OMS),


apresentadas em seu último relatórío em Genebra, na Sufca, apontam o Bra
sil como o recordista mundial de abortos. O número de interrupcoes de gra
videz no pafs ó maior do que a taxa anual de nascimentos. Os dados mos-
tram mais de tnU milhdes de abortos anuais contra apenas 2. 779.253 regis
tros de nascimentos em 1988. A OMS afirma que o Brasil contribuí com
10% do total de ¡nterrupfSes de gravidez no mundo ¡nteiro, seguido por paí
ses como a Liberta, Senegal, Mámeos e Sri Lanka.

0 Fundo de PopulacSo das NacSes Unidas (UNFPA), no relatórío A


Situacáo da Populacao Mundial em 1989, vai mais longe ao analisar as ínter-

320
BRASIL, RECORDISTA DE ABORTOS 33

rupcoes de gravidez. Embora ressalve que o "aborto é comum", o relatórío


indica que entre 20% e 33% de todas as gestacdessao "deliberadamente in
terrompidas", o que significa, aproximadamente, a realizacao de 150 mil
abortos, diariamente, em todo o mundo. Esse dado mostra que, anualmente,
entre 50 e 60 milhóes de muiheres praticam o aborto...

0 estudo do UNFPA constatou que entre 10 e 30 milhoes de muiheres


engravidam todos os anos porque os métodos contraceptivos escolhidos se
mostram inefícazes. "Naturalmente há necessidade de se obter e garantir a
existencia de métodos mais seguros e confíáveis", observa o relaxbrio. Em
extremo desespero, para cortar urna gravidez indesejada, as muiheres procu-
ram, com frequerida, pessoas despreparadas. A experiencia pode ser fatal.
Na Etiopia, por exemplo, 54% das mortes por parto ocorrem por abonos
mal feitos.

"As muiheres tém o direito de dispor de seu corpa e desenvolver sua


sexualidade para o prazer e nao só para a procriacSo", sustentam as conse-
Iheiras do CNDM.'

O relatório do Fundo da Populacao das Nacoes Unidas estima que


40% de todas as meninas vivas no mundo, que tenham hoje 14 anos, f¡cario
grávidas — pelo menos urna vez — antes de completaren! 20 anos de idade.
E dá como exemplo Bangladesh, onde quatro entre cinco adolescentes sio
mies. Na África, continente que apresenta a maior taxa de nas'cimentos en
tre adolescentes, tres em quatro dao é luz muito jovens. Neste continente,
40% do total dos nasdmentos registrados acontecem entre muiheres com
idade abaixo dos 17 anos, comparado com 39% na América Latina, 31% na
Asia e 22% na Europa.

0 aborto é um homicidio, pois a ciencia hoje em dia pode afirmar


que, desde o primeiro momento da fecundacao do óvulo, já existe um novo
ser humano, onde estao codificadas todas as características do futuro adul
to; o desenvolvimento natural do ovo fecundado é o de urna pessoa em
formacao. Dado que isto já foi explanado em PR 305/1987, pp. 457-461,
proporemos ñas páginas seguintes alguns comentarios e documentos sobre o
assunto.

1. A Historia se repete...

É altamente significativa a comparagao de dois textos de lei dos Esta


dos Unidos, o primeiro tentando legitimar a escravidao do negro, e o segun
do defendendo a prática do abortamento. Percebe-se um'paralelismo naar-
gumentacao de cada texto, fazendo que a enanca seja tratada como um es-
cravo ou urna coisa era tratada.

1 Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.

321
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 338/1990

A ESCRAVIDÁO O ABORTO

SENTENQA DREDSCOTT SENTENCA ROE V WADE


DE 1857 DE 1973

Seta Magistrados votara m a favor, Sata Magistrados votaram a favor,


Dois em contrarío: Dois em contrario:
O negro na"o é pessoa, O nao nascido ná"o ó pessoa,
Pertenca ao seu dono. Pertenca á sua má"e.

Mesmo que possua um coracáo Mesmo que possua um coracá'o


a um cerebro a biológicamente sa e um cerebro a biológicamente sa
ja tido como humano, um ascravo ja tida como humana, a crianca
nSo é pessoa parante a lei. A sen- nao nascida nao é pessoa parante
tenca Dred Scott do Supremo Tri a lei. O Supremo Tribunal dos Es
bunal dos Estados Unidos o afir tados Unidos o afirmou claramen
ma claramente. te.
Por conseguinte poda-se com Por conseguinte o nao nascido
prar, vender a matar o escravo. pode ser destinado á morte ou dei-
xado em vida.

Um homam da raca negra so Um bebé so adquire parsonali-


adqutre a sua personalidade jurídi dade jurídica ao nascer. Antes
ca ao ser posto em liberdade. An disto, nao nos devemos preocupar
tes disto, nao nos devenios preo com ele, pois ná"o tem direitos
cupar com ele, pois na*o tem direi- perante a lei.
tos parante a lei.

Se vocfi julga que a escravidfo á Se vocd julga que o aborto á


má, ninguém obriga vooS a ter um mau, ninguém obriga vocé a coma-
escravo. Mas nSo imponha sua mo tó-lo. Mas nffo imponha sua Moral
ral aos outros. A escravidSo ó legal. aos outros. O abortamento é legal.

Todo homam tam o diraito de Toda mulher tem o direito de


fazer o que quaira com aquilo qua fazer o que queira com o seu pro
Ihe partenca. no corpo.

Acaso n§b será a escravidá*o Acaso nffo será o aborto mais


mais humanitaria? Afinal o nagro humanitario? Afinal nao tem to
nao tem o direho de ser protegi dos os bebés o diraito de ser desa
do? Nao é rralhor ser escravo do jados e amados? NSb é malhor que
qua ser enviado, tam preparo e a crianca jamáis chagua a nascer
experiencia, a um mundo cruel? do qua enfrentar, sozinha a sem
amor, um mundo cruel?

322
BRASIL, RECORDISTA DE ABORTOS 35

Texto publicado no jornal Washington Post como materia paga por


Women for the Unborn (Muiheres unidas em favor da enanca nao nascida)

2. Textos referentes ao direito á vida

"A enanca que vai nascer, deve gozar desde o primeiro momento de
sua conceicáb, de todos os direitos enunciados na presente Declaracáo. Tais
direitos devem ser reconheddos á toda enanca que esteja para nascer, sem
alguma excecSo ou discriminado de rapa, cor, sexo, língua, religiáo, origem
nacional ou social, estado de desenvolvimento, estado de saúde ou caracte
rísticas mentáis e físicas certas ou hipotéticas ou qualquer outra situacab
que diga respeito á crianca ou á sua mSe ou á sua familia. A lei deve garan
tir á crianca, antes que nasca, como também depois que nascer, o direito á
vida inerente a todo ser humano. Por causa de sua debilidade particular, a
crianca que vai nascer deve beneficiar-se de protecüo especial" (Preámbulo
da DeclaracSo dos Direitos da Crianca nao Nascida, Assembláia do Parla
mento Europeu).

"O direito á vida ó aquele do qual se derivam todos os demais direitos.


Garantir esse direito é o dever supremo dos principáis dirigentes de todos os
Estados do mundo" (Declaracáo de Haia, Holanda).

"Todo individuo tem direito á vida, á liberdade e á seguranca de sua


pessoa" (DeclaracSb Universal dos Direitos Humanos n? 3).

"O direito á vida ó inerente á pessoa humana. Tal direito ó protegido


por lei. Ninguém poderá ser privado da vida arbitrariamente" (Pacto Inter
nacional de Direitos Civis e Políticos).

"O direito de toda pessoa á vida á protegido pela lei. A ninguém deve
ser a morte infligida intendonalmente, exceto na execucSfo de sentenca de
pena capital proferida por um tribunal, no caso de que o delito incida nesta
pena por afeito da lei" (Convenció Europáia de Salvaguarda dos Direitos do
Homem e das Liberdades Fundamentáis).

Sem comentarios...

3. Os anticoncepcionais: efeitos

1. Um recente estudo efetuado pelo Instituto Alan Guttmacher revé-


lou que o índice de falhas dos contraceptivos nos Estados Unidos é muito
maior do que se supunha: 6% para a pílula; 14% para o preservativo (cami-
sirtha), 16% para o diafragma e 26% para os espermicidas (extraído de The

323
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 338/1990

Natwork News, Boletim de novembro-dezembro de 1989, Natural Women's


Health Natwork, que é urna organizacáo abortista).

2. O método mais eficaz (e, ao mesmotempo, moralmente lícito) para


limitar a prole' é o da continencia periódica praticada na base do Método
Billings ou Método da ovulacao ou do muco cervical ou da "clara de ovo":
indica os días nos quais a mulher é fértil pelo fato de apresentar síntomas
que ela mesma pode averiguar. Pode-se dizer que a eficacia desse Método é
quase de 100%. Com efeito; o Método Billings foi experimentado por diver
sos Laboratorios, que chegaram aos seguintes resultados:1

Laboratorio* Casáis Ciclos Gravidez por falha


do Método

Billings J. Melbourne 1972 165 10560 0%


Waissmann, Tonga 1972 282 2503 0,5%
St. Cloud, U.S.A. 1974 20 1823 0,6%
Happy Family Mov., Coréia 1977-8 3806 24414 1,4%
Doraiaj, India 1978 200 2361 0%
Nadu F. Life Cent., India 1978-9 3275 39300 0%

É de notar ainda que a eficacia do Método Billings nao depende de


ser regular ou nao o ciclo da mulher. Verifica-se também a possibilidade da
aplicacao do Método por muiheres de pouca instrucfo como também por
muiheres cegas, pois ele se baseia principalmente em sensacoes de secura,
umidade e lubrificacao.

3. A pflula anticoncepcional é um dos elementos de maior uso. Vem


a ser um produto farmacéutico ingerido pela mulher para que o seu organis
mo (que funciona regularmente) passe a nao funcionar bem. Ora isto nao
pode deixar de causar serios danos á saúde, como alias reconhecem os pro-
prios médicos. As muiheres que usam pflulas, estao sujeitas a doencas e
complicacoes graves: trombo-flebites, trombose da veia hepática, varizes,
tromboses cerebrais e pulmonares, enfarte do miocardio, aumento da pres-
sao arterial, alguns tipos de tumor no f ígado, cáncer da mama, problemas
psicológicos, etc. Nao se conhece droga alguma que tenha mais efeitos

. * Estes dados foram colhidos no livro Preparacao para o Casamento e para


a Vida Familiar, p. 173 redigido por especialistas sob a coordenacSo de D.
Eusábio Osear Scheid, bispo de Sao José dos Campos (SP). Em última análi-
se, foram obtidos no POUCUNICO GEMELU, Universidade Sacro Cuore.
Roma. A obra em pauta foi publicada pela Editora Santuario, Rúa Padre
Claro Monteiro 342, 12570Aparecida (SP).

324
BRASIL, RECORDISTA DE ABORTOS 37

secundarios e contra-indicagoes do que a pflula anticoncepcional. E parado-


xalmente é a droga de maior consumo diario por parte de mulheres sadias!

Urna pesquisa efetuada na Suíca revelou que as adolescentes que to-


mam pílula para controlar a natalidade, correm o risco de cáncer da mama
seis vezes maior do que as mulhres que nunca tenham usado pílula. A mes-
ma pesquisa informa que as jovens que tomaram a pílula durante cinco ou
mais anos, ao chegarem aos 25 anos.de idade, correm o risco de cáncer cinco
vezes maior do que as jovens que nao tenham recorrido a essa prática.

Donde se vé que o respeito á natureza ou a recusa de toda intervencao


artificial contraceptiva é o único meto sadio de limitar a prole, pois preserva
a mulher de perigosas molestias físicas... E nao só de molestias físicas. Passa-
mos a ver que também de traumas psicológicos profundos e graves.

Segue-se um artigo da Dra. Carmen Gómez Lavin, psiquiatra que tra-


balha no Movimento Pro-Vida da Espanha.

4. Aborto, Liberdade e Mentira

"Há dias ouvi a psiquiatra alema Dra. Susan Standford dizer palavras
referentes á liberdade de abortar, palavras que me parecem tao ousadas
quanto eloqüentes. Assim se exprimia literalmente:

'Se há abortos, ¡sto só acontece porque mentem á mulher, fazendo-lbe


crer que o aborto propicia a liberdade da mulher. Ora nada há de mais dis
tante da verdade. É preciso dissiparessa mentira e a/udar as mulheres a com-
■ preender o efeito devastador profundo e a catástrofe psicológica que as mu
lheres sofrem quando esco/hem o aborto'.

Com estas palavras a Dra. Standford quería transmitir-nos as suas con-


viccóes de psiquiatra e também dar-nos o seu testemunho de mulher que so-
freu pessoalmente um aborto em 1975:

'Bu julgava ser correto o que diziam os meios de comunicacSo, a saber:


que eu estova escolhendo ser livre e me estava assim livrando da minha crise
de gravidez. Mentira] Escolhi a experiencia mais destruidora, devastadora e
traumatizante da minha vida... porque o aborto é a experiencia da morte'.

Um grito da socorro

Sao muitas as mulheres que fazem tal escolha por julgarem que nao
tém outra alternativa. É importante que saibamos abordar essas mulheres.

325
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 338/1990

Urna gravidez indesejada nao é necesariamente urna crianca indesejada. O


fato de urna mulher dizer: 'Quero o aborto!' é apenas um grito de socorro.
A solucáo nao consiste em sufocar tal grito com o aborto, mas em dar-lhe
urna resposta e tratar do problema.

Nossa experiencia nos ensina que — muitas vezes — a única coisa de


que necessitam, é apoio moral. Nao há nenhum trabalho científico serio
que possa dizer que o aborto nao deixa conseqüéncias psicológicas.

A mesma doutora Standford nos descreve a síndrome pos-aborto, que


ela sofreu e que muitas outras mulheres também padecem. Nessa síndrome
há um primeiro período, de seis meses aproximadamente, de desánimo, pro
fundo mau humor e tristeza destruidora e devastadora. É um fenómeno dito
de stress catastrófico, porque as mulheres nao conseguem nessa etapa — em-
bora o tentem — assumir a sua tristeza, que contrasta com o que esperavam
encontrar através do aborto: a liberdade.

Certa mulher já observou:

'Ato momento mesmo em que me pratícavam o aborto, dei-me conta


de que estava cometendo urna barbaridade... E angustiei-me peta dor física
e moral, e grítava. Urna enfermeira segurava a minha mao e quería minimi
zar o problema, estranhando a minha reacSo. Depois do aborto, enquanto eu
descansava, urna mulher ao meu lado também chorava desconsolada. Era a
mesma que, antes da intervencao, quería convencer a si mesma e a mim de
que era necessário o aborto'.

É muito frequeme que as mulheres tratem de justificar a prática dizen-


do a si mesmas que nao tinham outra opcüb e que nao podiam proceder de
outra maneira, e continuam reprimindo a sensacao de duelo interior e de
tristeza. Revivem, de vez em quando, esses momentos traumatizantes do
aborto como se os tivessem experimentado no dia anterior.

As vezes, passam-se cinco, dez ou quinze anos e aínda se recordam do


tipo de veste da enfermeira, da cor das paredes da sala e de urna multidao de
pormenores. Mesmo que, por um mecanismo de repressáo-, tentem apagá-la,
a recordacao volta e invade sua vida.

Na minha experiencia confirma-se a idéia que o Doutor Willke assim


resume:

'É mais fácil arrancar urna crianca do útero materno do que tiré-la do
pensamento de sua mSe'.

326
BRASIL, RECORDISTA DE ABORTOS 39

Depressáo de aniversario

Também nao é raro encontrá-las a imaginar como seria esse filho quan-
do nascido,... se teria cábelo louro ou castanho, se teria estatura grande ou
pequeña... É assim que se configura a depressáo de aniversario, em torno das
datas em que a enanca aniversariaria ou em torno da data do aborto.

Outro fenómeno ligado aos anteriores é a dificuldade de estabelecer


ou manter relacoes interpessoais estáveis e afetivas. Uma pesquisa seria e
bem controlada a respeito de 400 pares — casados ou nao — que tenham
realizado um aborto, revelou que 70% se separaram no ano seguinte. Vé-se
que o aborto exerce efeito deletério sobre as relacoes mutuas do homem e
da mulher e que afeta todo tipo de relacoes interpessoais. Esta atitude de
rejeigáo pode estender-se, e de fato estende-se, também aos filhos.

O estado seguinte é o da depressáo. Todos os autores estao de acordó


em dizer que a depressáo égeralmente acompanhada de profundo sentimen-
to de culpa e do desejo de reparacao.

Como já assinalei em artigo anterior, a vida da mulher nao fica indife


rente quando se quebra essa realidade feminina que, no caso, é a maternida-
de. Por isto creio que, se o aborto ocorre e foi legalizado em alguns países,
isto se deve á grande capacidade de autoilusao do ser humano, á qual se
acrescenta o fato de se ocultar a verdade á mulher.

Necessidade de apoio

Outros sintomas de pos-aborto podem aínda ser apontados: sonhos e


repetidos pesadelos, nos quais aparecem bebés. Para aliviar-se, nao é raro que
as mulheres recorram a drogas, álcool e medicamentos... Tais pessoas preci-
sam de afeto, apoio e atencao e exprimem essa necessidade por estratagemas
inconscientes.

A carencia de apoio e afeto as torna mais influenciáveis. Na falta de


defesas psicológicas para opor-se as pressoes sociais do ambiente (centros de
planejamento, meios de comunicacao, vizinhas e amigas) que as importunam
de todos os modos, sentem-se constrangidas ao aborto.

É importante que nos, psiquiatras, saibamos tratar essas mulheres. Nao


basta dizer-lhes que esquecam. Elas nao o podem. Tém que reconhecer sua
responsabilidade... e ajudar outras mijes a evitar esse mal."

Sao assaz significativas e abalizadas as ponderacoes das duas médicas


que acabam de dar seu depoimento... Passemos agora á consideracáo de um
gesto nobre e corajoso, que chamou a atencao do mundo ocidental.

327
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 338/1990

5.0 Rei Baldiríno da Bélgica...

Sabe-se que em marco de 1890 o:rei 8aldufno da Bélgica se recusou a


assinar um decreto aprovado pelas Cámaras Legislativas Belgas, que legaliza-
va o aborto no país. Para tanto recorreu a um artificio insólito, descendo do
trono por dois dias; isto o expds ao julgamento do seu povo e do mundo,
sacrificando a sua posicao de Chefe de Estado: aceitou que o declarassem
"impedido de reinar"; urna deputada o acusou de "nao querer servir ao
seu povo". Nao obstante, Balduíno quis proceder de acordó com a sua cons-
ciéncia de fiel católico.

Tal gesto merece relevo e aplausos, pois significou fidelidade aos valo
res transcendentais, aos quais se hao de subordinar os bens passageiros e as
honras desta vida. O rei nao quis conformar-se á vontade dos parlamentares
tidos como representantes do povo, porque via nisso — com raza o — urna
traicáo á Leí de Deus. A democracia nao exige que um Chefe de Estado se
dobre á vontade da urna maioria de legisladores, quando estes negam os valo
res superiores da vida, da pessoa humana e da sociedade. A verdade e o bem
nao se definem por maioria de votos; sao bens objetivos, que subsistem em si
mesmos, como tais, independentemenfe do bel-prazer dos homens.

O rei usou do seu direito de objecab de consciéncia, mesmo que isto


nao seja habitual entre os monarcas e mesmo que os juristas tenham sentido
os embaracos da casuística que assim se colocava. O gesto do monarca falou
alto, ás consciéncias dos cidadáos belgas e ás de muitos outros homens; per-
turbou, incomodou... Embora nao ten ha podido evitar a promulgacao do
aborto, ficará para a posteridade como um referencial da auténtica escala de
valores. É um testemunho eloqüente para os cristaos em geral e, mais ampia-
mente, para todos os homens de boa vontade: dentro do utilitarismo prag
mático de nossos dias, avivou a consciéncia de que existem bens aparente
mente improdutivos pelos quais vale a pena sacrificar-se e morrer.

Seguem-se dois documentos relativos ao assunto:

5.1. Carta do Rai Balduíno ao Prirrwiro-Ministro (30/03/90)

"Senhor Primeiro-Minñtro,

Nos últimos tempos tive a ocasiSo da exprimir a varios senhores polí


ticos a minha grande preocupaca"o devida ao projeto de lei.sobre a interrup-
cfo da gravidez.

Esn texto acaba de ser votado na Cámara depois de o te&sido no Senado.

328
BRASIL. RECORDISTA DE ABORTOS 41

Tal projeto de le¡ suscita etn mim utn grave problema de consdinda.
Com efeito; receio que seja interpretado por grande parte da populacáb co
mo autorizado para abortar durante as doze primeiras semanas após a con-
ceicab.

Nutro serias apreensoes tambám a respe'rto da disposicáo que prevé


que o aborto podará ser praticado após as doze primeiras semanas se o nasd-
turo é atetado por 'molestia de particular gravidade, reconhecida como incu-
rável no momento do diagnóstico'. Já se pos a pergunta: como será entendi
da essa mensagem palas pessoas deficientes e seus familiares?

Em resumo, receio que esse projeto acárrate urna baixa sensível do


respeito pela vida daque(es que sao os mais fracos na sodedade. V. Ex. cia
há de compreender, pois, por que ná"o quero ser associado a essa lei.

Se eu assinasse tal projeto de lei na qualidade de terceiro ramo do Po


der Legislativo, demonstrando assim estar de acordó com ele, creio que eu
inevitavelmente assumiria urna certa corresponsabilidade. Ora nao posso fa-
zer isso pelos motivos atrás expostos.

Sei que, procedendo desta maneira, faco urna opcfo espinhosa e corro
o risco de nao ser compreendido por bom numero de concidadábs. Mas esta
ó a única via que em consdéncia me é lícito seguir. A quem se espantasse pe
la minha dectsao, eu perguntaria: 'Seria normal que eu seja o único ddadab
belga obrigado a agir contra a sua consdéncia num setor essencial? A
liberdade de consdéncia vale para todos, exceto para o Rei?...

Desojo terminar estas linhas enfatizando dois pontos importantes no


plano humano. A minha objecab.de consddnda ná*o implica julgamento so
bre as pessoas favoráveis ao projeto de lei. De outro lado, a minha atitude
nao significa que eu seja ¡nsensfvel á situacáb multo difícil e, por vezes, dra
mática na qual se encontram multas mulhares.

Sr. Primeiro-Mintstro, peco a V. Ex.da qua comunique, como julgar


melhor, o teor desta carta ao Governo e ao Parlamento".

5.2. Declaracab dos Bispos da Bélgica

"Após o Senado, a Cámara dos Representantes votou untar lei que li


bera, quase sem Omites, a ¡nterrupcffo voluntaría da gravidez. Diante da
importancia deste fato, desojamos dizer mais urna vez e com firmeza nossa
desaprovacab e exprimir nossa viva preocupacáo com urna sodedade qua re-
nunda a proteger jurídicamente o direito á existénda do mais fraco ou do
nasdturo.

329
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 338/1990

Numa época em que os direitos do homem e da crianca chamam a


atencSo, como se pode compreender que um poder Legislativo chagüe, em
nome da liberdade, a sacrificar o direito á vida de seres indefesos?

Mais: tratando-se de protecab da vida humana, pode-se correr o risco


de criar confusao entre o que á legal (o que a lei autoriza) e o que é moral
(o que a consciéncia exige). Para quem ouve a voz de sua consciéncia, o
aborta mentó fica sendo algo fundamentalmente mau, com o qual a ninguém
á lícito ser conivente".

Os textos sao por si suficientemente significativos.

CENTRO DE FORMACÁO PARA APOSTÓLOS


"MADRE TERESA DE CALCUTA"
A Igreja vive para Evangelizar. Esta é sua missáo, sua esséncia e sua
razao de ser.

Em decorréncia desta missao que o Senhor Jesús confiou a todo o Po-


vo de Deus, foi criado no inicio deste ano, dentro do Projeto Evangelizacao
2000, o Centro de Formacao para Apostólos "Madre Teresa de Calcuta",
com sede em Brasília-OF, cujo objetivo é colaborar no crescimento espiri
tual, doutrinal, pastoral e teológico dos evangelizadores, capacitándoos me-
Ihor ñas áreas teórica e prática. O CEFA é um órgao que presta seus serví-
pos as Escolas de Formacao de Evangelizadores do Projeto Evangelizacao
2000, e aos diversos movimentos e associacoes da Igreja que estejam traba-
Ihando com formacao, através de varios cursos a serem ministrados durante
os meses de Julho a Agosto e Janeiro a Fevereiro.

Sua meta: Oferecer um presente a Jesús em seu aniversario de 2000


anos: Um povo Evangelizados

Endereco:SCS Edf. Citibank, Sala 206


Brasilia-DR CEP.: 70.300
Telefones: (061) 226-7082 e 226-7003
Fax-simile:(061í 226-7316

A formacao nao é um privilegio de alguns, mas sim um direito e um


dever de todos (C.L. 63).

330
Na Igreja dehoje:

Oficinas de Oragáo: Que Sao?

Em sintese: As Oficinas de Oracio, estm tu radas pelo Pe. Freí Ignacio


Lárrañaga, tencionam ensinar aos cristaos os meios de progredir na vida de
oraqio. Fazem-no através de um roteiro de quinze sessoes, estritamente
programadas, que leva o discípulo nao somente á prátíca de oracio rriais
profunda e frutuosa, mas também é irradiacao dessa vida espiritual no apos
tolado, em consonancia com a Igreja. Tém sido de grande utilidade para nu
merosas psssoas, assim beneficiadas pela experiencia e a sabedoria do Pe.
Lárrañaga. — Apenas é de notar que no roteiro das Oficinas se prescrevem
exercfcios fisiológicos {de respiracao, relaxamento corporal, esvaziamento
interior...), que podem ser válidos desde que nao se Ihes atríbua importancia
exagerada nem se identifique o bem-estar psicofísico assim obtido com a
própría oracio. (é o que lembra a Congregado para a Dou trina da Fé em
sua Instrucio de 15/10/1989).

As Oficinas de Oracao vém a ser urna instituicao nova, cujo nome


mesmo chama a atencao, provocando os interesses de mu ¡tos cristaos. 0
seu fundador e orientador é o Pe. Inácio Lárrañaga, capuchinho espanhol,
que tem percorrido a América Latina pregando retiros e dando cursos de
espiritualidade com grande proveito para os participantes. Como resultado
de sua prolongada experiencia, concebeu urna metodología que ajude o
cristáo a aprofundar-se e aperfeicoar-se na vida de oracao. É o que se chama
"Oficina de OracSo". — Passamos a ex por as grandes linhas dessa aprendí-
zagem.

1. Que safo? Que finalidade tém?

1. A Oficina de Oracáo é um método para aprender a orar. Sem dúvi-


da, a oracao é dom de Deus, fruto da ácao do Espirito Santo no homem (cf.
Rm 8, 26). Mas isto nao dispensa o cristáo de se mobilizar para poder entre-
ter-se com Deus. A experiencia ensina que muitas pessoas tém dificuldade
para se recolher e entrar em diálogo com o Deus invisível; as distracoes so-

331
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 338/1990

brevém e sobrepujam freqüentemente aquele que tenta orar. É por isto que
existem métodos para suscitar o encontró do homem com o Senhor, facili
tando-Ihe a concentracao e o aprofundamento.

Ora a Oficina de Oracáo tenciona atender a este objetivo. A aprendiza-


.gem ai nao é teórica como num curso, mas prática, como numa oficina. E,
como numa oficina, aprende-se trabaIhando e trabalha-se aprendendo.

"Na Oficina de Oracao apréndese a entrar paulatinamente em relacao


pessoal com o Senhor, a estabelecer urna corrente atenciosa e afetíva com
um TU na fé e no amor. E isto, desde os primeiros passos até a oracSo de
contemplacSo, passando por urna variada gama de modos de relacionarse
com Deus, de maneira que cada assistente, ao final, escolha e fique com um
esquema prático de oracSo que melhorse adapte ás suas condicoes pessoais"
fOf ¡ciñas de Oracáo. Manual para os Guias, pp. 7s, doravante Manual).

2. A oficina se distingue por

— rigorosa pontualidade no cumprimento dos horarios;

— seriedade, pois se trata de algo muito importante; daí nao se permi


tí re m elementos que lembrem reunioes sociais, como refrescos, café, biscoi-
tos...;

— rigor. 0 Guia da Oficina deve seguir est rita mente o que Ihe é prescri
to no Manual, sem interpolacoes ou alteracoes subjetivas.

3. A Oficina de Oracao consta de quinze sessoes semanais, cada qual


das quais dura duas horas.

O número ideal de participantes fica entre 15 e 25 pessoas; somente


em casos especiáis tal número pederá ser maior ou menor.

Cada Oficina é dirigida por um Guia (eventualmente por dois), cuja


funcao consiste em por em prática, ponto por ponto, o espirito e o conteú-
do do Manual.

Á frente dos Guias há urna Equipe Coordenadora; de ámbito regional,


cuja funcao é autorizar, controlar e organizar a marcha das Oficinas. Ácima
desta Equipe há um Responsável Nacional em cada país. E á frente dos Res-
ponsáveis Nacionais há um Responsável Internacional, cujo papel é animar a
realizacao das Oficinas e zelar pela fecundidade espiritual.

4. As Oficinas de Oracao nao pretendem formar grupos estáveis ou no-

332
OFICINAS DE ORACÁO 45

vas comunidades dentro da igreja; também nao constituem um movimento


eclesial. Apenas oferecem um servico provisorio, limitado e aberto: ensinar a
orar. Qualquer cristao pode candidatar-se a tal aprendizagem, desde que pre-
encha um único pré-requisito:o desejo sincero de entrar em retacao cada vez
mais íntima com Deus. Terminadas as quinze sessoes de aprendizagem, o
crisíao procurará exercer sua vida de piedade e apostolado, comprometido
com sua paróquia ou sua diocese.

5. As Oficinas de Oracao tém caráter laical. Isto quer dizer que seus
destinatarios ¡mediatos sao os leigos, embora comunidades religiosas e Novi
ciados tenham sido e sejam também beneficiados por elas.

A maioria dos Guias sao leigos — o que nao exclui haja também sacer
dotes e Religiosas nesta funcao. As Equipes de Coordenacao sao exclusiva
mente integradas por leigos.

6. Ainda é de notar que as Oficinas cultivam fielmente o sentido de


Igreja. Querem prestar um servico verdaderamente eclesial em consonancia
com os Bispos e com o Santo Padre o Papa.

Antes da instalacao de urna Oficina, a Equipe responsável deve fazer-se


presente ao Bispo local: informe-o sobre a natureza e o propósito das Ofici
nas, entregando-lhe todo o material que nelas se usa, e peca-lhe sua autoriza-
cao e suas béncaos para iniciar a tarefa. Também os párocos merecem todo o
respeito das Equipes de coordenado e dos Guias; estes nao de os por a par
do andamento dos trabalhos do grupo e apresentar-lhes os novos apostólos
daí oriundos.

Todavia as Oficinas nfo necessitam de Assessor eclesiástico propia


mente dito, pois o roteiro de suas reunioes já é definido por um Manual pre
ciso e bem orientado; além do qué, a presenca de um sacerdote pode inibir
os leigos em sua criatividade e dinámica.

Examinemos agora algo relativo a

2. As Sessoes das Oficinas

0 temario das sessoes é o seguinte:

1a sessao: Amor eterno e gratuito de Deus


2a sessao: Jesús nos revela o Pai
3? sessao: Peregrinos da Fé
4a sessao: Maria, Mulher de Fé
5a sessao: Pelo Abandono á Paz

333
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 338/1990

6? sessao: Reconciliacao Integral


7a sessao: Convivencia Fraterna
8a sessao: Encontró com Deus
9a sessao: Cristo como Centro
10? sessao: Oracao de Contemplacao
11f sessao: Oracao e Vida
12a sessao: Oracao pelos Pobres
13? sessao: Vida de Fraternidade
14? sessao: Missao Apostólica
15? sessáo: Deserto

Cada sessao consta de leitura bíblica, oracoes, ensinamento, imposicao


de tarefa para casa, revisa o do trabalho de casa... Isto tudo com a finalidade
de treinar os discípulos na vida de oracao. Esta, em última análise, é sempre
dom do Espirito Santo; requer, porém, disponibilidade e docilidade da parte
do crístSo. Inegavelmente o Método tem prodimdo frutos positivos, levando
muitos fiéis a um reafervoramento de sua vida ou a um valioso incremento
de espiritualidade.

A única observacao que se poderia fazer a respeito, refere-se aos exer-


cícios físicos que o Guia deve propor aos discípulos em alguns momentos
do roteiro. Assim, por exemplo, logo na primeira sessao:

"O Guia Ihes diz bem devagar e com pausas: 'Acomodem-se bem em
seus lugares..., sentem-se bem sentados..., tranquilizem-se..., soltem os om-
bros..., os bracos..., as pemas..., concéntrenle no coracao..., so/tem-no...,
concentrem-se nos seus pulmoes..., soltem-nos..., respiren) fundo..., tran
quilamente'. Tudo isto durante uns dois minutos" (Manual p. 50).

Na sétima sessao prevéem-se "exercfcios de respiracao abdominal" por


dez minutos (p. 95 do Manual).

Na oitava sessao os cursistas devem "assumir urna posicao de oracao:


o corpo reto», as máos sobre os joelhos, se possível com as palmas para ci
ma, se possfvel com os olhos semi-abertos,... soltem os ombros, os bracos, as
ma"os._, soltem o coracao, os pulmoes..., soltem de urna vez todo o seu
corpo,-. deixem o cerebro vazio como se fora de voces nao houvesse nada...,
como se dentro de voces nao houvesse nada" (Manual, p. 102).

Na nona sessao algo de semelhame é prescrito (Manual, p. 110).

A Instrucao da Congregacao para a Doutrina da Fé sobre a Meditacao


Crista (cf. PR 335/1990, pp. 156-167) reconhece o valor dos Métodos psico-
f ísicos e corporais, ao dizer:

334
OFICINAS DE ORAQÁO 47

"A experiencia humana mostra que a posicao e a atitude do corpo nao


deixam de ter influencia sobre o recolhimento e a diiposicao do espirito.
Este é um dado ao qual certos autores espirituais do Oriente e do Ocidente
cristao prestaram atencáo^As suas reflexSes, ao mesmo tempo que apresen-
tam pontos comuns com os métodos orientáis, nao cristSos, de meditacao,
evitam os exageros ou as perspectivas unilaterais, que hoje em dia sio muí-
tas vezes propostas a pessoas insuficientemente preparadas" (n? 26).

Mais adiante o texto fala do perigo de que tais exercícios psicofísicos


"degenerem em culto do corpo e levem a identificar subrepticiamente todas
as suas sensacoes com experiencias espirituais" (n? 27).

Por conseguinte, nada há a objetar á prática de exerci'cios f fsicos como


sustentáculos ou subsidios para a vida de oracao, desde que nao se exagere o
significado dos mesmos, nem se confunda o bem-estar psicofísico assim obti-
do com a própria vida de oracao. Existem pessoas ás quais esses recursos téc
nicos podem ser úteis, como há também aquetas que os dispensam totalmente.

Com estas observacoes nao queremos depreciar as Oficinas de Oracao


nem Ihes fazer restricoes. Apenas, por honestidade de consciéncia, pareceu-
nos oportuno lembrar o que a respeito de determinado aspecto das mesmas
observa a Congregacao para a Doutrina da Fé.
Estéváb Bettertcourt O.S.B.

Livro em Estante
O Evangelho de SSo Joáo. Análise Lingüistica e Comentario Exegéti-
co, por Juan Mateos e Juan Barreto. ColecSo "Grande Comentario Bíblico".
- Ed. Paulinas, Sao Paulo 1989, 160 x 240 mm, 923 pp.

Os autores apresentam um comentario completo do quarto Evangelho,


partindo da premissa (exposta logo ás pp. 5-9) de que o Evangelho segundo
JoSo "nSo é biografía de Jesús, nem sequer resumo de sua vida, mas ínter-
pretacSo de sua pessoa e obra, feita por urna comúnidade no seio de sua ex
periencia de fé" (p. 6). Na base desta premissa, "o leitor deyerá interpretar
os fatos, que encentra no texto, cuja hjstoricidade nSo se pré-Julga, atendo-
se á finalidade do Evangelho, ouseja, como linguagem teológica" (p.6).

No final da obra, os autores dizem mais: "O Evangelho nSo pretende


ser mero ensinamento doutrinal ou a exposicao de urna ideología,... É, antes
de tudo, o testemunho de urna comúnidade que se viu transformada pelo se-

335
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 338/1990

guimenio de Jesús, ou seja, por urna experiencia de amor, através da qual


descobriu que Jesús é o Messias, o FUho de Deus (20, 31).

A experiencia é intransferivel. O testemunho apenas pretende convi-


■ dar ao encontró com Jesús, que produzirá experiencia semelhante, na qual
se aceita o seu Espirito e se pratíca o amor" (p. 888).

Em suma, o quarto Evangelho seria a formulacao da experiencia subje


tiva de urna comúnidade que aceitou Jesús como fator transformador de sua
vida. O leitornáó teña que procurar fatos históricos ñas páginas do Evange
lho, mas o contato com a experiencia dos antepassadospara que ele, leitor,
faca hoje urna semelhante experiencia de Jesús, platicando o amor.

Para os autores, é histórica a pessoa de Jesús, que morreu condenado


na Cruz pelas autoridades do seu tempo (cf. p. 889). Todavía os autores pa-
recem nada mais saber de seguro a respeito de Jesús nem sepreocupam com
os feitos vividos pelo Senhor. O que Ihes importa, é "a capacidade transfor
madora que deriva daquele conhecimento (= a morte de Jesús)" fp. 889).

Ora tais concepcdes sao as do protestante racionalista Rudolf Bult-


mann (j 1974). Julga este que nada podemos saber sobre a vida histórica de
Jesús nem se interessa por isto; mas vé no Evangelho o convite a fazermos a
experiencia dos antigos cristSos, passando de urna vida nao auténtica para
urna vida auténtica. Esta maneira de entender o quarto Evangelho está ba-
seada náb só em premissas filosóficas racionalistas, mas também no.existen-
cialismo de Martín Heidegger, que nega a possibilidade de conhecimentos
objetivos, retos, fiéis na área da historia bíblica, e tudo reduz a narracoes
subjetivas.

Ora tal nao é a posicib católica. Alias nao apenas a fé, mas também
urna respeitável corrente de exegetas (católicos e nSo católicos) admitem a
historicidade do quarto Evangelho, sem negar o seu alto valor teológico. Sao
JoSo nao elaborou urna sfntese doutrinaría sob capa de narrativas históricas,
mas descreveu fatos históricos, pondo em relevo seu profundo significado
teológico. A topografía e a cronología joanéias sao assaz precisas, mais alias
do que as dos Sinóticos; além do qué, as escavacoes arqueológicas tém con
firmado varias indicacBes geográficas do Evangelho segundo S. Joao.

A leitura do livro de Mateos-Barreto pode sermuito interessante, mas


já nao pSe o leitor em contato com o Evangelista e suas intencoes, e sim
com a interpretado subjetiva, preconcebida, que ao texto sagrado quiseram
dar os dois autores em pauta. O enfoque filosófico subjetivo adotado por
Mateos e Barreto faz que o livro náb possa ser tido como livro de formacSo
e orientacSo. E.B.

336
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Leáb XIII a Joáb Paulo II) por María de Lourdes G. Oliveira. 107 p. Edpró-
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Emilio Jordán OSB. Instituto Social do Morumbi SP Cr$ 12500
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humanos e sobrenatural. Dom Emilio Jordán OSB. Instituto Social do Morumbi
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traducao e notas de D. Odilon Moura OSB. Ed. Presenca. 1981.180 p. Cr$ 500,00
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