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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENfTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propoe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
W_ vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
SUMARIO

30 ANOS!

Homossexualismo: tendencias modernas

"A Trindade, a Sociedade e a LibertacáV

Vaticano alterou texto de Joáo XXIII?

Pena de Morte?

O surto da Igreja na Corréia

ANO XXVII - MARQO - 1987 298


PERGUNTE E RESPONDEREMOS MARCO- 1987
Publicacao mensal N?298

SUMARIO
Diretor-Responsável:

Estévao Bettencourt OSB 30 ANOS! 97


Autor e Redator de toda a materia
publicada neste periódico Carta da Santa Sé:
Diretor-Administrador HOMOSSESUALISMO: TENDENCIAS
D. Hildebrando P. Martins OSB MODERNAS 98

Um livro de ideología:
Administracao e distribuido: "A TRINDADE, A SOCIEDADE E A
Edicóes Lumen Christi LIBERTACÁO" 111
Dom Gerardo, 40-59 andar. S/501
Tel.r{021) 291 7122 Furo jornal fstico:
Caixa postal 2666 VATICANO ALTEROU TEXTO DE
20001 - Rio de Janeiro - RJ JOÁO XXIII? 123

Sim ou Nao á
PENA DE MORTE? 133
"MA»QUiS-SARAIVA-
IIMIItfCIMlMrOI AtAHCOt 1 A.
fti>nn*wfi»rii A acao do Espirito:
EHktoMSt-IOiBO
O SURTO DA IGREJA NA COREIA 140
-m-twe-iu

LIVROS EM ESTANTE 143

ASSINATURA EM 1987:
NO PRÓXIMO NÚMERO
A partir de Janeiro de 1987 Cz$ 200,00
Número avulso: CzS 20,00 299 - Abril - 1987

Queira depositar a importancia no Banco Ateísmo e Ciencia. - Os "mártires" da


do Brasil para crédito na Conta Correóte América Latina - Carta de um campo de Con
n° 0031 304-1 em nome do Mosteiro de cent rafáo. - Teresa Neumann: um aniversa
Sao Bento do Rio de Janeiro, pagável na rio. — Svetlana Stalin: a procura de Deus. - Voga:
Agenda da Praca Mauá (n? 0435) ou en queé?
viar VALE POSTAL pagável ra Agencia COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA
Central dos Correios do Rio de Janeiro.

RENOVÉ QUANTO ANTES COMUNIQUE NOS OUALüUf H


A SUA ASSINATURA MUDANQA DE ENDEHEpO
30 Anos!
Em mar<?o de 1957 apareceu o primeiro fascfculo de "PERGUNTE E
RESPONDEREMOS"; era um apéndice da "Revista Gregoriana", que as-
si m quería atender a seus leitores. Cinco meses depois o apéndice se tor-
nou um periódico independente e mensal, com difusáo crescente. Em
1972/3 a Direcáo desta revista tentou mudar o seu título, substituindo-o
por outro, mais breve. Todavia o costume de citar PR estava tao arraiga
do éntreos leitoresqueestes, em maioria, se mostraram contrarios a troca.
Visto que o ano de 1957 foi de experiencia, só comecamos a contar
anos e fascículos de PR a partir de Janeiro de 1958. Além disto, nos anos
de 1965 e 66 a revista entrou em recesso, só voltando a circular em 1S67.
Eis por que estamos atualmente contando o ano 28, apesar de termos
comecado em 1957.
Ao comemorar tal aniversario, nao podemos deixar de expressar
profundas gracas a Deus, o Doador de todos os bens, que tem sustentado
este veículo de Suá Palavra e a Quem pedimos a graca de sempre servir
bem a Boa Causa. Nossa gratidSo se estende aos amigos de Deus: em
primeiro lugar, a IrmS María-Rosa Porto O.P., grande animadora deste
trabalho e antiga Diretora da "Revista Gregoriana"; em seguida, confor
me a ordem cronológica, recordamos com muito carinho o Sr. José Lobo
de Farías, os casáis Ruth e Herbert Mesquisa, Ivete e Gabriel Teixeira, o
Sr. Osmar Marques Felippe, o Deputado Alvaro Valle,D. Abadee a comu-
nidade do Mosteíro de SSo Bento do Rio, além de muitos outros, cujos
nomes estfio inscritos no Livro da Vida (cf. Fl 4,3). A todos estes estará
reservada a mercd do servidor bom e fiel (cf. Mt 25,21).
Num olhar prospectivo professamos nosso entusiasmo pela Boa-
Nova do Senhor Jesús, que salvou e transformou o mundo greco-roma
no decadente e que é apta a salvar também o mundo presente, pois ela
traz em si a forca criadora e renovadora da Palavra de Deus. Alias, ela
tem em seu favor tfio-somente o fulgor e o atrativo da Verdade; e isto
basta, desde que os cristáos queiram viver auténticamente a sua fé, como
sal da térra e luz do mundo (cf. Mt 5,13s). É S. Agostinho quem nos diz:
"Exista urna certa votúpia do coragSo-. Se o poeta pode dlzer: "Cada
qual 6 atraído por sua volúpia', nBo pela necessidade, mas pela volúpia, nao
pela obrigacéo, mas pelo deleite, quanto mais nos devemos dizer que todo
homem é atraído por Cristo, pois todos se deleitam com a verdade, com a
bem-aventuranca, com a justíca. com a vida eterna, que sao o próprio Cristo.
Cv será que o como tem as suas volúplas e a alma nao as tem?
Apresanta-me alguém que ame, e compreenderé o que digo. Apresen-
ta-me alguém que tenha anseios, que tenha sede enquanto peregrina neste
deserto..., alguém que suspire pela fonte da patria eterna... Apresenta-me um
tal e sabara o que digo. Se, porém, falo a alguém qua soja frió, nSo o enten
deré...
(continua na pág. 132)

97
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
ANO XXVIII - N? 298 - Margo de 1987

Carta da Santa Sé

Homossexualismo: tendencias modernas

A Congregacao para a Doutrina da Fé publicou em outubro pp. urna


Carta sobre o homossexualismo, tendo em vista modernas tendencias a legi
timar tal plática. Para tacOitar a te/tora de tal texto, que val adianto transcrito,
apresentamos as suas principáis linhas:

1) É notoria a insistencia dos que desejam legitimar o homossexualis


mo. O caso Cunan, recém-ocom'do, o atesta bem; cf. PR. 294/1986, p. 498.

2) A prática homossexual continua sendo tachada de antinatural e anH-


bfbiica. A tendencia, porém, ao homossexuaSsmo nSo 6, como tal, pecamino
sa, se a pessoa nSo Ihe dá o seu consentimento. A distincéo entre sentir
e consentir 6 clássica em Teología Moral; alguém pode sentir fmpetos de raí
va, mas, se nao Ihes censonte, nao está pecando.

3) Os homossexuais seo chamados a guardar a castidade -o que po


de ser emeiñeante. Aceita, porém, em uniSo com o sacrificio de Cristo, esta
renuncia pode tomarse tonto de paz e de alegría interior.

4) Nao seja a pessoa humana considerada apenas segundo a sua di-


mensSo sexuaL Há varios nfveis de reaSzacBo da personaSdade, que os ho
mossexuais podem plenamente atingir.

5) Queiram os pastores colaborar zelosamento na observancia dos


principios da Moni e no acatamento ao Magisterio da Igreja, ao mesmo lempo
que exercem seu zeto pastoral em relagSo a todos os homens.

98
HOMOSSEXUALISMO

CARTA AOS BISPOS DA IGREJA CATÓLICA


SOBRE O ATENDIMIENTO PASTORAL DAS
PESSOAS HOMOSSEXUAIS

1. O problema1

1. O problema do homossexualismo e do jubo ético acerca dos


atos homossexuais tornou-se cada vez mais objeto de debate público,
mesmo em ambientes católicos. Em tal discussfio, prapoem-se muitas
vezes argumentos e exprimem-se posicoes nfio conformes com o ensi-
namento da Igreja Católica, que suscitam justa preocupado em todos
aqueles que se dedicam ao ministerio pastoral. Por esse motivo esta
Congregado julga o problema t3o grave e difundido que justifica a pre
sente Carta sobre o atendimento pastoral as pessoas homossexuais.
Carta dirigida a todos os Bispos da Igreja Católica.

2. Naturalmente, nfio se pretende elaborar neste texto um tratado


exaustivo sobre problema tfio complexo. Prefere-se concentrar a atengao
no contexto especifico da perspectiva moral católica. Esta encontré apoio
também nos resultados seguros das ciencias humanas, as quais, também,
possuem objeto e método que Ihes sao próprios e gozam de legitima
autonomía.

A posicSo da moral católica baseia-se na razfio humana iluminada


pela fé e guiada conscientemente pela intencSo de fazer a vontade de
Oeus, nosso Pai. Oeste forma, a Igreja está em condicóes nfio somente. de
poder aprender das descobertas científicas, mas também de transcender-
Ihes o horizonte; ela tem a certeza de que a sua visfio mais completa res-
peita a complexa realidade da pessoa humana que, ñas suas dimensoes
espiritual e corpórea, foi criada por Deus e, por sua graca, é chamada a
ser herdeira da vida etema.

Somente em tal contexto poder-se-á compreender com clareza em


que sentido o fenómeno do homossexualismo, em suas múltiplas dimen
soes e com seus efeitos sobre a sociedade e sobre a vida eclesial, é um
problema que afeta propriamente a preocupacfio pastoral da Igreja. Por
isto mesmo, requer-se dos seus ministros atento estudo, empenho con
creto e reflexSo honesta, teológicamente equilibrada.

99
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

2. Mal-entendidos

3. Já na "Declaracáo acerca de algumas questóes de ética sexual"


de 29 de dezembro de 1975, a Congregado para a Doutrina da Fé tratava
explícitamente deste problema. Naquela Declarado, sal¡entava-se o de-
ver de procurar compreender a condicao homossexual e se observava
que a cuipabilidade dos atos homossexuais deve ser julgada com pru
dencia. Ao mesmo tempo, a Congregacáo levava em considera;3o a dis-
tincSo feita comumente entre a condicSo ou tendencia homossexual, de
um lado, e, do outro, os atos homossexuais. Estes últimos eram descritos
como atos que, privados da sua finalidade essenciat e indispensável, sSo
"intrínsecamente desordenados" e, como tais, nao podem ser aprovados
em nenhum caso (cf. n. 8, parágr.4).

Entretanto, na discussSo que se seguiu a publicacáo da Declaracáo


foram propostas interpretacóes excessivamente benévolas da condicao
homossexual, tanto que houve quem chegasse a deflni-la indiferente ou
até mesmo boa. Ao invés, é necessário precisar que a particular inclina-
cáo da pessoa homossexual, embora n5o seja em si mesma um pecado,
constituí, no entanto, urna tendencia, mais ou menos acentuada, para um
comportamento intrínsecamente mau do ponto de vista moral. Por este
motivo, a própria inclinacSo deve ser considerada como objetivamente
desordenada.

Aqueles que se encontram em tal condicao deveriam, portanto, ser


objeto de urna particular solicitude pastoral, para nao serem levados a
crer que a realizacáo concreta de tal tendencia ñas relacóes homossexuais
seja urna opcáo moralmente aceitável.

3. Causas dos equívocos

4. Urna das dimensóes essenciais de autentico atendimento pas


toral é a identificacáo das causas que provocaram confusáo quanto ao
ensinamento da Igreja. Entre elas, deve-se assinalar urna nova exegese
da Sagrada Escritura, segundo a qual a Biblia ou nao teña nada a dizer
acerca do problema do homossexualismo, ou até mesmo tácitamente o
aprovaria, ou entdo ofereceria prescricóes moráis táo condicionadas cul
tural e históricamente, que afinal nao mais poderiam ser aplicadas á vida
contemporánea. Tais opinioes, gravemente erróneas e desorientadoras,
requerem, portanto, especial vigilancia.

5. É verdade que a literatura bíblica é tributaria das varias épocas


ñas quais foi escrita, com relacao a grande parte dos seus modelos de
pensamento e de expressáo (cf. De¡ Verbum, 12). Cortamente, a Igreja de

100
HOMOSSEXUALISMO

hoje proclama o Evangelho a um mundo bastante diferente do mundo


antigo. Por outro lado, o mundo no qual fo¡ escrito o Novo Testamento
estava já consideravelmente mudado, por exemplo, quanto a situado na
qual foram escritas ou redigidas as Sagradas Escrituras do povo judeu.

Deve-se ressaltar todavia que, embora no contexto de urna diversi-


dade notável, existe evidente coeréncia no interior das mesmas Escritu
ras, no que diz respeito ao comportamento homossexual. Por isto, a
doutrina da Igreja acerca deste ponto nao se baseia apenas em frases
¡soladas, das quais se podem deduzir argumentares teológicas discutl-
veis, e sim no sólido fundamento de um testemunho bfblico constante. A
atual comunidade de fé, em ininterrupta continuidade com as comunida
des judaicas e cristas no seio das quais foram redigidas as antigás Escri
turas, continua a alimentar-se com aquetas mesmas Escrituras e com o
Espirito de Verdade do qual elas sao a Palavra. é igualmente essencial
reconhecer que os textos sagrados nSo sSo realmente compreendidos
quando interpretados de um modo que contradiz a vigente Tradicáo da
Igreja. Para ser correta, a interpretado da Escritura deve estar em acordó
efetivo com esta Tradicáo.

A este respeito, assim se exprime o Concilio Vaticano II: "É claro


que a Sagrada Tradicáo, a Sagrada Escritura e o Magisterio da Igreja, por
sapientíssima disposigáo de Deus, estáo entre si táo relacionados e uni
dos, que nao podem subsistir indeperidentemente, e todos juntos, se
gundo o modo próprio de cada um, sob a agáo de um só Espirito Santo,
contribuem eficazmente para a salvacáo das almas" (Dei Verbum, 10). Á
luz dessas afirmacóes aqui se delineia sucintamente o ensinamento da
Biblia sobre a materia.

4. A doutrina bíblica

6. A teología da criafáo, presente no livro do Génesis, fornece o


ponto de vista fundamental para a adequada compreensáo dos proble
mas suscitados pelo homossexualismo. Na sua infinita sabedoria e em
seu amor onipotente, Deus chama S existencia toda a críacáo, como re-
flexo da sua bondade. Cria o homem á sua imagem e semelhanca, como
varSo e mulher. Por isto mesmo, os seres humanos sao criaturas de Deus
chamadas a refletir, na complementariedade dos sexos, a unidade interna
do Criador. Eles realizam esta funcáo, de modo singular, quando, me
diante a reciproca doapSo esponsal, cooperam com Deus na transmissSo
da vida.

O capitulo 3 do Génesis mostra como esta verdade acerca da pes-


soa humana como imagem de Deus foi obscurecida pelo pecado original.
Daí provém inevitavelmente urna perda da consciéncia acerca do caráter

101
6 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

de alianca, próprio da uniSo que as pessoas humanas mantinham com


Oeus e entre sí. Embora o corpo humano conserve aínda o seu "signifi
cado esponsal", este, agora, é obscurecido pelo pecado. Assim, o dete-
ríoramento devido ao pecado continua a desenvolver-se na historia dos
homens de Sodoma (cf. Gen. 19,1-11). NSo pode haver dúvidas quanto
ao julgamento moral af expresso contra as relacfies homossexuais. Em
Levitico 18,22 e 20,13, quando se indicam as condicfies necessárias para
se pertencer ao povo eleito, o Autor excluí do povo de Deus os que tém
um comportamento homossexual.

Tendo como tela de fundo esta legislacSo teocrática, S§o Paulo de-
senvolve urna perspectiva escatológica, dentro da qual repropóe a mes-
ma doutrína, elencando também entre aqueles que nSo entrarSo no reino
de Deus os que agem como homossexuais (cf. ICor 6,9). Em outra pas-
sagem.do seu epistolario, baseando-se ñas tradicSes moráis dos seus an-
cestrais, mas colocando-se no novo contexto do confronto entre o cris
tianismo e a sodedade pagS do seu tempo, ele apresenta o comporta-
mentó homossexual como um exemplo da cegueira em que caiu a hu-
manidade. Tomando o lugar da harmonía original entre Criador e cria
tura, o grave desvio da idolatría levou a todo tipo de excessos no campo
moral. Sio Paulo aponta o exemplo mais claro desta desarmonia exata-
mente ñas relacóes homossexuais (cf. Rom. 1,18-32). Enfim, em perfeita
continuidade com o ensinamento bíblico, na lista dos que agem contra
riamente á s3 doutrina, sao mencionados explicitamente como pecadores
aqueles que praticam atos homossexuais (cf. ITim 1,10).

5. Matrimonio e homasssxualidsde

7. A Igreja, obediente ao Senhor que a fundou e a enriqueceu com


a dádiva da vida sacramental, celebra no sacramento do matrimonio o
designio divino da uniSo do homem e da mulher, uniSo de amor e capaz
de dar a vida. Somonte na relacio conjugal o uso da faculdade sexual
pode ser moralmente reto. Portento, urna pessoa que se comporta de
modo homossexual, age ¡moralmente.

Optar por urna atividade sexual com pessoa do mesmo sexo


equivale a anular o rico simbolismo e o significado, para nao falar dos
fins, do designio do Criador a respeito da realidade sexual. A atividade
homossexual nio exprime urna uniao complementar, capaz de transmitir
a vida e, portanto, contradiz á vocacSo a urna existencia vivida naquela
forma de autodoacSo que, segundo o Evangelho, é a essencia mesma da
vida cristS. N9o quer dizer que as pessoas homossexuais nfio sejam fre-
qúentemente generosas e nSo se doem, mas, quando se entregam a urna
atividade homossexual, elas reforcam dentro délas mesmas urna inclina-

102
HOMOSSEXUALISMO

?áo sexual desordenada, caracterizada em si mesma pela autocompla-


cencia.

Como acontece com quaíquer outra desordem moral, a atividade


homossexual impede a auto-realizacáo e a felicidade porque contraria á
sabedoria criadora de Deus. Refutando as doutrinas erróneas acerca do
homossexualismo, a Igreja nao limita, antes pelo contrario, defende a li-
berdade e a dignidade da pessoa, compreendidas de modo realista e au
tentico.

6. GiuposdepressSo

8. O ensinamento da Igreja de hoje encontra-se, portanto, em con-


tinuidade orgdnica com a visao contida na Sagrada Escritura e com a
constante tradicSo. Embora o mundo de hoje esteja, sob diversos pontos
de vista, realmente mudado, a comunidade crista é consciente do vinculo
profundo e duradouro que a une as geraoóes que a precederam "no sinal
da fé".

No entanto, um número cada vez mais largo de pessoas, mesmo


dentro da Igreja, exerce fortlssima pressao para levá-la a aceitar a condi-
cáo homossexual como se nao fosse desordenada e a legitimar os atos
homossexuais. Os que, no interior da Igreja, pressionam nesta direcáo,
freqüentemente mantém estreita ligacSó com os que agem fora déla.

Ora, tais grupos externos sao movidos por viseo oposta á verdade
acerca da pessoa humana, verdade que nos foi revelada plenamente no
misterio de Cristo. Embora de modo nao de todo consciente, eles ma.n¡-
festam urna ideologia materialista, que nega a natureza transcendente da
pessoa humana bem como a vocacáo sobrenatural de cada individuo.

Os ministros da Igreja devem agir de modo que as pessoas homos


sexuais confiadas aos seus cuidados nao sejam desencaminhadas por
estas opinides, táo profundamente opostas ao ensino da Igreja. Contudo
o risco é grande e existem muitos que procuram criar confusio quanto a
posicjío da Igreja e aproveitar-se de tal confusSo em favor de seus pró-
prios objetivos.

9. Mesmo dentro da Igreja formou-se urna corrente, constituida


por grupos de pressáo com denominacóes diferentes e diferente ampli-
tude, que tema impor-se como representante de todas as pessoas ho
mossexuais que sao católicas. Na realidade, seus adeptos sao, na maioria
dos casos, pessoas que ou desconhecem o ensinamento da Igreja, ou
procuram subverte-lo de alguma maneira. Tenta-se reunir sob a égide
do catolicismo pessoas homossexuais que nSo tem a mínima ¡ntengfio de

103
8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

abandonar o seu comportamento homossexual. Urna das táticas usadas é


a de afirmar, em tom de protesto, que qualquer critica ou reserva és pes-
soas homossexuais, a sua atitude ou ao seu estilo de vida é simplesmente
urna forma de injusta discriminacSo.

Em algumas nacSes funciona, como conseqüéncia, urna tentativa


de pura e simples manipulado da Igreja, conquistando-se o apoio dos
pastores, freqüentemente em boa fé, no esforco que visa mudar as nor
mas da legislacáo civil. Finalidade de tal acáo é ajusfar esta legislacáo á
concepcáo própria de tais grupos de pressSo, para os quais o homosse-
xualismo é, pelo menos, urna realidade perfeitamente inocua, quando
n3o totalmente boa.

Embora a prática do homossexualismo esteja ameacando seria


mente a vida e o bem-estar de grande número de pessoas, os fautores
desta corrente nao desistem da sua acáo e recusam levar em considera-
pao as proporcSes do risco que ela implica.

A Igreja nao pode despreocupar-se de tudo isto e por conseguinte


mantém firme a sua posicáo clara a respeito, posicáo que nao pode, cer-
tamente, modificar-se sob a pressio da legislacáo civil ou da moda do
momento. Ela se preocupa também, sinceramente, pelos muitos que nao
se sentem representados pelos movimentos pro-homossexuais e por
aqueles que poderiam ser tentados a crer em sua propaganda engaña
dora. Ela é consciente de que a opiniáo segundo a qual a atividade ho
mossexual seria equivalente á expressáo sexual do amor conjugal ou,
pelo menos, igualmente aceitável, incide diretamente sobre a concepcáo
que a sociedade tem da natureza e dos direitos da familia, pondo-os se
riamente em perigo.

7. Respetar nao é legitimar

10. É de se deplorar firmemente que as pessoas homossexuais te-


nham sido e sejam ainda hoje objeto de expressdes malévolas e de agóes
violentas. Semelhantes comportamentos merecem a condenadlo dos
pastores da Igreja, onde quer que acontecam. Eles revelam urna falta de ■
respeito pelos outros que fere os principios elementares sobre os quais se
alicerca urna sadia convivencia civil. A dignidade própria de cada pessoa
deve ser respeitada sempre, ñas palavras, nas acóes e ñas legislacóes.

Todavia, a necessária reacáo diante das injusticas cometidas contra


as pessoas homossexuais nao pode levar, de forma alguma, á afirmacáo
de que a condicáo homossexual nao seja desordenada. Quando tal afir
macio é aceita e, por conseguinte, a atividade homossexual é considera
da boa, ou quando se adota urna legislacáo civil para tutelar um com-

104
HOMOSSEXUALISMO

portamento ao qual ninguém pode reivindicar direito algum, nem a


Igreja nem a sociedade em seu conjunto deveriam surpreender-se sedepois
também outras opinioes e práticas distorcidas ganham terreno e se au-
mentam os comportamentos irracionáis e violentos.

8. Culpabifidade atenuada

11. Alguns afirmam que a tendencia homossexual, em certos ca


sos, nao é fruto de urna opcáo deliberada e que a pessoa homossexual
nao tem outra alternativa, sendo obrigada a se comportar de modo ho
mossexual. Fbr conseguinte, afirma-se que, em tais casos, ela agina sem
culpa, nSo sendo realmente livre.

A este propósito, é necessário referír-se á sabia tradicáo moral da


Igreja, que alerta para as generaliza?oes no julgamentó dos casos indivi
duáis. De fato, em um determinado caso, podem ter existido no passado,
e podem subsistir aínda, circunstancias tais que reduzem ou até mesmo
eliminam a culpa do individuo; outras circunstancias, ao contrario, po
dem agravá-la. Em todo o caso, deve-se evitar a presungáo infundada e
humilhante de que o comportamento homossexual das pessoas homos-
sexuais esteja sempre e totalmente submetido b coacáo e, portante seja
sem culpa. Na realidade, também as pessoas com tendencia homosse
xual deve ser reconhecida aquela liberdide fundamental que caracteriza a
pessoa humana e Ihe confere a sua particular dignidade. Como em toda
conversáo do mal, grapas a tal liberdade, o esforco humano, iluminado e
sustentado pela grapa de Deus, poderá permitir-lhes evitar a atividade
homossexual.

9. Abracar a Cruz

12. Que deve fazer, entáo, urna pessoa homossexual que procura
seguir o Senhor? Substancialmente, tais pessoas sao chamadas a realizar
a vontade de Deus na sua vida, unindo ao sacrificio da cruz do Senhor
todo sofrimento e dificuldade que possam experimentar por causa da sua
condicSo. Para quem ere, a cruz é um sacrificio frutuoso, pois daquela
morte derivam a vida e a redenc§o. Aínda que se possa prever que qual-
quer convite a carregar a cruz ou a compreender de tal forma o sofri
mento do cristáo será ridicularizado por alguns, é preciso recordar que é
este o caminho da salvacáo para todos aqueles que seguem o Cristo.

NSo é outro, na realidade, o ensinamento transmitido pelo apostólo


Paulo aos Gálatas, quando diz que o Espirito produz na vida do fiel "a-
mor, alegria, paz, paciencia, benevolencia, hondada, fidelidade, mansiddo

105
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

e autodominio" e mais adiante: "Nao podéis pertencer a Cristo sem cru


cificar a carne com as suas paixóes e os seus desejos" (Gal. 5,22-24).

Todavía, este convite é fácilmente mal interpretado, se é considera


do apenas como um inútil esforco de auto-renegacio. A cruz é, sem dú-
vida, renegacáo de si mesmo, mas no abandono a vontade daquele Oeus
que da morte faz brotar a vida e habilita os que nele depositam a sua
confianca a praticarem a virtude em lugar do vicio.

Só se celebra auténticamente o Misterio Pascoal quando se deixa


que ele impregne o tecldo da vida cotidiana. Recusar o sacrificio da pró-
pria vontade na obediencia á vontade do Senhor é, de fato, opor obstá
culo h salvacao. Exatamente como a Cruz é o centro da manifestado do
amor redentor que Deus tem por nos em Jesús, assim o fato de confor-
marem a negafáo de si mesmos ao sacrificio do Senhor constituirá para
homens e mulheres homossexuais urna fonte de autodoacáo que os sal
vará de urna forma de vida que continuamente ameaca destruí-los.

As pessoas homossexuais, como os demais cristáos, sao chamadas


a viver a castidade. Dedicando-se com assiduidade a compreender a na-
tureza do chamado pessoal que Deus Ihes dirige, seráo aptas a celebrar
mais fielmente o sacramento da Penitencia e a receber a graca do Senhor
que, neste mesmo sacramento, se oferece para generosamente poderem
converter-se mais plenamente ao seu seguimento.

10. A colaboracáo dos pastores

13. É evidente, por outro lado, que urna clara e eficaz transmissáo
da doutrina da Igreja a todos os fiéis e a sociedade no seu conjunto de
pende em grande parte do ensinamento correto e da fidelidade daqueles
que exercem o ministerio pastoral. Os Bispos tém a responsabilidade
particularmente grave de preocupar-se de que seus colaboradores no
ministerio e, sobretudo, os sacerdotes, sejam corretamente informados e
pessoalmente bem dispostos a comunicar a todos a doutrina da Igreja na
sua integridade.

Sao dignas de admiracáo a particular solicitude e a boa vontade


demonstradas por muitos sacerdotes e religiosos, no atendimento pas
toral as pessoas homossexuais; esta CongregacSo espera que tal solicitu
de e boa vontade nao diminuam. Estes zelosos ministros devem nutrir a
certeza de que estáo seguindo fielmente a vontade do Senhor quando
encorajam a pessoa homossexual a levar urna vida casta e relembram a
dignidade incomparável que Deus Ihe deu também.

106
HOMOSSEXUALISMO 11

11. Acatar o Magisterio

14. Considerando tudo o que precede, esta Congregado deseja


pedir aos Bispos que sejam particularmente vigilantes com relacao aos.
programas que, de fato, tentam exercer pressao sobre a Igreja a fim de.
que ela mude a sua doutrina, embora ás vezes verbalmente neguem que
seja assim. Um estudo atento das declaracfies públicas neles comidas e
das atividades que promovem revela urna calculada ambigüidade, atra-
vés da qual procuram desviar pastores e fiéis. Por exemplo, costumam
citar o ensinamento do Magisterio, mas somente como urna fonte facul
tativa na formacio da consciéncia; sua autoridade peculiar nao é reco-
nhecida. Alguns grupos costumam até mesmo qualificar de "católicas" as
suas organizares ou as pessoas ás quais pretendem dirigir-se, mas, na
realidade, nSo defendem nem promovem o ensinamento do Magisterio;
ao contrario, as vezes, atacam-no abertamente. Mesmo reafirmando a
vontade de conformar sua vida ao ensinamento de Jesús, de fato os
membros desses grupos abandonam o ensinamento da Sua Igreja. Este
comportamento contraditório de forma alguma pode recebar o apoio dos
Bispos.

12. Os programas pastoreis

15. Esta Congregado encoraja^pois, os Bispos a promoverem, ñas


suas dioceses, urna pastoral para as pessoas homossexuais, plenamente
concorde com o ensinamento da Igreja. Nenhum programa pastoral au
téntico poderá incluir organizares em que pessoas homossexuais se as-
sociem entre si, sem que fique claramente estabeleddo que a atividade
homossexual é imoral. Urna atitude verdadeiramente pastoral incluirá .a
necessidade de evitar, para as pessoas homossexuais, as ocastóes próxi
mas de pecado.

Oevem ser encorajados os programas em que tais perigos sejam


evitados. Mas é necessário deixar bem claro que afastar-se do ensino da
Igreja ou fazer silencio em torno dele, sob o pretexto de oferecer um
atendimento pastoral, nio é forma legítima nem de auténtica atencáo
nem de pastoral válida. Em última análise, somente aquilo que é verda-
deiro pode ser também pastoral. Quando nao se tem presente a posicio
da Igreja, impede-se a homens e mulheres homossexuais de receberem
o atendimento de que necessitam e ao qual tém direito.

Um programa pastoral auténtico ajudará as pessoas homossexuais


em todos os nfveis da sua vida espiritual, mediante os sacramentos e,
particularmente, a freqüente e sincera confissSo sacramental, como tam
bém através da oracáo, do testemunho, do aconselhamento e da atencSo
individual. Desta forma, a comunidade crista na sua totalidade pode che-

107
12 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

gar a reconhecer sua vocacáo de assistir estes seus irmáos e irmás, evi-
tando-lhes tanto a desilusao como o ¡solamento.

13. As diversas dimensfes da pessoa

16. Desta abordagem diversificada podem advir muitas vantagens,


entre as quais náo menos importante é a constatacio de que urna pessoa
homossexual, como, de resto, qualquer ser humano, tem urna profunda
exigencia de ser ajudada contemporáneamente em varios nfveis.

A pessoa humana, criada á imagem e semelhanca de Deus, náo po


de def¡n¡r-se cabalmente por urna simples e redutiva referencia á sua
orientacáo sexual. Toda e qualquer pessoa que vive sobre a face da térra
conhece problemas e dificuldades pessoais, mas possui também oportu
nidades de crescimento, recursos, talentos e dons próprios. A Igreja ofe-
rece ao atendimento da pessoa humana aquele contexto de que hoje se
senté a exigencia extrema, e o faz exatamente quando se recusa a consi
derar a pessoa meramente como um "heterossexual" ou um "homosse
xual", sublinhando que todos tém urna mesma identidade fundamental:
ser criatura e, pela graca, filho de Oeus, herdeiro da vida eterna.

14. Iniciativas prudentes

17. Apresentando á atencáo dos Bispos esses esclarecimentos e


orientacóes pastorais, esta Congregado deseja ajudar os seus esforcos
no sentido de assegurar que o ensinamento do Senhor e da Sua Igreja
acerca deste importante tema seja transmitido integralmente a todos os
fiéis.

A luz do que se acaba de expor, os Ordinarios locáis sao convida


dos a avaliar, no ámbito da própria competencia, a necessidade de parti
culares iniciativas. Além disso, se julgarem útil, poder-se-á recorrer a
urna acio mais extensa, coordenada a ntvel das Conferencias episcopais
nacionais.

Os Bispos serio particularmente solícitos em apoiar, com todos os


meios á sua dispos¡cáo, o desenvolvimento de formas especializadas de
atendimento pastoral ás pessoas homossexuais. Isto poderia incluir a co-
laboracáo das ciencias psicológicas, sociológicas e médicas, mantendo-se
sempre na plena fidelidade a doutrina da Igreja.

Os Bispos, sobretudo, náo deixarSo de solicitar a colaborado de


todos os teólogos católicos, os quais, ensinando o que a Igreja ensina e
aprofundando com as suas reflexóes o significado auténtico da sexuali-

108
HOMOSSEXUALISMO 13

dade humana e do matrimonio cristáo no plano divino, como também


das virtudes que este comporta, poderao desta forma oferecer um válido
auxilio neste campo específico da.atividade pastoral.

Particular atencáo deveráo ter os Bispos, além disso, ao escolher os


ministros a serem encarregados desta delicada tarefa, de modo que es
tes, grapas á sua fidelidade ao Magisterio e ao seu elevado grau de matu-
ridade espiritual e psicológica, possam ser de real ajuda ás pessoas ho-
mossexuals, de forma que elas alcancem o seu bem integral. Tais minis
tros rechacaráo as opinides teológicas que sao contrarias ao ensinamento
da Igreja e que, portanto, nao podem servir como diretrizes no campo
pastoral.

Será conveniente além disso promover adequados programas de


catequese, baseados na verdade acerca da sexualidade humana, na sua
relacáo com a vida da familia, tal como é ensinada pela Igreja. Tais pro
gramas, com efeito, fornecem um ótimo contexto, dentro do qual pode
ser abordada também a questáo do homossexualismo.

Esta catequese poderá ajudar inclusive as familias em que se en-


contrem pessoas homossexuais, a enfrentar um problema que as atinge
táo profundamente.

Deve ser retirado todo apoio a-qualquer organizacáo que procure


subverter o ensinamento da Igreja, que seja ambigua quanto a ele ou que
o transcure completamente. Tal apoio, mesmo só aparente, pode dar ori-
gem a mal-entendidos graves. Uma atencáo especial deveria ser dedica
da á programado de celebracóes religiosas e ao uso, por parte desses
grupos, de edificios de propriedade da Igreja, inclusive a possibilidade de
dlspor das escolas e dos institutos católicos de estudos superiores. Para
alguns, tal permissáo de utilizar uma propriedade da Igreja pode parecer
apenas um gesto de justica e de caridade, mas, na realidade, ela contradiz
as finalidades mesmas para as quais aquelas instituicdes foram fundadas,
e pode ser fonte de mal-entendidos e de escándalo.

Ao avaliar eventuais projetos legislativos, dever-se-á por em pri-


meiro plano o empenho na defesa e promocio da vida da familia.

14. Conduño

18. O Senhor Jesús disse: "Conhecereis a verdade e a verdade vos


libertará" (Jo 8,32). A Sagrada Escritura manda-nos realizar a verdade na
caridade (cf. Ef. 4,15). Deus, que é ao mesmo tempo verdade e amor,
chama a Igreja a pór-se ao servico de cada homem, mulher e enanca,

109
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

com a solicitude pastoral do nosso Senhor misericordioso. É com este


espirito que a Congregarlo para a Doutrina da Fé endereza a presente
Carta aos Bíspos da Igreja, na esperanza de que Ihes sirva de ajuda no
atendimento pastoral a pessoas cujos sofrimentos só poderlo agravar-se
por doutrinas erróneas, enquanto que a palavra da verdade os aliviará.

O Sumo Pontífice Joño Paulo II, no decurso da Audiencia concedida ao


Prefeito abaixo-assinado, aprovou e ordenou a publicacáo da presente Carta,
decidida em reuniáo ordinaria desta CongregagSo.

Roma, da sede da Congregado para a Doutrina da Fé, 19 de outu-


bro de 1986.

JOSEPH Card. RATZINGER


Prefeito

+ ALBERTO BOVONE
Arcebispo tit.
de Cesaréia de Numfdia
Secretario

CURSOS POR CORRESPONDENCIA

1) Curso Bíblico: Introducto Geral á S. Escritura e a cada livro do


Antigo e do Novo Testamento; explicacao dos onze primeiros capítulos
do Génesis.

2} Curso de Iniciacáo Teológica: estudo de todos os tratados da


Teología desde a T. Fundamental até a Escatologla ou Consumacüo.

3) Curso de Teología Moral: nocóes básicas (ato humano, lei, cons-


dénda, pecado, virtudes...) e setores especiáis (F6, Esperanca, Caridade,
Justifa, Religiáo, Vida Humana, Matrimonio...}.

4) Curso de Historia da Igreja: era constantiniana, InquisicSo, Gali-


leu... (54 módulos).

As ¡nscricóes podem ser feitas em qualquer época do ano. A du-


rafSo do curso está a criterio do aluno. Quem se matricular, receberá as
primefras licSes em casa; após estudar, responderá ás perguntas respec
tivas; mandará sua prava para a sede da Escola, que Ihe devolverá o
trabalho corrigido juntamente com novas linóes.

Inscricóes e pedidos de informacoes sejam dirigidos á Escola "Ma


tar Ecctesiae", Rúa Benjamín Constant, 23 - 3? andar, 20241 RIO (RJ).

110
Um livro de ideologia:

"A Trindade, a Sociedade e a Libertado"


por Leonardo Boff

Em símese: O livro de Leonardo Boff em foco está redigido de acordó


com os parámetros da Teología da Libertacáo extremada: as condusóes teo
lógicas se tomam respaldo para as teses sociológicas do autor, que reivindica
a lula dos oprimidos em vista de transformacóes sociais, assim como urna
transtormacáo interna da Igreja. Entre os pontos típicos da doutrina trinitaria do
autor, sobressaem: 1) a criacáo é obra própria do Pal e a pneumaSBcac&o de
María é obra própria do Espirito Santo; 2) assim como o Espirito procede do
Pal e do Filho (ex Patre FilioqueJ, deve-se afirmar que cada Pessoa recebe
tudo das outras, de modo que tambám se deveria talar de Patreq-e e Splri-
tuque; 3) a comunhSo entre as tris Pessoas divinas deve fundamentara co-
munhSo dentro da Igreja, cuja estrutura deverá sérmenos hierárquica ou con
figurada á semelhanga de urna democracia; 4) o Pai é maternal e a MSe (o
Espirito Santo) é paternal, segundo Frei Leonardo, que muito insiste na vatori-
zaceo lo feminino, mesmo em Deus, contra as concepcóes machistas que,
segundo ele, até agora predominaran) no estudo da teología (ao mesmo tem-
po, (.orém, Frei Leonardo afirma que a Trindade é transexista ou está além
das categorías do sexo).

O livro contém páginas interessantes, redigidas, porém, em linguagem,


ás vezes, imprecisa e impregnada de neologismos. A tese trinitaria do autor é
hcompatfvel com a Doutrina dos Concisos e do magisterio da Igreja através
dos sécubs; vem prejudicada pela preocupacSo sociológica, que desfigura o
que a teología tem de befo a dizer sobre Deus uno e trino.

Frei Leonardo Boff publicou recentemente um livro sobre a Santí


sima Trindade,1 que se presta a comentarios. Escrito em chave de liber-
tacáo ou dentro dos moldes da Teología da Líbertacáo, contém proposi-

1A Trindade, a Sociedade e a Libertacáo. Ed. Vozes, PetrópoSs, 1986(2*


edicáo), 137 x 208 mm, 296pp.

111
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

cfies novas, que chamam a atencSo dos estudiosósTVamos, a seguir, te-


cer algumas considerares a respeito das linhas principáis dessa obra. 1

1. A tese básica
A teología, diante do misterio da SS. Trindade, vé-se impelida a
procurar a conciliacSo da unidade (há um só Deus) com a trindade (em
tres pessoas). Foi precisamente este desafio que ocupou a atencáo dos
teólogos através dos séculos. Frei Leonardo, em seu livro, distingue tres
maneiras de associar unidade e trindade em Deus: a grega, a latina e a
que ele chama "moderna".

1) A teología grega considera o Pai como fonte e principio da D¡-


vindade. Do Pai procedem o Filho e o Espirito Santo. O Pai comunica ni
do o que Ele é, ao Filho e ao Espirito Santo; por isto estes s8o igualmente
Deus, sSo "consubstancial" com o Pai. - Este modo de ver, conforme
Frei Leonardo, corre o risco de cair no subordinadonismo ou na heresia
de Ario, que no século IV subordinava o Filho e o Espirito Santo ao Pai.
Ver p. 281.
2) A teología latina contempla, antes do mais, a natureza divina,
idéntica ñas tres Pessoas. "Essa natureza divina é espiritual; por isso pos-
sui um dinamismo interno. O Espirito absoluto é o Pai. A Inteligencia é o
Filho, e a Vontade o Espirito Santo. Os Tres se apropriam de modo dis
tinto da mesma natureza: o Pai, sem principio, o Filho por geracSo do Pai
e o Espirito Santo espirado pelo Pai e pelo Filho. Os Tres estSo na mes
ma natureza; sao consubstancial e, por isso, sSo um só Deus" (pp. 281 s).
Esta córreme, conforme Frei Leonardo, corre o risco de ser interpretada
como modalismo ou de fazer das tres Pessoas Divinas simples modalida
des ou facetas da única substancia divina; em última análise, destruir-
se-ia a trindade de Pessoas em favor da unidade em Deus.
3) A Teología moderna "parte da Trindade de Pessoas, Pai, Filho e
Espirito Santo. Mas os tres vivem em eterna pericórese,? sendo um no

10 presente artigo supóe nocOes e vocábulos técnicos do estudo teológi


co da SS. Trindade; por isto talvez nSo seja claro a todos os leitores em todas
as suas partes. Procuraremos fazer o possfvel para facilitar o entendimento
respectivo.
2fcs como Frei Leonardo define perícórese: "ExpressSo grega que literal
mente significa urna Pessoa contar as outras duas (em sentido estático) ou
entSo cada urna das Pessoas interpenetrar as outras reciprocamente (sentido
atívo)"(p.29O).
Em outra passagem diz Frei Leonardo: "O termo pericórese,... traduz bem
o que anteriormente escrevfamos sobre a comunnáo e koinonla. Sempre se
trata de um processo de reciproddade ativa, de um caminho de duas mSos:
as Pessoas se interpenetram urnas ás outras e este processo de comunhio
constituí a própria natureza das Pessoas" (p. 171).

112
TRINDADE E LIBERTAQÁO 17

outro, pelo outro, com o outro e para o outro. A unidade trinitaria signifi
ca a uniáo das tres Pessoas em virtude da pericórese e da comunhSo
eterna. Esta uniSo, porque é eterna e infinita, permite falar de um só
Deus uno" (p. 282). Acrescenta frei Leonardo: "Esta interpretado corre o
risco de ser entendida como tritefsmo" (p. 282).

Diante destes tres enfoques, o autor opta pelo terceiro, que ele diz
ser "moderno", embora o primeiro e o segundo enfoques estejam muito
presentes nos estudos trinitarios contemporáneos. Eis as razSes da opcSo
do autor:

"Nos optamos por esta corrente, por partir, de comeco, do dado da fé -


a existencia do Pai, do fílho e do Espirito Santo como cBstíntos e em comu-
nhio -epor permitir melhor entender o universo e a sociedade humana como
um processo de comunicacáo, de comunhSo e de uniáo pela total inteipene-
tracto de uns com os outros (pericórese). Esta interpretacSo retorga a hita
dos oprimidos que querem se libertar para que naja mais participacao e comu
nhSo" (p. 282).

Este texto é de importancia capital porque evidencia o método de


trabalho teológico do autor: diante de tres enfoques trinitarios legítimos
(embora cada qual possa ser mal entendido e levar para a heresia). Freí
Leonardo opta por aquele que mais se presta a reforcar a luta de classes
(ou a luta dos oprimidos), embora esse'enfoque nada ten ha de tradicional
e contrarié o magisterio da Igreja, como se verá adiante. Verifica-se as-
sim que o criterio de opcSo é tirado nSo das fontes da Teología, mas da
Sociologia e da Ética; a praxis ilumina o logos ou tem prioridade sobre
o logos (a doutrina da fé}; ou ainda, como diría a teología da libertario
extremada, o criterio da verdade é a forga transformadora de determina
da propos¡?3o. - Alias, todo o livro de Leonardo Boff tende a apresentar a
SS. Trindade como modelo de sociedade humana:

"A Trindade compreendida humanamente como comunhSo de pessoas


funda urna sociedade de Írmeos e de invSs, de iguais, onde o diálogo e o con
senso constituem os fundamentos da convivencia tanto para o mundo quanto
para a Igreja" (p. 153).

'A interacao de todos produz a justiga e a feticidade social. Ela serve de


analogía ao ser único de Deus, cujas pessoas distintas divinas, atuando em
comum e em sua própria acao, geram a comunhSo eterna e a igualdade infini
ta. AISm disto, a Trindade serve de modelo para a sociedade Integrada... No
jogo trinitario da perieita pericórese se vislumbra a coexistencia entre o pes-
soal e o social, entre a feSddade de cada umeo bem-estar de todos. Estas
questoes estío na base de toda vida comunitaria e social e se deixam iluminar
e animar pela comunhSo trinitaria" (p. 1S2).

113
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

O ponto de partida de Freí Leonardo nao poderá deixar de afetar


todo o seu estudo trinitario; inspirado pelo desejo de fundamentar a luta
de classes e as transformares sociais, tal trabalho se ressente de desvios
e de concepcóes unilaterais, como passamos a ver.

2. Conseqüéncias

Seis proposicóes nos chamam a atencao decorrentes da posicáo


básica do autor.

1) Cada pessoa divina tem o seu agir "ad extra" próprio

Comumente se diz em teología trinitaria: "Em Deus tudo écomum


exceto os predicados que impliquem oposicáo relativa" (principio citado
e aceito por Freí Leonardo a p. 120). Isto quer dizer que a paternidade é
própria da primeira Pessoa, a filiacáo é própria da segunda Pessoa; a es-
piracáo passiva é própria da terceira Pessoa; a espiracáo ativa é própria
da primeira e da segunda Pessoas.

Quando se trata do agir de Deus no tempo ou ad extra (para fora),


tudo é comum; por exemplo, criar o mundo é comum as tres Pessoas Di
vinas, santificar os homens é comum és tres. Apenas a Encarnacáo é
própria da segunda Pessoa, pois a natureza humana assumida no seio de
María Virgem precisava de um eu, de um único eu, e este foi táo-so-
mente o da segunda Pessoa da SS. Trindade.

Ora, após ter reconhecido que a criacáo é comum as tres Pessoas


Divinas1, Freí Leonardo acrescenta mais adiante:

"Isso nSo impede que naja agóes próprias de cada urna das Pessoas,
pelas quais aparece a propriedade da Pessoa singular.

A acSo própria do Pai é a criacáon (p. 283).

Estes dizeres estáo em contradigo com os da p. 122, que, alias, re-


presentam a doutrina comum professada desde a época de Sao Basilio

1"Quando a Trindade age como suprema causa eficiente (DS 3814) em


ordem a criagSo, estaráo sempre agindo simultáneamente e em perfeita har
monía o Pai, o Filho e o Espirito Santo" (p. 122).
Referindo-se á criagáo e é santificagSo, o autor diz: 'Tais acóes sao aprc~
priadas por esta ou aqueta Pessoa, embora sejam comuns ás tres" (p. 122). -
Notemos que seria mais exato dizer. Tais actes sao apropriadas por nos a
esta ou aqueta Pessoa...", em vez de "apropriadas por esta ou aqueta Pes
soa".

114
TRINDADE E LIBERTAgÁO 19

(t379) e Sao Gregorio Nazianzeno (t390). Freí Leonardo parece querer


manter a doutrina clássica, mas é movido pelo seu afS de mostrar que a
Trindade é sociedade perfeita, onde tres Pessoas convivem em igualdade
e harmonía; por ¡sto julga que deve atribuir ao Pai urna atívidade própria
e exclusiva; assim a Trindade pode falar mais significativamente a nos
homens, que temos cada qual nossa atividade própria, mas somos cha
mados a convergir para a harmonía e a colaborado.

Algo de paralelo se dá com a doutrina do Espirito Santo na obra de


Freí Leonardo. Este professa o que chama "nosso theologóumenon": "o
Espirito foi enviado a María e a pneumatificou de sorte que esta acáo é
própria dele, ou sua presenca na vida dos justos e como alma da Igreja"
(p. 123; ver p. 224.274). A "pneumatífícacSo" seria urna certa "uniio hi-
postática" do Espirito Santo com María SS., tongamente exposta no livro
"O rosto materno de Deus" do mesmo autor;^ tal tese, própria de Frei
Leonardo, foi meticulosamente criticada pelos comentadores do livro em
foco; nSo se sustenta, pois em María havia urna pessoa ou um eu huma
no, a diferenca do que se deu em Jesús; María teria tido dois eu ou dois
sujeitos em si (o humano e o do Espirito Santo).2

Frei Leonardo vai táo longe na afirmacSo da uniáo hipostática de


María com o Espirito Santo que ele chega a dizer (por um lapso de estilo,
sim, mas de maneira explícita} que Maña é Deus! Assim á p. 258:

"Segundo este nosso theologóumenon, o Espirito Santo teria densifi


cado sua presenga em María... de forma táo real e identiñcávet que Ele a!está
presente de forma pessoal em plena autocomunicagSo, á semelhanga da en-
camagSo do FBho. María seria entáo a bendita entre todas as mulheres, a
cheia de graca (graga que é o Espirito Santo), nio apenas o templo de Deus,
mas o proprio Deus do templo, isto 6, o Deus que mora em Marta e que
se faz nela o templo vivo e verdadeiro".

NSo podemos deixar de registrar o péssimo estilo portugués desta


frase final escrita sem muita lógica - o que poderia ter sido evitado se o
autor tivesse feíto urna revisSo atenta do seu manuscrito.

De novo observamos que Freí Leonardo afirmou estas suas aberra-


qóes movido, em última instancia, por sua preocupado sociológica ou

1Ed. Vozes, Petrópolis 1979. Cf. PR 236/1979, pp. 311-319; 253/1981, 31


capa.

2Pode-se observar que o S. Padre Joáo Paulo II silencia por completo


este assunto na sua Encíclica Domlnum et VivHicantem (sobre o espirito
Santo).

115
20 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

pelo desejo de encontrar na doutrina trinitaria um respaldo para as suas


concepcóes sociológicas. A sua posicao, alias, já foi rejeitada pelos Conci
lios que afirmam ser a criacáo obra comum ás tres Pessoas divinas; cf.
Denzinger-Schdnmetzer, Enchiridion Symbolorum et Definftionum n?
171.570.800.804.

2) Patreque, Filioque, Spirituque1

A teología latina professa que o Espirito Santo procede do Pai e do


Filho; a processao a partir do Filho foi formulada na expressáo Hlioque (e
do Filho). Ora Frei Leonardo julga que também se deveria dizer Spiritu
que e Patreque (a partir do Espirito, a partir do Pai); tal seria o fluxo de
vida (pericórese) entre as Pessoas Divinas que, assim como o Espirito re
cebe tudo do Pai e do Filho, o Pai e o Filho recebem tudo do Espirito
Santo (ver pp. 283.184):

"Fica patente que em Deus tudo é temario, tudo é Patreque, Filioque


e Spirituque. As partículas de conjuncáo se aplicam absolutamente ás tres
Pessoas. A partícula e se encentra sempre e em tudo" (p. 184).

O mesmo autor assevera também que o Filho nasce ou é gerado


pelo Pai e pelo Espirito (pp. 226.250), ou o Pai gera o Filho no seio do Es
pirito ou em comunhSo com o Espirito: "O Pai 'gera' o Filho no seio do
Espirito Santo (Fifius a Paire Spirituque)" (pp. 16s. 184). Ou ainda: "O
Espirito Santo é a condicáo trinitaria da geracSo do Filho por parte do
Pai. Destarte as relacces na Trindade s§o sempre trinitarias: ao Filioque
há de se acrescentar o Spirituque" (p. 249). - Ora tais afirmaeñes estáo
em oposicáo frontal ás fórmulas de fé da Igreja: veja-se o Símbolo
Qufcumque, os Concilios do LatrSo IV e de Florenca, que usam a expres
sáo Fitius a Patre solo (o Filho procede apenas do Pai); cf. Denzinger-
Schdnmetzer, Enchiridion, n? 74. 800. 1330. Quem atribuí urna funcáo
geradora ao Espirito Santo, contraria a fórmula de fé de Dámaso, o Sím
bolo do Concilio I de Toledo, a Epístola de Hormisdas a Justino, o Conci
lio XI de Toledo e o Concilio do Latráo IV, pois o gerar é propriedade ex
clusiva do Pai na SS. Trindade; cf. Denzinger-Schfinmetzer, Enchiridion,
nS 71.188. 367.533.800.

Mais urna vez notamos: esta tentativa de reduzir as Pessoas divinas


á mais perfeita igualdade entre si se deve á intencáo de fundamentar a
igualdade que Frei Leonardo apregoa para os membros da sodedade
humana; é o modelo sociológico concebido pelo frade franciscano que
dita a concepcio trinitaria do mesmo. Tenhamos em vista o seguinte
texto:

1E do Pai, e do Filno, e do Espirito.

116
TRINDADE E UBERTAgÁO 21

"A unidade... seria urna uniáo das Pessoas por virtude da recíproca co-
munhSo entre elas. Ao Filioque cumpre, conseqQentemente, acrescentar o
Spirituque.

Esta eterna pericórese de amor e de vida entre Pai, Filho e Espirito


Santo constituí a matriz fontal de todo amor, vida e comunháo na criagáo feita
á imagemda Trindade.

Neo queremos detalhar melhor esta perspectiva porque a taremos nos-


sa... Mostraremos sua relevancia para a sociedade e para a Igreja, como ge-
radora de mais participacáo, comunhéo e simetría em todos os nfveis dos re-
lacionamentos humanos" (p. 111).

3) O Pai maternal e a Mfie paternal

Mais de urna vez Frei Leonardo afirma que a teología trinitaria é


transexista ou está além das categorías do sexo (masculino e feminino);
ver pp. 153-155.210. Nao obstante, faz muita questao de atribuir género
masculino e, principalmente, género feminino a cada urna das tres Pes
soas divinas: o Pai seria maternal (p. 210); Jesús "nSo era so masculino;
nele vigorava também a dimensáo feminina, assumida pela Palavra ou
Verbo eterno" (p. 155). "O Espirito Santo é aproximado as dimensóes
femininas da vida (em hebraico Ruah é feminino): criacSo, animacáo,
consolo, último aconchego" (p. 155).

Ora, se Deus, sendo puro espirito, nao entra em categoría do sexo


corpóreo, pergunta-se: por que fazer tanto caso de atribuir notas femini
nas ao Pai, ao Filho e ao Espirito Santo? - A resposta parece estar, de
novo, na preocupacio de apoiar um novo modelo de sociedade humana,
em que a mulher pleiteia lugar de maior relevo; o feminismo, que pode
ser muito sadio, mas também pode rebaixar a mulher, teria assim sua
justificativa na sociedade trinitaria ou na vida do próprio Deus.

Tal tendencia nao pode deixar de suscitar afirmacóes artificiáis ou


despropositadas. Assim, por exemplo, no tocante á Igreja, o autor preco
niza "um modelo de Igreja inspirado na comunháo trinitaria, que se con-
cretiza pela divisao mais equitativa do poder sagrado, pela superacao de
todo tipo de discriminacáo, especialmente aqueta de origem patriarcal e
machista"{p-37).

As justas reivindica(fies do feminismo devem poder encontrar base


mais sólida e patente do que a vida da SS. Trindade, que é "transexista".
Elas sao evidentes por motivos muito mais próximos de nos e mais con
vincentes. - Ademáis note-se que o Pai na S. Escritura nunca é dito MSe
em relacSo ao Filho Eterno. Nem a Escritura atribuí ao Espirito Santo o

117
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

título de Máe. Aínda aos 04/10/86, o Pe. Georges Chantraine S. J. mos-


trou as incongruencias da posicáo "feminista" de Frei Leonardo na con
ferencia proferida sob o titulo "A Mulher no plano redentor de Deus",
durante o Congresso Internacional sobre "A Mulher na Igreja e na Socie-
dade" (Rio de Janeiro, 2-5/10/86).

4) A Trindade que se completa na criacfio

No seu estudo sobre a Trindade, o autor considera também a cria-


fáo para dizer que "a Trindade se autolimita pelo fato da criacáo do nada,
porque faz surgir algo distinto déla" (p. 267). Tal proposicáo é muito es-
tranha; a existencia de outros seres fora de Deus nao limita Deus, como o
fato de que o sol atinge com a sua luz novos e novos seres nao limita a
luz do sol.

Estranho é também o trecho seguinte:

"De certa forma podemos dizer que a Trindade possui aínda um futuro
na medida em que a criagáo que Ihe pertence nSo forassumida e integrada na
comunháo das tres divinas Pessoas. Só entáo as tres Pessoas seráo urna
única comunhSo totaT (p. 186).

"O mundo comega a pertencer á historia de Deus trino... Que conse-


qQéncias tem para a nossa compreensáo da Trindade o fato de o ser humano
por Jesús e por María ter sido irreversivelmente inserido no misterio trinitario?
A reflexSo trinitaria pensou muito pouco sobre este evento de infinita beatítude
para nos. E se mostra com isso como o Mundo e Deus devem ser pensados
numa especie de pericórese e nao simplesmente por categorías de oposigSo e
dedistíncáo'fp. 144).

Estes textos já se afastam muito da doutrina da fé católica. Insi-


nuam que Deus seja perfecttvel ou aínda nao tenha atingido a plenitude
da sua perfeicSo. NSo pode haver mudanca ou complementado em
Deus; quem admite em Deus um futuro mais pleno, de comunhSo con
sumada a pos urna fase de nSo consumacáo, está negando que Deus seja
Deus, o Absoluto, o Eterno, e cai no panteísmo (este afirma que a Di-
vindade é o próprio mundo em evolugSo). - A doutrina de que Deus se
complementa é contraria a do Concilio de Toledo XVI; cf. Enchiridion n9
569.

5) Missóes ¡nvisiveis egraca

A Escritura fala de miss&es do Filho e do Espirito Santo. Assim o


Filho foi enviado pelo Pai á térra em missio visfvel na plenitude dos tem-

118
TRINDADE E LIBERTA^ÁO 23

pos, quando se fez homem (cf. Gl 4,4); de maneira ¡nvisível é enviado


mediante os sacramentos, que nos comunicam a filiacáo divina.

Paralelamente o Espirito ■Santo é enviado em missáo vislvel no dia


de Pentecostés;... em missSo ¡nvisível mediante os sacramentos que nos
fazem templos do Espirito (cf. Jo 14,23).

Ora é estranho que Freí Leonardo fale muito pouco das missóes in-
vislveis; sao brevemente mencionadas h p. 277: "As pessoas sao feitas em
seus corpos templos do Espirito (1Cor 6,13-20)". Mais interessam ao au
tor os efeitos sociais da agáo do Filho e do Espirito Santo na térra. Ve-
jam-se, por exemplo, os seguintes dizeres tirados da slntese final do livro
em foco:

"Da pericórese-comunháo das divinas Pessoas se derívam impulsos de


libertacáo para cada pessoa humana, para a sodedade, para a Igreja e para
os pobres, num duplo sentido, crítico e construtívo. A pessoa humana é con
vidada a superar todos os mecanismos de egoísmo e a viver sua vocagSo de
comunháo. A sodedade ofende a Trindade ao se organizar sobre a desigual-
dade e a honra quanto mais propiciar partídpagSo e comunhSo de todos, ge-
rando assimjustiga e igualdade entre todos" (p. 284).

Mais urna vez poderíamos citar urna passagem que explana a SS.
Trindade como modelo para a sodedade humana:

"A comunhio trinitaria é lonte de inspiragáo para práticas sociais. Es


pecialmente os cristáos comprometidos com mudangas estruturais da socie-
dade a partir das grandes maiorias pobres encontram na Tri-unidade a sua
utopia eterna. Os tres Diferentes afírmam a diferenga um do outro... Na Trin
dade santa nao há dominagSo a partir de um polo, mas a convergencia dos
Tres numa reciproca aceilacSo e doag&o. Sao diferentes, mas ninguém é mator
ou menor, antes ou depois do outro' (p. 189).

Á guisa de comentario, observamos que é muito difícil aos homens


imitar o modelo trinitario, visto que toda sociedade requer autoridade e
chefia, de um lado, submissüo e obediencia ás leis justas, de outro lado. A
própria justica nao consiste em dar a todos os homens a mesma coisa
(urna máquina datilográfica nao interessa a muitos), mas em dar a cada
um o que realmente Ihe compete, respeitadas as diferencas individuáis. -
Ademáis quem estuda o livro em pauta, concebe cada vez mais a impres-
sio de que Frei Leonardo (embora o negué) admite tres deuses, cada
qual com suas peculiaridades, que se unem entre si numa comunhSo
afetiva e moral (como o fazem os homens numa sociedade ideal). Ora
este enfoque do dogma trinitario é totalmente falso: em Deus as tres Pes
soas sao precisamente as expressóes da unidade de substancia ou natu-

119
24 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

reza divina; o Filho é consubstancial (homoousios) ao Pai, definiu o Con


cilio de Nicéia I (325).

6) O modelo da Igreja

A Freí Leonardo parecem importar grandemente as conseqüéncias


eclesiológicas da su a tese: para ele, a Igreja deveria ser principalmente
urna comunhSo de pessoas distintas, mas iguais entre si, ficando um
tanto apagada a nocáo de hierarquia sagrada:

"A Communio/koinonia (comunháo) ó multo mais adequada do quea-


quela da potestas sacra para se entender por dentro a Igreja. Como urna rede
de comunidades que vive a comunhSo com os irmáos/irmás e a partícipagSo
em todos os bens, a Igreja se constó! a partir da Trindade ese faz seu sa
cramento histórico" (p. 36).

"A luz do misterio de comunhSo entre as divinas Pessoas pode-se pro-


jetar um modelo de Igreja realmente liberada e principio de libertagáo. Apare-
cem urna Igreja, comunidade de irmSos e irmSs, reunida ao redor do FUho en
viado pelo Pai de bondade a Sm de, no dinamismo do Espirito, levar avante, de
forma consciente e comprometida, o Reino de Deus que «rompe sempre que
triunfa a vida justa e a liberdade pessoal e social.

Este modelo de Igreja, inspirado na comunhSo trinitaria, se concretiza


pela divisSo mais equitativa do poder sagrado, peto diálogo, pela abertura a to
dos os carismas galardonóos aos membros da comunidade, pela superacSo
de todo tipo de discriminapSo, especialmente aqueta de origem patriarcal e
machista, pela busca permanente do consenso a ser construido mediante a
parScipacSo organizada de todos" (p. 37).

"Este modelo pericorético de Igreja submete todos os serwcos eclesiais


(episcopado, presbiterado, ministerios laicais, etc.) ao imperativo da comu
nhSo e da partícipacSo de todos em tudo que se referir ao bem de todos. En-
tSo a Igreja é de tata 'o povo reunido na unidade do Pal, do ñlho e do Espirito
Santo'(Lumen gmtiumng4)"(p. 192).

A concepcáo de urna Igreja mais "democrática" ou mais "carismá-


tica" e menos hierárquica tem sido insistentemente defendida por Freí
Leonardo. O espécimen mais representativo da tese é o livro Igreja: ca
nsina e poder, no qlial a Congregacño para a Doutrina da Fé apontou
quatro graves erras; ver a NotifícacSo transcrita em PR 280/1985, pp. 257-
263. Na verdade, tal nocáo de Igreja se inspira muito mais ñas proposi
tes da sociedade esquerdista do que na teología trinitaria. Com efeito; é
preciso nSo esquecer que entre Deus e os homens nSo há univocidade; a
vida de Deus é transcendente; está fora das categorías que regem a vida

120
TRINDADE E LIBERTADO 25

dos homens; dispensa qualquer tipo de autoridade..., ao invés do que se


dá entre os homens...

3. Observares complementares

1. Quem le o livro em pauta, vé-se por vezes diante de frases im


precisas, ambiguas..., obscurecidas ainda pelo emprego de neologismos.
Eis alguns espécimens de locufñes estranhas: pneumatificacáo (p. 144),
pneumatizacao (p. 280), trinitarizar (p. 278), verbificacio (p. 123.227), tres
pericoretizados (p. 183), potenciacSo (p. 163), Divinos tres (pp. 274s. 278s.
280s), inexistencia (significando existencia em, quando geralmente equi
vale a nfio existencia; p. 128), pericórese entre Oeus e o mundo (p. 144),
tao infinita (p. 110), tio suprema (p. 104)...

2. O autor é atento a evitar "machismo" a ponto que nunca cita um


substantivo masculino para designar urna coletividade, mas recorre sem-
pre a dois substantivos - o masculino e o feminino. Tenham-se em vista
os seguintes textos: "urna vez criados, todos os seres... possuem um ca-
ráter fraternal-sororal" (p. 283); "inaugura-se o reino da confianca dos
filhos e filhos" (p. 211); "os flhos e as filhas no Filho" (p. 210). "A partir
da filisgáo universal se pode instaurar a sociedade de irmáos e de irmSs,
todos filhos e filhas..." (p. 210).

3. O livro é assaz prolixo e repetitivo. Nele se encontram longas ex-


planacées de ordem sociológica, que pouco tém a ver com o tema central,
da obra. É, por exemplo, assaz artificial a relacao estabelecida pelo autor
entre cada urna das tres Pessoas divinas e determinado tipo de socieda
de: a imagem do Pai, só, levaría a urna sociedade de opressáo da norma;
a imagem do Filho, só, levaría á sociedade dominada pelos Itderes; a
imagem do Espirito Santo, só, induziria a anarquía e a insensatez dos es-
pírltos criativos. Cf. p. 28.

O autor julga que é difícil aos cristSos vivenciar a concepcáo da


Trindade-comunháo por causa da predominancia da fé num único Deus
e Senhor:

"O peso do monoteísmo, isto 6, da añrmacño da unlcktade e unidade de


Deus, é téo grande porque encontra razOes de ordem histórico-social (a cen-
tralizagáo própria do espirito moderno) e tambóm de ordem religiosa (a organh
zaceo das Igrejas a partir do principio de autoridade) que continuamente o re-
alimentam'(p. 29).

Ora parece indubitável que, se os cristSos pouco vivem urna espi-


ritualidade trinitaria, isto se deve á exigua instrucao religiosa que tém,

121
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

e nSo a concepcóes sociológicas. É, mais urna vez, artificial apelar, no ca


so, para razóes sócio-pollticas, que ficam muito longe da piedade e da
oracio da grande maioria dos nossos fiéis.

4. O Imprimatur do livro foi concedido pelo Sr. Bispo de Nova


Iguacu. - O Código de Direito Canónico, porém, estipula que, para apro-
var a publicacáo de algum livro ou escrito, é jurídicamente competente "o
Ordinario local próprio do autor ou o Ordinario do lugar onde os livros
forem efetivamente publicados" (can. 824). No caso do livro em foco, se
ria competente apenas o Bispo de Petrópolis, lugar de residencia do au
tor e sede da Editora. Por conseguí nte, o Imprimatur dado por outro Bis
po carece de validade aos olhos do Direito Canónico.

5. Aínda é de notar o seguinte: á p. 12 Freí Leonardo escreve:

"É importante distinguir o que ó lee o que 6 explicagSo da fé. Assitn, di-
zer que Deus 6 Pai, fílho e Esputo Santo 6 fé; dizerque Deus é urna nature-
za e tres Pessoas é expScag&o da fé. Acolhemos a fé com o coragSo aberto,
a expScagño da fé podemos discutir e até rejeitar. Afeé a resposta á revela-
gao divina, a expücagSo dafééa resposta da razao ás questñes que a fé
suscita".

A afirmacSo de que em Deus há urna só natureza (mía physts) e tres


Pessoas (kai treis hypostáseis) corresponde exatamente á conclusáo dos
Padres gregos que, durante as lutas do arianismo no século IV, procura-
ram exprimir a doutrina ortodoxa. Tal formulacSo, concebida em meio
a tantas outras erróneas, vem a ser garantía de ortodoxia. Notemos que a
palavra homoousios foi objeto de definicao do Concilio de Nicéia I (325) e
se tornou a senha da ortodoxia de entüo por diante, tendo por grande
campeáo o Bispo S. Atanásio de Alexandria.

6. O livro apresenta muitas belas páginas a respeito da SS. Trinda-


de. É de lamentar, porém, que o faca sempre em vista de premissas e
conclusóes socio-pollticas; faz do estudo da SS. Trindade um reforco
para as suas teses sociológicas- o que desfigura a objetividade e a beleza
do tratado.

122
Furojomallstico:

Vaticano alterou texto de Joáo XXIII ?

Em símese: A noticia publicada pela imprensa aos 23/10/1986 sobre


"alteragSo de texto do Papa Joáo XXIIP' por parte do Vaticano está mal estru-
turada ou é contraditória em si. Pretende suscitar escándalo sem fundamento.
Atlas, a distíngáo entre o conteúdo dos artigos deíéea formulagSo verbal dos
mesmos é tSo antígaquanto a própria S. Escritura do Novo Testamento, onde
os Evangelhos Sinóticos, SSo Joáo e Sao Paulo professam a mesma fé, mas
a expóem sob aspectos diferentes. Tal disSngáo pode ser sustentada e posta
em prátíca desde que se conservem incólumes as verdades da fé tais como
sempre foram ensinadas pela Igreja. É preciso, porém, que o estudioso nao
ceda á precipitagSo leviana, trocando vocábutos clássicos por outros mais re
centes só pelo (ato de que aqueles sSo anegos. A proposito os Papas Pió XII
e Paulo VI emitíram normas e declaracües que hño de ser fielmente observa
das por quem nao queira afastar-se do teor da fé católica.

Aos 23/10/86 a imprensa publicou urna noticia sensacionalista a


respeito do Vaticano. Causou certo alarde nos primeiros dias após a di
vulgado; todavia parecia ter cardo no esquecimento, quando um periódi
co nao católico a trouxe de novo b baila, provocando espanto entre os
leitores em geral, mesmo católicos. Visto que tal apreensSo foi repetida
mente trazida á redacáo de PR, julgamos oportuno fazer urna análise de
tal noticia e tecer-lhe algumas consideracóes.

1. A noticia que estourou...

Aos 23/10/86,1? caderno, p. 19, o JORNAL DO BRASIL publicou o


seguinte:

123
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

TEÓLOGO DIZ QUE VATICANO ALTEROU TEXTO DE JOÁO XXIII


Juan Arias, El País

Roma - O teólogo italiano Cario Motan afirma que o famoso discurso


com que o Papa Joáo XXIII abriu o ConcIHo Vaticano II nao fígura na Acta
Apostólicas Sedis* em sua versio original. Segundo Molari, o queéapre-
sentado hoje como texto oficial 6 urna tradugSo latina "distinta em seus pon
tos-chave do que Joáo XXIII realmente escreveu".

O texto da discordia é multo importante, pois toi nele que o Papa Ron
calli fez, pela primera vez na historia da Igreja, urna distingáo entre a substan
cia do dogma e sua formulagáo histórica. O texto italiano original, escrito á
mSopelo Papa, dizia exatamente:

'Urna coisa é a substancia da antiga doutrina do depósito da fé, e outra


a sua formulagáo, e 6 essa última que se deve, com paciencia se fornecessá-
rio, levar milito em consideragSo, avaBando-a em todas as fórmulas e proposl-
cóes de um magisterio de caráter prevalentemente pastoral".

Esse texto aparece apenas no jornal L'Osservatore Romano (órgáo do


Vaticano) e foi rápidamente traduzido para o latím. Dessa tradugSo, adultera
da, de acordó com o teólogo Molari, foram feitas depoisas demais tradugóes,
induindo a italiana. A importante afírmacáo de Joáo XXIII, que implicava ver-
dadeira revolugSo na concepgáo da formulagáo dos dogmas na Igreja Católi
ca, foi traduzida assim:

"Urna coisa é a revelagáo mesma da fé, isto é, as verdades coñudas


em nossas doutrinas, e outra é a formulagáo com a qual é anunciada, que
conserva, contudo, o mesmo sentido e a mesma profundidade".

Segundo esta traducáo, na verdade tica reafirmada a antiga doutrina


escolástica, para a qual o conteúdo do dogma e sua formulagáo eram a mes
ma coisa.

Molari - protessor de Teología Dogmática no Colegio para a Propaga-


gao da Fé - ressalta que "a dimita curial sustentou sempre que a tradugSo la
tina do histórico discurso do Papa Roncalli é mais exata. mas o fato ó que o

'Acta Apostolícae Sedis o peridico oficial da Santa Sé. (Nota do redator).

124
ALTERADO TEXTO DE JOÁO XXIII? 29

próprio Joáo XXIII, ñas duas vezes em que citou o referido texto, o fez usando
sua formulacSo original e nao a traducáo oficiar.

O motivo da divergencia, explica Molari, foi o incómodo que criou no


Santa Oficio o famoso discurso inaugural do Concilio, com o qual Joáo XXIII
"fundía o tema teológico na historia cotidiana dos homens". Tampouco se po
de esquecer, acrescenta o teólogo italiano, que a Curia de entSo conslderava
o patriarca de Veneza inoculado de 'modernismo", por ter sido amigo pessoal
de BonaiuW, um dos expoentes italianos do modernismo...

Podendo-se já distinguir entre a substancia de um dogma - por exem-


pto, o da virgindade de Mana - e sua formulacSo histórica, seria possfvel
muito bem reformular o que esse dogma signifícava, adaptando-c A linguagem
de cada época histórica. Se tosse correto, como sustentam hoje muitos teólo
gos, que a verdade coñuda na fórmula da virgindade de Maña, antes e depois
do parto, provinha das antigás mitologías - que, para destacar a excepckmaB-
dade do nasclmento de umpersonagem histórico, asseguravam que ele havia
nasudo "de urna virgem" - 6 evidente que hoje se pedería modificara forro/-
laceo do dogma sem trair o seu verdadeiro sentido".

Segundo o Papa JoSo XXIII, interpretado por Cario Molari, poder-


se-ia reformular toda a teología ou mesmo toda a mensagem da fé; as
proposites do Credo teriam urna roupagem que o senso histórico relati-
vizaria, chegando a conceptees berri diferentes das tradicional. Eis por
que perguntamos:

2. Que pensar?

Procederemos em tres etapas:

2. 1. ObservacSo preliminar

Antes do mais, observamos que a questSo é lancada por ocasiao de


urna noticia de jornal nao especializado em teologia. Tal fonte é precaria
e insuficiente para que se possa ter urna imagem exata dos aconteci-
mentos. N§o consta tenha chegado ao Brasil algum esclarecimento oficial
da Santa Sé sobre o caso.

2.2. Considerando o texto do jornal...

Como quer que seja, tentemos aprofundar a noticia como se acha


no Jornal do Brasil. Para tanto, coloquemos um ao lado do outro o texto
atribuido a Joio XXIII e a versáo que dele terá feito a Curia Romana:

125
30 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

Jólo XXIII Curia

"Urna coisa é a substancia "Urna coisa ó a revelacio


da antiga doutrina do depósito mesma da fe, isto 6, as verdades
da fé, e outra a sua formulacSo, e contidas em nossas doutrinas, e
é essa última que se deve, com outra 6 a formulacSo com a qual
paciencia se for necessário, levar é anunciada, que conserva, con-
muito em consideracio, avatian- tudo, o mesmo sentido e a mes-
do-a em todas as fórmulas e pro- ma profundidade".
postcdes de um magisterio de ca-
ráter prevalentemente pastoral".

O comentador destes dois textos acrescenta por própria conta:


"Segundo esta (a segunda) traducáo, na verdade fica reafirmada a antiga
doutrina escolástica, para a qual o conteildo do dogma e sua formulacSo
eram a mesma coisa'*.- Ora é este comentario que deturpa os dois textos
e suscita um problema que nao existe; o comentador diz o contrario da-
quilo que os textos afirmam. Com efeito, tanto JoSo XXIII como a Curia
professam.

1) urna coisa é "a substancia», da fé" ou "a revelacáo mesma da


fé*

2) outra coisa é a formulacáo da fé...

Feita esta distincáo, dizem ambos os textos que a formulario {ou a


roupagem verbal) da fé pode mudar (ao menos é o que tencionam sig
nificar, em linguagem brasileira assaz deficiente, os dois textos). A subs
tancia, porém, ou o significado mesmo dos artigos da fé nSo mudaría.

Em suma, os dois textos asseveram o mesmo: o conteúdo das ver


dades da fé é ¡mutável, mas as locugóes que as exprimem podem variar,
a fim de tornar mais inteliglvel esse conteúdo imutável. A tradugáo feita
pela Curia Romana tería enfatizado "a conservado do mesmo sentido e
da mesma profundidade"; tal énfase era necessária para que o afS de
tornar moderna a linguagem teológica nao prejudicasse a substancia da
fé.

Pergunta-se entSo: com que direito o comentador assegura que


"segundo essa traducáo fica reafirmada a antiga doutrina para a qual o
conteúdo do dogma e a sua formulacfio eram a mesma coisa"? Ambos os
textos dizem: "Urna coisa... Outra coisa..."

Vé-se assim que a celeuma levantada pela imprensa se deve a pre-


conceitos e habilidade do redator da noticia. O público deixou-se impres-

126
ALTERADO TEXTO DE JOÁO XXIII? 31

sionar nao só pelo corpo do telegrama, mas também pela mánchete que
orientava falsamente o leitor antes de comecar a ler; na base desses arti
ficios é que surgiu o alarde; um pouco de senso crítico e de atertcSo obje
tiva aos textos teria evitado o mal-estar.

Mas nao termina aqui a nossa serie de observares.

2.3. Recuando até as tantos.

Ultrapassemos agora a noticia do jornal e vamos até as fontes da


historia do Concilio do Vaticano II.

O texto de Joáo XXIII que vem ao caso, faz parte do discurso de


abertura do Concilio do Vaticano II, pronunciado pelo Papa na manhá de
11/10/1962. Ora verifica-se que ñas fontes portadoras do texto desse dis
curso aparece, sim, a versio atribuida por Cario Molar! á Curia Romana;
logo a seguir, porém, há algo que Molari nSo transcreve, isto é, a obser-
vacáo de que a imutabilidade do dogma nao excluí seja a sua formu lacio
adaptada as intencdes pastorais do magisterio da Igreja (como se le no
texto atribuido ao próprio punho de JoSo XXIII). Eis o que se acha em
Acta Apostolicae Sedó, vol. LIV, 26/11/1962, p. 792 e em Acta Synodalta
Sacrosancti Condlii Oecumeníd Vatkani II, volumen I, Periodus I, Pars I,
Typis Polyglottis Vaticanis MCMLXX, p. 172:

"Est enim aliud ipsum de- "Urna coisa é o próprio de


positum Fidel seu veritates quae pósito da Fé ou as verdades que
veneranda doctrina nostra conti- estáo contidas em nossa venera-
nentur, aliud modus quo eaedem vel doutrina. Outra coisa é o mo
enuntiantur, eodem tamen sensu do como sao axpressas, conser
eademque sententia. Hule quippe vados poróm o mesmo sentido e
modo plurimun tribuendum erit a mesma profundidade. Será pre
et pattenter, si opus fuerít, in eo ciso atribuir grande Importancia a
laborandum: scilicet eae Inducen- esse modo e, se necessário, insis
dae erunt ratlones res exponendt tir com paciencia na sua elabora-
quae cum magisterio, cuius Índo cao; será necessário recorrer a
les praesertim pastoralis est, ma- urna forma de apresentar as coi
gis congruunt". sas que corresponda ao magiste
rio, cujo caráter é eminentemente
pastoral".

Como se vé, este texto concorda com o que se atribuí ao próprio


punho de Joáo XXIII; se houve o pequeño acréscimo de "eodem sensu
eademque sententia", acréscimo devido ao Papa ou á Curia Romana
(quem o poderia dizer?), esse acréscimo está exatamente na linha de
pensamento do Pontífice e tende a explicitá-lo. Para corroborar esta

127
32 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

afirmacáo, citamos aqui também os antecedentes do texto em foco den


tro do discurso de Jo5o XXIII:

"Vé-se claramente todo o que se espera do Concilio quanto á doutrina.


O XXI Conciso Ecuménico - que se aproveltará de eficaz e importante soma
de experiencias jurídicas, litúrgicas, apostólicas e administrativas - quer
transmitir pura e Integra a doutrina, sem atenuacóes nem subterfu
gios,'1 que através de vinte sécalos, apesar das difícufdades e das oposicóes,
se tomou patrimonio comum dos homens. Patrimonio nSo bem recebido por
todos, mas sempre riqueza ao tíispor dos homens de boa vontade.

O rtosso dever nao 6 só conservar este tesouro precioso, como se nos


preocupássemos únicamente com a antigüidade, mas dedicar-nos com von~
ta.de pronta e sem temor équete trabalho que a nossa época exige, prosse-
guindo assim o caminho que a Igreja percorre há vinte sécvlos.

O ponto importante deste Concilio nao é, portanto, a discussSo de um


artigo ou outro da doutrina fundamental da Igreja, repetMo e proclamando
o ensino dos Padres e dos teólogos antigos e modernos, pois este se supóe
bem presente e familiar ao nosso espirito.

Para isso nio haveria necessidade de um Concilio. Mas da renovada,


serena e tranquila adesSo a todo o ensinamento da Igreja, na sua integridade
e exatidáo, como brilha ñas Ates Conciliares desde Tronío ató o Vaticano I,
o espirito cristSo, católico e apostólico do mundo inteiro espera umprogresso
na penetragSo doutrinal e na formacáo das consciéndas, em corresponden
cia mals perfefta com a fideltdada a doutrina auténtica; mas também esta
seja estudada e exposta por meto de formas de indagac&o e formulacSo literaria
do pensamento moderno. Urna é a substancia..." (texto extraído do livro de
Frei Boaventura Ktoppenburg, Concilio Vaticano lln voL II, PetrúpoSs, 1363,
pp. 309s).

Em conclusáo, verifica-se que as idéias expressas ñas Atas oficiáis do


Concilio do Vaticano II correspondem exatamente as do Papa Joáo XXIII:
preconiza-se fidelidade integral a doutrina da fé, expressa em termos
acesslveis ao homem moderno.

Passemos agora a um complemento do assunto, estudando mais


atentamente

1O grifó é nosso. (Nota do redator).

128
ALTERADO TEXTO DE JOÁO XXIII? 33

3. A mudanza das fórmulas de fé

Vém a propósito tres pontos:

3.1. Énovidade?

A distincSo entre o conteúdo do dogma e sua formulacáo histórica


está longe de ser inovacáo do Papa JoSo XXIII, como insinúa a noticia de
jornal em foco. Com efeito; basta considerar os textos mesmos do Novo
Testamento: os evangelistas sinóticos, os Apostólos SSo Joio e SSo
Paulo professam o mesmo Credo, mas pfiem em relevo facetas diferen
tes das mesmas verdades. Assim, por exemplo,

1) No tocante i Cristologia

- no Evangelho segundo S. JoSo, é realcada especialmente a


majestade ou a Divindsde de Jesús Cristo desde as primeiras páginas; cf.
Jo 1,29.34.36/19. 51. Antes de se deixar prender, o Senhor Jesús derruba
os seus adversarios; cf. Jo 18,6. Ele sabia o que havia dentro do homem;
cf. Jo 2,24s. Ele conhecia todo o plano do Pai a seu respeito; cf. Jo 13,1;
19.33;

- nos escritos sinóticos, Jesús é visto como o Mestre que vai á


frente dos discípulos e a eles se revela aos poucos; a sua humanldade é
mais focalizada, embora nSo falte a revelacSo da sua Divindade; cf. Me 2,
5-12.27; 14,62.

2) No tocante áSoteriologia1

- SSo Joáo pfie em relevo o valor salvffico da própria encarna-


cao do Verbo: esta, a seu modo, já santificou a humanldade; cf. 1 Jo 1,1-4;
Jo 1,14;

- S8o Paulo se detém mais no aspecto redentor da Cruz de


Cristo e do sangue derramado; cf. Cl 1,20; Ef 1,7; ICor 6,20.

3) No tocante áescatotogia

- os sinóticos enfatízam as cenas referentes á segunda vlnda de


Jesús e a consumacSo dos tempos; cf. Mt 24,1-51; Me 13,1-37; Le
17,20-37;

1Ooutrina da salvafio.
129
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

- no quarto Evangelho nao se encontram tais cenas; dir-se-ia


que a vida eterna comeca antes mesmo do flm dos tempos, desde que o
cristSo tenha a fé e participe dos sacramentos da fé; cf. Jo 6,48-58; 11,
25s. Torna-se relativamente secundaria, no caso, a preocupado com os
acontecimentos fináis da historia, pois a graca de Deus, dada ao cristao
peregrino, já é a sementé da gloria.

Mais: no decorrer da historia da teología, encontramos nos sáculos


Ill/V as duas grandes escolas de Antioquia e de Alexandria respectiva
mente; enquanto aquela considerava mais a letra da S. Escritura e apela-
va para as categorías da razao, esta prefería a alegoría e as interpreta-
cóes místicas, sempre, porém, professando a mesma fé.

Por conseguinte, o que Joáo XXIII propunha, ao abrir o Concilio do


Vaticano II, nada tinha de revolucionario.

3.2. Mudar dentro de certos límites

Logo apds o Concilio do Vaticano II alguns teólogos holandeses


tentaram a reformulacáo do dogma eucarfstico ou da real presenca de
Cristo no sacramento do altan em vez de utilizar a palavra "transubstan-
cíacSo", que, segundo esses autores, nada significa para o homem mo
derno, propuseram os vocábulos "transignificacao" e "transfinalizacáo",
usuais na filosofía fenomenológica existencialista contemporánea. O con-
ceito aristotélico de "substancia" seria substituido pelos de "significacao"
e "finalidade" de correntes modernas. A ¡ntencáo desses autores era reta
e podía ser entendida em sentido ortodoxo; todavia os novos termos le
vados S experiencia pastoral concreta geraram ambigúidades e confusáo
entre os fiéis, de tal modo que o Papa Paulo VI foi obrigado a escrevera
encíclica Mysterium Fidel (Misterio da Fé), na qual observa o seguinte:

'Salva a inlegridade de té, é necessário salvar também a maneira exata


de ialar, nao acontega que, usando nos paiavras ao acaso, entrem no nosso
espirito - o que Deus nao permita - idéias falsas como expressSo da crenga
nos mais altos misterios*..

Donde se concluí que se deve observar religiosamente a regra de falar


que a Igreja, durante tongos séculos de trabalho, assistida peto Espirito Santo,
estabeteceu e foi confirmando com a autoridade dos Concilios, regra que.
multas vezes, se veto a tomar sinal e bandeira da ortodoxia da fé. Ninguém
presuma mudá-la a seu arbitrio ou a pretexto de nova ciencia. Ouem há de
tolerar que fórmulas dogmáticas, usadas pelos Concilios Ecuménicos a pro
pósito dos misterios da Santfssima Trindade e da Encamacáo, sejam acusa
das de inadaptagSo á mentaSdade de nossos contemporáneos, e outras Ihes
sejam temerariamente substituidas? Do mesmo modo, nao se pode tolerar

130
ALTERADO TEXTO DE JOÁO XXIII? 35

quem pretenda expungir, a seu talante, as fórmulas usadas pelo Concttb Tú-
dentino ao propor afé no Misterio Eucaristía). Essas fórmulas, como as ou-
tras que a Igreja usa para enunciar os dogmas de fé, exprimem conceHos que
nao estío ligados a urna forma de cultura, a determinada fase do progresso
cientíñco, a urna ou outra escota teológica, mas apresentam aquito que o espi
rito humano, na sua experiencia universal e necessária, atinge da reaídade
exprimindo-o em termos apropriados e sempre os mesmos, recebkSos da lin-
guagem ou vulgar ou erudita. SSo, portanto, fórmulas inteügíveis em todos os
tempos e lugares" (nn. 23-25).

"Depois do Concilio de Trente, o Nosso Predecessor Pto VI, opondo-se


aos erros do Sínodo de Pistoia, recomendou seriamente aos párocos, encar-
regados de ensinar, que nao deixassem de falar da Transuostanciacáo, que
figura entre os artigos da fé. Na mesma.Bnha, o Nosso Predecessor Pb XII,
de feliz memoria, recordou quais sSo os limites que nao devem ultrapassar
aqueles que aprofundam o Misterio da TransubstandacSo" (ns 56).

Estes principios enunciados por Paulo VI se aplicam ao dogma da


Virgindade de María.

3.3. A Virgindade de Maña

A rigor ou abstratamente falando, a crenca na Virgindade maternal


de María poderia ser entendida metafóricamente. Isto, porém, ainda nSo
habilita o crístáo a proceder assim. Há criterios objetivos para interpretar
as palavras ligadas aos artigos de fé; entre estes criterios, prepondera a
maneira como a Tradicáo da Igreja tem entendido tais palavras atreves
dos séculos. NSo é lícito substituir vocábulos e conceitos inveterados da
crenca da Igreja por vocábulos e conceitos contrarios, só pelo fato de que
aqueles sao antigos e estes sao modernos. As verdades da fé n§o sao ex-
pressóes subjetivas da devocao, mas sao algo de objetivo e perene, que
há de ser sempre respeitado. Ora a virgindade de María sempre foi en
tendida pela Igreja em sentido físico e corpóreo; por conseguinte, nSo se
pode admitir a reformulacáo que esvazie ou negué o sentido concreto
deste artigo de fé. Alias, sobre virgindade e mitología ¡á foi publicado
longo artigo em PR 294/1986, pp. 510-519.

A propósito podem-se ainda citar as ponderacSes de Pió XII dirigi


das a teólogos que tencionavam proceder precipitadamente na reformu-
lacSo das verdades da fé:

"Pode-se dar á filosofía*, urna veste mais conveniente e mais rica; po-
der-se-á reforcar a mesma filosofía com expressóes mais efícazes, despojaba
de cortos meios escolásticos menos adequados, enriquecé-la aínda - com
prudencia, porém - de cortos elementos que sSo frutos do progresslvo tra-

131
36 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

balho da inteligencia humana. Nao se deverá, porém, jamáis subverté-la com


falsos principios, nem estimá-la só como um grandioso monumento de valor
puramente arqueológico. Pois a verdade e toda a sua manitestagSo Blosóñca
nao pode estar súpita a mudancas cotidianas, especialmente quando se trata
dos principios evidentemente e diretamente conhecidos como tais pela razio
humana ou daquelas assercóes, referendadas ou pela sabedoria dos sécalos,
ou pela harmonía com os dados da RevelacSo divina. Qualquer verdade que a
razio humana por meto de uma pesquisa sincera for capaz de descubrir, nao
poderá jamáis estar em contraste com uma verdade já anteriormente de
monstrada; porque Deus, suma Verdade, criou e rege o intelecto humano nao
para que ás verdades já adquiridas ele contraponha cada día outras novas,
mas para que, removendo os erros que eventualmente se forem introduzindo,
acrescente verdade a verdade, na mesma ordem e com a mesma harmonía,
com a qual vemos constituida a natureza das coisas criadas, onde a inteligencia
humana vaihaurira verdade. Porisso o cristáo, seja filósofo, seja teólogo, nao
abraga sem mais, com precipitacño e leviandade, todas as novidades que
aparecem, mas as deve examinar com a máxima diligencia e as deve ponde
rar no seu justo peso, para nao perder a verdade já adquirida ou corrompé-la,
cortamente com perigo e daño para a sua fé" (encíclica Human! Generé rfi
29).

Eis as considerares que o artigo de imprensa sobre Jo§o XXIII e a


Curia Romana nos sugere. É doloroso verificar que uma noticia tio mal
formulada pode perturbar muitas mentes. E tomamos a liberdade de
acrescentar: quem sabe quantas e quantas outras noticias mal redigidas e
inverídicas perturbam o público eos fiéis católicos sem o mínimo fun
damento?! - Como é oportuno ter senso critico quando se léem noticias
sensacionalistas a respeito de religiao em jomáis nSo especializados!

ContinuacSo da p. 97:

Quando mostras um ramo verde á ovelha, tu a atrais. Quando mostras


nozes á crianca, tu a atrais. Corre atraída, atraída pelo amor, atraída sem le-
sáo do como, atraída pelo vínculos do coragáo. Por conseguíate, estes bens,
dentro as delicias e as volúpias da térra, quando apresentados a quem ama,
atraem, pois é verdade que 'cada qual é atraído pela sua votúpia'. Se assim é,
o Cristo revelado pelo Pai nao haveria de atrair?Pois que é que a alma deseja
com mais ardor do que a Verdade?" (InJo. tr. 26, n9 A).

Estas palavras do grande Doutor nos estimulam a tentar continuar


a difusio da Boa-Nova, que é, sem dúvida, a única resposta cabal aos an-
seios dos homens de todos os tempos, pois afinal todos tém sede de Feli-
cidade e dé Vida.

E.B.

132
Sim ou NSo á

Pena de Morte?

Em sfntese: O recrudescimento da criminaBdade em nossos días tem


suscitado em varios pensadores o anseio de que se introduza a pana de
morte no Brasil; seria fator coibitivo da onda de violencia que flagela a nossa
socledade: ou monem os intquos ou morrem os inocentes, dizem os apolo
gistas da sentenga capital. - Quando se referem á doutrina da igreja neste
particular, os autores nem sempre a interpretan} cornetamente. Na verdade,
a Igreja nSo repudia a pena de morte como tal ou abstratamente telando; Ela
julga que pode ser um ato de legitima defesa da socledade contra Injustos
agressores, que nao poderiam ser evitados de outra forma. Todavía note-se
que, para añrmar a validada da sentenga capital neste ou naquele país, em
dado momento histórico, 6 preciso ter conhecimentos exatos das condicóes
de vida do respectivo povo; ora tais nocOes togem A aleada da Igreja e vém a
ser da competencia dos peritos em ciencias humanas. Por feto a Igreja neo
propugna nem condena a pena de morte na reaSdade concreta dospovos, mas
pede aos peritos que avaSem as situagdes com objetividade e sem palxOes.

A problemática da pena de morte é calorosamente discutida em


nossos días. A recrudescencia do terrorismo e da crimlnalidade leva
muitos autores a postular a sua implantado ¡mediata ñas legislares em
que n§o existe; para tanto recorrem aos mais diversos argumentos. Ao
contrario, outra córrante de pensadores recusa tal posiefio, afirmando
que é nao apenas desnecessária, mas também injusta a própria pena de
morte.

Da ampia bibliografía que sobre o assunto existe, vamos apresentar


sumariamente dois livros, que envolvem a Igreja nessa problemática,
nem sempre concordando entre si neste particular. A seguir, exporemos
com objetividade o pensamento da Moral católica.

133
38 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

1. "Pena de Morte Já"


pelo Pe. Emilio Silva

O Pe. Emflio Silva de Castro é benemérito a muitos títulos: Decano


da Faculdade de Direito da Universidade Gama Filho, Catedrático da
Universidade do Estado da Guanabara, Catedrático da Pontificia Univer
sidade Católica do Rio de Janeiro». Com especial interesse vem estudan-
do nos últimos anos a questSo da pena de morte, resultando daf o lívro
"Pena de Morte Já".1

A obra é exaustiva, pois aborda o assunto sob todos os aspectos:


tanto fornece as razfies em prol da pena de morte quanto refuta os con
tra-argumentos levantados pelos abolicionistas. Assim quem deseje co-
nhecer a problemática e a respectiva discussSo, encontrará em tal livro o
que procura, exposto com muita erudicSo, varios dados estatlsticos, nu
merosas citagOes de autores antigos e modernos.

A viga-mestra da obra consiste em dizer que a pena de morte coibe


a criminalidade; dissuade os malfehores de cometer seus erros, intimi-
dando-os e promovendo a tutela dos inocentes. Pde freqúentemente o
dilema: ou morrem os homicidas ¡níquos ou morrem os inocentes; ora,
para que nSo perecam estes, aqueles tém que ser drásticamente elimina
dos.

Proposta a tese, o autor examina as objecdes em contrario, dentre


as quais sobressai a seguinte: "A pena de morte nSo exerce nenhum
efeito dissuasório da delinqüéncia" (p. 79). A esta afirmativa o Pe. Emilio
Silva responde citando estatisticas realizadas em diversos países da Eu
ropa e da América que aboliram a pena de morte. Entre outros, citamos
os dados referentes a Inglaterra:

"Abolida a pena de morte em 1968, a criminalidade tomou um Incre


mento muita considerávet. No ano seguinte ao da aboligño, o número de as-
sassinatos dupfcou. Estudos efetuados pelo Ministerio do Interior indicam que
o país está diante de um serio perigo se nao torem estabeletídas ¡mediata-
mente medidas enérgicas para corrigir a sltuacSo. Os crimes a mSo armada
aumentaram em uns 40% a partir da aboücSo" (p. 82).

Na base deste e de outros varios testemunhos, o autor julga que


"as leis da psicología humana, as estatisticas, os ensinamentos da historia

1Revista Continente Editorial Ltda., Av. 13 de mato 23/20°, sala 2025, Rto
de Janeiro (RJ) 1986,218 pp. O livro ¡á foi publicado na Espanha e no México,
estando em preparo a edigSo italiana.

134
PENA DE MORTE? 39

incutem categóricamente a forca dissuasória da pena de morte". "En-


quanto se suprime de fato ou de direito a pena de morte, os crimes au-
mentam em proporcóes aterradoras; e, ao contrario, quando sé aplica de
fato, esteja oü nao estabelecida de direito, baixam na mesma proporcáo"
(citacSo de Davi Núnez, La Pena de Muerte frente a la; Iglesia y al Estado,
2« ed. Buenos Aires. 1970, p. 47).*

Quanto ao Brasil, o autor escreve longas páginas (98-123) analisan-


do os efeitos da nao aplicacao da pena de morte:

"Ñas Américas, o Brasil, que, na boca de multas de seus representan


tes da política ou das letras, se gloria da aboücSo, apresenta um índico de cri-
irínaBdade desconcertante pela magnltude, que possivelmente o coloca na
primeira linha da triste estatfstíca da detinqOéncia entre os países da América"
(P-98).

Urna das fortes razfies para n§o haver pena de morte no Brasil seria
a índole sentimental do povo brasileiro. Segundo o Dr. Rocha Lagoa, Juiz
de Menores, o instituto da pena capital "choca profundamente o sentí-
mentó brasileiro e 6 contra a formacao do nosso povo" (citado ás pp.
101 s). O periódico O GLOBO afirmava solertemente em um editorial: "A
implantado da pena capital n2o se coaduna com o sentimento do povo
brasileiro" (p. 102).

Todavia o Pe. Emilio cita inquérítos efetuados junto á opiniSo pú


blica a respeito da introducáo da pena de morte. "Talvez o mais serio e
cuidadoso tenha sido o realizado há tres anos pela LPM-Burque e Mán
chete no Rio de Janeiro e em Sao Paulo, entre pessoas de 18 a 55 anos,
de todas as classes sociais, respeitsda a proporcionalidade dessas classes
e idades, de acordó com o último censo. Á pergunta, entre outras multas,
'Parece-lhe que no Brasil deveria haver pena de morte?' a grande maioria
-79%- respondeu afirmativamente" (p. 109).

O autor enfatiza outrossim o aumento da criminalidade entre nos,


citando manchetes de jomáis e estattsticas significativas; cf. pp. 114-123.

Ao tratar da posicSo da Igreja frente á pena de morte, o autor dá a


entender que a liceidade da mesma corresponde ao ensinamento da
Igreja até os últimos decenios; principalmente após o Concilio do Vatica
no II (1962-65) levantaram-se vozes de teólogos e pensadores católicos
em sentido contrario. Esses testemunhos estariam destoando de quanto
ensina o magisterio da Igreja. A tal ponto o Pe. Emilio identifica a liceida
de (ou mesmo a necessidade) da pena de morte com a doutrina da Igreja.
Ver pp. 45-47.

135
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

Passemos agora a outra obra notável sobre o mesmo assunto.

2. "O Direito de Vivar e a Pena de Morte"


por B. Alves Barbosa

Trata-se de um estudo do Dr. Benedito Alves Barbosa, Bacharel em


Direito pela Pontificia Universidade de Campiñas (SP).1 Traz o prefacio
do Dr. Alberto Marinho Júnior, Juiz do Primeiro Tribunal da Alfada Civil
de Sao Paulo. Defende com veeméncia a implantado da pena de morte
no Brasil, também recorrendo a farta documentado, inclusive bíblica e
religiosa. A tese do livro é formulada á p. 80: "A pena de morte, até que
saja substituida por outros métodos seguramente eficazes contra o crime,
é um instrumento indispensável para garantir a inviolabilidade do direito
de vivér. A prática habitual de delinquir, indubitavelmente, é urna he
dionda ofensa á dignidade humana. A dlgnidade humana nSo se evoca
para beneficiar abomináveis transgressores dos direitos fundamentáis do
homem. Para dizermos que a pena de morte depóe contra a dignidade
humana, antes devemos admitir que o vicio do assassinato seja um mal
insignificante para caracterizar ofensa a táo nobre questao. O criminoso
nao tem o privilegio de arrogar-se a dignidade humana e exproprlar os
seus semelhantes do direito de vlver" (p. 80).

O autor diz enfáticamente: "O direito de viver é invlolável, salvo


para garantir a sua própria inviolabilidade" (p. 85).

Os criminosos inveterados sSo ¡rrecuperáveis. Quem se compadece


deles, de¡xando-os em vida, prejudica a sociedade; tém feito correr ríos
de sangue sobre toda a face da térra...

"A dor alheia, para os margináis, é motivo de galhota. Se há algo com


que nao devemos contar dentro os margináis, é o virtual arrependimento. O
arrependimento é urna virtude que nao se acha naqueles que, sem motivo,
conscientemente cometem crimes capltais contra a vida humana" (pp. 78$).

Segundo o Prof. Benedito, "nem mesmo Oeus interessou-se em


regenerar os transgressores da lei, os desertores da fé e os adoradores de
ídolos fundidos artificialmente" (p. 76). E cita textos bíblicos, que o autor
julga aptos a fundamentar tal tese: Ex 32,27s; Nm 14,36-38; 16,31-35;
31,7s; Dt 7,1 s; Js 6,20s; 7,24s; 10,9-11; 12,7-24; IRs 31,3-6; 2Rs 24,15; Ap
21,8; 22,15s...

1Editora Julex Uvros Uda. Biblioteca e Uvraria Jurídica, Rúa Dr. Quirino,
1551. C. p. 326. Campiñas (SP) 1985, 175pp.

136
PENA DE MORTE? 41

Mais: o leitor nSo pode deixar de ficar impressionado com os dize-


res da p. 80, em que se le: "Os margináis devem sofrer tanto ñas prisóes
como fora destas-. A partir do momento em que os margináis passarem
a receber tratamento digno do ser humano, indubitavelmente os delitos
nos meios sociais multiplicar-se-So, pois os criminosos nSo predsam de
motivos para os seus crimes, e o tratamento no cárcere ou dentre a so-
dedade será urna razio fundamental para instigar os delinquemos h cri-
minalidade. Penalista nenhum ignora o fato de que o marginal, ao obter
a liberdade..., apressa-se a reincidir em seus crimes para voltar ao cárcere
e, apesar do mau trato que al recebe, continuar sua vida de presidiario.
Atualmente o homem, para se beneficiar de resultados materiais, ainda
que insignificantes, despreza a honra, a dignidade humana, o bom sen-
so..." (p. 80).

Ao falar do Cristianismo, o Dr. Benedito julga que "a Igreja se ma-


nifesta imperativamente contra a pena de morte. Gestarte a Igreja nega
aos filhos de Deus nao so o direito de se defenderem do mal, mas tam-
bém o direito de, neste sentido, serem defendidos pelas instituicoes pe
náis do Estado. Para a Igreja, os filhos da perdicáo podem matar; os fi
lhos de Deus devem aceitar ser mortos por mfios profanas; os direitos
fundamentáis do homem, perante Deus, n8o contém o direito de sobre
vivencia ás perversidades dos filhos do demonio. A Igreja quer as coisas
assim" (pp. 19s).

Registramos esta posicáo do Prof. Benedito, antitética d do livro do


Pe. Emilio no tocante á sentenca da Igreja porque revela bem quanto s§o
confusas as opinifies a respeito da pena de morte e dos ditames da cons-
cifincia crista neste particular. Como freqüentemente acontece, as díscus-
s6es se tornam acaloradas por causa de mal-entendidos ñas mentes dos
que debatem.

Eis por que agora passamos a urna consideracSo serena e objetiva de

3. A postcao da Igreja

Distingam-se duas etapas de raciocinio: 1) legitima defesa do indi


viduo; 2) legitima defesa da sociedade.

3.1. Legflfma defesa do individuo

A Moral católica ensina que, se alguém é injustamente agredido e


corre serio perigo de ser assassinado, tem o direito de matar seu agres-
sor antes que este o mate. Tal á o estatuto da legitima defesa.

137
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

Esta norma se apoia no principio de que o injusto agressor perde o


direito á sua vida; se nio há outro meio de escapar dele, & pessoa agre-
dita é licito matá-lo, pois o Evangelho nSo deve ser pretexto para que os
bons se entreguem aos maus; o Cristianismo nSo é escola de capitulacSo
diante da iniqüidade, de sorte que o cristfio a deixaría campear, a titulo de
ser bom cristáo. Qüando Jesús diz que é preciso apresentar a face es-
querda a quem esbofeteia a direita (cf. Mt 5,39), está usando de urna hi
pérbole, das quais há muitas no sermao da montanha (Mt 5-7; cf. Mt
5,29s; 5/10. 48). Alias, o próprio Jesús, esbofeteado, nSo apresentou a
outra face ao seu carrasco, mas perguntou-lhe (como que para fazé-lo
tomar consciencia do mal cometido): "Se falei mal, dá testemunho do
mal; mas, se falei bem, por que me bates?" (Jo 19,23). Também Sao
Paulo foi espancado na boca, por ordem do Sumo Sacerdote judeu Ana-
nias; ao que ele replicou: "Deus vai ferir-te a ti, parede caiadal Tu te sen-
tas para julgar-me segundo a Lei e, violando a Lei, ordenas que me ba-
tam?" (At 23,3). Estas considerares bem mostram que está equivocado
o Dr. Benedito Alves Barbosa na interpretado da doutrína do Evangelho
sobre o amor aos inimigos.

O principio de legitima defesa, que é válido para todo individuo em


caso de extrema emergencia, aplica-se também á sociedade. Donde o
subtitulo

3.2. Legítima defesa da sociedade

A sociedade ameacada por malfeitores altamente perniciosos pode


ser comparada a um individuo injustamente agredido. Em conseqüéncia,
o que é licito a este, vem a ser licito aquela. Assim se legitima a pena de
morte. A Moral crista, baseada neste raciocinio, reconhece em principio
a liceidade da sentenca capital. Esta, alias, era praticada no Antigo Tes
tamento, sob a Lei de Moisés.

é de notar, porém, que, quando no Antigo Testamento Deus orde


na sejam punidos com a morte homens delinqüentes - israelitas ou pa-
gráos -, nao está condenando ao inferno ou á ruina definitiva esses indivi
duos. O Antigo Testamento vem a ser a lenta pedagogía de Deus em re-
lacjio a um povo rude, "de dura cerviz" (cf. Ez 3,7), para o qual s<5 tinham
eficacia severas demonstrac.6es de Justina. Estas tinham seu valor educa
tivo para a coletividade; a enanca entende melhor as atitudes claras e
fortes do seu mestre do que argumentos de elevada filosofía. Quanto aos
individuos assim punidos, é de crer que o Senhor Deus Ihes haja ofereci-
do a grapa do arrependimento antes da morte, pois Deus nunca abando
na a criatura (embora possa ser por esta abandonado). No Antigo Testa
mento os procedimentos pedagógicos eram diversos daqueles que hoje

138
PENA DE MORTE? 43

sSo oportunos; certas medidas drásticas tinham sua justificativa, mas nao
podem ser sempre tomadas como padrees para a conduta dos cristSos.

Voltando aos tempos atuais, observemos bem: nao é fácil a um


cristao averiguar se na vida complexa de uma sociedade a pena capital
é realmente o recurso único e necessário para diminuir a críminalidade. A
solucáo que aflora com certa clareza na situacSo de um individuo injus
tamente agredido, nao se impfie com a mesma clarividencia quando se
considera o caso de uma sociedade atacada por criminosos e homicidas
renitentes. - Apesar do que proclamam os arautos da pena de morte, po-
de-se perguntar:

1) Será que tal punicSo é realmente medicinal para a sociedade? É


meio apto a conter os criminosos e diminuir a onda de crimes ñas socie
dades modernas? Parece que o medo da morte hoje em dia nSo é sufi
ciente para desviar do crime os malfeitores.

2) A técnica psicológica moderna nSo teria recursos para obter


certa recuperacSo dos assassinos inveterados?

3) A prisSo perpetua nSo seria punicSo de eficacia igual a da pena


de morte, com a vantagem de poupar vidas humanas?

4) NSo será que os tribunais podem algumas vezes errar conde


nando alguém á morte?

Há quem recuse valor a tal questionamento e, por isto, se defina ¡n-


condicionalmente pela pena de morte. Há, porém, aqueles que julgam
tais perguntas suficientes para solapar a necessidade da sentenca capital.
Quem está com a razSo? Quem tem as melhores intuicdes no caso? Visto
que se trata de assunto prático e extremamente complexo, é difícil res
ponder. Poderá haver situacó'es e momentos em que a pena de morte
será salutar para determinada sociedade, como também poderá aconte
cer que a mesma sociedade já nSo veja o porqué da pena de morte. En-
tende-se que, sendo tal a problemática, podem tornar-se intermináveis
os debates sobre a mesma.

Em conseqúéncia, nao se deveria identificar a doutrina da Igreja


com alguma das duas sentencas. Em sfntese: a Igreja nSo repudia a pena
de morte como tal ou abstratamente falando, mas Ela nSo pode afirmar
se, nestas ou naquelas circunstancias históricas concretas, tal medida é
ou nSo salutar para algum país. Quem deve proferir a sentenca concreta,
sao os peritos de ciencias humanas e sociais que se debrucam atenta
mente sobre as características do país em foco; procurem pdr de lado
qualquer emogáo ou paixSo e ponderar com objetividade as exigencias
do bem comum.

139
A acáo do Espirito:

0 surto da Igreja na Coréia

Em sfntese O Catolicismo na Coréia nSo surgiu por obra de Missioná-


ríos, mas por efeito de livros levados da China para lá. Os leüores coreanos
destes comegaram a interessar-se pela mensagem de tais escritos e final
mente abragaram a fé. Durante muitos decenios viveram sem sacerdotes e
sem sacramentos, aturando severas perseguigóes e padecendo o martirio.
Somonte em 1836 comegaram os missionários a trabathar sistemáticamente
na Coréia.

É digno de nota o modo como teve inicio o Catolicismo na Coréia


(Extremo Oriente asiático). Trata-se de urna historia que atesta eloqúen-
temente a ac3o do Espirito Santo neste mundo e que está em consonan
cia com outras facetas singulares da historia da Igreja. Segue-se urna
stntese dos acontecimentos registrados nos albores do Catolicismo co
reano.

1. O inicio de urna historia heroica

O comeco do Catolicismo na Coréia (Térra do Sereno Amanhecer)


nao se deve propriamente a obra de pregadores e missionários, mas,
sim, ao fato de que no inicio do sáculo XVII foram levados da China para
aquele país alguns livros de doutrina católica. Os seus primeiros leitores
¡nteressaram-se por tais escritos, movidos por mera curiosidade intelec
tual; puseram-se, porém, aos poucos a pesquisar o sentido da mensagem
crista e as suas credenciais. Este estudo tornou-se a ocasiSo para que,
sob a acáo da graca divina, neles nascesse auténtica fé católica. Organi-
zaram-se em pequeñas comunidades sem sacerdotes, que abracavam o
modo de vida evangélico, diverso dos hábitos de vivencia do povo corea
no nio cristao (as crencas religiosas mais difundidas na Coréia sao o bu
dismo, o confudonismo, o xamanismo, o chondokio). O fato de viverem
como cristáos foi motivo para que esses fiéis sofressem intensas perse-
guicóes, que duraram mais de um século, sem que por isto se extínguísse

140
AIGREJANACORÉIA 45

a fé dessas comunidades. Na segunda metade do secuto XVIII, tais co


munidades mandaram a Pequim (China) um de seus membros, a fim de
se instruir mais aprimoradamente na fé e recebar o Batismo. Este voltou
á Coréia em 1784; era o primeiro coreano batizado. Contribuiu forte-
mente para consolidar a fé e os hábitos de seus irmáos. Todavia as co
munidades cristas ainda permanecerán! cerca de cinqüenta anos sem o
ministerio regular de sacerdotes; apenas na primeira metade do século
XIX dois presbíteros provenientes da China deram-lhes a desojada as-
sisténcia religiosa, mas sem continuidade. As comunidades coreanas fi-
cavam sob a ¡urisdicao do Bispo de Pequim; pediam instantemente a vin-
da de sacerdotes a quem Ihes pudesse atender. Finalmente em 1836 fo-
ram para a Coréia alguns missionários franceses pertencentes á Socieda-
de Parisiense para as Missdes em Térras Estrangeiras e lá iniciaram um
trabalho mais sistemático de organizado da Igreja com seus pastores e
sua vida florescente; o zelo pela oracáo e pelo amor fraterno havia sus
tentado esses grupos cristSos durante mais de um século de heroísmo
frente ds perseguicSes.

Estas se repetiram ainda, de modo que hoje, num olhar retrospecti


vo, se pode dizer que os anos de 1839,1846, 1866 e 1867 foram forte-
mente marcadas pela efusao do sangue de mártires nao só coreanos, mas
também franceses missionários na Coréia. Feito o devido exame dos fa-
tos, contam-se cento e tres heróis que, por causa da fé, morreram na-
quele país: sao de todas as idades, ppis o mais jovem, Pedro Yu, tinha 13
anos, e o mais idoso, Marcos Chong.'contava 72 anos; enumeram-se clé
rigos e leigos, homens e mulheres, ricos e pobres, nobres e simples pie-
beus, que tiveram por antepassadas algumas geracóes de mártires anó
nimos. Oestacam-se entre eles o sacerdote André Kim Taegon, zeloso
pastor de seu rebanho, e o leigo Paulo Chong Hasang.

2. Alguns depoimentos

Oessa numerosa pleiade de atletas de Cristo, vSo, a seguir, destaca


dos alguns traeos biográficos e frases importantes proferidas no final de
sua vida terrestre:

Assim Teresa Kwon, urna das primeiras mártires, retrucava aos


seus algozes: "Já que o Senhor dos céus é o Pai da humanidade, como
podéis pedir-me que eu O renegué? Mesmo no mundo alguém que re
negué o seu pai ou a sua mSe, nSo pode ser perdoado. Menos ainda po-
deria eu renegar Aquele que é o Pai de todos nos!"

Ágata Yi, com dezessete anos de idade, juntamente com seu írmSo,
recebeu a falsa noticia de que seus país haviam renegado a fé. Respon-

141
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

deu entáo: "Renegar a fé ou nao, é problema de meus pais. Quanto a


nos, nao podemos renegar o Senhor do céu, a quem sempre servimos".
Ao ouvirem ¡sto, seis adultos cristSos entregaram-se espontáneamente
ao juiz para serem martirizados. '

Merecem especial registro ainda os seguintes servos de Oeus:

Aleixo Ou Syei-Hpil n9o completara dezenove anos de idade, mas,


por causa de sua fé crista, era injuriado e espancado pelos pais como
traidor dos costumes patrios. Sofreu o martirio aos 11/03/1866.

Thomas Son Tja-Syen, casado, com pouco mais de trinta anos de


idade, era fiel cumpridor dos seus deveres de cristao. Foi intimado a ab
jurar a fé no Senhor Jesús; tendo-o recusado varias vezes, foi encarcera-
do e sujeito a torturas pungentes. Como nada o levasse a renegar a sua
fé, foi morto aos 30/03/1866.

JoSo Batista Nam Tyong-Sam era camareiro do rei e habitante de


Seúl. Estudara a Mngua e a literatura chinesas. Era de familia nobre, mas
pessoalmente cultivava a humildade. Como mandarino, procurou servir
ao próximo, e tornou-se muito estimado pelo povp. Todavia os demais
assessores o odiavam por ter abandonado os hábitos e a religiáo de seus
antepassados. Foi, em conseqüencia, encarcerado, e padeceu horrlveis
tormentos para que renegasse o nome de Cristo. Tendo-se recusado re
petidamente a fazé-lo, os jufzes o coagiram a subscrever sua sentenca de
morte. Assim deu testemunho do Evangelho derramando o seu próprio
sangue aos 06/03/1866.

Pedro Ryou Tjyeng-Rkxil era casado. Desde que abracara a fé cris


ta, conseguirá dominar sua natureza propensa á ira. Dedicou-se ao
apostolado entre os seus concidadáos, dos quais levou muitos a Cristo.
Na noite de 16/02/1866, estava reunido com um grupo de catequistas, aos
quais explicava o Evangelho; foi entao preso pela Polícia e levado a Dele
gada, onde muito o espancaram. Sempre firme na fé, morreu pelo amor
de Cristo aos 17/02/1866, com cinqüenta anos de idade. O seu corpo foi
atirado ao rio, mas recuperado pela esposa, que o sepultou.

Muitos outros testemunhos de fé corajosa poderiam ser citados


como sinais da acáo da gtaca na Coréia. O Santo Padre Joio Paulo II, ao
visitar a Coréia, houve por bem canonizar os 103 mártires coreanos (de-
vidamente reconhecidos, pois há muitos outros que ficaram no anoni
mato) em solene Missa celebrada aos 06/05/84.

Ao recitar a oracSo do Ángelus (meio-dia) naquela data, o Santo


Padre dizia aos fiéis:

142
AIGREJANACORÉIA 47

"Como nos maiores olas de (esta acontece, nSo podemos deixar de nos
lembrar daqueles que nos sio caros e que nio puderam vir compartilhar nos-
sa alegría: nossos irmáos do Norte deste país e os da China, gracas é qual a
Corea conheceu o Cristo. Oramos para que continúen) a ser fortes para tes-
temunhara sua (é. Que María, nossa Máe comum, os reconforte e corroborel"

"O sangue dos mártires é sementé de novos cristios", dízia o es


critor Tertuliano no sáculo III.

Estévao Bettencourt OSB.

Livros em Estante
A Lógica do Amor. Pensamento Teológico de Carlos Mesters, por
Tereza María Cavalcanti. - Ed. Paulinas, Sao Paulo 1986, 145 x 210 mm,
126 pp.

Este tivro é urna tese de mestrado apresentada na PUC-RJ e orientada


por Freí Cfodovis Boff. Procura recolher das obras de Freí Carlos Mesters,
conhetído exegeta bíblico, as respectivas linhas teológicas a respeito de Re-
velagSo Divina, SS. Trindade, Igreja e Escatotogia.

Urna das linhas principáis desse pensamento éade que "a Igreja nasce
do povo". "Povo", no caso, é entendido segundo a Sociología e absolutizado
ou canonizado como padráo de vivencia do Evangelho. Freí Mesters chega a
dizer: "mima Igreja que nasce do povo, só existem dois peritos: o Espirito
Santo e o próprío povo, que... comunicam entre si por meio que nos desco-
nhecemos" (p. 64). ConseqOentemente a estruturacSo da Igreja e a formula-
gao dos artigos de fé sio entregues a urna instancia que muitas vezes é me
ramente subjetiva. Também os protestantes afirmam que o Esputo Santo fala
em cada creóte possibiBtando-lhe o Bvre exame da Biblia; disto resultam cen
tenas de denomnagóes ectesiais protestantes, cada qual com sua profíssSo
defée disciplina. -Até católica ensina que Cristo e o Espirito Santo se fazem
presentes e atoantes na Igreja mediante instancias objetivas, ou se/a, me
diante o magisterio da Igreja, ao qual o Senhor prometeu especial assisténría
(cf.Mt16,16-19; Le 22,31s; Jo 21. 1S-17;Mt28, 18-20).

Nessa "Igreja que nasce do povo", Frei Carlos admite com taciüdade
"urna exptos&o de carismas", como se todas as manifestacóes espontáneas
dos Seis tivessem a cháncela do Espirito Santo (na verdade, sabemos que al
pode haver ilusOes múltiplas e também fenómenos patológicos).

143
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 298/1987

Entre os outros varios pontos que merecer» serias ressatvas no Svro,


está o conceho de RevelagSo (pp. 17-23). FreiMasters tanto insiste em que
Deus se revela hoja na historia dos homens que parece nivelar 'os sinais dos
tempos atuais* com a revetac&o constitutiva da historia bíblica (Patriarcas,
Profetas, Jesús Cristo). Este nivelamento, que nSo leva em canta a especial
Mole da historia bíblica, já foi apontado como grave erro dos teólogos da B-
bertagSo na InstrucSo Libertatis Nuntius de 06/08/84, cap. IX, n'3. Vertam-
bóm a respeito de povo de Deus na Biblia e na teología da libertagSo o cap.
IX rfi10-12 deste mesmo documento.

Em suma, Tereza Cavatcanti fez urna sfntese muito fiel de um pensa-


mentó que nSo 6 ñél é doutrina da Igreja Católica, embota muito insinuante e
de leitura agradável.

Criado e EvotueSo. Deus, o Acaso e a Necessidade. por Newton


Freire-Maia. - Ed. Vozes, PetrópoSs 1986,140x210mm, 357pp.

Este Bvro se deve a erudito professor da UFPR, que tenía fazera sfnte
se entre as conclusóes da ciencia moderna e as verdades da té no tocante A
origem do mundo e do homem. De modo geral, á feliz na sua exptanacáo, rica
em dados científicos e informagóes; está a par das añrmacóes da sadia exe-
gese bíblica de nossos olas e mostra que as teorías evolucionistas nao se
opoem é noció de críacSo, visto que a Biblia nao quer ensinar cosmología, an
tropología ou genética..., mas, sim, transmitir urna visao sapiencial ou religiosa
sobre o mundo e o homem. Lamentamos algumas impredsóes de Bnguagem,
que apuntaremos em próxima recensáo mais minuciosa; cf. pp. 9. 62. 74s.
84S. 145...

O mesmo encomio n§o vate para as páginas 277-322, em que o autor,


saindo da sua área de pesquisas, se voita para as ciencias sociais e políticas.
O Dr. Newton Freire-Maia, sempre aborto ao diálogo, entenderá esta nossa
ressalva; o Svro só lucraría se Ihe fossem liradas tais páginas.

Pequeño Dicionário de Nona Senhora, por Antonio Mata. - Ed. Pro-


pria. Rio de Janeiro (Rúa Caruso 22/202. CEP: 20270). 1984/5, 14x210
mm. 168 pp.

Este livro supOe bons estudos de exegese bíblica e teología, que vém
aposentados sob formada verbetes doutrinariamente sólidos. Evita apiada-
de sentimental e para ater-se é autentica mensagem da fé, em conformidade
com o magisterio da Igreja. A Virgem SS. sempre foi considerada a inimiga
de todas as heresías; daf a importancia de serio retorno é piedade mañana,
se queremos reafirmar as grandes verdades atinentes a Cristo e é Igreja. Cf.

F.S " EB"


/■ <> 144
PRÓXIMO LANCAMENTO DAS EDICÓES "LUMEN CHRISTI":

D. PEDRO MARÍA DE LACERDA


ÚLTIMO BISPO DO RIO DE JANEIRO NO IMPERIO
(1868-1890)

Para elaborar o presente livro, o autor, D. Jerónimo de.Lemos


O.S.B., além de .consultar ampia bibliografía, viu também o arquivo de D.
Lacerda, lendo su a correspondencia, escritos, e preciosa documentado
até hoje inédita, bem como jornais daquele tempo, gratas ao que pode
contribuir para urna perspectiva ¡nteiramente nova sobre a pessoa e
acontecimientos da época em que viveu esse bispo, que, durante mais de
vinte anos dirigiu espiritualmente os destinos da extensa diocese de Sao
Sebastiáo do Rio de Janeiro, a qual, naquela época, nao se restringía ao
asstm chamado Municipio Neutro, mas abrangia todo o Estado do Rio e
Espirito Santo, e territorios das provincias de Santa Catarina e Minas
Gerais.-600 páginas- NO PRELO.

Reveja seus conheámentos litúrgicos, lendo a

CONSTiTUIQÁO "SACROSANCTUM CONCILIUM"


sobre a Sagrada Liturgia (Edic.ao bilingüe)

É o 69 volume da Colecáo "A PALAVRA DO PAPA" (a sair em breve):

Vol. 1 - Joáo Paulo Meo espirito beneditino Cz$ 18,00


Vol. 2-0 Corpo humano e a Vida Cz$ 13,00
Vol. 3 - Vida e missSo dos Religiosos Cz$ 18,00
Vol. 4 - Joáo Paulo II aos jovens Cz$ 18,00
Vol. 5 - Instrugao Geral sobre a Liturgia das Horas Cz$ 27,00
Vol. 6 - Constituicao "Sacrosanctum Concilium Cz$ 28,00

EM COMUNHÁO
Revista bimestral, editada pelo Mosteiro de Sao Bento, destina-se
aos Oblatos e as pessoas interessadas em assuntos de espiritualidade
monástica. Além da conferencia espiritual mensal de D. Estéváo Betten-
court para os Oblatos, contém tradugóes de comentarios sobre a Regra
beneditina e outros assuntos monásticos. - Assinatura anual em 1987:
Cz$50jOO.

Para assinatura dirija-se ao Armando Rezende.FiJho ""


{Caixa Postal 3608 - 20001 Rio de Janeiro -.RJI ou ásfdicóes ".Lurnen
Christi" (Caixa Postal 2666 - 20001 Rio de Janeiro - RJ).

ATENOE-SE PELO REEMBOLSO POSTAL


PARA O NOVO ANO LETIVO:
Que livros adotar para os Cursos de Teologia e Liturgia?
A "Lumen Christi" oferece as seguintes obras:
1. RIQUEZAS DA MENSAGEM CRISTA (2? ed.), por Dom Cirilo
Folch Gomes O.S.B. (falecído a 2/12/83). Teólogo conceituado,
autor de um tratado completo de Teologia Dogmática, comen
tando o Credo do Povo de Deus, promulgado pelo Papa Paulo
VI. Um alentado volume de 700 p., best seller de nossas Edi-
góes, cuja traducáo espanhola está sendo preparada pela Uni-
versidade de Valencia- Cz$ 100,00.

2. A DOUTRINA DA TRINDADE ETERNA, do mesmo Autor. O


significado da expressáo "Tres Pessoas", 1979, 410 p. -
Cz$ 85,00.

3. O MISTERIO DO DEUS VIVO, P. Patfoort O.P. O Autor foi


examinador de D. Cirilo para a conquista da láurea de Doutor
em Teologia no Instituto Pontificio Santo Tomás de Aquino
em Roma. Para Professores e Alunos de Teologia, é um Trata
do de "Deus Uno e Trino", de orientacáo tomista e de índole
didática. 230 p. - Cz$ 36,90.

4. LITURGIA PARA O POVO DE DEUS (3? ed., 1984), pelo Sale-


siano Don Cario Fiore, traducáo de D. Hildebrando P. Martins
OSB. Edicáo ampliada e atualízada, apresenta em íinguagem
simples toda a doutrina da Constituicáo Litúrgica do Vat. II. É
um breve manual para uso de Seminarios, Noviciados, Cole
gios, Grupos de reflexáo. Retiros etc., 216 p. - Cz$ 50,00.

2? Edicáo de:
DIÁLOGO ECUMÉNICO, Temas controvertidos.
Em 18 capítulos, tendo sido acrescentados nesta edicáo:
"Capitulo IV: A Santfesima Trindade: Fórmula paga?"
"Capitulo XVIII: Seita e espirito sectario".
(Cap. 1. O catálogo bíblico. 2. Somente a Escritura? 3. Somente a fé,
Nao as obras? 4. O Primado do Pedro. 5. Eucaristía: Sacrificio e Sacra
mento. 6. A confissáo dos pecados. 7. O purgatorio. 8. As indulgencias.
9. Maria, Virgem e Máe. 10. Jesús teve irmáos? 11. O culto dos Santos.
12. As imagens sagradas. 13. Alterado o Decálogo? 14. Sábado ou Do
mingo? 15. 666 (Ap 13,18).
Seu Autor, D. Estéváo Bettencourt, considera os principáis pontos da
clássica controversia entre Católicos e Protestantes, procurando mostrar
que a discussáo no plano teológico perdeu muito de sua razáo, de ser,
pois nao raro, versa mais sobre palavras do que sobre conceitos ou
proposicóes. - 380 páginas - Cz$ 120,00.

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