Está en la página 1de 50

Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriarñ)
APRESErsTTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que elevemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanca a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanza e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a coníiaca
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
confronf
Sumario
Me.

0 SANTUARIO DA FAMILIA 441

Acaso e necessidade ?
CIENCIA CONTEMPORÁNEA E EXISTENCIA DE DEUS 443

A palavra do Papa :
DISCURSO AOS BISPOS DO BRASIL 450

A palavra do Papa :
AS COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE 461

,E o número da Besla ?
666 (Apocalipse 13,18) 469

AVISO 478

Urna peca famoso :


"A LOJA DO OURIVES" de Karol Wojtyla 479

LIVROS EM ESTANTE 3? capa

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

NO PRÓXIMO NÚMERO:

E a sepultura de Sao Pedro ? — Explosao demográfica e paterni-


dade responsável. — A eutanasia. — Índice Geral de 1980.

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Número avulso de qualquer mes 32,00

Assinatura anual 320,00

PEDIMOS AOS NOSSOS ASSINANTES QUE AÍNDA NAO


NOS MANDEM O PAGAMENTO REFERENTE A 1981

Diregaio e Redagao de Estéváo Bettencourt O.S.B.

ADMINISTRACAO REDACAO DE PR
Llvraria Missionária Editora Calxa. Postal 2.666
Rúa México, 111-B (Castelo)
20.031 Rio de Janeiro (RJ) 20 °°° Bl° *• JaneIre
Tel.: 224-0059
O SANTUARIO DA FAMILIA
A familia tem estado em foco na imprensa das últimas
semanas, pois o Sínodo dos Bispos reunido em Roma houve por
bem dedicar-lhe solícita atengáo.

Compreende-se o porqué deste aprego. Na verdade, a fami


lia é a célula-máe da sociedade civil e da Igreja. O sacramento
do matrimonio faz do contrato natural entre o homem e a
mulher um canal permanente de santificagáo, de modo que
esposo e esposa cristáos constituem o que se chama urna «igreja
doméstica». Esta expressáo significa que tudo o que se realiza
na lar, mesmo as fungóes mais elementares (atengáo á arru-
magáo da casa, á economia, á educagáo dos filhos...) é ocasiáo
de santificagáo para os cdnjuges. Com outras palavras: na vida
conjugal crista, o esposo e a esposa vém a ser mais do que eles
mesmos ou mais do que duas criaturas que compartilham o
mesmo modo de viver; com efeito, diz Sao Paulo que o esposo
faz as vezes de Cristo e a esposa as da Igreja (cf. Ef 5, 31s).
Isto quer dizer: o esposo cristáo prolonga o ministerio de graga
e redengáo do Cristo, ao passo que a esposa exerce o ministerio
de graga e santificagáo da Igreja (Esposa de Cristo). Nenhum
dos dois vive simplesmente a sua vida pessoal, mas cada um
desempenha urna tarefa transcendental, pois é assumido por
Cristo para urna obra que toca os valores definitivos. Por isto
afirma aínda Sao Paulo que mesmo nos lares em que só um
dos cdnjuges é fiel á sua vocagáo crista, o consorte fiel santi
fica a familia ou vem a ser penhor de gragas para o consorte
infiel e para os filhos (Cf. ICor 7,14).

Por isto também a familia é a primeira escola de fé para


os filhos; é lá que, juntamente com o leite e os rudimentos da
higiene e da educagáo, a máe e o pai transmiten* á prole os
primeiros ensinamentos de Cristo, ensinamentos sem os quais
a vida carece de sentido. O testemunho dos pais é decisivo para
as criangas, como bem observou o S. Padre Joáo Paulo fi na
homilía da qual vai um trecho transcrito na quarta capa deste
fascículo.

Táo sublime tarefa nao pode deixar de implicar sacrificio


e renuncia para os dois cónjuges. Alias, o sacrificio é inerente
á realizagáo de qualquer nobre ideal. A felicidade nao consiste
necessariamente nem únicamente no prazer sensível; ela conr
siste essencialmente no cultivo de grandes valores que tornam
a pessoa mais nobre, mais plenamente pessoa. Ora tal nobreza,
associada á renuncia, ocorre quando alguém ama verdadeira-

— 441 —
mente e procura o bem do ser amado. O Cristo, que amou a
sua Esposa, a Igreja, morreu por ela; ora a vida conjugal é
partidpacáo da vida e da mássáo de Cristo; ninguém se casa
só para servir a si ou atender apenas aos seus interesses. Ora,
desde que alguém se disponha a ajudar o outro a tornar-se
mais fílho de Deus através do matrimonio, compartilha a Paixáo
de Cristo (que, alias, é inseparável da Ressurreicáo). Por isto
os noivos cristáos háo de ser preparados para os momentos
dificéis da vida conjugal; nao se decepcionaráo quando tiverem
que os atravessar.

Estas reflexóes sao proferidas estritamente á luz da fé


crista. Talvez nao as entenda quem nao tenha fé. Apesar disto,
é oportuno propó-las mais urna vez, em eco ao Sínodo dos
Bispos, pois tais reflexSes contém para todos os homens o
segredo da verdadeira felicidade no matrimonio. A Igreja lem-
bra tais verdades tendo em vista o bem da grande familia hu
mana, numa época em que varios fatores ameacam fortemente
a familia como se fosse urna instituigáo ultrapassada; o falso
conceito de felicidade, identificada com o de prazer sensual,
leva muitos a crer que o amor é descomprometido ou livre e
nao mais exige a paciente procura do bem comum.

Para os fiéis católicos, a estabilidade da familia é de im


portancia capital. É o que sabiamente recordava, entre outros,
o arcebispo metropolita Mons. Anthony Padijara, de Changa-
nacherry (india), durante o Sínodo:

"Depende da familia a salvac&o ou a destrulcáo da Igreja em determi


nada reglao. A Igreja, como um todo, traz, é verdade, a promessa de que
nao sucumbirá até o fim dos lempos. Mas esta promessa nao vale necessa-
rlamente para todo e qualquer territorio da Igreja. A subsistencia da Igreja
em determinado país nao depende de elementos extrínsecos, nem da des-
truicáo de Igrejas e conventos, nem, em última instancia, da hierarquia
eclesiástica. Depende, sim, de que os homens e as mulheres que se admi
nistraran) mutuamente o sacramento do matrimonio, transformen) as suas
familias, pela grasa deste sacramento, em Igrejas domésticas. E esta
— nem mais nem menos — a única coisa necessária no momento atual".

A subsistencia da Igreja, no caso, nao é entendida em


sentido egoísta, mas, sim, como sendo a própria subsistencia dos
valores evangélicos e da obra redentora de Cristo, que é sal-
vacáo para o mundo inteiro.

Possam as nossas familias, conscientes da sua insubstitui-


vel missáo, corroborar-se e tornar-se assim sempre mais autén
ticas células de VIDA!
E. B.

— 442 —
«PEROUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XXI — N« 251 — Novembro de 1980

Acaso e necessidade?

ciencia contemporánea e existencia


de deus
£m síntese: A ciencia de nossos días oferece ao homem dados ex
perimentáis de prectsSo singular, até nunca atingida,... dados mediante
os quais os pensadores podem tentar construir a sua cosmovis&o ou
Weltanschauung. Ora a ciencia contemporánea se toma cada vez mals cons
ciente da presenca de urna Inteligencia Suprema que preside á evolucfio
das criaturas; de modo especial, o ser vivo é o espécimen mais significa
tivo da sabedorla do Senhor Deus Criador. O presente artigo aponta varios
aspectos da realidade dos vivantes (anatomía, fisiología, embriogenese...),
que atestam a existencia de um modelo regulador das fuñones de cada
célulo viva, modelo que garante a evolucfio finalista dos vívenles e a sua
tendencia a se reconstruir quando lesados; este modelo é obra e expressáo
da sabedorla do Supremo Artífice. Tais elementos, descobertos e afirmados
pela ciencia contemporánea, op5em-se ás concepcSes mecanlclstas e afl-
nalistas dos dentistas do século XIX ou mesmo da escola neopositlvista
representada no século XX por Jacques Monod; conflrmam outrossim a
existencia de Deus, sempre professada por sabios, mas posta em xeque
pelos materialistas do século pasado, cuja ciencia aínda era relativamente
incipiente. Mals urna vez se comprova que a pouca ciencia afasta de Deus,
mas a multa ciencia leva a Deus.

Comentario: Em todas as épocas os homens pro-


curavam ter urna Weltanschauung ou visáo global do mundo
e do homem. Para tanto, costumam partir dos dados da ciencia
da sua época. Ora nos últimos decenios a ciencia progrediu
enormemente, adquirindo algumas certezas de grande importan-
cia. Tenha-se em vista, por exemplo, o fato de que os homens
construiram urna nave espacial, foram á Lúa e de lá voltaram á
Térra; este fenómeno significa que os conceitos vigentes de
estrutura da materia, das leis que a regem e das que comandam
as transformasóes da energía e a atracáo dos corpos, corres-
podem, e mgrande escala, á realidade, pois, apoiando-se em tais
leis, os homens realizaram a viagem á Lúa. Note-se outrossim

— 443 —
4 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 251/1980

que o fato de que a medicina consegue a profilaxia e a cura


de doengas cada vez mais numerosas, comprova os conheci-
mentos adquiridos na área biomédica.
Eis por que, ñas páginas subseqüentes, nos bascamos em
dados da ciencia de nossos dias, escolhendo, era especial, a
biología contemporánea, para propor um principio de cosmo-
visáo que será muito diferente da filosofía materialista de
decenios passados; com efeito, apontará a existencia de Deus
como algo que decorre da observagáo objetiva do fenómeno
«vida» e ilustra todos os demais conhecimentos do homem.
Consideraremos 1) tragos característicos do ser vivo; 2)
a embriogénese; 3) a explicagáo mecanicista da vida. Ao qu§
se seguirá urna conclusáo.

1. O ser vivo: elementos característicos


Dentre os viventes, seja o homem selecionado para urna
análise mais detida. Consideremo-lo em tres nívc-is diferentes: o
da célula, o do órgáo e o do organismo.

1.1. A célula humana

A célula é urna unidade que, observada ao miscroscópio


eletrónico, revela estrutura e atividade complexas, mas cheias
de sentido.
A parede da célula isola esta das suas vizinhas e a póe
em comunicagáo com as mesmas e com o meio ambiente.
Permite intercambios dirigidos e controlados com precisáo num
sentido e noutro.

O citoplasma ou massa líquida da célula é sede de ativi-


dades químicas extremamente requintadas e de extraordinaria
complexidade: gragas aos elementos recebidos de fora, elabora
as substancias e as energías necessárias á conservagáo das
suas estruturas e ao funcionamento do organismo. Todas estas
operacóes se realizam com exatidáo, harmonía e capacidade de
adaptagáo surpreendentes.

Quanto ao núcleo da célula, contém a cromatina, cujo


componente mais importante é o ácido desoxiribonucléico ou
ADN, suporte das informagóes cujo conjunto constituí o pro
grama genético. Este se acha inscrito, segundo um código que
comega a ser decifrado, sobre a longa fita que é o ADN, com-
parável a urna fita magnética; dirige soberanamente todas as
atividades da célula. Por ocasiáo de cada divisáo de célula, as

— 444 —
CIENCIA CONTEMPORÁNEA E EXISTENCIA DE DEUS 5

informagóes sao copiadas pelo desdobramento da fita de ADN


e transmitidas integralmente as células-filhas.

1.2. A nivel de órgño

Especializadas e diferenciadas, as células microscópicas se


agrupam em centenas de milhoes para formar conjuntos ma
croscópicos de forma e volume bem definidos, como o figado, o
coragáo e o cerebro, etc. As células do figado póem em reserva
produtos energéticos trazidos pelo sangue e liberam-nos segundo
as necessidades precisas do organismo a cada momento. Segre-
gam diátases1, eliminam dejetos, neutralizan! toxinas. As
células do coragáo estáo agrupadas de modo a formar urna
bomba que aspira e preme, com as suas cavidades, as suas
válvulas e os seus cañáis...; sao muito alongadas; o seu cito
plasma contém ,um sem número de pequeñas fibras paralelas,
que funcionam em ritmo rigoroso e em estríta sincronía, de
modo a provocar as contragóes do coragáo; esta bomba, que é
o coragáo, preenche a sua tarefa segundo por segundo durante
toda a vida do organismo.

No tocante ao cerebro, note-se que é unía estrutura for


mada por mais de dez bilhóes de células, cada urna das quais
está ligada a muitas outras por varias dezenas de milhares de
conexóes. Entre os seres visiveis, o cerebro humano é o mais
prodigioso, pois vem a ser o suporte material e o instrumento
cuja integridade é indispensável ao exercício do pensamento.

1.3. A nivel de organismo

Os diversos órgáos, associados aos ossos, aos ñervos, aos


músculos, á pele... estáo integrados numa unidade maior que
é o organismo, rico em atividades físicas e psíquicas, e que se
reproduz para dar origem a organismos semelhantes, que lhe
faráo as vezes e lhe daráo continuidade após a morte.
A reprodugáo genética, que permite aos viventes perdurar
através do tempo, chama-nos a atencáo para o fato de que o
individuo está integrado numa unidade muito maior que é a
especie, a qual por sua vez está integrada no conjunto das espe
cies que hoje existem e, por último, na árvore da vida» Esta é
constituida por numerosíssimas especies que, procedendo da
primeira bacteria, se escalonam em graus ascendentes, tornan-
do-se cada vez mais complexas e perfeitas até chegar ao orga-

i Dlástase: fermento ou outra substancia produzida por células vivas


ou por glándulas e que decompOe os alimentos ou a materia orgánica.

— 445 —
6 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 251/1980

nismo do primate mais evoluido; a este Deus quis infundir urna


alma espiritual criada especialmente para tal organismo, dando
assim origem ao composto humano ou á especie humana'. O
processo que vai da bacteria ao surto do tipo humano conta
aproximadamente tres bilhóes e meio de anos.

2. A embriogénese

1. Todo ser vivo se desenvolve a partir de urna célula


única, a cécula-ovo, oriunda da fusáo de duas células reprodu-
toras: urna do pai, outra da máe... A célula-ovo, microscópica,
divide-se em 2, 4, 8, 16... etc. Forma-se rápidamente um
aglomerado de células indiferenciadas, que continuam a se dividir
e, com o tempo, se váo diferenciando, de modo a constituir pro-
gressiva e harmoniosamente todos os órgáos e todas as partes
de um novo organismo, num processo que, no caso do homem,
chega a termo em nove meses.
Os estudiosos se dedicaram particularmente ao estudo do
ovo da galinha, que é mais fácilmente observável e que pode
ser objeto de intervengóes experimentáis. O ovo consta de re
servas de duas especies — a clara e a gema — e da célula-ovo
microscópica, situada sobre a membrana que separa clara e
gema. Colocado o ovo sob o corpo da galinha-máe ou numa
incubadeira, a célula-ovo se divide e subdivide, utilizando as re
servas da clara e da gema; ao termo de vinte e um dias, está
assim formado o pinto vivo. Este rompe entáo a casca do ovo e
sai, capaz de ver, ouvir, mover-se, alimentar-se e emitir sons que
tém significado para a galinha e para o próprio observador hu
mano. Com efeito, quando se afasta da galinha-máe e verifica que
está só, o pinto póe-se a piar de maneira aguda, intensa e pro
longada. Desde que a galinha-máe o procure, o pintinho emite
sons menos intensos e de outro ritmo, que significam apazi-
guamento e seguranza. Vé-se assim que o pintinho é dotado de
instintos cujas expressóes sao diversificadas e características.
— A transigáo da célula-ovo ao.pinto é portento típico da em
briogénese.
2. Examinemos agora alguns aspectos típicos dessa tran
sigáo.
No conjunto das células originadas pelas primeiras divisóes
da célula-ovo, podem-se distinguir regióes, que se chamam esbo-

1 Note-se que a alma humana nfio é produto de evolucfio; ela nao se


origina de materia, porque nfio é materia; conseqüentemente, tem origem
independente da materia, ou seja, num criador de Oeus, que Ihe dá a
existencia.

— 446 —
CIENCIA CONTEMPORÁNEA E EXISTENCIA DE DEUS 1

ios, dos quais cada um tem sua finalidade própria. Evoluiráo de


modo a produzir os diferentes órgáqs que integram o corpó;
coracáo, fígado, aparelho digestivo, ossos, músculos, etc. Cada
urna dessa zonas é regida por um modelo local, que lhe é
próprio. É o que verificamos quando, a titulo de experiencia,
extraimos do embriáo a massa de 1 ou 2 mm de diámetro
correspondente ao esboco ou a zona do fémur; coloquemos essa
massa num tubo de ensaio dentro de um liquido alimenticio
artificial. Observaremos éntáo que o esboco continuará á
icrescer e se transformará ein um pequeño fémur bem consti
tuido de 10 a 15 mm de comprimento, com a sua diáfise e as
suas duas epífises1.
No embriáo, os diversos esbogos se desenvolvem influen-
ciando-se e informando-se mutuamente para formar aos poucos
e em perfeita coordenacáo o conjunto maravilhoso que é o
pinto vivo. Se no inicio do desenvolvimento do embriáo am-
putarmos parte de urna regiáo-esbogo ou mesmo urna regiáo
inteira, outros conjuntos de células já orientadas para determi
nado objetivo mudaráo de orientagáo ou se desdobrarao para
solucionar a perturbagáo criada pela intervengáo do operador.
Em conseqüéncia, apesar dos disturbios causados no embriáo,
um pintinho perfeito poderá sair do ovo: com efeito, o embriáo
é capaz de auto-regulagáo. Deste fenómeno se concluí que os
modelos reguladores locáis gozam de certa autonomía, mas
estáo subordinados hierarquicamente a um modelo regulador
geral, que dirige e coordena as atividades parciais e locáis e
que é capaz de identificar e de suprir «inteligentemente» as
falhas de um acídente imprevisto.
Notemos aínda que todo o desenrolar da embriogénese
está programado sobre a fita de ADN do núcleo da célula-ovo
no caso do pintinho como no de qualquer vívente; essa pro-
gramagáo, alias, persiste no vívente de modo a presidir a toda
a evolucáo biológica do mesmo na sua vida de adulto até a
morte.

3. A expl¡ca?5o mecanicisto da vida


A ciencia do século XIX sugeriu a nao poucos dentistas
urna explicagáo mecanitísta da vida e da origem da vida...
explicagáo que Jacques Monod reiterou no seu livro «O acaso e
a necessidade» 2. Este autor admite, como nao podia deixar de
admitir, a existencia de sentido e finalidade de «projeto» e «ati-
• Diáfise: bastSo do osso. EplUse: extremldade do osso.
: TraducSo do francés "Le hasard et la nécessitd. Essal sur la phlloso-
phte nalurelle de la blologle moderne" pela Editora Vozes. Petrópolis.

— 447 —
8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 251/1980

vidade projetiva» nos seres vivos. Mas acredita que essa proje-
tividade óu programagáo procede do «náo-senso» ou da náo-
-projetividade inicial e fundamental do universo; ao acaso teri-
am aparecido, na massa inicial do universo, moléculas capazes
de se reproduzir e de transmitir fielmente mformagóes. Estas
estariam inscritas no ADN dos cromossomos dos seres vivos e
seriam suscetíveis de mudangas ocorrentes ao acaso e devidas
a erros de acoplamento ou ao efeito de.radiagóes; tais mudangas
seriam chamadas, em linguagem técnica, «mutagóes». Os indi
viduos oriundos desses programas alterados teriam apresen-
tado características que se transmitiram aos seus descendentes.
Os individuos «mutantes», segundo Monod, sofreram a selegáo
natural: aqueles cujas mutacóes eram vantajosas para se adap
tar as condicóes e circunstancias do ambiente, subsistirán!,
reproduziram-se e, aos poucos, foram suplantando os individuos
nao adaptados ao ambiente.

Tal mecanismo, desenvolvendo-se durante centenas de mi-


lhóes de anos, explicaría, segundo Monod, o aparecimento da
vida e a evolugáo desta a partir da bacteria até o homem.
Nao teria havido nenhuma previsáo, nenhum planejamento,
nenhuma finalidade no universo antes do surto da vida polr
mero acaso. Por conseguinte, nao haveria Inteligencia Suprema
Reguladora,... nao haveria Deus.

A evolugáo mecanicista da vida e do setor da biología,


baseada únicamente sobre o acaso e as propriedades físico-quí
micas do ADN, nunca foi reconhecida unanimente como satis-
fatória. Nao é de estranhar que precisamente os biólogos — os
dentistas mais bem informados na materia — tenham sido os
mais enérgicos adversarios da tese mecanicista1; propuseram
argumentos numerosos e irrefutáveis em contrario. Seja sufi
ciente, neste contexto, chamar a atengáo para o que há de
inversossimil na explicagáo mecanicista de um. olho, de um
ouvido, de um pulmáo ou de urna asa de animal. Teria sido
necessário enorme número de mutagóes, todas orientadas no
mesmo sentido e fortemente coordenadas para que o acaso,
corrigido pela selecáo, pudesse ser tido como causa única da
origem desses órgáos. Já se calculou que, para produzir o
mundo dos viventes como hoje ele existe, o acaso teria necessi-
tado de muito mais tempo do que o comprovado pela ciencia

i Tenham-se em vista as obras de


GRASSÉ, P. P., L'Évolution du vivant. Malérlaux pour une nouvelle
thóoilo transformlste. París, A. Michel 1973.
JACOB, F., La loglque du vtvanl. Paiis, Gallimard 1S70.

— 448 —
CIENCIA CONTEMPORÁNEA E EXISTENCIA DE DEUS 9

ou mesmo um tempo aínda mais longo do que o da duragáa


do universo inteiro.
Alias, nao se deveria conceber o acaso como um sujeito
ou como algo de subsistente (aínda que incapaz de explicar o
surto do universo). O acaso é o nome que se dá ao cruza-
mento de duas ou mais causas bem definidas e orientadas que
se encontram sem que o observador o pudesse prever ou o
saiba explicar; cada qual das causas que se cruzam num fenó
meno «casual», tem sua razáo de ser e sua finalidade precisas;
apenas acontece entáo que o observador, colhido de surpresa,
exprime a sua ignorancia através do nome «acaso». Donde se
vé que «acaso» nao é um sujeito próprio, mas é um nome que
encobre e traduz a ignorancia do observador.

Conscientes das verdades até aqui expostas, os biólogos


mais sagazes sempre admitiram que a vida é regida por um
dinamismo próprio que, sem dúvida, utiliza as torgas físico-
•quimicas, mas, ao mesmo tempo, as .ultrapassa de maneira
estupenda.

As observacóes até aqui propostas levam-nos a pro


curar urna

4. Conclusao
Os dentistas contemporáneos tém-se voltado nao só para os
dados da biología, mas também para os da microfísica e os da
astrofísica e, a partir das mais recentes conclusóes destas
ciencias, julgam poder e dever afirmar a existencia de urna
Inteligencia Superiol* que concebeu o universo, lhe deu a exis
tencia e o conserva na sua realidade. Esta Inteligencia se chama
Deus; é a Fonte de todas as perfeicóes, porque é a própria
Perfeigáo ou o Ser Perfeito, o Ser por excelencia.
Tudo o que existe na natureza aponta para essa Inteli
gencia, pois as criaturas dáo testemunho da mesma. Quanto
mais o homem sonda as riquezas das microestruturas e das
macroesferas, tanto mais descobre os sinais e reflexos da Suma
Sabedoria que as marcou com o seu sinete.
Em tal contexto da ciencia moderna, torna-se impossível o
materialismo e o ateísmo para quem tenha a mente livre de
preconceitos. Verifica-se assim, mais urna vez, que a pouca
ciencia pode afastar de Deus, mas a muita ciencia leva a Deus.
O conteúdo deste artigo deve-se substanclalmente ao trabalho de
Joseph Dietrlch Intitulado "Sclence et existence de Dleu" e publicado em
"Revue des Sclences Rellgteuses" rfi 204, 1960/2, pp. 164-172.

— 449 —
A palavra do Papa:

discurso aos bispos do brasil

Em slntese: O presente artigo apresenta as grandes linhas do dis


curso do S. Padre Jofio Paulo II aos Bispos do Brasil reunidos em Forta
leza (10/07/80). Trata-se de auténtico programa de acSo pastoral que Im
plica comunhSo e fldelldade... Comunháo dos Bispos do Brasil entre si
e com a Sé de Pedro... Fldelldade ao Senhor Jesús e aos homens; esta
fidelldade há de significar, de um lado, o cultivo da oracSo e o zelo pela
transmlssSo integra e incólume das verdades da fé; de outro lado, implica
solicltude para com os presbíteros, os Religiosos, os seminaristas, os lelgos,
especialmente os mals carentes. Abre-se asslm aos Bispos a perspectiva
de urna pastoral social, que visa a promover todo homem e o homem iodo
e que há de ser consentánea com os principios fundamentáis do Evangelho
e da doutrlna social da Igreja; tal pastoral nao há de ser confundida com
política partidaria nem pretende derrogar á autorldade civil legítimamente
constituida.

Comentario : Dentre as numerosas alocugóes do S. Padre


Joáo Paulo II proferidas no Brasil, a mais importante, no dizer
de S. Santidade mesmo, é a que foi dirigida a cerca de duzentos
Bispos reunidos em Fortaleza aos 10/07/80. Ponderadamente
redigida e retocada pelo Sumo Pontífice, tal alocugáo traga
linhas de agáo para a Igreja no Brasil que marcaráo o futuro
da evangelizagáo em nosso país. Eis por que apresentamos, ñas
páginas que se seguem, urna síntese da mesma, guardando,
quanto possível, as próprias palavras de S. Santidade.

I. OS DIZERES DE JOÁO PAULO II

1. Introdujo (n° 1-2)

Com grande alegría Joáo Paulo II aguardou o encontró


com o episcopado brasileiro, episcopado que é o mais numeroso
do mundo e, além do mais, intensamente ativo. Constituí atual-
mente a Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil, que já
conta vinte e oito anos de existencia, atrayés dos quais tem
cumprido a missáo de facilitar a convergencia da ac.5o pastoral
das dioceses, assím como o vem representando, com a maior
autenticidade possível, o Episcopado brasileiro junto a outras
instancias, sem excluir a civil.

— 450 —
O PAPA AOS BISPOS DO BRASIL 11

Longe de se deter na autb-satisfagáo do que já realizou, a


Conferencia dos Bispos do Brasil deve tender a se tornar cada
vez mais fiel as suas tarefas. Donde a pergunta: Como poderá
aperfeigoar-se e crescer a rede de servigos da CNBB? O
documento de Puebla sugere a resposta: na comunháo, na parti-
cipagáo e na evangelizagáo.

2. Comunháo na CNBB (n9 3)

A finalidade primeira de toda Conferencia Episcopal é


manter viva a comunháo entre os Bispos que a compóem, apesar
das compreensíveis diferengas que entre eles existam.

Como base e cimento dessa comunháo, quatro grandes


valores se podem citar: há um só Senhor, do qual todos sao
ministros; urna só verdade, da qual sao mestres e servidores;
urna única salvagáo, que todos anunciam e atualizam; urna só
caridade fraterna, que congrega na unidade. Com efeito, a
comunháo implica o amor fraterno, que leva a superar parti
cularismos, partidarismos ou disputas entre grupos, e integra
em pluralismo sadio a compreensível diversidade.

A experiencia ensina que qualquer pronunciamento de Con


ferencia Episcopal é tanto mais significativo quanto mais nele
se reflete a unidade dos Bispos que falam. Esta unidade há de
ser estimulada pelo diálogo fraterno, que cria um clima propicio
á reciproca confianga. A confianga, que nao se limita á simples
cordialidade no trato mutuo, leva cada um a aceitar opinióes
ou posigóes diversas das próprias, desde que fique salvaguar
dado o bem comum da Igreja.

3. Participagao na CNBB (n* 4)

Crescer em participagáo é a segunda meta. O crescimento


implica que as decisóes da Conferencia levem sempre em conta
os sentimentos e as convicgóes das parcelas do conjunto, ainda
que nao sejam majoritárias. Requer outrossim que nos órgáos
de decisáo haja representagáo dos Bispos membros da Confe
rencia.

Embora aos Bispos toque responsabilidade individual pe-


rante Cristo e a Igreja, é importante que solicitem a colabo-
ragáo de sacerdotes, leigos, Religiosos e Religiosas nos setores

— 451 —
12 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 251/1980

da respectiva competencia. Tais colaboradores merecem louvor.


Todavia sao os Bispos que respondan perante a própria cons-
ciencia e perante Deus pelos pronunciamentos e documentos da
Conferencia. Por conseguinte, a ninguém deveria surpreender
que, em suas assembléias, os Bispos disponham de períodos
suficientemente longos para o encontró e o diálogo entre si,
sem a presenca de outras pessoas, para reforcarem a sua uni-
dade como mestres da fé e partilharem a comum responsabi-
lidade.

4. A evangelizado e a CNBB (n* 5)

Comunháo e participagáo devem beneficiar a principal


tarefa da CNBB, que é a evangelizagáo.

O Documento de Puebla apresenta, como conteúdo essen-


cial da evangelizagáo, as verdades sobre Jesús Cristo
(n* 170-219), sobre a Igreja (n« 220-303) e sobre o homem
(n* 304-339). Tudo o mais é «parte integrante» da evangeli-
zagáo.

Especialmente em nosso mundo ameagado de secularismo


ateu, a proclamagáo do Absoluto de Deus, do misterio de Jesús
Cristo, da transcendencia da salvagáo, da fé e dos sacramentos
é dever dos Pastores da Igreja.

«Nos, ministros de Jesús Cristo..., so teremos credibilidade e


eficacia ao falarmos das realidades temporais, se antes — ou, pelo
menos, ao mesmo tempo — estivermos atentos a proclamar urna
salvacño que ultrapassa todos os limites temporais para realizar-se
no absoluto de Deus».

Todavía a atengáo aos valores transcendentais nao excluí


as urgentes questóes de ordem temporal que afetam os homens
de nossos dias. «As assembléias das Conferencias Episcopais háo
de ter a preocupagáo de aferir pelo pensamento de Deus... os
problemas emergentes da vida dos homens e da sociedade, sem
deixar de tratar tempestiva e seguramente os problemas pro-
prios da vida da Igreja, como os relativos á Liturgia e á
oragáo, as vocagóes sacerdotais, á Vida Religiosa e á sua reta
renovagáo, á catequese, á formagáo religiosa dos jovens, á
piedade popular e suas exigencias, ao desafio de seitas aberran
tes, á avalanche da imoralidade, etc.»

Nota-se, a varios títulos, que o povo brasileiro conserva a


fome de Deus e dos valores sagrados. Contudo só possui exiguo

— 452 —
O PAPA AOS BISPOS DO BRASIL 13

oonhecimento das verdades da fé; donde resultam vulnerabi-


lidade a doutrinas aberrantes, tendencia a religiosidade mais
sentimental do que convicta e profunda, risco de fé priyatista e
desligada da vida... «Diante disto a catequese é urna urgencia»;
deve constituir preocupagáo constante da Conferencia Episco
pal e de cada um dos seus Bispos. Será preciso que os Bispos,
voltados para a catequese, déem especial atengáo aos textos da
mesma: como sao elaborados? qual o seu conteúdo? que mensa-
gem transmitem? que imagem de Deus, de Jesús Cristo, da
Igreja, da vida crista, da vocagáo do homem, eles comunicam?
A propósito vem urna palavra sobre as Comunidades Ecle-
siais de Base: háo de ser acompanhadas e assistidas para que
déem os frutos desejados, sem se desviar para finalidades hete
rogéneas.
Importa agora considerar as responsabilidades pessoais de
cada Bispo, que nao sao cerceadas nem diminuidas pelo fato
de estar inserido na respectiva Conferencia Episcopal.

5. Responsabilidode pessoal de coda Bispo (n* 6)


Antes do mais, imp5e-se urna referencia á pobreza e simpli-
cidade de vida dos Bispos do Brasil, que já é um fato e que só
pode merecer encorajamento. Assim inseridos na existencia dos
seus fiéis, os Bispos devem sentir-se muito á vontade para
exercer os múltiplos aspectos da sua missáo pastoral: «Vosso
povo precisa de que assumais tais aspectos e, embora silencio
samente, vo-lo suplica».
E quais sao esses aspectos?

5.1. «Sede msstres de oracóo» (n? 6.1)

«Sois os primeiros responsáveis por fazer rezar o vosso


povo e os primeiros zeladores de urna oragáo litúrgica digna e
fervorosa». Isto quer dizer, entre outras coisas, que aos Bispos
compete, de um lado, promover a auténtica renovagáo litúrgica
preconizada pelo Concilio do Vaticano n e, de outro lado, evitar
os abusos litúrgicos, o subjetivismo e a anarquia que rompem a
unidade do culto, desorientan! os fiéis e prejudicam a beleza das
celebragóes.

5.2. «Anunciadores de Cristo e de sua mensagem» (n* 6.2)

«Bem podemos repetir com Sao Paulo que nao vientos proclamar
ciencia humana alguma, mas Jesús Cristo, e Jesús Cristo crucificado,

— 453 —
14 • «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 25V1980

pois em rrieio ao nosso povo. nao somos peritos de política ou eco


nomía, nao somos líderes em vista de alguma empresa temporal, mas
ministros do Evangelho».
Este é o ponto .mais íntimo da comunháo entre os Bispos.
Podem dividir-se diante de opgóes temporais acidentais, mas é
impossível que nao se encontrón inseparavelmente unidos na
tarefa de anunciar Jesús Cristo.

5.3. «Consrrutores da. comunidade eclesial» (n* 6.3)

Os Bispos sao sacramentos — sinais e artífices — de


comunháo; Devem, pois, «convocar os que estáo dispersos, reunir
os que estáo separados, construir assim a Igreja e manté-la na
unidade, apesar de todas as forjas de ruptura e desuniáo».

5.4. «Mesares da Verdade» (n» 6.4)

Trata-se da verdade confiada por Jesús Cristo á Igreja


para ser proclamada e defendida com coragem. Já em Puebla
Joáo Paulo II salientou com énfase especial as verdades sobre
Jesús Cristo, a Igreja e o homem.
A servigo destas verdades encontram-se os teólogos, cuja
tarefa, unida ao conjunto do servigo eclesial, é altamente
fecunda e enriquecedora para a Igreja.

«O verdadeiro teólogo sabe, até por urna intuicáo sobrenatural,


que cabera ao Bispo velar pastoralmente sobre a sua atividade teoló
gica, em beneficio da fé do povo de Deus.
Seríamos bem felizes todos, se erros e desvíos nestes tres campos
— Cristo, a Igreja e o homem — fossem algo de remoto, possível,
quem sabe, mas por ora irreal. Sabéis que nao é assim e que, por
isso mesmo, o crucificante, mas indeclinável dever de apontar tais
erros com serenidade e firmeza e de propor pontualmente aos fiéis a
Verdade, é para vos algo de próximo e mais que atual. O Senhor vos
dé o carUma do discernimento para ter sempre presentes estas ver
dades e a liberdade e seauranca para ensiná-las sempre, rebatendo
assim tudo quanto a elas se oponha».

5.5. «Pais e ¡rmwos de vossos presbíteros» (n? 6.5)

Que todo Bispo oferega aos seus presbíteros compreensáo


e amparo ñas horas dificeis; mostre-lhes a confianga de um
irmáo e a seguranga, impregnada de afeto, de um pai. Mas
sobretudo recorde-se de que nada pode ser mais urgente e pre
cioso do que a santidade dos sacerdotes. Seja, portante, o Bispo

— 454 —
O PAPA AOS BISPOS DO BRASIL 1S

«forma pastorum», ou seja, modelo de seus sacerdotes em tudo


aquilo que constituí a espiritualidade — santidade e zelo apos
tólico — dos seus presbíteros.

5.6. As vocajoes sacerdotais (n* 6.6)

Um Bispo poderá estar certo de jamáis ter perdido o


tempo e os talentos que ele despender na tarefa de suscitar
vocagóes sacerdotais e religiosas. «Velai, pois, por vossos Semi
narios com a consciéncia de que toda imperfeigáo ou desvio
que houver na formagao dos futuros sacerdotes, por temor
de ser exigentes, por acomodagáo ou por urna menor atengáo
da vossa parte... é um daño para os próprios seminaristas
hoje e um daño maior para a Igreja amanhá».

5.7. «Pa¡$ e ¡nucios dos Religiosos» (n' 6.7}

«Ha¡a sempre a comunhao mais perfeita possível entre o Bispo e


os Religiosos e Religiosas da Igreja local».

O Bispo interpelará os Religiosos a viver cada vez mais


intensamente a própria vocagáo e o carisma peculiar de cada
familia religiosa. Do seu lado, os Religiosos estaráo dispostos
a se inserir cada vez mais no dinamismo pastoral da diocea?;
acolham e respeitem o carisma dos Bispos na Igreja como
mestres da fé e guías espirituais. O mutuo relacionamento entre
Bispos e Religiosos baseado ñas virtudes da confianga, do res-
peito, da lealdade, da caridade e do espirito de servígo será
¡mensamente útil á Igreja.

5.8. «País generosos e acolhedores dos leigos» («» 6.8)

O leigo é, por definigáo, um seguidor de Cristo, um homem


da Igreja presente e ativo no coracáo do mundo para gerir as
realidades temperáis e ordená-las ao Reino de Deus. Os leigos
esperam de seus pastores alimento para a sua fé, seguranga de
doutrina, sustento espiritual para a sua vida e orientagáo firme
para a sua agáo como cristáos no mundo. Esperam apoio e
estimulo para serem leigos sem risco de clericalizagáo; e, para
isto, esperam que seus Pastores sejam pasteros em plenitude,
sem riscos de laicizagáo.

5.9. «Promotores dos grandes valores humanos» (n* 6.9)

Antes do mais, promovam os Bispos a verdadeira digni-


dade do homem, filho e imagem de Deus, irmáo e herdeiro de
Jesús Cristo.

— 455 —
16 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 251/1980

«Vossa vocagáo de Bispos vos proibe com clareza total...


tudo quanto se parega com partidarismos políticos, sujeigáo a
tal ou qual ideologia ou sistema. Mas nao proibe, antes convida,
a estar próximos e a servigo de todos os homens, especial
mente dos mais desvalidos e necessitados». Note-se, porém, que
a opgáo preferencial pelos pobres (termo este cujo conteúdo
pode ser diversamente interpretado) nao é convite a exclusi
vismo, pois é dever do Bispo proclamar todo o Evangelho a
todos os homens.

A Igreja nao tem a pretensáo de assumir, como fiingáo


própria, as atividades políticas. Ela respeita a autoridade cons
tituida (cf. lPd 2,13-17) e nao deixa de proclamar que, para o
bem da sociedade, a autoridade é necessária. Todavía a Igreja
reivindica, como seu direito e dever, a prática de urna pastoral
social nao como projeto puramente temporal, mas como forma
e orientagáo das consciéncias para que a sociedade se torne
mais justa.

A fim de que esta Pastoral seja eficiente, há condigóes


fundamentáis a preencher:

1) Tal programa social tenha autenticidade, isto é, esteja


em <:oeréncia com os principios do Evangelho c com o magis
terio da Igreja. Nao se baseie em premissas que, apesar de
todos os predicados que se Ihes atribuam, sejam contrarias á
verdade católica em seus próprios fundamentos.

2) Esse programa seja auténticamente brasileiro, sem


deixar de ser universal. Deve ter os olhos abertos para todas
as violagóes dos direitos humanos, seja onde for, no dominio
dos bens materiais como no dos bens espirituais. Se faltar esta
ética fundamental, ele correrá o risco de ser objeto de mani-
pulagóes unilaterais.

3) A Pastoral social deve também ser orgánica. Isto quer


dizer que nao deve levar em conta apenas os fatores econó
micos e técnicos; nao pode ter como objetivo único a coletivi-
zagáo dos meios de produgáo, menos ainda se com isto se
entende a concentragáo de tudo ñas máos do Estado, conver
tido na única verdadeira forga capitalista. Mas a Pastoral social
deverá considerar também as exigencias culturáis do homem, es
pecialmente a educa^áo e a instrugáo, pré-requisitos de igual
promogáo para todos os homens. Por conseguinte, dé atengáo
ao homem integral com todas as suas componentes, inclusive

— 456 —
O PAPA AOS BISPOS DO BRASIL 17

com a sua abertura para o Absoluto, mesmo o Absoluto de


Deus. De modo especial merece mengáo o acesso á propriedade
particular, condieáo indispensável da liberdade e criatividade
do homem, que Ihe permite sair do anonimato e da alienagáo
quando se trata de colaborar com o bem comumu

«Os ministros da Igreja — Bispos e Sacerdotes — terao cons-


eiéncia de .que a sua participacáo melhor e mais eficaz nesta Pastoral
social nao é a que consistiría em empenhar-se ent lutas partidarias ou
em opcoes de grupos e sistemas, mas a que faz deles verdadeiros
'educadores na fé', guias seguros, animadores espirituais. Os Religiosos
eviterno permutar aquilo que constituí o seu carisma na Igreja —
consagracáo total a Deus, a oracao, o testemunho da vida futura, a
busca da santidade — por empenhos políticos que nao servem nem
a eles próprios, que perdem a sua identidade, nem á Igreja, que
Fíca emprobrecida com a perda de urna sua dimensao essencial, nem
ao mundo e á socíedade, igualmente privados daqueie elemento ori
ginal que só a Vida Religiosa podía fornecer ao legítimo pluralismo».

5.10. «Irmáos do sucessor de Pedro» (n?.1O)

Estejam os Bispos unidos á Sé de Pedro afetiva e efetiva-


mente, independentemente da pessoa daqueie que no momento
faz as vezes de Pedro. Esta comunháo com o Papa dá á missáo
de cada Bispo a sua plena eclesialidade. Ela incluí nao apenas
a acolhida á palavra pessoal do Papa, mas também o acato aos
pronunciamentos dos órgáos e Congregacóes que com o Papa
colaboram no Governo da Igreja e falam em nome do Papa
ou com a aprovagáo explícita do Romano Pontífice ou por man
dato recebido deste.

6. Evocacao de ¡nucios Bispos (n* 7)

Ainda se faz mister evocar as figuras de grandes Bispos


que, desde Dom Pedro Fernandes Sardinha, o primeiro, durante
quatro séculos e meio se dedicaram á construgáo do Reino
de Deus no Brasil.

«Qualquer ciiacao de nomes é forzosamente limitada, mas como


nao evocar figuras como as de Dom Vital de Oliveira e Dom Antonio
Macedo Costa, de Dom Antonio Ferreira Vicoso, dos dois primeiros
Cardeais brasileiros Dom Joaquim Arcoverde e Dom Sebastiáo Leme
da Silveira Cintra, de Dom Si Iverio Gomes Pimenta e de Dom José

— 457 —
18 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 251/1980

Gaspar Affonseca e Silva? Como nao evocar aquí em Fortaleza a


figura admiróve I de Dom Antonio de Almeida Lustosa, que repousa
nesta Catedral e que deixou nesta diocese a imagem luminosa de um
sabio e de um santo? Possa a recordacao destes irmaos e de tantos
e tantos outros, que nos precederam com o sinal da fé, estimular-nos
mais e mais no servico do Senhorl»

II. COMENTANDO...

Quem lé o discurso atrás compendiado, tem a impressáo


de que Joáo Paulo II quis deixar aos Bispos do Brasil urna
súmula de agáo pastoral, levando em conta os mais diversos
setores em que esta se realiza. Procurando ir ao ámago desta
alocugáo, pode-se dizer que duas grandes idéias a perpassam e
dominam: comunháo e fidelidade.

1. Comunháo

A comunháo tem dois aspectos: comunháo dos Bispos entre


si e comunháo dos Bispos com o sucessor de Pedro.

1.1. Os Bispos entre si

Ninguém pode negar que nem sempre os Bispos do Brasil


se pronunciam do mesmo modo diante das situagóes públicas
que afetam o país. Isto pode dar a impressáo de que estáo
fundamentalmente divididos entre si. — Tal interpretagáo seria
falsa: os Bispos do Brasil professam a mesma fé e compar-
tilham o mesmo pao eucaristico. Podem divergir entre si no
tocante á orientagáo pastoral que dáo as respectivas dioceses:
assim há os que mais acentuam tal linha de agáo, como há os
que enfatizam tal outra linha... Esta diferenca é compreen-
sível dentro da unidade básica. Pode ser explicada mediante
urna comparagáo: quem se acha diante de sinal verde ou verme-
lho, sabe nítidamente como deve proceder; avangará ou nao.
de acordó com a cor assinalada. Todavía quem se vé diante de
sinal amarelo, pode hesitar a respeito da sua conduta: avangará
ou nao? Há quem opte entáo pelo NSlo, ponderando riscos que
o avango pode acarretar; diz-se que tal pessoa é prudente. Mas
há quem, diante de sinal amarelo, opte pelo ultrapassamento,
ponderando os riscos que a espera pode acarretar-lhe (poderá
perder a «hora marcada»); tal pessoa também pode estar sendo
prudente... Qual dos dois tem razáo: o que aguarda ou o que
avanga? Quem tem condigóes de dirimir a dúvida? Mais: note-se

— 458 —
O PAPA AOS BISPOS DO BRASIL 1J»

que, embora um diga Nao e o outro Sim em atitudes práticas


contraditórias, ambos sao fundamentalmente prudentes ou vir
tuosos ou bem intencionados. A prudencia é a virtude mais sub
jetiva que existe, pois ela tem parte das suas ra'zes ñas expe
riencias pessoais, na formagáo, na idade, no temperamento do
respectivo individuo; para a prudencia, nao há padrees pre
cisos, universais e predefinidos. Também é de observar que a
prudencia nao é necessariamente a virtude do recuo ou do
fechamento intimidado; ela pode incitar também a grandes fa-
fianhas, de acordó com a situacáo diante da qual ela se vir,

Veja-se, pois, por debaixo das divergencias pastorais dos


Bispos do Brasil, a inteneáo fundamental de acertar ou de
construir o Reino de Deus ñas circunstancias polivalentes «de
sinal amarelo», em que exercem a sua agáo apostólica.

Ora Joáo Paulo n pede aos Bispos do Brasil que, através


das suas naturais e compreensíveis diferencas pessoais, con-
servem a comunháo entre si no tocante aos valores básicos da
fé e do amor fraterno.

1.2. Os Bispos e o sucessor de Pedro

A tarefa pastoral dos Bispos do Brasil só tem valor diante


de Deus se executada em espirito eclesial, ou seja, em comu
nháo com os demais Bispos da Igreja e, especialmente, com o
Bispo de Roma, sucessor de Pedro. Este é o fator e o penhor
da unidade da Igreja, de modo que quem se afasta de Pedro,
se afasta da Igreja e quem se afasta da Igreja se afasta de
Cristo e do Pai.

A comunháo com Pedro exige capacidade de superacáo dos


particularismos, ás vezes interessantes, em favor de um bem
maior, que é o atendimento aos apelos da unidade e da fé.

2. FWelidode

Vinculados entre si pela comunháo fraterna, os Bispos


procuram ser fiéis..., fiéis a Deus e aos homens. Essa fideli-
dade implica diversos aspectos, dos quais dois sejam postos em
relevo:

2.1. Fldeiidade a D«us e á verdade revelada

1. A fidelidade a Deus implica, antes do mais, a prática


assídua da oragáo. É esta que alimenta o espirito de fé e a

— 459 —
20 <PERGUNTB E RESPONDEREMOS» 251/1980

afinidade com o Senhor que há de inspirar o comportamento


de cada Bispo. Homem de oragáo pessoal e litúrgica, o Pastor
diocesano há de ser mestre e animador da oragáo pessoal e co
munitaria dos seus fiéis.

2. OS. Padre tem-se mostrado cioso da nrüssáo que Cristo


Ihe confiou: «Confirma teus irmáos na fé» (Le 21,32). Por
isto desde o inicio do seu pontificado vem chamando a atengáo
para a necessidade de se guardarem incólumes as verdades da
fé. Esta atitude tem significado especial numa época em que
os teólogos, com legítima intengáo, procuram reformular os
artigos do Credo em linguagem moderna, mais acessivel ao
homem de hoje. Os desvíos ocorridos ameagam tornar o erró
neo táo comum e «certo» quanto a genuina formulagáo e com-
preensáo das verdades reveladas. Aos Bispos toca exercer espe
cial vigilancia a tal propósito, pois a eles o Espirito Santo
outorgouo carisma da verdade e do magisterio na Igreja
(cf. Constituigáo Dei Yerbuin n' 8).

2.2. Fidelidade aos hornero

Joáo Paulo II enumera diversos tipos de pessoas as quais


o Bispo deve fidelidade: os presbíteros, os Religiosos, os futuros
presbíteros ou Religiosos, os leigos... e, em suma, todos os
homens, particularmente os mais carentes (observe-se a propó
sito que os ricos de bens materiais podem ser carentes dos
valores dafé).

A perspectiva de fidelidade a todos os homens abre aos


Bispos vasto campo de agáo social ou de promogáo de todo
homem e do homem todo. Tal acáo social, para ser autentica-
mente crista e eclesial, deverá ser marcada por notas bem defi
nidas: fidelidade aos principios doutrinários da fé e da Igreja,
universalidade (levando em conta as violagóes dos direitos hu
manos tanto no plano material quanto no plano espiritual),
organicidade (o que decorre do fato de que o homem nao é só
materia, mas é personalidade a ser educada e cultivada), cor-
responsabilidade.

Eis, em síntese, o que, a nosso ver, Joáo Paulo H deixou


como mensagem pastoral ao Episcopado brasileiro e, conse-
qüentemente, a toda a Igreja do Brasil, incluidos os fiéis leigos.
Possa tal anuncio frutificar ainda copiosamente entre nos!

— 460 —
A palavra do Papa:

as comunidades eclesiais de base

Em sfntese: A alocu$fio de Joño Paulo II aos líderes das comunl-


nldades eclesiais de base acentuou tres importantes aspectos:

1) Ecleslalldade ou fldelldade á Igreja e a seus Pastores, sem conta-


mlnacáo Ideológica ou partldárlo-pol [tica.

2) Soltdarledada entre os membros da mesma comunldade, como


também em rela9§o aos demals IrmSos; tal solidarledade exprlmlr-se-á,
antes do mals, em ajuda aos Irmáos para que possam aprofundar a sua fá;
terá em mira outrosslm os direltos humanos pisoteados e a InstauracSo da
justlca social.

3) O animador de urna comunldade ecleslal de base deve prencher


tres principáis pré-requlsltos:

a) esteja pessoalmente em comunhfio com os pastores da Igreja;


b) mostré serlo empenho em formar-se
formar-: na doutrlna da fé, a flm
de ajudarr seus Irmfios a crescer na fé;
c) creía no valor da oracfio e reze.

Comentario : Em sua visita pastoral ao Brasil, o S. Padre


Joáo Paulo II quis dar especial atengáo as Comunidades Ecle
siais de Base, mencionando-as mais de urna vez e dedicando-lhes
urna de suas alocugóes1. Nao poucas pessoas perguntam o que
venham a ser Comunidades Eclesiais de Base (CEB), das quais
ouvem falar em documentos da Igreja; nem sempre sao con
vergentes entre si as noticias que a respeito se disseminam.
Eis por que, a seguir, exporemos sumariamente o que sao as
CEB, e reproduziremos o discurso de S. Santidade las mesmas.

1. Que sao as Comunidades Eclesiais de Base ?


Ao CEB tiveram origem no Estado do Rio Grande do
Norte ou, mais precisamente, em Sao Paulo do Potengi, na
arquidiocese de Natal.

i Em vlrtude da preméncla do tempo, este discurso nfio chegou a ser


proferido de viva voz, mas, escrito, foi entregue ao Presidente da Confe
rencia Nacional dos Blspos do Brasil.

— 461 —
22 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 251/1980

Na década de 60, Mons. Expedito de Medeiros, Vigário da


localidade, verificava ter urna grei demasiado grande e esparsa
para poder a sos servir-lhe adequadamente. Nao podia contal
com o reforgo de colegas no ministerio, cujo número era cada
vez mais exiguo para as necessidades da populagáo vizinha.
Daí nasceu o plano de constituir dentro da sua paróquia núcleos
ou comunidades de leigos que, sob a coordenacáo de um anima
dor especialmente formado para tanto, cultivassem a sua vida
crista através de oragáo, culto dominical, leitura da Biblia,
reflexáo, apoio mutuo e solidariedade...

Essas comunidades, que constariam cada qual de quinze


pessoas aproximadamente, herdavam, de certo modo, o método
de reflexáo da Agáo Católica Rural, orientada pelo Pe. Servat.
Isto quer dizer: procuravam realizar suas reflexóes segundo os
tres pontos do roteiro: VER, JULGAR, AGIR. Com efeito, os
membros das comunidades aplicavam-se a ver ou considerar a
situacáo religiosa, moral, humana em que estavam imersos; a
seguir, julgavam, isto é, confrontavam tal situagáo com a Pa-
lavra de Deus lida na Biblia ou, mais precisamente, no Evan-
gelho; daí tiravam suas conclusóes relativas á resposta a dar
a tal realidade num agir cristáo. O Evangelho deveria ser o
padráo e referentíal do modo de pensar e atuar de tais cristáos.

Como se vé, as Comunidades Eclesiais de Base foram con


cebidas para criar e fomentar o espirito cristáo de amor a
Deus e ao próximo entre os seus membros — o que seria muito
difícil se nao se pensasse em repartir ou subdividir a paróquia.

Urna vez formadas as Comunidades e o respectivo líder, o


sacerdote ou o Bispo diocesano as acompanhava, e acompa-
nha, mediante visitas periódicas, por ocasiáo das quais cele
bra a S. Eucaristía e administra outros sacramentos.

Outro fato, mais remoto, pode ser citado como inspirador


indireto das CEB. Na década de 50 e no comego da de 60, o
lider político esquerdista Juiiáo percorria a zona rural nordes-
tina, fundando as Ligas Camponesas, de tendencias marxistas.
Em resposta a tal instituicáo, a Igreja se interessou pela funda-
cáo de Sindicatos de trabalhadores rurais, Sindicatos estrutu-
rados por filosofía nao marxista ou pela doutrina social da
Igreja. Todavía os Pastores da Igreja tomaram consciéncia ní
tida de que um Sindicato nao é aínda, por si, urna célula da
Igreja. Foi esta verificagáo que impeliu a promover e fomentar
o surto de outro tipo de agrupamento de cristáos, mais defmi-

— 462 —
AS COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE 23

damente edesial do que os Sindicatos, ou seja, as Comunidades


Eclesiais de Base.

A experiencia iniciada em S. Paulo do Potengi foi trans-


plantada para outros pontos do país e do exterior, principalmen
te para as zonas rurais (os ambientes urbanos sao, por sua ín
dole agitada e dispersa, refratários a tal tipo de instítuigáo). As
CEB, multiplicando-se, adaptaram-se as diversas circuntáncias
em que iam sendo criadas. Como é compreensivel, porém, tal
instituigáo sofreu cá e lá as conseqüéncias de fatores estranhos
ou heterogéneos: tomaram-se por vezes objeto de exploragáo
política, seja por parte dos próprios líderes, seja por intervengáo
de pessoas de fora; as preocupagóes socio-económicas deram
características a determinadas CEB que as desviaram do ideal
dos seus fundadores.

m* ~ É esta problemática que explica a atengáo dispensada por


S. Santidade as CEB, assim como os pontos do discurso que
abaixo vai transcrito.

2. A patavra de Joá» Paulo II

Amados limaos,

1. Vosso desejo de poder avistar-vos com o Papa du


rante a sua visita ao Brasil viria ao encontró do desejo que eu
mesmo nutria de reunir-me convosco. Mas nao foi possível,
com grande pena para mim, tomar contacto com todas as
realidades e experiencias da Igreja no Brasil. Quanto a algumas
délas, tive de resignar-me a conversar com pessoas ligadas a
elas Assim sucedeu convosco, Membros e Responsáveis de
Comunidades Eclesiais de Base. A leitura dos relatados qüin-
quenais dos Bispos do Brasil e minhas conversas com eles por
ocasiáo da atual visita "ad Hmina apostolorum" confirmam
algo que eu já conhecia por anteriores ¡nforma$5es: a enorme
importancia que tém as comunidades eclesiais de base na pas
toral da Igreja no Brasil. Por isso, nao se tendo proporcionado
ocasiáo para tal encontró, nao quereria deixar-vos sem urna
palavra, como sinal de interesse.

2. Alegra-me, antes de tudo, poder renovar agora aquela


confianga que meu saudoso Predecessor, o Papa Paulo Sexto,
quis manifestar em relacáo ás Comunidades Eclesiais de Base.

— 463 —
24 <PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 251/1980

A elas consagrou um parágrafo denso, rico de conteúdo, lu


minoso em seus conceitos e altamente significativo, em sua
magistral Exortagáo Apostólica "Evangelii Nuntiandi" (n. 58). Ele
recolheu neste texto tudo quanto sobre essas comunidades se
havia discutido no correr do Sínodo dos Bispos de 1974, no
qual a Divina Providencia quis que eu assumisse tarefas de
grande responsabilidade. Já no decurso da viagem pastoral
ao México, tres meses após a eleicáo para o Supremo Ponti
ficado, eu tivera oportunidade de declarar que as Comu
nidades Eclesiais de Base podem ser um valioso instrumento
de formacáo crista e de penetragáo capilar do Evangelho na
Sociedade (cf. Insegnamenti di Giovanni Paolo II, 1979,
p. 252ss); elas o seráo na medida em que se mantiverem fiéis
aquela identidade fundamental táo bem descrita por Paulo VI
no citado parágrafo da "Evangelii Nuntiandi".

3. Entre as dimensóes das Comunidades Eclesiais de


Base, julgo conveniente chamar a atencao para aquela que
mais profundamente as define e sem a qual se esvaziaria sua
identidade: a Eclesialidade. Sublinho esta Eclesialidade, porque
está explícita já na designacáo que, sobretudo na América
Latina, as comunidades receberam. Ser eclesiais é sua marca
original e seu modo de existir e operar. Formam-se em comu
nidades orgánicas para melhor serem Igreja. E a base a que se
referem, é de caráter nitidamente eciesial e nao meramente
sociológico ou outro. Sublinho também esta eclesialidade
porque o perigo de atenuar essa dimensáo, se nao deixá-la
desaparecer em beneficio de outras, nao é nem irreal nem
remoto, antes é sempre atual. É particularmente insistente o
risco de intromissáo do político. Esta intromissáo pode dar-se
na própria génese e formacáo das comunidades, que se con-
gregariam nao a partir de urna visáo de Igreja, mas com cri
terios e objetivos de ideología política. Tal intromissáo, porém,
pode dar-se também sob a forma de instrumentalizagáo política
de comunidades que haviam nascido em perspectiva eciesial.
Urna delicada atencao e um serio e corajoso esforgo para
manter em toda a sua pureza a dimensáo eciesial dessas co
munidades sao um eminente servigo que se presta, de urna
parte, a elas próprias e, de outra parte, á Igreja. A elas, porque
preservá-las em sua identidade eciesial é garantir-lhes a liber-
dade, a eficacia e a própria sobrevivencia. A Igreja, porque só
serviráo á sua missáo esservcial de evangelizagáo comunidades
que vivam auténticamente a ¡nspiragáo eciesial sem dependen
cias de outra ordem. Aquela atengáo e aqueie esforgo sao
um dever sagrado do sucessor de Pedro, por forga de sua

— 464 —
AS COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE 25

"solicitude de todas as Igrejas" (cf. 2 Cor 11, 28). Sao um


dever de cada Bispo em sua Diocese e dos Bispos colegial-
mente unidos no ámbito de urna Nacáo. Sao um dever também
dos que tém alguma responsabilidade no seio das próprias
comunidades. A oportunidade desta viagem parece-me o
momento adequado para exortar as comunidades eclesiais de
base do Brasil a conservar intacta a sua dimensáo eclesial, nao
obstante tendencias ou impulsos que venham do Exterior ou
do próprio Pais num sentido diverso. Se, nos anos passados, as
Comunidades de Base Latino-Americanas, Brasileiras em par
ticular, manifestaram enorme vitalidade e foram acolhidas
como valioslssimo elemento pastoral, se tiveram, além disso,
notável repercussáo no Exterior, foi justamente porque soube-
ram manter, sem desvios nem alteragóes, a dimensáo eclesial,
fugindo á contaminagáo ideológica. Pensó ser supérfluo definir
de novo os elementos de urna verdadeira eclesialidade: eles
aparecem todos com suficiente clareza na Exortacáo Apostó
lica "Evangelil Nuntiandi". Basta recordar que essa eclesia
lidade se concretiza em urna sincera e leal vinculagáo da comu-
nidade aos seus legítimos pastores, em urna fiel adesáo aos
objetivos da Igreja, em urna total abertura ás outras comuni
dades e á grande comunidade da Igreja Universal, abertura
que evitará toda tentacáo de sectarizagáo.

4. É sabido que urna comunidade eclesial tem de ser


forzosamente urna comunidade de caridade ou de amor fra
terno. Nao foi por acaso que, querendo apontar o trago carac
terístico dos seus discípulos e seguidores, o Senhor procla-
mava: "Nisto conheceráo que sois meus discípulos, se vos
amardes uns aos outros" (Jo 13,35). É comunidade de cari
dade enquanto seus membros procuram mais e mais conhe-
cer-se, viver juntos, partilhar alegrías e dores, riquezas e ne-
cessidades. De resto, qual é o primeiro motivo de formacao de
comunidades de base se nao a necessidade e o desejo de
criar grupos, nao multitudinarios, mas á medida humana, capa-
zes de constituir espagos de verdadeiro diálogo e partilhar? A
comunidade de base será comunidade de caridade sobretudo
enquanto se revela instrumento de servico mutuo no interior
da mesma comunidade e servigo aos outros irmáos, sobretudo
aos mais necessitados. Urna comunidade que se mostra verda-
deiramente eclesial — porque nascida de um impulso eclesial,
porque voltada para os objetivos da Igreja, porque vinculada
aos pastores da Igreja e porque sensível á escuta da palavra de
Deus, ao crescimento da fé, á oragáo, nao deixa de ser eclesial.
porque vive a caridade. Ao contrario, ela cresce e se consolida

— 465 —
26 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 251/1980

na prática concreta da caridade desde que esta nao fique


comprometida, como -pode acontecer, com projetos políticos.
A caridade vivida por urna comunidade poderá tomar formas
bem diversas: em primeiro lugar, ajudar alguém a aprofundar
a própria fé, depois, também em gestos de promogáo humana
de pessoas ou grupos em depressáo, ou gestos de ¡ntegra-
cáo de marginalizados, defesa de direitos humanos pisoteados,
busca da justica em situagoes de iniqüidade, ajudar a superar
condicoes infra-humanas, criagáo de mais solidariedade em
urna determinada sociedade, etc. Tudo isto, porém, deve levar a
marca de urna verdadeira caridade, tal como a descreve Sao
Paulo (paciente, benigna, esquecida de si mesma para so
cuidar dos outros, incapaz de se alegrar com o mal, cf. 1 Cor
13, 4ss) ou Sao Joáo: "Nao há maior caridade do que dar a
vida pela pessoa amada" (Jo 15, 13).

5. Nesta breve mensagem, urna última consideragáo a


respeito daqueles que exercem ñas comunidades eclesiais de
base urna funcáo de animacáo espiritual.

A historia, breve, mas já bastante rica, das comunidades


eclesiais de base no Brasil como na América Latina parece
mostrar que, sempre sob a responsabilidade pastoral dos legí
timos pastores (do Bispo na Diocese e dos Presbíteros devida-
mente mandados pelo Bispo), numerosos leigos encontram a
possibilidade de servir á Igreja mediante aquela animacáo es
piritual que garante ás mesmas comunidades dinamismo e efi
cacia. Em vossas regióes, onde os sacerdotes sao escassos e
assoberbados muitas vezes até o extremo de su as energías,
esta colaboragáo dos leigos em urna tarefa precisa, estende e
multiplica maravillosamente a agáo do sacerdote.

É importante a funcáo destes líderes de Comunidades Ecle


siais de Base, pois deles, em estreita associacáo com os pas
tores re&ponsáveis, depende muito a orientagáo das Comuni
dades. Por isso, há exigencias a ser sempre observadas. Nao é
supérfluo recordar algumas: pela sua relevancia, a primeira é
a necessidade já apontada de os líderes estarem, eles em pri
meiro lugar, em comunháo com os pastores, se se deseja que
as Comunidades Eclesiais de Base mantenham-se nesta comu
nháo. Em segundo lugar, o líder, chamado a orientar a marcha
da comunidade e provavelmente a ajudar os seus membros a
crescerem na fé, deve ter o serio empenho de formar-se, ele
primeiro, na fé. Ele nao transmite seu pensamento ou doutrina
sua, mas o que aprende e recebe da Igreja. Daí sua obrigagáo

— 466 —
AS COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE 2}

de acolher com diligencia da boca da Igreja o que ela Ihe


quer dizer: a reta interpretacao da Revelacáo divina na Biblia
e na tradicáo, os meios de salvacáo, as normas de comporta-
mentó moral, a vida de oracáo e a liturgia, etc.

Acrescentarei qus, em todos os casos, um líder de Comu


nidades Eclesiais de Base, muito mais do que um mestre, é
urna testemunha: a comunidade tem o direito de receber dele
o exemplo persuasivo de vida crista, de fé operosa e irradiante,
de esperanca transcendente, de amor desinteressado. Que ele
seja ademáis um homem que eré na oracáo e que reza!

6. Na simplicidade e modestia destas palavras, sei que


val, brevemente delineado, amados irmaos, todo um programa.
Confio-o á vossa reflexáo e, rezando por vos, recomendo-o á
assisténcia divina. Nao faltem ás vossas Comunidades e a vos
que as representáis, os dons que o Espirito concede para a edi-
f¡cacao da Igreja (cf. 1 Cor 14, 12). Que este Espirito faga
brotar e crescer em vos, como principio vital de vossa autén
tica eclesialidade, um grande amor á mesma Igreja, amor filial
maduro e simples, ao mesmo tempo, temo e resoluto, capaz
de alegría e de sacrificio. Seja este amor a ínspiracáo de
vossa vida!

3. Tragos salientes

Deste oportuno discurso, procuremos por em relevo os


pontos mais importantes, assim concebidos: eclesialidade, soli-
dariedade, retrato de um animador de CEB.

3.1. Eclesialidade

Como diz o respectivo nome, as Comunidades Eclesiais de


Base devem estar intimamente vinculadas á Igreja: Igreja local
ou diocesana e Igreja Universal. Esta dimensáo eclesial é amea-
cada pela indevida ingerencia do partídarísmo politico, o qual
compromete as comunidades, por vezes, em sua própria origem.

«Um serio e corajoso esforco para manter em toda a sua pureza


a dimensáo eclesial dessas comunidades é eminente servíco que se
presta, de urna parte, a elas próprias e, de oulra parte, á Igreja».

_ 467 —
28 <PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 251/1980

3.2. Solidaríedade

As CEB sao comunidades de caridade, que se revela em


servido mutuo dentro da própria comunidade e em assisténcia
também aos irmáos de fora, sobretudo aos mais necessitados.
É preciso, porém, que a prática concreta da caridade nao seja
comprometida com projetos políticos. Esse exercício do amor
fraterno terá em mira nao só defender direitos humanos piso
teados, mas também e, em primeiro lugar, ajudar os irmáos a
aprofundar a própria fé; por conseguinte, jamáis poderá esque-
cer a primazia dos valores espirituais sobre os temporais (em-
bora na ordem concreta possam uns e outros destes valores
merecer simultánea atengáo).

3.3. O retrato do animador de CEB

Tres sao as exigencias a ser especialmente observadas por


quem coordena urna CEB.

1) Guarde a comunháo com os Pastores da Igreja e, por


conseguinte, com a própria Igreja. Se o animador nao conserva
tal comunháo, nem a respectiva CEB a guardará.

2) Mostré serio empenho em formar-se ñas verdades


da fé para poder elucidar ou instruir os irmáos; em materia
de fé, nao transmita sua doutiina pessoal, mas o que aprende
e recebe da Igreja.
. *.

3) «Seja ademáis um homem que eré na oragáo — e


que reza». Esta norma é a chave de ouro que encerra a
alocugáo de S. Santidade. Indica o «segredo» da atuagáo ecle-
sial de todo líder cristáo ou, simplesmente, de todo e qualquer
cristáo. A oragáo — aparentemente inútil — garantirá a efi
cacia fiel e íntegra do animador e da respectiva comunidade na
construgáo da Igreja local.

A respeito podem-se consultar as seguintes obras:

MARINS J. E EQUIPE, Comunidades eclasiafs de base: foco de ovan-


geliacSo e liberiacáo. — Colecéo "Pastoral e Comunidade" — 14. — Ed.
Paulinas, Sfio Paulo 1980.

ÍDEM, Metodología emergente das comunidades eclesiats de base.


Colec&o "Pastoral e Comunidade — 13. — Ed. Paulinas, SSo Paulo 1980.

ÍDEM, Puebla e as comunidades eclesiais de base. Colecáo "Pastoral


e Comunidade" — 12. — Ed. Paulinas, Sao Paulo 1980.

— 468 —.
E o número da Besta?

666
(Apocaüpse 13,18)

Em síntese: O pastor Aníbal Perelra Reís acaba de publicar um


llvro Intitulado "666. Apocalipse 13: 18", em que defende a tese segundo a
qual a Besta do Apocatlpse em Ap 13,18 é, por seu número, símbolo do
Papa. Para provar isto o autor tenta declfrar o número 666, como se
correspondesse a LATEÍNOS, RWMYYT, DUX CLERI, VICARIUS FILII DEI...

Ora nenhuma das Interpretacñes propostas por A. P. Reís é adequada.


Com efeito; faz-se mister ponderar que o autor do Apocalipse quería levar
aos seus Imediatos leitores (cristáos da Asia Menor no fím do séc. I perse
guidos pelo Imperio) urna mensagem de reconforto e esperance; tal men-
sagem implicarla a ruina do perseguidor designado veladamente pelo nú
mero 666. Por consegulnte, é necessário procurar decifrar o número em
pauta a partir das circunstancias históricas de fins do século I; se S. JoSo
se tivesse referido a pessoa ou eventos posteriores a tal época, nao teria
sido entendido pelos seus imediatos leitores; o Apocalipse entáo nada signi
ficaría para estes. Ora nota-se que o Papado jamáis poderla ter sido
entendido como o perseguidor fadado a perecer, visto que o próprio Papa
ou o blspo de Roma era perseguido com os cristáos do século I (os prl-
meiros Papas foram todos mártires).

A Interpretacio científica mals provavel afirma que o n? 666 corres


ponde á expressáo QSR NRVN, Cesar Ñero; designa, pols, o Imperador
Ñero como representante de todos os perseguidores da Igreja, que por
certo realizam obra vá, fadada ao insucesso (666 é símbolo de precarl-
edade).

Comentario: Foi recentemente publicado em Sao Paulo


um opúsculo do pastor Aníbal Pereira Reis com o título 666.
Apocalipse 3: 181. Este escrito tem seu aparato de erudigáo
apto a impressionar o público; embora nao mereca ser levado
ao plano da exegese científica, pois está imbuido de precon-
ceitos e lavrado em linguagem passional, será considerado ñas
páginas subseqüentes, em vista das impressóes e dúvidas que

lEdicBes "Caminho de Damasco", Sao Paulo 1980, 35 pp.,


135 x 177 mm.

— 469 —
30 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 251/1980

suscita no grande público. Referiremos, pois, o conteúdo do


opúsculo, ao que se seguiráo comentarios a respeito do número
666 de Ap 13,18.

1. O lívreto em foco

Anibal Pereira Reis tenciona propor a exegese de famosa


passagem do Apocalipse, que assim reza:

"Els aqui a sabedorial Quem tiver Inteligencia, calcule o número da


fera, porque é número de um homem, e esse número é seiscentos e
sessenta e seis" (Ap 13,18).

Nesta passagem, o autor sagrado pratica gematria, ou seja,


a arte de atribuir valor numérico a determinado nome. Tal
procedimento supóe algo de usual entre hebreus, gregos e (em
proporcáo menor) latinos: as letras do alfabeto tinham valor
numérico, de tal modo que a soma dos números corresponden
tes a cada letra de um nome dava o valor numérico de tal
nome. Assim urna palavra podia ser substituida, num texto, por
seu valor numérico; os intérpretes, ao lerem tal número, deviam
saber depreender do mesmo o nome assim indicado. Tal empre-
endimento era difícil, pois cada número é passivel de diversas
interpretacóes, de mais a mais que nunca se sabe a quantas
letras (ou parcelas quantitativas) corresponde a soma ou o
número correlativo ao nome intencionado. Apesar das dificul-
dades de interpretagáo, a gematria era de uso freqüente na
antiguidade. Entre outros exemplos, pode-se citar o das esca-
vagóes de Pompei (Ñapóles, Italia), onde foi encontrada, gra
vada em parede, urna declaracáo de amor do seguinte teor:
philo hes arithmós phme, amo aquela cujo número é phme
(ph = 500 + m = 40 + e = 5; donde 545).

A gematria era devida ao desejo de «revelar velando» em


circunstancias especiáis.

Ora o autor do Apocalipse, escrevendo a fiéis cristáos da


Asia Menor, submetidos a perseguicáo, tinha em mira dizer-lhes
algo que os reconfortasse aludindo ao Imperio Romano persegui
dor; tal alusáo, como se compreende, devia ser reveladora e ve
lada ao mesmo tempo.

Sobre o significado do número da Fera do Apocalipse tém


sido escrito os mais diversos comentarios, como se depreen-

— 470 —
O NUMERÓ DÁ BÉSTA 31

derá mais adiante. Aníbal Pereira Reís tenta, por sua vez, urna
interpretacáo. Procedendo de maneira sutil, este autor lembra
que, segundo S. Ireneu (t cerca de 202), o número 666 era
decifrado no sáculo n como sendo equivalente ao vocábulo
grego Latéínos (= Latino):

L (lambda) = 30
A ;(alfa)
__ -i

T (tau) = 300
E . (épsilon) = 5
I (iota) = 10
N (nu) = 50
0 i(ómikron) = 70
s (sigma) = 200

666

Desta contagem deduz A. Reis (em salto brusco) que tal


número designa o Sumo Pontífice ou o Papa; e, para «corro
borar» esta conclusáo, diz que o Papa passa por «Vigário de
Filho de Deus»: Vicarius Filii Dei, expressáo cujo valor numé
rico é 666:

VIC ARIUS FILII D El


5 1 100 15 1 50 1 1 500 1

Em latim, as letras A, R, S, E e F oarecem de valor nu


mérico; por isto nao sao computadas. Além do qué, a grafía do
do U era igual á do V, razáo pela qual se apresenta com o
valor 5.

Aníbal Reis recorre outrossim á expressáo Dux Cleri, que


ele atribuí ao Papa e que também tem o valor numérico 666.
Apela outrossim, para os vocábulos caldaicos SATUR e TEECAN,
ao quais Aníbal Reis atribuí igualmente o valor 666.

Como se vé, o autor do opúsculo tenta todos os recursos e


artificios concebíveis para «demonstrar» ao leitor que a Fera
do Apocalipse simboliza o Papa, qualquer que seja o nome da
respectiva pessoa. De principio a fim, usa linguagem passional
e agressiva, que destoa das normas da caridade (ágape) crista,
que S. Paulo descreve e elogia em ICor 13: «A caridade é paci
ente, benigna, ... nao é inconveniente, ... nao se irrita, nao
suspeita mal».

— 471 —
32 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 251/19»)

Além disto, é de notar que Aníbal Reis, procurando na


Biblia do Antigo Testamento a ocorréncia do número 666, chega
a citar um texto no qual tal número nao aparece. Assim á p. 14:

1Cr 9, 13: "... Tlnham irmSos, chafes das suas casas patrlarcals,
num total de mil setecentos e sessenta1 homens valiosos, ocupados no
servlco da casa de Deus".

Além do conteúdo do livro — insustentável aos olhos da


exegese científica, como se verá abaixo — é de lamentar o es
tilo do autor, violento e injusto, ou seja, pouco condizente com
a maneira de apresentar um. trabalho de valor científico e obje
tivo.

Examinemos, pois, de mais perto a tese de Aníbal Reis e


o significado do número da Fera do Apocalipse, levando em
conta as normas da ciencia exegética destituida de preconcei-
tos.

2. Cimentando o livro...

1. O Apocalipse de S. Joáo foi escrito por volta do ano


de 96, quando o Apostólo se achava deportado na Una de Pat-
mos sob a perseguigáo do Imperador Domiciano (81-96). O
objetivo do Apostólo, ao escrever tal livro, era o de levar aos
seus imediatos leitores urna palavra de consolagáo e de espe-
ranga, pois estavam deprimidos pela inclemencia da situacáo
em que viviam: o Imperio Romano pagáo os boicotava, os judeus
nao os aceitavam e o Senhor Jesús nao voltava para julgar os
homens e implantar definitivamente a justiga sobre a térra. O
Apocalipse, portante, tem em vista destinatarios imediatos bem
caracterizados; tenciona falar a tais leitores necessitados de
apoio e estimulo. Embora o Apocalipse e, em geral, os livros bí
blicos tenham significado e valor perenes (pois sao a Palavra
de Deus feita palavra do homem para a salvagáo de todos os
homens), os livros sagrados se dirigem sempre a leitores ime
diatos inseridos em circunstancias geográficas, históricas e cro
nológicas bem definidas; é somente através de tais circunstan
cias e tais leitores que eles falam aos leitores de épocas poste
riores. Desta observacáo se segué que, para entender o signifi
cado de alguma passagem bíblica, é necessário reconstituir o
ambiente geográfico e histórico dentro do qual e em vista do
qual ela foi escrita. Nao se pode nem deve jamáis supor que

1 e nao ££lscentos e sessenta e seis, como cita Aníbal Reís.

— 472 —
O NÚMERO DA BESTA 33

a Palavra de Deus caía do céu diretamente para nos, situados


no sáculo XX, a fim de atender a questSes que nos hoje levan
tamos, mas que nao e,ram problemas para os ¡mediatos destina
tarios do livro sagrado (no caso,... do Apocalipse).

Até mesmo as profecías biblicas mais genuinas fazem alu-


sóes a acontecimentos da época do profeta e se desenvolvem a
partir de tais eventos; tenham-se em vista, por exemplo, Is 7,14;
Mq 5,1-3; Is 52, 13-53, 12 ...

Posto este principio, verifica-se que, por conseguinte, é fal


so procurar em vocábulos da linguagem latina a decifragáo do
número 666 do Apocalipse. Em outros termos: nao se pode dizer
que 666 equivalha a VICABIUS FUJI DEI, ou a DUX CLEBI,
pois jamáis os leitores ¡mediatos do Apocalipse, residentes na
Asia Menor, teriam entendido tal insinuagáo. É certo que nao
falavam latim nem conheciam tal idioma, que na época ainda
era um dialeto falado sonriente no Lacio ou no centro da penín
sula itálica. Se S. Joáo tivesse tido em mira o Papa insinuad 5
por tal número, nao teria levado mensagem alguma aos seus
leitores imediatos.

Aníbal Reis, porém, além de interpretar o número 666 a


partir de vocábulos latinos, tenta decifrá-lo também a partir dos
termos LATEDÍOS (em caracteres gregos) e BWMY3ÍT (em
hebraico). Assim procedendo, o autor já nao peca contra a
regra exegética enunciada, mas nao chega á conclusáo que de-
seja; cora efeito, LATEDÍOS e EWMYYT podiam designar o
Imperio Romano ou Latino como os destinatarios do livro o
conheciam, com os seus Imperadores Caligula, Ñero, Domi-
ciano...; jamáis tais vocábulos significarían! o Papa para os
leitores imediatos do livro.

Ainda menos propósito tem a procura de interpretado para


666 a partir dos vocábulos caldaicos SATUB e TEITAN. O
autor se perde em sutilezas descabidas e artificiáis quando quer
associar tais palavras ao Papado. Jamáis os leitores imediatos
conceberiam ou entenderiam tais malabarismos. O próprio leitor
moderno nao pode deixar de reconhecer que A. Reis faz autén
ticos jogos de trapézio ao desenvolver a sua explanacáo. Gasta
erudigáo que pode ofuscar o leitor incauto, mas nada significa
aos olhos de quem estudou o assunto.

Vé-se, pois, que a exegese apresentada por Aníbal Reis se


inspira em preconceito, pois «a ferro e fogo» quer identificar o

— 473 —
34 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 251/1980

Papa com a Fera do Apocalipse. O livro do A. Reis pode im-


pressionar o público pelo aparato de alusóes e citacóes que
traz; parece fruto de grande cultura. Na verdade, porém, como
já foi dito, nao pode ser tido como livro de ciencia, pois está
imbuido de teses preconcebidas e passionalmente sustentadas.

2. Se alguém abstrai do contexto histórico e da mentali-


dade do autor e dos primeiros leitores do Apocalipse, chega,
como Aníbal Réis, as mais estranhas conclusóes. Eis alguns
espécimens de tais absurdos «exegéticos», que por vezes podem
tér o sabor de «brincadeira»:

1) O próprio Jesús poderia ser considerado a Besta do


Apocalipse, como já lembrou certo rabino. Com efeito, as letras
hebraicas do nome «Jesús de Nazaré» perfazem o total 666:

Y R S N V S Y
10 200 90 50 6 300 10 = 6661

Doutro lado, o nome de Jesús escrito em caracteres gregos


perfaz o total 888, que seria símbolo de toda a perfeigáo e
santidade:

I H S 0 Y S
10 8 200 70 400 200 = 888

A identificagáo entre Jesús e 888 é feita pelo apócrito


cristáo «Oráculos Sibilinos» I 326-330.

2) A fundadora do Adventismo (denominacáo protes


tante), que viveu no século passado, também poderia ser con
siderada a Besta do Apocalipse:

HELLEN GOVL D WHITE


50 50 5 50 500 5+5 1 = 666

3) O herói da libertacáo irlandesa, Parnell, pode também


ser identificado com a Besta do Apocalipse, desde que se es-
creva o seu nome em grego, dobrando o ro (r):

PAR RNELLOS
80 1 100 100 50 5 30 30 70 200 = 666

10 prlmelro S corresponde á letra Sade = 90, ao passo que o se


gundo á letra Schin = 300.

— 474 —
O NÚMERO DA BESTA 35

4) A própria Besta (therion, em grego) pode ser desig


nada pelo número 666, caso se utilizem caracteres hebraicos:

T n Y V N
400 200 10 6 50 = 666

Poder-se-iam multiplicar os exemplos deste tipo de inter-


pretagáo abusiva, pois a gematria se presta a isto. Tais ponde
rales evidenciam que, se alguém deseja aproximar-se do au
téntico sentido do número 666 em Ap 13, 18, evitando deva-
neios fantasistas ou preconceituosos, deve procurar reconstruir
exatamente a intencáo do autor sagrado ao redigir tal verr
sículo. Ora inegavelmente tal intengáo era a de transmitir aos
seus imediatos leitores urna significativa mensagem de conso-
lagáo, reconforto e esperanga. Se o númtro nao pudesse ser
decifrado pelos cristáos da Asia menor do século I, mas supu-
sesse circuntancias históricas posteriores ao século I, S. Joáo
nao atingiría o seu objetivo. É preciso frisar que o Apocalipse
foi concebido, antes do mais, como mensagem para os cristáos
residentes na Asia Menor no último decenio do século I. A
alusáo a situacoes da Igreja posteriores ao século I tornaría o
número indecifrável aos leitores imediatos.

Mais ainda: é de notar que tais leitores estavam acabru-


nhados por efeito da perseguicáo dos Imperadores Romanos.
Por conseguinte, se S. Joáo os quería reconfortar indicando a
queda ou a ruina do perseguidor, devia mencionar algum Inv
perador Romano como perseguidor (Anticristo) fadado a pe
recer. Nao vem ao caso o Papado ou algum Papa, pois o Papa
nao perseguía os cristáos da Asia menor, mas era ele mesmo
perseguido pelos Imperadores Romanos (tenhamos em vista o
fato de que os primeiros Papas foram mártires da fé: Pedro,
Lino, Cleto, Clemente...).

Após tais ponderagóes, procuremos objetivamente o signi


ficado do número em foco.

3. Que diz a exegese científica ?

Quem examina a literatura crista antiga, concebe a im-


pressáo de que muito cedo se extinguiu entre os cristáos a
consciéncia do significado de Ap 13,18.

Com efeito. Já S. Ireneu (f cerca de 202) notava que


seria mais recomendável nem procurar decifrar o número 666,

— 475 —
36 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 251/1980

pois que muitos nomes se podiam propor como correspondentes


a tal número. Cf. Adv. Haer. V 30,2.
Mais aínda: como observava o próprio S. Ireneu, já no
séc. n os manuscritos bíblicos oscilavam, pois alguns apresen-
tavam o número 616 em lugar de 666, o que bem mostira que
os cristáos já nao possuiam com clareza a chave de interpre-
tacáo do famoso número. Verdade é que, segundo o próprio
S. Ireneu e os melhores códices da tradicáo manuscrita, a versáo
preferível é 666.
Abstraindo de hipóteses inverossímeis, apresentamos duas
tentativas de interpretacáo que merecem a atengáo dos bons
exegetas:

1) O número 666 corresponde as letras da expressáo


César Ñero escrita em caracteres hebraicos:

N V R N R S Q
50 6 200 50 200 00 100 = 100J

Caso se omita o nun (N) final de Nero(n), dando-se a


forma latina Ñero ao nome, tem-se o total: 666 — 50 = 616.
Isto explicaría a oscilagáo dos códices entre 666 e 616.
' Tal interpretacáo, que vé na Besta do Apocalipse o Impe
rador Ñero (tipo do poder político perseguidor dos cristáos), é
bem fundamentada, pois Ñero foi o primeiro Imperador Ro
mano a decretar perseguigáo aos cristáos; por sua crueldade
tornou-se realmente o prototipo dos adversarios da Igreja.
Ha quem objete que a palavra q s r deveria trazer um y
(iod) entre o q e o s. Todavía pode-se responder que a grafía
com y ou a grafía plena cedía por vezes á grafía deficiente,
sem iod; nao era, pois, insólita, como testemunham Büxtorf,
Renán, AUo... e outros autores (cf. a bibliografía deste ar
tigo).
Também há quem observe que o autor do Apocalipse so
teña referido a urna expressáo grega (Kaisar Nerón) utilizando
caracteres nao gregos, mas hebraicos (QSR NRUN) — o que
parece artificial. — Tal objegáo se desfaz desde que se tenha
em vista que na Asia Menor muitos cristáos eram de origem
judaica e, por isto, conheciam tanto a língua hebraica como a
grega. Além do qué, se observa que a intengáo de «revelar
velando» podia levar o autor do Apocalipse a procurar dessa
maneira dificultar aos estranhos a decifragáo do número 666.

' Leia-se da direita para a esquerda.

— 476 —
O NÚMERO DA BESTA 37

A interjtretagáo de 666 que visa a Cesar Ñero, é de todas


a mais provável. Sao Joáo em Ap 13,18 teria denunciado o Im
perador Romano fadado a perder o seu poder, visto que 666 é
número de imperfeigáo (6 é 7-1, é a perfeigáo truncada, cor
tada, deficiente). Esse Imperador identificado com a primeira
Besta em Ap 13, 1-10, sería mais explícitamente apontado em
Ap 13,18. Quanto á segunda Besta, descrita em Ap 13, 11-17,
designa a falsa religiáo do Imperio Romano, que servia ao
culto do Imperador e, desta forma, contribuía para causar
mal-estar aos cristáos.

2) Quem prefere (menos abaleadamente) ler 616, em


vez de 666, interpreta o número como equivalente ao nome do
Imperador Guio Césair, escrito em caracteres gregos:

GAIOS KAIS AR
3 1 10 70 200 20 1 10 200 1 100 = 616

Ora Calígula reinou de 37 a 41 a. C. e foi também cruel;


declarou ser ele mesmo deus e combateu o monoteísmo dt
Israel. Todavía esta interpretagáo, além de se basear na yersáo
616, menos segura, preconiza a alusáo a um Imperador já dis
tante, no tempo, dos imediatos leitores do Apocalipse, que vi-
viam no fim do século I. O Imperador Ñero, que primeiro
decretou a perseguigao e reinou de 54 a 68, estava muito vivo
na recordagáo dos primeiros destinatarios do livro do Apoca
lipse.

Em conclusáo, é de todo preferível a interpretagáo: 666 =


César Ñero. O texto de Ap 13,18 ficará sempre misterioso para
os leitores do século XX, visto que o era para os do século II.
Importa, porém, que, apesar da obscuridade, os leitores nao
percam as pistas da interpretagio científica do texto e nao se
deixem levar por devaneios ou especulagóes fantasistas, artifi
ciosas e preconcebidas.

4. A ¡nterpretasao triangular

Chama-se «número triangular» aquele que resulta da soma


dos númefros que váo da unidade até o termo fixado. Assim 10
é o número triangular de 4, pois a soma de 1, 2, 3, 4 é 10; 21 é
o número triangular de 6..., pois 1, 2, 3, 4, 5, 6 dáo o total
21 .... O recurso aos números triangulares era usual entre os
antigos.

— 477 —
38 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 251/1980

Na base desta observagáo, alguns autores tencionam deci-


frar o número 666 como se fosse número triangular. Propóem,
pois, o seguinte raciocinio:

666 é o número triangular de 36, pois 1+2+3+4+


... 36 = 666;
36, por sua vez, é o número triangular de 8, pois 1 + 2 +
3 + 4.... + 8 = 36.

Ora, conforme as regras de linguagem antiga, o signifi


cado do número triangular vem a ser o do último número ao
qual ele é redutível. Por conseguinte, 666 = 36 = 8.

Qual seria, portante, o significado de 8 no Apocalipse?

Os autores lembram Ap 17,11, onde se diz que 8 é o nú


mero da Besta que sobe do abismo. Tal Besta é, segundo o
contexto, o Imperador Romano, ou ainda o Imperador Ñero,
que, segundo a lenda do «Ñero redivivus», devia voltar á vida,
depois de morto, para reinar.

Tal interpretagáo é menos abalizada e pouco aceita entre


os exegetas, pois parece mais subjetiva e arbitraria.

Bibliografía:

ALLO. E. B., Apocalipse. París 1933.

DATTLER, F. R., O llvro da Revelado. Comentario do Apocalipse. Sao


Paulo 1977.

ELLUL, J., Apocalipse. Arquiletura em movimento. Sao Paulo 1980.

GORGULHO, G e ANDERSON, A. F., Nao tenham medo. Apocalipse.


SSo Paulo 1977.

RÜHLE. O., Arlthmós, em: Grande Lessico del Nuovo Testamento, Fon-
dato da Gerhard Kittel e contlnuato da «Gerhard Frledilch, vol. I Brescia
1965. pp. 1229-1238.

* * *

AVISO
QUEIRAM OS NOSSOS ASSINANTES AGUARDAR PARA FAZER O
PAGAMENTO DE 1981.
A Administracdo.

— 478 —
Unía pega famosa:

"a loja do ourives"


da Karol Wojtyla

£m slntese: A peca "A Loja do Ourives" do jovem Karol Wojtyla,


hoja Papa JoSo Paulo II, versa sobre o amor conjugal. Apresentando tres
casáis, dos quals um ó bem estruturado, o segundo se vé fracassado e o
terceiro consta do filho do prlmeiro conúbio e de urna filha do segundo
enlace mencionados. Através desses tres tipos de casal, o autor tenciona
propor ao público urna reflexSo sobre o matrimonio:

— o amor nao ó volúpla apenas, mas é doajáo mutua generosa; ó


alianca dos corac.5es, sem a qual as aliancas de ouro nada valem. Se
multos casáis fracassam, isto se deve ao despreparo dos nolvos, que neo
chegam a conceber a auténtica nocáo de amor; o Esposo por excelencia
é o Cristo Jesús, mencionado Indiretamente na parábola das dez virgens
em 25,1-13;

— aos país toca missSo de enorme responsabilidade junto aos fllhos;


por seu modelo de vida, formam ou deformam profundamente as persona
lidades e o futuro da nova geracáo. Principalmente nos casos de disso-
lucáo de um casal as principáis vitlmas vém a ser os fllhos.

A peca tem, pois, conteúdo rico e Interessante; o seu estilo simbolista


exige reflexSo por parte do leltor, que deverá procurar compreender as
Inslnuasóes do autor.

Coment&rio: Saiu em tradugáo brasileira a peca de teatro


concebida por Karol Wojtyla em juventude com o título «A
Loja do Otirives *». Trata do matrimonio, sugerindo ao público
profundas reflexóes sobre o mesmo, em parte explícitamente
formuladas, em parte insinuadas por imagens. Abaixo repro-
duziremos o conteúdo da pega, ao qual acrescentaremos alguns
poucos comentarios.

1. O enredo

A pega desenrola-se em t|rés atos: 1) Os avisos; 2) O es


poso; 3) Os filhos (Ménica, Cristóváo).

1 Titulo do original polonés: "Przed Skeplem Jubllera" da autoría de


Karol Wojtyla com o pseudónimo de Andrzej Juwien. Traducfio de Leopoldo
Scherner com a colaboracio de Luis Artigas Mayayo. — Ed. Loyola, Sfio
Paulo 137 x 208 mm, 71 pp.

— 479 —
40 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 251/1980

1.1. Os Avisos

No primeiro ato, é apresentado o casal Teresa e André


que, depois de firmar o seu noivado, vai procurar urna loja de
ourives, ao qual encomendam as respectivas aliangas. O ourives
(que voltará até o fim do enredo da pega) desempenha papel
profético, pois lembra aos jovens que as aliangas sao mais do
que pegas de metal; o seu peso nao é o do ouro, mas o do ser
humano,... o de cada um dos nubentes e o dos dois nubentes
juntos (p. 20). Teresa e André preparam-se para o casamento,
tomando consciéncia de que o amor é capaz de vencer as perpíe-
xidades e determinar o futuro dos consortes; tal amor nao t
somente satisfagáo camal, mas passa pelos corpos como
por um caminho em demanda de algo maior (p. 24).

1.2. O Espose

No segundo ato aparece outro casal, Ana e Estéváo, já


unidos em matrimonio e responsáveis por tres filhos: Marcos,
Mónica e Joáo. Os dois conjugues nao se entendería entre si, a
ponto de romper a convivencia e separar-se; o amor fracassou.

Ana procura entáo a loja do ourives, pois quer vender a


alianga de ouro. Diz-lhe entáo o artífice:

«Esta alianca nao tem peso,


o fiel da balanca para sempre em zero,
e nao posso tirar déla nem mesmo um miligramo de ouro.
Seu marido deve estar vivo — neste caso
nenhuma das duas aliangas tem peso sozinha
— tem peso somente as duas ¡untas,
A minha balanca de ourives
Possui esta particulanidade:
Nao pesa o metal em si;
ela pesa todo o ser humano e o seu destino!» (p. 34).

Ana verifica que o amor nao é apenas questáo de senti-


mentos, mas é a síntese de duas existencias que convergem
num só ponto. «E as duas existencias resultam numa só» (p.38).
O amor, portante, «nao é urna aventura... Nao pode durar
um momento só. A eternidade do homem. passa pelo amor>
(p. 41).
Entra em cena um personagem chamado Adáo, que se póe
a dialogar com Ana. Detém-na no momento preciso em que ia
entregar-se a um aventureiro que a convidava para entrar no
seu carro... Adáo mostra entáo a Ana as cinco virgens sabias

— 480 —
«A LOJA DO OURIVES» 41

e as cinco virgens levianas da parábola de Mt 25, 1-13; Ana


assemelha-se a estas últimas; por isto Adáo a desperta da sua
leviandade para que reconhega o Esposo que em breve passará
por ela. Ora o Esposo aparece realmente, mas Ana, ao vé-lo,
verifica que tem o rosto de Estéváo e foge... O Cristo, que ela
quer amar, faz questáo de ir ao seu encontró através de Es
téváo e isto a deixa perplexa ou mesmo sem coragem...

1.3. Os filhos (Mónica, Cristóváo)

O casal Teresa e André teve um filho chamado Cristóváo.


Este, aos dois anos de idade, perdeu o pai, tombado em campo
de batalha. Feito rapaz, encontra-se com Mónica, filha do
casal separado Ana e Estéváo.

Cristóváo tornou-se o digno herdeiro das virtudes de seu


pai André e tenciona amar Mónica com amor nobre e perene.
Eis, porém, que Mónica se ressente da instabilidade da uniáo
de seus genitores, e hesita:

«Tenho medo de mim mesma e tenho também medo por vocé...

O pai de vocé foi-se embora e morreu, mas a uniao sobreviveuj


vocé fo¡ o seu porta-voz, o amor transferiu-se para vocé.

Meus pais vivem como duas pessoas estranhas. ..

Nao será um erro, meu amor? Nao acabaremos depressa?

Vocé nao me abandonará um belo dia, como fez meu pai, um


estranho em nossa casa?

Ou nao abandonare! vocé talvez eu, como fez nossa mae, tor-
nando-se também ela urna estranha?

Pode o amor humano durar quanto dura a vida de um homem?»


(p.57)

Ao qué Cristóváo responde:


«E preciso sepultar as lembrancas e construir o nosso próprio
destino...

O amor é um desafio continuo. O próprio Deus talvez nos desa


fie, para que nos mesmos desafiemos o destino» (p. 59).
Finalmente Mónica e Cristóváo resolvem casar-se.
A cerimónia do enlace compareceram os pais de Mónica
assim como Teresa, a máe de Cristóváo; Adáo também se fez

— 481 —
42 <rPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 251/1980

presente, como que assumindo o lugar de André, que morrera


ao seu lado no campo de batalha.
Após o casamento dos jovens, Adáo reflete sobre o fra-
casso da uniáo de Estéváo nos seguintes termos:

«A causa de ludo ¡sto está no passado. Al¡ é que esteve o


erro... Quero dizer que a gente se deixa levar pelo amor como
se fosse ele o absoluto, mesmo faltando as dimensoes do absoluto.
A gente se,gue a própria ilusao, sem procurar inserir o amor no Amor,
que tem essa dimensao de Absoluto» (p. 69).

Por conseguinte, Ménica e Cristóváo deveráo procurar, em


sua uniáo matrimonial, «refletir o Ser e o Amor Absoluto»
(P- 70).
A pega encerra-se com a cena em que Estéváo se volta
para Ana, a esposa de quem se separara; póe-lhe a máo
no brago (o que, havia multo tempo, ele nao nao fazia) e
observa:

«Que pena, que pena que há tantos anos nao nos fenhamos
mais sentido como dois jovens 1
Ana, Ana, quanta coisa nos perdemos por isto!» (p. 72).
O enredo da pega, cheio de insinuagSes, suscita algumas

2. Reflexoes

Parecem ser dois os principáis títulos de ponderagóes suge


ridas por «A Loja do Ourives»:

2.1. Amor: que é?


Nao há dúvida, urna das grandes intengóes do autor da
pega é a de propo¡r a auténtica nogáo de amor conjugal. Este
nao é apenas volúpia e prazer sensível, mas vem a ser, antes
do mais, para o cristáo, insergáo no Amor absoluto... Amor
que tem seu prototipo no comportamiento do Cristo, fiel á Es-
posa-Igreja até a morte; Ele é o Esposo, que toda nubente se
deve acostumar a descobrir através dos tragos humanos do
seu consorte; paralelamente toda esposa representa a Igreja,
que o marido deve saber amar, através das características da
mulher.

O fracasso de numerosas unióes conjugáis tem sua causa


na superfitíalidade dos afetos com que os nubentes julgam

— 482 —
«A LOJA DO OURIVES» 43

amar-se mutuamente. O auténtico amor suscita nao somente


alegría, mas também urna santa reverencia ou um certo temor,
que é precisamente a antítese de leviandade e temeridade ima-
turas. O amor, porém, nao se deixa intimidar; ele tem a co-
ragem de conceber nobres e grandes ideáis, em vista dos quais
assume as suas responsabilidades.

Na peca, duas figuras lembram enfáticamente as facetas


do verdadeiro amor: o ourives e Adáo.

O ourives vé comparecer á sua vitrina os tres casáis da


pega... É ele quem fornece as respectivas aliangas, que valem
nao pelo ouro que as constituí, mas pela doagáo mutua das duas
pessoas que se dispóem a trazé-las. Urna alianga de ouro
que nao corresponda a um coragáo geneiroso, tem peso zero ou
nada vale. O ourives assim tenta mostrar o que deva ser o enla
ce conjugal.

Quanto a Adáo, o nome recorda o primeiro esposo e pai


mencionado em Gn 1-3: «é urna especie de denominador comum
de todos nos, ao mesmo tempo que porta-voz e juiz», diz Te
resa (p. 71). É Adáo quem indica a Ana o Esposo Cristo;
ele se consuma ou realiza no Cristo Jesús, o segundo Adáo. É
bem possível que, jogando com tais personagens, o autor da
pega tenha intencionado aludir ao binomio paulino do primeiro
e do segundo Adáo.

2.2. A mlssao dos país

O terceiro casal, Mónica e Cristóváo, representa precisa


mente o fruto de duas unióes conjugáis, das quais a primeira
(a de Ana e Estéváo) fracassa e se diluí, enquanto a outra (a
de Teresa e André) perdura mesmo na ausencia forgada do
cónjuge que morre na guerra.

Os filhos Urazem a marca do amor ou do desamor dos


respectivos pais. Observa Ana, a infeliz esposa de Estéváo:

«Vivemos um para o outro? Nao acredita.. . Dos meus filhos,


Mónica é a mais difícil. Foi em Ménica que mais coisas destruímos»
(p. 68).

Mónica sintetiza muito bem a influencia que o modelo dos


pais exerce sobre os filhos, quando diz a Cristóváo:

— 483 —
44 «PERGUNTE E RESP0NDEREMOS> 251/1980

«Vocé disse que seu pai foi embora para nunca mais voltar;
mas ele permaneceu com voces. Com meu pai tudo é diferente,
assim como com minha mae» (p. 58).

Na verdade, quando um casal se dissolve, a principal vítima


sao geralmente os filhos. A importancia dos país na formagáo
dos filhos é talvez muito mais vultosa e significativa do que os
próprios genitores possam imaginar!...

Todavía o autor nao deixa de enfatizar por duas vezes que


aos filhos compete perdoar aos pais; na verdade ninguém pode
sondar os coragóes. Assim fala Cristóváo:

«Os homens nao sao somente caras, mas eles tém qualquer
coisa de mais profundo.

Ménica, que é que vocé sabe do íntimo de sua mae e de seu


pai Estévao?» (p. 64).

É Ana quem observa:

«Ménica levará consigo a conviccao da culpa dos pais, mas


aqui, talvez, esteja errada» p. 68).

Sao estas — eremos — as principáis linhas da mensagem


que Karol Wojtyla, ainda no inicio da sua vida cultural, quis
transmitir ao público através da pega «A Loja do Ourives». Co
mo se vé, esta vem a ser o eco fiel da concepgáo prista do amor
e do casamento. A linguagem simbolista do autor contribuí para
incutir suavemente tal mensagem. Todavía deve-se reconhecer
que certos trechos dos discursos da peca poderiam ser mais
claros e compreensíveis, ao menos na tradugáo brasileira de
que dispomos.

Congratulamo-nos com a Editora Loyola pela publicagáo


desse valioso monumento literario e sugerimos que, na próxima
edigáo, acrescente ao texto urna breve Apresentagáo que in
forme o público a respeito da data e das circunstancias de
origem da pega; se possível, diga aos leitores qual a aceitagáo
que a mesmo encontrou ou está encontrando no ambiente do
teatro internacional. Seriam para desejar outrossim urna pá
gina de sumario do livro, assim como urna nota em rodapé da
p. 43 (quadro VI do 2« ato) para lembrar aos leitores que a
referencia as dez virgens, as lampadas e ao Esposo se deve
á parábola de Mt 25,1-13.

Estévao Bettencourt O. S. B.

— 484 —
livros em estante
Teología para o crlstSo de hoje. Vol. 9: Salvacao e Rédemelo, pelo
Instituto Diocesano de Enslno Superior de Wuerzburg. Traducfio a cargo
dos professores do Colegio M. Cristo Reí, de Sao Leopoldo (RS). — Ed.
Loyola, S8o Paulo 1980, 160 x 230 mm, 268 pp.

A obra em foco é de grande envergadura nao so quantftatlva, mas


também qualltativa. Embora suponha nfvel cultural europeu e desenvolva os
seus temas com freqüente recurso á filosofía moderna, merece consIderacSo
da parte dos estudiosos brasileiros, de mais a mais que os tradutores, sob
a coordenacáo do Pe. Sllvlno Arnhold S. J., procuraram adaptar o conteúdo
e a bibliografía de cada volume ao ambiente e aos Interesses do leitor
brasilelro.

O presente volume trata do mal e do pecado no mundo (1? tema);


aborda as espe rangas de salvagáo e a perda de sentido na socledade
hodierna (2? tema), a mensagem crista da salvacSo (3« tema), o anuncio
paulino da salvacSo (4<? tema) e a esperanca crista do futuro (5? tema).
No decorrer do livro encontram-se belas páginas. Chama-nos a atencSo
especialmente o que os autores apresentam a respelto do mal no mundo:
expdem a origem e a historia da nocáo de Sata, o Adversario ou Tentador,
na Biblia e concluem que se pode "admitir que a Idéia de um poder do
mal transcendente ao homem, e vencido por Jesús, pertence ao conteúdo
das afirmacóes do NT" (p. 38). Como se vé, os autores aceilam a
existencia do demonio, com a TradigSo crista e o magisterio da fgreja;
todavia recomendam sobriedade na maneira de conceber a acSo nefasta do
demonio neste mundo: pense o homem, antes do mais, na responsabilidade
que toca a ele, homem, diante das sltuagóes de pecado na historial — No
tocante ao pecado, os autores oferecem Interessantes e sabias ponderagSes:
aceltam a dlstlncáo entre pecado venial e pecado mortal, embora mostrem
a dlficuldade de se distinguir concretamente urna e outra forma de pecado;
disto resulta que nao se pode o crlstao tranquilizar pelo fato de só
"descobrir" pecados veniais em sua vida; tais pecados, que Ihe parecem
leves, podem ser a expressáo de um estado de tibieza ou covardia espi
ritual que o deve inquietar e incitar a p6r máos á obra na demanda da
perfeicáo crista (cf. pp. 45-55).

Em síntese, o livro é bem construido e rico de conteúdo. Louvamos


os tradutores pelo seu esforgo de publicar a obra em condlgóes acessiveis
e proficuas ao público brasileiro.

O Concilio, Medellin, Puebla e a Educa?áo, por Pe. R. Paiva. — Ed.


Loyola, S3o Paulo 1970, 140 x 210 mm, 79 pp.

O Pe. Raúl Paiva S. J. trabalha em EducacSo há varios anos. "Tendo


tido ocasiáo de orientar reciclagens de outros educadores, veriflcou que
mesmo entre os profissionais católicos da Educagao, inclusive Diretores de
instituiedes, há um ampio setor que nao leu os documentos básicos da
Igreja Universal e Latino-íAmericana. Fora deste circulo, a situagáo se
agrava. É comum encontrar até irrestrlta condenagáo da Escola Católica em
nome do Concilio ou de Medellin. Mais difícilmente de Puebla" (p. 3).

Em conseqüéncia, o autor oferece ao público textos seletos do Con


cilio do Vaticano II (1962-1965), das Assembielas do CELAM realizadas em
Medellin (1968) e Puebla (1979) a respeito de educagáo. Estes textos,
acompanhados de questlonárlos para reflexüo, bem mostram quanto a
Igreja estima a Escola Católica em todos os seus nlvels e se empenha por
que ela subsista hoje em dia, apesar das diflculd.ades que enfrenta, e do
ceticismo que se apoderou de educadores católicos. Em dols Anexos, o
Pe Palva aínda alude ao Documento da S. Congregacáo para a Educagáo
Católica de 19/03/77 e ao da CNBB de 26/06/74, que reafirmam o apreso
da Igreja pelos educandários católicos. A CNBB chega a considerar
"covardfa, InHdelidade e Injustica" a renuncia á Escola Católica (p. 79).

O livro é de grande atualidade. Seria para desejar que todos os


educadores católicos o conhecessem e meditassem sobre as sabias ponde-
racóes em prol do eslorco educacional cristáo. Sabe-se que é na escota
que se formam os cidadáos de amanhá e se anuncia o Evangelho que
muitas familias já nSo transmitem aos filhos.
E.B.

Á FAMÍLIA, ESCOLA DE FÉ
"ANTES DE MAIS NADA: A CATEQUESE NA FAMILIA.
NOS PRIMEIROS ANOS DE VIDA DA CRIAN?A, LANCAM-SE
A BASE E Ó FUNDAMENTO DO SEU FUTURO. POR ISTO
MESMO, DEVEM OS PAÍS COMPREENDER A IMPORTANCIA
DE SUA MISSÁO A ESTE RESPEITO. EM VIRTUDE DO BA-
TISMO E DO MATRIMONIO SAO ELES OS PRIMEIROS CATE
QUISTAS DE SEUS FILHOS: DE FATO, EDUCAR É CONTI
NUAR O ATO DE GERAQÁO. NESTA IDADE, DEUS PASSA
DE MODO PARTICULAR ATRAVÉS DA INTERVENCÁO DA
FAMILIA.
AS CRIANCAS TÉM NECESSIDADE DE APRENDER E DE
VER OS PAÍS QUE SE AMAM, QUE RESPEITAM A DEUS,
QUE SABEM EXPLICAR AS PRIMEIRAS VERDADES DA FÉ,
QUE SABEM APRESENTAR O CONTEÚDO CRISTÁO NO
TESTEMUNHO E NA PERSEVERANCA DE UMA VIDA DE
TODOS OS DÍAS VIVIDA SEGUNDO O EVANGELHO.
O TESTEMUNHO É FUNDAMENTAL. A PALAVRA DE
DEUS É EFICAZ EM SI MESMA, MAS ADQUIRE SENTIDO
CONCRETO QUANDO SE TORNA REALIDADE NA PESSOA
QUE ANUNCIA. ISTO VALE DE MODO PARTICULAR PARA
AS CRIANCAS QUE AÍNDA NAO TÉM CONDICÓES PARA
DISTINGUIR ENTRE A VERDADE ANUNCIADA E A VIDA
DAQUELE QUE A ANUNCIA. PARA A CRIANCA, NAO HA
DISTINCAO ENTRE A MÁE QUE REZA E A ORAQAO; MAIS
AÍNDA, A ORACAO TEM ESPECIAL VALOR PORQUE É A
REZA DA MAE".

(JOAO PAULO II, SOBRE A CATEQUESE, EM PORTO


ALEGRE, 5/07/80)

También podría gustarte