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ANUARIO DE DERECHO CONSTITUCIONAL LATINOAMEF ‘AMO X20 17, BOGUS, SSH ISH Rodrigo Santos Neves (Brasil)* O ativismo judicial no licenciamento de atividade petrolifera RESUMO © Poder Judicidrio tem sido cada vez mais atuante na tomada de decisdes politicas em nosso pafs. $40 diversos os exemplos de interferéncia do Judiciério nas questdes adminis- trativas,tais como diteito a satide, a gestao de pollticas puiblicas, na educacao e no direito ambiental, dentre outros setores. A referida atuacao tem preocupado os estudiosos do Direito, diante da possibilidade de transgresso ao principio da separacao de poderes. No que se refere a atividade petrolifera e seus possiveis impactos no meio ambiente, este trabalho discute as possibilidades de interferéncia do Poder Judiciério na tomada de de- cisdes dos 6rgaos e entidades que possuem competéncia ambiental. Palavras-chave: sistema judicisrio, separagio de poderes, meio ambiente, atividade pe- troleira, administracao publica, controle jurisdicional, poder discricional, jurisprudéncia, Brasil ZUSAMMENFASSUNG Die rechtsprechende Gewalt schaltet sich in unserem Land zunehmend in den politi- schen Entscheidungsprozess ein, Zahlreiche Beispiele belegen ihren Eingriff in Verwak tungsfragen auf Gebieten wie Recht auf Gesundheit, Management der éffentlichen Hand innerhalb der politischen Zielsetzung, Bildungswesen und Umweltrecht. Die angespro- chene Vorgehensweise hat angesichts der Gefahr einer Verletzung des Gewaltenteilungs- grundsatzes bei Rechtswissenschaftlern Besorgnis ausgeldst. Im Hinblick auf die Erdélfr- derung und die méglicherweise dadurch entstehenden Umweltbelastungen befasst sich der Beitrag mit den Moglichkeiten der rechtsprechenden Gewalt zur Beeinflussung der Entscheidungen der fiir Umweltfragen zustandigen Behdrden. Schlagwérter: Justizsystem, Gewaltentellung, Umwelt, Olférderung, éffentliche Verwak tung, Gerichtsbarkeitkontrolle, Ermessensspielraum, Rechtsprechung, Brasilien. * Mestre em Direlto pela UcAM-R}, professor da UvY-r5, bolsista da profrsneves@ yahoo.com.br> 232 CO ATWISMO JUDICIAL NO LICENCIAMENTO DE ATIVIDADE / RODRIGO SANTOS NEVES ABSTRACT ‘The Judiciary has been increasingly active in making policy decisions in our country. There are several examples of judicial interference in administrative matters, in fields such as the right to health, public policy management, education and environmental law, among others. This intervention has been a cause of concern for legal scholars, due to the possible infringement of the principle of separation of powers. With regard to the oil industry and its possible impacts on the environment, this paper discusses the possible intervention of the Judiciary in the decisions of bodies and agencies with authority in environmental matters. Keywords: judicial system, separation of powers, environment, oil industry, public ad- ministration, judicial review, discretionary power, case law, Brazil 1. Introducao © Estado brasileiro, como Estado democratico de direito, vive em um sistema politico regido pela representagao da vontade majoritaria de seu povo, a qual ¢ legitimada pelas eleigées diretas, que elevam ao poder os representantes da sociedade. Nese sistema politico, é de se esperar que os representantes da sociedade promovam 60s interesses de seus representados, por meio de ages e de producio legislativa capaz de suprir as necessidades ¢ anseios daqueles que s0 os titulares do poder soberano (art. 1°, cn/88) ‘No entanto, nem sempre o interesse da maioria politica € compativel com os interes- ses da minoria, que fica 4 mereé da vontade da maioria. E é exatamente para garantir que a maioria nao oprima a minoria politica em uma espécie de “autoritarismo da maioria democratica’, que os direitos fundamentais tém importancia Como esses direitos surgiram para garantir 0 individuo da acao estatal, criando-se uma esfera privada de direitos subjetivos intangivel pelo Estado, o Poder Judiciario teve extrema relevancia na garantia desses direitos, para limitar 0 poder estatal. Dai a necessi- dade de se discutir sobre a separagao de poderes, prevista na Constituigdo da Repiblica (cwi88), em seu art, 2°, uma vez que a atuagao do Judicidrio na tutela dos direitos funda- mentais pode ser caracterizada como usurpacao das fungées do Poder Executivo. do Poder Judicidrio na concessao ~ ou nao ~ de licenga ambiental. 2. A separacao de Poderes e a atuacao do Judicia 2.1. Aspectos dos “poderes” no Estado Liberal Quando o Estado ainda vivia no regime absolutista, todo 0 desejo popular foi a re- dugao do poder dos governantes para que os direitos individuais dos cidadaos fossem ANUARIO DE DERECHO CONSTITUCIONAL LATINOAMEF 233 respeitados, uma vez que a finalidade da criagdo do Estado é a protegio desses direitos. Ao ponto de Rousseau’ dizer que a lei que nao vem da vontade popular, mas do gover- nante: é ato arbitrario. Por isso Montesquieu, sensivel aos anseios sociais e ao funcionamento da maquina es- tatal, nos alerta para o perigo do poder politico: “Para que nio se possa abusar do poder, é preciso que, pela disposicao das coisas, o poder limite o poder”* Como forma de limitar © poder estatal Montesquieu sistematizou a teoria da separagio de poderes, alirmando que: “Tudo estaria perdido se 0 mesmo homem, ou 0 mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo exercesse esses trés poderes: o de fazer as leis, o de executar as resolugGes publicas e o de julgar os crimes ou as querelas entre os particulares”* Inspirada no pensamento de Montesquieu, a Virginia Bill of Rights de 12 de junho de 1776 foi a primeira constituigdo que inseriu em seu contetido o principio da separagio de poderes ao estabelecer que os poderes legislativo e executivo do Estado devem ser separados e distintos do Poder Judiciario. Importante é lembrar que o contexto histérico em que viviam os Estados Unidos era a opressio que a Inglaterra exercia com alta carga tributéria e o julgamento de crimes contra a coroa inglesa em territério britanico. Poste- riormente, em 1789, na Declaragao dos Dircitos do Homem ¢ do Cidadao, em seu artigo 16, ao estabelecer que: “Toda sociedade em que nao esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separagio dos poderes nao tem Constituigao’, decretando, assim, a vitdria do liberalismo sobre o regime absolutista monarquico. Em 1791, na Cons- tituico Francesa também foi consagrado esse principio, e em todas as Constituigdes do Bras Embora houvesse a vitéria da Revolugao Francesa com a derrota do absolutismo e, com ele, do Estado mercantilista, um dos aliados que ajudou na conquista do poder ficou para tras, para que subisse ao poder o terceiro estado: 0 povo. Entio quem venceu, na verdade, foi apenas 0 liberalism, ficando a democracia em segundo plano, uma ver que se estabeleceu na nova sociedade francesa o voto censitir A burguesia precisava de liberdade, nao para todos, mas apenas para si mesma. Uma liberdade econémica que a manteria no poder, em face das outras classes sociais. Para alcangar seus objetivos necessitaria de um mecanismo para que houvesse a reducio do poder estatal, que se mostrava na visio liberal o inimigo mimero um do individuo. A teoria da separacio de poderes passou a ser a pedra angular da construgio do libe- ralismo, que chegou ao exagero de estabelecé-la essencial para a existéncia de uma cons- tituigdo (art. 16 da Declaragao dos Direitos do Homem e do Cidadao, de 1789), diluindo © poder do soberano, e estabelecendo poderes distintos que deveriam ser exercidos por pessoas diferentes, conseguindo com isso duas coisas: a reducao do poder do monarca sua participacio direta na vida politica da nagio. Outra coisa também foi alcancada pelo liberalismo, por meio da separagio dos pode- res: 0 estreitamento dos fins do Estado, criando 0 Estado minimo. O contrato social, «cit p47, 28 Montesquieu: O espirito das lei, 2° e4. 2 in, Stu Paulo: Martins Fontes, 2060, 166

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