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JOSE CARLOS CALAZANS AS "FABULAS DE ESOPO" NA TRADICAO OCIDENTAL AS “FABULAS DE ESOPO” NA TRADICAO OCIDENTAL JOSE CARLOS CALAZANS ABREVIATURAS. aC. antes de Cristo c. circa dC. depois de Cristo f falecido fab. fabula inf. abaixo ob. cit. obra citada P pagina pp. paginas prov. provérbio sd. sine data sée. — século sup. acima vid. veja INTRODUGAO, Quando uma obra se torna patriménio de toda a humanidade, o seu autor corre 0 perigo de se tornar um mito, mesmo que ainda nao tenha morrido, 0 que normalmente é 0 requesito exigido; se a obra é jd por si feita de mitos ou de fbulas, entio o autor certamente se tornard numa das suas proprias historias, em que a sua vida poderd ser muito bem, exemplo sentencial de um apdlogo. Esopo parece ter sofrido destes dois males € até hoje no sabemos se de facto existiu 9 SOCIEDADE DEGEOGRAFIA DE LISBOA Normaimente atribui-se-Ihe a naturalidade frigida e a natureza de um escravo a0 servigo do rei Creso, porém para Herddoto terd sido um simples fabulista que recitava e escrevia, sendo conhecido no tempo de Aristéfanes. Mas como veremos, Esopo nunca poderia ter sido 0 autor da maioria das fabulas que levam o seu nome e isso € hoje indiscutfvel; a ter existido tera tido 0 mérito de compilar tais fabulas (o mais provvel oralmente), mas nem se quer se Ihe atribui a autoria de algum escrito que seja! O seu (pretenso) espirito belicoso té-lo-d levado 4 morte em Delfos, acusado de sacrilégio que praticou no templo de Apolo; segundo outras fontes, as fabulas seriam exemplos que se seguiam aos discursos proferidos, instigando a populagdo & revolta. Nenhum destes testemunhos ¢ valido ou sustentavel historicamente, nem para a caracterizagao da personalidade de Esopo, nem para a sua real existéncia. Pouco importa, neste caso, se teri sido ele o autor. A obra existe € isso basta, para que dela falemos de forma mais clara, pois os elementos que transporta em si mesma revelam-nos uma origem diversa da cultura grega, mas que ao mesmo tempo podem ter estado presentes na estruturagdio da sua alma colectiva desde 0 primeiro momento. Lisboa, 7 de Maio de 1992 1. 0 SENTIDO ECUMENICO DO APOLOGO 1.1.4 Abrangéncia Universal ¢ Ontolégica do Apélogo As expresses mais singelas e mais naturais da produgao literéria da humanidade (na via do mito), s4o sem divida o apdlogo ¢ a fabula (restrita ao imagindrio animal). A necessidade de representar inteligivelmente o arquétipo da ordem do mundo ¢ da sociedade, de dar forma A expressio de liberdade do ser como individuo singular e colectivo, numa unidade ¢ abrangéncia universais, foram os motivos primeiros que os agentes sociais de todas as culturas tiveram, para garantirem a sobrevivéncia de um identidade ¢ de um equilibrio, plasmados num estatuto cultural qual fundamento de uma ética. apélogo tomou-se assim, a {6rmula possivel para sintetizar a necessidade do ser como valor moral, quando se expressa como evidéncia no mundo em construgao, onde todas as caracteristicas psicoldgicas que definem 0 homem antropoldgico (© mitico por extensiio), esto representadas pelas determinagdes dessa ordem do mundo. Esta ordem é em si mesma uma manifestago da propria infinitude, por isso, 0 apélogo € de tendéncia naturalmente ecuménica, foge ao tempo embora seja co-construtor com ele, é simultaneo no devir abrangéncial, tras a marca do anquético © & sempre a orientagao moral ¢ ética seguras, quando estas sdo esquecidas ou nio existem O apélogo. portanto, tem 0 mérito de anteceder um corpo ético normativo, ele & premonitivo quanto a definigao das leis e seu registo, por esta mesma razao é genuino, auténtico, ingénuo e profundamente revelador do homem que se deseja ja construido.

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